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REDES DE DISTRIBUIGAO DE AGUA 9.1, INTRODUCAO Rede de distribuigio de 4gua é a parte do sistema de abastecimento formada de tubulagSes e drgios acessérios, destinados a colocar égua potével A disposigao dos consumidores, de forma continua, em quantidade, qualidade, pressio adequadas. ‘A rede de distribuigdo é, em geral, o componente de maior custo do sistema de abastecimento de Agua, compreendendo, cerca de 50 a 75% do custo total de todas as obras do abastecimento. ‘Em um sistema piblico de abastecimento de agua, as redes de distribuicto e as ligagdes prediais so as partes que normalmente nao esto sob constante vigilancia. As obras de captago, adugdo, tratamento e reservagio, por encontrarem-se concentradas, e mesmo por seus portes, usualmente maiores, so contempladas pelas equipes de operagdo com uma atengdo ininterrupta, pois s4o obras visiveis e visitaveis permanentemente. O mesmo, entretanto, ‘no ocorre com relagaio as redes de distribuigdo. Estas sio obras enterradas, as quais se distribuem sob as vias pablicas, sendo 0 acesso as mesmas bem mais dificil, e as vezes, extremamente complexo. Isto ndo quer dizer que as redes ndio possam ser operadas. Muito pelo contririo, pelo fato de ser a parte do sistema de abastecimento que se encontra mais préxima do consumidor, deve merecer especial atengo, principalmente no que se refere & qualidade da égua ¢ perdas de agua. Esses dois aspectos devem ser uma preocupacao continua dos responsaveis pelo sistema de abastecimento de égua. 9.2, TIPOS DE REDE Uma rede de distribuigdo de Agua é normalmente constituida por dois tipos de canalizagdes: + Principal: também denominada de conduto tronco ou canalizagio mestra so tubulagdes de maior didmetro que tem por finalidade abastecer as canalizagdes secundarias; 390 _ABASTECIMENTO DE AGUA + Secundaria: so tubulagdes de menor didmetro ce tema fungo de abastecer diretamente os pontos de consumo do sistema de abastecimento de agua. De acordo com a disposigao das canalizagies principais eo sentido de escoamento nas tubulagdes secundérias, as redes sio classificadas em: * Ramificada; + Malhada; + Mista. 9.2.1, Rede ramificada ‘A rede & classificada como ramificada quan- do o abastecimento se faz a partir de uma tubula~ gio tronco, alimentada por um reservatorio ou atra~ ‘vés de uma estado elevatoria, ¢ a distribuigao da gua é feita diretamente para os condutos secun= darios, sendo conhecido o sentido da vazio em qualquer trecho. ‘Na rede ramificada (Figura 9.1), um acidente que interrompa o escoamento em uma tubulagio, faz comprometer todo o abastecimento nas tubula- Reservatorio Ponta seca Figura 9.2 - Rede ramificada com tragado em espinha de peixe. ges situadas a jusante da mesma, Portanto, aadogio de rede ramificada € recomendada somente em casos em que a topografia e os pontos a serem abastecidos no permitam o tragado como rede malhada. ‘Na concepsio apresentada na Figura 9.1, os pontos de derivagio de vazio e/ou mudaneas de diametro so chamados de nés eas tubulagdes entre doisnés so chamadas de trecho. O sentido de escoa- ‘mento nessa figura ¢ da tubulagdo principal para as tubulagdes secundarias, até as extremidades mortas ‘ou pontas secas. ‘Conforme a disposic&o das tubulagdes princi- pais os tragados das redes ramificadas podem ser clasificados em: + Redes em espinha de peixe: a partir de um conduto principal central, derivam-se em forma de ramificagées 0s outros condutos principals (Figura 9.2). E um tragado utilizado para 0 abas- tecimento de areas com desenvolvimento linear. + Redes em grelha: os condutos principais sio sensivelmente paralelos, ligam-se em uma extre~ midade a um outro conduto principal, que os alimenta (Figura 9.3). Rede principal {___— Figura 9.3 - Rede ramificada com tragado em grelha. 9.2.2. Rede malhada ‘As redes malhadas so constituidas por tubu- ages principais que formam antis ou blocos, de modo que, pode-se abastecer qualquer ponto do sistema por mais de um caminho, permitindo uma maior flexibilidade em satisfazer a demanda ¢ manutengio da rede, com o minimo de interrup- go no fornecimento de agua, A rede malhada pode ser na forma de anéis ou formando blocos. 9.2.2.1, Rede mathada em anéis £ 0 mais comum na maioria das cidades, apresenta um bom funcionamento desde que tenha sido criteriosamente dimensionada, através de uma andlise apropriada da circulagdo de agua (Figura 9.4). Em comparagao com a rede malhada em blocos, o niimero de registros a serem manobrados é sensivelmente maior, o que tomna bem mais traba- Ihosa a medigao das vazdes. 9.2.2.2. Rede malhada em blocos ‘Confere maior facilidade para implantagio de controle de perdas, pois as redes internas aos blocos sendo alimentadas apenas por dois pontos, favo- recem as medigdes de vazbes ¢ conseqtientemente melhoram 0 controle de perdas na rede. A Figura 9.5 apresenta o esquema de uma rede mathada em blocos, proposto por Yassuda e Borba Junior (1981) para ser utilizada na rede de distribuigdo de agua da Regio Metropolitana de Sao Paulo. 391 As principais vantagens do sistema de blocos REDES DE DISTRIBUIGAO DE AGUA so: + Controle mais preciso da presso e melhoria na qualidade da distribuigao; inimizago da area desabastecida, nos casos de acidentes ou de manutencao; + Melhoria da eficiéncia na manutengo da rede. Para o dimensionamento ¢ tragado das tubulagdes em redes malhadas em blocos reco menda-se: + LigagSes domiciliares: executadas unicamente nas redes secundirias; + Redes primérias: dimensionamento pelo critério ‘tradicional, sendo que a rede principal nio distribui ‘em marcha ¢ 0 espagamento maximo € definido em fungio da modulagio dos blocos de redes secundarias e de suas entradas; + Redes secundérias: so formadas por blocos de rede malhadas, com cerca de 3 a 5 km de extensio em cada bloco, interligada a rede principal. Redes em blocos - A experiéncia no Japiio Eng. Jost Ricardo Bueno Galvio* Para se exercer um controle mais rigoroso sobre as perdas ¢ qualidade de égua na rede de distribuigdo, alguns paises, principalmente o Japao, vém utilizando o sistema de blocos ha cerca de 40, anos. O esquema de uma rede em blocos utilizado no Japio é apresentado na Figura 9.6. a J = Anel | — Reservatorio / | S —> — = = => ‘Trecho —a i_@ 2 7 Ne a Figura 9.4 - Esquema de uma rede malhada com quatro anéis ou malhas. Fonte: Porto (1998). (@ Engenheiro da SABESP, atuando na area de contvole & Agéncia de Cooperacdo Intemacional do Japto (JICA) em i fe perdas em sistemas de abastecimento de agua © com curso na 2002. 392 __ABASTECIMENTO DE AGUA RESERVATORIO DE DISTRBUIGAD 8 8 8) | 8 1 ‘ | [4 : 2 ares 4 2 1 || 2 f _ 8 ] [= 3 3 ‘ \4 1 ‘| 1 2 5 3 | 3 5 1 3 i a aS < 3 8 3 8 ella 1 1 1 1 afi}a ft a 4 ? 5 site |i 1 a 1 tf le 2 fi} a il e | [es e | fe 1 H : : 1 a a ? ; ' 2 a 2 3 ' oho sa vwooswzermro “WP CANADE conTROLE DE STATO 3-EL eaKnoe contmoLe ve susostnTo | axcco 0 vALvULA BE FEoHAeNTO DO sveoITRTO 1 | NduERO 20 ose S~ VALvULADE FecHnENTO PARA MANOBRA 6 | women vo sueoissTo 53 | womeno 0 sxoco “© cawane conrmoLe De 81060 3 — ree PRIA — reve secinawn Figura 9.5 - Esquema de uma rede malhada em blocos. pate AFT em res a oe Ernaote ete seo Para a implantagao dos blocos, no Japio, a rede € dividida em blocos grandes, ou setores (termo utilizado no Brasil), levando-se em conta as vias principais, rios, vazio demandada, configuracao da rede existente, reservatorios ¢ estagies elevat6- ras. Feita essa divisfo, os blocos grandes (setores) sio subdivididos em blocos médios e pequenos. ‘igura 9.6 - Esquema de uma rede em blocos utilizada no Jopéo. Fonte: JWWA (1978). Essa subdivisdo leva em consideracao, além das conveniéncias para operacdo e manutengio, as condigées topogrificas ¢ as instalagdes do siste- ma de distribuigao. Para o controle de perdas, a medigi0 do volume de vazio na rede pode ser feita através de dois métodos: es ‘Método indireto Este método é conhecido no Brasil como medig&o da vazio minima noturna, que sera apresentado com detalhes no capitulo 10. Para a utilizagio deste método, no Japao, os blocos de controle possuem um comprimento de rede préximo a 2,5 km, o que representa de 400 ¢ 600 ligagdes prediais. Método direto Este método é bem mais preciso, trabalhoso e oneroso que o método indireto, sendo que, para este tipo de teste, os blocos devem ter dimensdes menores, com comprimento de rede variando entre 500 m e 1.000 m (podendo chegar a um maximo de 2.000 m) e mimero de ligagdes em tomno de 100. ‘Na entrada de cada bloco de controle existe uma caixa especial, onde sio instalados, de montante para jusante, um hidrante do tipo enterrado, uma valvula de controle e um outro hidrante do tipo enterrado. Tradicionalmente, a medigdo € feita da seguinte forma: + Fecham-se todas as valvulas de contomo da drea em estudo; + Fecham-se todas as ligagdes dos consumidores, dentro da rea em estudo; + Nos hidrantes, instalados na caixa de entrada, & instalado um “by-pass” a valvula de entrada do bloco, com um medidor eletromagnético de vaz0 acoplado; + Mede-se, entiio, a agua que entra na rea, bem como as presses em pontos adequados na rede; MEDIDOR DE VAZAO ELETROMAGNETICO 393 * Como 0 consumo deve ser “zero”, uma vez que todas as ligagdes dos consumidores esto fecha- das, a vazio registrada sera a vaziio dos vazamentos. REDES DE DISTRIBUIGAQ DE AGUA. Como as freas de abastecimento so muito grandes, impossibilitando o teste em toda a sua area, é feita uma amostragem de blocos, que representem de 3% a 5% do total de comprimento da rede de abastecimento da érea em estudo; a partir dos resultados dessas mediges, éfeita uma estima tiva do volume de vazamento, para a rea de abaste- cimento como um todo. ‘Uma variagdo desse método tradicional, ¢ 0 utilizado na cidade de Nagoya, cidade com menor indice de perdas por vazamento no Japio (em tormno de 4,5%, em 2001). Para acelerar 0 processo, 0 Nagoya City Waterworks and Sewerage Bureau dispe de um mini-caminhio-tanque, com capaci- dade para 1,800 litros e sistema de bombeamento, ¢ de uma Van, com um medidor eletromagnético de vazies, com sensibilidade para vazdes baixas, acoplado a um registrador grifico (Figura 9.7), ‘Apés 0 isolamento do bloco e o fechamento de todas as ligagdes prediais, purga-se a rede, para que todo o ar seja expulso. Fecha-se, entio, a vélvu- Jade entrada e conecta-se, por meio de mangueiras do tipo usado pelos bombeiros, a saida da bomba do caminhdo-tanque 4 entrada do medidor eletro- magnético e a saida do medidor a entrada do hidrante localizado no interior do bloco (a jusante da valvula de controle da entrada do bloco). Passa- se a bombear 4gua do caminhfio-tanque, até encher completamente a rede; eleva-se, entdo, a pressdo da agua injetada para uma faixa entre 0,1 MPa e 0,2 MPa. Se o registrador grifico, instalado no in- CCAMINHAO-TANQUE COM BOMBEAMENTO. Figura 9.7 - Esquema do sistema utilizado pelo Nagoya Waterworks and Sewarage Bureau, para medigGo direta de vazGo de vazamento. 394 ABASTECIMENTO DE AGUA terior da Van, permanece numa faixa proxima de “zero”, considera-se que nio ha vazamentos no bloco; se a vazio registrada for diferente de “zero”, é feita uma anilise dos dados registrados, sendo calculado o volume de vazamento (Fotos 9.1 a 9.4). 9.2.3. Rede mista Consiste na associagao de redes ramificadas com as redes mathadas (Figura 9.8), 9.2.4. Recomendacées para o tracade da rede Conforme ja visto anteriormente, uma rede & constituida por tubulagSes principais que tem a Foto 9.1 - Agua sendo bombeada do cami- nhéo-tanque para a rede, passando pelo medidor e entrando pelo hidrante. finalidade de abastecem as tubulagdes secundéti- as, que por sua vez abastecem os pontos de consu- mo. Algumas recomendacdes podem ser feitas no sentido de orientar o tracado das redes principais, pois somente essas sio passiveis de alternativas em termos de concepsio, uma vez que as redes secundérias devem cobrir todo o arruamento exis- tente na rea a ser beneficiada. As prineipais recomendagdes para tragado das redes principais séo apresentadas a seguir + As tubulagdes principais devem preferencial- mente formar circuitos fechados, sempre que 0 tragado urbanistico permita; + As tubulagdes principais devem ser direcionadas Foto 9.2 - Detalhe da Van, com medidores instalados. Foto 9.3 - Detalhe de caixa especial, posicio- nada na entrada dos blocos de controle, com “by-pass” instalado em dois hidrantes do tipo enterrado. Reservatorio a Rede malhada Rede ramificada Figura 9.8 - Esquema de uma rede mista aszonas de maior demanda, proximas onde se loca- lizam as vazdes concentradas, as vaz6es singula- res de consumidores especiais e onde esta previsto © abastecimento de égua para combate a incéndio; + As tubulagdes devem ser localizadas em vias ou reas piblicas; a + Deve-se dar preferéncia as vias nao pavimentadas onde o trnsito nao seja intenso, onde no exista outtas interferéncias significativas na via piblica, © onde as condigdes do solo sejam as melhores, niio s6 pela maior facilidade de execugtio das obras, mas também pela garantia quanto aos recalques € movimentagdes das tubulagdes. Com relagao a rede secundaria, embora a mes- ma deva ser assentada indistintamente em todas as LL!!! REDES DE DISTRIBUICAO DE AGUA __395 Foto 9.4 = Deiolhe de medidor eletromag- nético acoplado a um “by-pass”. ruas da drea a ser atendida, algumas recomenda- Bes podem ser feitas quanto ao seu tragado: + Devem ser dispostas, sempre que possivel, sob os passeios. Dependendo da largura da via, do seu tipo de pavimento ¢ da intensidade do trénsi- to, pode ser necessirio a implantago de uma rede dupla, ou seja, uma tubulagdo para cada passeio; * De um modo geral, deve-se procurar limitar 0 comprimento da tubulagdo secundéria a 600 m, alimentando-a sempre pelas duas extremidades: * As tubulagdes secundirias devem formar rede malhada, evitando-se ao méximo as extremida- des mortas, podendo ou nio ser interligadas nos pontos de eruzamento; + Em uas onde exista uma tubulagao prineipal com didmetro superior a 300 mm, deve ser prevista uma tubulago secundaria para receber as ligagdes prediais, 9.3. ALTERNATIVAS PARA FORNECI- MENTO DE AGUA PARA A REDE, © fornecimento de agua para a rede de distribuigdo pode ser feito através de: + Reservatbrio elevado, apoiado, semi-enterrado ou enterrado; + Estago clevatéria com 0 uso de bombas de rotago constante ou varidvel; 396 + Tanque hidropneumitico. ABASTECIMENTO DE AGUA. A Figura 9.9 apresenta um esquema de alimentagdo da rede através de um reservatério elevado, ea Figura 9.10 apresenta o fornecimento de dgua para a rede através do reservatério apoiado, semi-enterrado e enterrado. Nesse dois casos, 0 reservatério pode estar localizado a montante ou a jusante da rede de distribuigdo de agua. As vezes, é necesséria utilizagio do reser- vatério de sobra para manter as pressdes na rede durante as horas de consumo maximo, conforme se observa na Figura 9.11, Para que a qualidade da agua no reservatorio de sobras ndo softa alteragiio, recomenda-se que 0 tempo de reser- vagiio nao ultrapasse 2 dias e, para isso, é necessério prever a drenagem desse reservat6- rio que esté situado em cota inferior ao reser- vatorio principal. Quando a alimentago da rede é através de uma estagGo elevatéria, em alguns casos, ha ne- cessidade de um reservatorio de sobra (Figura 9.12) ou um reservatério de compensagao (Figura 9.13), sendo que, esses reservatorios permitem regular 0 funcionamento das bombas. A alimentagio direta na rede, também, podera ser feita através de vari 8 pontos de alimentagdo, conforme se observa na Figura 9.14. Para comunidades de pequeno porte o reser- vatério de compensagio podera ser substituido por um tanque hidropneumético para pressuriza- fio da rede, de modo a evitar que os conjuntos motor-bomba trabalhem continuamente (Figura 9.15). Com 0 uso de bombas de rotagdo varidvel, ou com varias bombas de rotagiio constante, pode- se manter a pressio no sistema praticamente cons- tante. ‘A Figura 9.16 apresenta um esquema de abas- tecimento de 3 setores através de uma estagio ele- vatoria, Neste caso, a 4gua é bombeada diretamente para os reservatérios dos setores | e 2; no entanto, como 0 setor 3 esta localizado mais distante e com cota superior aos demais, foi necessério utilizar um “booster” para a alimentagdo do reservatorio. _LP. Minimo consumo a) Reservatério a montante. LP Minimo * consume b) Reservatorio a jusante, Figura 9.9 - Alimentacéo da rede através de reservatério elevado. PT TTT

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