Você está na página 1de 20

Samaúma Haicai

http://www.sumauma.net/haicai/haicai-teoria.html
O Haicai e Suas Teorias
Introdução
__________________
Sempre quis escrever tudo o que sei sobre haicai para deixar registrado o que aprendi. Assim é que
desenvolvi os tópicos seguintes com base na literatura que tenho disponível, sempre que possível
aplicando as idéias ao haicai brasileiro. Não é minha intenção competir com ninguém ou dizer que
sei tudo sobre esta forma. Escrevo simplesmente por uma questão de afinidade. Não me julgo
mestra ou grande estudiosa, mas simplesmente uma pessoa comum que aprecia um bom haicai.
Gosto de observar o que acontece ao meu redor e encaixar o fato nessa forma tão pequena de
poesia. Como os demais escritores, sinto que encontrar o esperado momento em um haicai e
compartilhá-lo com o leitor, não é assim tão fácil.
Há treze anos pratico o haicai e devo confessar que quanto mais aprendo sobre a forma mais fico
exigente comigo mesma. Ao longo desse tempo, tenho lido muitos textos sobre haicais, muitas
traduções do japonês para o inglês e do japonês para o português, muitas regras, muitos pode e não
pode. Tudo isso resultou em uma variedade de informações, as vezes consistentes, às vezes
contraditórias, que me levaram a escolher por intuição um caminho para seguir. Por essa razão,
adoto o estilo de escrever haicai com letras minúsculas, com um mínimo de pontuação, sem me
preocupar com o número de sílabas, exceto que tento manter as sílabas dentro das 17 já consagradas
e ainda mostrar um momento de reflexão. Considero a prática do haicai uma forma de terapia e a
indico para todos.
O Haicai e Suas Teorias
O Que é Haicai?
__________________
O haiku, traduzido para o português como haicai, é a forma de poesia mais tradicional da cultura
japonesa. Autores ocidentais tendem a definir o haicai como um poema de 17 sílabas dispostas em
três linhas de 5, 7 e 5 sílabas métricas. O haicai deve oferecer um momento de reflexão, de forma
que cause no leitor, uma sensação de descoberta. Esse momento está para o haicai, assim como o
satori está para o zen e o nirvana está para o budismo. O haicai também deve conter um kigo,
palavra que se refere a uma das estações do ano, que indica quando foi escrito. O tema do haicai é
principalmente observações de cenas que acontecem na natureza. À medida que o haicai ganhava a
simpatia dos ocidentais, algumas de suas características foram sendo deixadas de lado, enquanto
que outras foram sendo incorporadas à sua forma. Isto fez com que o haicai fosse moldado ao gosto
de seu praticante, conforme as influências literárias de sua cultura.
Há muito mais para dizer sobre o haicai. Por que praticamos o haicai? Será que o número de sílabas
realmente importa, ou as letras maiúsculas usadas no início de seus versos garantem maior
fidelidade à forma? Qual a importância da pontuação em um haicai? Qual a relação entre haicai e
zen? Por que é preferível não usar a personificação em um haicai? Quanto que podemos confiar nas
traduções feitas sobre haicais? Tentaremos responder a essas questões nos textos seguintes, com
base na literatura disponível.
O Haicai e Suas Teorias
Origem
__________________
O termo haicai é brasileiro. No dicionário Aurélio, além de haicai, constam os termos haicu, haikai
e haiku e todos nos remetem ao haicai. Mas quem traduziu haiku como haicai e com base em que?
Pode ser que a resposta a essa pergunta esteja em algum texto escondido, mas por enquanto tem
permanecido sem explicação, pelo menos para mim. O interessante é que as demais formas, tais
como a renga, a tanka, o senryu e o haibun, foram incorporados ao vocabulário do escritor de haicai
por empréstimo direto de seu nome original. Suponho que foi o termo haikai que deu o nome ao
nosso haicai, já que a pronúncia é a mesma, mudando apenas o k para o c, pois o k não pertence
oficialmente ao alfabeto português. Mas por que não se chamou de haicu, como consta no
dicionário Aurélio? Há ainda uma controvérsia sobre a pronúncia de haicai com o h mudo, mas após
15 anos de convivência com escritores brasileiros, a pronúncia do h como r é a única que tenho
escutado. E já que haicai significa haiku...
Assim como a história da literatura brasileira, a história da literatura japonesa está dividida em
vários períodos. No período inicial, Nara, que durou aproximadamente de 710 a 794 depois de
Cristo (d.C.), os poetas japoneses, influenciados pela poesia chinesa, praticavam o uta, que significa
canção, levemente adaptada do quarteto chinês para um poema de cinco partes, em japonês. O uta
passou a ser chamado de waka, e finalmente, tanka (poesia curta e elegante), um poema composto
por duas estrofes, sendo a primeira de 5-7-5 sílabas e a segunda de 7-7 sílabas, escrito por uma
pessoa e praticada nos seis séculos seguintes. Quando a tanka passou a ser escrita por duas pessoas,
ou seja, uma escrevia a primeira estrofe e outra a segunda, recebia o nome tan renga. Sobre a
influência da tan renga, os poetas passaram a adicionar novas estrofes, criando assim um poema
mais longo, que passou a ser chamado simplesmente de renga. É nesse período que surge o grande
mestre Matsuo Basho (1644-1694), que na verdade não foi um mestre do haicai, mas sim, um
mestre da renga.
A renga, que tinha um caráter humorístico, era a forma poética preferida por Basho, que a praticava
com seus discípulos durante suas viagens. Basho chamou de hokku a estrofe de três linhas que
iniciava a renga e de haikai as demais estrofes. Foi Basho que transformou o hokku, dando-lhe as
características da natureza, de seriedade e eliminando o kireji, como um elemento mandatório (ver
seção sobre Pontuação). O hokku passou a ter maior profundidade e a enfocar também o momento
do haicai, ou seja, aquela sensação ou emoção de que falamos tanto e que um bom haicai deve
possuir.
No final do século XIX, Basho já era considerado um mito, mas quem despontava na época era o
quarto mestre mais importante do haicai, Masaoka Shiki, que, segundo Reichhold (2002), achava
essa adulação à Basho repugnante. O hokku então, ganhou nova roupagem, quando Shiki passou a
chamar o hokku de haiku, combinando hai de haikai e ku de hokku. Depois de algum tempo, o
termo haiku se popularizou e se tornou uma forma independente da renga. Veremos em maior
detalhe sobre tanka e renga, e os quatro mais importantes mestres do haiku, em outras seções desse
trabalho.
O Haicai e Suas Teorias
Por Que Praticá-lo?
__________________
Assim como outros hábitos culturais introduzidos no Brasil, o haicai também conquistou
admiradores, embora de uma forma mais discreta. Por que nós, os ocidentais, decidimos praticar o
haicai? Na opinião de Jane Reichhold (com. pes.) "a medida que a poesia se tornava mais longa e
sem forma, encontrar algo breve, direto ao assunto e de forte contraste foi uma mudança
maravilhosa". De fato, a brevidade do haicai pode estimular o surgimento de novos escritores logo
que eles entram em contato com a forma. Alguns podem ser seduzidos pelo haicai ao pensar que um
poema de três linhas se escreve em um piscar de olhos. Mas não é bem assim.
Escrever um haicai tem um próposito de ir além de descrição de imagens, e, portanto, nem todo
terceto pode ser chamado de haicai. Também alguns praticantes vêem o conjunto de regras
sugeridas pela forma como um desafio. Outros preferem dar seu toque pessoal, modificando essas
regras ou ainda inovando-as. Há ainda aqueles que vêem o haicai como uma forma carregada de
misticismo e espiritualismo que leva ao transcendental. O haicai, no entanto, é mais simples do que
se imagina, e ao mesmo tempo exige do autor a criatividade e habilidade para descrever uma cena
da natureza e um desejo de compartilhar com o leitor a emoção ou sensação abstraída desse
momento. Em realidade, essa atração simplesmente acontece e não tem uma explicação maior do
que uma relação de afinidade. Quando essa relação é estabelecida, desperta no escritor uma maior
curiosidade e consequentemente um desejo de por em prática o que ele aprendeu. Não é bastante
apenas gostar de haicai, mas também é preciso ter disciplina e persistência e querer maravilhar-se
com a simplicidade dos momentos.
O Haicai e Suas Teorias
O Número de Sílabas
__________________
Ao que se percebe, a definição de haicai como um poema de 5-7-5 sílabas está tão fortalecida pelas
muitas definições publicadas no ocidente, que muitos escritores, especialmente os iniciantes, não
vão se libertar dessas regras facilmente. Higginson (1985) comenta que, em realidade, não são
sílabas que são contadas pelos poetas japoneses, mas sim onji, que significa “sons de símbolos”, e
se refere a um dos caracteres fonéticos da escrita japonesa. De acordo com Bruce Ross (1993), o
haicai tradicional japonês é escrito em 5-7-5 onji, na vertical, curto o bastante para ser recitado de
um só vez. Ainda segundo Ross, uma sílaba média da língua inglesa é muito mais longa do que um
onji e pode corresponder a um tipo de unidade sílábica de uma vogal ou de uma consoante e uma
vogal. Talvez por essa razão, os haicais escritos em inglês frequentemente possuem de 12 a 14
sílabas. Um haicai com 5-7-5 sílabas em português, que muitas vezes possui palavras mais longas
do que suas equivalentes em inglês, pode demorar mais tempo para ser recitado e, portanto, 17
sílabas pode até ser um excesso.
Ao fixar um número exato de 5-7-5 sílabas, criamos uma estrutura mais rígida para o nosso haicai.
Essa preocupação silábica é frequentemente notada no haicai brasileiro, como se essa fosse uma
garantia a mais de se estar escrevendo um haicai. Às vezes, encontramos haicais que, para
completar o número de sílabas tradicional, usam de artifícios, como inclusão de adjetivos ou
artigos, que se fossem retirados não fariam falta. Mas esse é um tema que será tratado em um outro
tópico.
Poucos são aqueles que se sentem confortáveis em escrever um haicai contendo um número menor
que 17 sílabas, atualmente chamado de forma livre. Na maioria das vezes, nossa língua portuguesa
nos permite acomodar o número de sílabas inicialmente estabelecidos (5-7-5) com uma certa
facilidade, e se, ao escrevermos um haicai, conseguirmos preecher essas sílabas de forma natural,
está bem. Caso contrário, é preferível manter somente as palavras necessárias.
O Haicai e Suas Teorias
O Uso de Letras Maiúsculas
__________________
Até o período do Simbolismo/Parnasianismo, qualquer forma poética tinha seus versos iniciados
por letras maiúsculas. Com o surgimento das correntes modernistas no Século XX, essa prática
sofreu mudanças radicais, e os versos não só se libertaram das letras maiúsculas, como também dos
sinais de pontuação. Como sabemos, nem todos os poetas seguiram essa tendência e preferiram
manter a tradição do que antes era considerado boa forma de poesia. Assim, os poemas ora
continham maiúsculas e pontuações, ora eram escritos em letras minúsculas e sem pontuação.
O haicai brasileiro parece ter herdado a tendência tradicional, pois é comum encontrá-lo com letras
maiúsculas iniciando os fragmentos de sentenças. Talvez essa prática seja uma herança deixada por
nossos poetas Afrânio Peixoto e Guilherme de Almeida, os primeiros a pôr em evidência a forma no
Brasil. Esta história será discutida em um outro tópico.
O que fazer? É necessário ou não usar letras maiúsculas no haicai? Se não é, por que encontramos
tantos haicais onde os versos iniciam com letras maiúsculas? De onde vem essa prática? Outra vez,
as regras do haicai parecem depender de quem o escreve e a convenção adotada parece sofrer
influência de nossa cultura literária, de nosso próprio gosto ou da tendência adotada por um
pequeno grupo de escritores.
Segundo nossa gramática, as letras maiúsculas são obrigatórias apenas no início de uma sentença e
em nomes próprios. Já que o haicai geralmente é composto por fragmentos de sentenças, o uso da
letra maiúscula não é relevante. Reichhold (2002) comenta que a medida que os escritores adquirem
mais experiência com o haicai eles abandonam a letra maíuscula que geralmente inicia um verso.
Segundo a autora, “o uso contínuo de letras capitais é uma indicação de que ou se trata de haicaista
iniciante que mantém a prática da escrita de poesia anterior ou de alguém que se recusa a repensar
as mudanças que a forma tem feito.”
O Haicai e Suas Teorias
Pontuação
__________________
Escritores japoneses não usam sinais de pontuação no haicai como os ocidentais, mas empregam o
kireji, traduzido como “palavras que cortam”. Como informa Reichhold (2002):
"Palavras como ka ou kana seriam equivalentes ao nosso travessão ou à nossa vírgula. Algumas
desses kireji, sendo verbos ou adjetivos, são também usados para dar ênfase ou transmitir uma
mensagem de emoção. O uso dessas palavras no haicai japonês ocupa uma ou duas unidades de
sons, reduzindo o número de unidades em 6 a 12%".
Conforme a informação acima, o uso de pontuação em um haicai é outra dificuldade que tentamos
resolver para atender às nossas necessidades linguísticas. De acordo com Reichhold (2002),
considerando-se que o haicai não é uma sentença, o uso de pontuação parece forçá-lo a ser o que
não é. Em nossa convivência com o haicai, frequentemente encontramos aqueles que usam um
excesso de pontuação ou nenhuma. Há os que usam dois pontos, ponto e vírgula ou travessão no
final de um fragmento, ou ainda um ponto para fechar o poema. Qual seria o correto?
Alguns escritores usam esses recursos para dar a pausa necessária entre os fragmentos de sentenças.
No entanto, o uso de um ponto não é necessário, porque o haicai não é uma sentença e, portanto,
não deveria ser fechado desta forma. Reichhold (2002) afirma que todo haicai que possui um
recurso de pausa, como os acima mencionados, pode ser reescrito de forma que a pausa seja
naturalmente identificada. Para a autora, um haicai que usa pontuação é um haicai que falhou em
preencher sua forma mais básica.
O Haicai e Suas Teorias
O Momento do Haicai
__________________
Por que um poema com até 17 sílabas é chamado de haicai? O fato é que para se tornar um haicai,
esse conjunto de palavras precisa produzir um efeito em seu leitor. Quando se diz que um haicai é
bom, é porque esse efeito, que chamaremos aqui de momento do haicai, está presente e, portanto,
pode-se dizer que o autor atingiu seu objetivo. Consequentemente, a presença ou falta desse
momento pode indicar o grau de compreensão que o autor possui sobre o assunto. Esse discutido
momento pode vir sob outros nomes tais como insight, flash, essência, “ponto”, como se refere o
Prof. Paulo Franchetti, da UNICAMP, ou aha!, como prefere a estudiosa americana de haicai, Jane
Reichhold. Enquanto que insight é um termo que em nossa língua significa discernimento,
introspecção, compreensão, o flash, tal como o flash fotográfico, dá a idéia de que o autor captou
um momento muito breve de inspiração ao observar uma cena. É uma outra maneira de dizer a
mesma idéia. Quando o Prof. Franchetti diz que um certo haicai “não tem ponto”, ou Jane
Reichhold diz aha! para um haicai, é porque eles estão se referindo à ausência e presença desse
momento, respectivamente.
O momento do haicai não deve ser forçado ou fabricado, mas surgir espontaneamente, como explica
Susumu Takiguchi em seu artigo A Haiku Moment of Truth (Um Momento de Verdade no Haiku).
Tampouco deve ser a exposição de um fato lógico ou conclusivo, mas a habilidade com que o
escritor elabora uma imagem de forma que permita ao leitor discenir, se imbuir de uma sensação
nova que está implicita no haicai, ou seja, nas entrelinhas. Uma crítica que ouvimos com frequência
é que um certo haicai é muito lógico. Isso significa que sua justaposição versus imagem se
completam apenas para estabelecer um fato meramente conclusivo, esperado, conhecido, racional.
Esse tipo de haicai não mostra nada de novo e não afeta de nenhum modo a introspecção do leitor. É
apenas a descrição de uma cena cujo efeito já é previamente conhecido e por ser racional, nada
deixa para o leitor refletir. Toda informação que armazenamos de nosso conhecimento de mundo é
apenas racional e não precisa ser repetida em um haicai.
Há quem considere que é muito fácil escrever um haicai, enquanto outros entendem que não é tão
fácil assim, e não é mesmo. Nem todos os haicais escritos pelos velhos ou modernos mestres são
grandes haicais ou mostram um momento claramente, tanto que lemos alguns deles e não
compreendemos por que tal poema é chamado de haicai. Devido a tantas incertezas sobre esse tão
questionável momento, muitos escritores sentem-se inseguros ao exporem seus haicais, preferindo
chamá-los de tercetos, poemetos, poeminhas, haiquases, arremedos, tentativas e assim por diante.
Apesar da crescente literatura sobre a forma, vários são os autores com livros de haicai publicados
que parecem demonstrar uma outra compreensão desse momento.
Como captar esse momento requer persistência. Muitas vezes, vemos uma cena maravilhosa para
compor um haicai, mas falta o momento, a justaposição, e a idéia fica tamborilando em nossas
mentes esperando para ser transformada em um haicai que pode ser concretizado ou nunca existir.
Outras vezes, basta uma olhar mais demorado e o haicai desabrocha sem muito esforço.
O momento do haicai pode até ser diferente de leitor para leitor. O mais famoso haicai de Basho é
um exemplo:
a velha poça–
um sapo pula dentro:
o som da água
Higginson (1985) explica que esse haicai de Basho ganhou fama principalmente por enfatizar o som
da água, já que o usual era incluir o som dos sapos na poesia japonesa. Para Bruce Ross, no entanto,
autor de “Haiku Moment” (Momento do Haicai, 2000), o momento desse haicai, que ele chama de
“realização”, ocorre quando a água passa de quietitude para a produção de som causado pelo breve
pulo do sapo. De acordo com o autor, toda essa sequência de acontecimentos pode despertar o
espírito zen.
Outro exemplo que permite identificar o momento é esse belo haicai de Issa, mestre japonês do
século XIX:
Que coisa estranha!
Estar vivo
sob flores de cerejeira.
Podemos perceber nesse haicai que o autor está quieto sob o pé da cerejeira, talvez deitado, sentindo
as flores caírem sobre ele, tal como acontece com um morto que os vivos cobrem de flores. Ele
passa essa sensação de desconforto e ao mesmo tempo de beleza para o leitor. Esse é o momento a
que nos referimos desde o início dessa seção. Além da beleza do haicai como poema, há o
inesperado, o súbito, e tudo descrito de forma simples, sem o auxílio de figuras de linguagem.
O Haicai e Suas Teorias
Kigô
__________________
É comum entre escritores dizer que falta o kigo em um determinado haicai. Na definição ocidental
de haicai, uma regra básica é a inclusão do kigo. Mas o que vem a ser kigo? Kigo é um termo tal
como um nome de animal ou de planta que o escritor de haicai inclui em seu poema para informar
ao leitor a estação em que esse poema foi escrito. Assim, a presença do termo sapo, um kigo de
primavera para os japoneses, indica que o haicai foi escrito no nessa estação. Mas para entender se
o kigo é ou não é importante vamos voltar um pouco no tempo.
Como informa Jane Reichhold, desde as primeiras tankas, as estações do ano, verão, inverno,
primavera, outono, já eram importantes para os poetas antigos. A tanka, que era escrita em cinco
frases foi quebrada ao meio, e passou a ser escrita por duas pessoas, uma para escrever os primeiros
tres versos e outra para escrever os dois últimos versos, o que deu origem à renga. As antologias
imperiais da tanka (800 AD) usaram as estações como divisões. Mas indicar sempre a estação pelo
nome, tornava os versos que já eram curtos, menos atraente. Então os poetas passaram a usar os
elementos próprios de uma estação, mas para isso era necessário saber se uma aranha, por exemplo,
era um elemento do outono ou da primavera. Contudo, nem toda tanka possuia os termos
conhecidos próprios de uma estação, e então ficava difícil indicar a qual estação este termo
pertencia. Assim, os escritores de tanka da época passaram a usar termos como "viagem",
"lamentos" e naturalmente "amor" como pertencentes a uma determinada estação. Enquanto os
poetas estavam no comando do genero, eles aprenderam esta informação de seus mestres (como
Bashô). Conforme a prática da renga espalhou-se além dos poetas para a "pessoa comum" esta
informação erudita não foi mais passada de pessoa a pessoa mas pelo uso de um tipo de dicionário
de kigo chamado Saijiki.
O uso do kigo em um haicai se torna complicado entre os próprios escritores japoneses. Como bem
lembra Reichhold (com. pes.), o Japão, como muitos outros países é estreito e longo, fisicamente
atravessando diversos graus de latitude, de modo que as estações vêm e vão diferentemente em suas
seções norte e sul. Entretanto, para consistência, as estações consideradas pelos poetas são
SOMENTE as de Tokyo, a capital, onde se concentrava a maioria dos poetas. Para nós de outros
países, especialmente de outros hemisférios, os termos da estação tornam-se muito distorcidos.
Assim, ao escrever o haicai em outra língua que não seja o japonês, nos confrontamos com esta
diferença. Escrever um haicai cujo momento é o aqui e agora e usar um kigo que não corresponde a
nossa realidade seria um total contra senso.
O Haicai e Suas Teorias
Antropormofismo
__________________
A personificação de coisas inanimadas é uma parte básica de nossa língua. Diariamente falamos
sem perceber, da cabeça de prego, de alho, pés ou pernas de camas, mesas e cadeiras.
Frequentemente dizemos que rios correm, o tempo voa, as nuvens andam e assim por diante, como
Jane Reichhold já havia observado. Quando um poeta escreve um poema, ele faz uso desse recurso
com grande propriedade e muitas vezes, os objetos ganham até mesmo alma. Então por que
restringir esse hábito de usar antropomorfismo no haicai? É o que escritores de haicai em qualquer
língua, frequentemente questionam. É permitido ou não? Se respondermos com um não, logo
alguém nos mostra de imediato, um haicai escrito por um dos mestres japoneses, que contém
objetos animados. Como diz Jane Reichhold (com. pes.), tocar nesse assunto é colocar o dedo na
ferida das regras sobre a escrita do haicai. Segundo Jane:
1. O uso de antropomorfismo no haicai poderia ter surgido da idéia que o haicai não era poesia e
não devia usar técnicas poéticas (tais como a metáfora e símile). Quando os pioneiros introduziram
o haicai aos escritores ingleses, eles estavam reagindo contra as formas de poesia que prevaleciam e
desejaram apresentar o haicai como algo novo e diferente - não-poesia poesia. Conseqüentemente,
Robert Spiess e outros fizeram as regras com esperanças de que, se elas fossem seguidas, nosso
haicai seria mais como os exemplos japoneses e muito menos como a poesia escrita em inglês
naquele tempo. Não usar a personificação separa o haicai da poesia lírica - o que muitas pessoas
vêem como um ponto positivo.
2. Parte do charme do haicai está no tempo presente das coisas (as coisas são, não foram e nem
serão no momento do haicai. Para criar a personificação, o intelecto e a imaginação devem estar
engajados tanto pelo autor como pelo leitor. Isto retira o haicai do elemento básico de simplicidade
e claridade do aqui e agora. Para o leitor entender a personificação deve usar a fantasia - uma
facilidade que geralmente tentamos evitar no haicai. O aspecto fresco, calmo, racional do haicai é
perdido então.
3. O haicai busca fluir delicadamente no calmo riacho da realidade. O empurrão da sacudida de
criatividade pode, para algumas pessoas, arrancá-los do modo contemplativo.
4. Criar um personificação pode ser visto como 'exibição' - algo que autores sem ego nunca fazem.
5. Quando questionamos estas regras inglesas que alguém inventou, nós abrimos incríveis
possibilidades para nosso haicai. É muito bem conhecido que o haicai não-japonês SÃO diferentes
daqueles escritos em japonês, e dado a nossa natureza de questionar, nossa inventividade, nosso
impulso de fazer tudo de novo, é praticamente certo que em nossas mãos o haicai terminará muito
diferente daqueles escritos no Japão nos anos 1600s ou ontem. Outra vez, eu penso que cada
escritor tem que se decidir qual das muitas regras ele quer seguir ou não. E nosso grau de tolerância
para compreender e aceitar quando um outro autor tem regras diferentes é uma das lições que nós
necessitamos praticar enquanto nosso mundo encolhe.
O Haicai e Suas Teorias
Introdução à Renga
__________________
Muitas vezes estamos numa conversa animada entre amigos e de repente o assunto muda para outro,
devido a uma certa palavra que foi pronunciada. Essa dinâmica pode se prolongar por horas a fio
sem que seus participantes percebam quantos assuntos foram abordados no decorrer das horas e o
quanto eles estavam conectados. Assim é a renga, uma forma de poesia japonesa praticada por seu
grande mestre Basho, e que, desde o século XVII, realça a arte da transição ao encadear,
respectivamente, estrofes sasonais de três e dois versos escritos por dois ou mais autores. Como as
rengas eram muitas longas, pois muitas continham mais de 100 estrofes, Basho decidiu reduzir esse
número para 36 apenas, em homenagem aos 36 poetas imortais japoneses da época, e passou a
chamá-las de Kasen, ou seja, a poesia dos sábios.
O Haicai e Suas Teorias
Renga: Algumas Regras Básicas
__________________
Como tenho mencionado, os ensinamentos de Jane Reichhold têm servido como uma sólida base
para meu aprendizado. A seguir, uma tradução adaptada de um conjunto de regras sobre renga que
reuni, de seu livro "Writing and Enjoying Haiku", que eu gostaria de compartilhar com os
rengueiros. Segundo a autora, a lista de regras sobre o que é ou não permitido em uma renga parece
interminável e algumas parecem extremamente arbitrárias. No entanto, um estudante de renga
precisa conhecê-las.
As Regras
1.Em uma renga, a terceira linha de um link, quando lido com as duas linhas do link seguinte,
deveria lembrar de um haicai. É este tipo de aproximação que evita que a renga desande e é sempre
indicado verificar esse detalhe tanto quando se termina um link como quando se termina uma renga.
2. Primeiro e mais importante, sempre se refira ao link imediatamente anterior e não aos demais.
Uma vez que um assunto tem sido usado, mude para outra coisa ou explore um outro aspecto desse
assunto.
3. O primeiro link ou hokku deve ser escrito no tempo presente, incluir uma indicação da estação. O
hokku tem de ser muito especial e cumprir suas obrigações neste lugar de honra, tanto pelo motivo
de iniciar a renga como por homenagear os demais parceiros de forma polida e gentil. Nenhum
haicai de sua coleção será bom o bastante, não importa o quanto você o considere.
4. Se a renga possui uma série de links com associações muito próximas ou muito distantes, mude a
sequência adicionando um link com idéias opostas.
5. Não repita os mesmos substantivos ou verbos em uma mesma página (a cada seis links). Procure
por eles e substitua-os por sinônimos.
6. Não use muitas referências ao mesmo tipo de coisa. Você se surpreenderia ao ver quantas pessoas
se utilizam de um só tema, mencionando, água, por exemplo, seguidamente, desde rios, lagos,
correntes, poças, orvalho e até saliva. Outras pessoas não conseguem sair do tema planta e usam
muitas árvores, gramas e flores.
7. Não use muitos links sobre natureza em uma sequência. Misture-os com links sobre pessoas;
pontos de pensamento intelectual ou filosofia usada judicialmente podem ser interessantes.
8. Salve seu verso da flor (#17, #35) e da lua (#5, #14, #29 ) para os links onde eles pertencem. Se
você deseja trazer a lua antes, faça com que seja lua crescente ou lua nova. Se você for um mestre,
uma falha ocasional pode até ser considerado uma diversidade, mas se você for um iniciante, pode
ser considerado uma falta.
9. Todos os versos sobre a lua são considerados de outono. Se você deseja ter sua lua em uma outra
estação você deve especificar "lua de inverno", "lua de primavera". A menção da lua assume que se
trata da lua cheia, porque esse é o estado em que ela se apresenta mais pitoresca.
10. Não se limite a apenas um tempo verbal. Você sabe que haicai deve ser escrito no tempo
presente, mas tanka e renga permitem explorar tanto o passado como o presente. Procure por isso na
renga. Se vários versos são escritos no tempo presente, faça a mudança com seu link.
11. Não fique sempre dentro da mesma voz. Ocasionalmente, fale diretamente usando a forma de
tratamento "você". Você pode usar também citações de outros para mudar do modo de simples
observação típico do haicai. Até mesmo as mensagens de placas de rua ou fontes literárias são bem-
vindas como variações.
12. Se você não está usando a folha com a fórmula recomendada, com a estação e os outros
assuntos indicados, lembre que links de primavera e outono deveriam vir numa sequência de três a
cinco links, e inverno e verão deveriam vir numa sequência de dois a três links.
13. Algumas regras japonesas típicas estabelecem que insetos deveriam ser mencionados apenas
uma vez em 100 links, sonhos apenas uma vez e "mulher" nunca.
Renga
__________________
Fórmula para uma Renga Kasen Tradicional de Inverno
(Dois Participantes)
Permissão para copiar gentilmente concedida por Jane Reichhold, 1996.
Título da Renga: geralmente retirado do primeiro verso.
Nomes dos autores:
Data de início:
Data de conclusão:
PR = Primavera; VE = Verão; O = Outono; I = Inverno; N = Não-Sazonal (geralmente sobre
pessoas, sentimentos ou lugares)
N°. de
Link # Estação Tema Obs:
versos
1. [3] I    hokku - escrito pelo convidado
2. [2] I    wakiku - escrito pelo anfitrião
3. [3] N    daisen - deve terminar com um verbo
4. [2] N    
5. [3] O LUA  
6. [2] O    Também escreve #7
7. [3] O    
8. [2] N AMOR  
9. [3] N AMOR  
10. [2] N AMOR  
11. [3] N    
12. [2] N    
13. [3] VE LUA  
14. [2] VE    
15. [3] N    
16. [2] N    
17. [3] PR FLOR  
18. [2] PR    Também escreve #19
19. [3] PR    
20. [2] N    
21. [3] N    
22. [2] N    
23. [3] I    
24. [2] I    
25. [3] N AMOR  
26. [2] N AMOR  
27. [3] N AMOR  
28. [2] N    
29. [3] O LUA  
30. [2] O    Também escreve #31
31. [3] O    
32. [2] N    
33. [3] N    
34. [2] N/PR    Ou um ou outro
35. [3] PR FLOR  
36. [2] PR    Deve relacionar ao #1 e fechar o trabalho
Renga
__________________
Fórmula para uma Renga Kasen Tradicional de Primavera
(Dois Participantes)
Permissão para copiar gentilmente concedida por Jane Reichhold, 1996.
Título da Renga: geralmente retirado do primeiro verso.
Nomes dos autores
Data de início:
Data de conclusão:
PR = Primavera; VE = Verão; O = Outono; I = Inverno; N = Não-Sazonal (geralmente sobre
pessoas, sentimentos ou lugares)
N°. de
Link # Estação Tema Obs:
versos
1. [3] PR    hokku - escrito pelo convidado
2. [2] PR    wakiku - escrito pelo anfitrião
3. [3] PR    daisen - deve terminar com um verbo
4. [2] N    
5. [3] O LUA  
6. [2] O    Também escreve #7
7. [3] O    
8. [2] N AMOR  
9. [3] N AMOR  
10. [2] N AMOR  
11. [3] N    
12. [2] N    
13. [3] VE LUA  
14. [2] VE    
15. [3] VE    
16. [2] N    
17. [3] PR FLOR  
18. [2]      Também escreve #19
19. [3] PR    
20. [2] N    
21. [3] N    
22. [2] N    
23. [3] I    
24. [2] I    
25. [3] N AMOR  
26. [2] N AMOR  
27. [3] N AMOR  
28. [2] N    
29. [3] O LUA  
30. [2] O    Também escreve #31
31. [3] O    
32. [2] N    
33. [3] N    
34. [2] N    
35. [3] PR FLOR  
36. [2] PR    Deve relacionar ao #1 e fechar o trabalho
Renga
__________________
Fórmula para uma Renga Kasen Tradicional de Verão
(Dois Participantes)
Permissão para copiar gentilmente concedida por Jane Reichhold, 1994.
Título da Renga: geralmente retirado do primeiro verso.
Nomes dos autores
Data de início:
Data de conclusão:
PR = Primavera; VE = Verão; O = Outono; I = Inverno; N = Não-Sazonal (geralmente sobre
pessoas, sentimentos ou lugares)
N°. de
Link # Estação Tema Obs:
versos
1. [3] VE    hokku - escrito pelo convidado
2. [2] VE    wakiku - escrito pelo anfitrião
3. [3] N    daisen - deve terminar com um verbo
4. [2] N    
5. [3] O LUA  
6. [2] O    Também escreve #7
7. [3] O    
8. [2] N AMOR  
9. [3] N AMOR  
10. [2] N AMOR  
11. [3] N    
12. [2] N    
13. [3] I LUA  
14. [2] I    
15. [3] N    
16. [2] N    
17. [3] PR FLOR  
18. [2] PR    Também escreve #19
19. [3] PR    
20. [2] N    
21. [3] N    
22. [2] N    
23. [3] VE    
24. [2] VE    
25. [3] N AMOR  
26. [2] N AMOR  
27. [3] N AMOR  
28. [2] N    
29. [3] O LUA  
30. [2] O    Também escreve #31
31. [3] O    
32. [2] N    
33. [3] N    
34. [2] N    
35. [3] PR* FLOR  
36. [2] PR    Deve relacionar ao #1 e fechar o trabalho
Renga
__________________
Permissão para copiar gentilmente concedida por Jane Reichhold, 1994.
Fórmula para uma Renga Kasen Tradicional de Outono
(Dois Participantes)
Título da Renga: geralmente retirado do primeiro verso.
Nomes dos autores
Data de início:
Data de conclusão:
PR = Primavera; VE = Verão; O = Outono; I = Inverno; N = Não-Sazonal (geralmente sobre
pessoas, sentimentos ou lugares)
N°. de
Link # Estação Tema Obs:
versos
1. [3] O    hokku - escrito pelo convidado
2. [2] O Lua  wakiku - escrito pelo anfitrião
3. [3] N    daisen - deve terminar com um verbo
4. [2] N    
5. [3] I    
6. [2] I    Também escreve #7
7. [3] N    
8. [2] N AMOR  
9. [3] N AMOR  
10. [2] N AMOR  
11. [3] N    
12. [2] N    
13. [3] I/VE LUA  
14. [2] I/VE    
15. [3] I/VE    
16. [2] N    
17. [3] PR FLOR  
18. [2] PR    Também escreve #19
19. [3] PR    
20. [2] N    
21. [3] N    
22. [2] N    
23. [3] I/VE    
24. [2] I/VE    
25. [3] N AMOR  
26. [2] N AMOR  
27. [3] N AMOR  
28. [2] N    
29. [3] O LUA  
30. [2] O    Também escreve #31
31. [3] O    
32. [2] N    
33. [3] N    
34. [2] N    
35. [3] N/PR FLOR  
36. [2] PR    Deve relacionar ao #1 e fechar o trabalho
O Haicai e Suas Teorias
Haibun
__________________
A palavra haibun é formada por hai, de haicai, e bun, que significa escritas, composições ou
sentenças (Reichhold, 2002). Bashô praticava o haibun, considerado um de seus mais importantes
trabalhos, adicionando nova profundidade ao que era escrito de forma humorística por outros de
seus discípulos. Os primeiros exemplos de haibun são encontrados nas crônicas da história do Japão
– The Kojiki. De acordo com Reichhold (2002), o haibun passou a ser praticado por autores
americanos apenas nos últimos dez anos. No Brasil, essa prática é um pouco mais recente e tem
despertado um crescente interesse entre uma pequena parcela da comunidade haicaista.
O haibun é um texto curto em prosa, seguido por um ou mais haicai. A prosa que antecede o haicai
geralmente se refere a uma experiência vivida pelo escritor. Alguns autores de haibun preferem
escrever a prosa de forma simples e direta, ou ainda compacta, curta ou telegráfica, omitindo
verbos, pronomes e outros elementos gramaticais (Reichhold, 2002). O objetivo do haicai que
acompanha a prosa é dar uma nova dimensão, provocar uma mudança de cena, voz ou tempo, tal
como as duas partes de uma tanka. Um haibun também inclui um título e deve ser escrito no tempo
presente. Ainda de acordo com a definição da Haiku Society of America, além de brevidade, um
haibun pode conter até 300 palavras e haicais entremeados.
Entre as características do haibun reunidas por Higginson (1985) estão as quatro clássicas definidas
por Makoto Ueda, um professor de Japonês da Universidade de Stanford, California, EUA, e grande
estudioso e admirador de Basho:
Características do haibun:
1. Escrito em prosa, concluindo com um ou mais haicai;
2. Brevidade e concisão*;
3. Abreviado em sintaxe; palavras gramaticais, algumas vezes até verbos, são omitidos; uso
deliberadamente ambíguo de certas partículas e formas verbais no lugar onde a conjunção “e” seria
usada*;
4. Não explicação do haicai; a conexão entre a prosa e o haicai é feita de forma similar a da renga;
5. Imagístico*; relativamente poucas abstratações e generalizações;
6. Objetivo; o escritor é desvinculado*, mantém uma distância estética, mesmo quando se auto
descreve;
7. Deve ser bem humorado e ao mesmo tempo adicionar um toque de seriedade e beleza.
Apesar de uma das características do haibun sugerir a desvinculação do autor no texto, isto é, não se
auto-inserir na prosa ou haibun, nem sempre essa regra é cumprida pelos escritores. É comum
encontrar em sites especializados sobre haibun, a presença do EU, em uma ou noutra parte do
haibun. No segundo haibun dessa seção, optei por usar o "eu" lírico.
* Características do haibun de acordo com Makoto Ueda.
A seguir, mostramos um haibun escrito por Basho e traduzido por Tadashi Kondo (Higginson,
1985). Raku é um nome antigo para Kyoto; Rakushisha significa aproximadamente “Casa do Caqui
Caído”; Kyorai é um discípulo de Basho.
Registro de Rakushisha
Qualquer que seja o nome de Raku, Kyorai possui essa casinha no mato de Shimo Saga, nos pés de
Arashiyama, perto do igarapé de Oigawa. Esta área tem a conveniência de tranquilidade, um lugar
para clarear a mente. Kyorai é um rapaz preguiçoso, a grama alta em frente da janela, alguns pés de
caqui espalhando longos galhos -- as chuvas de junho sempre pingando, tatami e shoji com cheiro
de mofo, nenhum lugar para sentar. Este brilho de sol, no entanto, é a hospitalidade do dono.
chuvas de junho...
da placa com poema apenas
as marcas na parede
Nesse haibun, Higginson explica que Basho troca o humor tradicional próprio do haibun para um
elogio formal e sincero das virtudes do local. Kyorai tinha preguiça de cortar a grama ou aparar as
fruteiras, mas em uma parada das chuvas de junho, o sol que penetra no interior da casa chama a
atenção do novo morador. Assim, Basho pode perceber que Kyorai escrevia poemas em cartões que
foram arrancados da parede, ficando somente as marcas, indicando um hábito de Kyorai e como ele
fazia uso de seu tempo.
O haibun seguinte é de minha autoria.
O Silêncio das Mariposas
Durante à noite, o teto e as paredes do meu pátio se ladrilhavam com mini mariposas de cor bege e
marrom. Pela manhã as mariposinhas ainda estão lá, tão quietas como se tivessem se transformado
em papel de parede. Um tanto preocupada, admiro aquela linda multidão e vou embora. Na volta
para o almoço, uma vizinha vem me contar maravilhada que meu pátio havia sido invadido por um
bando de diferentes pássaros. Por não ter visto as mariposinhas, a vizinha pensou que os pássaros se
reuniam no meu pátio, por alguma razão mística.
tarde silenciosa
apenas um beija-flor
no fio de luz
O objetivo da prosa desse haibun é descrever a cena onde o silêncio do pátio é substituído pelo som
de vários pássaros que encontram comida farta. A comida acaba e o silêncio de sempre retorna ao
pátio. Um beija-flor calado no fio de luz é tudo o que resta do inusitado e sonoro acontecimento.
O Haicai e Suas Teorias
Haiga
__________________
Haiga é uma pintura esboçada de forma livre que inclui um haicai escrito em caligrafia. Hai
significa 'haicai' e ga significa pintura. De acordo com o artigo "What´s haiga", do site "Reeds:
Contemporary haiga", a forma originou-se no Japão do século XVII e foi usada para decorar
pergaminhos, discos, telas, e leques ou abanos.
Há dois elementos em haiga tradicional: uma pintura feita em aquarela, e um poema ou poemas em
caligrafia tradicional japonêsa. A forma é caracterizada por uma representação fresca e espontânea
da vida cotidiana, como é feito no haicai, usando pinceladas soltas e fluidas, e abundância de espaço
em branco. É geralmente muito semelhante aos desenhos com imagens livres expressas apenas com
algumas linhas, pequenos detalhes, e uma ou duas cores para maior interesse visual. A arte digital
do haicai é uma forma de haiga moderna. Outras formas incluem a foto-haicai (haicai anexado a
uma imagem fotográfica) e todas as formas de arte moderna associada ao haicai.
A prática comum em haiga é escrever o haicai fazendo uma justaposição entre foto (ou pintura,
desenho, etc) e verso para criar um significado que vá além do que está presente na imagem. O
haicai tende a focalizar o momento tão intensamente que uma espécie de epifania deve ocorrer, mas
o trabalho de interpretar o significado é de responsabilidade do leitor. Assim como um haicai
geralmente contém uma justaposição entre duas de suas linhas e uma terceira linha. O mesmo
acontece com o haiga moderno, ou seja, deve conter uma justaposição entre o haicai em si e a obra
de arte, sem necessariamente representar diretamente as imagens apresentadas no haicai.
Ainda conforme "What´s haiga", no segundo volume de A História do Haiku (Hokuseido Press,
1964), RH Blyth descreve haiga como "a arte da imperfeição", e diz que "haiga omite o que Deus
deveria ter omitido". Ele explica que "simplicidade" (no haiga) tem um significado apenas em
relação à complexidade e haiga não sugerem muito com pouco, mas enfatiza o que é (poeticamente)
importante, o que é ignorado pela visão (anti-poética) ordinária do objeto".
"What´s haiga" também informa que, ainda hoje, esta estética é muito atraente para os poetas
pintores amadores e profissionais, mesmo em face da crescente influência da arte moderna
ocidental. Muitos entusiastas compartilham seus haiga nas reuniões da proeminente Associação
Japonesa de Haiga Todos Sekiho e estudam com mestres modernos, tais como Sekiho Yabumoto,
Hattori Isshu, Kihara Makoto, e Nasu Seigyo. A maior editora de haiga no Japão é a Shusakusha
Publishing Company, que produz uma revista chamada O Trimestral Haiga Saijiki. A empresa
também produz uma série de livros sobre como criar haiga. Cada vez mais, os japoneses estão
publicando e vendendo seus haiga na Internet.
O Haicai e Suas Teorias
Glossário de Termos Japoneses
__________________
ageku (verso que completa) Da renga, a estrofe final.
aware (comoção) Comovente, que mexe; o tipo de coisa que evoca uma resposta emocional;
frequentemente na frase ono no aware, o “comoção das coisas”.
chiri (geografia) Na lista de palavras sazonais, uma categoria incluindo fenômeno natural na terra e
água (montes, rios, etc.)
ch ka, ou nagauta (poema longo) Forma tradicional de verso, geralmente falado como se tivesse
verso-linhas alternadas de cinco e sete onji, mais uma do sete onji no final. Uma interpretação
alternativa sugere verso-linhas de doze onji, com um caesura dividindo cada linha em cinco e sete,
mais uma linha conclusiva de sete onji. O gênero floresceu na era de Manyoshu, e tem tido uma
ressurgência ocasional. Veja o ji-amari.
dai (tópico) Originalmente, as circunstâncias sob as quais um poema foi escrito, dado um curto
prefácio; mais tarde, um tópico expresso sobre o qual um poema foi composto.
daisan (a terceira) Da renga, a terceira estrofe
d butsu (animais) Na lista de palavras sazonais, uma categoria incluindo animais, especialmente
pássaros e insetos.
dodoitsu (diversão na cidade / rapidamente cidade a cidade) Uma forma tradicional para canções
tradicionais e populares, em sete-sete-sete-cinco onji. O nome parece derivar-se da velocidade com
que as canções nesta forma se tornaram populares. Veja ji-amari.
gunsaku (grupo de trabalho) Do haiku e da tanka, um grupo de poemas sobre um único assunto que
ilumina o assunto sob vários pontos de vista, mas que pode ser lido independentemente. Veja
rensaku.
gy ji (observações) Na lista de palavras sazonais, uma categoria incluindo festivais, feriados, e
objetos associados.
haibun (haikai em prosa) Prosa em estilo terso escrito por um poeta de haicai ou haikai, incluindo
hokku ou haiku.
haiga (pintura de um haikai) Uma pintura em um estilo rude e levemente abstrato, incluindo um
haicai ou hokku escrito.
haigon (palavra do haikai) Palavras normalmente excluidas de poemas “serious” (por exemplo,
palavras de línguas estrangeiras, palavras excessivamente vulgares em significado ou dicção, etc.),
mas que se tornaram uma característica distintiva do haikai, haicai, senry , etc.
haijin (pessoa que escreve haicai ou haikai) Poeta de haicai ou haikai.
haikai (humor, piada) Originalmente, uma classificação de poemas humorísticos; mais tarde, uma
abreviatura para haikai-no-renga, e assim um termo genérico para todas as composições
relacionadas ao haikai, tais como o haiku, maekuzuke, haibun, etc. Ocasionalmente em japonês, e
especialmente em francês e espanhol, um sinônimo para haiku.
haikai-no-renga (renga humorística) Originalmente, uma renga rude e vulgar, também chamada
mushin renga; nos tempos de Bash o tipo de renga que dominava.
haiku (verso de haikai) Originalmente (e raramente usado), qualquer estrofe de um haikai-no-
renga; desde Shiki, o hokku de haikai-no-renga, considerado como um gênero independente.
Tradicionalmente, um haicai satisfaz o critério para o hokku--contendo um kigo (palavra da estação)
e kireji (palavra de corte) e é aproximadamente cinco-sete-cinco onji. Bashô enfatizou a
profundidade do conteúdo e a sinceridade do poeta como observado no poema, e não se importava
muito com kigo e kireji, no entanto, ele usava ambos e promovia kisetsu (aspecto sazonal) em
poesia; diversos de seus poemas tem ji-amari. Alguns poetas modernos do haicai tem abandonado a
forma tradicional, kigo e kireji, afirmando que haicai tem uma essência mais profunda baseada em
nossa resposta aos objetos e eventos de nossas vidas. Haicai é agora a palavra mais comum para
escrever este gênero no Oeste, se referimo-nos a poemas em japonês ou qualquer outra adaptação
ocidental.
hibiki (eco) Em haikai-no-renga, um relacionamento entre duas estrofes cujas imagens parecem
fortes na mesma maneira.
hiraku (verso ordinário) Em renga, qualquer estrofe que não seja o hokku, waikiku, daisan ou
ageku.
hokku (verso inicial) Originalmente, em renga, a primeira estrofe, que mais tarde se tornou um
poema independente, agora geralmente chamado haiku no Japão, com hokku permanecendo com
seu significado original. Por um tempo, hokku foi a palavra mais comum no inglês pelo que nós
chamamos haiku. Veja haiku.
hosomi (delgadez) Em haikai-no-renga e haiku, empatia, algumas vezes beirando as idéias
pateticamente falsas.
hyakuin (cem versos) Uma renga de cem estrofes, o comprimento mais popular antes de Bash .
ichigyoshi (poema de uma coluna) Equivalente a “poema de uma linha” em inglês; um termo
pejorativo usado por poetas tradicionais de haicai quando referindo-se ao haicai moderno em forma
irregular. (Nota: bastante diferente da forma tradicional ji-amari).
ji (fundo) Em renga, um termo para uma estrofe relativamente inexpressiva que serve como um
fundo para aquelas mais expressivas (mon).
jik (estação, clima) Na lista de palavras sazonais, uma categoria incluindo fenômenos climáticos e
sazonais, tais como “dia de primavera”, “calor protelado” (em outono) etc.
jinji (relações humanas) Na lista de palavras sazonais, uma categoria alternada usada em algumas
referências modernas, que inclui tanto gyoji como seikatsu.
kaishi (papel de bolso) Folhas de papel usadas para escrever poemas, especialmente renga.
kanshi (poema chinês) Poema em chinês clássico escrito por um japonês.
kaori (perfume, fragrância) Em haikai-no-renga, uma relação entre duas estrofes em que ambas
evocam a mesma emoção usando diferentes imagens.
karumi (leveza) Em haikai e haiku, a beleza de coisas ordinárias.
kasen (gênio poético) Originalmente, um dos trinta e seis grande poetas da antiguidade; por isso a
renga de trinta e seis estrofes, o comprimento preferido de Bash .
katauta (poema à parte) Uma forma tradicional de verso da era Manyoshu, tipicamente em cinco-
sete-sete onji. Veja sedoka.
kidai (tópico sazonal) Em tanka e haiku, um tópico sobre o qual um verso é composto. Pode ser um
kigo específico ou algum evento sazonal ou uma combinação. Veja kisetsu.
kisetsu (estação, aspecto sazonal) As estações. Os aspectos sazonais do vocabulário (kigo) e o
assunto (kidai) de tanka, renga e haicai tradicional; um sentimento profundo sobre a passagem do
tempo, como conhecido via ou em objetos e eventos do ciclo sazonal (Veja aware).
kig (palavra sazonal) O nome de uma planta, animal, condição climática ou outro objeto ou
atividade tradicionalmente conectada com uma estação específica na poesia japonesa.
kireji (palavra de corte, que indica uma pausa entre as duas partes do haicai) Em hokku e haicai,
uma palavra ou sufixo que indica uma pausa e geralmente vem no final de uma das divisões formais
ou no final. Um kireji pode ser usado dentro da segunda unidade ritmica, quebrando o poema em
cinco-três-quatro-cinco onji, por exemplo. Os dois tipos são verbos e sufixos adjetivos que podem
terminar uma cláusula, e palavras curtas que marcam ênfase, um tipo de pontuação falada. Alguns
comuns kireji:
ka—ênfase; no final de uma frase, faz uma pergunta;
kana—enfâse; geralmente no fim de um poema, indica a percepção do autor sobre o objeto, cena ou
evento.
-keri—sufixo verbo, (passado) tempo perfeito, exclamativo.
-ramu or -ran—sufixo verbo indicando probabilidade, tal como “pode ser que...”
-shi—sufixo adjetivo; usado para terminar uma cláusula, corresponde a um adjetivo predicativo em
inglês, como em mine takashi “o cume é alto”.
-tsu—sufixo verbo. (presente) tempo perfeito.
ya—ênfase; tem o efeito gramatical de um ponto e virgula, separando duas cláusulas independentes
(não necessariamente completas gramaticalmente); dá um senso de suspensão, como uma elipse.
O haicai não-japonês não faz uso do kireji. Para substituí-lo, nós ocidentais, usamos nosso
travessão, virgula ou outra forma de pausa. Como na definição acima, kireji significa 'palavra de
corte', isto é, um termo como ´ka´, ´kana´ quando presente no haicai japonês pode indicar uma
pausa completa ou ainda representar uma exclamação tal como o nosso oh! borboletas!
kouta (canção curta) Canções populares, frequentemente em forma dodoitsu.
ky ka (poema louco) Poema comico em forma de tanka, frequentemente vulgar.
maeku (verso prévio) Em renga, tsukeai e maekuzuke, a estrofe anterior, na qual uma outra deve ser
adicionada; a primeira de um par de estrofes.
maekuzuke (juntando a um verso prévio) Um jogo baseado na renga, no qual um lado participante
dá uma estrofe (maeku) para a qual um outro, adiciona uma estrofe a ser ligada (tsukeku); um par
conectado resultando do jogo, um precursor do senry .
mankuawase (coleção de versos miriades) Uma antologia de tsukeku selecionado e publicado como
um resultado de um concurso de maekuzuke.
mon (padrão) Em renga, uma estrofe relativamente impressiva que se destaca entre as estrofes
comuns. Veja ji.
mono no aware (a conexão das coisas). Veja aware
mushin (sem coração) Da renga, frívolo, sem preocupação com o ideal clássico de beleza em
assunto e dicção apropriados, mas destacando o humor e a linguagem não convencional. (Outros
significados em outros contextos). Veja ushin.
nagauta (poema longo) Veja ch ka.
nioi (aroma, cheiro) Veja kaori.
on (som) Em poesia, a menor unidade métrica, representada por um único caracter escrito.
Abreviatura para onji.
onji (símbolo de som) Um caracter do silabário fonético japonês; portanto, um termo técnico para a
menor unidade métrica da poesia japonesa—equivalente a mora na prosódia em latim (não
simplesmente “uma sílaba”, como é geralmente traduzido).
renga (poema ligado) Um poema de estrofes alternadas de nominalmente cinco-sete-cinco e sete-
sete onji, geralmente composta por dois ou mais poetas, e desenvolvendo textura pela mudança
entre diversos tópicos tradicionais sem progressão narrativa. A renga típica é composta de 36, 50,
100, 1000 ou mais estrofes.
rensaku (trabalho ligado) De sequências de haiku e tanka, um trabalho mais longo composto de
haicai individual ou tanka que funciona como estrofes do todo, e não são independentes. Veja
gunsaku.
rens (idéias ligadas) Em renga e haiku, a associação de imagens de uma estrofe a outra, ou dentro
de um verso.
renku (verso ligado) Originalmente, verso ligado em chinês; agora um termo moderno para renga,
especialmente o haikai-no-renga de Bash e poetas posteriores.
sabi (patina/solidão) Beleza com um senso de solidão no tempo, mais relacionado a, mas mais
profundo do que nostalgia
sed ka (repetir a cabeça do poema) Uma forma de verso tradicional com estrofes métricas idênticas,
geralmente katauta, encontrada principalmente no Manyoshu. Algumas vezes compostas como
perguntas e respostas por dois diferentes grupos, e assim um precursor de renga.
seikatsu (vivência, vida) Na lista de palavras sazonais, uma categoria incluindo atividade humana,
tal como lavoura, trabalho, brincadeira.
senry (salgueiro do rio) Um poema humorístico ou satírico que trata sobre atividades humanas,
geralmente escrito na mesma forma como haiku. Derivado do nome de um seletor popular de
maekuzuke.
shibumi (astringência) A beleza de imagens discretas, em vez de vibrantes. Clássico, em lugar de
Romântico, com gosto.
shikishi (papel quadrado) Uma folha quadrada de papel pesado para escrita e pintura,
frequentemente usado para um poema curto.
shinku (verso fechado) Em renga, uma relacionamento próximo entre duas estrofes em sequência.
Veja soku.
shiori (curvando, murchando) Em haikai e haiku, simpatia misturada com ambiguidade; refere a
versos com imagens delicadas, quase patéticas.
sh f (abreviatura para “estilo de Bash ”) Em haikai e haiku, no estilo refinado de Bash , em lugar
dos estilos anteriores, menos trabalhados.
shokubutsu (plantas) Na lista de palavras sazonais, uma categoria incluindo plantas, flores, árvores,
frutas, etc.
soku (verso distante) Em renga, um relacionamento distante entre duas estrofes em sequência. Veja
shinku.
sono mama (como é) Em haicai e haiku, apresentar algo ou um evento tal como é, sem exagêros ou
emoções.
tanka (poema curto) Um poema lírico com a forma típica cinco-sete-cinco-sete-sete onji (veja ji-
amari). Em muitas maneiras equivalente ao soneto no Oeste, a tanka foi o primeiro gênero de
poesia japonêsa dos tempos de Manyoshu até o século quatorze, e ainda floresce. Agora também
chamada waka ou uta.
tanrenga (poema curto ligado) Um têrmo moderno para uma tanka anciente composta por dois
autores, formalmente chamado renga, para distinguí-la da renga mais longa de tempos posteriores.
tanzaku (folha com tanka) Uma tira estreita de papel na qual uma tanka ou haiku pode ser escrito.
tenmon (astronomia) Na lista de palavras sazonais, uma categoria incluindo fenômeno do céu,
precipitação, etc.
tsukeai (colocando junto) Em renga, a ligação de uma estrofe à outra, ou seja, um par de estrofes
ligadas.
tsukeku (verso adicionado) Em renga, tsukeai, e maekuzuke, o segundo de um par de estrofes
ligadas.
ukiyo (mundo flutuante) Originalmente, um termo budista indicando a natureza efêmera da vida;
posteriormente, um nome para os quartéis de diversões de grandes cidades.
ushin (com coração) De renga, sincero, isto é, preocupado com a ideal clássico de beleza,
empregando somente dicção clássica, etc. Veja mushin.
uta, ou -ka ou -ga em composições (canção, poema) Termo genérico para poesia tradicional em
japonês, excluindo todas as formas de versos estrangeiros; agora uta é praticamente sinônimo de
tanka.
uta-awase (competição de poema) Na tradição da velha corte japonêsa, o pretexto para uma festa,
na qual os participantes compunham tanka sobre dai assignado. Os resultados eram julgados, e
geralmente eram distribuídos prêmios. Mushin renga começou como um tipo de jogo para os
participantes, uma vez que a seriedade do negócio de compor e julgar tanka terminou.
utsuri (reflexão) Em renga, um relacionamento entre estrofes na qual há um senso de movimento
ou transferência entre elas; também pode haver alguma harmonia visual entre as imagens.
wabi (solidão, pobreza) Beleza com um senso de ceticismo; beleza austera.
waka (poema japonês) Poesia tradicional em linguagem e estilo japonês, particularmente aquelas
variedades encontradas em Manyoshu. Hoje, virtualmente sinônimo de tanka.
wakiku (verso à parte) Em renga, a segunda estrofe.
y gen (mistério) Elegância, mistério, profundidade. (Diversos volumes completos em japonês são
dedicados a esta palavra, particularmente em relação ao no drama).
O Haicai e Suas Teorias
Bibliografia
__________________
HIGGINSON, William J. 1985. The Haiku Handbook. New York: Kodansha International, 338p.
REICHHOLD, Jane. Writing and Enjoying Haiku - A Hands-on Guide. 2002. New York: Kodansha
International, 165p.
ROSS, Bruce. 1993. Haiku Moment - An Anthology of Contemporary North American Haiku.
Boston: Charles E. Turtle Company, Inc., 331p.

Você também pode gostar