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A regionalização do
território brasileiro
modelo europeu de ciência produzido nos séculos XIX e XX. Assim, nossas
primeiras teorias e métodos estavam relacionados a esse modelo, que tinha
uma abordagem humanística sob a ótica de um espaço vivido. Por isso, a geo-
grafia regional dá grande importância aos trabalhos de campo e à produção
de monografias regionais.
O método da escola francesa consistia na observação, descrição e identifi-
cação de especificidades que fossem capazes de dar uma identidade a um deter-
minado espaço e justificar a regionalização. Nesse sentido, regionalizar consis-
tia na busca por elementos que atribuíssem uma identidade àquela porção do
espaço. Para tal, eram realizados trabalhos descritivos, que podiam ser interpre-
tados como receitas de bolo. Era preciso a descrição exaustiva de aspectos físicos
como vegetação, solo, clima e recursos hídricos. Além disso, era importante
também a caracterização temporal da estrutura populacional. Número de habi-
tantes, origem, idade, sexo e nível de desenvolvimento econômico (relacionado
principalmente a índices de industrialização e urbanização) também eram fato-
res a serem considerados. Muitas vezes, o resultado era uma lista desconexa de
informações que comumente encontramos com a seguinte estrutura:
1. Caraterização da área
1.1. Aspectos físicos
1.1.1. Geologia
1.1.2. Clima
1.1.3. Solos
1.1.4. Vegetação
1.1.5. Hidrografia
1.2. Aspectos socioeconômicos
1.2.1. População
1.2.2. Economia
1.2.2.1. Indústrias
1.2.2.2. Agropecuária
1.2.2.3. Serviços
1.2.3. Cultura
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A regionalização do território brasileiro
Você pode se perguntar: será que ainda não fazemos isso em nossos
trabalhos? Sim, trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, rela-
tórios técnicos e principalmente materiais didáticos muitas vezes são orga-
nizados como antigas monografias regionais. Então o que mudou? Talvez
pouca coisa tenha mudado na prática, entretanto, é importante refletirmos
sobre a reprodução de conhecimento regional e o que faremos com os
dados coletados.
Como destaca Santos (1992a), fatos e dados isolados são apenas abs-
trações e valores que pouco nos ajudam a compreender a complexidade do
espaço geográfico. O que de fato lhes dá a concretude da realidade são as
relações estabelecidas nele. Isto é, quando analisamos os elementos forma-
dores do espaço assim como nas monografias regionais – que descreviam a
natureza, a forma e os números –, não ultrapassamos essa dimensão. Para
produzirmos informações geográficas, é preciso compreender essas relações
para então conhecê-las e defini-las de maneira totalizante.
Figura 1 – Esquema introdutório da concepção de espaço geográfico e dos
componentes de uma pesquisa para sua análise e apreensão.
Escala
Espaço
Relações geográfico Objetos
Totalidade
Ações
Fonte: Photopips/iStockphoto.
A Figura 3 esquematiza de maneira didática a complexidade das relações
espaço-homem-sociedade, trabalhada principalmente na geografia humana.
1 Entendemos por relações sistêmicas aquelas que são pertencentes a um determinado sistema.
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Geografia Regional do Brasil
(P2) PAISAGENS
Representações
1 2 3
TERRITORIALIDADE
SUJEITO SOCIEDADE
(Consciência SI SI INDIVÍDUO PESSOA ATOR (Grupos, classes,
livre) castas)
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A regionalização do território brasileiro
2 O esquecimento coerente acontece aos realizarmos “recortes” no espaço geográfico por meio
de diferentes escalas. Quando isso ocorre, estamos cientes – ou deveríamos estar – que partes
da realidade serão negligenciadas na análise.
– 99 –
Geografia Regional do Brasil
Conclusão
Neste capítulo, pudemos compreender que a região é uma possibilidade
de análise multiescalar e um campo de pesquisa para as relações do sistema
capitalista na organização socioespacial e na interação local/global. Ela não
pode ser vista apenas como um produto-síntese, estável e finalizado, mas sim
como um meio para alcançar a análise da totalidade do espaço geográfico com
base em suas especificidades sem perder a conexão com o todo. Nos próximos
capítulos buscaremos produzir um cenário para as regionalizações do âmbito
geográfico e das grandes regiões do IBGE.
– 100 –
A regionalização do território brasileiro
[...]
Geralmente, a partir do trabalho de campo, procuramos pen-
sar a problemática tendo como ponto de partida a realidade
local, mas não pensamos nos desdobramentos que os resulta-
dos podem implicar. Uma apropriação desses conhecimentos
pelo pesquisado, pode nos revelar muitos elementos não só
para elucidarmos, os desdobramentos do conhecimento, mas
para construirmos melhor, o nosso trabalho como pesquisa-
dor. As saídas para os problemas da comunidade estudada,
muitas vezes são construídas na e pela tomada de consciência
das potencialidades do lugar.
Portanto, devemos considerar nesta mesma noção de tomada de
consciência das potencialidades do lugar, que os fatores de ordem
moral e psicológica ocupam um lugar, pelo menos, tão importante
quanto os elementos materiais da vida dos pesquisados.
Para trabalharmos a complexidade das relações humanas,
nossos esforços podem ser ampliados, na perspectiva da cul-
tura. No sentido da cultura, valorizamos os modos de sentir,
pensar, agir e reagir das populações em relação ao lugar e as
relações que estabelecem fora do lugar.
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Geografia Regional do Brasil
Atividades
1. A geografia regional brasileira é fortemente influenciada pelo pensa-
mento de Milton Santos. Assim, é essencial compreendermos um de
seus principais conceitos, o espaço geográfico. Crie um quadro ou um
mapa mental que lhe sirva futuramente como fixação desse conceito.
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6
Divisão regional do Brasil
Norte
Legenda
Sul
Centro-oeste
Sudeste
Sul N
Nordeste
Sudeste
Nordeste
Centro-Oeste
Norte
0 415 830 1.660 Km
Região da Amazônia
Região Centro-Sul
Região Nordeste
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Divisão regional do Brasil
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Geografia Regional do Brasil
Centro-Sul
Nordeste
Amazônia
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Divisão regional do Brasil
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Geografia Regional do Brasil
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Divisão regional do Brasil
Fluidez Viscosidade
Circulação Fluidez seletiva
Espaços luminosos
Espaços opacos
(atraem atividades com maior capital)
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Geografia Regional do Brasil
Centro-Oeste
Nordeste
Norte
Concentrada
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Divisão regional do Brasil
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Geografia Regional do Brasil
territorial das unidades federativas e, pela primeira vez, não são necessaria-
mente contínuas (em alguns momentos as regiões se sobrepõem).
Mapa 5 – Regionalização proposta por Ruy Moreira.
Complexo agroindustrial
Polígono industrial
Fronteira biotecnológica
Difusão da agroindústria e
indústria de não duráveis
3 De maneira geral, bens de consumo são aqueles utilizados por nós. Eles podem ser divididos
em bens duráveis, semiduráveis e não duráveis. Os bens não duráveis são aqueles em que o
consumo é praticamente imediato, como alimentos. Já os bens semiduráveis são aqueles que
permitem sua utilização diversas vezes, porém desgastam-se ao longo do tempo, como calçados
e roupas. Por fim, os bens duráveis podem ser utilizados por longos períodos, como é o caso de
automóveis e eletrodomésticos, televisores e lavadoras.
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Divisão regional do Brasil
Conclusão
Verificamos neste capítulo que, embora as regionalizações sejam visual-
mente muito similares, cada uma pode representar aspectos da totalidade,
isto é, mostrar diferentes abordagens da realidade. Além disso, pudemos com-
parar diferentes formas de regionalização mesmo pertencentes a linhas gerais
similares, como as versões de regionalização de Santos e Moreira. Embora
vinculados à geografia crítica, ambos utilizaram distintos aspectos regionali-
zantes em suas análises.
– 117 –
Geografia Regional do Brasil
[...]
Nesse período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo
tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema
intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles
já surgem como informação; e, na verdade, a energia princi-
pal de seu funcionamento é também a informação. Já hoje,
quando nos referimos às manifestações geográficas decorren-
tes dos novos progressos, não é mais de meio técnico que
se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que
estamos chamando de meio técnico-científico-informacional.
[...]
Podemos então falar de uma cientificização e de uma tecnici-
zação da paisagem. Por outro lado, a informação não apenas
está presente nas coisas, nos objetos técnicos, que formam o
espaço, como ela é necessária à ação realizada sobre essas
coisas. A informação é o vetor fundamental do processo
social e os territórios são, desse modo, equipados para facilitar
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Divisão regional do Brasil
Atividades
1. Compare as principais propostas de regionalização aqui apresentadas,
ressalte seus critérios de regionalização e teorias.
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7
As regiões brasileiras:
caracterização e reflexões
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Densidade Rendimento
Área População
demográfica mensal per IDH 2010
Estado territorial censo 2010
2010 capita 2016
km² hab. hab./km² Em R$ Valor
Norte 3.853.840,88 15.864.454 4,12 845,86 0,684
Centro-Oeste 1.606.234,47 14.058.094 8,75 1478,25 0,753
Nordeste 1.554.291,11 53.081.950 34,15 774,11 0,660
Sudeste 924.608,85 80.364.410 86,92 1369,25 0,754
Sul 576.783,78 27.386.891 47,48 1470,00 0,756
Uma região com uma biodiversidade tão rica como o bioma amazônico
precisaria ser ocupada pelo modo de produção do espaço urbano utilizado em
outras regiões? Essa baixa densidade reflete a realidade de toda a região? Nós
veremos que não. A região metropolitana de Belém (Pará), por exemplo, apre-
senta uma das maiores populações, com mais de 2 milhões de habitantes. Já a
cidade Altamira, também no Pará, possui uma das menores densidades demo-
gráficas do país, com apenas 0,62 habitantes por quilômetro quadrado (IBGE,
2017a). Agora, analisaremos cada região e contextualizaremos seus dados.
O Nordeste brasileiro – primeira região a ser povoada pelos imigrantes
europeus a partir do ano de 1500 – sempre esteve no ponto focal das políticas de
desenvolvimento, planejamento regional e levantamento de dados geográficos.
Descrita em grandes obras literárias, como Os sertões, de Euclides da
Cunha (1866-1909), a região foi marcada historicamente pela ocupação de
portugueses, franceses e holandeses e a resistência da população diante das
adversidades do clima semiárido e das políticas de coronelismo. O bioma da
caatinga – também conhecido como polígono da seca – marca a região. Com
baixos índices pluviométricos, plantas xerófitas1 e solos salinos, sua base natural
sempre foi considerada a causa do baixo desenvolvimento econômico da região.
Figura 1 – Região da caatinga brasileira, caracterizada pelo clima semiárido
e plantas xerófitas.
Fonte: Heckepics/iStockphoto
1 Plantas xerófitas são aquelas adaptadas a viverem em climas semiáridos e desérticos (por
exemplo, cactos).
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As regiões brasileiras: caracterização e reflexões
Fonte: Filipefrazao/iStockphoto.
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As regiões brasileiras: caracterização e reflexões
Fonte: VelhoJunior/iStockphoto.
O agronegócio é a marca econômica da Região Centro-Oeste, que é a
maior produtora de soja do país e impulsionadora da frente agrícola sob o
bioma amazônico. Brasília, além de ser ponto focal para o desenvolvimento
regional, é um outlier, ou seja, um ponto fora da curva.
Sua pequena área territorial, sua grande população – concentrada nas cha-
madas cidades-satélites – e a concentração dos mais importantes cargos públicos
brasileiros aparecem nas estatísticas com pesos que distorcem a realidade regio-
nal. O rendimento per capita é o maior do país, com um valor de 2. 351 reais
(Tabela 5) e 36% maior que o segundo colocado (São Paulo). Esses dados repre-
sentam um dos maiores abismos sociais brasileiros, com a ocupação do plano-
-piloto2 por populações de alto poder aquisitivo e grandes bolsões de pobreza
nas áreas periféricas. Na análise de dados estatísticos da região Centro-Oeste,
devemos sempre ponderar a presença do Distrito Federal e suas especificidades.
2 Projeto urbanístico elaborado por Lucio Costa (1902-1998) para a nova capital do Brasil.
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As regiões brasileiras: caracterização e reflexões
Sudeste
Sul
Fonte: ValterCunha/iStockphoto.
A Região Sudeste ainda comporta os maiores índices econômicos
no país. Ela foi a primeira a estabelecer alto desenvolvimento industrial e
apresentar os maiores rendimentos médios per capita no país. Os estados
de São Paulo e Rio de Janeiro têm as maiores metrópoles nacionais, com
a maior população e alta densidade demográfica – e, consequentemente,
grandes problemas de desigualdade social e econômica. Novamente, os
altos índices econômicos devem ser interpretados por aspecto, como classe
social, gênero e etnia.
Tabela 6 – Dados das unidades federativas das regiões Sul e Sudeste.
Densidade Rendimento
População
Área territorial demográfica mensal per IDH 2010
censo 2010
Estado 2010 capita 2016
No No hab./ No Em No No
km² hab. Valor
país país km² país R$ país país
Espírito Santo 46.086,91 23º 3.514.952 14º 76,25 7º 1.157 9º 0,74 7º
Minas Gerais 586.520,73 4º 19.597.330 2º 33,41 14º 1.168 8º 0,731 9º
Rio de Janeiro 43.781,59 24º 15.989.929 3º 365,23 2º 1.429 5º 0,761 4º
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Geografia Regional do Brasil
Densidade Rendimento
População
Área territorial demográfica mensal per IDH 2010
censo 2010
Estado 2010 capita 2016
No No hab./ No Em No No
km² hab. Valor
país país km² país R$ país país
São Paulo 248.219,63 12º 41.262.199 1º 166,23 3º 1.723 2º 0,783 2º
Paraná 199.307,94 15º 10.444.526 6º 52,4 12º 1.398 6º 0,749 5º
Rio Grande
281.737,89 9º 10.693.929 5º 37,96 13º 1.554 3º 0,746 6º
do Sul
Santa Catarina 95.737,95 20º 6.248.436 11º 65,27 9º 1.458 4º 0,774 3º
Fonte: Elaborada pela autora com base em IBGE, 2017a.
Já a Região Sul teve sua industrialização impulsionada pela migração de
europeus. Com indústrias voltadas à agroindústria, metalmecânica e tecela-
gem, conta com três importantes portos marítimos: Rio Grande (Rio Grande
do Sul), Itajaí (Santa Catarina) e Paranaguá (Paraná). Muitas localidades
ainda estão vinculadas à cultura europeia. Assim, são comuns festas com
comidas e danças típicas dos países de origem. A Região Sul tem o melhor
IDH do país (Tabela 6).
Assim, entre os aspectos que a fazem uma das regiões com os maiores
índices de qualidade de vida está a expectativa de vida, com uma idade média
de 77,10 anos. Esse é um número alto comparado ao Nordeste, por exemplo,
que possui uma expectativa de 73,05 anos (IBGE, 2017a). Além disso, o Sul
tem uma das mais baixas taxas de analfabetismo em relação ao restante do país.
Figura 5 – Taxa de analfabetismo no Brasil. A Região Sul apresenta um dos
menores índices.
25 Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade
20
15
10
5
0
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
100
80
60
40
100
80
60
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As regiões brasileiras: caracterização e reflexões
Conclusão
A produção de dados regionais – mesmo que ainda na forma estanque
de monografias regionais – é uma importante etapa do desenvolvimento
de estudos regionais, e não de seu produto final. Compreender a realidade
se faz necessário e, para tal, a coleta de dados, a estatística, o mapeamento
temático, os trabalhos de campo e a apropriação do espaço pelo geógrafo
são essenciais. É nesse ponto que a geografia regional passa de uma ciência
descritiva (ou teórica) para uma prática efetiva, de reflexão e potencial para
a modificação da realidade.
Isso pode ocorrer por meio do planejamento regional e do ordenamento
territorial, (como vimos no Capítulo 2) pela conscientização da população
para as disparidades espaciais/sociais/econômicas e também por meio da
verificação das consequências da construção do espaço geográfico para o
ambiente e para a sociedade.
[...]
No que diz respeito às limitações relacionadas com análises
temporais, o ideal seria trabalhar com unidades de dissemina-
ção que não se alterassem ao longo do tempo, e para isso elas
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Geografia Regional do Brasil
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As regiões brasileiras: caracterização e reflexões
Atividades
1. A migração da população nordestina para a Região Sudeste é alvo da
produção científica e da mídia. Mas, atualmente, percebemos que
essa região já não é o principal destino para migração, ela foi substi-
tuída pela Região Centro-Oeste. Nesse sentido, discorra acerca dos
aspectos demográficos dessa região.
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8
A questão regional para
além da regionalização
2 Criada por Tuan (1980), essa concepção busca compreender, por meio da geografia cultural,
o sentimento de pertencimento do indivíduo pelo espaço. Depois, o autor trabalha o conceito
oposto, chamado de topofobia, que é a aversão por determinados espaços.
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A questão regional para além da regionalização
Para Claval (1999, p. 50), “o espaço surge como uma dimensão sub-
jetiva, como uma dobra do sujeito, como produto da subjetivação de sen-
sações, de imagens e de textos por inúmeros sujeitos dispersos no social”.
Desse modo, entendemos que não cabe ao discurso regional se sobrepor às
individualidades, mas sim integrar essa individualidade para formar a região.
Campanha Central
Campanha
Meridional
URUGUAI
ESCALA
0 90 180 km
Fonte: SandroSalomon/iStockphoto.
Outra região fortemente influenciada pela migração europeia – princi-
palmente alemã, mas também italiana e eslava – é o Vale do Itajaí, em Santa
Catarina. O relevo de vales encaixados moldou a forma de assentamento dos
imigrantes e formou povoamentos relativamente independentes. A presença de
artesãos e pequenos industriais imigrantes, bem como o isolamento econômico,
propiciou o desenvolvimento industrial da região. Entre as obras literárias, des-
taca-se No tempo das tangerinas, da escritora Urda Alice Klueger (1952-).
Por fim, a obra Terra vermelha, de Domingos Pellegrini (1949-), foi um
marco ao retratar o norte do Paraná. Como o nome da obra traduz, essa região
é marcada pela presença da chamada terra roxa, solo extremamente fértil que
impulsionou a agricultura em uma região de ocupação recente e de pluralidade
étnica, formada especialmente por migrantes do estado de São Paulo e por
imigrantes orientais.
Os Sertões do Leste são subdivididos em regiões do Vale do Paraíba (São
Paulo e Rio de Janeiro), Zona da Mata Mineira, Vale do Rio Doce (ambos
em Minas Gerais), Sertões do Ouro e Sertões dos Currais. O termo sertões
destoa da tradicional utilização para áreas interioranas, longes do litoral e
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Geografia Regional do Brasil
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A questão regional para além da regionalização
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Geografia Regional do Brasil
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A questão regional para além da regionalização
Geografia
física
Geografia
cultural
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Geografia Regional do Brasil
Conclusão
Mais do que concluir, objetivamos aqui iniciar uma discussão reflexiva
sobre a geografia regional no Brasil e sobre o conceito de região na geografia.
Das mudanças epistemológicas às apropriações conceituais e experimentais
pela ciência e pela sociedade, cabe ao geógrafo intermediar os processos de
interpretação e reflexão, seja na docência ou na elaboração de materiais didá-
ticos e científicos. Compreender que as configurações e as reconfigurações
espaciais e sociais são inerentes à questão regional facilitará o entendimento
das temáticas regionais e permitirá uma maior aproximação da totalidade do
espaço geográfico.
– 152 –
A questão regional para além da regionalização
[...]
Não é pelo fato de não termos uma forte consciência ou iden-
tidade regional que a região, obrigatoriamente, deixará de exis-
tir, pois ela pode estar sustentada pelos laços funcionais de
um arranjo socioeconômico que lhe dota de especificidade
dentro das dinâmicas de diferenciação geográfica em sentido
mais amplo. A especificidade dessa articulação (ou “combi-
nação”) de elementos pode ou não articular-se a uma coesão
também ao nível simbólico-cultural, identitário.
Propomos manter o termo região, em sentido mais estrito, para
esses espaços momento que resultam efetivamente em uma arti-
culação espacial consistente (ainda que mutável e “porosa”),
complexa, seja por coesões de dominância socioeconômica,
política e/ou simbólico-cultural. Nesse caso cabe sempre dis-
cutir a força espacial/regional, ao mesmo tempo articuladora
e desarticuladora, a partir dos sujeitos (socioeconômicos e/
ou culturais) e interesses políticos envolvidos. Muitas vezes é
para ou em relação a apenas algum(ns) grupo(s) que a região
efetivamente se constitui – e, nesse sentido, sem dúvida, o
que representa articulação para uns pode representar desarti-
culação para outros.
– 153 –
Geografia Regional do Brasil
Atividades
1. Acesse o Atlas de representações literárias3 do IBGE e faça um texto
crítico e descritivo sobre uma das regiões apresentadas. Além disso,
proponha de maneira didática a utilização desse conhecimento para o
Ensino Fundamental II.
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A questão regional para além da regionalização
– 155 –
Geografia Regional do Brasil
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Gabarito
Geografia Regional do Brasil
1. O conceito de região
1. É interessante ter claro os aspectos a seguir quando ler ou ouvir so-
bre os autores aqui elencados. Sintetizamos as principais ideias desses
autores de maneira esquematizada, no entanto, é importante escrever
um texto-síntese com suas palavras.
2. Planejamento regional
1. Com o estereótipo de “região-problema”, a região Nordeste apresen-
ta especificidades relacionadas ao seu clima semiárido, caracterizado
– 159 –
Geografia Regional do Brasil
4. Essa é a questão central dessa obra e sintetiza grande parte das discus-
sões. Você deve ser capaz de formular uma resposta que identifique
as mudanças teórico-metodológicas. A visão territorial da região, as
relações com a organização socioespacial pelo sistema capitalista e a
mudança de enfoque (de produto final para um meio metodológico)
devem ser levadas em conta. É importante lembrar que, mesmo que
se busque quebrar dicotomias constantemente, ainda existe a produ-
ção de conhecimento dicotômico na geografia brasileira.
– 164 –
Gabarito
– 165 –
Geografia Regional do Brasil
7. As regiões brasileiras:
caracterização e reflexões
1. Para responder essa questão, você deve elaborar um texto crítico que
relacione a criação de Brasília, o agronegócio, a fronteira agrícola,
a crise econômica e a saturação demográfica da região Sudeste, que
apresenta alta densidade demográfica e grandes concentrações de
pobreza e marginalização da população. Utilize os dados apresenta-
dos na primeira parte do texto.
– 166 –
Gabarito
– 167 –
Geografia Regional do Brasil
– 168 –
Referências
Referências
– 169 –
Geografia Regional do Brasil
– 170 –
Referências
– 171 –
Geografia Regional do Brasil
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______. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico
informacional. São Paulo: Hucitec, 1992b.
______. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico
informacional. São Paulo: Hucitec, 1994.
______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:
Hucitec, 1996.
______. ______. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1997.
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______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São
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SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil no início do século XXI. Rio de
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11, n. 21/22, p. 111-125. jan./dez. 1999. Disponível em: <http://www.seer.
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– 180 –
Referências
GEOGRAFIA REGIONAL
DO BRASIL
o meio pelo qual a geografia percorreu para se consolidar como uma ciência
moderna. De produto-síntese do conhecimento geográfico a conceito curinga Manoella de Souza Soares
da geografia, a região, como ferramenta analítica, ultrapassa a noção de área e
representa de maneira mais ampla o espaço geográfico.
Aqui, buscamos aproximar você, leitor, desse tema que é ao mesmo tempo
teórico – devido a correntes de pensamento e visões de mundo – e prático, em
razão da concretude das regionalizações, dos planejamentos e ordenamentos
territoriais e representações cartográficas.
Educação