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HOBBE

S
∙ Estado de Natureza de Hobbes
Se observarmos os homens nesse Estado veremos que eles são absolutamente livres.

LIBERDADE É A PRIMEIRA CARACTERÍSTICA

Eles são livres porque estão isentos de determinação em função da ausência de


determinação à sua vontade. Não há uma Lei da Natureza ou Lei de Deus determinando sua
vontade, afinal, as leis que afetam nosso corpo físico não interferem no nosso agir. Não há
determinação ao agir humano, por isso os homens são livres.

Somos seres ferozes por sabermos exatamente como matar e somos livres pra isso.

RACIONALIDADE É A SEGUNDA CARACTERÍSTICA DO SER HUMANO

Hobbes entende razão como razão-calculadora. Razão é a possibilidade de escolha de meios


livres. Nós podemos fazer o que bem entendemos na nossa liberdade através do aparato razão.

Liberdade de escolha e razão que auxilia na obtenção de meios e fins para realizar a
igualdade.

IGUALDADE É A TERCEIRA CARACTERÍSTICA.

“Nada é mais igual que o ser humano, apesar das vísiveis diferenças físicas, econômicas, de
poder. Contudo, ela se manifesta onde o mais débil é capaz de matar o mais poderoso rei.
Somos igualmente livres e racionais.

A forma contemporânea de satisfazer o desejo é o consumo. Contudo, todos os desejos


não podem ser saciados num Shopping Center. Essa confusão faz com que países ricos
(Noruega, Suécia) tenham altos índices de depressão e suicídio. Aí entra também a sensação
de completude encontrada num amor correspondido, equivalente à do encontro com o objeto
satisfatório de desejo.
Aquele que consegue conservar consigo o objeto satisfatório de desejo torna-se feliz e
poderoso. [Compreensão totalmente diferente do mundo da descartabilidade que vivemos]. Os
homens no Estado de Natureza estão à procura de seu objeto satisfatório do desejo, o qual é
diferente de necessidade. Não conseguimos definir o objeto que trará felicidade definitiva, daí
continuamos procurando, e por isso permanecemos amando, produzindo... Quando
encontramos esse objeto, nos sentimos felizes. Quando os preservamos, nos tornamos
poderosos.

PORÉM, diz Hobbes, isso é um fator de confusão entre os homens, já que a natureza não
determina o que pode ou não ser feito para obtenção dos objetos, logo, os desejos entram em
conflito. Posso disputar com o outro meu objeto, enfim, isso leva a uma guerra de todos contra
todos, já que não há um limite para essa busca. Nos fragilizamos de nossa liberdade ao
precisarmos nos defender 24h por dia. Essa insegurança é a pior sensação e deve ser superada.

Marjorie Carvalho de Souza


∙ Formação do Estado
Quando a Guerra se estabelece, as paixões se sobrepõem à razão. Contudo, nós podemos
conceber a paz, já que a guerra não é uma condição natural do ser humano. Aí surge então a
ideia do contrato, o qual é precedido por um pacto de não-agressão. Uns depõem as armas na
reciprocidade de que os outros também o façam. Já que a ausência de lei é nociva, delega-se o
poder a uma pessoa fictícia, um sobreano que represente o Estado e surja com o monopólio da
lei e da força. Sua vontade é a lei de todos. As obrigações dos súditos são o não-uso da força e
obediência ao soberano. Essa escolha voluntária subserviente soa irracional ao primeiro
momento. Assim surge a contrapartida do soberano: seus deveres. Ele tem o dever de manter a
sociedade segura, provendo-lhe uma vida boa. Aí reisde a justificativa da obediência:
queremos nos preservar de uma vida ruim, de uma morte violenta. Assim surge o Estado.

Hobbes então estabelece três paixões que levam o homem à guerra:

a) Competição: Leva os homens a atacarem-se para lograrem um benefício; a partir dela


não se vê o outro como parceirom, mas como adversário. A competição leva à Guerra. Por
ela, o homem usa a violência para obter seus objetos.
b) Desconfiança: Paixão que garante a própria segurança. Contudo, um mundo de
competição é necessariamente um mundo de desconfiança. Por ela, os homens usam a
violência para garantir o objeto.
c) Glória: Busca incessante pelo reconhecimento do outro, como superior, temor de uma
morte violenta; sua vida se torna solitária, pobre, entristecida e curta. Ex: queremos que o
mundo nos reconheça, queremos dividir nossa felicidade com o outro... Por ela, os homens
garantem a reputação.

Estamos capturados nessas teias. Somos capazes de fazer qualquer coisa por isso e esse
qualquer coisa é a Guerra. Isso tudo, diz Hobbes, quando não existe Lei ou Poder Comum,
conduz realmente à Guerra. Contudo, da mesma forma que três paixões levam o homem à
guerra, três conduzem-no à paz:

a) Medo de uma morte violenta;


b) O gosto pelas coisas boas da vida
c) A Esperança de obter essas coisas boas da vida através do trabalho.

Isso faz com que prefiramos a paz à guerra. Ele diz ser interessante pensar isso, pois
quando os homens estão em guerra não há espaço de incentivo, para a criação. Não podemos
desenvolver as artes, a sociedade.

Além dessas paixões, o homem é inspirado pela razão, a qual sugere adequadas regras da paz,
que podem ser alcançadas por comum-acordo (contrato). Essas normas da razão, normas da
paz sugeridas pela razão, são chamadas de leis da natureza por Hobbes. Aí reside a
distinção entre Direito Natural e Direito Positivo.

Marjorie Carvalho de Souza


Hobbes não diz que o homem é mau por natureza. Quando ele diz que o homem é o lobo do
próprio homem, ele quer dizer que o homem por natureza é indeterminado, é livre, pode ser
bom e/ou mau. Não há uma determinação para a bondade e maldade humana. Se houvesse
uma determinação para bondade/ maldade, nada poderia nos tirar da guerra/ paz. O homem
pode tanto fazer a paz quanto fazer a guerra. O homem se mostra o lobo do homem quando
entra na Guerra de todos contra todos. A natureza humana é não ter natureza alguma. Há
plena liberdade. Aquilo que faz suplência à nossa desnatureza é a cultura. O que civiliza o
homem é a lei (sendo ela mesma expressão de uma violência). Tem-se assim uma
indeterminação do ser humano.

∙ Dualismo doutrinário
- Direito Positivo: conjunto de normas posto por autoridades competentes no âmbito da
natureza.
- Direito Natural - Leis da Natureza do mundo Ético, não do mundo Físico. Na
modernidade, a natureza ganhou outro nome: Ordem da Racionalidade. As leis da Natureza
correspondem às leis da razão. A razão dá a todos os seres racionais leis anteriores ao Direito
Positivo, e que duraria mesmo com sua extinção e deveria estar expressa nele. A própria razão
dá leis ao homem. Quando refletimos, pensamos, nos reconhecemos como seus autores.
Positivados, representam os Direitos e Deveres Fundamentais. Essa legalidade inspira o
contrato. O Direito Natural (racionalismo moderno) é sempre considerado universal, imutável
e qualificador da conduta humana. Não é mera forma como o Direito Positivo, é conteúdo.
Respeito à vida, liberdade, igualdade. Elas não determinam o corpotamento, já que se o
fizesse, não começariamos guerra, atentaríamos contra nós mesmos ou contra os outros.

Esse Direito é Erga omnes – Para todos. Acima do Direito Positivo com que trabalhamos. É
a lei que esclarece, e aí entramos no período do Iluminismo. Sem o respeito a esse Direito, não
há como ter uma vida boa, uma sociabilidade segura. Nós devemos defender esses direitos
como defendemos o nosso ambiente, porque uma vez degradados esses direitos, degrada-se
nossa condição e qualidade de vida. Esses direitos estabelecem o Sistema Axiológico de
Referência que inspirará o Direito a ser positivado. Equivale a um conjunto de princípios
éticos universal, mas que NÃO DETERMINA NOSSO COMPORTAMENTO. Hobbes diz
então que podemos saír do Estado de Guerra através daquelas três paixões. Saímos da Guerra
então esclarecidos pela Lei de Natureza.

No Estado Moderno e Laico, preconiza-se a liberdade de religião a seus cidadãos sem que ele
próprio assuma alguma, para que todas sejam igualmente respeitadas. Nenhuma de suas leis pode se
sobrepor às igrejas. A liberdade religiosa deve comprometer, inclusive, os que não têm religião. Sob
esses princípios da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, baseia-se o estado, mas
com a proibição do uso de burca pelas mulheres muçulmanas na França, desiguala-se as mulheres.
Isso na verdade é uma questão xenófoba. O Estado de Origem representa a casa do cidadão. Dentro
dela, pode-se transitar por todos os cômodos. Em um país exterior, deve-se oferecer sua sociabilidade
e disposição a seguir as regras deles, tendo em contrapartida o oferecimento da sociabilidade deles
também.

∙ Ética x Moral:

Marjorie Carvalho de Souza


Didaticamente, divide-se moral (Do latim: relativo aos costumes) e ética (Do grego: hábito). O
homem não é só comportamento, normas de uma sociedade (moral), ele tem a capacidade de
refletir sobre ele e sua ação. A reflexão sobre o comportamento constitui a ética. É adequado
ser racista? É adequado ser sexista? Ter preconceito etário? Nem tudo que é moral é bom. A
ética seria uma reflexão da moral.

Entretanto, inclusive no respeito às diferenças, há um limite. Uma posição absolutamente


relativista conduz-nos a uma aceitação acrítica até mesmo de posições que violem os Direitos
Humanos.

∙ Direito da Natureza x Lei da Natureza


Hobbes diferencia Direito da Natureza e Lei da Natureza. Direito natural é a liberdade
irrestrita que nós usufruímos no Estado de Natureza. Direito Natural é liberdade total de agir
ou omitir. Este se contrapõe à Lei da Natureza. Se o Direito natural é a liberdade de agir ou
omitir, a Lei da Natureza é a obrigação de agir ou omitir. Agir (preservar a vida) e omitir
(daquilo que pode atentar contra ela)

Paixões: caprichos, leis que cada um dá a si mesmo.

Jus – Dirieto, Liberdade LEX – Lei, obrigação.

Ao fazer essa distinção, ele elenca as leis da Natureza:


1ª LEI: A que manda procurar a paz e segui-la. É fundamental porque para Hobbes a pior
condição de vida para o ser humano é aquela condição de Guerra. Por isso se quisermos
perdurar, devemos pensar na paz. Fazemos isso através da segunda lei.
2ª LEI: Devemos renunciar ao nosso Direito sobre todas as coisas. Tal renúncia deve ser
recíproca, e só com ela posso ter o meu direito às minhas coisas e reconhecer o direito do
outro sobre as deles. Isso se dá através de um contrato. Por isso devemos respeitar os
contratos, constintuindo a TERCEIRA LEI.
3ª LEI: Da obrigação do respeito aos contratos.

No entanto, temos direitos irrenunciáveis e instransferíveis:


- Direito à vida, bem como o direito de revidar aquele que atenta contra a minha vida
(Legítima defesa). Portanto, temos direito de tirar nossa própria vida. Nesse caso, se
refletirmos sobre a Eutanásia autoproclamada, o Estado vai de encontro a essa lei ao proibi-la.
Entretanto, em alguns casos ela é praticada por familiares ou médicos apenas por interesse
econômico. É um caso delicado. Nosso direito é à vida, ela não vem ao nosso encontro. Sobre
a morte, que vem nos encontrar, não temos Direito.
- Não podemos aceitar que nos firam ou nos façam de escravos: direito à integridade física
- Direito à liberdade.

Quando contratamos (numa transfêrencia mútua de Direito), não podemos transferir o


direito à vida, à manutenção da integridade do corpo e o dirieto à liberdade.

Hobbes também diz que quem transfere o Direito também transfere os meios para que os
outros possam exercê-lo. Assim quando um homem concede a um homem o direito de
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governá-lo, transfere também os meios suficientes e necessários para o governo. Isso se dá
previamente ao contrato, através de um pacto (compromisso que eu tenho com a minha
palavra perante o outro. Ex: eu transfiro o meu direito com a garantia de que confiras o teu).
Nesse momento não há a espada, a coerção externa que faz valer o contrato. O que existe é a
palavra. Quando criticamos o contrato, criamos ruínas nele, e há muito tempo nossos pactos
estão quebrados. Esse pacto diz que nós vamos deixar de usar a força contra os outros, e essa
força é dada ao soberano. E nós que não temos lei comum, vamos nos submeter à lei do
soberano. Quem dá ao outro o direito de gover, dá ao outro os meios de governar. Poder
político do pacto, do qual decorre o contrato, é o monopólio da força mais o monopólio da
legislação. Soberano poderá fazer da sua vontade a lei de todos. E além de tudo deterá o
monopólio exclusivo da força para fazer valer sua lei, e aquela que transgedi-la sofrerá sanção.

Reiterando: Leis da Natureza não se confundem com o Direito natural, porque este último é
a faculdade de agir ou omitir, e a lei da natureza é a obrigação de agir ou omitir.

Hobbes diz portanto que no Estado de Natureza não há possibilidade de propriedade, pois tudo
é de todos, logo, não posso dizer o que é meu ou estabelecer o que é do outro. Só quando
renuncio ao meu direito de todas as coisas é que passo a exercer o meu direito sobre as minhas
coisas. Aí Hobbes diz que devemos trabalhar com a terceira lei da Natureza, a qual diz que é
obrigatório o pacto. É obrigatorio que os homens cumpram-no e celebrem-no, porque se os
homens não cumprissem seu pacto, voltariam a ser os donos de todas as coisas, e isso os
coloca em Guerra (a pior condição para o Ser humano). Assim, diz Hobbes, o cumprimento
dos pactos é sinônimo de justiça.

∙ Definição de Justiça para Hobbes:


É o cumprimento dos pactos. O Estado surge do contrato, para que tenhamos justiça, eles
precisam ser cumpridos. Uma vez que, quando não os cumprimos, voltamos a ter o direito de
todas as coisas, o que nos põe em Guerra. No entanto, a definição de justiça que nós
aprendemos na escola é dar a cada um o que é seu. Essa não é uma ideia recente, remonta à
Grécia Antiga, e ainda o utilizamos. Justiça, portanto, seria dar a cada um o que é seu. Mas,
diz Hobbes, como nós podemos dar a cada um o que é seu se nós não sabemos o que é o meu e
o que é o seu. Por isso, diz Hobbes, quando não existe o seu, enquanto não há propriedade,
não há injustiça. Onde não há Estado, não há propriedade e assim não há também Injustiça.
Explique. O Estado surge para defender e garantir a propriedade. Sem o Estado, não há
propriedade. Sem o Estado não posso garantir a cada um o que é seu. A propriedade só surge
com o Estado e o Estado surge para garantir a propriedade. E se Justiça é dar a cada um o que
é seu, isso só pode acontecer no Estado. Porque no Estado de Natureza, tudo é de todos. Dar a
cada um o que é seu, é isso, aqueles que não tem, não tem propriedade. Só é garantido o
direito da propriedade àqueles que tem alguma coisa. O Estado surge para a garantia da
propriedade. Esse é o pensamento liberal.

Injustiça para Hobbes é o não-cumprimento do pacto, a perda do direito de propriedade.

Acrescenta Hobbes: a natureza da justiça consiste no cumprimento dos pactos. A validade dos
pactos começa com o estabelecimento de um poder civil que obrigue os homens a cumprir o
pacto. Diante dessa instituiçao, tem início o Direito de Propriedade. (Essa propriedade é
necessariamente privada).
A justiça das ações, no entando, para Hobbes, é dividida em:
Marjorie Carvalho de Souza
a) Justiça comutativa (antecede o direito de Justiça distributiva, já que ela só distribui
mas não explica a origem da propriedade. Conditio sine qua non – Condição indispensável,
necessária para que haja distributiva). É a Justiça própria dos contratos, aquela que diz que
cada um deve renunciar o Direito sobre todas as coisas. A justiça comutativa, portanto, é a
Justiça que implica em igualdade na renúncia. Todos renunciam ao seu Direito sobre todas as
coisas. Ela está associada à reciprocidade, à justiça que prevê a renúnica reciproca ao direito
sobre todas as coisas. Ex: todos se submetem igualmente à lei.
b) Justiça distributiva
Aquela própria do Estado. É aquele que vai estabelecer o que é de cada um conforme os seus
méritos. Dá a cada um o que é seu. Dá a cada um o que lhe pertence. Ela distribui a
propriedade. . Ex: Estarmos cursando a faculdade de Direito de Santa Catarina. A distribuição
das vagas foi por mérito.

No estado de natureza nao haveria justiça nem injustiça. A justiça é uma convençao, uma
criação, nao é algo natural. A justiça, como o Direito, são criaçoes humanas, não revelações
divinas. O homem é que constrói isso.

Esses autores não estão preocuapdos com as formas de governo. O que eles dizem é
que sempre melhor o governo das leis do que o governo dos homens. Mas eles têm
posições, por exemplo, a preferência de Hobbes é uma monarquia absoluta. Mas o que
importa é o cumprimento dos pactos. Cumprir o pacto o compromisso do sujeito consigo
mesmo perante o outro. Portanto, se cumprir o pacto é respeitar a palavra individual, o
cumprimento do contrato é cumprir a lei (que é a palavra de todos). Se eu não cumpro os
pactos, eu não cumpro a lei. Se eu não respeito minha palavra, porque eu irei respeitar a
palavra de todos. É esse o problema do brasileiro, se não respeitamos a palavra para
obter vantagens específicas, de que adiantam as leis.

10 Leis da Natureza/Razão:
∙ Além das três leis fundamentais, Hobbes vai estabelecer mais sete. Para que ninguém possa
fazer aquilo que não deve, nós podemos sintetizar as dez leis da natureza na seguinte frase:
Faz aos outros aquilo que gostarias que te fizessem.
∙ Essas leis soam razoáveis até hoje, contudo, são precárias, uma vez que constantemente
fazemos com o outro aquilo que não gostaríamos que fizessem a nós mesmos e elas natureza
obrigam o homem apenas in foro interno. Apenas em consciência. Contudo, a tônica de nossa
cultura é fazer cada vez mais que nos desobriguemos em nossa consciência. E é da cultura que
surge a lei, e a sua internalização nos humaniza, pois nos faz reconhecer como humanos bem
como reconhecer ao outro. Essa obrigaçao interna é a obrigação própria do pacto. Somos
obrigados em consciência a respeitar nossa palavra. Nada nos obriga externamente. Essas leis
são leis da natureza, mas de uma natureza específica: passional. Em função de sua condição de
ser racional, os homens são capazes de conhecer essas leis e estudá-las.

MA
S
Muitos não as cumprem. Isso deixa os homens que obedecem numa situação de desvantagem.
Por isso nós chamados esses mandamentos morais de forma imprópria de leis. Não deveriam,
no sentido próprio, serem chamados de lei, porque a lei, própriamente dita (pg. 118) é a
palavra daquele que por direito tem poder de mando sobre os demais. Aquele que vai fazer
valer o contrato.

Marjorie Carvalho de Souza


PACTO → Nos obriga in foro interno. CONTRATO → Nos obriga in foro externo.

É a espada, a força, a coerção que faz com que cumpramos o contrato, e provém daquele que
por direito tem mando dos demais e pode lhes aplicar sanção.

∙ Quem, então, por direito tem o monopólio da Lei sobre os demais?


A pessoa é aquele ser cujas palavras e ações são consideradas como próprias (natural) ou
representam as palavras ou ações de outras pessoas (artificial).

a) Pessoal natural é aquela cujas palavras e ações são próprias. As pessoas naturais são
os autores. O autor age com autoridade e por autorizaçao. O pacto obriga apenas o autor
(porque o soberano ainda não existe. O pacto é anterior ao contrato). As coisas, as crianças, os
imbecis, os loucos, nao podem ser autores, mas todos os outros que estão no pleo exercício de
sua capacidade mental podem. Os autores somos nós = súditos. O soberano é o ator. Nós
agimos por autoridade, ele por representação, representando-nos. Por isso, quando uma
multidão se reúne numa única pessoa e passa a ser representada por uma pessoa ou uma
assembleia, isso se dá através de um pacto com o consentimento de cada um, assim surge o
Estado. E cada um dará a esse homem/homens, o seu consentimento e todo poder de
representação.

b) Pessoa artificial é aquela cujas palavras representam as palavras ou ações de outro. As


pessoas artificiais são os atores (persona ficta). O representante passa a ser dono das ações e
das palavras de todos e de cada um. Assim surge o Estado. O que nós concedemos a esse
soberano preliminarmente foi o monopólio da força e da razão. No pacto eu digo que não vou
mais agredir o outro com a condição de que ele não me agrida. Renuncio com essa condição.
Eu que vivia até então sem lei me submeto a uma lei de todos. Quem dará essa lei, que não
será mais a expressão de caprichos e paixões, será o soberano, que terá toda a força do seu
lado para fazer valer a lei, que não nos obrigará internamente e sim externamente. O ator surge
após o contrato, é o soberano, aquele que representará a vontade e a voz da maioria.

∙Da concessão de autoridade:


Todos os homens, diz Hobbes, dão ao seu representante comum a autorização de cada um e o
representante comum passa então a ser dono de todas as ações na medida em que essa
autorização é ilimitada. E esse representante será então o detentor da voz da maioria. Se cada
um deu a sua autorização, ele falará por todos. Por que os homens fazem isso? Criam esse
representante ao qual concedem o monopólio da força e da legislação porque o fim útil ou o
designo dos homens é a preservação e a sua própria conservação com a garantia de uma vida
feliz.

∙ Dos deveres dos súditos:


Eles devem dar uma autorização ao soberano e o poder para o soberano criar a lei e usar a
força em caso de transgressão dela. Se submetem a isso porque querem uma contrapartida, que
nada mais é que o conjunto de deveres do soberano, o qual deve a conservação da vida e a
preservação de uma morte violenta aos súditos, além de uma vida feliz.

∙ Da felicidade:

Marjorie Carvalho de Souza


Para Hobbes, significa obter e conservar seus objetos de desejo, sem que o outro esteja no
caminho o impedindo. Que eu possa fazer tranquilamente com o limite sendo o direito do
outro, e o limite do outro o meu direito. Só podemos fazer isso a partir da criação do Estado.

Para ter dimensao dessa morte civil: Os


Miseraveis.

∙ Dos Pactos e Contratos


Para Hobbes, há vontade de abandonar a mísera condição de guerra. E isso não é possível sem
a submissão a um poder que mantenha em respeito os homens por temor à punição. E só
assim, por temor à punição, os homens cumprem os contratos e respeitam as leis da Natureza.
Os pactos precisam da espada, sem ela, eles nao passam de palavras sem força que nao
oferecem a mínima segurança à ninguém. A lei pela lei não constrange o homem, o que o
constrange é a força, o medo da punição. Por isso os pactos são transformados em Contratos.
O que o obriga internamente, deve o obrigar externamente (força). O homem obedece por
medo da puniçao. É claro que não podemos concordar 100% com isso. Não obedecemos
apenas por medo da punição. Muitas vezes a punição é o empuxo à transgressão para
determinadas estruturas.

Pacto obriga in foro interno; Contrato in foro externo.

A punição tambem pode ser interna (quantas vezes o sujeito se pune? Até por coisas que ele
não fez!). Contudo, Hobbes diz que não só o medo leva o homem a buscar a paz e nao a guerra
(MEDO, GOSTO PELAS COISAS BOAS DA VIDA e ESPERANCA DE OBTE-LAS
ATRAVES DO TRABALHO).

∙ Dos deveres do soberano:


Nós nos submetemos ao pacto porque queremos nossa conservação e a garantia de uma
vida boa. E esses são os deveres do soberano. Queremos abandonar a mísera condição de
Guerra. E isso se dá através de um pacto (compromisso do sujeito com a sua própria palavra).
Mas Hobbes diz: nada mais fugaz que a palavra do homem, a qual se perde no vento. Se nós
não tivermos a garantia da força que obrigue o homem a obedecer a lei, não a cumprimos.
Nossa sociabilidade se dá dessa forma, artificialmente e garantida pela força.

∙ Por que a humanidade nao vive em harmonia social como fazem os outros animais?
Se nós pudessemos imaginar uma multidão de individuos que estivessem em acordo com
as ideias de justiça e demais manifestações da natureza sem que houvesse um mecanismo de
forca para coagi-los, então todo o gênero humano também estaria em harmonia, sem que
houvesse nenhum governo ou Estado, pois o homem viveria em paz. A humanidade contudo,
não se reune da mesma forma que as demais, que vivem socialmente de forma harmônica. A
humanidade não pode fazer isso, segundo Hobbes, por cinco motivos:

-Porque os homens se envolvem constantemente em competiçao pela honra e pela dignidade


(o que nao ocorre com os demais animais), disputa por glória.
- Porque entre as criaturas vivas e as demais espécies animais não há diferença entre o bem
comum e o bem individual, e a promoção do bem individual não é a promoção do bem comum
e vice-versa.

Marjorie Carvalho de Souza


- Porque essas criaturas nao fazem uso da razao, e assim nao percebem nenhum erro e nao
fazem nenhum juízo acerca da adm dos bens comuns. Os homens sempre se julgam uns mais
sábios que os outros, e mais capacitados, levando sempre à disputa pela honra.
- Embora essas criaturas poossam usar a voz para expressar sentimetnos e sensaçoes de dor e
de prazer, elas nao tem domínio da fala e da linguagem, através da qual estabelecemos juízo
sobre o bom, o mau, o justo, o injusto, o certo e o errado
- Ao contrário das demais criaturas saciadas e satisfeitas que nao se sentem ofendidas pelos
demais, os homens quanto mais saciados mais reivindicam glória e reconhecimento

∙ Da transgressão das normas:


Quando eu transgrido uma norma que deveria ser acatada como um todo, eu estou
atacando toda a sociedade como um todo, pois estou agindo sob minhas paixoes e não sob a
razão.

∙ Da convivência entre soberanos:


Hobbes nao acreditava em uma sociedade entre Estados. No plano
internacional, os países vivam no estado natural. Guerra de todos contra todos.

∙ Da paz e da Guerra:
A guerra nunca é um instrumento para a paz, a violência nunca é um antídoto à violencia.
A paz que nós devemos buscar é encontrada por outros meios que não a guerra. O ataque não
é defesa, é ataque. Por outro lado, a legítima defesa é um ato legítimo a medida que quando tu
atacas a vida de alguem, tu permites que a tua vida seja atacada por ela. O único caminho
possível para constituir um governo comum para construir um respeito mútuo é The contract.
Por isso devemos ceder nosso poder a um homem ou assembleia de homens que tenha o
condão de reduzir as diversas vontades em uma só. Esse, segundo Hobbes, é o único caminho
para que nós possamos ter paz e segurança suficientes.

→ Da concepção do Contrato:
PG 126: Cada homem diria a cada homem: autorizo e desisto do dieito de governar a mim
mesmo para cada homem ou assembleia de homens, ao mesmo tempo que tu autorizas e
desistes do teu direito. Assim, esses homens constituímos o maior poder sobre a Terra, o
grande Leviatã. O titular desse poder chama-se soberano. Portanto, possui poder soberano. E
Todos os demais passam a ser considerados súbitos. Como pode ser adquirido esse poder
soberano?
- Pela força natural através da transmissao de pai para filho
- Quando os homens concordam entre si a se submeterem voluntariamente a um
soberano/assembleia (MONARQUIA ABSOLUTISTA)

∙ Do absolutismo do poder monárquico:


O soberano não existe por uma criação divina, é um poder criado pelos autores, súditos.
Esses autores que criaram o soberano, podem destituí-lo? Não. A destituição do soberano
levaria ao rompimento do pacto, o que constitui injustiça. Como cada homem conferiu ao
soberano seu poder, tirar o poder dele é retirar o seu próprio poder. Os súditos podem
discordar ou rejeitar o soberano? Não. Porque devem aceitar esse soberano escolhido pelo
voto da maioria juntamente com a maioria. Destituir ou rejeitar o soberano seria rejeitar a sua
Marjorie Carvalho de Souza
própria vontade. Também não podemos punir o soberano. Sendo cada súdito autor dos atos do
soberano, cada um estaria ao punir o soberano, punindo a si mesmo. Contra o soberano que
tem toda força, não pode ser usada força alguma. Os súditos devem a ele obediencia
incondicional.
O soberano nasce do monopolio da forca. Sem o poder da espada, a lei nao passa de
palavra vazia que se perde no tempo. O soberano também tem o monopolio da lei e da
legislaçào. É ele que coloca a lei para todos e tem a força para fazer valer essa lei.
Características do poder político: monopólio da força e da legislaçao.
As regras do soberano são também regras da propriedade. As regras tal como, bem mal, o
legítimo e o ilegítimo nas ações dos homens constituem o poder civil que são chamadas por
Hobbes, também, de Leis Civis ou Leis de cada Estado.
Essa autoridade atribuída, essa soberania, é indivisível. Nós não podemos, no âmbito do
Estado, dividir o Estado, pois a competiçao por eles levaria imediatamente à Guerra. Esse
poder de todos juntos é o mesmo poder do soberano, pois todos juntos delegam o poder ao
soberano.

∙ Leviatã:
Ao compreendermos esse grande Leviatã ao qual na guerra devemos nossa paz, segurança
e obediência incondicional a sua vontade, não pode ser substituído ou rejeitado e seu poder
indivisível, nós podemos pensar que a condição dos súditos sob um poder como esse é
miserável, pois estaria sujeito aos caprichos de um poder tão ilimitado. Entretando, diz
Hobbes, o poder é igual sob todas as suas formas se essas forem suficientes para a proteção
dos súditos. E isto, sem considerar que as condições de vida do homem nunca podem deixar
de ter um outro incômodo, e que o maior incômodo é a ausência de poder que caracteriza a
inevitável Guerra.

∙ Das lentes morais e passionais


Além disso, todos os homens por natureza são dotados de grandes lentes de aumento: lentes
das paixões e do amor próprio, através das quais a mínima contribuição surgem como um
grande fardo. (Que horror, tenho que pagar impostos!).
Por outro lado, os homens na Natureza estao destituídos as lentes prospectivas, da moral,
politica, e que os impedem de ver as misérias que os ameaçam, as quais não podem ser
evitadas sem essas contribuições. É impossivel viver entre oturos sem aparar as arestas dos
nossos caprichos, apetites e paixões. Como fica entao a liberdade dos súditos sob um poder tao
forte e absoluto. No Estado, a liberdade dos súditos é fazer tudo aquilo que a lei determina.
Essa, portanto, é a relação das liberdades com as leis cíveis (Somos livres para fazer tudo que
a lei permite). O súdito não possui a liberdade de desobedecer, a não ser quando o soberano
determina ou impõe que ele deixe de se medicar, que ele atente contra sua própria vida, ou que
deixe de fazer algo que é indispensável à sua sobrevivencia.
No entanto, diz Hobbes, o soberano pode usar a sua força para fazer cumprir a sua
vontade. O soberano nao pode ser destituído, contudo, embora a soberania tenha nascido
imortal, a soberania está sujeita a uma morte violenta quando um estado ataca o outro ou
quando começa a surgir competicao interna. Ou quando o soberano, por acao ou omissao,
deixa de cumprir sua parte no contrato, fazendo com que os súditos tenham proteçao nao mais
sob sua espada e suas leis mas na sua própria espada ou na espada de outro, este soberano se
destitui e devemos pensar em outro contrato.

∙ Dos conceitos e possibilidades:


Marjorie Carvalho de Souza
∙ O titular da soberania pode ser um homem ou uma assembléia de homens, desde que não
haja concorrências e disputas pelo poder.
∙ Lei em sentido próprio é a palavra daquele que por direito tem podr de mando sobre os
demais, e precisa estar acompanhada da força da espada. Portanto, as “Leis da Natureza” são
mandamentos morais.

∙ O paraíso é uma dádiva de Deus e o contrato é uma responsabilidade dos homens. Os


homens não ganharam os direitos, mas adquiriram através dos méritos do contrato. Se eu não
me esforçar para manter meus méritos, não logro os benefícios do contrato. Ele não é dádiva,
doação, envolve compromissos.
∙ Salvo-conduto: permissão ou documento que autoriza o trânsito em determinado território
∙ Os contratos são obrigatórios, bem como a obediência aos contratos. A desobediência ao
pacto é injustiça.

Marjorie Carvalho de Souza

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