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Universidade-Rovuma
Nampula
2020
Herculano Silvestre José
Universidade-Rovuma
Nampula
2020
Índice
Introdução............................................................................................................................2
Crise psicossocial.........................................................................................................6
Conclusão..........................................................................................................................24
Bibliografia
Introdução
1
desconfiança básica. Este estádio é marcado pela relação e cuidados que a mãe
estabelece com o bebé no primeiro ano de vida. Com o nascimento, a criança sente o
desconforto da sua homeostase imatura (Erikson, 1968, 1976). Esta é compensada pela
regulação mútua entre a atitude receptiva da criança e a prestação de cuidados por parte
da mãe no sentido de lhe fornecer o alimento, sendo o seio materno propiciador do
encontro criança mãe.
Assim, a homeostase da criança é mantida por esta mutualidade entre a
necessidade de receber da criança e a necessidade de dar da mãe. A boca do bebé é o que
lhe possibilita a vida através da obtenção do alimento, sendo por isso mesmo este estádio
caracterizado pela forma incorporativa (o que a psicanálise designa por estádio oral).
É através da continuidade, consistência e regularidade desta interacção criança
mãe, em que a criança sente necessidade e a mãe a satisfaz, que a criança vai aprender a
confiar na mãe, no mundo e em si própria (Erikson, 1968, 1976, 1980). A questão base
deste estádio poderia enunciar-se do seguinte modo: "O mundo é seguro, previsível e
protector?". O objectivo deste estádio é o atingir uma síntese, um sentido dinâmico entre
a confiança básica e a desconfiança básica, originando a virtude da "esperança", ou seja, a
crença de que "apesar das coisas não estarem a correr bem no momento, se resolverão no
futuro".
Deste modo, se a relação com a mãe é compensadora, existindo uma
correspondência entre o sentir das necessidades e a sua satisfação regular e consistente, a
criança sente-se segura, desenvolvendo uma atitude de confiança face ao mundo como
local seguro e previsível. Erikson (1968,1976,1980) define a confiança básica como uma
segurança íntima em relação a si próprio e ao mundo. A confiança básica cria na criança
um sentimento de ser aceite, de ser ela mesma, dito de outro modo, de se sentir
semelhante e simultaneamente única.
Por outro lado, se a relação não é satisfatória, verificando-se a inconsistência e
irregularidade dos cuidados maternos na satisfação das necessidades da criança, irá
desenvolver sentimentos de medo que conduzirão a uma atitude de desconfiança, de
medo e insegurança face aos outros e ao mundo.
A construção do sentimento de confiança ocorre com a associação por parte da
criança da regularização das funções vitais sono, alimentação e controle esfincteriano às
pessoas que lhe proporcionam o conforto. No entanto, a aquisição do sentido de
confiança está dependente da qualidade da relação mãe criança e não na quantidade de
alimento e amor fornecidos (Erikson, 1968, 1976). É, pois esta relação que lhe vai
permitir a aquisição de um sentimento rudimentar de identidade.
Erikson (1968, 1980) refere que a aquisição de um sentimento de confiança básica
é fundamental para a personalidade saudável, sendo a desconfiança básica a principal
fonte de problemas psicopatológicos.
Segundo Erikson (1968, 1976) existem vários factores que podem afectar a
qualidade da relação mãe - filho tais como, o desenvolvimento da mãe como mulher, o
amor que recebe de outras pessoas e o que possui por si própria, o modo como viveu a
sua gravidez e parto, o seu meio sociocultural, as suas atitudes inconscientes para com o
seu filho e as respostas do recém nascido.
As pessoas que cuidam da criança, normalmente os pais, influenciam o modo
como a resolução da crise deste estádio se processa. Para além da estabilidade emocional
que os pais devem possuir, a adopção de uma atitude securizante é fundamental para a
resolução bem sucedida da crise. Quer a atitude de superprotecção quer a atitude de
negligência são reveladoras do não atingir de um balanço entre os pólos confiança vs.
Desconfiança.
4.2. Estádio 2 - Autonomia vs. Vergonha e dúvida
A questão base subjacente a este estádio pode ser enunciada do seguinte modo
"Sou capaz de fazer as coisas sozinho, ou preciso de ajuda?", sendo o atingir da
síntese dinâmica entre a autonomia e a vergonha e dúvida traduzida pela virtude da
"vontade", o sentimento de ser capaz de fazer, com adequada modéstia. Neste estádio, a
criança está apta a explorar activamente o meio que a rodeia. Se for encorajada,
desenvolve autonomia e auto-suficiência. Se for muito protegida e controlada, desenvolve
um sentimento de dependência, de vergonha em se expor, de dúvida em relação às suas
capacidades de desenvolver actividades sozinha, dependendo muito da aprovação das
pessoas.
Se, por um lado, o controlo parental excessivo não facilita a resolução balanceada
da crise, por outro lado, a ausência de controlo parental traduz-se em resultados
semelhantes. O papel dos pais deve caracterizar-se por um controlo que reforce as
decisões da criança protegendo-a de experiências potencialmente geradoras de vergonha
e dúvida. Só desta forma a criança se poderá sentir responsável e confiar nas suas
capacidades desenvolvendo a autonomia.
A vergonha, por seu lado, surge face à desaprovação e exposição parental quando
a criança não consegue controlar o seu corpo (os intestinos e outras funções), sendo esta
desaprovação e exposição sentidas pela criança. Este sentido de vergonha conduz a
criança a sentimentos de ser "mau" que segundo Costa (1991) parece estar associado com
as personalidades borderline.
Em síntese, quando é atingido um balanço equilibrado ou uma síntese entre estes
pólos (autonomia vs. vergonha e dúvida) desenvolve-se um sentimento de autocontrole,
de boa vontade e de orgulho, a criança sente-se independente e autónoma. Quando, por
outro lado, a criança não consegue desenvolver a sua autonomia, o sentimento de perda
de autocontrole e a tendência para a vergonha e para a dúvida desenvolvem-se.
4.3. Estádio 3 - Iniciativa vs. Culpa
Aquando da emergência deste estádio a criança encontra-se com
aproximadamente três anos de idade. Neste período, podem ressaltar-se os seguintes
aspectos ao nível do seu desenvolvimento: a criança apresenta capacidades motoras que
lhe permitem locomover-se rapidamente o que alarga o seu raio de acção e lhe permite
explorar o mundo que a rodeia; apresenta agora maior competência linguística sendo
capaz de manter conversas com os outros e de lhes colocar questões aumentando
exponencialmente os seus conhecimentos; e, possui curiosidade e imaginação
envolvendo-se em múltiplos jogos "de faz de conta" onde experimenta diferentes papéis,
identificando-se com as pessoas que admira e aprecia, normalmente as figuras
significativas. Estas aquisições conduzem a criança a desenvolver um sentimento de
iniciativa ao nível do que pensa e faz, base da ambição e propósito.
No estádio anterior, a criança teve a possibilidade de controlar os seus próprios
movimentos no sentido da sua autonomia estando consciente da sua independência.
Segundo Erikson (1968, 1976) a criança está convencida de que é uma pessoa
independente e deve agora descobrir que espécie de pessoa poderá vir a ser no futuro. Os
jogos "de faz de conta" permitem à criança começar a pensar no que quer ser quando for
grande.
Aliada à curiosidade da criança, surgem nesta fase a que Freud designa de fálica,
preocupações e interesses por questões sexuais. Assiste-se a uma excitabilidade genital
rudimentar e o desejo de ser como o pai ou como a mãe, ocorrendo um incesto
imaginário da criança para com o progenitor do sexo oposto designado por Freud de
Complexo de Édipo. Esta resolução do Complexo de Édipo faz com que a criança
desenvolva a iniciativa masculina ou feminina fundamental para a construção da sua
identidade. Sempre que este é resolvido com sucesso, é desenvolvido na criança o sentido
de iniciativa, sentindo que é capaz de pensar e de decidir por si própria acerca de como
agir, apresentando capacidade para iniciar acções.
Quando a resolução é acompanhada de insucesso, a criança não consegue decidir
por si própria dependendo de uma figura significativa (geralmente a mãe) para a
conduzir, o que gera nela sentimentos de culpa. As crianças tomam iniciativas e
desenvolvem as suas actividades sentindo grande prazer quando obtêm sucesso. Se não
conseguem ou não é favorecido o desenvolvimento das suas iniciativas pela repressão ou
punição dos pais, a criança sente-se culpada por desejar comportar-se segundo os seus
desejos.
No entanto, a resolução equilibrada desta crise não consiste na criança
comportar-se sempre de acordo com o que deseja. De facto, na fase edipiana surge o
super-ego, uma instância psíquica constituída pela autoridade parental introjectada. Esta
instância funciona como uma espécie de sentimento moral que sinaliza o significado do
que é permitido e do que é transgressão, criando-se limites e directrizes acerca do que é
permitido moralmente realizar. No estádio iniciativa vs. Culpa, onde a questão base é
"Sou bom ou mau?', a resolução balanceada da crise origina o sentido de propósito ou a
capacidade para a acção apesar da clara compreensão das limitações.
Também neste estádio o modelo transmitido pelos pais tem influência na forma de
resolução da crise. Segundo Erikson (1968), os pais ansiosos e exigentes conduzem ao
desenvolvimento de um super-ego primitivo, cruel e inflexível, fazendo com que a
criança se torne demasiado obediente apresentando uma inibição geral e ambiguidade
emocional, internalizando a culpa face aos fracassos. Pelo contrário, o sentido pessoal de
iniciativa é desenvolvido quando os pais são modelos de capacidade e eficácia. A criança
que conquistou um sentimento de iniciativa, aprendeu que se faz, se trabalha, é capaz de
atingir os seus objectivos. O sentimento de iniciativa torna a criança ávida por aprender e
fazer, por poder cooperar, planear e executar com outras crianças.
Erikson (1968, 1976) refere que os conflitos de iniciativa trazem consequências
psicopatológicas que se manifestarão só muito mais tarde, tais como comportamentos
histéricos de auto-restrição, a exibição super compensatória (grande exibição da sua
iniciativa) ou ainda em perturbações psicossomáticas.
4.4. Estádio 4 - Indústria vs. Inferioridade
Neste estádio, com a entrada no contexto escolar, a criança explora o mundo para
além da família. Se a criança corresponde ao que lhe é exigido no processo de
aprendizagem, a sua curiosidade é estimulada bem como o desejo de aprender. O sucesso
desenvolve nela sentimentos de auto-estima, de competência (indústria) de que e capaz
de fazer bem. Se, por outro lado, a criança se sente incapaz de atingir com sucesso as
actividades escolares, quando os seus companheiros o atingem, pode desenvolver um
sentimento de inferioridade desinvestindo nas tarefas.
O conceito de indústria é visto para Erikson como significando estar ocupado com
algo, aprender a completar algo, ter um trabalho a realizar. A criança adquirirá um
sentimento de indústria quando sente que possui a capacidade de aprender a realizar e
avaliar-se a si própria como competente, sabendo como e quando fazer. A aquisição da
indústria implica que a criança tenha resolvido com sucesso os estádios anteriores. De
facto, só com a confiança, a autonomia e a iniciativa a criança consegue produzir coisas
com firmeza, reconhecer as suas capacidades e ser reconhecida pelos outros. O insucesso
na resolução das tarefas dos estádios anteriores torna a criança mais dependente da mãe
do que de conhecimento desenvolvendo sentimentos de incapacidade e inferioridade.
No estádio indústria vs. inferioridade, onde a questão base é "Sou bem sucedido
ou sou incompetente?", a resolução balanceada da crise origina o sentido de
competência ou o sentimento de que é capaz de fazer e de fazer bem as coisas tendo
consciência dos limites quer pessoais quer externos ao eu.
A resolução balanceada deste estádio constitui-se como a base para o
desenvolvimento de uma identidade profissional que possibilita a criação de metas
possíveis e para a aquisição de um verdadeiro sentimento de realização pessoal e onde
um sentimento de incapacidade não possibilita a criação de objectivos de vida (Costa,
1991).
Mais uma vez, neste estádio também as figuras educativas são importantes e
contribuem para a sua resolução adequada. Torna-se necessário que os educadores e os
pais sejam sentidos como alvo de confiança por parte da criança de modo a que possa
haver uma identificação positiva a figuras que fazem e sabem coisas que ela ainda não
sabe. O papel dos educadores (pais e professores) que promove a aquisição de um sentido
de competência consiste em reconhecer e estimular os esforços da criança conduzindo-a
ao reconhecimento das suas capacidades e potencialidades, em atender às suas
especificidades, dando espaço para a criança se adaptar ao contexto escolar e
contribuírem para uma socialização equilibrada.
Quando a criança desenvolve um sentimento de inferioridade sente que não é
capaz, sente "que não presta para nada" (Erikson, 1968). O medo de perder a mãe, o
medo de crescer, porque isso implica sair de casa e relacionar-se com os outros, são
alguns prováveis factores que podem contribuir para uma procura de isolamento e para o
medo à escola como resposta ao seu sentimento de incapacidade (Costa, 1991).