Em 1964 foi criado o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), sendo
este o primeiro plano econômico do governo brasileiro após o golpe militar. Caracterizava-se por reformas estruturais para a implementação do Milagre Econômico, que ocorreram até 1967. O PAEG tinha como foco combater a inflação; reformar o Sistema Financeiro Nacional; criar incentivos que gerassem investimentos em setores considerados essenciais ao governo; atrair capital estrangeiro; aumentar os investimentos estatais (principalmente em infraestrutura); estabilização de preços, visando o crescimento econômico que era importante para legitimar o governo militar. Tavares e Beluzzo estuda o Milagre Econômico em dois subperíodos distintos. No período de recuperação da indústria brasileira (1967-1970) têm-se uma dinâmica cíclica tendo como condicionantes tanto as reformas efetuadas no âmbito do PAEG, quanto a existência de capacidade ociosa herdada do ciclo anterior que permitiu uma retomada rápida do crescimento sem a necessidade de investimento na criação de nova capacidade. O governo empreende uma reforma no PAEG cujo objetivo era fazer reformas estruturais que fossem adequadas à nova estrutura produtiva, criada com a internacionalização do setor de bens de consumo duráveis. Criou-se então um conjunto de reformas para modernizar a estrutura de financiamento. Empreendeu-se uma política salarial restritiva que incidia principalmente nos trabalhadores menos qualificados, o que fez com que tal política não restringisse o crescimento uma vez que não incidia sobre os trabalhadores mais qualificados (classe média) que foram instrumentos para a alavancar o crescimento econômico. A reforma tributária acarretou em um aumento e em uma centralização da arrecadação nas mãos do governo federal, ou seja, visava o aumento da arrecadação de impostos que acabou por gerar um aumento da concentração de renda. A reforma financeira se deu com a criação do Banco Central; com o Banco Nacional de Habitação (BNH) e do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), instituições bancárias voltadas para a classe média urbana que impulsionou a construção civil residencial sendo esta um elemento importante para explicar o ciclo de crescimento; e com a criação das financeiras, que eram instituições não bancárias, responsáveis pela liberação de crédito ao consumidor para financiamento de bens de consumo duráveis, sendo este o setor líder durante o período do milagre econômico. Criou-se também a possibilidade de correção monetária para títulos públicos que foi essencial para o governo confiar no financiamento não-inflacionário. Com as reformas estruturais e a capacidade ociosa herdada, o país volta a crescer com taxas de crescimento elevadas. Esse crescimento elevado provocou o esgotamento da capacidade ociosa a partir de 1970/71. No período de retomada do crescimento (1970-1973), caracterizou-se por ser o de mais alto crescimento da economia brasileira. Nele se deu, além do crescimento de bens de consumo duráveis estimulando bens de consumo não-duráveis, um estímulo no setor de bens de capital, dado o esgotamento da capacidade ociosa. Isso estimula o aumento das importações que são complementares à oferta interna. Houve também o crescimento das exportações, estimuladas pela diversificação da estrutura produtiva. Um dos objetivos principais do governo militar era promover uma maior internacionalização da economia brasileira, pela via do comércio. A intenção era de complementar poupanças internas, ou seja, o crescimento do país deveria ser potencializado pelo uso de recursos externos pela via do endividamento. O uso de recursos externos fazia parte da estratégia de crescimento e isso foi viabilizado desde os planos do PAEG, que construiu pontes com o sistema financeiro internacional. Para isso, o governo instituiu a Operação 63 que permitia que bancos captassem recursos externos e repassassem às empresas brasileiras, e a Lei 4131, que permitia à empresa captar diretamente recursos externos, sendo esta restrita à grandes empresas. Nesse período do Milagre Econômico a dívida externa quadruplica, entretanto, neste momento isso não demonstra problemas pois o Brasil possuía uma abundância de liquidez do sistema financeiro internacional que operava com condições de empréstimos favoráveis aos países em desenvolvimento. Contudo, essa avaliação governamental quanto à necessidade de poupança externa complementando o crescimento não se mostra correta, pois grande parte do que foi tomado em recursos externos acabou sendo acumulado na conta de reservas. Houve então um sobre endividamento desnecessário. O período então foi característico de grande crescimento, porém não ensejou transformações de fundo na estrutura produtiva uma vez que, na primeira metade o crescimento se deu com capacidade ociosa já existente e, na segunda metade cresceu com a mesma dinâmica, sendo que o setor líder continua sendo o de bens de consumo duráveis. O aumento da concentração de renda que ocorreu, foi explicado como uma “teoria do bolo” em que entendia-se que o crescimento deveria vir primeiro para depois a distribuição. A partir de então, o presidente Geisel propõe o II PND com uma transformação na estrutura produtiva e social, fazendo uma crítica ao que foi o período do Milagre Econômico. Questão 02.
Em 1974 temos uma alteração no governo com a saída de Médici e a entrada de
Geisel, que fica até 1978. Seu governo é marcado pela implementação do chamado II Plano Nacional de Desenvolvimento. Pensando em seus antecedentes, é importante salientar que Médici inicia seu governo sobre uma crise, com a morte e do general Costa e Silva. Algum tempo depois, em 1970 é lançado um documento com metas para o governo, que é seguido pelo primeiro plano de desenvolvimento. Levando em consideração que eles são lançados em um período de crescimento, não se pode falar que essa ação alterou algo, pois o crescimento do milagre se deu pela reforma e não por eles. No início de 1974, Geisel assume em um período de crise internacional e de uma situação interna em que alguns elementos característicos de crises estavam colocados, mas com a economia no auge, crescendo aceleradamente. Tem-se em 1973 o choque do petróleo, que aumenta o preço das matérias primas, que causa um impacto relevante nas contas externas, sendo esse o último ano dos “anos dourados” da economia brasileira. É importante salientar que quando o presidente Geisel tomou a posse em 1974, encontrou a economia brasileira em crise, e para resolver isso o presidente se colocou o desafio de fazer a nação crescer numa velocidade superior à da época do milagre econômico. Tratava-se de mudar a estrutura econômica de forma a nos tornar menos dependentes do petróleo e de outros insumos básicos. O governo defendia que existiam debilidades estruturais que deveriam ser corrigidas. Assim, devia-se realizar um último esforço de substituir as importações. O plano previa objetivos estratégicos de modo a tornar a economia brasileira menos dependente do chamado D1 da economia que é composto por bens de capital e insumos básicos. Foi diagnosticado também que nossa organização industrial havia uma fragilidade no capital privado nacional. Havia um estímulo para a indústria privada participar da substituição de importações, participando do D1. O governo Geisel além disso, almejava estar entre as sete ou oito economias mais industrializadas do mundo. Sendo que para estarmos lá, deveríamos corrigir determinados aspectos de nosso crescimento, diminuindo a desigualdade regional e melhorar a distribuição de renda, sendo esse último abandonado posteriormente. Assim, pode-se dizer que os principais objetivos do programa era realizar uma substituição de importações, fortalecer a empresa privada nacional (nenhum pais alcançou status de potencial econômico sem uma burguesia nacional forte, assim fortalecendo o tripé mais frágil do país auxiliava a atuação em todos os setores, em vista que as multinacionais e as estatais atuavam nos setores mais dinâmicos), diminuir desigualdades regionais e melhorar a distribuição de renda (passando de um capitalismo selvagem para um capitalismo social). O diagnóstico que o governo Geisel tinha da crise internacional era de que a crise era importante, mas ainda abria janelas de oportunidade em termos de capacidade de tomadas de recursos à custos mais baixos. Empresas estatais ainda deveriam realizar investimentos em insumos básicos. O governo iniciara estes grandes projetos e mediante demanda criaria espaço para as empresas privadas nacionais atuarem nos espaços vazios da indústria de bens de capitais. Assim, a substituição de importações atuaria sobre o fortalecimento da empresa privada nacional e também sobre a diminuição da desigualdade social. Pensando na série temporal de 1974/1978 é possível fazer uma subdivisão em três períodos, sendo o primeiro 1974/1975-1, onde ocorre o início do governo Geisel em meio a vários problemas graves. Com isso, no começo ocorreu uma política mais restritiva, de modo a promover um diminuição do nível de atividade e criar condições para implementação do novo plano. O segundo subperíodo é 1975-2/1976, onde o governo vai empreender as ações para o projeto do segundo PND. A situação internacional estava melhorando e a oferta dos petrodólares fica evidente, e por fim o subperíodo de 1977/1978 com política econômica do tipo “stop and go”, sendo uma política errática tentando solucionar problemas de curto prazo utilizando medidas de longo prazo. As empresas estatais no II PND tiveram um protagonismo, pois o objetivo em termos de estrutura produtiva o governo entendia que deveria começar o processo de implementação de grandes projetos na área de insumos básicos que ficariam a cargo de empresas estatais, pois, em função de suas magnitudes, não seriam atrativos à empresa privada. Assim, o governo deveria deslanchar esses processos que gerariam demanda para as empresas de bens de capital, que seriam empresas privadas. Esses grandes projetos foram financiados principalmente através de recursos externos. Sendo que o próprio governo estimulava a captação de recursos externos, por não ter a possibilidade de se autofinanciar e por estar com uma balança de pagamento deficitária, precisando equilibra-la. Logo, aquilo que o governo planejou em relação a articulação de investimentos públicos e privados não se manifestou como planejado. De um lado, a captação de recursos externos vai gerar como contrapartida a necessidade de compra de bens de capital estrangeiro e de outro lado, o capital privado nacional estava pouco motivado a empreender devido ao momento cíclico em que a economia brasileira vivia. A utilização do PND não é um consenso na Economia, assim como quase nenhuma ação tende a ser, para analisar os resultados são possíveis classificar três visões distintas sobre esse programa, sendo a primeira a evasão ao ajustamento que fala que o plano ateve-se mais a condicionantes políticos do que condicionantes econômicos. Na visão ortodoxa a opção óbvia era o ajustamento às condições, ou seja, a redução do nível de investimento. A opção por continuar a crescer é legitimação do regime. Se a opção fosse por se ajustar ao momento, o regime encontra mais dificuldades à sua manutenção. A recessão ainda tenderia a ser superacentuada, e o setor privado seria bastante contrariado. Esta opção não foi tomada, então os autores de enfoque ortodoxo que entendem que a racionalidade econômica era promover o ajuste, entendem que isso não aconteceu por condicionantes políticos. A segunda visão é o ajustamento estrutural, que mostra que dados relativos à balança de comercio entre 83 e 85 onde ocorre um aumento das exportações e diminuição das importações. A partir de 1979/1980, a política econômica muda e tem como principal objetivo, até 1985, o ajuste externo. Há um momento de crise na economia internacional. Dívida externa tem um ajustamento autônomo devido ao aumento da taxa de juros. Em 1980, temos que usar reservas para fechar as contas do BP, assim, não é mais possível a rolagem automática. Países endividados tiveram que realizar ajuste das contas externas. Isso gerou muitas crises do setor externo, e os países muito endividados tiveram que realizar ajustes. Diante disso, o Brasil muda a política econômica de forma a promover esse ajuste. A política econômica tem como principal objetivo superávits comerciais. A partir de 1983, todos os instrumentos de política econômica são voltadas para esse objetivo. Neste momento, acionamos os instrumentos de política econômica mas de forma diferente à de um ajuste estrutural, que aconteceu anteriormente. Uma das formas de produzir superávit é promover uma recessão interna. Governo definia a taxa de câmbio e utiliza políticas de minidesvalorizações cambiais, fazendo desvalorizações em momentos mais próximos para acompanhar o aumento dos preços. O professor Antônio Barros de Castro diz que é o sucesso do programa de substituição de importações do II PND. Ele tenta mostrar que as exportações crescem porque o II PND representou diversificação da estrutura produtiva. De outro lado, a queda das importações, não seria decorrente somente do processo recessivo. Efetivamente, havia tido substituição de importações, que era a estrutura fundamental, segundo ele, do II PND. Em 1974, o governo tinha duas possibilidades: ou promovia ajustamento às novas condições internacionais e deixava a economia seguir seu ciclo de descenso, ou se dava uma resposta ousada. O governo Geisel escolheu a segunda opção, tentando aproveitar as janelas de oportunidade em termo de financiamento. O sucesso disso não iria aparecer em 1970 ainda. Então, diante das disjuntiva, ajustamento, ou financiamento, o governo foi pelo caminho mais difícil, pelo caminho estrutural aproveitando as oportunidades de financiamento. Assim, o governo acertou por não ter dado uma resposta óbvia, nem a reforma mais fácil. Além disso, o professor Castro diz que a estratégica econômica não é condenada, e sim o regime militar vigente. Diz que o II PND é um produto de gabinete. A estratégia social sim foi um fracasso, tanto que foi um objetivo abandonado. Sendo que a principal crítica que essa visão recebe é sobre a minimização que ele faz da dívida externa. E por fim, a visão de fracasso do ajustamento estrutural, onde o professor Lessa, da Unicamp, argumenta que o plano minimizou a importância tanto de questões cíclicas internas, quanto as questões relativas ao financiamento internacional. Em relação aos argumentos internos, o plano deu pouca importância ao fato de que o capital nacional encontrava-se em momento de declínio cíclico. Isso se dava ao fato de que grande parte dos empresários sobre reinvestiu no período de auge econômico, planejado capacidade ociosa, mas projetaram crescimento da taxa de demanda corrente que não se manifestou, assim, trabalhavam com capacidade ociosa não planejada também. Além disso, em virtude da instabilidade que se abre a partir do Bretton Woods, as taxas de juros começam a crescer em termos nominais, desfavorecendo as condições de tomadas de empréstimo. Além disso, várias barreiras tecnológicas foram encontradas para se atender aos estímulos do governo. Com isso, as empresas estatais assumiram o papel de agentes anticíclicos, colocando em cheque um dos objetivos prioritários do plano, que era do fortalecimento do capital privado nacional. O professor analisa a conjuntura no momento em que a conjuntura se desenvolve. Uma análise assim é mais complicada que uma análise após o fato ter se efetivado. O grande problema de sua análise foi dizer que o plano foi sepultado, pois vários projetos do PND foram levados a cabo e alteraram a estrutura produtiva brasileira. Houve então problemas relativos tanto à conjuntura internacional, quanto do momento cíclico das empresas nacionais. Com isso, pode-se dizer que com exceção do Castro, os demais autores ressaltam os seguintes pontos: o momento de realização do programa foi inadequado por causa do momento da economia. O programa também carecia de maior articulação entre os investimentos, ou seja, o governo estimula indiscriminadamente o setor de bens de capital, segmento que não tínhamos chance de desenvolver adequadamente. Isso teria sido mais eficientemente no setor de bens de capital sobre encomenda (tirando os bens de capital seriados). Recorreu-se muito ao financiamento externo, e não realizou investimentos no setor energético da forma acentuada como deveria. A manutenção do crescimento acelerado foi em função de condicionantes de ordem política.