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A regionalização do
território brasileiro

Até agora estudamos o conceito de região e seu papel central


na geografia como ciência; analisamos como se deu a implementação
do planejamento regional no Brasil e como o Estado e o conceito de
território fazem parte desse processo; e conhecemos melhor o prin-
cipal órgão federal de geração de informações geográficas e regionais
(o IBGE) e suas regionalizações oficiais. Agora, vamos pensar como
nós, geógrafos, podemos e devemos nos preparar tecnicamente para
a produção de regionalizações e interpretações de outras propostas.
Tudo isso de modo coerente e cientificamente aceitável. Para tanto,
vamos pensar como os geógrafos regionalizam.

5.1 A descrição como síntese


da geografia regional
Como vimos no primeiro capítulo, a geografia no Brasil foi
fortemente influenciada pela escola francesa de geografia. Isso se deu
pela vinda de professores franceses e, especialmente, pela adoção do
Geografia Regional do Brasil

modelo europeu de ciência produzido nos séculos XIX e XX. Assim, nossas
primeiras teorias e métodos estavam relacionados a esse modelo, que tinha
uma abordagem humanística sob a ótica de um espaço vivido. Por isso, a geo-
grafia regional dá grande importância aos trabalhos de campo e à produção
de monografias regionais.
O método da escola francesa consistia na observação, descrição e identifi-
cação de especificidades que fossem capazes de dar uma identidade a um deter-
minado espaço e justificar a regionalização. Nesse sentido, regionalizar consis-
tia na busca por elementos que atribuíssem uma identidade àquela porção do
espaço. Para tal, eram realizados trabalhos descritivos, que podiam ser interpre-
tados como receitas de bolo. Era preciso a descrição exaustiva de aspectos físicos
como vegetação, solo, clima e recursos hídricos. Além disso, era importante
também a caracterização temporal da estrutura populacional. Número de habi-
tantes, origem, idade, sexo e nível de desenvolvimento econômico (relacionado
principalmente a índices de industrialização e urbanização) também eram fato-
res a serem considerados. Muitas vezes, o resultado era uma lista desconexa de
informações que comumente encontramos com a seguinte estrutura:
1. Caraterização da área
1.1. Aspectos físicos
1.1.1. Geologia
1.1.2. Clima
1.1.3. Solos
1.1.4. Vegetação
1.1.5. Hidrografia
1.2. Aspectos socioeconômicos
1.2.1. População
1.2.2. Economia
1.2.2.1. Indústrias
1.2.2.2. Agropecuária
1.2.2.3. Serviços
1.2.3. Cultura

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A regionalização do território brasileiro

Você pode se perguntar: será que ainda não fazemos isso em nossos
trabalhos? Sim, trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, rela-
tórios técnicos e principalmente materiais didáticos muitas vezes são orga-
nizados como antigas monografias regionais. Então o que mudou? Talvez
pouca coisa tenha mudado na prática, entretanto, é importante refletirmos
sobre a reprodução de conhecimento regional e o que faremos com os
dados coletados.
Como destaca Santos (1992a), fatos e dados isolados são apenas abs-
trações e valores que pouco nos ajudam a compreender a complexidade do
espaço geográfico. O que de fato lhes dá a concretude da realidade são as
relações estabelecidas nele. Isto é, quando analisamos os elementos forma-
dores do espaço assim como nas monografias regionais – que descreviam a
natureza, a forma e os números –, não ultrapassamos essa dimensão. Para
produzirmos informações geográficas, é preciso compreender essas relações
para então conhecê-las e defini-las de maneira totalizante.
Figura 1 – Esquema introdutório da concepção de espaço geográfico e dos
componentes de uma pesquisa para sua análise e apreensão.

Escala

Espaço
Relações ­geográfico Objetos
Totalidade

Ações

Fonte: Elaborada pela autora.


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Geografia Regional do Brasil

É preciso compreender que esses aspectos elencados são relevantes para a


problemática de pesquisa. Cada problemática – principalmente aquelas rela-
cionadas com a espacialidade inerente à geografia – precisa ser colocada na
perspectiva adequada ao seu campo de pertinência (RACINE; RAFFESTIN;
RUFFY, 1983). Um exemplo do uso adequado dessas informações é:
Assim, estudar a centralidade apoiando-nos sobre os dados do comér-
cio varejista, pode ser apropriado no caso de pequenas cidades. Para
as grandes aglomerações é, sobretudo, através da coleta de dados
medindo uma função de ordem superior (o comércio atacadista,
por exemplo), que a diferenciação entre os centros pode aparecer.
(RACINE; RAFFESTIN; RUFFY, 1983, p. 125)

Com base em Santos (1996), temos a compreensão do espaço geográfico


como uma totalidade, em que cada elemento – ora do sistema de objetos, ora
do sistema de ações – é um modo de expressão da totalidade que reproduz o
todo, entretanto não o é, e sim é uma parte que só tem sentido na realidade
pela relação com essa totalidade. Assim, quando fragmentamos a totalidade
e tornamos cada parte objeto de análise, esse fragmento é em si um todo que
ainda integra a totalidade.
Quando a multiplicidade dessa totalidade é reconstruída para a compreen-
são do todo, é importante a quebra das tradicionais dicotomias físico/humana,
qualitativa/quantitativa, fenomenologia/materialismo histórico (SANTOS,
1992a). Na expressão da totalidade, o espaço não está apenas na busca por
semelhanças entre diferentes escalas de análise – lugar, região, paisagem e terri-
tório –, ele também se encontra nas especificidades que as diferem e as relacio-
nam ao todo. Dessa maneira, devemos pensar o espaço geográfico como algo
mutável, dinâmico, reflexo e condição das ações e para as ações da sociedade.
Assim, ele é passível de representação e apropriação como espaço vivido. E o
trabalho de campo muitas vezes permitirá o acesso a essas especificidades.
A leitura realizada por Santos pode parecer complexa e de difícil com-
preensão. Entretanto, podemos pensar em uma analogia – porém toda analo-
gia deve ser ponderada, pois trata-se sempre de uma simplificação. Assim, o
espaço geográfico pode ser associado a um fractal (Figura 2), estrutura geomé-
trica em que suas propriedades se repetem em diferentes escalas.
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A regionalização do território brasileiro

Desse modo, quando fragmentamos o espaço geográfico para estudá-


-lo, observamos especificidades dos fragmentos e buscamos aspectos que os
diferenciem e os aproximem de outros recortes. Entretanto, antes de tudo,
buscamos compreender processos e dinâmicas ligados às relações sistêmicas1.
Como exemplo, podemos citar um estudo migratório em uma região frontei-
riça que apresenta fluxos e dinâmicas que se reproduzem de modo coerente
com escalas globais. Na definição de região que aqui adotamos, devemos bus-
car justamente a relação local/global.
Figura 2 – A forma geométrica de um fractal pode ser uma importante analogia
para compreender a definição de espaço geográfico para Santos (1992).

Fonte: Photopips/iStockphoto.
A Figura 3 esquematiza de maneira didática a complexidade das relações
espaço-homem-sociedade, trabalhada principalmente na geografia humana.
1 Entendemos por relações sistêmicas aquelas que são pertencentes a um determinado sistema.

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Geografia Regional do Brasil

Figura 3 – Representação didática das relações espaço-homem-sociedade.


ESPAÇO

(P1) Plano da realidade objetiva


(P2) Plano, integrado ou pendente, das
ESPAÇO 1 Campo fenomenológico
representações e das funções simbólicas
SOCIAL
Relação de causalidade, produtor de 2 Campo racional
efeitos determinantes e estruturantes NATUREZA
3 Campo social
Interação
ESPAÇO
GEOGRÁFICO
AMBIENTE, MEIO
GEOGRAFICIDADE
(Casa, abri- ESPAÇO DE VIDA
go na terra)

(P1) ESPAÇO LUGAR (Bairro, vilarejo, vila,


Realidade VIVIVO TERRITÓRIOS “plays”, região etc.)

(P2) PAISAGENS
Representações
1 2 3

TERRITORIALIDADE

SUJEITO SOCIEDADE
(Consciência SI SI INDIVÍDUO PESSOA ATOR (Grupos, classes,
livre) castas)

Fonte: HEIDRICH, 2016, p. 21.


Com isso, não queremos e não devemos deixar de lado a descrição, a
caracterização e a coleta de dados primários; pelo contrário, devemos ter mais
afinco no processo de obtenção de informações geográficas. Além disso, nos-
sas ferramentas analíticas – conceitos, teorias, métodos de obtenção e análise
da realidade – devem ser aplicadas. A vivência em campo e a troca com as
comunidades analisadas podem ser um caminho (não um fim) para se apro-
ximar de uma análise abrangente do espaço geográfico.
Neste momento você pode pensar: mas como e quando eu aplicarei esse
tipo de conhecimento em meu trabalho como geógrafo? Talvez você acredite
que isso ocorra apenas no trabalho de pesquisadores ou em grupos de pes-
quisa vinculados a uma instituição, o que não é verdade.
Como bacharel em geografia, muito provavelmente você terá a opor-
tunidade de participar de estudos relacionados à caracterização socioeconô-
mica de áreas impactadas por empreendimentos que necessitam de licencia-
mento ambiental. Os dados obtidos nessa pesquisa não caracterizam apenas a
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A regionalização do território brasileiro

organização espacial da área, mas influenciam também as medidas compen-


satórias e mitigações desse empreendimento em um determinado ambiente e
sua comunidade.
E como docente? Como isso pode se refletir nos processos de ensino-
-aprendizagem? O geógrafo-professor tem uma dupla importância na com-
preensão do espaço geográfico. Primeiramente, pela necessidade de vislumbrar
para os alunos – sejam da Educação Básica ou Superior – as complexidades, as
relações inerentes ao espaço geográfico e os modos de apropriação/ressignifica-
ção da realidade sob a óptica espacial. Em segundo lugar, seu trabalho é um dos
agentes de modificação mais relevantes em grande escala, ou seja, seu conhe-
cimento é capaz de influenciar diretamente as comunidades. Uma docência
ativa pode abrir o caminho para a produção de conhecimentos relevantes.

5.2 O trabalho de campo na formação


do conhecimento geográfico
Serpa (2006) enfatiza a necessidade de abandonarmos a busca pela sin-
gularidade das regiões sem compreender os recortes que permitem identificar
particularidades dentro da totalidade. Ele destaca também que, embora muito
fragmentados, esses recortes ainda são articulados ao todo. Isso evidencia que
não há escala de análise privilegiada: a priori, a cidade não é melhor ou pior
do que regiões imediatas ou grandes regiões. Sua adequação sempre se dará em
relação ao problema de pesquisa e a necessidade de observação e apreensão dos
fenômenos espaciais. Lacoste (1993) traz essa ideia da seguinte forma:
Não há nível de análise privilegiado, nenhum deles é suficiente, pois o
fato de se considerar tal espaço como campo de observação irá permi-
tir apreender certos fenômenos e certas estruturas, mas vai acarretar a
deformação ou a ocultação de outros fenômenos e de outras estrutu-
ras, das quais não se pode, a priori, prejulgar o papel e, portanto, não
se pode negligenciar. É por isso indispensável que nos coloquemos
em outros níveis de análise, levando em consideração outros espaços.
(LACOSTE, 1993, p. 81)

Os aspectos complexos e multiescalares, que permeiam a definição de


espaço geográfico, não impossibilitam a utilização de métodos e teorias que
busquem explicá-los ou defini-los, entretanto, o que não devemos é conside-
rá-los fixos e imutáveis.
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Geografia Regional do Brasil

Na geografia humana, as peculiaridades pertinentes a cada abordagem


influenciam a relação com o trabalho de campo. Já nas áreas relacionadas à
geografia física, os métodos e as técnicas de campo são bem estabelecidos,
com protocolos rígidos de coletas de solo, mapeamento e análises físico-quí-
micas. A coleta de dados meteorológicos (Figura 4), por exemplo, segue rígi-
dos padrões internacionais de posicionamento e altura dos equipamentos.
Figura 4 – Instrumentos meteorológicos em um gramado na estação
meteorológica de Kew Gardens, em Londres.

Fonte: David Hawgood/Wikimedia Commons.


A relação com a historicidade dos fatos ou fenômenos ligados às apro-
priações e ressignificações das comunidades e para as comunidades divergem
para cada pesquisador, mesmo quando em um primeiro momento as proble-
máticas de pesquisas pareçam muito similares. E não há detrimento de uma
problemática em relação à outra. Sobre esse aspecto metodológico relacio-
nado à geografia humana, Serpa ressalta:
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A regionalização do território brasileiro

Portanto, dialética e fenomenologia não se excluem no trabalho de


campo em Geografia. Enquanto métodos podem funcionar como
estratégias complementares, buscando-se sempre a construção da sín-
tese sujeito-objeto, própria ao ato de conhecer, ora utilizando-se da
história enquanto categoria de análise, ora buscando-se intencional-
mente abstrair a historicidade dos fenômenos, visando à explicitação
de sua “essência”. (SERPA, 2006, p. 20)

O trabalho de campo é muito enriquecedor para grande parte das pes-


quisas. Trata-se de uma etapa que demanda cuidados teóricos-metodológicos
próprios para a escolha do recorte espacial e do tipo de amostragem. Além
disso, é importante saber como acessar informações e prever os impactos
sociais que esse estudo pode ocasionar, seja pelos seus resultados ou pela “sim-
ples” interação entre pesquisador e comunidade.
Nesse processo de interação, o geógrafo deve ter claro que sua presença,
suas perguntas ou seus comentários influenciam diretamente em seus resul-
tados. Toda informação obtida em campo é consequência da interação entre
as partes, portanto é fundamental ter isso em mente para a formulação de
questionários ou entrevistas guiadas. As formulações influenciam respostas e
os encadeamentos de assuntos levam a posicionamentos que podem indicar o
caminho esperado pelo pesquisador.
Para Claval (2007), o trabalho de campo em geografia, sobretudo em
geografia regional, não deve se limitar à análise de paisagens. Ele resume o
papel do trabalho de campo na geografia da seguinte maneira:
1 – A visão global e compreensiva das paisagens permite entender o
que caracteriza as unidades territoriais, encontrar seus limites – esta é,
por assim dizer, a contribuição de Humboldt, tão importante para a
geografia física quanto para a geografia humana.
2 – O trabalho de campo permite encontrar as diferentes práticas
ou políticas que contribuem para modelar o espaço, assim como as
características dos comportamentos, das atitudes, e das concepções
da vida em um dado lugar – o direito da comunidade em contro-
lar alguns comportamentos de seus membros, como na Suíça: a
aceitação, na sociedade quebequense, de sanções penais generali-
zadas, pois não são percebidas como desonrosas; a ideia, nos Países
Baixos, de que o que é fundamental para a nação são as comunida-
des que convivem no país, e não o Estado, que está a seu serviço.
(CLAVAL, 2013)
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Geografia Regional do Brasil

Claval remete-se ao âmago da geografia e remonta sua origem a


Humboldt, considerado um dos pais da geografia como ciência. Além
disso, ele destaca a importância de compreender a realidade para além de
uma justaposição aleatória de dados. As especificidades do espaço geográ-
fico apreendidas por textos, gráficos, tabelas e mapas são resultado de cons-
truções sociais, ou seja, construções que perpassaram por aquelas de outros
pesquisadores. O campo seria uma maneira de se apropriar de seu objeto (o
espaço geográfico) e alcançar análises mais amplas (não resumidas apenas a
aspectos estatísticos).

5.3 A região como produto-síntese da geografia?


Já sabemos que o conceito de região passou por muitas transformações
em suas abordagens teórico-metodológicas, por isso não podemos mais con-
siderá-la um produto-síntese da geografia, pelo menos não do mesmo modo
que esse termo foi concebido inicialmente.
A regionalização deixou de ser um produto final, que sintetiza o
conhecimento geográfico, e se tornou um meio de produção e compreen-
são do espaço geográfico. Ela deve ultrapassar as barreiras das dicotomias
inerentes à geografia e à ciência. Além disso, ela deixa de ser apenas um
recorte investigativo e o resultado de uma exaustiva monografia regional
para ser um instrumento de construção social que pode ser concebido em
diferentes escalas, como percebemos na modificação da regionalização ofi-
cial do IBGE.
Seja com Haesbaert (2005), com a valorização da região como nível
de compreensão dos processos econômicos multiescalares, ou em Santos, a
“situação intermediária entre o mundo e o país é dada pelas regiões supra-
nacionais, e a situação intermediária entre o país e o lugar são as regiões
infranacionais, subespaços legais ou históricos” (SANTOS, 1997, p. 272).
As dinâmicas do sistema capitalista sob a organização socioespacial são
complexas e rápidas. Em termos estruturais, suas modificações são lentas,
uma vez que o sistema tende a se modificar para se manter hegemônico.

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A regionalização do território brasileiro

Figura 5 – A reserva extrativista de Gurupá-Melgaço, no Estado do Pará,


mostra a transformação do espaço geográfico.

Fonte: Antônio Cruz/Agência Brasil.


A região, como uma alternativa de escala analítica na geografia regional,
pode ser compreendida em Racine, Raffestin e Ruffy (1983). Como escala,
ela torna-se um filtro e um processo de seleção de esquecimento coerente2,
que, apesar de empobrecer a realidade concreta, preserva as relações pertinen-
tes à observação e produção de conhecimento.
Assim, ela se propõe às relações locais/globais que podem se apresentar
descontínuas e/ou entrelaçadas em função das transformações inerentes do

2 O esquecimento coerente acontece aos realizarmos “recortes” no espaço geográfico por meio
de diferentes escalas. Quando isso ocorre, estamos cientes – ou deveríamos estar – que partes
da realidade serão negligenciadas na análise.

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Geografia Regional do Brasil

sistema capitalista. Pensar a região na relação escalar remete ao debate de


escala, que deixa de ser uma forma de imposição de ordem para ser entendida
como um produto social. Em Dias (2010) podemos conceber a escala como
um modelo mental para categorizar e ordenar o espaço geográfico e como
construção de um produto social. Assim, ela não estaria pré-definida geografi-
camente; mesmo estritamente relacionada aos processos, ela não os substitui.
Desse modo, são as práticas sociais que emergem a escalas.
O professor de Geografia, pode fazer da versatilidade do conceito de
região e das possibilidades de ganho pedagógico do trabalho de campo
um enriquecimento dos processos de ensino-aprendizagem. A vivência
dos educandos em campo e fora do ambiente educacional tradicional per-
passa a existência de uma leitura crítica da realidade e da relação entre
teoria e prática. Isso possibilita não apenas um aprofundamento da visão
crítica de mundo, mas também as modificações das condições atuais de
organização socioespacial.
As possibilidades da ampliação da visão crítica também evidenciam a
necessidade de uma maior interdisciplinaridade que estimule o estudo articu-
lado das demais disciplinas, até mesmo no Ensino Básico. A visão de mundo
do aluno e seu conhecimento prévio são melhor expressados fora do ambiente
tradicional da sala de aula. A flexibilidade das dinâmicas comunicativas do
campo, isto é, o contato com populações e realidades socioeconômicas dis-
tintas, pode auxiliar nesse processo.

Conclusão
Neste capítulo, pudemos compreender que a região é uma possibilidade
de análise multiescalar e um campo de pesquisa para as relações do sistema
capitalista na organização socioespacial e na interação local/global. Ela não
pode ser vista apenas como um produto-síntese, estável e finalizado, mas sim
como um meio para alcançar a análise da totalidade do espaço geográfico com
base em suas especificidades sem perder a conexão com o todo. Nos próximos
capítulos buscaremos produzir um cenário para as regionalizações do âmbito
geográfico e das grandes regiões do IBGE.

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A regionalização do território brasileiro

Ampliando seus conhecimentos


No texto a seguir, Rosselvelt Santos aborda o papel do trabalho de
campo em geografia.

Pesquisa empírica e trabalho de


­c ampo: algumas questões acerca do
­c onhecimento geográfico
(SANTOS, 1999, p. 122-123)

[...]
Geralmente, a partir do trabalho de campo, procuramos pen-
sar a problemática tendo como ponto de partida a realidade
local, mas não pensamos nos desdobramentos que os resulta-
dos podem implicar. Uma apropriação desses conhecimentos
pelo pesquisado, pode nos revelar muitos elementos não só
para elucidarmos, os desdobramentos do conhecimento, mas
para construirmos melhor, o nosso trabalho como pesquisa-
dor. As saídas para os problemas da comunidade estudada,
muitas vezes são construídas na e pela tomada de consciência
das potencialidades do lugar.
Portanto, devemos considerar nesta mesma noção de tomada de
consciência das potencialidades do lugar, que os fatores de ordem
moral e psicológica ocupam um lugar, pelo menos, tão importante
quanto os elementos materiais da vida dos pesquisados.
Para trabalharmos a complexidade das relações humanas,
nossos esforços podem ser ampliados, na perspectiva da cul-
tura. No sentido da cultura, valorizamos os modos de sentir,
pensar, agir e reagir das populações em relação ao lugar e as
relações que estabelecem fora do lugar.

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Geografia Regional do Brasil

A importância dessa abordagem para a pesquisa que vai estu-


dar uma determinada realidade é, que ela pode ampliar as
possibilidades de enfocar e analisar o nosso problema. Na ver-
dade, investigar uma problemática geográfica tanto física quanto
humana, abordando aspectos do vivido dos pesquisados,
consiste, basicamente em sabermos como os homens pensam,
agem e sentem na sua realidade e que, portanto, não são ape-
nas produtores, ou habitantes de um determinado lugar.
[...]

Atividades
1. A geografia regional brasileira é fortemente influenciada pelo pensa-
mento de Milton Santos. Assim, é essencial compreendermos um de
seus principais conceitos, o espaço geográfico. Crie um quadro ou um
mapa mental que lhe sirva futuramente como fixação desse conceito.

2. Como geógrafo licenciado, de quais maneiras os conhecimentos da


geografia regional podem ser aplicados em sala de aula? Em relação à
educação ambiental, por exemplo, quais projetos podem ser vincula-
dos ao bacharelado? Crie uma proposta que busque alinhar conheci-
mentos e debates que realizamos até o presente momento.

3. Quem foi Alexander von Humboldt e qual é sua importância na for-


mação da geografia e nas ciências naturais? Como ele influenciou a
concepção do trabalho de campo na geografia?

4. Como podemos compreender a região na atualidade? Ela ainda se


aproxima do produto-síntese da geografia francesa? Elabore uma res-
posta que explique os processos pelos quais esse conceito se modifi-
cou ou não.

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6
Divisão regional do Brasil

Agora já compreendemos os meios de regionalizar e de inter-


pretar as regionalizações, vamos analisar outras propostas de regio-
nalização. Obviamente, não é nosso objetivo aqui exaurir as propos-
tas, mas apresentar as principais correntes, que serão mais habituais
em futuras avaliações, como o Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes (Enade) e concursos.
Continuamos a reforçar a divisão regional oficial do Brasil,
mas também entenderemos sua relação com outras regionalizações e
conheceremos algumas propostas de grandes geógrafos brasileiros para
analisá-las comparativamente e refletir sobre o atual cenário nacional.
Essas análises devem sempre estar atreladas às correntes teórico-meto-
dológicas desses autores, bem como as regionalizações apresentadas.
Por meio delas, podemos verificar a diversidade e a complexidade que
o conceito de região ainda traz aos debates geográficos.
Geografia Regional do Brasil

6.1 A divisão regional do Brasil


e os complexos regionais
Nós já analisamos a criação do IBGE e sua modificação em relação aos
paradigmas teóricos-metodológicos para as regionalizações oficiais. Nós obser-
vamos que a regionalização em grandes regiões – que teve como unidade de
agrupamento as unidades federativas – alcançou um status muito mais didático
para divulgação de dados do que uma delimitação com enfoque na realidade.
Prova disso é sua estabilidade: a regionalização das grandes regiões foi divulgada
no ano de 1969 e ocorreram mudanças apenas em relação à organização das
unidades federativas. Como exemplo dessa questão podemos citar a transfor-
mação de territórios em estados, como o território de Rondônia (que se tornou
um Estado) e a divisão do estado de Goiás, que originou o estado de Tocantins.
Fortemente vinculada à geografia quantitativa, a regionalização proposta
pelo IBGE tinha como objetivo o agrupamento de índices estatísticos e visava
à divulgação desses índices de maneira didática para o ensino e o planeja-
mento regional. Sua relação com a escola americana fica evidente quando ana-
lisamos os principais conceitos abordados – desenvolvimento regional, polos
de desenvolvimento, espaços funcionais, relações centro-periferia e regiões
homogêneas –, baseados nas obras de Christaller (teoria da localidade central),
Perroux (teoria dos polos de desenvolvimento) e na Comissão Econômica para
a América Latina e o Caribe – Cepal1 (teoria do desenvolvimento).
A regionalização proposta pelo IBGE teve ainda como contribuições o
enfoque no debate urbano e o conceito de cidade-região, e atribuiu impor-
tante relação com a hierarquia urbana e as problemáticas regionais. Entre os
critérios utilizados para a regionalização destacavam-se os domínios ecológi-
cos (como a Floresta Amazônica e o clima temperado da Região Sul), dados
demográficos, transportes, regiões agrícolas, polos industriais, centralidades
envolvidas com urbanização e industrialização, bem como atividades terciá-
rias. O Mapa 1 apresenta a vinculação à divulgação de conhecimento para
fins didáticos e uma realidade regional muito ligada à década de 1970.
1 A Cepal é uma das cinco comissões regionais das Nações Unidas. Ela foi fundada para contri-
buir ao desenvolvimento econômico da América Latina, coordenar as ações encaminhadas à sua
promoção e reforçar as relações econômicas dos países entre si e com as outras nações do mundo
(CEPAL, 2018). Para saber mais, acesse: <https://www.cepal.org/pt-br>. Acesso em: 15 jan. 2018.
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Divisão regional do Brasil

Mapa 1 – Regionalização oficial do IBGE (2017).

Norte
Legenda
Sul
Centro-oeste
Sudeste
Sul N

Nordeste
Sudeste
Nordeste
Centro-Oeste
Norte
0 415 830 1.660 Km

Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE, 2018b.


O geógrafo do IBGE Pedro Pinchas Geiger (1923-) participou da formu-
lação da regionalização das grandes regiões e foi professor em muitas institui-
ções, entre elas a UFRJ. Vinculado também à geografia quantitativa, o autor
apresentava correlação teórica similar à do IBGE. Contudo, sua proposta de
regionalização, apesar do enfoque didático, objetivava compreender como o
espaço geográfico brasileiro estava organizado naquele momento histórico.
Para tanto, ele fez uso de critérios (como desenvolvimento socioeconômico),
estabeleceu correlações de áreas com a historicidade e o desenvolvimento eco-
nômico e verificou a polarização da economia.
Para Geiger (1964), regionalizar é levar em consideração o entendi-
mento dos processos históricos de formação do território. A região é o resul-
tado da organização social do espaço e mostra a organização econômica/social
em momentos históricos e em diferentes graus de integração. Segundo ele, a
abordagem de região perpassa pela homogeneidade dos aspectos naturais e a
polarização econômica causada pelas desigualdades de desenvolvimento nos
centros urbanos.
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Geografia Regional do Brasil

A contribuição do autor para a geografia regional se deu pela inclu-


são dos processos históricos na formação do território (que não ficou res-
trita a estatísticas econômicas), sendo que ele distinguiu a regionalização
de aspectos naturais/domínios naturais e considerou as regiões como ação
da atividade humana. Sua articulação conceitual, em diferentes níveis
hierárquicos, também contribuiu para o debate sobre desenvolvimento
econômico na geografia brasileira.
Essa regionalização ficou conhecida como complexos regionais e
compreendeu aspectos históricos, econômicos e culturais. Assim, foram
estabelecidos três grandes complexos regionais brasileiros: Centro-Sul,
Nordeste e Amazônia. Eles apresentavam uma explícita hierarquia entre si:
o Centro-Sul atuava no controle político-econômico, ao qual se sujeitavam
o Nordeste e a Amazônia. Embora existisse essa hierarquia, o Nordeste
tinha uma relativa autonomia em relação à Amazônia. No mapa a seguir
verificamos que não há o uso das unidades federativas como limite. Essa
regionalização teve importante impacto no pensamento da geografia regio-
nal brasileira.
Mapa 2 – Complexos regionais.

Região da Amazônia
Região Centro-Sul
Região Nordeste

Fonte: Raphael Lorenzeto de Abreu/Wikimedia Commons.


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Divisão regional do Brasil

Hierarquicamente superior aos demais complexos geoeconômicos, o


Centro-Sul estava relacionado à alta concentração de áreas industriais e espa-
ços econômicos – muitos deles subordinados às metrópoles de São Paulo e
Rio de Janeiro – e era a região mais dinâmica economicamente. Sua alta
industrialização em nível nacional e o crescente desenvolvimento da agricul-
tura industrial foram pontos de referência para os principais fluxos migrató-
rios na década de 1970 (GEIGER, 1964).
O que hoje compreendemos como Sudeste era diretamente influen-
ciado pelas metrópoles São Paulo e Rio de Janeiro, das quais emergiam os
processos de integração nacional. Nessa região concentravam-se as áreas
mais industrializadas e polarizadas do país, subdivididas em: região indus-
trial e urbana; Sudeste novo; Sudeste velho fluminense-mineiro e Zona
metalúrgica. Com forte influência da colonização europeia e do clima sub-
tropical, o Sul tinha uma industrialização e organização do espaço geo-
gráfico muito vinculada aos modelos importados por essa população imi-
grante, e era dividido em sub-regiões do planalto meridional, campanha e
metrópole de Porto Alegre.
A área da atual região Centro-Oeste ainda tinha uma relação com
uma fronteira de avanço de desenvolvimento entre a região Centro-Sul
e a Amazônia. Naquele momento, com grandes áreas de cerrado ainda
preservadas, os avanços da pecuária e das monoculturas – especialmente
a soja – iniciavam e serviam muito mais como abastecimento para a
região Centro-Sul.
Considerado o complexo geoeconômico mais pobre – com os piores
indicadores socioeconômicos, alta densidade demográfica no litoral, mas
grande riqueza cultural e coesão histórica –, o Nordeste muito se asseme-
lhava à configuração da grande região do IBGE. O clima semiárido, vin-
culado a problemas de administração pública e à baixa industrialização, fez
com que ela obtivesse por muitos anos a alcunha de região subdesenvolvida
em âmbito nacional.
No Meio-Norte, como ainda é conhecida parte do Estado do Maranhão,
a forte influência do bioma amazônico e da ocupação humana (relacionada
a grupos indígenas) contrastava com as porções semiárida (subdivididas em
sertão, agreste e mata seca) com o Nordeste Oriental (formado pela faixa
– 107 –
Geografia Regional do Brasil

litorânea fortemente povoada) e a Zona da Mata. Em função dos baixos


indicadores socioeconômicos, foi possível perceber por um bom tempo o
alto fluxo migratório da população, principalmente para a região Sudeste.
Atualmente esse fluxo diminuiu e muitas vezes é possível verificar o retorno
dessa população para seus Estados de origem.
O complexo geoeconômico da Amazônia pode ser compreendido, nas
palavras de Geiger, “[...] na sua maior parte um vazio de população, cons-
tituído de grandes domínios naturais, onde pontos isolados de ocupação
humana mantém ligações tênues, traduzidas principalmente nos fluxos de
pequenos volumes de mercadorias” (GEIGER, 1964, p. 15).
Essa região ainda é caracterizada pela baixa densidade demográfica –
exceto nas regiões metropolitanas de Belém e Manaus – e uma economia
fortemente vinculada ao extrativismo vegetal e mineral. A embocadura ama-
zônica, ou seja, os arredores da foz do Rio Amazonas (expresso pelas cidades
de Manaus e, sobretudo, Belém), possuía os maiores índices econômicos
do complexo devido aos portos fluviais de escoamento da produção extrati-
vista, à criação de gado e búfalos na região da Ilha de Marajó e à exploração
de manganês.
O vale amazônico, formado especialmente pelos portos de Santarém
(Pará), Óbidos (Pará), Parintins (Amazonas) e Itacoatiara (Amazonas), per-
mitia a circulação da produção do extrativismo vegetal e fazendas mistas.
Os afluentes do Amazonas ainda apresentam uma concentração da popula-
ção fortemente vinculada ao curso do rio, o que atribui uma espacialização
linear, com a borracha da seringueira e a castanha-do-pará como principais
produtos econômicos.
Ao norte do complexo, na sub-região de Roraima, destacavam-se
garimpos de ouro e diamante. As áreas de vegetação intacta e densa eram
denominadas como anecúmeno2 amazônico, “massa florestal não habi-
tada por populações conscientemente integradas na nação brasileira”
2 Regiões/áreas inabitadas com baixa densidade de ocupação devido a fatores ambientais inós-
pitos, como altitudes elevadas, matas densas ou desertos.

– 108 –
Divisão regional do Brasil

(GEIGER, 1964, p. 52). O discurso segregador e colonizador fica evi-


dente em Geiger. O autor não exaltou as populações indígenas e a multi-
plicidade cultural da região.

6.2 A proposta de Roberto


Lobato Corrêa (1939-)
Sob influência da geografia crítica, Roberto Lobato Corrêa propôs uma
regionalização que, pela primeira vez, equacionou a dimensão política nesse
processo. Com forte influência de teorias marxistas/de desenvolvimento desi-
gual e das ideias de Leon Trotsky (1879-1940), o autor se utiliza de critérios
como organizações espaciais, articulações inter-regionais, internacionais e
internas, circulação de bens e de pessoas e da especialização produtiva. Para
tanto, são apropriados conceitos como de divisão internacional do trabalho,
classes sociais, materialismo histórico e dialético, formação socioespacial,
modos de produção, entre outros.
Para o autor, a região é o resultado da organização espacial pela
lei de desenvolvimento desigual e combinado, que expressa a divisão
do trabalho e das relações de produção e faz surgir conflitos de classes
sociais, principalmente entre elites regionais e o capital externo à região.
Epistemologicamente, a região pode ser compreendida por meio de uma
concretude, com vistas à sua formação ao processo de regionalização e
com base na interpretação da realidade. Para Corrêa (2001), a divisão
territorial do trabalho ressignifica constantemente a organização espacial,
e, consequentemente, as desigualdades sociais. Assim, a regionalização é
constantemente modificada.
Visualmente similar à proposta de Geiger, a de Corrêa baseia-se nas
distinções produtivas, de circulação, de arranjos espaciais e de níveis de
articulação. No Mapa 3 verificamos a primeira proposta vinculada à geo-
grafia crítica (de Lobato Corrêa). Considerada um marco para a geogra-
fia brasileira, essa forma de regionalização é alvo de inúmeros debates
até hoje.

– 109 –
Geografia Regional do Brasil

Mapa 3 – Regionalização proposta por Roberto Lobato Corrêa.

Centro-Sul
Nordeste
Amazônia

Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE, 2018b.


Considerada o coração da política e da economia nacional, a Região
Centro-Sul concentrava as metrópoles São Paulo e Rio de Janeiro e a capital polí-
tica (Brasília), com alto grau de industrialização e urbanização e densa rede de
circulação de bens, capitais e pessoas. No entanto, essa região apresentava altos
índices de desigualdade social, muito associada à alta concentração de renda.
Houve o surgimento da megalópole, com a junção das metrópoles de
São Paulo e do Rio de Janeiro: Santos (com um dos principais portos marí-
timos), Sorocaba, Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto (todos no Estado
São Paulo) e o Vale do Paraíba (localizado exatamente entre a cidade de Rio
de Janeiro e São Paulo). Além do porto de Santos, ainda estavam contidos
nessa região os portos de Vitória (Espírito Santo), Rio de Janeiro, Paranaguá
(Paraná), Itajaí (Santa Catarina) e Rio Grande (Rio Grande do Sul).

– 110 –
Divisão regional do Brasil

Nessa região também havia a mais densa rede de meios de comunicação e


rodoferroviária do país, principal destino dos mais intensos fluxos migratórios,
que proporcionam maior integração e articulação regional. Segundo Corrêa
(2001, p. 203), a Região Centro-Sul apresentava “a mais nítida divisão territo-
rial do trabalho, originando áreas especializadas ou com forte tendência à espe-
cialização produtiva”. Além da alta concentração industrial, tinha as principais
áreas agropecuárias, volume de produção e geração de capital.
A Amazônia surgiu em Corrêa como uma região submetida ao capi-
tal nacional (principalmente internacional) e proprietária dos mais diversos
recursos naturais. Marcada pelos mais diferentes tipos de conflitos sociais
relacionados à terra, a Amazônia passou por uma constante dizimação da
população indígena e por obras públicas de empreendimentos pontuais,
como hidrelétricas e mineração. Além disso, essa região recebeu grandes con-
tingentes de migrantes, especialmente da região Nordeste.
O avanço da fronteira agropecuária em direção à região amazônica fez
com que a apropriação da terra tivesse se valorizado nas últimas décadas, bem
como a extração de madeira e de minérios como ferro, manganês e bauxita.
Essa fronteira de modificação do uso e da ocupação do solo com a Região
Centro-Sul mudou o padrão até então estabelecido, que se baseava na rede de
rios que confluíam para a cidade de Belém. As relações de capital e de trans-
portes com a criação de rodovias para integração fizeram Belém perder força
como metrópole regional.
Para Corrêa, após 1970 a Região Nordeste foi interpretada como uma
região de perdas. Para o autor, os fluxos migratórios (cada vez mais acentua-
dos em relação às metrópoles do Centro-Sul), o declínio da agropecuária no
contexto nacional (mesmo em termos de subsistência com grandes períodos
de estiagem) e o baixo grau de articulação nacional marcaram o processo de
regionalização da área.
Com o declínio de culturas tradicionais como a cana, o algodão e o
cacau, a região perdeu o destaque na economia agropecuária. Além disso, a
baixa modificação do território – com baixos índices de urbanização fora da
faixa litorânea, poucas rodovias interioranas e obras de grande porte, como

– 111 –
Geografia Regional do Brasil

hidrelétricas e campos agrícolas modernizados (exceto no vale do Rio São


Francisco) – subvalorizou a região no contexto nacional.
Apesar das semelhanças visuais entre as regionalizações de Corrêa e
Geiger, ou até mesmo do IBGE (que é a oficial), a forte influência da geogra-
fia crítica com a inclusão de fatores históricos e da divisão territorial do tra-
balho são centrais na obra de Corrêa. Sua contribuição deu outra dimensão à
questão social/política e superou as demais, em que grande parte se restringia
a distinções meramente econômicas.

6.3 As transformações de regiões


pela geografia crítica
Após a regionalização proposta por Corrêa, outros autores trabalharam
a questão regional sob a óptica da geografia crítica, entre os quais destaca-
ram-se Milton Santos (1926-2001) e Ruy Moreira (1941-). As diferencia-
ções do território seriam a principal força modificadora da regionalização
sob essa óptica:
A noção de desigualdade territorial persiste nas condições atuais.
Todavia, produzir uma tipologia de tais diferenciações é, hoje,
muito mais difícil do que nos períodos históricos precedentes.
As desigualdades territoriais do presente têm como fundamento
um número de variáveis bem mais vasto, cuja combinação produz
uma enorme gama de situações de difícil classificação. (SANTOS;
SILVEIRA, 2001, p. 259)

Com quatro regiões, nas palavras de Santos, “quatro brasis”, a propsota


desse autor estava estritamente relacionada à sua compreensão de meio técnico-
-cientifico-informacional e de espaço geográfico. Sua percepção perpassou as
definições de espaço e da contraposição de definições. Sua organização teórica
pode ser compreendida pela diferenciação de áreas, pela presença ou ausência
de relações, como conflitos do meio rural ou hierarquização urbana, ou pela
concentração de fluxos e objetos, como unidades fabris, alta mecanização do
campo e fluxos migratórios.

– 112 –
Divisão regional do Brasil

Figura 1 – Organização teórica de Milton Santos acerca da regionalização.

Presença e concentração Ausência e diluição

Zonas de densidade Zonas de rarefação

Fluidez Viscosidade
Circulação Fluidez seletiva

Espaço de rapidez Espaço de lentidão

Espaços luminosos
Espaços opacos
(atraem atividades com maior capital)

Espaços que mandam Espaços que obedecem

Fonte: Elaborada pela autora.

No Mapa 4, verificamos a regionalização proposta por Santos e Silveira


(2001) e a organização socioespacial do território brasileiro sob a óptica do
conceito de meio técnico-científico-informacional.

– 113 –
Geografia Regional do Brasil

Mapa 4 – Regionalização proposta por Milton Santos.

Centro-Oeste
Nordeste
Norte
Concentrada

Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE, 2018b.


De modo geral, o conceito de meio técnico-científico-informacional é
como a globalização se expressa espacialmente no território. Para o autor,
as sociedades teriam partido do meio natural e atravessando as modificações
dos diversos meios técnicos até chegar à atual formação, por ele identificada
na década de 1970 como meio técnico-científico-informacional. Esse meio
seria caracterizado pela interação da ciência com a técnica, fortalecida após
a Guerra Fria e pelas tecnologias mais desenvolvidas. A importância dada à
informação, seja como ferramenta de poder ou de capital, atribuiu um novo
adjetivo ao termo.
Baseado no conceito de espaço geográfico, formado por sistemas de obje-
tos (materializados pela técnica) e de ações (materializadas nos conhecimen-
tos científicos e na importância dada aos meios de comunicação como poder
hegemônico), o meio técnico-científico-informacional seria a expressão da
globalização para a geografia (no fim deste capítulo poderemos retomar nossa
leitura desse conceito).

– 114 –
Divisão regional do Brasil

Desse modo, a região com maior integração aos processos de globali-


zação é a Concentrada, na qual o meio técnico-científico-informacional foi
implantado já sob um meio técnico bem estabelecido, isto é, a urbanização e
a industrialização anteriormente instaladas nessa região permitiram um alto
nível de desenvolvimento após a globalização.
Em oposição à região Concentrada encontramos a Centro-Oeste. Devido
a uma ocupação periférica recente – em termos históricos de urbanização –,
essa região se estabeleceu sem um sistema de objetos bem delineado. Além
disso, sob uma perspectiva voltada economicamente para o agronegócio, o
Centro-Oeste tem seus fluxos voltados ao consumo de insumos agrícolas e à
produção de commodities.
Por fim, a baixa (e historicamente concentrada) urbanização, o declí-
nio agrícola e a falta de grandes processos de industrialização colocaram o
Nordeste em uma posição inferiorizada na análise de Santos. A região ama-
zônica, com dificuldades de circulação de pessoas e bens, de acordo com o
autor, tornou os espaços lentos e rarefeitos.
Nos últimos anos, o aumento das desigualdades sociais e econômicas
resultaram em disparidades espaciais que evidenciam novas formas de análise
da divisão territorial do trabalho. Para Ruy Moreira (2014), as divisões terri-
toriais do trabalho no Brasil mostram reflexos sociais, econômicos e socioam-
bientais que hoje refletem a necessidade de reconfiguração e mudança na
dinâmica territorial brasileira.
Como consequências sociais podemos destacar a má distribuição de
renda e os altos índices de desemprego e emprego informal e os custos
de produção e escoação da produção (que ainda limitam o desenvolvi-
mento econômico nacional). Além disso, a falta de um arranjo do espaço
voltado para a preservação de áreas de proteção, a ocupação de áreas
apropriadas, o saneamento básico e os impactos de empreendimentos em
comunidades (como aquelas atingidas por barragens) são exemplos de
efeitos socioambientais.
Para Moreira, a regionalização abrange quatro áreas, que, diferente-
mente das demais aqui relacionadas, são pouco influenciadas pela organização

– 115 –
Geografia Regional do Brasil

territorial das unidades federativas e, pela primeira vez, não são necessaria-
mente contínuas (em alguns momentos as regiões se sobrepõem).
Mapa 5 – Regionalização proposta por Ruy Moreira.

Complexo agroindustrial
Polígono industrial
Fronteira biotecnológica
Difusão da agroindústria e
indústria de não duráveis

Fonte: MOREIRA. In: LIMONAD, 2004, p. 135.


Com abrangência na Região Sul e nos Estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e porção sul de Minas Gerais, a região do polígono industrial apre-
senta processos de despolarização metropolitana e industrialização das cidades
do interior com indústrias de altos índices de tecnologia (especialmente para
produção de bens de capital e bens duráveis3). Destaca-se ainda a relação com
países do Mercosul.
Formada pelas Regiões Sul e Centro-Oeste, e os estados de Tocantins,
Roraima e fragmentos de Minas Gerais, Bahia, Piauí e Maranhão, a região do
complexo agroindustrial é descontínua no estado de Roraima e se sobrepõe

3 De maneira geral, bens de consumo são aqueles utilizados por nós. Eles podem ser divididos
em bens duráveis, semiduráveis e não duráveis. Os bens não duráveis são aqueles em que o
consumo é praticamente imediato, como alimentos. Já os bens semiduráveis são aqueles que
permitem sua utilização diversas vezes, porém desgastam-se ao longo do tempo, como calçados
e roupas. Por fim, os bens duráveis podem ser utilizados por longos períodos, como é o caso de
automóveis e eletrodomésticos, televisores e lavadoras.
– 116 –
Divisão regional do Brasil

à região do polígono industrial em alguns estados. Sobre o binômio latifún-


dio-minifúndio há um processo de re-regionalização no qual uma ampla divi-
são técnica de trabalho se faz presente na especialização da agroindústria.
Influenciada pelos projetos de planejamento regional (PNDs), essa região
sofreu modernização especialmente na produção agroindustrial de commodi-
ties, sobretudo de soja e milho.
Nas palavras de Moreira (2014, p. 271), essa é uma “região nova no velho
espaço nordestino”. Ela é a região dos polos mineiro-industriais, da agroindústria
irrigada e da indústria de bens não duráveis, que abrange as áreas do Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e parte dos Estados
do Piauí, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. Os centros manufatureiros e
agropastoris – típicos do Nordeste brasileiro – são reconfigurados e combinados
e as indústrias de bens de consumo não duráveis migram do Centro-Sul, muito
sob influência do PND-II. Algumas indústrias de bens intermediários também
estão ali representadas, com destaque para o polo de minério de alumínio do
Maranhão; produção de fertilizantes químicos em Sergipe; salinas em Alagoas; e
produção petroquímica, de celulose e papel na Bahia e no Maranhão.
Por fim, a região da fronteira biotecnológica, com influência direta do
bioma amazônico e com uma das maiores biodiversidades conhecidas no
mundo, abrange os estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Pará, Amapá e uma
porção significativa do Maranhão. Essa biodiversidade faz dela uma fronteira
de biotecnologia, principalmente pelo uso medicinal de extratos vegetais, e cor-
responde a atividades agrícolas, minerais e energéticas, com grandes empreen-
dimentos hidrelétricos nos últimos anos, como as usinas de Belo Monte (Pará),
Jirau e Santo Antônio (ambas em Rondônia).

Conclusão
Verificamos neste capítulo que, embora as regionalizações sejam visual-
mente muito similares, cada uma pode representar aspectos da totalidade,
isto é, mostrar diferentes abordagens da realidade. Além disso, pudemos com-
parar diferentes formas de regionalização mesmo pertencentes a linhas gerais
similares, como as versões de regionalização de Santos e Moreira. Embora
vinculados à geografia crítica, ambos utilizaram distintos aspectos regionali-
zantes em suas análises.
– 117 –
Geografia Regional do Brasil

Por fim, diante das mudanças teóricas, há também uma mudança na


própria organização socioespacial que aponta para a necessidade de novas
regionalizações, como é possível verificar as propostas por Corrêa e Moreira.

Ampliando seus conhecimentos


Disponibilizamos, a seguir, alguns trechos de uma obra de Milton
Santos que trata especificamente da definição de meio técnico-científico-in-
formacional. Quando possível, leia a obra completa desse clássico da geo-
grafia brasileira.

A natureza do espaço: técnica e tempo,


razão e emoção
(SANTOS, 2012, p. 238-241)

[...]
Nesse período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo
tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema
intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles
já surgem como informação; e, na verdade, a energia princi-
pal de seu funcionamento é também a informação. Já hoje,
quando nos referimos às manifestações geográficas decorren-
tes dos novos progressos, não é mais de meio técnico que
se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que
estamos chamando de meio técnico-científico-informacional.
[...]
Podemos então falar de uma cientificização e de uma tecnici-
zação da paisagem. Por outro lado, a informação não apenas
está presente nas coisas, nos objetos técnicos, que formam o
espaço, como ela é necessária à ação realizada sobre essas
coisas. A informação é o vetor fundamental do processo
social e os territórios são, desse modo, equipados para facilitar
– 118 –
Divisão regional do Brasil

a sua circulação. Pode-se falar, com S. Gertel (1993), de ine-


vitabilidade do “nexo informacional”.
Os espaços assim requalificados atendem sobretudo aos inte-
resses dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da
política e são incorporados plenamente às novas correntes
mundiais. O meio técnico-científico-informacional é a aparên-
cia geográfica da globalização.
[...]

Atividades
1. Compare as principais propostas de regionalização aqui apresentadas,
ressalte seus critérios de regionalização e teorias.

2. Faça um texto reflexivo sobre o conceito de meio técnico-científico-


-informacional de acordo o texto de Milton Santos e responda: como
podemos analisar a atualidade brasileira por meio dessa noção?

3. Quais relações a regionalização de Ruy Moreira pode apresentar com


as políticas de planejamento regional?

4. A grande Região Norte do IBGE é comumente relacionada à área


do bioma amazônico, o que faz recebê-la a mesma toponímia. Ana-
lise como essa região foi abordada em diferentes propostas e aponte
suas problemáticas.

– 119 –
7
As regiões brasileiras:
caracterização e reflexões

Depois de tanto refletirmos sobre o conceito de região e


explorarmos as possibilidades de trabalho com essa concepção, não
seria contraditório, agora, realizarmos uma monografia regional
para as cinco grandes regiões brasileiras? Sim, seria, caso nosso pro-
pósito não fosse refletir criticamente sobre a regionalização e bus-
cássemos compreendê-lo apenas como uma etapa, não um resultado
final, o que é hoje proposto pela geografia regional.
Portanto, nosso objetivo neste capítulo é refletirmos até
que ponto o mosaico ocasionado por esse recorte é compreendido
por nós e pela sociedade. Além disso, veremos como se dá o papel
do geógrafo como disseminador de conhecimento, tanto no ensino
escolar quanto na elaboração de relatórios técnicos.
Geografia Regional do Brasil

7.1 Regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste


Com base na regionalização do IBGE para as grandes regiões, criaremos
um cenário dos principais dados que as caracterizam. Nossa intenção não é
exaurir as informações contidas no site do IBGE, mas sim selecionar algu-
mas variáveis que podem nos ajudar a compreender como estão organizados
os dados do território brasileiro. Nesta primeira seção, tratamos das regiões
Norte, Centro-Oeste e Nordeste. No Mapa 1, podemos observar a organiza-
ção política das unidades federativas.
Mapa 1  – Mapa político das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, de
acordo com a regionalização oficial do IBGE.

Norte
Nordeste
Centro-Oeste

Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE, 2018b.


Trabalhar com o conceito de região é, antes de tudo, trabalhar com a
questão da escala em geografia. Quando o escolhemos para analisar o espaço
geográfico, diferenciamos uma área desse espaço, na qual buscamos ressaltar
aspectos relacionados aos sistemas de objetos e/ou de ações que o tornem
parte do todo e sejam capazes de mostrar as especificidades da totalidade.
Como já vimos, a regionalização oficial do IBGE em grandes regiões tem
como principal função a disseminação de dados estatísticos e geográficos de
maneira didática, seja para o ensino, seja para o planejamento.
– 122 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Entretanto, se afirmamos que trabalhar com região é trabalhar com


escala, o que devemos considerar acerca da resolução dos dados quando ana-
lisamos as grandes regiões?
Acreditamos que é fundamental sempre ter em mente que o espaço
geográfico dificilmente pode ser considerado homogêneo. Em municípios,
bairros e até mesmo em uma quadra podemos encontrar disparidades eco-
nômicas, sociais e ambientais. Desse modo, devemos considerar que em uma
análise regional esses dados encobrem essas disparidades. Na Tabela 1, apre-
sentamos dados territoriais, relacionados à população, densidade populacio-
nal (o valor médio de habitantes por km²), renda média mensal por pessoa e
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), importante ferramenta criada
para estabelecer parâmetros socioeconômicos. No IDH, quanto mais pró-
ximo de 1, maior é o desenvolvimento da área.
Tabela 1 – Informações de área territorial, população, densidade demográfica,
rendimento médio e IDH das grandes regiões.

Densidade Rendimento
Área População
demográfica mensal per IDH 2010
Estado territorial censo 2010
2010 capita 2016
km² hab. hab./km² Em R$ Valor
Norte 3.853.840,88 15.864.454 4,12 845,86 0,684
Centro-Oeste 1.606.234,47 14.058.094 8,75 1478,25 0,753
Nordeste 1.554.291,11 53.081.950 34,15 774,11 0,660
Sudeste 924.608,85 80.364.410 86,92 1369,25 0,754
Sul 576.783,78 27.386.891 47,48 1470,00 0,756

Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017e.


Nesta tabela, verificamos que, apesar das inúmeras tentativas de pla-
nejamento regional, índices como esses ainda refletem desigualdades regio-
nais semelhantes às constatadas nos primeiros estudos do IBGE. Vale dizer
que eles serviram também para a criação das políticas de desenvolvimento.
A Região Norte permanece com a menor densidade demográfica, porém, o
que antes poderia ser analisado como um aspecto negativo – os vazios demo-
gráficos dessa região –, hoje pode ser compreendido de maneira diferente.
– 123 –
Geografia Regional do Brasil

Uma região com uma biodiversidade tão rica como o bioma amazônico
precisaria ser ocupada pelo modo de produção do espaço urbano utilizado em
outras regiões? Essa baixa densidade reflete a realidade de toda a região? Nós
veremos que não. A região metropolitana de Belém (Pará), por exemplo, apre-
senta uma das maiores populações, com mais de 2 milhões de habitantes. Já a
cidade Altamira, também no Pará, possui uma das menores densidades demo-
gráficas do país, com apenas 0,62 habitantes por quilômetro quadrado (IBGE,
2017a). Agora, analisaremos cada região e contextualizaremos seus dados.
O Nordeste brasileiro – primeira região a ser povoada pelos imigrantes
europeus a partir do ano de 1500 – sempre esteve no ponto focal das políticas de
desenvolvimento, planejamento regional e levantamento de dados geográficos.
Descrita em grandes obras literárias, como Os sertões, de Euclides da
Cunha (1866-1909), a região foi marcada historicamente pela ocupação de
portugueses, franceses e holandeses e a resistência da população diante das
adversidades do clima semiárido e das políticas de coronelismo. O bioma da
caatinga – também conhecido como polígono da seca – marca a região. Com
baixos índices pluviométricos, plantas xerófitas1 e solos salinos, sua base natural
sempre foi considerada a causa do baixo desenvolvimento econômico da região.
Figura 1 – Região da caatinga brasileira, caracterizada pelo clima semiárido
e plantas xerófitas.

Fonte: Heckepics/iStockphoto
1 Plantas xerófitas são aquelas adaptadas a viverem em climas semiáridos e desérticos (por
exemplo, cactos).
– 124 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Provavelmente devido a essas questões, a organização espacial do


Nordeste se deu com a criação de centros urbanos concentrados na região
litorânea, que tem maior densidade demográfica e poder econômico do
que as regiões da Zona da Mata e do sertão. Uma das maiores cidades do
país, Recife tem uma população que ultrapassa os 1,5 milhão de habitantes.
A capital de Pernambuco tem uma das maiores rendas per capita (872 reais),
embora seja inferior ao salário mínimo nacional (954 reais). Obras como a
transposição do Rio São Francisco, usinas petroquímicas e relacionadas a pro-
jetos de habitação e rodovias estão modificando o cenário regional, que ainda
apresenta os valores mais baixos de IDH em nível nacional.
Na Tabela 2, percebemos que os dados das unidades federativas eviden-
ciam as disparidades da Região Nordeste, em que o rendimento médio é de
774 reais. O Estado do Maranhão apresenta o menor rendimento per capita:
apenas 575 reais.
Tabela 2 – Dados das unidades federativas da Região Nordeste.
Rendimento
População Densidade
Área territorial mensal per IDH 2010
censo 2010 demográfica 2010
Estado capita 2016
No No No No
km² hab. hab./km² No país Em R$ Valor
país país país país
Alagoas 27.848,14 25º 3.120.494 17º 112,33 4º 662 26º 0,631 27º
Bahia 564.732,45 5º 14.016.906 4º 24,82 15º 773 20º 0,66 21º
Ceará 148.887,63 17º 8.452.381 8º 56,76 11º 751 22º 0,682 16º
Maranhão 331.936,95 8º 6.574.789 10º 19,81 16º 575 27º 0,639 26º
Paraíba 56.468,44 21º 3.766.528 13º 66,7 8º 790 19º 0,658 21º
Pernambuco 98.076,02 19º 8.796.448 7º 89,62 6º 872 17º 0,673 18º
Piauí 251.611,93 11º 3.118.360 18º 12,4 18º 747 23º 0,646 24º
Rio Grande
52.811,11 22º 3.168.027 16º 59,99 10º 919 13º 0,684 16º
do Norte
Sergipe 21.918,44 26º 2.068.017 22º 94,36 5º 878 16º 0,665 18º
Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017a.
Já a Região Norte – caracterizada pela presença do bioma amazônico –
sempre foi compreendida por seu vazio demográfico e seu alto potencial extra-
tivista de natureza intocada. De fato, se olharmos de maneira positivista seus
dados de densidade demográfica, concluiremos que a região é pouco habitada.
– 125 –
Geografia Regional do Brasil

Todavia, ao tentarmos compreender como sua população está distri-


buída e vermos a organização dos centros urbanos, percebemos que há uma
grande concentração populacional em alguns desses centros, como acontece
com Belém, o maior centro urbano regional, cuja região metropolitana tem
mais de 2 milhões de habitantes.
Tabela 3 – Dados das unidades federativas da Região Norte.
Densidade Rendimento
População
Área territorial demográfica mensal per IDH 2010
censo 2010
Estado 2010 capita 2016
No No No Em No No
km² hab. hab./km² Valor
país país país R$ país país
Acre 164.123,74 16º 733.559 25º 4,47 24º 761 21º 0,663 21º
Amapá 142.828,52 18º 669.526 26º 4,69 23º 881 15º 0,708 12º
Amazonas 1.559.146,88 1º 3.483.985 15º 2,23 26º 739 24º 0,674 18º
Pará 1.247.955,24 2º 7.581.051 9º 6,07 21º 708 25º 0,646 24º
Rondônia 237.765,29 13º 1.562.409 23º 6,58 20º 901 14º 0,69 15º
Roraima 224.300,81 14º 450.479 27º 2,01 27º 1.068 12º 0,707 13º
Tocantins 277.720,41 10º 1.383.445 24º 4,98 22º 863 18º 0,699 14º

Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017a.


O bioma amazônico é considerado ainda o melhor preservado em ter-
mos de biodiversidade e área. Entretanto, a fronteira agrícola, o contrabando
de animais e plantas e a mineração colocam essa região em risco.
Figura 2 – Vista aérea da floresta (Estado do Amazonas).

Fonte: Filipefrazao/iStockphoto.
– 126 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Estudos arqueológicos também mostram que essa visão ingênua – de grande


mata intacta e pouco habitada – se aproxima mais de uma visão política regional
do que de dados efetivos. Neves (2006) apresenta inúmeros indícios que levam a
entender a região amazônica como uma grande floresta de influência antrópica,
com plantas domesticadas, manejo florestal e criação de solos mais férteis com
a formação de terra preta de índio. Há ainda estudos que evidenciam o grande
número de habitantes indígenas que ali viviam antes do contato com os brancos.
Essa região é também fortemente influenciada pelas diferentes popu-
lações e culturas indígenas que ainda resistem em terras institucionalizadas
pelo governo, em áreas urbanas e ribeirinhas. De acordo com o último Censo
(IBGE, 2010), a população indígena no país está presente em pelo menos
80% dos municípios; na Região Norte esse número chega a 90%. Apesar de
as questões relacionadas às baixas densidades populacionais da Região Norte,
foi a Região Nordeste que teve seu processo de povoamento mais tardio. Foi
apenas no século XX que sua ocupação se deu de maneira intensiva.
A construção de Brasília e a implementação extensiva do agronegócio não
impulsionaram apenas a economia, mas também alavancaram a migração de
populações vindas de outras regiões. Na Tabela 4, observamos que a Região
Centro-Oeste tem o menor percentual de habitantes nascidos e os maiores índi-
ces de migrantes das demais regiões, principalmente do Nordeste e Sudeste. Esses
dados evidenciam as mudanças nos tradicionais fluxos migratórios brasileiros.
Tabela 4 – Porcentagem da população de acordo com o local de nascimento.
Distribuição percentual da população residente, residência atual
segundo o lugar de nascimento – 2004/2015
Distribuição percentual da população residente, por Grandes Regiões de residência atual (%)

Lugar de Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste


nascimento 2004 2015 2004 2015 2004 2015 2004 2015 2004 2015
Norte 82,2 84,9 0,4 0,4 0,3 0,3 0,1 0,2 2,2 2,8
Nordeste 10,4 8,9 97,3 97,3 9,3 8,9 1,0 1,1 12,3 12,3
Sudeste 3,2 2,6 1,8 1,9 87,3 87,9 4,1 3,8 10,8 9,0
Sul 1,9 1,5 0,2 0,1 1,9 1,8 94,1 93,7 5,5 4,6
Centro-Oeste 2,2 1,9 0,3 0,2 0,6 0,6 0,3 0,5 68,9 70,8
País estrangeiro 0,2 0,2 0,1 0,1 0,6 0,5 0,4 0,6 0,3 0,4
Fonte: IBGE, 2017c.
– 127 –
Geografia Regional do Brasil

A construção de Brasília, como mencionamos anteriormente, foi um


importante marco para o desenvolvimento regional. Ela impulsionou a
migração e se tornou o centro da política nacional.
Figura 3 – Vista aérea da Catedral de Brasília e do Ministério da Esplanada.

Fonte: VelhoJunior/iStockphoto.
O agronegócio é a marca econômica da Região Centro-Oeste, que é a
maior produtora de soja do país e impulsionadora da frente agrícola sob o
bioma amazônico. Brasília, além de ser ponto focal para o desenvolvimento
regional, é um outlier, ou seja, um ponto fora da curva.
Sua pequena área territorial, sua grande população – concentrada nas cha-
madas cidades-satélites – e a concentração dos mais importantes cargos públicos
brasileiros aparecem nas estatísticas com pesos que distorcem a realidade regio-
nal. O rendimento per capita é o maior do país, com um valor de 2. 351 reais
(Tabela 5) e 36% maior que o segundo colocado (São Paulo). Esses dados repre-
sentam um dos maiores abismos sociais brasileiros, com a ocupação do plano-
-piloto2 por populações de alto poder aquisitivo e grandes bolsões de pobreza
nas áreas periféricas. Na análise de dados estatísticos da região Centro-Oeste,
devemos sempre ponderar a presença do Distrito Federal e suas especificidades.

2 Projeto urbanístico elaborado por Lucio Costa (1902-1998) para a nova capital do Brasil.
– 128 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Tabela 5  – Dados das unidades federativas da Região Centro-Oeste e do


Distrito Federal.
Densidade Rendimento
População
Área territorial demográfica mensal per IDH 2010
censo 2010
Estado 2010 capita 2016
No No No Em No No
km² hab. hab./km² Valor
país país país R$ país país
Distrito Federal 5.780,00 27º 2.570.160 20º 444,66 1º 2.351 1º 0,824 1º
Goiás 340.106,49 7º 6.003.788 12º 17,65 17º 1.140 10º 0,735 7º
Mato Grosso 903.202,45 3º 3.035.122 19º 3,36 25º 1.139 11º 0,725 10º
Mato Grosso
357.145,53 6º 2.449.024 21º 6,86 19º 1.283 7º 0,729 9º
do Sul

Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017a.


Entre as cinco grandes regiões do IBGE, as três apresentadas nesta seção
são as que apresentam seus limites entre si mais suavizados pela organização
espacial. O bioma amazônico ainda influencia parte do estado do Maranhão
e seu limite com a região Centro-Oeste está cada vez mais difícil de ser deli-
mitado em razão do avanço do desmatamento, da pecuária e do cultivo de
soja. Os processos de formação da população também estão intimamente
interligados, com a migração – estimulada por projetos de planejamento – de
nordestinos para a região amazônica.

7.2 Regiões Sul e Sudeste


Conhecidas como os motores da economia nacional, as regiões Sul e Sudeste
são as peças que faltam no nosso mosaico regional. Influenciadas pelo bioma da
Mata Atlântica, essas regiões apresentam os maiores índices de desmatamento,
muito ocasionado pela alta urbanização (SOS MATA ATLÂNTICA, 2017).
O estado de São Paulo é cortado pelo Trópico de Capricórnio e constitui
um marcador geográfico climático, já a Região Sul é, de fato, a mais fria do
país. Em áreas com alta altimetria, é comum o registro de temperaturas próxi-
mas a 0 °C e eventos com neve. Nas áreas mais altas, como nas serras gaúcha e
catarinense, o clima frio e a presença da alta umidade criam microclimas, que
ocasionam matas nebulares, únicas no país.
– 129 –
Geografia Regional do Brasil

A mata de araucária, uma das características da Região Sul, ocorre tam-


bém nas áreas altas dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O pinhão é fonte de renda e tradição.
Mapa 2 – As Regiões Sul e Sudeste são marcadas pela alta urbanização e
elevado desenvolvimento econômico em âmbito nacional.

Sudeste
Sul

Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE, 2017a.


A região Sudeste teve destaque no cenário político e econômico desde
os primeiros anos do Império  – com a mudança da capital para a cidade
do Rio de Janeiro  – e, posteriormente, com a política café com leite, que
consistia no controle político entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais.
A ocupação histórica antiga, com forte influência da família real, dos tropei-
ros, da mineração, da escravidão e da migração europeia do século XIX, mar-
cou não apenas a organização do desenho urbano, mas também a economia e
as expressões culturais dessa região.
O Estado de Minas Gerais apresenta uma das áreas com maior potencial
minerador, seja no quadrilátero ferrífero ou em garimpos de pedras preciosas.
Esse potencial impulsionou e ainda impulsiona a economia do Estado, no
entanto, traz como consequência graves problemas ambientais, como a polui-
ção de rios, que atravessa outros estados.
– 130 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Figura 4 – Exploração de minas no estado de Minas Gerais.

Fonte: ValterCunha/iStockphoto.
A Região Sudeste ainda comporta os maiores índices econômicos
no país. Ela foi a primeira a estabelecer alto desenvolvimento industrial e
apresentar os maiores rendimentos médios per capita no país. Os estados
de São Paulo e Rio de Janeiro têm as maiores metrópoles nacionais, com
a maior população e alta densidade demográfica – e, consequentemente,
grandes problemas de desigualdade social e econômica. Novamente, os
altos índices econômicos devem ser interpretados por aspecto, como classe
social, gênero e etnia.
Tabela 6 – Dados das unidades federativas das regiões Sul e Sudeste.
Densidade Rendimento
População
Área territorial demográfica mensal per IDH 2010
censo 2010
Estado 2010 capita 2016
No No hab./ No Em No No
km² hab. Valor
país país km² país R$ país país
Espírito Santo 46.086,91 23º 3.514.952 14º 76,25 7º 1.157 9º 0,74 7º
Minas Gerais 586.520,73 4º 19.597.330 2º 33,41 14º 1.168 8º 0,731 9º
Rio de Janeiro 43.781,59 24º 15.989.929 3º 365,23 2º 1.429 5º 0,761 4º

– 131 –
Geografia Regional do Brasil

Densidade Rendimento
População
Área territorial demográfica mensal per IDH 2010
censo 2010
Estado 2010 capita 2016
No No hab./ No Em No No
km² hab. Valor
país país km² país R$ país país
São Paulo 248.219,63 12º 41.262.199 1º 166,23 3º 1.723 2º 0,783 2º
Paraná 199.307,94 15º 10.444.526 6º 52,4 12º 1.398 6º 0,749 5º
Rio Grande
281.737,89 9º 10.693.929 5º 37,96 13º 1.554 3º 0,746 6º
do Sul
Santa Catarina 95.737,95 20º 6.248.436 11º 65,27 9º 1.458 4º 0,774 3º
Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017a.
Já a Região Sul teve sua industrialização impulsionada pela migração de
europeus. Com indústrias voltadas à agroindústria, metalmecânica e tecela-
gem, conta com três importantes portos marítimos: Rio Grande (Rio Grande
do Sul), Itajaí (Santa Catarina) e Paranaguá (Paraná). Muitas localidades
ainda estão vinculadas à cultura europeia. Assim, são comuns festas com
comidas e danças típicas dos países de origem. A Região Sul tem o melhor
IDH do país (Tabela 6).
Assim, entre os aspectos que a fazem uma das regiões com os maiores
índices de qualidade de vida está a expectativa de vida, com uma idade média
de 77,10 anos. Esse é um número alto comparado ao Nordeste, por exemplo,
que possui uma expectativa de 73,05 anos (IBGE, 2017a). Além disso, o Sul
tem uma das mais baixas taxas de analfabetismo em relação ao restante do país.
Figura 5 – Taxa de analfabetismo no Brasil. A Região Sul apresenta um dos
menores índices.
25 Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade
20
15
10
5
0

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste


 2004    2015

Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017c.


– 132 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Poderíamos concluir o nosso mosaico regional brasileiro aqui, pois já


sabemos da baixa densidade demográfica da Região Norte, do baixo rendi-
mento médio da população nordestina, do elevado rendimento do Distrito
Federal no Centro-Oeste, do grande contingente populacional do Sudeste e
do alto IDH da região Sul. Todas essas informações são verdadeiras, mas em si
representam a totalidade de cada região? Inventários estatísticos desse tipo res-
ponderiam às principais problemáticas geográficas? Vamos refletir sobre isso.

7.3 Um mosaico que nos representa?


O resultado da caracterização de diferentes regiões cria um cenário nacio-
nal que na geografia costuma ser associado a um mosaico. O mosaico é uma
analogia: representa um todo formado por diferentes partes, no entanto essas
partes apresentam especificidades em uma relação com a totalidade. Observe
como essa relação se assemelha ao conceito de espaço geográfico.
Regionalizar, como já mencionamos, é compreender o espaço geográfico
e buscar similaridades que diferenciem as áreas entre si, mas sem perder dois
aspectos importantes: a resolução da escala e o que unifique essas áreas. Na
questão da escala, devemos cuidar para não encarar a região como uma escala
fixa. Ela deve ser entendida como uma etapa de recorte analítico, que pode
ser modificada a depender da problemática de pesquisa. É importante consi-
derar também a representação do local/global no conceito de região, nela há
relações/processos inerentes do sistema capitalista e de organização territorial
que se expressam no espaço.
Um exemplo dessas questões ocorre quando abordamos aspectos vincu-
lados à economia regional. O rendimento médio de uma região pode indicar
o nível de desenvolvimento econômico, uma vez que atividade com maior
valor agregado tende a melhor remunerar seus trabalhadores. Estes devem
ser analisados por setores da economia, pois tendem a maquiar grandes desi-
gualdades, como vimos no caso do Distrito Federal, em que grande parte da
população recebe altos salários devido ao funcionalismo público e, por isso,
eleva o rendimento médio dessa região.
Questões raciais e de gênero são outras que tendem a ser negligen-
ciadas quando analisamos apenas valores médios. A desigualdade salarial
– 133 –
Geografia Regional do Brasil

entre homens e mulheres ainda é gritante no país: mesmo quando ocupam


o mesmo cargo, as mulheres recebem salários muito inferiores aos homens.
Essa distinção se apresenta principalmente em economias desenvolvidas e em
cargos de alta especialização. Regionalmente, isso se reflete na diferença sala-
rial entre homens e mulheres nas regiões Sul e Sudeste (640 reais e 692 reais,
respectivamente). Na Região Centro-Oeste, o rendimento médio informal
de homens e mulheres é de 739 reais. As questões de gênero são importantes
quando analisamos dados econômicos.
Figura 6  – Rendimento médio do trabalho de 16 anos ou mais de idade,
trabalhos formais e informais, por sexo (2015).

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste


Formal – Homens 2 432 2 003 1 789 2 614 2 535 2 758
Formal – Mulheres 1 873 1 779 1 513 1 974 1 843 2 134
Informal – Homens 1 345 1 128 858 1 714 1 707 1 887
Informal – Mulheres 923 829 641 1 090 1 080 1 148

Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017c.


A distinção entre os espaços urbanos e rurais também é gritante quando
analisamos índices de desenvolvimento humano. Algumas diferenças, como
acesso à rede de água tratada e esgoto, são relacionadas a especificidades da
organização do espaço – a presença desse tipo de serviço serve inclusive para
diferenciar um espaço do outro.
A existência de banheiros para uso dos moradores nessas duas formações
de organização do espaço é extremamente desigual. Na Figura 7 observa-
mos uma importante mudança nos últimos anos, especialmente na região
Nordeste. O percentual da população rural que teve acesso à construção de
um banheiro na residência mais que dobrou, porém ainda se limita a 80%
da população. O acesso a tratamento de esgoto é essencial para a melhoria da
qualidade de vida da população e está diretamente relacionado aos estudos de
geografia da saúde.
– 134 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Figura 7 – Proporção de domicílios com esgotamento por rede coletora de


esgoto ou pluvial (2004-2015).

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

  Urbana 2004     Urbana 2015     Rural 2004     Rural 2015

Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017c.


O aumento do número de banheiros exclusivos nas residências também
é um fator muito relevante para a qualidade de vida das populações urbanas e
rurais. Esse crescimento apresenta importantes avanços regionais.
Figura 8  – Proporção de domicílios com banheiro ou sanitário de uso
exclusivo dos moradores por espaço rural e urbano.

100
80
60
40

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

  Urbano 2004     Urbano 2015     Rural 2004     Rural 2015

Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017c.


– 135 –
Geografia Regional do Brasil

Se é possível identificar nas estatísticas dos censos diferenças de orga-


nização espacial (como urbano/rural), pode-se verificar também questões
raciais. Essas informações mostram uma sociedade que discrimina/margi-
naliza espacial e socialmente grande parte da população. Dar visibilidade a
esses fatores e demonstrar como muitas vezes o acesso a direitos básicos são
negligenciados é uma forma de tornar os estudos geográficos mais relevantes
do ponto de vista social da pesquisa. Na Figura 9, verificamos que questões
raciais estão expressas no acesso a itens básicos, como água, tratamento de
esgoto e banheiro nas residências.
Figura 9  – Proporção de domicílios com banheiro ou sanitário de uso
exclusivo dos moradores por autodeclaração de cor ou raça (2004-2015).

100
80
60

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

  Branco 2004     Branco 2015     Negro 2004     Negro 2015

Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017c.


Às vezes, podemos direcionar nossa reflexão para apenas um ques-
tionamento e desvalorizar trabalhos descritivos. Na realidade, esses estu-
dos são fundamentais para identificar o modo que a organização espacial
está se desenvolvendo. O que deve ser questionado não é a necessidade
destes estudos, mas sim suas metodologias, o uso de seus dados e o
modo como eles apresentam as complexidades do espaço geográfico.
Dar visibilidade às distorções dos processos de desenvolvimento socioe-
conômico, de organização espacial e de relações sociais (como de gênero
e raciais), é essencial para a possibilidade de planejamentos regionais
mais críticos e eficientes.

– 136 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Conclusão
A produção de dados regionais – mesmo que ainda na forma estanque
de monografias regionais  – é uma importante etapa do desenvolvimento
de estudos regionais, e não de seu produto final. Compreender a realidade
se faz necessário e, para tal, a coleta de dados, a estatística, o mapeamento
temático, os trabalhos de campo e a apropriação do espaço pelo geógrafo
são essenciais. É nesse ponto que a geografia regional passa de uma ciência
descritiva (ou teórica) para uma prática efetiva, de reflexão e potencial para
a modificação da realidade.
Isso pode ocorrer por meio do planejamento regional e do ordenamento
territorial, (como vimos no Capítulo 2) pela conscientização da população
para as disparidades espaciais/sociais/econômicas e também por meio da
verificação das consequências da construção do espaço geográfico para o
ambiente e para a sociedade.

Ampliando seus conhecimentos


A questão da escala e das relações escalares dos dados estatísticos é sem-
pre um aspecto teórico-metodológico relevante nos estudos da geografia
regional. O texto de Maria Dias Bueno e Álvaro D’Antona discute sobre as
potencialidades e limitações dessa questão.

A geografia do censo no Brasil:


­p otencialidades e limitações na
­e xecução de análises espaciais
(BUENO; D’ANTONA, 2017, p. 25)

[...]
No que diz respeito às limitações relacionadas com análises
temporais, o ideal seria trabalhar com unidades de dissemina-
ção que não se alterassem ao longo do tempo, e para isso elas

– 137 –
Geografia Regional do Brasil

teriam de ser independentes das unidades de coleta e também


das unidades político-administrativas. No caso dos problemas
ocasionados pela heterogeneidade de forma e extensão das
unidades, a solução seria utilizar unidades com forma regular
e de mesmo tamanho. Já no caso das dificuldades relacio-
nadas com a adequação a recortes espaciais diversos, uma
possível solução seria a utilização de unidades de pequenas
dimensões, de modo que a agregação destas pudesse se
aproximar do recorte desejado. Essa solução também seria a
mais adequada para minimizar as questões relacionadas com
a agregação de dados (MAUP e falácia ecológica), uma vez
que unidades pequenas tendem a ser mais homogêneas inter-
namente do que unidades de maior extensão.
Essas sugestões levam a concluir que para resolver ou mini-
mizar os problemas apresentados anteriormente seria conve-
niente o uso de unidades geográficas pequenas e regulares,
em vez de unidades político-administrativas e de coleta. Para
tornar a solução ainda mais vantajosa, poderiam ser adotados
vários conjuntos de unidades com dimensões diferentes, dis-
postas de forma hierárquica, formando uma “família” de unida-
des espaciais [...]. Essa solução já é conhecida e utilizada há
algum tempo, sendo denominada Grade Estatística – grade,
devido a sua forma regular, e estatística, devido aos dados
relacionados a cada célula.
[...]
Dentre as principais vantagens da grade estatística destacam-
-se a adequação a recortes espaciais diversos, devido às
suas pequenas dimensões, e a sua estabilidade temporal,
uma vez que as células da grade não precisam ser alteradas
ao longo do tempo por não terem significado administra-
tivo ou territorial, sendo simplesmente um repositório para
dados estatísticos.
[...]

– 138 –
As regiões brasileiras: caracterização e reflexões

Atividades
1. A migração da população nordestina para a Região Sudeste é alvo da
produção científica e da mídia. Mas, atualmente, percebemos que
essa região já não é o principal destino para migração, ela foi substi-
tuída pela Região Centro-Oeste. Nesse sentido, discorra acerca dos
aspectos demográficos dessa região.

2. A Região Norte é conhecida pela baixa densidade demográfica. In-


terprete essa afirmação e a relacione com as discussões apresentadas
neste capítulo.

3. Problematize a produção de informações nos modelos de monogra-


fias regionais.

4. Como a geografia regional pode atuar na criação de conhecimento e


na modificação de distorções sociais, econômicas e espaciais?

– 139 –
8
A questão regional para
além da regionalização

Chegamos ao final de nossa obra sobre a geografia regional


do Brasil. Nós já discutimos a história do pensamento geográfico
sobre o conceito de região e os diferentes enfoques dados ao plane-
jamento urbano e o ordenamento territorial, também observamos
que no Brasil essa temática é predominantemente abordada pela
interface territorial e apropriada pela geografia humana.
Neste último capítulo, vamos discutir um outro emprego
do conceito de região – presente na geografia cultural – e cons-
truiremos uma síntese da geografia regional brasileira. Esse exer-
cício não pretende findar a discussão, pelo contrário, objetiva
instigar cada futuro geógrafo a pensar e ressignificar esse conceito
na contemporaneidade.
Geografia Regional do Brasil

8.1 O regional como pertencimento


e a geografia cultural
A geografia cultural pode ser compreendida como um subcampo da
geografia humana, que se assemelha à geografia econômica ou política. Para
Claval (1999), o espaço geográfico exalta em si a natureza cultural da apro-
priação humana do espaço, logo, todo geógrafo se apropria da cultura para
compreender o espaço. Para o autor, é por meio da cultura que a região é
representada na realidade. Além disso, sua delimitação partiria de critérios
culturalmente estabelecidos por diferentes grupos sociais.
A definição de cultura aqui abordada faz referência à obra de Claval
(1999), que a considera uma criação humana coletiva, com constantes trans-
formações em sua percepção e apropriação. Para ele, a cultura molda a maneira
pela qual os indivíduos organizam e se apropriam do espaço. Isso resulta em
identidades coletivas que explicam o fato de poder coexistir diferentes valores
(sociais, culturais) em um mesmo espaço.
Nessa abordagem, a região deixa de ter um enfoque territorial – em que
acontecem as relações de poder – para ter uma aproximação com o conceito
de lugar, de pertencimento. Para Tuan (1980), a cultura, por meio do sim-
bólico, transforma a região em lugar no sentido de mediar a relação entre o
indivíduo e o espaço. A região, compreendida como espaço regional, mani-
festa o sentimento de pertencimento, de identidade. É no processo de trans-
formação da natureza que o indivíduo e sua coletividade criam seus códigos
culturais, sejam eles visíveis ou não. Aqui, a distinção entre códigos visíveis e
não visíveis se dá pela materialidade. Por exemplo, o modo de produção de
panelas de barro, seu resultado estético, o ensopado que é feito apenas nela e
até mesmo o que as mulheres cantam ao produzir o vasilhame são expressões
dos códigos culturais. A representação cultural é visível na materialização da
panela e da comida e é invisível em seu modo de produção, nas escolhas dos
materiais e na elaboração das receitas.
Apesar de Sauer (1998) trazer o conceito de paisagem nessa discussão,
ele enfatiza o papel da cultura na caracterização desse conceito por meio das
transformações que são produzidas no espaço. Na análise regional, podemos
aproximar a ideia de que os grupos sociais materializam sua identidade no
espaço pela modificação da paisagem.
– 142 –
A questão regional para além da regionalização

Nesse sentido, a região volta a ser considerada como um produto


real, concreto, que existe a priori, e não sob a determinação metodológica
de um pesquisador. A diferenciação se dá pela apropriação e a experiência
vivenciada pelos grupos sociais, e é ao mesmo tempo fim e meio da regio-
nalização, em que o processo de apropriação também a modifica como
produto do real (BEZZI, 2008). Essa modificação de elementos históri-
cos da paisagem, culturalmente construídos e transformados pelo mesmo
grupo social que a produziu ou por novos grupos, é chamada por Santos
(1992b) de rugosidades da paisagem e representa palimpsestos1 do processo
de formação socioespacial.
Na regionalização cultural, a subjetividade tende a tornar os limites
da região mais fluidos e com baixa correlação quanto aos limites político-
administrativos. A materialidade da região cultural perpassa a ideia de mani-
festação simbólica e seu limite se dá pela presença ou não de apropriação.
Sob essa perspectiva, um grupo (e consequentemente uma região) se diferen-
cia e se define por exclusão e contraste em relação a outro. De acordo com
Claval, “nós não temos outra possibilidade de dizer nós a não ser pelo fato
de formarmos uma coletividade que se opõe a massa dos outros” (CLAVAL,
1999, p. 98).
Entretanto, se analisarmos que há aspectos hegemônicos que também
atuam por meio das manifestações culturais, podemos retornar ao enfoque
territorial, mesmo sob uma óptica da região cultural. A cultura, como forma
de apropriação do espaço, estabelece relações de poder quanto a outras mani-
festações que às vezes são negligenciadas e/ou impedidas de se expressar espa-
cialmente. Sob essa visão territorial da região cultural, Castro (1992, p. 33)
destaca: “como qualquer segmento do espaço, a região é dinâmica, historica-
mente construída e interage com o todo social e territorial”.

1 De origem grega, o termo palimpsesto é utilizado para designar a sobreposição temporal de


acontecimentos. Na antiguidade, significava o processo de apagar um papiro para que outro
texto fosse escrito ou a sobreposição de textos sobre um papiro. Na geografia, ele é utilizado
na compreensão de objetos e ações que se sobrepõem temporalmente na paisagem. Santos faz
menção desse termo em algumas obras, entre elas no artigo O tempo nas cidades, disponível na
revista Estudos sobre o Tempo: <http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v54n2/14803.pdf>. Aces-
so em: 22 jan. 2018.
– 143 –
Geografia Regional do Brasil

Figura 1 – Breakdance, estilo de dança praticado por jovens pertencentes ao


movimento hip-hop. A apropriação de espaços públicos para representações
culturais é uma forma de territorialização desse espaço.

Fonte: U.S. Embassy Tel Aviv/Wikimedia Commons.


Para Castro (1992), as relações culturais com o espaço ocorrem sob
duas escalas de manifestação: o indivíduo e a coletividade. No indivíduo, as
relações são primárias e estão intimamente relacionadas às vivências e espe-
cificidades psicossociais desse sujeito. É nessa concepção que surge o con-
ceito de topofilia2. Já na coletividade, o espaço de vivência se dá de maneira
mais ampla e estruturada, por meio das relações sociais. É aqui que surge o
conceito de região.
Com o retorno dos aspectos territoriais, questões relacionadas com o
processo de globalização e de mundialização da cultura surgem ao debate da
região cultural (OLIVEN, 1992). Como vimos, a região pode ser entendida
como a escala de interação local/global. Nessa relação, os aspectos culturais
passam por processos de construção, ressignificação e reafirmação das identi-
dades e de suas espacialidades. Assim, ela se torna ao mesmo tempo material
e simbólica.

2 Criada por Tuan (1980), essa concepção busca compreender, por meio da geografia cultural,
o sentimento de pertencimento do indivíduo pelo espaço. Depois, o autor trabalha o conceito
oposto, chamado de topofobia, que é a aversão por determinados espaços.
– 144 –
A questão regional para além da regionalização

Para Claval (1999, p. 50), “o espaço surge como uma dimensão sub-
jetiva, como uma dobra do sujeito, como produto da subjetivação de sen-
sações, de imagens e de textos por inúmeros sujeitos dispersos no social”.
Desse modo, entendemos que não cabe ao discurso regional se sobrepor às
individualidades, mas sim integrar essa individualidade para formar a região.

8.2 A região cultural pelo IBGE


São raros os estudos oficiais que remetem ao uso da região cultural. Apesar
disso, em 2006 o IBGE lançou o Atlas de representações literárias das regiões
brasileiras, com o objetivo de identificar e mapear regiões com base em obras
literárias nacionais, o que colocou como elemento central a identidade cultural
expressa na literatura. Para os vários autores que elaboraram a obra, o romance
regional é um valioso e eficiente instrumento para a compreensão dos mecanis-
mos de construção, permanência e decadência de uma região (IBGE, 2006).
Componente fundamental para a construção de uma ambientação da
trama literária, a descrição do espaço é uma importante ferramenta de expres-
são geográfica na literatura. As concepções particulares dos autores e os valo-
res coletivos do grupo social são expressos por meio das experiências vividas
nos lugares (TISSIER, 1991).
No Atlas (IBGE, 2006), são apresentadas as regiões geográficas caracte-
rizadas por aspectos naturais e históricos da ocupação territorial. Com base
nesse levantamento, foram apresentadas obras literárias de destaque nacional
e selecionados trechos e imagens das paisagens retratadas. Aqui, apresenta-
remos algumas para exemplificar e caracterizar nosso país sob uma óptica
diferente da adotada hegemonicamente.
No extremo sul brasileiro, na região da fronteira está a Campanha
Gaúcha, caracterizada por relevos levemente ondulados, conhecidos como
coxilhas, e com cobertura de campo limpo, o Pampa. A geografia, as condi-
ções históricas de delimitação da fronteira, os conflitos, o clima e o vento frio
(chamado minuano) são especificidades que influenciam a cultura regional e
estão presentes na literatura. Além disso, essa região foi palco de importantes
conflitos, como a Revolução Farroupilha (1835-1845), a Guerra do Paraguai
(1864-1870), a Guerra Civil (1893) e a Revolução Federalista (1923).
– 145 –
Geografia Regional do Brasil

A trilogia O tempo e o vento, de Erico Verissimo (1905-1975), é um clássico


que retrata essa região.
Mapa 1 – Região da Campanha Gaúcha.

Rio Grande do Sul


ARGENTINA
Campanha
Ocidental
Porto
Alegre

Campanha Central

Campanha
Meridional
URUGUAI
ESCALA
0 90 180 km

Fonte: IBGE, 2006, p. 34.


Conhecida como a região das Colônias, a escarpa da Serra Gaúcha –
limite do planalto meridional com forte declive – tem sua cultura influen-
ciada pelos processos de imigração de alemães e italianos ainda durante o
Império brasileiro. As obras retratavam a chegada dos imigrantes euro-
peus e sua permanência, entre as quais, destacam-se A ferro e fogo, de Josué
Guimarães (1921-1986), sobre a imigração alemã; e A cocacha e o quatrilho,
de José Clemente Pozenato (1938-), sobre a imigração italiana.
Entre as temáticas destacavam-se a decadência das pequenas proprie-
dades rurais e a falta de perspectivas dos jovens no campo, como vemos na
obra O pêndulo do relógio, de Charles Kiefer (1958-). Essa influência ocorreu
também em aspectos além da literatura, como é o caso das construções em
estilo enxaimel (Figura 2), trazidas pelos imigrantes alemães.
– 146 –
A questão regional para além da regionalização

Figura 4 – Construção em estilo alemão. Blumenau, Santa Catarina.

Fonte: SandroSalomon/iStockphoto.
Outra região fortemente influenciada pela migração europeia – princi-
palmente alemã, mas também italiana e eslava – é o Vale do Itajaí, em Santa
Catarina. O relevo de vales encaixados moldou a forma de assentamento dos
imigrantes e formou povoamentos relativamente independentes. A presença de
artesãos e pequenos industriais imigrantes, bem como o isolamento econômico,
propiciou o desenvolvimento industrial da região. Entre as obras literárias, des-
taca-se No tempo das tangerinas, da escritora Urda Alice Klueger (1952-).
Por fim, a obra Terra vermelha, de Domingos Pellegrini (1949-), foi um
marco ao retratar o norte do Paraná. Como o nome da obra traduz, essa região
é marcada pela presença da chamada terra roxa, solo extremamente fértil que
impulsionou a agricultura em uma região de ocupação recente e de pluralidade
étnica, formada especialmente por migrantes do estado de São Paulo e por
imigrantes orientais.
Os Sertões do Leste são subdivididos em regiões do Vale do Paraíba (São
Paulo e Rio de Janeiro), Zona da Mata Mineira, Vale do Rio Doce (ambos
em Minas Gerais), Sertões do Ouro e Sertões dos Currais. O termo sertões
destoa da tradicional utilização para áreas interioranas, longes do litoral e
– 147 –
Geografia Regional do Brasil

com clima e vegetação relacionados à seca. As regiões do Vale do Paraíba, da


Zona da Mata Mineira e do Vale do Rio Doce, a Serra do Mar e a ocupa-
ção do Planalto Atlântico foram um marco cultural retratado na literatura.
A Serra do Mar é representada em obras como A muralha, de Dinah Silveira
de Queiroz (1911-1982), e O guarani, de José de Alencar (1829-1877).
Figura 3 – A paisagem da Serra do Mar – retratada na obra A muralha –
dificultou a ocupação no Planalto Atlântico.

Fonte: Matheus Faria/Wikimedia Commons.


O Sertão do Ouro – delimitado pelas áreas de mineração do atual Estado
de Minas Gerais – ficou conhecido pela obra dos inconfidentes e representou
a configuração de uma rede de lugares e articulações territoriais. Em oposição
à intensa ocupação dessa área, a região dos Currais da Bahia – localizada no
entorno do vale do Rio São Francisco – foi caracterizada pela ausência de
ocupações bem estabelecidas e compreendida como área de passagem.
Uma das mais importantes obras da literatura nacional, Grande sertão vere-
das, de João Guimarães Rosa (1908-1967), é representante emblemática dos
Currais da Bahia. Em 1989 foi criado no município de Formoso (Minas Gerais)
o Parque Nacional Grande Sertão Veredas (na divisa entre Minas Gerais e Bahia),
para preservar o bioma e também a paisagem da obra de Guimarães Rosa.

– 148 –
A questão regional para além da regionalização

A região da Chapada Diamantina (Bahia) é conhecida como Sertões de Cima


e tem sua cultura retratada nas obras: Bugrinha, de Afrânio Peixoto (1876-1947),
e Cascalho e Além dos Marimbus, de Herberto Sales (1917-1999). No Nordeste
brasileiro ainda são diferenciados os sertões do Cariri Cearense (Ceará), do Cariri
Paraibano (Paraíba) e o Sertão do Pajeú (Pernambuco).
O cordel é uma importante expressão cultural do Nordeste brasileiro,
com narrativas ritmadas, contos e poemas. A produção literária do Cariri
Cearense é extremamente rica. A seca, as lendas, as rendeiras e sobretudo
as histórias sobre o cangaço estão presentes nessas obras, com destaque para
Caldeirão, de Claudio Aguiar (1944-). Um dos mais importantes autores bra-
sileiros, Ariano Suassuna (1927-2014) representou em suas obras a cultura do
sertão do Cariri Paraibano e o Sertão do Pajeú, especialmente em Romance d’a
pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta.
Figura 4 – O cordel é uma expressão literária típica do Nordeste brasileiro e
traz as expressões culturais do sertão do Cariri Cearense.

Fonte: Diego Dacal/Wikimedia Commons.

– 149 –
Geografia Regional do Brasil

Além de ressaltar aspectos da cultura regional, essas obras permitem deli-


mitar regiões de representação cultural. O ensino de Geografia, em parceria
com outras disciplinas, por meio dessas obras, pode fomentar o hábito da
leitura, bem como a percepção das representações culturais na produção do
espaço e da sociedade.

8.3 Um conceito que ilumina uma


saída: a dicotomia da geografia?
De produto-síntese a subcampo da geografia, a geografia regional – com
o conceito de região como ponto focal de suas reflexões – foi modificada
durante o desenvolvimento do pensamento geográfico. É importante para o
geógrafo ter claro esse caráter transmutável dos conceitos, especialmente para
contextualizá-lo quando se faz uso dessas categorias analíticas.
Orientar-se por uma linha epistemológica/metodológica e referenciar
os autores de onde são tiradas as definições não é se limitar, mas sim deixar
claro ao leitor a qual abordagem nos referimos. Mais do que uma definição
fechada desse conceito, construímos aqui um quadro de possibilidades que
deve ser consultado e que não corresponde necessariamente a uma resposta
estanque, e sim a um quadro de definições que deverá se adequar à sua pro-
blemática de pesquisa.
Quando escolhemos um conceito geográfico para compreender a rea-
lidade do espaço geográfico, devemos pensar quais elementos queremos
ressaltar, logo, devemos deixar de maneira explícita quais elementos esse
conceito engloba. Percebemos que na contemporaneidade o conceito de
região apresenta uma base territorial, seja pelas relações de poder clássicas
(do Estado e dos agentes econômicos), seja pela apropriação cultural e a
gestão ambiental.

– 150 –
A questão regional para além da regionalização

Figura 5 – A geografia regional é mais do que um subcampo da geografia, ela


tem a potencialidade de aglutinar os conhecimentos dos demais subcampos.

Geografia
física

Geografia Geografia Geografia


crítica regional do poder

Geografia
cultural

Fonte: Elaborada pela autora.


Regionalizar é delimitar uma base territorial por critérios que respondam
uma problemática. A região retorna em parte ao sentido de produto real no
que tange à sua materialidade, no entanto, o que devemos sempre esclarecer
é que essa materialidade é socialmente construída e altamente modificável.
Assim, essa é uma concepção que dialoga com os demais conceitos de
maneira mais fluida. Região e território são conceitos irmãos, tanto pela base
territorial da região, das relações de poder dentro dos limites regionais, quanto
pelo papel do Estado na delimitação e modificação dos sistemas de objetos
e ações que ocasionaram tais regionalizações. O conceito de espaço geográfico

– 151 –
Geografia Regional do Brasil

– cuja definição usamos a de Santos – representa o todo do qual a região busca


não fragmentar, mas sim agrupar totalidades que representem esse todo.
A natureza, nesse caso, relacionada à base física, faz parte dos sis-
temas de objetos em uma primeira análise e auxilia na delimitação das
regiões. Além disso, ela dá os fundamentos para o desenvolvimento de
outras relações socioespaciais. O lugar é um importante elemento de
apropriação cultural da região e, quando analisado no contexto da glo-
balização, representa claramente as relações local/global, que, apesar de
expressas nos demais conceitos, adquirem outra dimensão nas relações
culturais dos grupos sociais.
Então a região é a saída para a dicotomia da geografia? Ou ela entende as
necessidades teóricas e metodológicas da dicotomia e se apropria dos diferen-
tes conhecimentos para criar um conhecimento mais próximo da totalidade
do espaço geográfico? Na ciência, principalmente ocidental, recortes teóricos
e metodológicos são necessários. Nesse sentido, a dicotomia entre geografia
física e humana se torna inerente ao processo de produção de conhecimento
geográfico. Não ressaltamos que essa diferença deve ser cada vez mais reafir-
mada, mas destacamos que cada problemática de pesquisa tem suas especifici-
dades e limitações. Em determinadas escalas, a região mostra uma importante
análise geográfica.

Conclusão
Mais do que concluir, objetivamos aqui iniciar uma discussão reflexiva
sobre a geografia regional no Brasil e sobre o conceito de região na geografia.
Das mudanças epistemológicas às apropriações conceituais e experimentais
pela ciência e pela sociedade, cabe ao geógrafo intermediar os processos de
interpretação e reflexão, seja na docência ou na elaboração de materiais didá-
ticos e científicos. Compreender que as configurações e as reconfigurações
espaciais e sociais são inerentes à questão regional facilitará o entendimento
das temáticas regionais e permitirá uma maior aproximação da totalidade do
espaço geográfico.

– 152 –
A questão regional para além da regionalização

Ampliando seus conhecimentos


O conceito de região ainda é central da geografia brasileira e questões
contemporâneas continuarão a exigir novas ressignificações desse conceito tão
importante. Haesbaert traz reflexões valiosas acerca dessa concepção.

Região, regionalização e regionalidade:


questões contemporâneas
(HAESBAERT, 2010, p. 21-22)

[...]
Não é pelo fato de não termos uma forte consciência ou iden-
tidade regional que a região, obrigatoriamente, deixará de exis-
tir, pois ela pode estar sustentada pelos laços funcionais de
um arranjo socioeconômico que lhe dota de especificidade
dentro das dinâmicas de diferenciação geográfica em sentido
mais amplo. A especificidade dessa articulação (ou “combi-
nação”) de elementos pode ou não articular-se a uma coesão
também ao nível simbólico-cultural, identitário.
Propomos manter o termo região, em sentido mais estrito, para
esses espaços momento que resultam efetivamente em uma arti-
culação espacial consistente (ainda que mutável e “porosa”),
complexa, seja por coesões de dominância socioeconômica,
política e/ou simbólico-cultural. Nesse caso cabe sempre dis-
cutir a força espacial/regional, ao mesmo tempo articuladora
e desarticuladora, a partir dos sujeitos (socioeconômicos e/
ou culturais) e interesses políticos envolvidos. Muitas vezes é
para ou em relação a apenas algum(ns) grupo(s) que a região
efetivamente se constitui – e, nesse sentido, sem dúvida, o
que representa articulação para uns pode representar desarti-
culação para outros.

– 153 –
Geografia Regional do Brasil

Uma das questões mais relevantes, hoje, pela força crescente


de sua evidência, é que articulações regionais do espaço
podem se manifestar não apenas na tradicional forma zonal,
geralmente contínua, mas também em redes, dentro de uma
lógica descontínua de articulação reticular. Isso se deve tanto
à intensificação da mobilidade – especialmente das migrações
– quanto dos chamados processos de exclusão social (ou
de precarização da inclusão, para corroborar José de Souza
Martins). No primeiro caso, da intensificação da mobili-
dade humana, podemos ter a formação de “redes regionais”
(HAESBAERT, 1997), onde elementos de regionalidade
se reproduzem num espaço mais fragmentado, enquanto
no segundo podem surgir “regiões com buracos” (ALLEN,
MASSEY e COCHRANE, 1998), em que a articulação
regional efetivamente só alcança determinados grupos ou clas-
ses e, consequentemente, espaços, deixando outros à mar-
gem do processo de coesão.
[...]

Atividades
1. Acesse o Atlas de representações literárias3 do IBGE e faça um texto
crítico e descritivo sobre uma das regiões apresentadas. Além disso,
proponha de maneira didática a utilização desse conhecimento para o
Ensino Fundamental II.

2. Observe o mapa a seguir e reflita sobre as regionalizações literárias


oficiais do IBGE. Faça também uma resenha crítica sobre essa regio-
nalização e a utilização do conceito de região na geografia cultural.

3 Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/pt/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id


=232425>. Acesso em: 27 dez. 2017.

– 154 –
A questão regional para além da regionalização

Sertão do Cariri – O romance da pedra do reino, Ariano Suassuna.


Zona do Cacau – Terras do Sem-Fim, Cacau e São Jorge dos Ilhéus,
Jorge Amado.
Gerais – Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa.
Sertão dos Confins – Vila dos Confins e Chapadão do Bugre, Mário
Escala 1: 25 000 000
Palmério. 125 0 250 km
Sertão de Goiás – O tronco, Ermos e Gerais e A terra e as carabinas,
Projeção Policônica
Bernardo Elis. de Referência: -54º W. Gr
Meridiano
CampanhaParalelo
Gaúcha de Referência: 0 º
– Trilogia O tempo e o vento, Erico Verissimo.

Fonte: IBGE, 2006.

3. Conceitue rugosidade na obra de Milton Santos e a relacione com a


apropriação do espaço pela cultura.

– 155 –
Geografia Regional do Brasil

4. Faça um quadro-síntese do uso do conceito de região da geografia


regional e como os conhecimentos aqui debatidos podem ser relacio-
nados ao ensino de Geografia na Educação Básica.

– 156 –
Gabarito
Geografia Regional do Brasil

1. O conceito de região
1. É interessante ter claro os aspectos a seguir quando ler ou ouvir so-
bre os autores aqui elencados. Sintetizamos as principais ideias desses
autores de maneira esquematizada, no entanto, é importante escrever
um texto-síntese com suas palavras.

a. Paul Vidal de La Blache: principal autor da escola francesa na


geografia. Suas ideias tiveram forte influência na geografia brasi-
leira, especialmente no início do século XX. O autor considerava
a região natural como produto da geografia.
b. Richard Hartshorne: teórico da escola americana, representante
da revolução teorética quantitativa na geografia. Para o autor, a
região é um produto-síntese.
c. Roberto Lobato Corrêa: importante geógrafo brasileiro, têm vá-
rias obras e artigos a respeito do conceito de região.
d. Milton Santos: um dos grandes autores da geografia, especial-
mente da geografia humana. Foi o representante da geografia crí-
tica no Brasil e é referência nos estudos relacionados à territoriali-
dade, globalização e ao espaço geográfico.
e. Armand Frémont: representante da geografia humanística e cul-
tural. Trabalha com a perspectiva da fenomenologia e compreen-
de a região por meio da vivência e do pertencimento.
f. Yves Lacoste: representante da geografia do poder, sua obra
A geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra é con-
siderada um clássico.

2. Você deve refletir sobre os movimentos que tanto na ciência quanto


na geografia modificaram as concepções acerca do conceito de região.
Como exemplos citamos o possibilismo e a região natural. Além disso,
podemos citar a revolução teorética quantitativa e sua influência na
geografia, e as concepções de região homogênea e funcional. O método
histórico-dialético influenciou a geografia crítica. Já a fenomenologia
– 158 –
Gabarito

norteou a geografia humanística. Por fim, a globalização e as relações


de poder foram agentes modificadores dos fenômenos espaciais.

3. Neste capítulo vimos várias definições do conceito de região. Nessa


pergunta/provocação em que estabelecemos a relação dessa concepção
com o conceito de território, é importante refletir sobre a abordagem
de base territorial do conceito de região. Quando trabalhamos esse
conceito, apesar de sua base territorial, não buscamos compreender
apenas as relações de poder, caso contrário trabalharíamos o conceito
de território restritamente. Nesse sentido, as ideias sobre região escla-
recem a relação global/local, por meio da continuidade e fragmen-
tação do espaço pelos processos de globalização e gestão territorial,
especialmente do poder centralizador do Estado.

4. A globalização é compreendida como a homogeneização e uniformi-


dade social, cultural e econômica gerada pelo sistema capitalista. Ela
poderia ser considerada como a morte da região. Mas, diferentemente
disso, foi um dos principais processos de modificação da compreen-
são de região pela geografia na contemporaneidade. Nesse sentido, a
região passa a ser entendida, por pesquisadores de influência territo-
rial e econômica como a representação espacial do fenômeno de ex-
pressão das relações global/local. Isto é, uma dada região tem em sua
materialidade, como fenômeno geográfico, a representação do global,
da economia e da massificação sociocultural do capitalismo. As ex-
pressões do local, que por vezes gritam as disparidades inerentes ao
sistema capitalista, fragmentam essa suposta homogeneidade gerada
pela globalização.

2. Planejamento regional
1. Com o estereótipo de “região-problema”, a região Nordeste apresen-
ta especificidades relacionadas ao seu clima semiárido, caracterizado
– 159 –
Geografia Regional do Brasil

por grandes estiagens, salinidade dos solos e águas subterrâneas. Além


disso, essa região dispõe de aspectos culturais únicos e um histórico
de conflitos de terra. Por esses motivos, foi alvo de políticas federais
desde o início da República – o IOCS é um dos primeiros exemplos.
A sobreposição de superintendências (como Sudene e Codevasf ), os
problemas relacionados à política local, corrupção e impasses am-
bientais relacionados a muitas obras ocasionaram uma má eficiência
desses planos de reordenamento regional. Um exemplo são as obras
de transposição do Rio São Francisco, que foram justificadas como
obras-motriz para o desenvolvimento dessa região, mas tiveram gran-
des impasses ambientais, sociais e econômicos, fato que levanta ques-
tionamentos até os dias atuais.

2. Os eventos são a influência das ideias de Roosevelt sobre o Estado


intervencionista no governo Getulio Vargas; a criação do IBGE; a
criação das superintendências regionais; o Golpe Militar de 1964; a
criação da Constituição Federal de 1988 (e suas ferramentas de parti-
cipação popular e enfoque socioambiental); a política neoliberal dos
governos de Fernando Henrique Cardoso; e o neodesenvolvimentis-
mo das últimas décadas após o governo de Luíz Inácio Lula da Silva.

3. O texto-síntese deve conter aspectos acerca do desmatamento – relacio-


nado ao avanço das frentes agrícolas e pecuárias em direção à Amazô-
nia – versus um modelo de desenvolvimento conservador em relação à
biodiversidade e às comunidades tradicionais. Além disso, é importante
mencionar os avanços da violência no meio rural pelo direito ao uso
da terra, o garimpo e a desapropriação de terras de uso comunal e/ou
indígena. Pode ser abordada também a relação da taxa de população
masculina e dos fluxos migratórios dela para as frentes pioneiras e o
desenvolvimento de uma política baseada no agronegócio.

4. Com objetivos geopolíticos, o planejamento regional durante a Di-


tadura Militar objetivou a integração nacional, especialmente pelos
– 160 –
Gabarito

transportes. Por meio de agências e superintendências, foi criado o


plano de corredores de exportações (com a construção de vários por-
tos e rodovias) e realizadas obras de grande de magnitude no setor
energético (principalmente grandes hidrelétricas). Essas medidas se
refletiram no grande endividamento dos Estados brasileiros e cau-
saram impactos significativos no meio ambiente e em comunidades
tradicionais (indígenas, quilombolas etc.).

3. O Estado e a escala regional


1. As discussões que envolvem a cidade como ponto focal do planeja-
mento regional e o ordenamento territorial são muitas. As principais
estão vinculadas ao desenvolvimento socioeconômico e à urbaniza-
ção, à relação entre meio rural/urbano e às complexidades ineren-
tes da organização espacial do ambiente urbano. Você deve conhecer
minimamente essas discussões e se aprofundar em pelo menos uma.

2. A pós-modernidade é um fenômeno que ultrapassa a geografia como


ciência e é absorvida também pelas artes, ciências humanas e sociais.
Fruto das incertezas e da transitoriedade dos fenômenos, a pós-mo-
dernidade, ou modernidade líquida, tem por princípio a relativização
dos conceitos e abordagens, o que necessita de uma boa compreensão
dos contextos e agentes antes do estabelecimento de novos paradig-
mas. Na geografia, ela é mais evidente na geografia humana, princi-
palmente territorial e cultural.

3. Os programas de planejamento regional desenvolvidos no Brasil fo-


ram fundamentados em objetivos desenvolvimentistas de base econô-
mica/territorial e com foco no aparelhamento do espaço (sistema de
objetos). Obras de infraestrutura são os principais resultados dessas
tentativas. Desse modo, o BNDES – como fonte de financiamento
para a iniciativa pública e privada – foi um motor para esse processo.
– 161 –
Geografia Regional do Brasil

Ele também foi diretamente influenciado pelos governos federais em


vigor e representou suas modificações e instabilidades.

4. Como unidade geopolítica do sistema capitalista, o Estado-nação


compreende as dimensões de povo, cultura e território (que formam
a nação) e governo (que compreende o arcabouço jurídico sob essa
nação). Assim, no planejamento regional, o Estado-nação é respon-
sável por estudos diagnósticos, por gerar políticas públicas e, por
vezes, ser o agente financiador por meio de bancos públicos. Como
agente jurídico, ele não regula apenas o processo de instalação dos
empreendimentos, mas também os impactos sociais e ambientais
dele resultantes.

4. O IBGE e a regionalização oficial do Brasil


1. Para responder a essa questão, você pode formular uma problemática
envolvendo questões regionais. Pode pesquisar, por exemplo, sobre
como se deu o fluxo migratório entre as regiões Nordeste e Sudeste.
De quais dados você precisaria? Por meio de mapas, dados estatísti-
cos, textos e relatórios técnicos, quais hipóteses podem ser levantadas?
O fluxo ainda é o de saída do Nordeste e chegada ao Sudeste? Há um
contrafluxo? O que motivaria essa reversão?

2. Os censos são levantamentos que, no Brasil, possuem a periodici-


dade de dez anos. Neles, uma grande amostragem da população é
entrevistada para a compilação de dados estatísticos robustos sobre
demografia e economia das famílias brasileiras e de suas residências.
Esses dados podem ser utilizados por diferentes áreas da geografia,
como geografia da população, urbana, rural, de alimentos, cultural
e ambiental. O censo é a forma mais eficiente de obter dados em
escalas pequenas.
– 162 –
Gabarito

3. Entre as principais características podemos citar o uso dos limites dos


estados federativos, a influência da região natural e do possibilismo,
a importância dada à bacia hidrográfica e aos aspectos do meio físico.

4. No documento Divisão regional do Brasil em regiões geográficas ime-


diatas e regiões geográficas intermediárias: 2017, estão presentes todas
as características de diferentes agrupamentos (com/sem a existência
de metrópoles, com/sem capitais regionais). Ter essas informações em
mãos auxilia, principalmente, na interpretação dos futuros estudos
realizados pelo IBGE.

5. A regionalização do território brasileiro


1. Para responder essa questão, lembre-se das interações entre o todo, o
espaço geográfico e os recortes analíticos necessários para a produção
do conhecimento geográfico. É importante também mencionar a re-
lação entre as expressões da totalidade quanto ao sistema de objetos
e o sistema de ações e como a escala pode ser compreendida como
filtro para a realidade. Os elementos negligenciados no momento do
recorte não devem ser negligenciados na análise final. Mesmo sem
abordá-los diretamente, eles devem estar no consciente do pesquisa-
dor para que não ocorram simplificações demasiadas.

2. Podem ser abordados temas como o uso da região como escala de


abordagem, as relações de local/global juntamente com as especifici-
dades do espaço e o uso do trabalho de campo. Ao propor uma ativi-
dade, pense nos seguintes aspectos: onde você levaria a turma? Qual
objetivo estabeleceria? O que deveria ser observado? Haveria contato
com a comunidade? De que maneira?

3. Alexander von Humboldt foi um viajante alemão naturalista que


identificou uma corrente marítima que recebeu, em homenagem, seu
– 163 –
Geografia Regional do Brasil

nome. Foi ele que descreveu cientificamente paisagens pela primeira


vez, inclusive na América Latina. Fundador do que hoje conhecemos
como geografia física, trouxe para o campo em geografia não apenas
a coleta de dados, mas também a percepção da paisagem como cons-
trução e objeto do conhecimento geográfico.

4. Essa é a questão central dessa obra e sintetiza grande parte das discus-
sões. Você deve ser capaz de formular uma resposta que identifique
as mudanças teórico-metodológicas. A visão territorial da região, as
relações com a organização socioespacial pelo sistema capitalista e a
mudança de enfoque (de produto final para um meio metodológico)
devem ser levadas em conta. É importante lembrar que, mesmo que
se busque quebrar dicotomias constantemente, ainda existe a produ-
ção de conhecimento dicotômico na geografia brasileira.

6. Divisão regional do Brasil


1. Para responder essa questão, é importante lembrar que, mais do que
a delimitação das regiões, é imprescindível saber os critérios de regio-
nalização e como essas propostas demonstraram e demonstram um
cenário socioeconômico do país e do grau de desenvolvimento do
capitalismo na organização socioespacial do território nacional.
As regionalizações de Lobato Corrêa e Geiger, por exemplo, são mui-
to similares, mas quais são suas diferenças? O que diferencia cada
regionalização? Milton Santos se aproxima desses autores ou identi-
fica-se mais com a regionalização de Ruy Moreira? Santos e Moreira,
embora vinculados à geografia crítica, ainda apresentam diferenças
importantes, como a sobreposição de regiões sob uma área do espaço.
Considerações dessa natureza auxiliam a fixar o conteúdo aqui apre-
sentado e podem ser objeto de futuras avaliações em cursos ou em
processos seletivos.

– 164 –
Gabarito

2. Sinteticamente, o meio técnico-científico-informacional seria a forma


como a globalização se expressa no espaço geográfico. Dessa maneira,
as definições de globalização e espaço geográfico são necessárias na
sua argumentação. Pensar em meio técnico-científico-informacional
é pensar em sistemas de objetos, especialmente em infraestruturas
(indústrias), mas também em diferentes modais, como fontes da ma-
triz energética e urbanização. Além disso, é pensar na inclusão da
ciência da formação de tecnologia nacional e no papel dos meios de
comunicação, é refletir a atualidade da internet e das redes sociais
como formas de poder informacional.

3. Moreira evidencia a relação entre as mudanças regionais – sobretudo


no complexo agroindustrial e na região dos polos mineiro industriais
– da agroindústria irrigada e da indústria de não duráveis por meio
dos PNDs. Além disso, sabemos que as grandes obras de infraestrutu-
ra governamentais foram instaladas com base em projetos de planeja-
mento regionais. O mesmo ocorre com o avanço da fronteira agrícola
e dos fluxos migratórios entre as regiões.

4. Fortemente marcada pela presença do bioma amazônico, a região


Norte teve sua regionalização vinculada à baixa densidade popula-
cional e ao extrativismo vegetal e mineral. O avanço da fronteira
agrícola do Centro-Oeste em direção à Amazônia tem modificado a
configuração da ocupação regional – antes muito mais vinculada aos
cursos fluviais – e apresentado uma configuração linear (que confluía
para a metrópole de Belém) e hoje é direcionada para as rodovias
e o agronegócio do Centro-Oeste. A biopirataria e as fragilidades
das fronteiras são temas cada vez mais relevantes para uma região
de grandes proporções como essa. É importante também ressaltar o
valor social e cultural, que por vezes foi não apenas negligenciado,
mas também menosprezado.

– 165 –
Geografia Regional do Brasil

7. As regiões brasileiras:
caracterização e reflexões
1. Para responder essa questão, você deve elaborar um texto crítico que
relacione a criação de Brasília, o agronegócio, a fronteira agrícola,
a crise econômica e a saturação demográfica da região Sudeste, que
apresenta alta densidade demográfica e grandes concentrações de
pobreza e marginalização da população. Utilize os dados apresenta-
dos na primeira parte do texto.

2. Sua resposta deve abordar aspectos da concentração da população


em centros urbanos (especialmente a região metropolitana de Be-
lém), sua relação com os rios e os modos de deslocamentos para
diferentes cidades. Apresente problemáticas relacionadas a possíveis
aumentos da densidade populacional nessa região, sua estrutura
para o aumento populacional e a preservação do meio ambiente.

3. A produção de informações regionais nos modelos de monografias


regionais tende a ser um compilado de dados desconectados entre si.
Às vezes, é difícil de correlacioná-los de maneira direta, como relacio-
nar a potencialidade agrícola com o solo, o acesso à água e a ocupação
histórica. Além disso, a escolha dos dados utilizados pode encobrir
disparidades socioeconômicas e causar erros interpretativos.

4. Organize um esquema teórico que relacione a criação de informa-


ções acerca da espacialização dos dados, do papel dessas informa-
ções na produção do planejamento regional e da conscientização da
população para a organização do espaço geográfico.

– 166 –
Gabarito

8. A questão regional para além da regionalização


1. Você deve ser capaz de dialogar com as diferentes informações conti-
das no mapa, especialmente as descrições paisagísticas. Faça pesqui-
sas complementares e as relacione a temas vinculados ao ensino de
Geografia. Você pode relacionar, por exemplo, fatos históricos que
tenham influenciado a cultura de uma dada região, como o cangaço
na literatura de cordel no Nordeste, ou como se dão expressões cultu-
rais gauchescas e como elas são marcantes na região de fronteira com
o Uruguai e sua relação com a produção literária. Contextualize sua
proposta e a relacione com conteúdos para o Ensino Fundamental II.
O ideal é que você crie um plano de aula ou uma proposta dinâmica,
como um projeto interdisciplinar ou até mesmo a elaboração de um
documentário audiovisual pelos educandos.

2. Verifique a ausência de regiões literárias nas grandes regiões do Norte


e Centro-Oeste. Problematize a ausência de grandes produções lite-
rárias nessas regiões em contraposição à riqueza cultural ali presente.
Faça uma pesquisa sobre lendas, músicas, danças e outras expressões
culturais e proponha outros critérios de regionalização cultural. Por
exemplo: as áreas de concentração de uma dança típica, como frevo
ou carimbó.

3. Para Milton Santos, rugosidades são elementos da paisagem que re-


presentam momentos históricos passados e possuem uma reconfigu-
ração em sua representação e forma, e agregam uma nova valorização
social, econômica e/ou cultural. Esses elementos atribuem palimpses-
tos no processo de formação e estão intimamente relacionados com
o modo com que os grupos sociais se apropriaram e reconfiguraram
o espaço geográfico.

– 167 –
Geografia Regional do Brasil

4. Com enfoque no ensino de Geografia, elabore um esquema teórico,


mas que seja de simples consulta para utilização futura. A geografia
regional perpassa por vários anos da Educação Básica, na caracteriza-
ção regional brasileira, na compreensão de uma geopolítica regional
para a América Latina, no estudo de biomas ou mesmo nas repre-
sentações culturais, como vimos no capítulo. Procure relacionar esses
temas com possíveis práticas pedagógicas.

– 168 –
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Manoella de Souza Soares
A geografia regional – tema central desta obra – tem, historicamente, uma po- GEOGRAFIA REGIONAL
sição central na geografia. Há reflexões que consideram o conceito de região
DO BRASIL

GEOGRAFIA REGIONAL
DO BRASIL
o meio pelo qual a geografia percorreu para se consolidar como uma ciência
moderna. De produto-síntese do conhecimento geográfico a conceito curinga Manoella de Souza Soares
da geografia, a região, como ferramenta analítica, ultrapassa a noção de área e
representa de maneira mais ampla o espaço geográfico.
Aqui, buscamos aproximar você, leitor, desse tema que é ao mesmo tempo
teórico – devido a correntes de pensamento e visões de mundo – e prático, em
razão da concretude das regionalizações, dos planejamentos e ordenamentos
territoriais e representações cartográficas.

Educação

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6391-8

CAPA_Geografia regional do Brasil.indd 1 05/02/2018 09:44:01

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