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Os Temas da Guerra.
Estudo exploratório sobre o enquadramento temático
da Guerra do Iraque na Televisão
Telmo Gonçalves1
A Guerra do Iraque foi o conflito inter- Foi na madrugada desse dia que o presidente
nacional mais mediatizado dos últimos tem- norte-americano e os media nos deram conta
pos. Cidadãos de diferentes pontos do globo «em directo» do começo do conflito, que
seguiram de perto, nomeadamente através das vimos deflagrar diante dos nossos olhos
televisões, a evolução de mais um conflito através dos ecrãs de televisão. Uma estação
nas areias do deserto iraquiano, que rapida- de televisão portuguesa, a RTP, teve mesmo
mente se transformou num hiperaconteci- a «felicidade» de ser a primeira a transmitir
mento mundial. Os media prepararam com em directo o início dos bombardeamentos
tempo a grande cobertura mediática de um sobre Bagdade, antecipando-se em poucos
conflito anunciado. Em finais de Janeiro de minutos às grandes cadeias de televisão
2002, no seu discurso do Estado da União, globais.
celebrizado pela metáfora do «eixo do mal», Uma dupla de reportagem, formada por
George W. Bush deixou claro que as ope- Carlos Fino e Nuno Patrício, da janela de
rações em curso no Afeganistão constituíam um quarto de hotel estrategicamente
apenas a primeira fase de uma estratégia posicionado com vista sobre o rio Tigre, fez
global mais vasta. «Aquilo que encontrámos o relato dos primeiros bombardeamentos à
no Afeganistão confirma que, longe de acabar capital iraquiana. As imagens do relato trans-
aqui, a nossa guerra contra o terror está mitidas através de videofone dificilmente
apenas no início»2, declarou o presidente dos deixavam perceber aquilo que se estaria a
EUA, apontando a Coreia do Norte, o Irão passar: pontos de luz a piscar no ar, a imagem
e o Iraque como os pólos da grande ameaça pouco definida do repórter na varanda, uma
terrorista à paz mundial. A administração vista quase imperceptível sobre uma parte da
norte-americana foi deixando perceber que cidade... No entanto, são estas imagens de
o Iraque constituiria a fase seguinte da Guerra fraca definição que povoam a nossa memória
ao Terrorismo. como marco simbólico do início deste con-
No dia 20 de Março de 2003, poucos flito. A própria RTP não se cansou de re-
minutos depois das 2.30h da madrugada, forçar o simbolismo do momento, difundin-
mostraram-se em directo na televisão os do insistentemente um «spot»
primeiros sinais da guerra. As operações autopromocional a recordar o feito excepci-
militares terrestres já tinham começado pelos onal de ter transmitido «em exclusivo» - três
menos um dia antes 3. Mesmo antes da minutos antes da CNN !(cf. Santos, 2003:
apresentação do problema do Iraque ao 26) – os primeiros bombardeamentos da
Conselho de Segurança, em Setembro de Guerra do Iraque.
2002, que conduziu à Resolução 1441, os
EUA já tinham decidido intensificar os Da «comunicação estratégica» à «guerra
bombardeamentos aéreos sobre a zona de em directo»
exclusão aérea, de forma a destruir os sis-
temas de comunicações e de defesa aérea As primeiras bombas sobre Bagdade
iraquianos, preparando assim o «campo de iniciaram uma outra guerra, paralela àquela
batalha» para uma ofensiva terrestre (Clark, que se travava no terreno, mas com efeitos
2004: 41). Terá sido esta a primeira fase da decisivos na condução político-estratégica das
guerra, discreta e invisível, mas extraordi- operações. Os media constituem, com as suas
nariamente decisiva e também letal. possibilidades tecnológicas de mediatização,
Será, no entanto, o dia 20 que ficará na parte integrante dos conflitos internacionais
história a marcar o início da Guerra do Iraque. e das equações estratégicas dos contendores.
204 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
como sucede com os militares envolvidos nas esta guerra foi tematicamente enquadrada.
missões operacionais4. A opção pela incor- Pretendemos, mais precisamente, demonstrar
poração de jornalistas também se justificava quais as problemáticas que, numa perspec-
para evitar as críticas recorrentes dos media tiva macro do fenómeno da guerra, foram
à Administração norte-americana e ao privilegiadas nas opções editoriais da RTP1,
Pentágono, como aconteceu nos conflitos de uma das cadeias de televisão nacionais que
Granada, Panamá, primeira Guerra do Golfo mais investiram e se destacaram na cober-
e Afeganistão. tura deste conflito.
Estima-se que terão sido mobilizados no A hipótese que submetemos aqui a um
total mais de 3000 jornalistas para a região primeiro teste é a de saber se os
durante o conflito, alguns deles a trabalhar enquadramentos mediáticos da Guerra do
numa espécie de versão «embedded» junto Iraque privilegiaram essencialmente os fac-
das autoridades iraquianas. Foram, no entan- tores relacionados com a dimensão estraté-
to, as televisões árabes Al-Jazeera e Abu gico-militar do conflito, anulando outras
Dhabi TV, reportando a guerra através do seu problemáticas importantes para a construção
enquadramento sócio-culutral e usufruindo de de uma percepção multidimensional de um
maior liberdade de acção no lado iraquiano, dos fenómenos sociais mais complexos e
quem terá causado mais problemas à estra- dramáticos que qualquer sociedade pode
tégia da coligação, divulgando as primeiras conhecer.
imagens de soldados americanos mortos e de
vítimas civis dos bombardeamentos sobre «Framing» e enquadramentos temáticos
Bagdade.
O cenário de comunicação da Guerra do A abordagem do framing, que conta com
Iraque foi significativamente diferente, mas mais de duas décadas de evolução nos es-
a questão central que se levanta no estudo tudos do jornalismo, apresenta-se-nos como
do fenómeno de hipermediatização dos con- um bom quadro teórico de referência para
flitos permanece a mesma. Em síntese, trata- o desenvolvimento da nossa problemática.
se de saber de que forma os actores político- Esta corrente de investigação vai buscar as
estratégicos e os media interagem na cons- suas bases teóricas à sociologia de Erving
trução da percepção pública da guerra. Goffman, transpondo para a análise do dis-
Responder a esta questão implica, por um curso jornalístico a noção de «frame» desen-
lado, investigar em que medida as concep- volvida pelo sociólogo na sua obra Frame
ções das elites políticas e militares influen- Analysis (1974). Na tese de Goffman, os
ciaram os enquadramentos através dos quais enquadramentos surgem como princípios
os media foram construindo a narrativa básicos de organização das nossas experiên-
mediática da guerra, e, por outro lado, tentar cias, que operam uma espécie de «corte»
conhecer de que forma os constrangimentos artificial sobre a realidade de forma a con-
de mediatização de uma realidade tão com- ferirem-lhe um sentido, definindo não só a
plexa como é uma guerra, associados a uma forma como interpretamos as situações, mas
certa mitificação que o jornalismo de guerra também como interagimos com os outros. «[A
recebe na cultura jornalística, concorrem para definição de uma] situação é construída em
a definição dos enquadramentos que definem concordância com princípios de organização,
em grande medida a construção da nossa os quais governam os acontecimentos – pelo
percepção da realidade. menos os sociais – e o nosso envolvimento
O trabalho que aqui trazemos não tem subjectivo neles... ‘frame’ é a palavra que
propósitos tão ambiciosos. Trata-se de um utilizo para me referir a tais elementos
estudo exploratório que concorre para esse básicos...», explica Goffman (1974: 10 e 11).
grande objectivo último, mas que se circuns- Em síntese, os enquadramentos apresentam-
creve apenas a um aspecto particular dos se como os processos através dos quais as
enquadramentos mediáticos operados por um sociedades reproduzem sentido, estruturando
canal de televisão nacional durante a primei- a nossa experiência individual da realidade.
ra semana do conflito no Iraque. O que É com base nesta proposta que se vão
pretendemos dar a conhecer é a forma como desenvolver os estudos pioneiros da aborda-
206 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
crítérios de actividade social no es- com o mínimo de prejuízos, no mais curto espaço
paço público (...), o domínio cénico de tempo. É neste contexto que surge a noção
constitui a estruturação desse campo de estratégia integral, que estende a reflexão
como o ‘universo referencial’ que o do fenómeno da guerra muito além do estrito
media constrói. Este universo domínio da aplicação do potencial militar.
referencial não corresponde por isso De acordo com o que sugere a noção de
a um corte apriorístico do conteúdo, estratégia integral, podemos analisar o fenó-
ele depende do papel que jogam os meno da guerra segundo as diferentes for-
actores implicados no acontecimento mas de coacção que um actor político pode
relatado: seja um papel de acção, seja mobilizar na resolução de um conflito:
um papel de palavra. (...) O critério coacção militar, coacção político-diplomáti-
para definir o domínio cénico é, assim, ca, coacção económica e coacção psicológi-
um critério de’actancialização (quem ca. A cada uma destas formas de coacção,
faz o quê sobre quem?), descrevendo corresponderá um domínio específico de
os «actantes», os processos nos quais acção estratégica. Teremos, assim, uma es-
eles se encontram implicados e as tratégia psicológica – responsável pela ac-
finalidades que é suposto prossegui- ção dirigida às opiniões públicas e às forças
rem, e de declaração (quem fala a morais (civis e militares) do campo do
quem a propósito do quê?), descre- adversário (propaganda, contrapropaganda e
vendo os sujeitos da palavra, o valor informação); uma–estratégia político-diplo-
discursivo desta e a finalidade que eles mática – centrada na acção dos actores
visam.» (2001: 33). políticos e diplomáticos (política interna e
política externa); uma estratégia económica
É através da forma como os actores – responsável pela criação e rentabilização
intervêm no discurso jornalístico, das qua- de recursos económico-financeiros para a
lidades em que participam (políticos, mili- prossecução dos objectivos político-estraté-
tares, diplomatas, agentes humanitários, ci- gicos e pela redução das capacidades eco-
vis...) na acção e dos seus actos de discurso nómicas das forças adversas (produção, fi-
que se define em grande medida o enqua- nanceira, comércio externo...); e, por fim, uma
dramento temático dos acontecimentos. É, estratégia militar – responsável pela com-
neste sentido, centrado na forma como o binação dos diferentes recursos do potencial
discurso jornalístico reproduz as acções e militar (terrestre, marítimo e aeroespacial)
apresenta os seus actores, bem como as (Cf. Couto, 1989: 227-239).
selecções que opera dos seus actos de pa- É com base neste quadro de referência
lavra, que pretendemos operacionalizar neste que os actores políticos e militares conce-
estudo o enquadramento temático como bem uma manobra estratégica integrada,
categoria analítica. reflectindo cada domínio de acção uma
problemática particular em que se pode
a) Macrotemas subdividir a análise do fenómeno da guerra.
Propomos a utilização deste racional para a
As teorias da estratégia, que têm por definição dos macrotemas da análise da
objecto central o estudo das situações reais guerra, acrescentando-lhe a dimensão civil,
e potenciais de conflito com que uma «uni- que, naturalmente, ele não integra. Conside-
dade política» se pode defrontar (Cf. Couto, ramos, assim, cinco enquadramentos
1989: 195), oferecem-nos um quadro macrotemáticos na nossa análise:
multidimensional para reflectirmos sobre o - estratégico-militar: todas as acções que
fenómeno da guerra. As concepções estra- representem opções da condução da estraté-
tégicas contemporâneas adoptam uma visão gia militar da guerra e/ou operações milita-
integrada de todo o processo de conflito, res efectivas (terrestres, aéreas, marítimas) –
sugerindo que a boa acção estratégica é aquela (p. ex., análises de especialistas sobre a
que consegue rentabilizar com eficácia os condução da estratégia da guerra, actores
diferentes recursos de uma «unidade políti- políticos ou militares a comentar a evolução
ca» com vista a atingir objectivos políticos das operações, tropas em combate);
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será certamente interessante num estudo mais ção do pivô e qualquer outro elemento de
global, que não teríamos hipótese de desen- mediatização introduzido pela sua «voz». Esta
volver no contexto de um trabalho opção justifica-se porque é o «lead» do pivô
exploratório. que tem como objectivo conferir um primei-
ro sentido de enquadramento ao conteúdo de
Aspectos metodológicos outros géneros jornalísticos. Considerámos,
assim, diferentes formatos da mediatização
Os dados apresentados neste estudo são que utilizámos também como indicadores
resultado do desenvolvimento de uma aná- complementares para análise. No conjunto
lise quantitativa dos telejornais da RTP1, dos sete programas, foram analisados 199
emitidos entre os dias 20 de Março de 2003 itens, cujo conteúdo se encontrava ligado ao
e 26 de Março de 2003. Para a cobertura conflito no Iraque, e classificados 37 itens
da Guerra do Iraque, este canal de serviço referentes a outros assuntos.
público de televisão adoptou um modelo de Na análise dos enquadramentos
informação em contínuo, com a abertura na macrotemáticos, procedemos, como referimos
grelha de emissão de espaços informativos anteriormente, a uma classificação gradativa,
especiais («Jornal da Guerra», «Diário da segundo a qual todos os itens eram anali-
Guerra»), tentando dar aos seus telespecta- sados em quatro níveis: sem significado,
dores a sensação de cobertura em tempo real significado mínimo, significado moderado e
da evolução do conflito. A grelha de alinha- significado acentuado. Na análise dos resul-
mento global da estação ficou, assim, subor- tados finais, concluímos que os níveis inter-
dinada às expectativas de evolução dos médios («significado mínimo» e «significa-
acontecimentos, o que lhe permitiu, por do moderado») não apresentavam relevância
exemplo, emitir em directo o início dos estatística, pelo que optámos por agregar os
bombardeamentos sobre Bagdade. seus resultados aos outros dois níveis (res-
Apesar desta opção editorial, segundo a pectivamente, «sem significado» e «signifi-
qual as exigências da informação ultrapas- cado acentuado»).
sam qualquer lógica de programação pré- Para análise dos enquadramentos
definida, ocupando espaços que tradicional- microtemáticos, uma vez que poderiam surgir
mente são designados para o entretenimento, numa forma afirmativa, negativa ou neutra,
este canal da RTP manteve no mesmo ho- optámos por considerar esses três campos de
rário o programa Telejornal, aproveitando este classificação, o que se revelou infrutífero
momento tradicional de encontro com o seu neste estudo, pois todos os itens com refe-
público para dar as últimas novidades sobre rência a microtemas apresentaram-se-nos
a evolução do acontecimento e fazer um ponto sempre na forma «afirmativa». Pensamos, no
de situação sobre a cobertura geral da guerra entanto, que as três possibilidades de clas-
durante o dia, além de apresentar ainda outros sificação poderão fazer sentido em análises
assuntos que marcavam a actualidade. A futuras.
manutenção do formato habitual deste pro-
grama de informação facilitou a constituição Resultados
do corpus de análise do nosso estudo, pois
seria praticamente impossível não só obter O período analisado coincide com a fase
registos completos de todos os especiais de inicial da ofensiva terrestre da tropas da
informação realizados sobre a guerra, como coligação em território iraquiano, que pode-
também conseguir em pouco tempo, sem uma mos considerar «a primeira fase da guerra»
equipa de investigação, analisar um volume (cf. Clark, 2004). Nos primeiros três dias (20
de elementos tão vasto. Partimos, assim, do a 22), assistimos aos bombardeamentos sis-
pressuposto de que as edições do Telejornal temáticos sobre a capital iraquiana (à ten-
constituem uma «amostra» substantiva da tativa de «capitulação» de Saddam Hussein
cobertura geral da Guerra do Iraque reali- e à campanha «Choque e Pavor», como
zada pela RTP1. anunciou o secretário da Defesa norte-ame-
Como unidade de análise básica utilizá- ricano), aos confrontos entre tropas terrestres
mos o conjunto constituído pela apresenta- e à sua progressão no terreno em direcção
210 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Os efeitos directos e indirectos da guerra a acção dos media durante as várias fases
sobre as populações civis encontram-se pre- da crise iraquiana, que aponta para a existên-
sentes com um significado «moderado» ou cia de uma diferença substantiva no destaque
«acentuado» em cerca de um terço dos itens que a imprensa (Sun, Daily Mirror, Daily
dos telejornais (Anexo – Gráfico 3i). É, assim, Telegraph, Guardian) e as televisões (BBC,
a terceira dimensão da problemática geral da ITN) conferiram às justificações da guerra
guerra mais destacada, registando uma ten- durante a fase de invasão. A investigação de
dência estável ao longo de toda a semana, Howard Tumber e Jerry Palmer constata a
com uma excepção no 3º dia, em que ganha existência de uma desproporção drástica entre
maior destaque (Anexo – Gráfico 3j). a atenção conferida pelas televisões aos
aspectos relacionados com a condução da
b) Onde estão os temas da controvérsia? guerra e a atenção prestada às justificações
e consequências políticas a longo prazo
Tabela 1 - Enquadramentos (2004: 96-113). A partir do momento em que
Microtemáticos Bagdade passa a ser dominada pelas forças
da coligação, segundo o mesmo estudo,
Temas Coligação Temas Adversos verifica-se uma mudança dramática do focus
Armas de atenção das televisões, que passa a con-
Legalidade
de Destruição 10
Internacional
7 centrar-se mais nas consequências da guerra
Massiva
do que na sua condução, enquanto a impren-
Interesses
Ligação Terrorismo 1
Económicos
0 sa mantém uma tendência mais equilibrada
Diabilização Choque
entre as duas dimensões (2004: 102).
4 1
Regime Iraquiano Civilizacional
Total 15 Total 8 Conclusão
O dado mais surpreendente com que nos As conclusões que podemos extrair de um
fomos deparando ao longo do estudo foi a estudo exploratório terão de ser sempre
constatação de uma quase ausência dos sujeitas a uma interpretação ainda mais atenta
microtemas mais recorrentes que alimenta- e rigorosa do que as das investigações aca-
ram – e que ainda alimentam – a esfera de badas, sobretudo quando se trata de análises
controvérsia gerada em torno do debate empíricas exclusivamente quantitativas, ex-
público sobre a intervenção militar no Iraque. traordinariamente úteis como ponto de par-
Apenas 10 por cento dos itens do conjunto tida, mas que tendem a deixar de lado
dos telejornais apresentaram alguma ligação pormenores importantes que só uma análise
com pelo menos um dos seis temas que qualitativa poderá relevar.
definimos no nosso modelo de análise (Ane- Realizámos este trabalho com a intenção
xo – Gráfico 4a). de testar conceitos, um modelo de análise
Nos poucos casos identificados, os temas e a razoabilidade de algumas hipóteses, na
da coligação anglo-americana representam expectativa de encontrarmos caminhos mais
quase o dobro dos temas adoptados pelas seguros para progredirmos na investigação
visões anti-coligação ou pró-iraquianas. No da sua problemática central. A evolução desta
conjunto de todos os temas, a questão das investigação deverá passar não só pelo alar-
armas de destruição maciça foi a mais fre- gamento do seu corpus, tanto no tempo como
quente, enquanto a problemática da falta de nos sujeitos analisados, mas também pela
legitimidade internacional surge em segundo concepção de um modelo de análise quali-
lugar. A questão das possíveis motivações tativa, que contemple outros dispositivos de
económicas por detrás do conflito não é enquadramento mediático, além dos
colocada; a ligação do regime de Saddam a enquadramentos temáticos. Permitimo-nos, no
grupos terroristas e a visão do problema pelo entanto, sublinhar uma conclusão no contex-
prisma do modelo «choque de civilizações» to do nosso corpus, que é limitado, mas
aparecem uma vez. espelha parte significativa da atitude edito-
Estes resultados vão ao encontro das rial de uma estação de televisão num período
conclusões apuradas num estudo recente sobre crucial da Guerra do Iraque.
212 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Se as notícias são, como descreve to, ofereceu aos seus telespectadores uma
Tuchman, «uma janela para o mundo», que versão essencialmente unidimensional do
«pretendem dar-nos aquilo que queremos fenómeno da guerra, com uma excelente vista
saber, necessitamos de saber e devemos para a «frente de combate», mas de costas
saber» (1978: 1), a janela dos telejornais da voltadas à controvérsia sobre a sua existên-
RTP1, durante a primeira semana de confli- cia.
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Anexo
1. Agenda Geral
2. Modalidades da Mediatização
JORNALISMO 215
3. Enquadramentos Macrotemáticos
216 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 217
218 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
4. Enquadramentos microtemáticos