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JADSON

JÚNIOR E RODRIGO CAETÉ





Inspirado no famoso sermão de Jonathan Edwards

PREGADORES NAS MÃOS DE UM DEUS IRADO


Quando ministros da Palavra se tornam alvos da ira daquele que é
infinitamente Santo

“Púlpito não é picadeiro! Púlpito não é lugar para palhaços entreterem uma
massa de gente caminhando a passos largos para o inferno. Púlpito é lugar de
macho! De homens com seriedade, hombridade, intrepidez, temor e tremor,
diante de um Deus santo, e de pessoas que precisam ser confrontadas com a
Verdade de Deus. Lamentavelmente, o hodierno púlpito brasileiro tem sido
dominado por muitos charlatães do evangelho, cães gulosos e cafetões gospel.
Procura-se homens da estirpe de João Batista, Paulo, Agostinho, Lutero,
Calvino, Edwards, que não temam a ira dos homens, mas a de Deus; Que
desafiam impérios, reinos, com um evangelho genuíno, ainda que a cabeça
venha rolar. Creio que este exemplar, dileto pregador, o desafiará e lhe
conscientizará do peso da responsabilidade que paira sobre seus ombros no abrir
do Livro santo e, em transmitir os arcanos divinos. É uma leitura forte, séria e
comprometida com a dinâmica da pregação. Se você não está disposto a ser
confrontado, sugiro que você leia outra literatura, menos esta. Avante, homens!

(PH Pereira, membro da Primeira Igreja Presbiteriana de Criciúma - SC.
Formado em Teologia pelo IBITEK; administrador da página "Teólogo
Reformador" (facebook); e dono do canal "Mergulhando nas Escrituras"
(YouTube).)

“Vivemos em um tempo onde a pura pregação da palavra de Deus tornou-se uma
raridade, e os púlpitos estão contaminados com diversas filosofias e
elucubrações da mente humana. É comum ouvirmos mensagens que buscam
massagear o ego do homem e que deturpam os textos bíblicos. Além disso,
muitos púlpitos estão contaminados com a teologia liberal, sendo esta a autora
da mentira que tomou o lugar da verdade em diversas igrejas. A obra que o leitor
tem em mãos é como um grande alerta para os falsos profetas que assumem o
púlpito em diversas congregações. É ainda uma obra de caráter motivador para
que os pregadores fiéis continuem exercendo sua vocação com zelo. O livro não
tem a finalidade de ser uma obra acadêmica, mas simples e objetiva, com uma
linguagem clara, acessível e bíblica. Com diversas referências bíblicas e alusões
aos grandes eruditos e pregadores do passado, a obra cumpre o que propõe:
alertar para o perigo de ser um pregador nas mãos de um Deus irado.”
(Rafael de Castro, Seminarista no Instituto Reformado Santo evangelho,
Graduando em Direito pelo Instituto de Educação Superior de Brasília.)

"Em Pregadores nas mãos de um Deus irado, os autores conseguiram externar
um sentimento de grande necessidade em nossos púlpitos atualmente: "o temor a
Deus diante da exposição da sua Palavra". Além disso, foram também muito
perspicazes em inflamar e fomentar no leitor uma consciência vívida diante da
morbidade que presenciamos em nossos púlpitos da cristandade atual.
Pregadores sem compromisso, sem afeição a Deus e à sua Palavra, estes estão
criando uma geração totalmente irreverente, inerte e fria. Pregadores nas mãos
de um Deus Irado sem dúvidas trará um grande confronto, não só aos iniciantes
deste santo ministério, como também aos que já estão a algum tempo pregando a
Palavra. Creio que todos farão uma avaliação de como tem exercido aquilo que
Deus tem entregado em suas mãos, pois, se não houver uma mudança, estarão
assegurando para si mesmos a fumegante Ira de Deus. Por isso, pregadores,
assumam seu compromisso como Atalaia, e exerça seu ministério visando
unicamente a glória de Deus.”
(Alisson Bruno Teixeira - Pensador cristão, blogueiro, escritor - Presbítero da
Igreja Assembleia de Deus - Nova Serrana, Minas Gerais)

“A cada ano que passa, a sociedade brasileira vem mudando significativamente
em todos os setores, e com essas mudanças vêm as situações positivas e
negativas. No campo da religião, essas mudanças têm contribuído para o
surgimento de muitas igrejas, ministérios, seminários ou escola de treinamento
bíblico. Contribuindo para esse crescimento, podemos destacar a grande
utilização das mídias sociais e dos vários meios de comunicação. Porém, algo
muito preocupante é o fato de muitos buscarem estar na liderança, nos púlpitos,
na ministração da palavra ou do louvor sem nenhuma qualificação ou
treinamento para esses serviços. Quanto a isso, esse livro traz uma proposta de
reflexão, chamando atenção para a grande responsabilidade do pregador ou do
ministro do evangelho, mas principalmente daquele que pastoreia, para
entenderem a seriedade do ofício pastoral, como também a responsabilidade do
estudo sistemático das Escrituras Sagradas. O ponto central do livro é tornar
claro o perigo e as consequências de ensinar a palavra de Deus de forma
superficial ou equivocada, e porque não dizer também, de forma errada,
falsificando e distorcendo o verdadeiro sentido do texto divino. Por fim, os
autores convidam você, meu querido leitor, para uma mudança de atitude. É
apresentado a ti vários personagens que, ao longo da história do cristianismo,
contribuíram para mudanças de paradigmas, tendo como principal objetivo a
verdadeira exposição das Sagradas Escrituras! Que o Deus todo poderoso nos
ajude a influenciar nossa geração!
(Jairo Fernandes Pereira, Lic. em Educação Musical pela UFPB, Bacharelando
em Teologia pelo Seminário Russell Shedd, e Prof. do Seminário CETAD-PB.)

“Caro leitor, eis que tu tens em mãos um excelente livro, sabiamente intitulado
Pregadores nas mãos de um Deus irado, escrito pelo meu amigo pastor Rodrigo
Caeté e pelo Jadson Targino. O conteúdo desse livro é extremamente atual, pois
vemos pessoas irresponsáveis querendo ensinar a Escritura Sagrada de qualquer
maneira. É fato que devemos instruir os homens, porque a Bíblia é para
absolutamente tudo (2Tm. 3:16-17). No entanto, o problema está em como
instruir. Nesse caso, este livro trata desse assunto em sua totalidade. Ele é
recomendável a todos os pregadores atuais, para quem já é pastor, para quem
está fazendo seminário, para quem quer ser um pregador e ainda não o é, e para
quem também não pensa nem em pregar, mas tem interesse em identificar um
bom pregador e diferenciá-lo dos falsos mestre. Esse livro é recomendado a todo
ser que respira! Sabemos que a Mensagem da Cruz tem sido adulterada com o
passar dos anos por alguns pregadores que, sem zelo nenhum, têm procurado
adaptar a Bíblia ao homem moderno, ensinando, assim, um outro evangelho
(Gl.1:8); colocando acréscimos à mensagem do evangelho; colocando adereços
na mensagem da cruz, entre tantas outras bizarrices contemporâneas. O fato é
que é o homem que deve adaptar-se à Escritura e não a Escritura ao homem. E
cabe, finalmente, ao preletor ensinar de forma correta e zelosa, para que o
homem não entenda a Escritura de forma errada e equivocada; cabe a ele
manejar bem a Escritura (2 tm. 2:15) algo mencionado muitas vezes neste livro,
mas pouco praticado em muitos púlpitos. Portanto, eis as razões pelas quais
recomendo 100% a leitura deste livro, para que, por meio dele, o nobre leitor
possa identificar os erros de alguns pregadores de hoje, que pouco ligam para o
arrependendo, continuando, assim, debaixo da ira de Deus (2 Pe. 2:2-3.” Faça
essa leitura para a Glória de Deus (1 Co 10:31), apreciando cada página lida,
pois eu garanto que vai valer muito a pena, como valeu para mim. Boa leitura!
Soli Deo Gloria!”
(David P. Viana - Igreja presbiteriana de vila formosa – Anápolis, GO.)

SUMÁRIO

Agradecimentos
apresentação
Prefácio
Sobre o Livro
Introdução
Um exemplo de um pastor aprovado
Capítulo 1 – O ofício da pregação: a seriedade de expor a Palavra de Deus
1.1. Três marcas de um ministério sério
1.2. Considerações Finais
Capítulo 2 – Expondo todo o Conselho de Deus: O método de Paulo
Capítulo 3 – O Inferno, o Lago de Fogo e os Pregadores
3.1. A dádiva do ministério e suas reais responsabilidades
3.2. O juízo sobre os falsos profetas: Inferno e Lago de Fogo e Enxofre
3.3. Indo direto ao ponto!
Capítulo 4 – Um chamado ao arrependimento: convocação dos pregadores
4.1. “Ó sacerdotes que desprezais o meu nome”
4.2. Convocação ao arrependimento
Capítulo 5: Púlpitos poderosos que levaram o ofício da pregação a sério no
decorrer da história
5.1 Martinho Lutero
5.2 Charles H. Spurgeon
5.3 John Knox
5.4 John Wesley
5.5 João Calvino
5.6 Jonathan Edwards
5.1.1 O Pregador Ideal
Capítulo 6 – Falsos profetas levantados por Deus: de quem é a culpa?
Conclusão
Referências Bibliográficas:
Apêndice – indicação de leitura
Agradecimentos

Agradeço primeiramente ao Deus Trino Todo-poderoso Pai, Filho e
Espirito Santo. A Ele toda glória. E agradeço em especial a minha Igreja local, a
Igreja Presbiteriana de Cruz das Armas, e ao meu pastor, rev. Alcimar Dantas,
que prontamente nos ajudou. Agradeço também aos irmãos da congregação da
Assembleia de Deus Missões na rua Ana Nery, ao pastor Jailson Marinho e o
presbítero Jailson Azevedo por todo auxílio. A minha família, especialmente
meus pais; aos meus irmãos em Cristo Rafael, Efraim, Gustavo, Paulo César
(que fez a magnífica capa desta obra); aos professores Jairo e Bruno César. Não
posso me esquecer também de fazer menção a todos os meus irmãos do
seminário CETAD/PB e aos diretores Ângela Reiner e Eduardo Leandro, os
quais oram e apoiam com muito carinho pelo meu ministério. Que Deus
recompense a todos! O vosso galardão vem dEle. Finalmente, ao meu corajoso
companheiro de escrita, Rodrigo Caeté, a quem passo a bola para seus devidos
agradecimentos.
Obrigado, senhor Targino, amigo fiel e companheiro de tribulação e de
grandes alegrias. Nunca é demais agradecer ao nosso bendito Deus Trindade,
que nos agracia com dons provenientes dEle mesmo, como o da escrita. Quero
expressar aqui minha alegria e gratidão a igreja de Goiânia, que tem me recebido
com muita hospitalidade como seu pastor. A Deus a glória por essa amada igreja;
Quero ainda agradecer aos meus amigos que prontamente ajudaram nessa obra:
PH Pereira, David Viana, Alisson Bruno e pr. Luis Filipe. Muito obrigado pela
contribuição de vocês! Ah, não posso me esquecer de meus familiares, a quem,
apesar de maior distância agora, os amo imensuravelmente: pai, mãe e meus 3
irmãos. E, minha eterna gratidão a minha família, não tão grande, ainda, mas
família, minha família, eu e minha esposa: não és tu melhor do que 10 filhos?
Certamente que sim! Dedico esta obra aos nossos futuros filhos: que eles nunca
se esqueçam que tiveram um pai que não considerou a vida por demais preciosa
para si mesmo, contanto que completasse a sua carreira e o ministério que
recebeu do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Vivam
para Cristo, sabendo que temos apenas uma vida, que logo passará, e que apenas
o que é feito para Jesus durará. Amém!









APRESENTAÇÃO

O Senhor Jesus Cristo passou grande parte do seu ministério terreno pregando a
Palavra de Deus. Ele fez o mesmo que os profetas antes dele fizeram, e mandou
que os apóstolos e discípulos depois dele fizessem o mesmo. Isso significa que
Jesus Cristo exerceu o trabalho da pregação com a maior seriedade possível e
que nós devemos seguir o exemplo do Filho de Deus.
Numa época onde muitos pregadores posam de artistas, buscam ser engraçados e
bem quistos pela comunidade evangélica, este excelente livro vem como um
bálsamo para os verdadeiros pregadores do evangelho de Cristo. Em qualquer
que seja a tradição cristã, os legítimos pregadores sempre estão preocupados em
apresentar com fidelidade a Palavra de Deus e em ver isso se perpetuar naqueles
que os sucederão. Por isso digo que este livro é um bálsamo, pois alivia a alma
desses tais.
Porém, este livro também é uma advertência divina. Neste caso, para os que
ainda podem se arrepender dos seus pecados. Especificamente, me refiro àqueles
que não pregam a Bíblia com a devida fidelidade e não levam à sério o ofício da
pregação. Também àqueles que são muito engraçadinhos, mas que não
transmitem graça da parte de Deus. Esses mesmos, que você deve estar se
lembrando agora. Todos nós conhecemos pregadores que buscam ser
engraçados, quando na verdade deveriam buscar ser como Jesus, que recebeu o
seguinte testemunho de sua pregação “Nunca ninguém falou como este homem”
(João 7:46), e que também nunca buscou pregar para agradar quem quer que
fosse, nem mesmo os apóstolos. Quando foi abandonado por milhares de
pessoas, Jesus não ficou triste ou pediu desculpas, mas olhou para os doze e
perguntou: “Vós também quereis retirar-vos?” (João 6:67). Aqueles que buscam
popularidade mais cedo ou mais tarde buscarão fazer um bezerro de ouro para
agradar a plateia, como fez Arão.
Parabenizo a iniciativa e a escrita deste livro que tenho a honra e
responsabilidade de apresentar e publicar. Para mim é uma alegria incrível poder
trabalhar com dois irmãos em Cristo numa grande obra. Eles fizeram um grande
trabalho e estão prestando um serviço imenso ao corpo de Cristo neste país.
Jadson é um brilhante aluno de teologia e logo será um grande teólogo formado,
falo isso em 2019. Quanto ao irmão Rodrigo, que já exerce o ministério pastoral,
ainda não tive o privilégio de conhecer, mas espero que isso não demore muito.
Aliás, este é mais um diferencial nesta obra: foi composta em parceria entre os
autores à distância, o que demonstra que além de escrever um livro maravilhoso,
sabem utilizar as ferramentas da tecnologia para a glória de Deus.
Que Deus utilize este material para a edificação dos que estão no caminho certo
da pregação, para advertir os que andam titubeando no trabalho do Senhor e
esclarecendo que os falsos mestres serão por isso julgados, em breve. E que tudo
isso sirva para a glória de Deus!
Bruno César Santos de Sousa.
Professor de Teologia. Servo de Cristo.
João Pessoa-PB. Setembro de 2019.
























“Cuidemos de nós mesmos, para que não perecemos, enquanto clamamos a
outros que cuidem de si, para que não pereçam! Podemos morrer de fome,
enquanto preparamos comida para outros.”
(Richard Baxter – O Pastor Aprovado)

Prefácio

Quem quer ouvir uma pregação bíblica em nossos dias? Numa época em
que as pessoas estão dopadas pela televisão, inebriadas pela internet, distraídas
pelas redes sociais e entretidas pelas séries de tevê, hostis à autoridade, cansadas
de tantas palavras, quando propomos uma pregação bíblica, elas ficam logo
impacientes, inquietas e entediadas. Muitas coisas concorrem com a pregação
hoje. E, por isso, não podemos pressupor que as pessoas queiram nos ouvir;
todavia devemos lutar para conseguir sua atenção, mas somente com a pura
pregação da palavra de Deus centrada em Cristo Jesus apenas, sem ceder às
pressões deste mundo. Não obstante, nada dessas coisas citadas no início
justificam o abandono da Palavra pelo pregador, mesmo que muitos de nós
preguemos a quem não nos queiram ouvir. Assim ocorreu com os profetas, com
os apóstolos e com o próprio Cristo.
Costumo dizer que, se somos fiéis pregadores da Palavra, atendendo ao
imperativo paulino dado ao jovem pregador Timóteo (1Tm 4.1-2), se o auditório
não nos der ouvidos, ele terá que se ver com Deus, ouvindo a declaração de ira
eterna sobre eles. Agora, se os pregadores que têm a oportunidade de transmitir a
Palavra de Deus aos homens por meio da pregação, e usa desse expediente de
um modo infiel, inadvertidamente, tais “pregadores” terão que prestar contas a
Deus. É exatamente isso que os autores, Rodrigo Caeté e Jadson Targino,
pretendem aborda nesta obra. Com base no título do sermão Pecadores nas
Mãos de Um Deus Irado, de Jonathan Edward, famoso pastor congregacional
norte-americano e um dos mais destacados teólogos da Nova Inglaterra no
século XVIII, eles dão o título altamente sugestivo Pregadores nas Mãos de Um
Deus Irado. Digo altamente sugestivo porque hoje muitos pregadores parecem
não acreditar na suficiência da pregação bíblica como o modo poderoso de
proclamação do evangelho e de transformação de vidas. Nosso tempo é de crise
de pregadores e pregações centrados no evangelho de Cristo.
Creio que muitos “evangélicos” desconhecem o evangelho e a missão de
Deus pela igreja, justamente por conta da carência que temos de bons pregadores
e boas pregações. Devido a falta de confiança na Palavra, já não se dão à labuta e
transpiração de estudá-la com profundidade para anunciá-la com fidelidade. Por
esse motivo, são “pregadores nas mãos de um Deus irado”. Da introdução à
conclusão do livro, capítulo a capítulo, os autores deixam bem claro que o
propósito da obra é denunciar a existência histórica de falsos mestres, falsos
pregadores, que não podem produzir outra coisa senão um falso ensino, uma
falsa pregação e, por conseguinte, um falso evangelho. Tais pregadores, dizem os
autores, terão suas pregações julgadas por um Deus santo e justo, naquele
Grande Dia da prestação de contas. Mais para o fim do livro, é dito que o Senhor
sempre dá aos seus eleitos a oportunidade de se arrependerem de seus pecados.
Não é diferente com os pastores mestres e pregadores.
Ministros que, consciente ou inconscientemente, têm sido infiéis na
exposição da Palavra, serão despertados por Deus pela leitura desse livro para o
arrependimento diante do Senhor Justo Juiz que há de nos julgar pelas nossas
obras, sejam elas boas ou más. Os autores concluem de um modo magistral,
elencando nomes da história do cristianismo que se destacaram na pregação fiel
da Palavra. Homens como Martinho Lutero, C.H. Spurgeon, John Knox, John
Wesley e Jonathan Edwards, que, juntos, reuniram as melhores características de
pregações fiéis e eficazes, como a sã doutrina, a vida de oração e, sobretudo, o
senso de estar exercendo o ministério com excelência, como a maior e mais
nobre de todas as tarefas que um homem pode realizar, para a glória de Deus.
Segundo os autores, se seguirmos tais exemplos, não precisaremos nos
preocupar em ter que prestar contas com Deus como “pregadores nas mãos de
um Deus irado”!
Por fim, o que mais surpreenderá o leitor dessa obra é o fato de que é o
próprio Deus quem usa os falsos profetas e falsos mestres para iniciar uma
prévia punição àqueles que não suportam ouvir a boa pregação da Palavra. Os
autores, para reforçar essa doutrina com argumento de autoridade, citam uma
impactante frase do Rev. Paul Washer: “Falsos profetas são o juízo de Deus para
as pessoas que não querem Deus [...]”. Essa frase, segundo a obra, apenas
confirma o que a Bíblia Sagrada ensina sobre a tratativa divina com os ouvintes
infiéis. Depois da leitura de Pregadores Nas Mãos de Um Deus Irado, posso
concluir dizendo que temos duas urgentes necessidades quanto à temática
abordada. Primeira, de pregadores e pregações mais fiéis à Palavra. Segunda, de
bons e ávidos ouvintes de pregações bíblicas e expositivas centradas no
evangelho. Creio ser essas as nossas maiores e mais profundas carências hoje.
Púlpitos mais fortes e crentes mais famintos da genuína Palavra de Deus.
Que Deus nos ajude a ser e ter essas duas grandes necessidades de nossos
dias, sendo supridas em nossas igrejas locais. Parabéns aos autores e uma
excelente jornada de leitura a todos os que adquiriram essa obra.
(Luís Filipe de Azevedo Corrêa, Pastor da Igreja Congregacional de Vila
Paraíso, Bacharel em Teologia e Licenciado em Letras, professor de Teologia
Sistemática e Homilética, com Especialização em Pregação Expositiva.)





Sobre o Livro

Este livro não tem a proposta de ser revolucionário, pois sabemos que
realmente nada há de novo debaixo do sol (Eclesiastes 1:9). Na realidade, a
nossa proposta é apenas relatar aquilo que é por demais antigo: a existência de
falsos profetas e pregadores mal preparados, além das consequências terríveis
para estes, que usam a palavra de forma deliberadamente equivocada ou até
mesmo para enganar de forma propositada. Se passearmos pelo Antigo
Testamento, encontraremos vários deles por lá. Se adentrarmos no Novo, eles
nos saltarão aos olhos. Portanto, a existência de falsos pastores, falsos profetas, e
pregadores inaptos não são maldições apenas de nossa época. Assim como o sol
se põe e renasce, da mesma forma acontece com os enganadores e enganados na
igreja.
Como já mencionado, nossa proposta é trazer à baila uma análise sucinta
e nada revolucionária a respeito daquilo que chamamos de “pregadores nas
mãos de um Deus irado”. Amamos Jonathan Edwards, e nos inspiramos sim no
famoso sermão “pecadores nas mãos de um Deus irado”. Na introdução deste
livro, veremos um pouco do histórico por traz desse sermão, bem como sua
relação com esta obra. Mas por hora, queremos apenas deixar claro que o ponto
de contato com o citado sermão é a existência de um Deus irado que julgará as
obras dos pecadores naquele Grande Dia. Entretanto, a diferença crucial está em
para quem Deus direciona sua face irada. Enquanto Edwards apontava para os
pecadores de maneira geral, nós queremos apontar para os pregadores. Mas não
porque ser pregador é estar debaixo da ira, mas ser um mau pregador sim. Não
mal no sentido de inábil intelectualmente, mas no sentido moral do termo,
quando estes detentores da palavra da verdade a usam para a mentira; para
enganar; para ofender ao Deus da palavra; ou mesmo para benefício próprio e
enriquecimento financeiro. São para essas pessoas que a ira de Deus está sendo
direcionada neste livro.
Nós sabemos da seriedade que é pregar a verdade de que há um cálice de
ira preparado para os ímpios, mas sabemos também que é tão verdade quanto
que sobre os líderes o peso da ira será infinitamente maior, caso este líder seja
um impenitente falso profeta ou desqualificado mestre. É para estes que nós
queremos direcionar a face irada de Deus. É urgente dizer que existem nesse
exato momento pregadores nas mãos de um Deus extremamente irado, e a única
razão que impede que esse lobo em pele de ovelha seja dizimado imediatamente
é a maravilhosa graça preservadora de Deus.
Nós somos pregadores também, e pretendemos escrever este livro como
um alerta misericordioso primeiramente para nós, pois aquele que hoje está de
pé deve sempre ter cuidado, pois o chão é perto demais para qualquer homem, e
a queda é sempre eminente para qualquer descuidado[1]. Na verdade, todo
cuidado é pouco para qualquer ser humano.
Desejamos tornar evidente as características dos falsos profetas e inaptos
pregadores; desejamos fazer uma denúncia grave; desejamos fazer o coração de
cada pregador estremecer ao ler cada palavra deste livro; desejamos, entretanto,
trazer ânimo para os verdadeiros pregadores de Deus, à medida que mostrarmos
que haverá punição para aqueles que desdenham da Palavra do SENHOR. Isso
porque ficamos por demais tristes quando vemos o santo evangelho sendo
difamado pelas bocas de lobos.
Portanto, para nós, e para todos os demais pregadores, as palavras do
apóstolo Paulo são por demais urgentes: “Procura apresentar-te a Deus aprovado,
como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade.” (2 Timóteo 2.15) Isso porque não há nada mais terrível para um
homem do que se apresentar diante de Deus como um reprovado. Que o nosso
Santo Deus tenha misericórdia de todos nós. Amém!
Os autores
Introdução

“Talvez seja tolice, mas sou tentado a comparar os puritanos aos Alpes,
Lutero e Calvino ao Himalaia e Jonathan Edwards ao Monte Everest! Para
mim, ele sempre foi o homem mais parecido com o apóstolo Paulo”[2]
(Dr. Martyn Lloyd-Jones)

Quem conhece um pouco da nossa trajetória literária, seja através dos
livros já lançados, ou por meio de postagens em redes sociais, sabe muito bem o
quanto admiramos o ministério profícuo do pastor congregacional Jonathan
Edwards. Todavia, desejamos deixar claro que não o idolatramos e nem
concordamos com toda a sua teologia. Como reformados que somos,
entendemos que ele foi apenas mais um miserável depravado graciosamente
resgatado pelo SENHOR, sem que Edwards O tenha buscado por si só, pois em
seu coração só havia naturalmente ódio por Deus. Em suma, ele foi mais um, e
apenas isso: instrumento nas mãos de um Deus bom! Parafraseando o que certa
vez disse um dos puritanos, somos como uma pena nas mãos do Grande Escritor,
e que valor há na pena? Somos vasos de barro carregando um grande tesouro;
somos como barro nas mãos do Oleiro, cuja perícia é perfeita. Portanto,
inicialmente queremos declarar que absolutamente toda a glória deve ser dada
unicamente a Deus.
Mas esse homem foi grandemente usado por Deus. Amplamente
considerado por muitos como o último representante da teologia e do
pensamento puritano no Novo Mundo[3], e por alguns como o último dos
teólogos Escolásticos Medievais[4]. Edwards é também visto como o primeiro
dos modernos filósofos-teólogos norte-americanos[5]. Além disso, nas próprias
palavras de Steven Lawson,
“Muitos consideram Edwards como o mais eminente pregador
vindo do lugar agora chamado de Estados Unidos. Ele pregou
o sermão que muitos creem ser o mais famoso da América do
Norte: Pecadores nas Mãos de um Deus Irado. Outros
avaliam Edwards como um dos maiores teólogos da América.
Ele é reconhecido como ‘o teólogo do Primeiro Grande
Avivamento’, pois se posicionou exatamente na nascente dos
despertamentos, nas décadas de 1730 e 1740. Também se diz
que Edwards foi ‘o maior [teólogo] em todos os aspectos’, e
um ‘dentre a meia dúzia dos maiores teólogos de todos os
tempos’”[6].
Diante dessa breve exposição e consideração, cremos que não há mais
necessidade de justificar nossa inspiração para esse livro. Todavia, apenas como
meio pedagógico de ‘’linkar’’ os temas, colocaremos abaixo o famoso e
conhecido contexto do referido sermão:
“Quanto ao sermão em questão, segundo Franklin Ferreira,
‘Pecadores nas mãos de um Deus irado (1740), baseado em
Deuteronômio 32.25, é seu sermão mais famoso. Antes desse
sermão, por três dias, Edwards não se alimentara nem
dormira; rogara a Deus sem cessar: “Dá-me a Nova
Inglaterra!”. O povo, ao entrar para o culto, se mostrava
indiferente e mesmo desrespeitoso diante dos cinco
pregadores que estavam presentes. Edwards iria pregar, e, ao
dirigir-se para o púlpito, alguém disse que ele tinha o
semblante de quem fitara, por algum tempo, o rosto de Deus.
Sem quaisquer gestos, encostado num braço sobre o púlpito,
segurava o manuscrito e o lia numa voz calma e penetrante. O
resultado do sermão foi como se Deus arrancasse um véu dos
olhos da multidão para contemplar a realidade e o horror em
que estavam. Em certa altura, um homem correu para frente,
clamando, suplicando por oração, sendo interrompido pelos
gemidos de homens e mulheres; quase todos ficaram de pé ou
prostrados no chão, alguns se agarrando às colunas da igreja,
pensando que o juízo final havia chegado. Durante a noite
inteira ouviu-se na cidade, em quase todas as casas, o clamor
daqueles que, até aquela hora, confiavam em sua própria
justiça.’”[7]

“Algo comum a toda a teologia e piedade de Edwards era uma paixão
pela glória de Deus... Edwards defendeu cuidadosa e logicamente a posição de
que o propósito supremo de Deus é glorificar a si mesmo em todas as suas
obras.”[8]
(James Montgomery Boice)

“Edwards passou a sua vida inteira se preparando para morrer.”[9]
(George Marsden)

A glória de Deus como fim último de todas as coisas e uma vida
absurdamente dedicada a Deus e desmamada dos prazeres deste mundo são o
alicerce para o fato de um homem de Deus viver como se seu coração fosse
parar a qualquer instante, e ainda se alegrar nisso, já que morrer é ganho. Esse é
um exemplo de um pregador que não está nas mãos de um Deus irado, mas nas
mãos de um Deus bondoso. Isso porque a preocupação de se apresentar a Deus
sempre como um homem aprovado era bastante evidente em sua vida, como
pode ser observado conferindo suas famosas 70 resoluções[10].

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de
que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2 Timóteo 2.15)

Não era à toa que a leitura pessoal repetitiva da Escritura era um método
ordenado por Deus (Deuteronômio 17.19). Era também ordenança do SENHOR
que a Lei de Deus fosse repetida e transmitida de geração em geração para os
filhos dos filhos (Deuteronômio 6; Salmo 145:4). Isso por, no mínimo, duas
razões: para que a geração seguinte não crescesse sem ouvir a respeito do Deus
que os libertou do cativeiro do Egito; e também porque (conjectura destes
autores) os homens têm uma capacidade impressionante de esquecer os
mandamentos de Deus. Não é sem razão, portanto, que a Escritura menciona o
imperativo de guardarmos no coração a Palavra para não pecarmos contra Deus.
É óbvio que o sentido de guardar aqui é mais amplo que simplesmente
memorizar, isto é, sobretudo ter a lei de Deus sempre em vista diante de qualquer
decisão a se tomar. Entretanto, não podemos desprezar a repetição como método
de memorização. Eis porque estamos propositadamente repetindo o texto de 2
Timóteo 2.15 (“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não
tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”), para que o
leitor não apenas memorize esse texto, mas que o mesmo possa ser também o
padrão máximo de pensamento de todo pregador em qualquer decisão que vier a
tomar no seu ministério. Nesse sentido, cada palavra, cada pensamento, cada
sermão, cada aconselhamento, cada disciplina, cada exortação, ou qualquer outra
administração do ministério devem ser feitas com as palavras do Apóstolo Paulo
ecoando fortemente nos ouvidos e no coração: “Procura apresentar-te a Deus
aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a
palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15).
O propósito do apóstolo Paulo com este verso é mostrar também qual é o
maior motivo de vergonha que um pregador pode ter. Muitos ficam
envergonhados por coisas banais e não tão importantes: a roupa simples que se
veste, a linguagem coloquial que se usa, a pouca cultura intelectual, etc. É obvio
que um pregador deve sempre buscar o progresso em todas essas áreas, mas o
não progresso não é, em última análise, condição máxima para o sentimento de
vergonha. O que traz mesmo vergonha ao pregador diante de Deus, segundo a
Santa Escritura, é a falta de manejo da palavra da verdade.
Muitos pregadores apresentam excelentes manejos e pomposas oratórias,
mas trazem a palavra da mentira; não trazem o evangelho genuíno, puro,
impactante; o evangelho que fere para depois curar; que rebaixa o homem para
só depois dignifica-lo mediante os méritos de Cristo. O ponto é que de nada
adianta que um pregador não tenha razões banais para se envergonhar perante a
sociedade se no último dia ele for motivo de grande vergonha por ter pregado a
mentira. Mais vale, portanto, um simples pregador, mas que de forma humilde
maneja bem a palavra da verdade que um coaching famoso que corre atrás de
likes, manejando a palavra de forma mercantil e, assim, propagando a mentira e
trazendo para si condenação eterna.
Finalmente, cabe ainda ressaltar a ênfase do apóstolo Paulo no início do
verso: “Procura apresentar-te a Deus aprovado”. A forma de se apresentar a Deus
aprovado já foi falada no parágrafo anterior, bem como a única razão de
vergonha de qualquer pregador. Todavia, essa aprovação não é algo que se
conquista e pronto; não é algo que se ganha de uma vez por todas. A exortação a
todo pregador é “procura”. A ideia é de uma constante busca por ser firme na
palavra da verdade, pois o relaxamento após uma aprovação inicial é uma porta a
posterior reprovação. Todo pregador, portanto, que quiser chegar ao Grande Dia
sendo considerado aprovado por Deus deve viver uma vida de constante procura
e luta por preservar a palavra da verdade.

Um exemplo de um pastor aprovado

Richard C. Halverson nos diz o seguinte na introdução do livro “O pastor
aprovado”, de Richard Baxter:
“Pode ser, porém, que eu não tivesse sabido apreciar
devidamente O Pastor Aprovado quando eu era estudante.
Talvez o tivesse relegado aos domínios da teoria. Talvez esta
seja uma obra só apreciada pelos já iniciados no ministério,
pois é quando a pessoa está envolvida no trabalho pastoral e
começa a perceber a relevância e ou a irrelevância de uma
educação de seminário para a vida real”.[11]
O ponto de Halverson não é apontar a inutilidade dos seminários, pois,
quanto a isso, não é necessário criar grandes argumentos. Basta entender que o
autor quis nos trazer a informação de que a transformação de seminários em
centros de formação de pastores é fruto da má administração ministerial da igreja
local. Isso porque cremos que quem forma pastor é outro pastor, sobretudo da
igreja local, em comunhão com os membros da igreja. Não queremos demonizar
os seminários que foram transformados nesses centros de formação. Eles são um
mal necessário, pois têm suprido a carência da igreja brasileira nesses últimos
tempos. É através deles que muitos dos novos pregadores, inclusive estes que
vos falam, adquirem conhecimento teológico, já que a maioria de seus líderes
locais não tem tempo, paciência ou mesmo conhecimento suficiente para formar
um pastor. Mas, embora tenhamos adjetivado esse mal de necessário, isso não
significa que devemos perpetrar esse mal por justamente ser visto como
necessário. É bom que fique claro que nem tudo que está dando certo é certo. Eis
claramente a situação dos seminários de formação de pastores, que têm
contribuído para o crescimento da igreja brasileira, mas nem por isso devem ser
melhor vistos em detrimento da formação bíblica de um pastor, conforme já
mencionado acima.
Essa crítica anterior deve-se somente aos seminários com fins claros de
formação ministerial. Não somos contra aqueles centros de educação formal que
objetivam a discussão e o aprofundamento teológico, sendo assim direcionado a
todos, tanto a homens quanto a mulheres, visto o objetivo não ser a formação
pastoral. Cremos ser esse um ótimo ambiente para o prosseguimento dos estudos
teológico dos pastores já formados em suas igrejas.
Então, o ponto de Halverson é mostrar a lacuna que há muitas vezes entre
a teoria e a prática. Ler O Pastor Aprovado durante o seminário e não ser
impactado para ter um ministério abençoado só pode ser por duas razões: ou esse
homem não entendeu o que leu, pois na verdade nem sabe o que está fazendo ali;
ou é um falso profeta que adentrou traiçoeiramente em tal seminário, querendo
apenas as credenciais para poder aprontar na igreja. Nesse caso, estamos diante
de falsos profetas mais elegantes, que se dão ao trabalho de perder seu tempo
estudando, pois, a maioria são fajutos mesmos, que abrem qualquer porta de
igreja sem nenhuma formação. O mais triste é que o povo abraça. Veremos mais
a frente que esse abraço nada mais é que a perfeita e bela junção entre os
pecadores nas mãos de um Deus irado e os pregadores nas mãos de um Deus
ainda mais irado.
Em seu livro, Baxter, entre vários conselhos iniciais, traz aquele que para
nós é essencial a todo pastor:
“O primeiro e principal ponto que submeto à sua apreciação é
que constitui um inquestionável dever de todos os ministros
da Igreja catequizar e ensinar pessoalmente todos os que são
entregues aos seus cuidados”.[12]
Talvez você, caro leitor, não tenha prestado a atenção numa palavra
fundamental nessa citação: “pessoalmente”. Isso mesmo. O básico de um pastor
aprovado é ensinar pessoalmente todos os que são entregues aos seus cuidados.
Em épocas ditas pós-modernas, onde a falta de tempo e o pragmatismo
têm imperado mais do que aquilo que é mandamento bíblico, pensar nessa
orientação de Baxter beira ao absurdo. Hoje temos megaigrejas; templos
gigantescos; vivemos no tempo dos 4 cultos por domingo, através de escalas de
membros, pois a igreja tem uns 3 mil deles. Então temos que saber gerenciar
isso, e, para não nos cansarmos, pregar o mesmo sermão 4 vezes por domingo.
Diante dessa estupidez disfarçada de pós-modernismo, onde o pastor deve
repetir 4 ou 5 vezes o mesmo sermão no mesmo dia[13], correndo o risco de
robotizar ou banalizar o sermão, vejamos, numa citação mais longa, como que
Baxter lidava com isso e orientava seus auxiliares nessa questão de cuidado e
ensino pessoal:
“Não me atrevo a prescrever regras e formas para vocês, nem
a animá-los a usar o mesmo catecismo ou as mesmas
exortações que usamos. Mas deixem-me dizer-lhes o que faço
em meu campo de trabalho. Passamos as segundas e terças-
feiras, desde cedo de manhã até ao cair da noite, envolvendo
umas quinze ou dezesseis famílias, toda semana, nesta obra de
catequese. Com dois assistentes, percorremos completamente
a congregação, que tem cerca de oitocentas famílias, e
ensinamos cada família durante o ano. Nem uma só família se
negou a visitar-me a meu pedido. E vejo mais sinais externos
de sucesso com os que vêm do que em toda a minha pregação
pública. O grande número me força a tomar uma família
completa por vez, uma hora cada. O secretário da igreja vai
adiante, com uma semana de antecipação, para organizar os
programas de horário e itinerário. Também guardo anotações
daquilo que cada membro da família aprendeu, para poder
continuar a ensiná-lo sistematicamente. Meus conservos,
vocês puseram a mão no arado de Deus. Foram duplamente
santificados por Ele e estão duplamente dedicados a Ele, como
cristãos e como pastores. Ousariam, então, retroceder e
recusar-se a fazer o Seu trabalho? [...] Mostrarão os seus
rostos a uma igreja cristã reunida, como ministros do
evangelho, e orarão por avivamento, quando vocês mesmos se
negam a usar os meios pelos quais isso pode ser feito? Rogo-
lhes encarecidamente, em nome de Deus e por amor às almas
dos seus rebanhos, que não exerçam o seu ministério
descuidada e superficialmente. Façam-no vigorosamente e
com todas as suas forças. Seja a sua grandiosa e séria
atividade ensinar os fundamentos da fé a todos os membros
das suas igrejas por meio destas instruções ministradas
particularmente. [...] O que mais temo são os ministros que
pregam bem e que são ineptos para a nutrição particular dos
membros das suas igrejas”.[14]
Não, o trabalho de Baxter não era apenas o de pregador de sermões. Isso
é importante, aliás, isso é extremamente importante e também fundamental para
a maturidade da igreja. Todavia, ele enxergou que, mais do que isso, o ministro
aprovado deveria lidar com gente ao descer do púlpito; deveria olhar nos olhos
de cada um e enxergar suas lágrimas ocultas; deveria ser capaz de cuidar de todo
o rebanho de modo pessoal e particular.
Finalmente, Baxter encerra esse ponto, usando o texto de atos 20.28, que
diz: “olhai por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o
seu próprio sangue.” Deste verso, ele enfatiza a parte “olhai – cuidai – de todo o
rebanho...” para asseverar da seguinte forma:
“Vê-se, então, que, se o rebanho deve ser cuidado. Nenhuma
igreja deve ser numericamente maior que a capacidade de
supervisão pessoal dos pastores, para que estes possam olhar
‘por todo o rebanho’”[15]
Antes de falarmos especificamente sobre os falsos profetas, desejamos
encerrar esta parte, orientando os verdadeiros ministros sobre a importância de
“cuidar de todos”. Muitas vezes desejamos ter igrejas grandes com muitos
membros, mas acabamos perdendo de vista a necessidade de um cuidado
especial com cada membro. Muitas são as razões: a) uma prebenda maior; b)
visibilidade; c) status; d) fama; e) etc., mas nenhum homem de Deus pode se
deixar levar por todas essas coisas escusas diante do precioso evangelho. A parte
“b” do verso citado por Baxter, Atos 20.28, deve gerar em cada verdadeiro
pastor um profundo temor – “para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele
comprou com o seu próprio sangue” – pois sabemos qual sangue foi derramado e
que preço foi pago. E se a Igreja é assim tão preciosa para o SENHOR, que
tratemos de reconhecê-la como especial que ela é para cada um de nós, ministros
do evangelho.
Quanto aos falsos profetas, esses que denominamos de “pregadores nas
mãos de um Deus irado”, a parte que lhes cabe é tão eminente quanto um
próximo piscar de olhos. Mal percebemos a piscada; assim será o fim deles:
quando menos perceberem, serão levados para beber o cálice da ira de Deus. A
Escritura é rica de versos que falam a respeito da existência deles, bem como de
suas punições. Eis abaixo um pequeno aperitivo:

“Mas o profeta que ousar falar em meu nome alguma coisa que não lhe
ordenei, ou que falar em nome de outros deuses, terá que ser morto’. “Mas talvez
vocês se perguntem: ‘Como saberemos se uma mensagem não vem do Senhor?’
Se o que o profeta proclamar em nome do Senhor não acontecer nem se cumprir,
essa mensagem não vem do Senhor. Aquele profeta falou com presunção. Não
tenham medo dele.”
(Deuteronômio 18:20-22)
“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de
ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus
frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas?
Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos
ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos
bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo.
Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!”
(Mateus 7:15-20)
“Recomendo, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam
divisões e põem obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles.
Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus
próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam o coração dos
ingênuos”.
(Romanos 16:17-18)
“Se alguém ensina falsas doutrinas e não concorda com a sã doutrina de
nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino que é segundo a piedade, é orgulhoso
e nada entende. Esse tal mostra um interesse doentio por controvérsias e
contendas acerca de palavras, que resultam em inveja, brigas, difamações,
suspeitas malignas e atritos constantes entre aqueles que têm a mente
corrompida e que são privados da verdade, os quais pensam que a piedade é
fonte de lucro”.
(1 Timóteo 6:3-5)
“Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos
para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo
mundo”.
(1 João 4:1)
“Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão sinais e
maravilhas para, se possível, enganar os eleitos. Por isso, fiquem atentos: avisei-
os de tudo antecipadamente”.
(Marcos 13:22-23)
“No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também
surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias
destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si
mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses
homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade. Em sua cobiça,
tais mestres os explorarão com histórias que inventaram. Há muito tempo a sua
condenação paira sobre eles, e a sua destruição não tarda”.
(2 Pedro 2:1-3)
“Sim, estou contra os que profetizam sonhos falsos”, declara o Senhor.
“Eles os relatam e com as suas mentiras irresponsáveis desviam o meu povo. Eu
não os enviei nem os autorizei; e eles não trazem benefício algum a este povo”,
declara o Senhor”.
(Jeremias 23:32)
“Portanto assim diz o Soberano, o Senhor: Por causa de suas palavras
falsas e de suas visões mentirosas, estou contra vocês. Palavra do Soberano, o
Senhor. Minha mão será contra os profetas que têm visões falsas e proferem
adivinhações mentirosas. Eles não pertencerão ao conselho do meu povo, não
estarão inscritos nos registros da nação de Israel e não entrarão na terra de Israel.
Então vocês saberão que eu sou o Soberano, o Senhor”.
(Ezequiel 13:8-9)
“Assim diz o Senhor: “Aos profetas que fazem o meu povo desviar-se, e
que, quando lhes dão o que mastigar, proclamam paz, mas proclamam guerra
santa contra quem não lhes enche a boca: Por tudo isso a noite virá sobre vocês,
noite sem visões; haverá trevas, sem adivinhações. O sol se porá e o dia se
escurecerá para os profetas. Os videntes envergonhados e os adivinhos
constrangidos, todos cobrirão o rosto porque haverá resposta da parte de Deus”.
(Miquéias 3:5-7)
“Mas a besta foi presa, e com ela o falso profeta que havia realizado os
sinais milagrosos em nome dela, com os quais ele havia enganado os que
receberam a marca da besta e adoraram a imagem dela. Os dois foram lançados
vivos no lago de fogo que arde com enxofre”.
(Apocalipse 19:20)
Os autores
Capítulo 1 – O ofício da pregação: a seriedade de expor a Palavra de Deus
(Por Jadson Targino)

“Mesmo se o proprietário de um bordel prostituísse diariamente virgens,
esposas religiosas, freiras, por mais terrível e abominável que seja tais coisas,
ele não seria pior nem causaria mais dano que esses pregadores que pregam um
evangelho falso e qualquer outro que ouse manipular a Palavra de Deus"[16]
(Martinho Lutero)

O povo protestante sempre foi conhecido como o povo da Bíblia
Sagrada. Temos as Santas Escrituras como nossa Regra e Autoridade suprema
em matéria de fé e prática. Como povo centrado na Bíblia que somos, temos de
honrar esse título. Temos também que, nas palavras do teólogo anglicano
Graeme Goldsworthy,
“ser diligentes em desenvolver nosso entendimento da
mensagem da Bíblia e de seus efeitos na maneira como
percebemos o mundo e procuramos viver nele como povo de
Deus. (...) Como pregadores evangélicos, precisaremos
trabalhar muito para garantir que a natureza de nossa
pregação seja verdadeiramente bíblica”[17].
A pregação e ensino das Sagradas Escrituras foram os fatores que nos
fizeram conhecidos dessa forma. Esse é o meio principal pelo qual
reconhecemos a magnificência e majestade da Palavra escrita de Deus:
anunciando-a para exortação, consolo, repreensão e edificação.
Eis então a seriedade do ofício santo da pregação: nos púlpitos não nos
dedicamos a expor as elucubrações de homens falíveis, errôneos e incertos, mas
sim a Palavra de um Deus perfeitíssimo, santo e absoluto. Isso significa que não
podemos de forma alguma expor as Santas Escrituras de maneira leviana. E, a
fim de evitar essa profanação, o pregador deve ser vocacionado, bem preparado
e ter uma intensa vida de oração.
A verdade de que a ministração da Palavra é algo seríssimo não se chega
apenas por dedução lógica da informação de que ela é a Palavra de um Deus
terrivelmente glorioso. Essa é também uma verdade explícita no ensino do Novo
Testamento. Paulo escreveu que um ministro deve ser “poderoso, tanto para
admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes” (Tito 1:9),
“apto para ensinar” (1 Tm 3:2), “idôneo para ensinar” (cf. 2 Tm 2:2), “obreiro
que maneja bem a palavra da verdade” (cf. 2 Tm 2:15).
No seu comentário em Tito capítulo 2, o exegeta da Reforma, João Calvino
escreve:
“[A capacidade de reter com firmeza a Palavra de Deus] é o
principal dom do bispo que é eleito especificamente para o
magistério sagrado, porquanto a Igreja não pode ser
governada senão pela Palavra. (...) [O desejo do apóstolo
Paulo] é que o bispo a mantenha firme, de modo que não seja
só bem instruído nela, mas inabalável em transmiti-la. (...) Em
suma, não se requer de um pastor apenas cultura, mas também
inabalável fidelidade pela sã doutrina, a ponto de jamais
apartar-se dela”[18].
Como a Igreja de Deus só pode ser governada pelo seu Cetro, que é a Sua
Palavra (1 Tm 3:14-15; 2 Tm 3:15-17), no momento em que falsos mestres e
pregadores mal preparados assumem o púlpito há uma inevitável rebelião contra
o Domínio do Senhor sobre o seu povo. Essa rebelião consiste no fato de que os
membros da Igreja não mais terão suas condutas regidas pela vontade revelada
de Deus, mas sim pelas invenções pecaminosas dos homens. É por isso que o
preparo e aptidão para ensinar são tão importantes para o ministério.
Deus estabeleceu um nítido padrão pelo qual devemos medir sem exceção
todos os que ministram ou querem ministrar a Palavra na reunião de uma
congregação. Não devemos nos contentar com qualquer outro nível a não ser o
exigido por Deus. É ilícito nos contentar e aceitar aquilo que Deus claramente
aborrece e desaprova.
A pregação da Palavra foi o meio estabelecido por Deus para alcançar os
pecadores e resgatá-los em todo o mundo. A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus
(Rm 10:17). A fim de que os seus possam ser alcançados, Jesus comissionou
pregadores para ensinar às nações (Mt 28:19-20), ensinando cada um dos que
forem discipulados a guardar todos os mandamentos de Cristo. Como
comissionados por Deus, os pregadores são “embaixadores de Cristo” – Deus
“nos confiou a mensagem” – quando os pregadores ministram, é “como se o
próprio Deus fizesse o apelo por meio” deles (2 Co 5:18-20). São mordomos, tão
somente despenseiros dos “mistérios de Deus” (1 Co 4:1-2).
Um bom mensageiro é aquele que transmite a mensagem daquele que o
enviou com o máximo de fidedignidade possível: sem tirar e sem acrescentar. O
papel do pregador, como mensageiro do Rei Supremo do universo, o Deus
Triúno, consiste nisso: tão somente levar a Sua Palavra às pessoas assim como
ela foi entregue a nós, na Escritura, fielmente. Não devemos misturar a pregação
com acréscimos ou reter qualquer uma das doutrinas que lá estão para serem
proclamadas (Dt 4:2, Ap 22:18-19). Nosso trabalho é expor.
A pregação da Palavra pode assumir várias formas: expositiva, temática
ou textual. A palavra pode ser aplicada de diversas maneiras, além da pregação:
disciplina eclesiástica, louvor, oração etc. A questão é garantir que todas essas
atividades onde a Palavra é utilizada sejam verdadeiramente bíblicas. A “Palavra
de Cristo” deve “habitar ricamente em nós” (cf. Cl 3:16). E quando se fala
especificamente de pregação, o emblema que testifica da seriedade no exercício
do ofício é o esforço em todas as áreas (preparação, oração, etc.) para assegurar
que as doutrinas contidas na Sagrada Escritura sejam tornadas realmente claras a
todos que as ouvem do púlpito.
A passagem de Filipe e do Eunuco é muito bem utilizada em diversos
livros para explicar como se deve fazer uma boa evangelização. Porém, também
podemos fazer outra aplicação daquele contexto ao papel do pregador. Assim
narra Lucas em Atos dos Apóstolos:
“E o anjo falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado
do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que
está deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope,
eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual
era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a
Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no seu
carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: Chega-
te, e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o
profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse:
Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E
rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. E o lugar
da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o
matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o
tosquia, assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi
tirado o seu julgamento; E quem contará a sua geração?
Porque a sua vida é tirada da terra. E, respondendo o eunuco
a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si
mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua
boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus”
(At 8:26-35).
Ernest H. Trenchard comenta o que segue a respeito dessa passagem:
“O significado do texto bíblico nem sempre é auto-evidente,
nem mesmo para o que busca sinceramente, e Deus prepara
aqueles que, eles mesmos tendo sido ensinados, são capazes
de guiar outros (...) Podemos estar certos de que Filipe
incluiu Is 53.4-6 quando pregou as boas novas de Jesus com
base nesse texto. A ministração dessa lição pode ter durado
horas, visto que a carruagem avançava lentamente, e trouxe
completa convicção ao coração dessa autoridade (...). Jesus
Cristo era o Messias, o Cordeiro de Deus, o que carregou todo
o pecado!”[19].
Reparem: não bastou que o Eunuco simplesmente tivesse acesso a
Escritura. Ele necessitava do auxílio elucidativo de um dos homens que recebeu
o dom para ministrar a Palavra (cf. Ef 4:11) para que os Santos Escritos ficassem
claros em sua compreensão. Esse homem no caso foi Filipe, que, ocupando
cargo no magistério sagrado como evangelista, cumpriu excelentemente o seu
papel, ao ponto que o Eunuco se converteu e foi batizado (At 8:36-40).
No Antigo Testamento, os sacerdotes também se dedicavam a exposição
dos escritos de Moisés - a Palavra de Deus - ao povo. Como relatam as
escrituras:
“Todo o povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante
da porta das águas; e disseram a Esdras, o escriba, que
trouxesse o livro da lei de Moisés, que o SENHOR tinha
ordenado a Israel. E Esdras, o sacerdote, trouxe a lei perante
a congregação (...) e os ouvidos de todo o povo estavam
atentos ao livro da lei. (...) E Esdras abriu o livro perante à
vista de todo o povo; porque estava acima de todo o povo; e,
abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. Os levitas
ensinavam o povo na lei; e o povo estava no seu lugar. E
leram no livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o
sentido, faziam que, lendo, se entendesse” (Nm 8:1-8).
Talvez a palavra seriedade seja insuficiente para descrever o
comportamento da congregação israelita para receber o Ensino da Lei de Deus.
Todo o povo tinha temor e reverência na hora da exposição da Palavra, ouvindo
atentamente e se pondo de pé. Os homens escolhidos e vocacionados por Deus
(os levitas) declaravam (expunham) a lei (a Palavra), explicando o sentido,
fazendo com que aquilo que era lido fosse compreendido. O resultado do
exercício correto do ofício da pregação? “Todo o povo chorava, ouvindo as
palavras da lei” (Nm 8:9).
Deus se agrada em abençoar com conversões a Igreja que tem pregadores
que levam a sério o ofício da pregação. A Bíblia diz que na Igreja apostólica
todos os dias “acrescentavam-se o número dos que iam sendo salvos” (cf. At
2:40-42). Cada um dos ministros planta e rega, mas é Deus quem dá o
crescimento (1 Co 3:7), abrindo o coração dos pecadores para que recebam de
bom grado a Palavra (At 16:14). Contudo, isso não significa que todo pregador
sério e fiel terá um número notável de conversões acompanhando o seu
ministério.
O Evangelho é o poder de Deus para a salvação dos que creem (Rm 1:16).
Isto, porém, não anula o fato de que é também uma sentença de morte para
aqueles que não recebem a mensagem (2 Co 2:16). A Palavra de Deus
proclamada jamais volta vazia e opera sempre o que apraz ao desígnio divino (Is
55:11). O ministério de converter é atribuição exclusiva do Espírito Santo (Jo
16:8). Portanto, o pregador fidedigno deve descansar no Senhor, sabendo que o
seu papel, como já foi dito, é tão somente pregar a Palavra, seja ela para salvação
ou para condenação dos ouvintes.
A ordem do Apóstolo Paulo a Timóteo continua atual e aplica-se a cada um
dos ministros da Igreja de Deus: “prega a Palavra, insiste em tempo e fora de
tempo!” (1 Tm 4:2). Paulo também ordena: “Manda estas coisas e ensina-as. (...)
Persiste em ler, exortar e ensinar (...) Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina.
Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como
aos que te ouvem” (1 Tm 4:11, 13, 16).
Sobre isso, o comentário bíblico Beacon (CBB) afirma:
“A palavra grega traduzida por manda tem “conotação militar”
e o jovem pastor deve tê-la ouvido com força resoluta. (...)
está nitidamente subentendido que é tarefa dos ministros
cristãos pregar e ensinar com autoridade devidamente
reconhecida. (...) Trata-se de autoridade espiritual que se
origina de um andar diário em comunhão íntima com Cristo e
um ministério de pregação e ensino que traga as marcas
evidentes da unção do Espírito Santo”[20].
Podemos caracterizar um ministério sério de pregação da Palavra em três
marcas: vocação, preparação e oração. Discorreremos adiante sobre estas
marcas.

1.1. Três marcas de um ministério sério

Vocação
O ministério da palavra só pode ser exercido por aqueles que “têm dons
suficientes, e são devidamente aprovados e chamados para o ministério”[21].
Conforme a Sagrada Escritura, no tocante ao santo ofício, “ninguém toma para si
esta honra, senão o que é chamado por Deus” (Hb 5:4). É nos homens
vocacionados verdadeiramente que o povo de Deus deve buscar a lei. Sem
vocação, um ministério não pode ter real eficácia espiritual para edificação:
“Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca
devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do Senhor dos
Exércitos” (Ml 2:7). Não são todos os homens chamados a esse ministério (1
Co 12:28-29).
O Apóstolo Paulo escreveu: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o
ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho
em mim, para que o pregasse entre os gentios” (Gl 1:15,16). Deus é quem
separa para a pregação da Palavra.
Ao comentar gálatas 1:1, Calvino escreveu:
“Lembremo-nos sempre de que na Igreja devemos nos atentar
tão somente para Deus e para Jesus Cristo, a quem ele
designou para ser nosso mestre. Portanto, quem quer que
deseje ser um mestre deve falar no nome de Deus ou de
Cristo”[22].
E mais tarde, sobre o chamado para ministrar do Apóstolo Paulo ele
também afirma:
“O primeiro fato – de que ele não fora chamado da parte de
homens - ele tinha em comum com todos os ministros de
Cristo. Como nenhum homem tomaria tal honra [de conceder
cargo de ensino na Igreja de Cristo] para si mesmo, tampouco
está no poder dos homens concedê-la a quem porventura
queiram. A Deus pertence com exclusividade o governo de
sua Igreja. Portanto, a vocação não pode ser legítima a não ser
que proceda dele”[23].
Aqueles que são verdadeiramente vocacionados por Cristo serão
reconhecidos como capacitados e ordenados devidamente por seu Corpo, que é a
Igreja (At 6:1-6; 14:23, 1 Tm 4:14). A esse ensino bíblico resume
excelentemente bem a Confissão de Fé Batista londrina de 1689:
“O modo designado por Cristo para o chamamento de uma
pessoa capacitada e dotada pelo Espírito Santo, ao ofício de
bispo ou ancião da igreja, é a escolha pelo consenso da igreja.
Os bispos serão consagrados solenemente, com jejum, oração,
e a imposição de mãos pelos anciãos da igreja (caso exista
algum). Os diáconos serão escolhidos por igual eleição e
consagrados por oração e imposição de mãos”[24] (Capítulo
XXVI, parágrafo 9).
O princípio aqui é que quando alguém é genuinamente chamado, a Igreja
em consenso reconhecerá isso. Uma vocação verdadeira vem de Deus e Deus
testifica por meio do seu Espírito a Igreja.

Preparação

Como os ministros devem ser aptos e idôneos para ensinar, faz parte da
formação de um bom ministro ser versado em Teologia. Não falo aqui do
conhecimento de teólogos. Falo do conhecimento direto da fonte: a Sagrada
Escritura. Até mesmo os apóstolos mais iletrados, como judeus que eram,
conheciam de “cabo a rabo” os Santos Escritos do Antigo Testamento: Moisés, a
lei e os profetas. Paulo era aluno de Gamaliel, o mais célebre rabino de sua
época. Não é possível querer posição de docência para lecionar acerca da
Palavra sem saber manuseá-la, o que inclui a capacidade de memorizar, explicar
e aplicar a Bíblia. Isso só se consegue folheando-a para estudá-la com diligência
e dedicação. É claro que, depois da leitura direta da Bíblia, ler bons livros
escritos por outros teólogos é muito importante também no acúmulo de
conhecimento necessário para o bom manuseio da Palavra.
Expondo 2 Tm 2:15, Matthew Henry diz:
“Os ministros precisam ser obreiros. Eles têm trabalho para
realizar e precisam se esforçar nele. Os obreiros que são
inexperientes, infiéis ou preguiçosos devem se envergonhar
(...) E qual é o seu trabalho? Eles devem manejar bem a
palavra da verdade. Eles não devem inventar um novo
evangelho, mas manejar bem o evangelho que é confiado ao
seu depósito. (...) Observe aqui: (1) A Palavra que os ministros
pregam é a Palavra da verdade, porque o autor dela é o Deus
da verdade. (2) Necessita-se de muita sabedoria, estudo e
cuidado para manejar bem essa palavra da verdade.
Timóteo devia estudar para que pudesse fazer isso bem”.[25]

Oração

A oração é essencial para uma pregação que traz vida a congregação. O
pregador sério é, portanto, um pregador que tem uma vida sólida de
devoção.
“E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; Não
que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa,
como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de
Deus, O qual nos fez também capazes de ser ministros de
um novo testamento, não da letra, mas do Espírito;
porque a letra mata e o Espírito vivifica” (2 Co 3:4-6).
É o Senhor que nos torna capazes, em especial na Nova Aliança, de
sermos ministros - não da letra que traz morte - mas da Palavra acompanhada da
ação que vivifica do Espírito. No contexto original, Paulo rebate aqui, na
segunda carta aos coríntios, o estilo de vida dos judeus da época pós-pentecostes
que insistiam em viver pela letra da Lei entregue no Antigo Testamento
conquanto rejeitassem ser habitados pelo Espírito Santo, resultando num
legalismo morto (como se via, por exemplo, na vida dos escribas, fariseus e
mestres da lei da época). Aplicando aos dias atuais, existem pregadores que
ministram a lei, isto é, a boa letra da sã doutrina sem se preocuparem em
dependerem do poder e da habitação do Espírito para o seu ministério[26]. Letra
que mata se refere aqui a essa pregação que “pode estar em boa forma e bem
ordenada, mas ainda é a letra, letra árida e áspera, concha vazia”[27].
Ou seja, é a pregação sem a ação revitalizadora do Espírito. E.M. Bounds
continua:
“A pregação da letra tem a verdade. Mas, até mesmo a
verdade divina não carrega sozinha a energia doadora de
vida; precisa ser energizada pelo Espírito, com todas as
forças de Deus a dar-lhe suporte. A verdade que não foi
vivificada pelo Espírito de Deus mortifica tanto
quanto o erro, ou ainda mais. Pode ser uma verdade
sem outras adições; mas, sem o Espírito, a sua sombra e
toque são mortais; é o erro da verdade, é a luz das trevas.
A pregação na letra não tem unção, não é suavizada
nem azeitada pelo Espírito”[28].
A pregação que mata é a preleção desacompanhada da oração. Um
ministério eficaz é um ministério dependente da capacitação divina. Sem oração,
o pregador acredita ser independente de Deus, soberbo, crê que por suas próprias
forças pode produzir edificação nos ouvintes. Deus resiste aos soberbos (cf. Tg
4:6). Portanto,
“O pregador que é débil na oração, é débil em forças
vivificantes. O pregador que se afastou da oração
como elemento conspícuo e predominante do seu
próprio caráter despojou sua pregação do
característico poder vivificador”[29].
Quando nos preocupamos mais com a preparação intelectual do que com o
fortalecimento espiritual é isso que acontece: ortodoxia morta. Isso é
completamente indesejável para o pregador, visto que o alvo mais proeminente
do sacro ofício da pregação é a salvação das almas. Por isto, pregadores,
oremos! “Orai sem cessar” (1 Ts 5:17). Estejamos “orando em todo o tempo” (Ef
6:18). Sejamos como Paulo, que tendo ministrado o evangelho aos efésios,
depois orava por aqueles que haviam sido alvos de sua ministração. Como está
escrito:
“Não cesso de dar graças a Deus por vós,
lembrando-me de vós nas minhas orações: Para
que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da
glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de
sabedoria e de revelação; Tendo iluminados os olhos
do vosso entendimento, para que saibais qual seja a
esperança da sua vocação, e quais as riquezas da
glória da sua herança nos santos” (Ef 1:16-18).
Da mesma forma, devem os ministros orarem por suas Igrejas locais,
rogando a iluminação do entendimento dos seus ouvintes; pedindo que o Pai os
conceda “espírito de sabedoria e revelação”, para que eles compreendam as
riquezas as quais obtiveram como herança por causa da Palavra de Deus.
Concluindo, Bounds exorta-nos:
“Não deveríamos abandonar para sempre a pregação
execrável que mata e a oração que mata para
começar a fazer o que é legítimo, a coisa mais
poderosa – oração em espírito de oração, pregação
que gera vida, fazendo que a força mais poderosa se
ancore no céu e na terra, que retira de Deus, tesouro
inexaurível e aberto em favor das necessidades
penúrias do homem?”[30].

1.2. Considerações Finais

Diferente do que ensinam muitos falsos evangelhos pregados por aí, Deus
é amor, mas também é “fogo consumidor” (Hb 12:29). Deus está irado
infinitamente contra o pecado, contra os pecadores que insistem em continuar se
rebelando (Sl 5:4-5, Is 61:8, Jo 3:36) e não tolerará para sempre aqueles que não
levam em conta a seriedade do ofício da pregação – sejam por serem falsos
profetas ou pregadores mal preparados. Existe um padrão (conforme já foi
exposto anteriormente) estabelecido pelo SENHOR e ele exigirá prestação de
contas de cada um dos homens por suas obras em relação à responsabilidade
dada a cada um deles por ocasião de sua posição. Ao que muito foi dado, muito
será cobrado! (Lc 12:48).
Que possamos ser pregadores conforme o que a Lei de Deus estabelece a
nós, a saber:
“Aqueles que são chamados a trabalhar no ministério
da Palavra devem pregar a sã doutrina,
diligentemente, em tempo e fora de tempo,
claramente, não em palavras persuasivas de humana
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de
poder; fielmente, tornando conhecido todo o
conselho de Deus; sabiamente, adaptando-se às
necessidades e às capacidades dos ouvintes;
zelosamente, com amor fervoroso para com Deus e
para com as almas de seu povo; sinceramente, tendo
por alvo a glória de Deus e procurando converter,
edificar e salvar as almas”[31].
Sejamos zelosos! Lembrando que “o que desvia os ouvidos da Lei, até a
sua oração será abominável” (Pv 28:9).
Capítulo 2 – Expondo todo o Conselho de Deus: O método de Paulo
(Por Jadson Targino)

“Este volume [a Bíblia] é o escrito do Deus vivo; cada letra inscrita com
dedo do Todo-Poderoso, cada palavra, provinda de lábios eternos, cada
sentença ditada pelo Espírito Santo. (...) em toda parte, ouço a voz de Deus que
fala. É voz de Deus, não de homens. São palavras de Deus as palavras, palavras
do Eterno, Invisível, Todo Poderoso Jeová desta terra”[32]
(Charles Haddon Spurgeon)

Nem mesmo um til que consta na Palavra de Deus foi colocado em vão.
Tudo que nela consta foi colocado ali com um propósito. O propósito de TODA
a Escritura (e não só partes dela) é ser “útil para fazer o homem de Deus perfeito
e preparado para toda boa obra” (2 Tm 3:16-17).
Sendo assim, por que muitos pregadores não se preocupam em pregar
TODA a Escritura como Palavra de Deus relevante HOJE para todos os
homens? Como triste exemplo, um ex-ministro presbiteriano que apostatou da fé
declarou em rede nacional que “a Bíblia diz sobre a própria Bíblia que parte
dela caducou (...) toda a lei de Moisés caducou. A mensagem do apóstolo
Paulo fala da caducidade, da caduquice, da senilidade das leis passadas diante da
revelação de consciência nova que chegou em Jesus e que relativizou todos os
manuais e receitinhas primitivos; ‘sentencinhas’ tolas do tempo que a
consciência humana estava reduzida a fragmentos de percepção”[33]. Além de
chamar as leis santas entregues a Israel por intermédio de Moisés, leis estas de
um Deus Santo e Absoluto, de “sentencinhas tolas” e “manuais primitivos”,
como se não bastasse, o falso profeta também afirmou que “há partes do Novo
Testamento que caducaram”[34]!
Muitos pregadores não seguem o terrível exemplo do blasfemo liberal
mencionado anteriormente, o qual está debaixo da ira de Deus[35]. Eles não
dizem com sua boca que partes da Bíblia foram relativizadas ou caducaram.
Porém, mesmo sem declarar com seus lábios, sua prática pastoral e de ensino
desleixada ou aproveitadora deixa claro que em seu coração eles não consideram
ensinar TODA a Escritura, algo importante para o povo de Deus. Afinal, se eles
considerassem, eles realmente se esforçariam em ministrar toda ela.
Pregam trezentos sermões sobre as vidas dos heróis da fé, mas nunca
sequer pregaram um sermão sobre a justificação pela fé em Romanos. Ministram
dezenas de reflexões sobre problemas psicológicos: depressão, traumas, stress
etc., contudo nunca conseguiram expor as doutrinas da regeneração,
santificação, glorificação. Até, de vez em quando, abrem os capítulos dos
Evangelhos para ler na congregação (um milagre!), mas quando o fazem, é para
focar nas bênçãos concedidas por Jesus em resposta a fé das pessoas, sem focar
no significado maior de todos esses sinais e prodígios na Escritura. Alguns deles
– geralmente mais instruídos - sabem falar dez mil palavras sobre graça, mas não
conseguem falar sequer dez sobre a Lei Santa de Deus, usando a justificativa de
que fazer isso é uma atitude “legalista”.
São esses pregadores que ANUNCIAM todo o conselho de Deus? Não!
De forma alguma. Esse não foi o exemplo deixado pelo Apóstolo Paulo. O
evangelista Lucas testifica acerca do ministério de Paulo:
“E de Mileto mandou a Éfeso, a chamar os anciãos da igreja.
E, logo que chegaram junto dele, disse-lhes: Vós bem sabeis,
desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo
esse tempo me portei no meio de vós, Servindo ao Senhor
com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentações, que
pelas ciladas dos judeus me sobrevieram; Como nada, que
útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e
pelas casas, Testificando, tanto aos judeus como aos
gregos, a conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus
Cristo. E agora, eis que, ligado eu pelo espírito, vou para
Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer, Senão o
que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo
que me esperam prisões e tribulações. Mas de nada faço
questão, nem tenho a minha vida por preciosa, contanto que
cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que
recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da
graça de Deus. E agora, na verdade, sei que todos vós, por
quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu
rosto. Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou
limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos
anunciar todo o conselho de Deus. Olhai, pois, por vós, e por
todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu
bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou
com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da
minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não
pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se
levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem
os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de
que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar
com lágrimas a cada um de vós. Agora, pois, irmãos,
encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é
poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os
santificados. De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o
vestuário. Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era
necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me
serviram. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando
assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as
palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada
coisa é dar do que receber. E, havendo dito isto, pôs-se de
joelhos, e orou com todos eles” (Atos 20:17-36).
O comentarista bíblico William MacDonald explica que Paulo não ter
deixado de “anunciar todo o conselho de Deus” (vers. 27) tem o sentido de que
“[O apóstolo] os instruíra não apenas quanto à base do
evangelho, mas também com respeito a todas as verdades
essenciais para uma vida agradável a Deus”[36].
Ademais, ressalta que “Paulo não reteve dos efésios nada que pudesse ser
espiritualmente proveitoso”.[37] Esse sim é um ministério exemplar que deve ser
imitado[38] por todos os pregadores que pisam sobre esta terra: o trabalho ilibado
de um ministro que não ocultou nenhuma das doutrinas bíblicas a seus ouvintes
– em suma, ele expôs tudo. Nada deixou de anunciar, ainda que fosse ofensivo
aos ouvintes ou os confrontasse.
Exatamente por Paulo ter anunciado todo o Conselho de Deus àquele
povo, ele não poderia ser culpabilizado pelo sangue daquelas vidas. Cada um
deles era ciente das bases do evangelho e das doutrinas fundamentais para ter
uma vida correta diante do Senhor. Sabiam exatamente aquilo que Deus exigia
deles e no que se deve crer para ser salvo. Deus, como justo juiz e irado contra o
pecado que é, fará cada um de nós prestarmos conta de nossas obras nesta vida
(Ap 20:10-15). Paulo não poderia ser responsabilizado por deixar de alertar
aquelas vidas no grande dia do Juízo. Ele cumpriu a missão. No que se refere ao
versículo 26 – ‘protesto que estou limpo do sangue de todos vós’, O dr. Craig
Keener elucida:
“A imagem da culpa indireta pelo sangue de uma
pessoa é comum no Antigo Testamento (p. ex. Dt
21:1-9), mas Paulo, aqui, se refere especialmente ao
sentinela que não adverte os ímpios a que se
arrependam”[39].
O ministério profético é comparado ao trabalho de uma sentinela. Uma
sentinela era responsável por alertar a população em períodos de guerra, acerca
de qualquer perigo vindouro (um ataque inimigo, por exemplo), possibilitando a
cidade proteger-se corretamente. Os profetas eram responsáveis por declarar a
Vontade de Deus ao povo. Nesse sentido, Paulo e todo pregador também têm um
ministério profético: devemos expor o desígnio de Deus (que agora se encontra
completo e suficientemente registrado nas Sagradas Escrituras) aos homens. A
diferença é que um pregador expõe a vontade já revelada; o profeta não. O
profeta era um meio pelo qual Deus revelava a sua Vontade.
“Se eu disser ao ímpio: Oh ímpio, certamente morrerás; e tu
não falares, para dissuadir ao ímpio do seu caminho, morrerá
esse ímpio na sua iniqüidade, porém o seu sangue eu o
requererei da tua mão. Mas, se advertires o ímpio do seu
caminho, para que dele se converta, e ele não se converter do
seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade; mas tu livraste a
tua alma” (Ez 3:18-19, 33:8-9).
“Também, quando um justo se desviar de sua justiça e fizer o
mal, e eu puser uma pedra de tropeço diante dele, ele morrerá.
Uma vez que você não o advertiu ele morrerá pelo pecado
que cometeu. As práticas justas dele não serão lembradas;
para mim, porém, você será responsável pela morte dele.
Se, porém, você advertir o justo e ele não pecar, certamente
ele viverá, porque aceitou a advertência, e você estará livre
de culpa” (Ez 3:20,21).
A ordem para aqueles incumbidos de anunciar o Conselho de Deus é
“fala e não te cales” (At 18:9). Caso retenhamos a mensagem destinada tanto aos
justos como aos injustos, conforme visto nos versículos anteriormente citados, a
culpa pela morte deles recairá sobre nós. No contexto referido a Ezequiel, a
morte ali é a morte física, morte decorrente do juízo quando Deus enviava
nações para punir com a espada no meio de guerra àqueles que não eram fieis. Já
a preocupação do Evangelho com os ímpios é outra: o perigo vindouro é a Ira de
Deus prestes a ser derramada.
“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei
antes, AQUELE QUE PODE fazer perecer no inferno o corpo e alma” (Mt
10:28)
É a Deus - em sua ira santíssima e infinita contra o pecado - quem
devemos temer. Como dizia Jonathan Edwards em seu famoso sermão,
ressaltando a iminência do juízo divino que paira sobre cada um dos homens:
“Não há nada, a não ser a boa vontade de Deus, que impeça os
ímpios de caírem no inferno a qualquer momento. Por mera
boa vontade de Deus, me refiro à sua vontade soberana, ao seu
livre arbítrio, o qual não é restringido por nenhuma obrigação,
nem tolhido por qualquer tipo de dificuldade. Em última
análise, sob qualquer aspecto, nada, exceto a vontade de Deus,
tem poder para preservar os ímpios da destruição por um
instante sequer (...) Essa mensagem pode despertar as pessoas
não convertidas para o significado do perigo que estão
correndo. Isso que vocês escutaram é o caso de todo aquele
que não está em Cristo. Esse mundo de tormento, isto é, o
lago de enxofre incandescente, está aberto debaixo de vossos
pés. Ali se encontra o terrível abismo de chamas que ardem
com a fúria de Deus, e o inferno com sua imensa boca
escancarada. E vocês não têm onde se apoiarem, nem coisa
alguma onde se segurarem. Não existe nada entre vocês e o
inferno, senão o ar, e só o poder e o favor de Deus podem vos
suster”[40].
A ira de Deus paira sobre todos os pregadores, sejam eles inaptos[41] ou
falsos profetas, que pecam deliberadamente, deixando de anunciar todo o
designío, isto é, toda a Palavra de Deus ao povo.
Considerem por alguns segundos a seriedade do pecado que estão
cometendo. “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o
homem semear, isso também colherá” (Gl 6:7). Cada ser humano impenitente,
incluindo os maus pregadores que podem estar lendo esse livro nesse exato
momento, é como um equilibrista que está andando sobre uma corda bamba,
podendo despencar para o precipício ardente a qualquer momento. Enquanto
houver chance, devem se arrepender e tornar para Deus.
Se você não leva a sério seu ofício, sinto dizer: Deus leva. O pregador e
missionário batista Paul Washer dá um conselho que também se aplica aos
pregadores:
“Pastores, rogo-lhes: ouçam-me – isto é tão importante:
vocês não são rapazes de recados. Vocês não devem gastar
seus dias agradando clérigos carnais. Mantenha-se no estudo
da Palavra. Beba profundo. Seja tão absorvido no
conhecimento de Deus, que as pessoas dirão: “Onde ele
está?” (...) Somos homens de Deus. Ministros do Altíssimo.
Em nós deve haver algo diferente (...) para que, ao abrirmos a
boca, a Palavra de Deus se manifeste”[42].
É de suma importância que fique explícito o que ressalta o especialista em
homilética Graeme Goldsworthy,
“Usar textos bíblicos, focalizar personagens bíblicos ou usar
chavões famosos que são declarados como bíblicos – tudo isso
não é em si mesmo uma garantia de que nossa pregação é
essencialmente bíblica”[43].
Se você acha que porque fez uso de quatro chavões populares e citou
dois teólogos famosos o seu sermão ficou bíblico, me perdoe à franqueza: você
está enganado! Você ainda não está cumprindo o seu papel como pregador.
Enquanto, de fato, não viermos a expor as Escrituras em nosso ministério, não
estaremos cumprindo a missão dada por Deus corretamente.
Podemos expor todo o Conselho de Deus de diversas formas. A pregação
expositiva em Lectio Continua[44] (do Latim, “leitura continua”) é considerada
por alguns a melhor forma de fazer isso. O Pr. Steven Lawson escreve a respeito
de João Calvino - considerado um dos maiores pregadores de todos os tempos –
que seguia esse método:
“Enquanto durou seu ministério, o método de Calvino
consistiu em pregar sistematicamente sobre livros inteiros da
Bíblia. (...) Parker escreveu: “Domingo após domingo, dia
após dia, Calvino subia os degraus até o púlpito. Lá, ele
pacientemente conduzia sua congregação, verso após verso,
livro após livro””[45].
Dessa forma, Calvino conseguiu pregar quase todos os livros da Bíblia a
Igreja que pastoreava em Genebra, tendo ministrado sermões expositivos do
primeiro ao último capítulo dos livros de Gênesis, Deuterônomio, Jó, Juízes, 1 e
2 Samuel, 1 e 2 Reis, [todos os] profetas maiores e os menores, os evangelhos,
Atos, 1 e 2 Coríntios, Galátas, Efésios, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito
e Hebreus[46]. A grande vantagem do método consiste em que o pregador não
pode escolher os assuntos que vai pregar. É o próprio texto sagrado quem dita
isso. Conforme explica Lawson:
“O estilo verso-a-verso (...) garantia que Calvino pregasse
todo o Conselho de Deus. Assuntos difíceis e controversos
não podiam ser evitados. Palavras duras não podiam ser
omitidas. Doutrinas complicadas não podiam ser
negligenciadas. Todo o Conselho de Deus pôde ser
ouvido”[47].
O método que eu indicaria a você, amigo pregador, seria esse, mas você
tem liberdade de seguir ou não o método, contanto que siga o mesmo princípio:
o de tornar claro a toda a Igreja de Deus a totalidade de seu conselho por meio
da exposição da doutrina da Sagrada Escritura.
Com urgência, voltemos a exibir essa característica em nossos ofícios - a
de anunciar todo o Conselho de Deus - se queremos que nossos ministérios
sejam realmente bíblicos.

Capítulo 3 – O Inferno, o Lago de Fogo e os Pregadores
(Por Rodrigo Caeté)

“Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que
havemos de receber maior juízo”.
(Tiago 3.1)

3.1. A dádiva do ministério e suas reais responsabilidades

A maior dádiva que um homem pode receber, após a salvação, é a graça
de ser chamado para ser ministro do Evangelho. É um presente que ao mesmo
tempo que nos constrange e nos alegra. O constrangimento é em razão de, após
conhecer as verdadeiras doutrinas da graça, saber que somos como que famintos
e sedentos dando água e pão a outros famintos e sedentos. Numa empresa, por
exemplo, um líder nunca se vê como um igual aos seus subordinados, mas o
evangelho não apenas inverte essa ideia como vai além disso. Primeiro porque,
no que tange à dignidade, todos somos indignos na mesma proporção; não é,
portanto, um cargo eclesiástico o fator preponderante a mudar o grau de
dignidade. É a dignidade de Cristo imputada a nós, cristãos, que nos iguala, e faz
todo “cristão soberbo” ser uma contradição ambulante, da mesma forma como é
incoerente um “cristão carnal” e um “quadrado redondo”.
Em segundo lugar, afirmamos que o evangelho vai além da ideia secular
de liderança e liderados a partir do que o apóstolo Paulo fala no texto abaixo:
“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de
Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus.” (1 Coríntios 4.1)
A expressão “ministro de louvor” traz em si a ideia de alguém que está
acima do que é ser apenas um músico. Hierarquicamente, ele está em um grau
superior aos outros músicos. Em razão de o tema do livro não ser sobre música,
não tecerei aqui minha opinião a respeito dessa invenção “ministro de
louvor”[48]. O meu ponto é associar essa assimilação de cosmovisão a respeito da
hierarquia do líder. É por conta dessa assimilação que muitos pastores lideram
suas igrejas como ditadores e autoritários, machucando, assim, o rebanho de
Cristo. Eles se acham mais dignos e superiores em comparação aos membros do
Corpo.
Em relação à palavra “ministro” em grego, Paulo poderia ter utilizado
outras palavras comuns em seu vocabulário, como doulos, diakonos, therapon,
etc., todavia, ele escolheu ὑπηρέτης, que latinizado pronunciamos huperetes. Por
que Paulo usa essa palavra e qual o significado dela?
Devemos nos lembrar a quem Paulo dirige essas palavras: a uma igreja
cheia de problemas, dentro os quais, o partidarismo. Não custa lembrar que eles
colocavam num pedestal acima seus pregadores preferidos. Alguns gostavam
mais de Apolo, outros, de Paulo, outros, de Pedro, e, os piores, aqueles que
escolhiam a Cristo, mas com motivações soberbas.[49] Diante disso, não bastava
a Paulo apenas dizer “eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus.
De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que
dá o crescimento.” (3. 6-7); ele tinha que ir além e acrescentar a palavra
huperetes em sua primeira carta; se apresentando como apenas mais um perante
os irmãos de Corinto, e deixando claro que absolutamente todos somos pequenos
diante de Deus.
A palavra huperetes significa, literalmente, “remador inferior”, “remador
subordinado”, “remador de baixa categoria” ou “remador do último porão”.
Como Paulo era acostumado a usar navios em razão de suas muitas viagens
missionárias, e estava escrevendo para uma cidade portuária, Corinto. O termo
caiu muito bem de acordo com o contexto e segundo a explicação que o apóstolo
queria dar a respeito do ministro do evangelho. Segundo Clovis Gonçalves, em
seu artigo publicado no site bereianos, a palavra huperetes
“É um termo de origem militar que servia para distinguir,
numa embarcação de guerra, o soldado dos que ficavam no
andar de baixo, remando sob o comando de um líder, ao som
de um tambor. A ideia, pois, não é de alguém à frente ou
acima de outros, mas ao contrário, de pessoas que fazem um
trabalho invisível, num nível inferior aos demais tripulantes”.
[50]

Em outras palavras, o verdadeiro ministro do evangelho é aquele que


serve de forma invisível; é o que mais trabalha; é o que está na escala de baixo
da igreja; é aquele que trabalha para cuidar dos tripulantes deste barco, isto é,
das ovelhas, a fim de que todos cheguem bem ao fim da viagem.
Como eu sinalizei no início, esse constrangimento de ser um ministro não
é no sentido negativo quando se entende e se pratica o real significado da
vocação; é um constrangimento que traz alegria e gratidão, pois servir a cristo e
remar esse grande e belo navio são dádivas incomensuráveis.

3.2. O juízo sobre os falsos profetas: Inferno e Lago de Fogo e Enxofre

Se, como visto anteriormente, ser chamado ao ministério é uma
grandiosa dádiva, por que, então, Tiago diz aos seus destinatários para que
muitos destes não busquem se tornar mestres?[51][52] À primeira vista, e fazendo
uma exegese isolada e sem conhecimento sintático do texto, parece que a
resposta é clara: “porque ser mestre implica em maior juízo”. Veja novamente a
disposição do texto:

“Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que
havemos de receber maior juízo”.
(Tiago 3.1)

Fazendo uma rápida leitura, a interpretação precipitada é a de que Tiago
está condenando já todos os mestres, visto que, sintaticamente, ser mestre
implica em maior juízo. Nessa linha de raciocínio, não parece haver uma culpa
moral antes da condenação, mas uma condenação em razão da vocação.
Como sabemos que essa intepretação é infantil e descabida, não
dedicaremos muito tempo para refutar essa ideia[53]. Olhando novamente o texto,
percebemos que Tiago se insere nele, ao usar um verbo na primeira pessoa do
plural: “havemos de receber maior juízo.” É óbvio, portanto, que Tiago não está
de modo geral trazendo condenação a todo pastor/mestre e a si mesmo. O
objetivo de Tiago é alertar a todos os ministros e focar em alguns em particular,
aqueles que usam a “língua” de forma equivocada para proferir mentiras a
respeito do evangelho.
Do verso 2 ao 12, Tiago desenvolve a doutrina da “língua desenfreada”,
que evidencia o caráter e o status (falso profeta) de quem a utiliza. Vale a pena
uma leitura mais atenta desses versos para perceber como que o autor
desenvolve a ideia de a “língua”, isto é, a palavra que sai da boca de quem fala,
refletir o caráter do falante:
“Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não
tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também
todo o corpo. Ora, se pomos freio na boca dos cavalos, para
nos obedecerem, também lhes dirigimos o corpo inteiro.
Observai, igualmente, os navios que, sendo tão grandes e
batidos de rijos ventos, por um pequeníssimo leme são
dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro. Assim,
também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas.
Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva! Ora,
a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada
entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro,
e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana,
como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno.
Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres
marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano; a
língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal
incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela,
bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos
os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca
procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente
que estas coisas sejam assim. Acaso, pode a fonte jorrar do
mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus
irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos?
Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce” (Tg 3:2-
12).
Embora este texto, como princípio geral, pode ser aplicado a todo cristão,
ele é especificamente direcionando aos pregadores. Não é sem razão que, após
falar que sobre os falsos mestres (verso 1) haverá um juízo maior, o verso 2 é
introduzido por uma conjunção explicativa (porque), que amarra o que foi dito
antes com tudo o que será dito depois.
A analogia é simples: o Deus que criou todas as coisas falando é o
mesmo que propaga seu evangelho através da verbalização. Foi no falar de Deus
que todas as coisas boas foram feitas. Falando antropomorficamente, a língua de
Deus, posta em ação, mostrou o caráter extremamente bondoso do SENHOR.
O mesmo vale para os pregadores. Nós carregamos o evangelho da
Palavra. E segundo Tiago, ou ela é propagada de forma fiel ou a língua do infiel
o levará ao inferno:
“Ora, a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está
situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo
inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência
humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo
inferno”.
Entretanto, não é a língua, como um órgão, a responsável pela
condenação do falso profeta, como se este fosse uma vítima de um pedaço de
carne. A “língua desenfreada” representa a deliberada desobediência do homem
que, diante da verdadeira Palavra, prefere proferir mentiras. Então, ao mesmo
tempo em que ele cria o engano e as mentiras para beneficiar-se nesta vida,
ironicamente são o engano e a mentira que o levam ao inferno.

3.3. Indo direto ao ponto!

O alerta de Tiago é muito sonoro, mas se ainda não está claro aos
ouvidos e aos olhos, desejo clarificar a partir de agora.
Os falsos profetas receberão maior juízo por pelo menos duas razões
principais:
1) Receberam a verdade. Só se constata o falso diante do verdadeiro.
Então, por necessidade, todo falso profeta um dia teve a verdade
aos seus olhos. E por ter tido a verdade, será julgado mediante a
luz que teve. Por não falar a verdade, o homem já é condenável,
pois omite a maior preciosidade da vida, que é Cristo. Mas, além
de omitir a verdade, ao substituí-la pela mentira, este homem é
digno do maior castigo possível, pois troca Cristo pelo pai da
mentira, Satanás. Por isso, Deus deve punir este homem não
apenas em vida, como também no local intermediário, a saber,
inferno, bem como, e finalmente, no lago de Fogo e Enxofre. Este
falso profeta poderia ser preservado pela graça de Deus por pouco
tempo e ir direto para o Lago de Fogo, caso seja a ocasião da volta
de Cristo. Mas isso não é punição digna de quem, em posição de
destaque, trocou a verdade pela mentira voluntariamente; trocou
Cristo por Satanás. Uma punição digna para todo falso profeta
seria Deus preservá-lo aqui na terra até uns 120 anos, entregando-o
as suas próprias concupiscências e permitindo que ele peque ainda
mais, aumentando a sua culpabilidade. Isso significa que após sua
morte, sua alma irá imediatamente para o inferno, onde começará a
beber o cálice da ira de Deus. Como Tiago deixa claro que os
falsos mestres receberão maior juízo, ali no inferno, local que
ainda não é punição máxima, os pregadores enganadores sofrerão
mais que os ímpios comuns. Finalmente, quando da ressurreição
dos mortos e da volta de Cristo, figuradamente falando, o maior
cálice e o mais puro de ira será dado a todo aquele que carregou a
verdade, mas pregou a mentira. Beberão eternamente, de modo
mais intenso mais do que qualquer pessoa comum (Apocalipse
14.10).

2) Levou muitos à perdição. Embora seja verdade que os falsos
profetas sejam uma punição de Deus sobre aqueles que não
querem Deus, mas os prazeres desta vida, estes mesmos falsos
profetas serão responsabilizados pela condenação daqueles a quem
eles enganaram. Na verdade, enquanto o falso profeta é a punição
para os ímpios disfarçados de cristãos, estes ímpios serão a causa
de uma punição maior sobre esses impostores. Se ser responsável
por enganar um já seria algo terrível, quão maldito é aquele falso
profeta que engana multidões com suas pregações?
Não é com prazer que anunciamos que existem pregadores nas mãos de
um Deus irado. Por isso, torna-se necessário explicar o nosso desprazer. Alguns
podem pensar que há um sentimento de pena em relação aos falsos profetas e,
principalmente, em relação àqueles enganados por eles. Quanto a isso, é
necessário que algumas coisas sejam esclarecidas:
1) Não estamos dando nomes aos falsos profetas. Estamos apenas
anunciando a condenação que a própria Escritura aponta;
2) Quanto aos homens que conhecemos que supostamente são falsos
profetas, não desejamos a condenação deles. Isso porque, eles
podem estar sendo enganadores neste exato momento, mas se
revelarem eleitos de Deus sinceramente arrependidos e contritos
em momento posterior;
3) Portanto, estamos falando apenas daqueles que, no fim dos
tempos, mostrarem e atualizarem o decreto permissivo de Deus, ao
se revelarem como voluntários pecadores e amantes falsos
profetas.
4) O mesmo vale para aqueles que são “enganados” pelo falso
profeta. Deve ficar bem claro que esse espírito de engano sobre a
vida deles é uma resposta de Deus diante de uma rebelião
desenfreada da parte deles.
5) Da mesma forma, quanto aos que conhecemos que frequentam
templos de supostos falsos profetas, nosso desejo como pregadores
do verdadeiro evangelho é para que Deus os liberte de lá e os
levem para igrejas sérias.
6) Mas se tratando de impenitentes, que no tempo presente não
sabemos que são, mas se revelarão no fim dos tempos, nosso
desejo é que também tremam, se enlouqueçam e se embriaguem
eternamente com o cálice da ira de Deus sem mistura, obviamente
com uma intensidade bem menor que a dos falsos profetas.
7) Então, urge agora ressaltar a nossa real e mais profunda tristeza no
tempo presente: Deus não ser adorado voluntariamente por eles.
Embora Deus seja glorificado na manifestação de sua justiça
mediante a condenação dos impenitentes, Deus não ser adorado
por conta dos vislumbres de graça que recebem em terra é motivo
de nossa lamentação. Deus, pelo ser supremamente bom que é,
deveria ser adorado e glorificado eternamente por todos os
homens, anjos e qualquer criação inanimada ou não. Entretanto, já
que estes homens não quiseram glorificar a Deus durante o tempo
de vida na terra, Deus será eternamente glorificado de outra forma:
na manifestação de seu atributo de ira. Nesse momento, a suprema
bondade de Deus se revelará de forma magnífica aos que creram
nEle, pois na condenação dos injustos Deus nos mostrará a beleza
de sua justiça, e nos mostrará também mais um pouco de si mesmo
para que o adoremos ainda mais. Em outras palavras, aquela nossa
tristeza pelo fato de Deus não ser adorado pelos ímpios em vida
será substituída pela alegria de adorar um Deus justo que pune
estes mesmos ímpios que antes nos geravam tristezas. Portanto, a
nossa alegria é aumentada à medida que o ímpio é condenado, pois
quando um ímpio é condenado, a justiça de Deus se mostra mais
radiante, e quanto mais radiante for o nosso Deus, mais digno de
ser adorado ele é.
Diante destes esclarecimentos, encerro este capítulo trazendo a palavra
que veio certa vez ao profeta Ezequiel:
“Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do
homem, profetiza contra os profetas de Israel que,
profetizando, exprimem, como dizes, o que lhes vem do
coração. Ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o SENHOR
Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio
espírito sem nada ter visto! Os teus profetas, ó Israel, são
como raposas entre as ruínas. Não subistes às brechas, nem
fizestes muros para a casa de Israel, para que ela permaneça
firme na peleja no Dia do SENHOR. Tiveram visões falsas e
adivinhação mentirosa os que dizem: O SENHOR disse;
quando o SENHOR os não enviou; e esperam o cumprimento
da palavra. Não tivestes visões falsas e não falastes
adivinhação mentirosa, quando dissestes: O SENHOR diz,
sendo que eu tal não falei? Portanto, assim diz o SENHOR
Deus: Como falais falsidade e tendes visões mentirosas, por
isso, eu sou contra vós outros, diz o SENHOR Deus. Minha
mão será contra os profetas que têm visões falsas e que
adivinham mentiras; não estarão no conselho do meu povo,
não serão inscritos nos registros da casa de Israel, nem
entrarão na terra de Israel. Sabereis que eu sou o SENHOR
Deus. Visto que andam enganando, sim, enganando o meu
povo, dizendo: Paz, quando não há paz, e quando se edifica
uma parede, e os profetas a caiam, dize aos que a caiam que
ela ruirá. Haverá chuva de inundar. Vós, ó pedras de
saraivada, caireis, e tu, vento tempestuoso, irromperás. Ora,
eis que, caindo a parede, não vos dirão: Onde está a cal com
que a caiastes? Portanto, assim diz o SENHOR Deus:
Tempestuoso vento farei irromper no meu furor, e chuva de
inundar haverá na minha ira, e pedras de saraivada, na minha
indignação, para a consumir. Derribarei a parede que caiastes,
darei com ela por terra, e o seu fundamento se descobrirá;
quando cair, perecereis no meio dela e sabereis que eu sou o
SENHOR. Assim, cumprirei o meu furor contra a parede e
contra os que a caiaram e vos direi: a parede já não existe,
nem aqueles que a caiaram, os profetas de Israel que
profetizaram a respeito de Jerusalém e para ela têm visões de
paz, quando não há paz, diz o SENHOR Deus” (Ezequiel
13:1-16).
Duas coisas se destacam neste texto. No final do verso 8, Deus diz
claramente a respeito dos falsos profetas: “sou contra vocês”. Esta declaração é o
extremo oposto da que Paulo faz em Romanos 8.31: “Se Deus é por nós, quem
será contra nós?”. Aqui o apóstolo traz aos irmãos salvos de Roma a certeza de
que Deus estava do lado deles; de que tinha havido já a reconciliação por meio
da propiciação em Jesus Cristo. Por isso, ter medo de quem possa ser contra nós,
se Deus está do nosso lado, é o medo mais sem sentido do mundo.
Entretanto, e quando Deus está contra nós? Será que o medo é
justificável? Certamente que sim! E é exatamente esta a declaração de Deus para
os falsos pastores: EU SOU CONTRA VOCÊS!
Por quê?
Eu respondo essa pergunta com outra citação do trecho de Ezequiel:
“Visto que andam enganando, sim, enganando o meu povo, dizendo: Paz,
quando não há paz” (v.10).
Uma das principais características do falso profeta é falar palavras que
agradam o coração do povo. Ele traz sempre palavra de paz, de ânimo, de
autoajuda. Essa declaração de falsa paz torna-se uma espécie de ansiolítico
espiritual. Por trás dessa mensagem de amor e paz mundial se esconde um
homem idólatra, pois a única razão para ele não pregar o verdadeiro evangelho
da ira de Deus e da guerra de Deus contra pecadores é a preservação da
autoimagem e o desejo de ser sempre bajulado e amado.
Todavia, estes mesmos homens que viveram pregando paz quando não
devia passarão a eternidade em guerra com Deus, assim como todo impenitente,
pois o SENHOR dos exércitos derramará sobre eles a verdadeira ira, e eles
finalmente proferirão palavras de ódio, mas agora contra Deus (Apocalipse
16:9). Mas será tarde demais e contra o ser errado. Sua condenação será
justíssima! Estes são os pregadores que estarão eternamente nas mãos de um
Deus extremamente irado, que derramará seu cálice totalmente sem mistura, de
modo absurdamente intenso contra os falsos profetas.
Capítulo 4 – Um chamado ao arrependimento: convocação dos pregadores
(Por Rodrigo Caeté)

“É impossível alguém se arrepender de fato sem ter uma profunda
decepção consigo mesmo”
(frase atribuída a A. W. Tozer)

O livro de Malaquias é muito usado de forma equivocada por alguns
falsos profetas, sobretudo no que tange ao assunto dos dízimos e das ofertas. Se
eles não fossem tão cegos pela ganância, talvez conseguissem enxergar a
advertência que há sobre os maus sacerdotes.
Este capítulo tem o objetivo de convocar ao arrependimento. Desejamos
sempre apresentar o evangelho da graça, inclusive para pregadores que possam
estar nas mãos de um Deus irado. Isso porque estar nas mãos do SENHOR dessa
forma agora não significa necessariamente que eles não sejam eleitos. Se forem,
esta convocação servirá justamente para eles. Todavia, se não forem, esse clamor
servirá apenas para agravar o grau de sofrimento ou no Inferno ou Lago de Fogo
e Enxofre.
Mas antes dessa convocatória, quero apresentar aos leitores, e por que
não dizer usuários de Malaquias àquilo que eles talvez não tenham enxergado ou
experimentado. Desejo mostrar a face irada de Deus perante sacerdotes
enganadores. Leia atentamente o texto abaixo:
“O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai,
onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o
respeito para comigo? – diz o SENHOR dos Exércitos a vós
outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós dizeis:
Em que desprezamos nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu
altar pão imundo e ainda perguntais: Em que te havemos
profanado? Nisto, que pensais: A mesa do SENHOR é
desprezível. Quando trazeis animal cego para o sacrificardes,
não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é
isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele
agrado em ti e te será favorável? – diz o SENHOR dos
Exércitos. Agora, pois, suplicai o favor de Deus, que nos
conceda a sua graça; mas, com tais ofertas nas vossas mãos,
aceitará ele a vossa pessoa? – diz o SENHOR dos Exércitos.
Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não
acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer
em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da vossa
mão a oferta. Mas, desde o nascente do sol até ao poente, é
grande entre as nações o meu nome; e em todo lugar lhe é
queimado incenso e trazidas ofertas puras, porque o meu
nome é grande entre as nações, diz o SENHOR dos Exércitos.
Mas vós o profanais, quando dizeis: A mesa do SENHOR é
imunda, e o que nela se oferece, isto é, a sua comida, é
desprezível. E dizeis ainda: Que canseira! E me desprezais,
diz o SENHOR dos Exércitos; vós ofereceis o dilacerado, e o
coxo, e o enfermo; assim fazeis a oferta. Aceitaria eu isso da
vossa mão? – diz o SENHOR. Pois maldito seja o enganador,
que, tendo um animal sadio no seu rebanho, promete e oferece
ao SENHOR um defeituoso; porque eu sou grande Rei, diz o
SENHOR dos Exércitos, o meu nome é terrível entre as
nações” (Malaquias 1:6-14).
Inicialmente, Deus mostra a contradição daqueles que desejavam ser
chamados de “senhor” e “líder”; desejavam ser reconhecidos como sacerdotes e
honrados por isso, mas desdenhavam do verdadeiro SENHOR e daquele que lhes
deu essa incumbência de serem sacerdotes. Ironicamente, as ofertas para
sacrifícios que estes sacerdotes recebiam do povo para apresentar a Deus
tipificavam o que estes mesmos sacerdotes apresentavam ao SENHOR. Em
outras palavras, o povo oferecia o pior e o resto, e era isso que os líderes
ofereciam a Deus. A culpa, então, era do povo? Não, porque mais a frente o
profeta Malaquias vai mostrar que a dignidade das ofertas do povo era resultado
do mau ensino dos sacerdotes. Em última análise, portanto, a culpa maior era
destes, mas sem que, com isso, o povo seja visto como inocente, pois cada um
sempre responderá por si. O fato de os liderados serem o reflexo do mau ensino
do líder não os isenta da culpa. Como diz o apóstolo Paulo, “não há um justo
sequer” (Romanos 3:10)!
Voltando ao pecado dos sacerdotes, em que consistia essa desonra a
Deus? Da pior forma possível, sendo deflagrada no desprezo do nome de Deus:
“ó sacerdotes que desprezais o meu nome”. Desonrar o nome de Deus ou tomar
o nome do SENHOR em vão (Êxodo 20.7) consiste em viver da forma mais
impiedosa possível: se dizer cristão e ainda líder, mas se comportar como um
demônio.

4.1. “Ó sacerdotes que desprezais o meu nome”

"Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o
SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão"
(Êxodo 20.7)
Geralmente interpretamos esse mandamento de Deus como algo
associado à nossa fala, como se não pudéssemos emitir irreverentemente o nome
de Deus. Em vista da santidade do nome do SENHOR na boca de pecadores,
isso até está embutido nesse mandamento, mas não é exatamente isso que esse
verso fala.
Em toda a Escritura, Deus diz que colocaria o NOME santo dele em seu
povo. Não é à toa que em várias ocasiões Deus disse que salvaria o seu povo por
amor ao seu nome implantado neles. Por assim dizer, cada crente, desde o AT até
hoje, carrega o nome de Deus em si.
Então, tomar o nome de Deus em vão é andar de modo indigno do
Evangelho e da Lei de Deus. É carregar o nome de CRISTÃO, mas viver como
se Deus não existisse; portanto, tem muito mais a ver com o estilo de vida que
levamos do que com um simples pronunciar em falso do nome de Deus.
Isso acende um alerta, pois facilmente podemos incorrer na quebra desse
mandamento sem que notemos. Terrível coisa seria ouvir de Deus o que o
apóstolo Paulo falou em Romanos 2.24: “o nome de Deus é blasfemado entre os
gentios por vossa causa”.
Portanto, se você é cristão comum ou um pregador, querendo ou não, é
imprescindível que você saiba que carrega o NOME de Deus. O objetivo do
SENHOR é mostrar para as nações o quanto ele é reto, puro e bom através do
procedimento dos cristãos. Nessa esteira, o inverso do “tomar o nome do
SENHOR em vão” é claramente o “vivei, acima de tudo, por modo digno do
evangelho de Cristo" (Filipenses 1:27). Se o desonrar do nome de Deus já é
abominável para qualquer cristão, imagina quando isso é feito por meio daqueles
que deveriam levar o povo a honrar este nome. Terrível coisa será para esse tipo
de sacerdote cair nas mãos do Deus vivo.
Segundo Matthew Henry, comentando o texto em questão,
“O nome de Deus é tudo aquilo por meio do que Ele se fez
conhecido – a sua palavra e as suas leis; sobre estas
preciosidades eles tinham pensamentos torpes, e aviltavam
aquilo que tinham a tarefa de engrandecer; e não é de admirar
que quando eles próprios o desprezavam faziam aquilo que o
tornava desprezível para os outros, tornando abomináveis até
mesmo os sacrifícios do Senhor, como fizeram os filhos de
Eli. [...] Eles (os sacerdotes) profanavam o nome de Deus, v.
12. Eles o maculavam, v.7. Eles não só menosprezavam as
coisas sagradas, como também faziam delas um mau uso, e as
desvirtuavam em função dos piores e mais vis propósitos – a
sua própria vaidade, avareza e luxúria. Não pode haver maior
provocação a Deus do que a profanação de seu Nome; pois
este é santo e venerável. A sua pureza não pode ser maculada
por nós, pois Ele é absolutamente puro; mas o seu nome pode
ser profanado. E nada o profana mais do que a conduta
imprópria dos sacerdotes, cuja tarefa é honrá-lo”.[54]
Algo que chama a atenção neste verso é a indagação dos sacerdotes:
“Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome?”. Ora, se fosse o maior
pregador da atualidade falando isso aos pregadores, dizendo que a retórica deles
é descabida e inconsistente, seria algo até digno de discussão. Mas essa
indagação não surge de um grande pregador da época, mas da boca de Deus.
Quem está interrogando é o próprio SENHOR. Ele não está perguntando se os
sacerdotes estão profanando o nome de dEle, Ele está afirmando. E diante da
afirmação de Deus, qualquer indagação de discordância torna-se a maior tolice
do mundo.
Todavia, nem toda tolice é estranha ou surpreendente, pois é comum aos
pecadores arrogantes, quando diante da repreensão, insistirem em suas
justificativas, e indagarem o inquiridor. Nenhum impenitente se rende diante da
correção. Aliás, é a não rendição a evidência da impenitência. Matthew Henry
complementa da seguinte forma:
“Esses sacerdotes haviam profanado as coisas sagradas da
maneira mais horrível possível que se poderia imaginar que, e
ainda assim, tal como as mulheres adúlteras, disseram que não
haviam feito nenhum mal; eles eram tão descuidados consigo
mesmos que não se lembravam de seus próprios atos nem
refletiam sobre eles, ou eram tão desconhecedores da lei
divina que acreditavam não haver nenhum mal neles, e que
aquilo que faziam não pudesse ser interpretado como
menosprezo ao nome de Deus.”[55]
Mas mesmo diante de tolices como essas, Deus ainda responde a
indagação dos sacerdotes, e de modo misericordiosamente detalhado:
“Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais:
Em que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A mesa do
SENHOR é desprezível. Quando trazeis animal cego para o
sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o
enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador;
acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? – diz o
SENHOR dos Exércitos. [...] Mas vós o profanais, quando
dizeis: A mesa do SENHOR é imunda, e o que nela se oferece,
isto é, a sua comida, é desprezível” (Malaquias 1 7-8, 12).
Deus não apenas descreve a imundície que eles apresentavam ao
SENHOR, como aponta que essa declaração saía da boca dos próprios
sacerdotes (v.12). Eles declaravam abertamente que umas das instituições de
Deus era desprezível e impura. Na verdade, os sacerdotes vão além em sua
loucura:
“E dizeis ainda: Que canseira! E me desprezais, diz o
SENHOR dos Exércitos; vós ofereceis o dilacerado, e o coxo,
e o enfermo; assim fazeis a oferta. Aceitaria eu isso da vossa
mão? – diz o SENHOR” (Malaquias 1:13).
A declaração “que canseira” beira à insanidade, pois se está dizendo que
o serviço a Deus, bem como a observância de uma de suas instituições, são
coisas por demais desprezíveis e tolas.
A situação daqueles sacerdotes era tão grave que o pecado deles não era
apenas por meio das atitudes, mas também pelas palavras. É um típico falso
profeta declarado. Engana-se quem pensa que um falso pastor fala a verdade,
mas vive de modo infiel. Essa descrição em Malaquias aponta que é natural que
todo falso profeta peque com os lábios e com as atitudes. A forma mais óbvia de
profanação por meio dos lábios é a deturpação da verdade ao usar a Sagrada
Escritura. É a falsa pregação; é a pregação do evangelho com alguns acréscimos,
sendo assim outro evangelho (Gálatas 1:9); é a pregação do evangelho sem as
partes fundamentais como ira, justiça, inferno, Lago de Fogo, condenação, juízo,
pecado, etc. E se o que sai de suas bocas são maldições, suas vidas também são
malditas, pois a boca fala do que o coração está cheio (Mateus 12:34); vivem a
enganar; muitos se envolvem com dinheiro ilícito, com tráfico de drogas, com
escândalos na política; muitos vivem em adultério, em inúmeros divórcios, e
toda sorte de vergonha ao evangelho.
Quanto ao capítulo 2 e o conteúdo de condenação e castigo desses
sacerdotes, a partir do verso 8, que diz: “mas vós vos tendes desviado do
caminho e, por vossa instrução, tendes feito tropeçar a muitos...”. Matthew
Henry, numa citação mais longa, aponta que aqueles sacerdotes não tinham o
direito de culpar o povo por trazer as ofertas indignas para o sacrifício, pois essa
ação do povo era uma reação natural do ensino equivocado dos sacerdotes:
“O que foi dito no capítulo anterior era dirigido aos sacerdotes
(cap 1.6): Assim vos disse o Senhor dos exércitos: Ó
sacerdotes! Que menosprezam o meu nome. Mas naquele
capítulo eles foram culpados dos crimes dos quais foram
acusados, como sacrificadores, e para esses crimes queriam
considerar como desculpa o fato de que ofereciam as coisas
que o povo trazia, e, portanto que, se estas não eram tão boas
quanto deveriam ser, não era sua culpa, mas do povo; e por
essa razão as transgressões ali reclamadas são aqui associadas
às suas fontes e origens – as infrações das quais os sacerdotes
eram culpados eram culpados como educadores do povo,
como intérpretes da lei e das palavras de vida; e essa é uma
parte de seu ofício que ainda permanece nas mãos dos
ministros do Evangelho [...] Se os sacerdotes tivessem
fornecido ao povo melhores ensinamentos, o povo teria levado
ofertas melhores; consequentemente, retorna para os
sacerdotes: E assim sendo, Ó vós sacerdotes! Este
mandamento é inteiramente voltado a vós (2.1), que deveríeis
ter transmitido às pessoas um bom conhecimento do Senhor e
como adorá-lo corretamente”[56].
No caso em específico, esses sacerdotes são indesculpáveis em vários
sentidos: a) declaram abertamente que a mesa do SENHOR é uma abominação;
b) pregam falsidade; c) oferecem sacrifícios imundos; d) culpam o povo por
essas ofertas desprezíveis. Essa é uma descrição clássica de um falso profeta.
Eles são seres da pior espécie, pois profanam o santo nome de Deus, mas culpam
os outros e vivem sempre a se justificar. Não é sem razão que o juízo sobre eles
será infinitamente maior do que sobre aqueles que amaram as falsas profecias
deles. Não há, portanto, inocentes: os falsos profetas são claramente a
manifestação do juízo de Deus sobre um povo que ama os prazeres deste mundo
mais do que o SENHOR. Então, um merece o outro, sendo os próprios às razões
da condenação deles mesmos. Todavia, o juízo será sempre maior sobre aquele
que obteve maior luz. Quando em Malaquias 1.14 o texto se encerra com “o meu
nome é terrível entre as nações”, pode-se parafraseá-lo, direcionando aos falsos
profetas, com o texto de Hebreus 10.31: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus
Vivo”. E, certamente, não há status mais horrível e terrível do que o de ser um
pregador nas mãos de um Deus irado.
4.2. Convocação ao arrependimento

Agora, pois, suplicai o favor de Deus, que nos conceda a sua graça
(Malaquias 1.9b)

Deus sempre irá convocar a todos, sem exceção, para que se arrependam
e abandonem o mau caminho, pois a graça está disponível enquanto o coração
bate e enquanto houver fôlego de vida. Na verdade, fôlego de vida e coração
ainda batendo já é graça manifesta, que mantém o pecador vivo para que se
curve diante da graça salvífica.
O texto salienta que os sacerdotes supliquem o favor de Deus, visto que
nunca deve haver dúvidas de que o SENHOR é sempre compassivo e
misericordioso e tardio em se irar. Ele certamente está sempre pronto a ouvir um
coração contrito e quebrantado.
Com base nisso, nós queremos nos dirigir a você que prega o evangelho,
mas que de alguma forma se viu nessa descrição de Malaquias. Como pôde ter
percebido, talvez seja possível que uses o texto de Malaquias para extorquir o
povo no que concerne ao “trazer todos os dízimos a casa do tesouro”, mas mal
tenha percebido que o mesmo livro pode ser usado como uma grande
condenação aos falsos pregadores.
Nós não sabemos se tu és um dos falsos. Apenas sabemos que eles
existem. Mas se você, caro leitor, se viu na descrição condenatória de Malaquias,
isso ainda não significa que és um reprovado eternamente; há, porém essa
possibilidade! Por isso: “Examine-se o homem a si mesmo” (1 Co 11:28b, 2 Co
13:5). Enquanto houver oferecimento de graça, não nos compete descansar
negligentemente nos decretos divinos, mas trabalhar nos preceitos revelados. E o
preceito em questão revelado é “Agora, pois, suplicai o favor de Deus, que nos
conceda a sua graça” (Malaquias 1:9b).
Caro pregador, quão maravilhoso é carregar dignamente o nome de Deus;
quão inefável é adorar a Deus na beleza de Sua santidade; quão magnífico é
proferir as mais belas e terríveis verdades bíblicas com fidelidade e zelo; quão
digno é não considerar a vida tão preciosa para si mesmo, a não ser que seja para
viver para a glória de Deus (Atos 20:24).
O nosso desejo e a nossa oração nesse capítulo é mostrar que a graça está
disponível para que a receba e, consequentemente, mude seu caminho. Portanto,
volte-se para Deus e pregue a Palavra (2 Timóteo 4:2), pois a pregação fiel dela é
capaz de salvar não só a ti mais aqueles que te ouvem também.
Como já bem enfatizado em dado momento nesse livro, “Procura
apresentar-te a Deus aprovado” (2 Timóteo 2:15), como um pastor que não terá
de que se envergonhar quando estiver diante do santo de Israel, pois pregou e
viveu em fidelidade. Reconhecemos que procurar se apresentar diante de Deus
aprovado não é nada fácil, mas é possível. Temos muitas tentações, e Satanás
está sempre a caça de uma vida ilibada para destruí-la, mas as promessas do
SENHOR para o homem fiel são maravilhosamente indescritíveis.
Queremos declarar que o ministério fiel da palavra é glorioso. Não é um
mar de rosas, nem um conto de fadas como alguns pensam; há sim muitos
espinhos, o apóstolo Paulo que o diga, mas a graça que nos basta é como água no
deserto. A nossa preparação envolve experimentar todas as dores daqueles que
farão parte do nosso rebanho, para que possamos saber como orientá-los, pois
não os auxiliaremos apenas como quem estudou sobre o caso, mas como quem
viveu e experimentou. Todavia, embora essas dores nos acompanhem, temos em
mente que Aquele que suportou a cruz foi o único que de fato soube o que é
sofrer no sentido último do termo. E foi por nós, pobres pecadores dignos do
inferno.
E se recebemos tamanha graça, o mínimo que podemos fazer é pregar
essa Palavra com força, fidelidade, amor, paixão, fé, a fim de fazer Deus ser
mais glorificado na salvação de pecadores que se renderam a Deus através da
ministração fiel do Evangelho. Portanto, vale a pena, caro pregador, ser fiel. Se
tens negligenciado a pregação, volte. Se arrependa! Clame o perdão de Deus!
E a graça irá se manifestar em sua vida e na vida daqueles que te ouvem. Que
Deus nos auxilie! Amém!
Capítulo 5: Púlpitos poderosos que levaram o ofício da pregação a sério no
decorrer da história
(Por Jadson Targino)

“A majestade das Escrituras merece que seus expositores tratem-na com
modéstia e reverência. Devemos às Escrituras a mesma reverência que devemos
a Deus, porque elas procedem somente dEle, e não há nada do homem
misturado a elas.”[57]
(João Calvino)

Sempre houve, há e haverá pregadores na história que entendem
verdadeiramente que estão nas mãos de um Deus sendo infinitamente amoroso e
também irado contra o pecado (ao contrário dos falsos profetas e maus
pregadores). Esses pregadores conhecem bem o seu Senhor e se empenham em
fazer a obra da melhor maneira possível: pregam como se fosse o seu último dia
na Terra.
Nesse capítulo, o objetivo é fazer uma singela homenagem a alguns
desses homens[58], destacando pontos notáveis em seus ministérios, que
certamente merecem ser copiados por todo pregador que leva a sério o seu
ofício.

5.1 Martinho Lutero

O monge agostiniano alemão Lutero é bastante conhecido pela ousadia de
ter desafiado a tirania papal, afixando as famosas 95 teses no castelo de
Wittenberg, e se tornando a figura central do famoso evento histórico conhecido
como Reforma Protestante.
Além de ser conhecido por esses feitos, Martinho Lutero também era
conhecido por ser “uma das pessoas mais corajosas a servir a igreja”[59]. Lawson
também diz que
“Lutero não vacilava em sua ousadia quando subia
ao púlpito. A razão de sua coragem estava no fato de
ser totalmente bíblico. Seu valor heroico vinha de
suas profundas convicções, provenientes da sã
doutrina. Como poderoso expositor das Escrituras,
Lutero deixou rico legado de excelência no
púlpito”[60].
A sua principal característica consistia na exposição concisa, direta e crua
da Sagrada Escritura. Empunhado com a Palavra, ele poderia confrontar
qualquer autoridade humana que ousasse desafiar a doutrina divina:
“Em palavras simples, Lutero era intrépido,
impossível de subjugar. Quando ele falava,
expressava forte crença, ancorada nas verdades
imutáveis da Palavra Santa de Deus. Possuía um
espírito indomável, revelado em uma personalidade
que não conhecia o medo”[61].
Lutero era especialmente ousado na proclamação do evangelho. Ele
desafiava seus ouvintes a crer e a se arrepender, a responder com fé ao
evangelho, tirar a esperança de suas próprias obras e colocar a sua confiança
somente em Cristo para salvação[62]. Como dizia o próprio Lutero, confrontando
sua congregação:
“Só existem duas habitações para o pecado: ou ele reside
dentro de ti, pesando e te puxando para baixo, ou repousa
sobre Cristo, o Cordeiro de Deus. Se estiver sobre tuas costas,
estás condenado. Se ele repousa sobre Cristo, tu és livre e
estás salvo. Ora, faça tua escolha!”[63].
No ministério, não há espaço para covardes. Como o Senhor mesmo disse:
“diga aos covardes e tímidos que voltem!” (Jz 7:3). A coragem de Lutero deve
inspirar a ousadia em cada ministro.
5.2 Charles H. Spurgeon
Sendo um pastor batista apaixonado pelas doutrinas da graça,
arregimentou milhares para escutar sermões sobre a incapacidade do ser humano
de salvar-se a si mesmo e da suficiência da obra de Cristo para nossa salvação.
Através do seu ministério, centenas de pessoas foram discipuladas e salvas.
Diferentemente de Calvino e outros expositores, que utilizavam o método
da Lectio Continua – livro por livro, verso por verso - Spurgeon assumia um
estilo mais livre para a escolha da passagem abordada para a exposição bíblica.
Ele fazia isso porque
“Por todo seu prolífico ministério, Spurgeon era consumido
por zelo pelo evangelho. Sua prática era isolar um ou alguns
versículos como trampolim para a proclamação do
evangelho. Ele afirmava: “Tomo o meu texto e sigo em linha
direta até a cruz”[64].
Todo o Conselho de Deus é indispensável, mas, dentre as doutrinas
bíblicas, a parte mais urgente aos pecadores sem dúvida é a referente ao
Evangelho da graça de Deus. Nesse esteio, Lawson afirma que “embora ele
amasse profundamente a teologia, Spurgeon declarou: “Prefiro levar um pecador
a Cristo que desvencilhar todos os mistérios da Palavra divina””[65].
Por isso, o próprio Charles Spurgeon também afirmou:
“Prefiro ser o meio para a salvação de uma alma da morte que
ser o maior orador sobre a terra. Prefiro conduzir a mulher
mais pobre do mundo aos pés de Jesus que ser o Arcebispo da
Cantuária. Prefiro arrancar uma única brasa do fogo que
explicar todos os mistérios. Ganhar uma alma, evitar que
ela vá à cova, é um feito mais glorioso do que ser coroado
na arena da controvérsia teológica”[66]
Spurgeon, portanto, tinha uma pregação que abordava todas as doutrinas
bíblicas ao mesmo tempo em que possuía uma centralidade indiscutível do
Evangelho, querendo a salvação das almas.
5.3 John Knox

O ministro escocês Knox foi um profícuo alimentador do rebanho de
Cristo na sua nação. Não deixava de pregar o verdadeiro evangelho a quem quer
que fosse, o que inclui denunciar os pecados e chamar ao arrependimento até
mesmo a própria rainha da Escócia[67].
Ele se preocupava tanto que as pessoas conhecessem a genuína doutrina
bíblica que chegou a orar: “Ó Senhor Eterno, move e governa minha língua para
que eu fale a verdade”[68]. A propósito, apesar de suas pregações, o que fazia
mesmo ele ser temido e respeitado era sua intensa vida de oração.
De Knox vem a famosa oração: “Senhor, dá-me a Escócia senão eu
morro!”. Ele se empenhava na pregação, mas labutava ainda mais em orar, pois
sabia que só Deus podia dotar os seus sermões de poder vivificador, autoridade e
eficácia espiritual para afetar os ouvintes. Como diz Lawson, “Knox foi
poderoso na batalha espiritual porque sua vida era submissa ao Rei Jesus, seu
Campeão, que, consoante as suas promessas, vence a todos os seus inimigos”[69].
E mais:
“Ele sabia que sem oração ele seria apenas um inútil
“cachorro mudo”, um cão de guarda que não late nem morde.
Sabendo isso a seu próprio respeito, Knox se humilhava,
ajoelhava diante de Deus e submetia a sua vontade, mente e
língua a Deus em oração. Diferente da maioria de nós, porém,
ele não o fazia apenas quando as coisas se tornavam
insuportáveis. Era o seu estilo de vida sempre. Aqueles que o
conheciam melhor diziam de Knox que era ele “para com
Deus um eminente batalhador na oração””[70].
Sua vida intensa de oração tornou Knox tão poderoso e fortalecido em
Deus a tal ponto que “não foram apenas os amigos e apoiadores que apreciavam
o amplo efeito de seu ministério de oração. Conforme o historiador John Howie,
a arqui-inimiga de Knox, a rainha regente Mary Guise, admitiu que “tinha mais
medo das orações de Knox do que de um exército de dez mil homens”[71]. Knox
tinha a vida de um pregador que em oração sabia reconhecer sua fraqueza, e,
reconhecendo sua fraqueza, recebia a verdadeira força que vem do alto para
cumprir a incumbência que lhe fora dada. Dependamos da oração como ele,
portanto.

5.4 John Wesley

Sendo ministro anglicano, Wesley ajudou a lançar as bases do que viria a
ser posteriormente o Metodismo. Wesley incendiou o mundo com seus sermões,
exaltando a graça de Deus e sua disponibilidade a todos os pecadores. Ele
mesmo dizia: “O mundo será minha paróquia”[72][73].
John Wesley tinha toda uma maneira especial de exaltar a graça salvífica
de Deus com base na pregação do Amor divino, e foi exatamente através dessa
ministração que milhares e milhares afluíram a Cristo e a religião verdadeira
durante suas viagens missionárias. Como escreveram Burtner e Chiles:
“Wesley tem a salvação da alma humana como tema
central dos seus princípios doutrinários a respeito de
Deus, Cristo e do Espírito Santo. Daí o fazer ele
pouca especulação filosófica a respeito da natureza
de Deus enquanto que faz inúmeras alusões ao amor
de Deus pela sua graça salvadora”[74].
Estima-se que Wesley tenha pregado em torno de 40 mil sermões ao longo
de toda sua vida[75], tendo pregado em média 3 sermões por dia durante 50 anos
seguidos, viajando, até mesmo, a lugares bem distantes por amor as almas[76].
Uma quantidade absurda de sermões em prol do desejo de proclamar a todos os
homens quanto possível que o amor de Deus é tão grande pela humanidade que
ele mesmo concede graciosamente o dom de os pecadores terem a imagem de
Deus restaurada em si mesmo, e, à medida que se esse processo se concretiza, o
homem vai sendo santificado. Por isso, Wesley também pregava a santificação: o
amor de Deus não é um amor inerte, é um amor transformador. Como bem-dito
pelo especialista em história da Igreja Justo Gonzáles,
“Wesley é herdeiro dessa tradição reformada e
puritana de ênfase na santidade, que logrou tanta
proeminência na Inglaterra dos séculos dezessete e
dezoito. Porém, de outro lado, Wesley sabia, por
experiência própria, que essa ênfase na santidade, se
não fosse acompanhada de outra ênfase ainda maior
na graça e no amor de Jesus Cristo, poderia ter
consequências desastrosas”[77].
Assim, Wesley corajosamente anunciava o amor graciosamente
transformador de Deus:
“Se o homem pecaminoso acha, pois, favor à vista de
Deus, isto vem a ser “graça sobre graça!”. (...) Nisto
“Deus recomenda seu amor para conosco, em que,
quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu
para salvar-nos”. “Pela graça”, pois, “sois salvos
mediante a fé”. A graça é a fonte; a condição é a fé.
(...) Esta é, pois, a salvação pela fé, mesmo no
mundo presente: salvação do pecado e das
consequências do pecado expressas com frequência
pela palavra justificação, a qual, tomada em
sentido mais lato, implica libertação da culpa e do
castigo, pela propiciação de Cristo atualmente
aplicada à alma do pecador, agora crente em Jesus, e
libertação do domínio do pecado, mediante o
mesmo Senhor, formado em seu coração”[78].
Wesley – servindo de exemplo ilibado a nós – se permitiu ser inflamado
pelo zelo que deveria ser o combustível de cada pregador: o Amor insondável,
magnífico e profundo de Deus. Esse Amor transforma a visão que temos do
nosso Criador e a visão que temos do nosso próximo, nos possibilitando a viver
uma vida intensa de serviço que só pode ser explicada por esse nobre sentimento
de entrega tão central da Escritura Sagrada.

5.5 João Calvino

João Calvino foi o comentarista bíblico da reforma. Tendo comentado e
pregado quase todos os livros da Bíblia, (mais de 80% das Sagradas Escrituras)
recebeu de vários teólogos respeitadíssimos - por seus méritos na interpretação
da sagrada escritura - título de “rei dos comentadores e exegeta da primeira
classe”[79] e também “exegeta da reforma”[80].
Calvino se esforçava em comentar e expor tanto as Escrituras porque ele
entendia que o papel do pregador consiste em ser “meramente como um
emissário enviado com a mensagem divina”[81].
O reformador genebrino afirmava:
“Assim que os homens se afastam da Palavra de
Deus, ainda que seja em pequena proporção, eles
pregam nada mais que falsidades, vaidades, mentiras,
erros e enganos (...) É ordenado a todos os servos de
Deus que não apresentem invenções próprias, mas
que simplesmente entreguem aquilo que receberam
de Deus para a congregação, da mesma forma como
alguém que passa algo de uma mão para outra”[82]
(CALVINO Apud LAWSON).
João Calvino enfatizava tanto a pregação bíblica que ele causou uma
verdadeira revolução, junto aos outros reformadores, na arquitetura das Igrejas:
ele ordenou que os “altares, que anteriormente eram o ponto de atração das
missas em latim, fossem removidos das igrejas e que um púlpito com uma Bíblia
fosse colocado no centro do prédio. (...) bem no centro, onde cada fileira da
arquitetura proporcionasse ao adorador a possibilidade de olhar para aquele
Livro, que, sozinho, contém o caminho para a salvação e que esboça os
princípios sobre os quais a igreja do Deus vivo deve ser governada”[83].
Tendo ministrado por cerca de vinte e cinco anos, seus sermões no púlpito
de Genebra e seus comentários (além das Institutas) foram boa parte da lenha
que acendeu e manteve viva, como combustível poderoso, as chamas da reforma.
Ele era um pregador que antes de qualquer coisa expunha a Bíblia – aliás, para
Calvino, todo o ministério pastoral poderia ser resumido em uma só coisa:
anunciar a Palavra de Deus, aplicando-a na exortação, edificação, repreensão
etc. Pregadores e pastores em todo mundo deveriam se atentar a esse
testemunho.

5.6 Jonathan Edwards

O pregador e pastor congregacional Jonathan Edwards era
verdadeiramente um homem dos quais o mundo não era digno. Ele já foi muito
bem apresentado no início deste livro, mas nesse trecho em particular, gostaria
de ressaltar uma das outras características mais brilhantes e destacadas em seu
ministério: a capacidade de explicar e tornar claro a doutrina da Ira de Deus para
as pessoas.
A doutrina da ira de Deus é uma consequência direta da doutrina da
santidade divina. Porque Edwards tinha uma visão elevadíssima da santidade
divina, ele se tornou uma referência em piedade e “apreciava a pureza pessoal,
porque muito estimava o esplendor da santidade de Deus”[84]. Parte dessa
excelência consistia em que Deus lhe havia feito um homem extremamente
resoluto, objetivo, determinado[85]. Além disso, Lawson relata que o historiador
cristão Roger Olson observou que “nenhum teólogo na história do cristianismo
teve uma visão mais elevada ou mais firme do que a de Jonathan Edwards no
que diz respeito à majestade de Deus, à sua soberania, à sua glória e ao seu
poder”[86].
A frente do movimento do Grande Despertamento, ao lado de George
Whitefield, foi o pregador que Deus usou para trazer vários milhares de pessoas
a Cristo. Um dos exemplos que marcam a sua habilidade para falar da ira de
Deus e conscientizar as pessoas da eternidade vindoura é que “quando Edwards
pregou seu sermão mais famoso, intitulado “Pecadores nas Mãos de um Deus
Irado” (...) em Enfield, um poderoso despertamento aconteceu. Pecadores foram
convencidos de seus pecados e almas foram abaladas. Edwards foi forçado a
pedir silêncio enquanto as pessoas se agarravam aos bancos, com medo de cair
no inferno”[87].
Nas palavras do próprio Edwards,
“Não falta poder a Deus para lançar os ímpios no inferno a
qualquer momento. A mão dos homens não é suficientemente
forte quando Deus se levanta. O mais forte deles não tem
poder para resistir-lhe, e ninguém consegue se livrar de suas
mãos. Ele não só pode lançar os ímpios no inferno, como pode
fazê-lo com a maior facilidade. (...) Eles merecem ser
lançados no inferno. Assim, a justiça divina não se interpõe no
caminho dos ímpios; nem faz objeção pelo fato de Deus usar
seu poder para destruí-los a qualquer momento. Muito pelo
contrário, a justiça fala assim da árvore que produz frutos
maus: "... pode cortá-la; para que está ela ainda ocupando
inutilmente a terra?" (Lc 13.7). A espada da justiça divina está
o tempo todo erguida sobre suas cabeças, e somente a mão de
absoluta misericórdia e a mera vontade de Deus podem detê-
la. Os ímpios já estão debaixo da sentença de condenação ao
inferno. O fato de não haver sinais visíveis da morte por perto,
não quer dizer que haja, por um momento, sequer segurança
para os ímpios. (...) Portanto, todo aquele que está fora de
Cristo, desperte e fuja da ira vindoura”[88].
Edwards fazia isso não porque gostava de trovejar a lei de forma legalista.
Ele pregava sobre a Ira sobre o pecado, que é a transgressão da lei, porque
somente conhecendo a Ira de Deus é que podemos valorizar Sua Graça. Somente
experimentando sua severidade é que podemos amar a sua doçura. Edwards era
um pregador que exaltava infinitamente a Graça de Deus, mostrando ao pecador
como ela, e somente ela, pode nos livrar de nós mesmos, do diabo e da Ira do
Deus onipotente.

5.1.1 O Pregador Ideal



O ministro exemplar deve ser ousado como Lutero na pregação,
desafiando seus ouvintes; deve usar a sua coragem somada a versatilidade de
Spurgeon para anunciar a Palavra de Deus, e, como ela sendo proclamada,
transformar cada passagem numa ponte para a Cruz de Cristo; também deve ser
hábil na pregação como Calvino, expondo verso a verso o verdadeiro sentido da
Escritura e aplicando eficazmente; esmerado em anunciar realmente todo o
Conselho de Deus.
Deve apresentar a doutrina da Ira de Deus como Jonathan Edwards fazia,
fazendo o pecador se desesperar e perder a esperança em si mesmo, e
apresentando a Graça que deriva do Amor de Deus como John Wesley, para que
agora, desistindo de si mesmo, o pecador abrace a Cristo para sua justificação e
santificação. E não menos importante quanto os detalhes anteriores, deve ser
como John Knox, poderoso em oração tanto antes quanto após a ministração da
Palavra, para que Deus possa conceder vida através dela e ela possa ser
realmente eficaz. Afinal, só tem sucesso em falar de Deus aos homens na
pregação quem fala primeiro dos homens a Deus em oração.
Certamente, os pregadores que seguirem esse bom modelo não devem
temer a possibilidade de estarem nas mãos de um Deus irado, pois estão, pela
graça, cumprindo corretamente o ministério que lhes foi dado.
Capítulo 6 – Falsos profetas levantados por Deus: de quem é a culpa?
(Por Rodrigo Caeté)

“Falsos profetas são o juízo de Deus para as pessoas que não querem
Deus, que em nome da religião planejam ter tudo que seus corações carnais
desejam... Aquelas pessoas que o seguem, não são suas vítimas. É o juízo de
Deus porque querem exatamente o que querem e não é Deus”[89]
(Paul Washer)

Você já se deparou com “aparentes contradições” na Bíblia? Algo
parecido com Deus levantar falsos profetas para punir ou disciplinar seu próprio
povo, mas depois punir o falso profeta por ter feito esse mal? Uma leitura atenta
no Antigo Testamento fará você perceber que isso é mais comum do que
imaginamos. O fato é que todos estão sob o controle soberano de Deus, seja na
realização do bem ou do mal. A diferença está na forma como Deus controla e
administra as situações e circunstâncias.
De imediato, devemos negar essas “aparentes contradições”, pois elas
não existem nas Sagradas Escrituras, mas apenas na mente de pessoas
contraditórias, que interpretam a Bíblia de forma distorcida. Devemos também
negar que Deus seja o autor ético do pecado ou do mal. Ficará claro, à medida
que esse capítulo se desenvolve, que a atuação de Deus ao levantar os falsos
profetas está na esfera de seu concurso geral, isto é, Deus apenas move os falsos
profetas, de forma permissiva, mas direcionada, a agir segundo a natureza má
deles mesmos. São eles quem, com responsabilidade moral, agem livremente.
Finalmente, devemos negar também que falsos profetas vitimizam o povo. De
modo geral, nenhum falso profeta é dado para pessoas inocentes, justamente
porque estas pessoas não existem. Sem a maravilhosa graça do SENHOR, todos
nós não apenas merecíamos os falsos profetas como também seríamos amantes
deles. Então, seja nos relatos das Escrituras ou a respeito dos dias atuais, não
existe vítima de falso profeta, todos são culpados, definitivamente.
Raquel Elana, desenvolvendo a citação de Paul Washer que está no início
desse capítulo, de forma clara, afirma que as pessoas são atraídas por aquilo que
se parece com elas:
“O pastor e missionário norte americano, Paul Washer,
afirmou que “os falsos profetas e falsos mestres são o juízo de
Deus sobre a Igreja, pois as pessoas que os seguem não são
vítimas, são atraídas pelas teologias de prosperidade e pela
ganância de seus líderes”. Assim deixam claro que o que lhes
interessa não é Deus, mas o dinheiro e o ganho material. Na
verdade, para estes aplica-se uma premissa básica: são
atraídos pelo que se parece com eles. Um líder ganancioso
atrai gananciosos e por assim adiante. Os gananciosos da
Igreja tornam-se fanáticos e cegos, iracundos e defensivos,
usando as Escrituras fora do contexto para defender o
indefensável. Quando ofertas são doadas, debaixo de profecias
esdrúxulas de que serão transformadas em riquezas,
(lembremos do caso de Morris Cerullo e dos RS 911,00 no
programa de Silas Malafaia, por exemplo), simplesmente
transformamos Deus num negócio pior do que a figura de
Mamom. Este deus que seguem, no entanto, não é o Deus dos
profetas e apóstolos que vieram antes de nós. Por mais que
assim possam chamá-los. Debaixo do juízo de Deus, poucos
serão convencidos da verdade. Pouco adianta com estes
discutir. Para estes a sentença já está sobre suas cabeças.
Assim, a apostasia cresce dentro da igreja numa velocidade
sem medida. O engano das promessas de conquistas e grandes
colheitas iludem e afastam o povo do verdadeiro Evangelho.
Mas isto acontece porque assim eles permitem. A Igreja
Brasileira está sob o juízo de Deus? Sim! A Igreja Brasileira já
está sob o juízo de Deus. E se você pensar bem, esta
mensagem nenhum profeta ‘famoso ou midiático quer pregar.
Que o Senhor possa libertar e abrir os olhos de muitos que
neste quadro se encontram enquanto há tempo. Paz!”[90].
Como se pode perceber, a pior coisa que pode ocorrer a um homem é
Deus o entregar aos seus desejos e às suas paixões, e ainda dizer “seja feita a sua
vontade” (Romanos 1:24-28). Quando os homens são entregues a si mesmos,
não há polícia ou lei humana que o possa deter. Dentro da doutrina do concurso
geral, através do qual o homem é movido a agir segundo a sua natureza, não
podemos dizer que a ação de Deus é sem a manifestação de graça. Se Deus
apenas o mover mecanicamente, entregando-lhes a si mesmos de forma total, a
consequência é o homem ser tão mau quanto pode ser, mas como isso não ocorre
aqui na terra, mas está reservado apenas para o Lago de Fogo e Enxofre, até no
concurso geral há vestígios de concurso especial. Em outras palavras, até no
mover mecânico e físico de Deus há a graça preservadora dEle, freando este
homem para que ele não supere em maldade Satanás e todos os anjos maus
caídos. Ao Deus verdadeiro e soberano toda glória por essa graça derramada
sobre os ímpios, pois ela, embora sirva para maximizar a condenação futura dos
réprobos que fizeram mal-uso da mesma, serve como bênção para uma razoável
convivência aqui na terra até a volta de Cristo. Dito de outra forma, a graça
sobre os impenitentes é para a glória de Deus e alegria dos eleitos.

“No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, veio
Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e a sitiou. O Senhor lhe entregou
nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá...” (Daniel 1:1).

De todas as narrativas que mostram Deus levantando falsos profetas para
punir o seu povo, mas depois punindo esses mesmos falsos profetas, a mais
emblemática é a do cativeiro de Judá, que durou 70 anos, onde Nabucodonosor
tratou Judá com mão de Ferro.
Como podemos ver no texto de Daniel, o SENHOR entregou Jerusalém
para Nabucodonosor. A razão nos é dita de forma bastante clara no texto do
profeta Jeremias:
“Palavra que veio a Jeremias acerca de todo o povo de Judá,
no ano quarto de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá, ano
que era o primeiro de Nabucodonosor, rei da Babilônia, a qual
anunciou Jeremias, o profeta, a todo o povo de Judá e a todos
os habitantes de Jerusalém, dizendo: Durante vinte e três anos,
desde o décimo terceiro de Josias, filho de Amom, rei de Judá,
até hoje, tem vindo a mim a palavra do SENHOR, e,
começando de madrugada, eu vo-la tenho anunciado; mas vós
não escutastes. Também, começando de madrugada, vos
enviou o SENHOR todos os seus servos, os profetas, mas vós
não os escutastes, nem inclinastes os ouvidos para ouvir,
quando diziam: Convertei-vos agora, cada um do seu mau
caminho e da maldade das suas ações, e habitai na terra que o
SENHOR vos deu e a vossos pais, desde os tempos antigos e
para sempre. Não andeis após outros deuses para os servirdes
e para os adorardes, nem me provoqueis à ira com as obras de
vossas mãos; não vos farei mal algum. Todavia, não me
destes ouvidos, diz o SENHOR, mas me provocastes à ira
com as obras de vossas mãos, para o vosso próprio mal.
Portanto, assim diz o SENHOR dos Exércitos: Visto que
não escutastes as minhas palavras, eis que mandarei
buscar todas as tribos do Norte, diz o SENHOR, como
também a Nabucodonosor, rei da Babilônia, meu servo, e
os trarei contra esta terra, contra os seus moradores e
contra todas estas nações em redor, e os destruirei
totalmente, e os porei por objeto de espanto, e de assobio, e
de ruínas perpétuas. Farei cessar entre eles a voz de folguedo
e a de alegria, e a voz do noivo, e a da noiva, e o som das mós,
e a luz do candeeiro. Toda esta terra virá a ser um deserto e
um espanto; estas nações servirão ao rei da Babilônia setenta
anos” (Jeremias 25:1-11).
Como um Deus justíssimo e misericordioso que é, o Senhor fazia com
que profecias que convocavam o povo ao arrependimento não viessem somente
por intermédio de Jeremias, mas através de muitos outros que Ele levantava. A
declaração de Jeremias - começando de madrugada, eu vo-la tenho anunciado;
mas vós não escutastes – dá a ideia de uma intensidade de clamor por parte de
quem profere a Palavra do SENHOR, mas ao mesmo tempo aponta para a
profanidade que é negar e ser negligente com esses alertas. O fato é que durante
muitos anos, Deus chamou o povo ao arrependimento, mas o povo não quis.
Qual foi então a reação de Deus? Mover o coração de Nabucodonosor
ativamente para que ele pudesse escravizar seu povo? É claro que não! Isso já
era um desejo de Nabucodonosor, que era sempre frustrado em razão da
misericórdia e longanimidade de Deus com Judá. Deus, na verdade, estava
sempre freando Nabucodonosor.
Entretanto, como o povo se recusava a ouvir ao SENHOR e O provocava
à ira através de más obras; e sabendo que o coração dos inimigos do povo estava
sempre propenso ao mal, Deus apenas direciona esse mal para que possa ser
aplicado em seu próprio povo, sem precisar forçar Nabucodonosor ou infundir o
mal nele. Como dito anteriormente, o mover de Deus através do seu concurso
geral é um mover de natureza física, mecânica. A ação ética e moral é de
responsabilidade total do homem, nesse caso, Nabucodonosor.
Como o texto bem salienta no verso 9, Nabucodonosor é chamado de
“servo” do SENHOR. Não é, no entanto, no sentido de “cristão” como
conhecemos hoje, mas apenas no sentido de ele, assim como qualquer outro ser,
inclusive Satanás, estar sempre debaixo da autoridade e soberania de Deus, que,
de forma providencial, guia todas as coisas, seja através de seu concurso geral ou
especial, objetivando a sua glória e o prazer do Seu povo.
Aplicando o que já foi visto ao nosso contexto atual, e considerando a
imutabilidade de Deus, o mesmo pode ser dito a respeito dos falsos profetas
atuais. Todos são levantados por Deus, como servos, para cumprir um propósito,
sendo, contudo, esse levantar, uma atualização de seu decreto permissivo. Isso
porque Deus não deseja ou quer o mal da mesma forma como quer o bem. O mal
é uma ocorrência sempre da ação permissiva de Deus, nunca ativa. Não apenas
por Deus não desejar o mal, mas também por ele não necessitar fazer o homem
praticar o mal, já que este, após a queda, o pratica naturalmente.
Em 2 Tessalonicenses 2:10-11, o apóstolo Paulo afirma:
“E com todo o engano da injustiça para os que perecem,
porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E
por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que
creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que
não creram a verdade, antes tiveram prazer na
iniquidade”.
A Bíblia ensina aqui claramente que Deus envia de forma soberana a
operação do erro (por meio dos falsos profetas, por exemplo) para que os
reprovados creiam na mentira. E por qual motivo? Para que sejam julgados (v.
11) todos quantos não creram na verdade e tiveram prazer na iniquidade. Deus
não permite que falsos profetas e enganos sejam bem-sucedidos com as pessoas
arbitrariamente – isso não condiz com o seu carácter justo e santo. Deus só
permite que isso aconteça quando Ele quer julgar alguém que já “rejeita o amor
da verdade para se salvar” (v. 10). A responsabilidade é daquele que é enganado,
visto que ele quer ser enganado.
Quanto a Nabucodonosor, o texto conclui da seguinte forma:
“Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta
anos, castigarei a iniquidade do rei da Babilônia e a desta
nação, diz o SENHOR, como também a da terra dos caldeus;
farei deles ruínas perpétuas. Farei que se cumpram sobre
aquela terra todas as minhas ameaças que proferi contra ela,
tudo quanto está escrito neste livro, que profetizou Jeremias
contra todas as nações. Porque também eles serão escravos de
muitas nações e de grandes reis; assim, lhes retribuirei
segundo os seus feitos e segundo as obras das suas mãos”
(Jeremias 25:12-14).
É nessa parte que muitos leitores leigos ou mesmo teólogos ficam
surpresos e perdidos. Na realidade, a surpresa é nossa, pois todo cristão que se
preze deveria conhecer minimamente o seu Deus, bem como seu modo de agir e
atuar na história. Infelizmente, ou é preguiça intelectual, ou desonestidade
teológica, ou mesmo impiedade que faz com que muitos atribuam a Deus a
autoria ativa do mal, ou atribuam às Escrituras paradoxos que não existem.
Para o profeta Jeremias, o desenvolvimento da narrativa dessa forma não
causava nenhuma estranheza. Isso porque é sempre normal Deus punir o
malfeitor. Faz parte do atributo de justiça do SENHOR. A partir do caso em
específico, podemos perceber que Deus pode punir justamente dois pecadores
através de uma única circunstância. Pode existir alguém em deliberada
desobediência (que precisa de disciplina se for cristão ou punição justa se for
ímpio), e pode existir outro alguém também em deliberada desobediência, com
instinto dominador, e que já era declaradamente inimigo do primeiro em
desobediência. Ainda que até então um não se relacionasse com o outro, ambos
já mereciam ser punidos ou disciplinados. E Deus seria justo. Nesse caso
hipotético, o que o SENHOR faz é apenas direcionar ou permitir que este último
possa finalmente fazer a maldade que sempre intentara contra aquele. Assim
sendo, num primeiro momento, aquele está sendo punido ou disciplinado através
deste último; e num segundo momento, é a vez deste último ser punido por Deus
pela maldade que fez. Isso porque, embora tenha sido Deus aquele que
possibilitou e efetuou o movimento mecânico, a ação ética é de total
responsabilidade do agente que deliberou desobedecer e fez a escolha errada.
É por isso que é justíssima a punição aplicada em Nabucodonosor,
mesmo que ele estivesse, sem perceber, obedecendo e cumprindo um dos
decretos de Deus.
Em vista dessa breve análise, a frase proferida por Paul Washer – “Falsos
profetas são o juízo de Deus para as pessoas que não querem Deus (...) É o juízo
de Deus porque querem exatamente o que querem e não é Deus”[91] – apenas
confirma o modus operandi de Deus agir no que concerne à situação dos
pregadores nas mãos de um Deus irado. Embora eles estejam debaixo da ira de
Deus em razão de não pregarem a Palavra genuína, eles são ao mesmo tempo a
ira de Deus manifesta sobre aqueles que também não desejam se alimentar da
Palavra verdadeira. Portanto, de quem é a culpa na condenação de ambos? Dos
dois – do enganado e do enganador! Quanto a Deus, ele continua sendo, como
sempre foi e sempre será, um SENHOR absolutamente Justo e bom.
Conclusão

Neste livro apresentamos ao leitor, com base na Sagrada Escritura, as
responsabilidades do pregador e a seriedade do ofício pastoral.
Procuramos argumentar com o máximo de amor e profundidade possível
ao produzir esse pequeno excerto para persuadir você, caro leitor, a que evite ser
um pregador nas mãos de um Deus irado. Você está ciente de todas as terríveis
consequências que aguardam um pregador mal preparado e um falso profeta.
Não poderá alegar ignorância.
Abordamos as características de um ministério sério (cap. 1); a
importância de se anunciar todo o conselho de Deus (cap. 2); o juízo que
aguarda os pregadores maus (cap. 3); convocamos os pregadores à reflexão e à
mudança (cap. 4); apresentamos diversos púlpitos na história que honraram a
seriedade desse ofício e não caíram nas mãos iradas de Deus por cumprirem
corretamente a sua missão (cap. 5); e, por fim, concluímos com uma discussão a
respeito de quem é a responsabilidade por falsos mestres e pregadores inaptos
ainda estarem ocupando os púlpitos (cap. 6).
Se você é um pregador, honre aqueles que vieram antes de você. Siga o
exemplo bíblico dos homens de Deus que deixaram um verdadeiro tesouro em
forma de legado histórico. Não tenha por perda o se desgastar para fazer a obra
do Senhor com qualidade. Vale a pena! Há galardão sim para todos os que
desempenham esse ofício com excelência (Ap 22:12, 1 Co 3:13-15).
Se você é um membro congregante que não exerce cargo eclesiástico ou
o ofício da pregação, se informe a respeito das responsabilidades do pregador e
exerça seu papel de, como Igreja, cuidar, sempre com amor e respeito, para que o
púlpito de sua igreja seja realmente saudável à luz do que a Bíblia Sagrada
ensina. Todavia, caso veja que a situação seja realmente a de um falso profeta
obstinado no púlpito, saia imediatamente desse templo de Satanás, pois você não
será inocentado por ter sido “enganado”. Esta obra que tens em mãos, por
exemplo, é uma luz contra você, caso seja amante dos falsos profetas e
pregadores inaptos.
Que Deus nos abençoe para que alcancemos o seu padrão com auxílio do
Espirito Santo, por meio de Cristo, para gloria de Deus Pai.
Os autores
Referências Bibliográficas:

BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado. São Paulo: Publicações Evangélicas
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BEACON, Comentário bíblico. Vol. 9: Gálatas a Filemom. 1 ed. Rio de Janeiro:
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CALVINO, João. Comentário aos Gálatas. 1 ed. São Paulo: Edições Paracletos,
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CALVINO, João. Pastorais: série comentários bíblicos. 1 ed. São Paulo: Fiel,
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GONZÁLES, Justo L. Wesley Para América Latina Hoje. São Paulo: Editeo,
2003.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento – Isaías a Malaquias.
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homens piedosos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010.
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piedosos. 1 ed. São Paulo: Fiel, 2008.
LAWSON, Steven. A heroica ousadia de Martinho Lutero: um perfil de homens
piedosos. 1 ed. São Paulo: Fiel, 2013.
LAWSON, Steven. A poderosa fraqueza de John Knox: um perfil de homens
piedosos. 1 ed. São Paulo: Fiel, 2011.
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homens piedosos. 1 ed. São Paulo: Fiel, 2012.
LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando a Carta de Tiago. São Paulo:
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problemas na Igreja. 1 ed. São Paulo: Hagnos, 2008.
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Concordia Publishing House, 1968.
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Disponível em:
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profetas são o juízo de Deus sobre a igreja”. O Brasil está sob juízo?. Disponível
em: https://colunas.gospelmais.com.br/pastor-americano-paul-washer-disse-que-
falsos-mestres-e-falsos-profetas-sao-o-juizo-de-deus-sobre-igreja-o-brasil-esta-
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LUIZ CARLOS RAMOS. A prática homilética de John Wesley. Disponível em:
https://www.luizcarlosramos.net/a-pratica-homiletica-de-john-wesley-2/. Acesso
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em: http://monergismo.com/textos/credos/1689.htm. Acesso em: 12 ago. 2019.
MONERGISMO. Catecismo Maior de Westminster. Disponível em:
http://monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm.
Acesso em: 12 ago. 2019.
MONERGISMO. Pecadores nas mãos de um Deus irado. Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/advertencias/pecadores_maos_deus_irado.htm.
Acesso em: 12 ago. 2019.
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http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/70resolucoes_edwards.htm.
Acesso em: 12 ago. 2019.
REFORMA E AVIVAMENTO. Os falsos mestres não são os únicos vilões.
Disponível em: https://reformaeavivamento.blogspot.com/2009/11/falsos-
mestres-nao-sao-os-unicos-viloes.html. Acesso em: 12 ago. 2019.
YOUTUBE. O mundo é minha paróquia - Diário de John Wesley em aúdio.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AqK8KlzAYOc. Acesso em:
12 ago. 2019.
YOUTUBE. The noite: (23/06/2014) - Pastor Caio fábio. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=cbhUEhvm7W0. Acesso em: 12 ago. 2019.




Apêndice – indicação de leitura



Seguem abaixo, a título de indicação de leitura, algumas obras em língua
portuguesa que nós achamos importantes para que todo ministro fiel da Palavra
leia. Pensamos que esta obra não estaria completa sem um norte para aqueles
que, em algum momento na leitura desse livro, viram que precisavam levar a
sério ou mesmo mais a sério o ministério da pregação. É nosso desejo ver os
púlpitos da igreja brasileira sendo ocupados por pastores que amam a Palavra e o
Deus da Palavra. Por isso, eis abaixo 15 livros[92] que todo expositor deve ter:

1) A arte expositiva de João Calvino: Um Perfil de Homens Piedosos,
escrito por Steven J. Lawson e publicado pela editora Fiel.
2) O pastor como mestre e o mestre como pastor: Reflexões na vida e
ministério, escrito por D. A. Carson e John Piper, e publicado pela
editora Fiel.
3) Comentário Pastorais: Série Comentários Bíblicos, escrito por
João Calvino e publicado pela editora Fiel.
4) Pregação e Pregadores, escrito pelo D. M. Lloyd Jones e publicado
pela editora Fiel.
5) Pregando as Escrituras: um manual bíblico de pregação, escrito
por Bruno Cesar e publicado pela editora Grafia.
6) O pastor aprovado: procura apresentar-te a Deus aprovado...,
escrito por Richard Baxter e publicado pela PES.
7) Lições aos meus alunos (Vol 1, 2 e 3), escrito por C. H. Spurgeon e
publicado pela editora PES.
8) O pastor imPerfeito: descobrindo a alegria em nossas limitações
através do aprendizado diário com Jesus, escrito por Zack Eswine
e publicado pela editora Fiel.
9) Amado Timóteo: uma coletânea de cartas ao pastor, editado por
Tom Ascol e publicado pela editora Fiel.
10) Vocação Perigosa: os tremendos desafios do ministério
pastoral, escrito por Paul Tripp e publicado pela editora Cultura
Cristã.
11) Irmãos, nós não somos profissionais: um apelo aos pastores
para ter um ministério radical, escrito por John Piper e publicado
pela editora Shedd Publicações.
12) Eu sou chamado? A vocação para o ministério pastoral,
escrito por Dave Harvey e publicado pela editora Fiel.
13) Pregação Expositiva, escrito por Hernandes Dias Lopes e
publicado pela editora Hagnos.
14) Pregando para a glória de Deus, escrito por Alistair Begg e
publicado pela editora Fiel.
15) Recomendações aos jovens teólogos e pastores, escrito por
Helmut Thielicke e publicado por Edições Vida Nova.
Boa Leitura!
SDG!

[1] Paráfrase no texto de 1 Coríntios 10.12.


[2] LAWSON, Steven J. As firmes resoluções de Jonathan Edwards: um perfil de homens piedosos. São
José dos Campos: Editora Fiel, 2010, p. 17. [versão digital]
[3] Ibid, p. 18.
[4] Ibid, p. 17
[5] Ibid.
[6] Ibid.
[7] Trecho do livro O Cálice da Ira, de Rodrigo Caeté. Disponível em:
<https://escolasticismoreformado.wordpress.com/2019/06/23/j-edwards-e-pecadores-nas-maos-de-um-deus-
irado/>. Acesso: 23/06/2019.
[8] MONTGOMERY Apud LAWSON, Steven. As firmes resoluções de Jonathan Edwards. 1 ed. São
Paulo: Fiel. 2010, p. 71 [versão digital].
[9] Ibid, p. 99.
[10] As 70 resoluções de Jonathan Edwards. Disponível em
<http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/70resolucoes_edwards.htm>. Acesso em 01/08/2019.
[11] BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2013, p.
23.
[12] Ibid., p. 29.
[13] Não desejamos generalizar essa crítica, pois sabemos que há exceções, raras, mas há. Todavia, cremos
e orientamos a todo pastor que possa pastorear seu rebanho de modo pessoal e pastoral. Embora essa seja
nossa visão e orientação, reconhecemos que ela não é cabal nem autoritativa, mas apenas indicativa.
[14] Ibid., p. 31-32.
[15] Ibid., p. 38.
[16] Sermão do dr. Martinho Lutero sobre a morte de Estevão. Disponível em:
<https://blogdaliliandivina.wordpress.com/2011/05/29/melhor-destruir-todas-as-igrejas-lutero>. Acesso em
8 ago. 2019.
[17] GOLDSWORTHY, Graeme. Pregando toda a bíblia como escritura cristã. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2013,
p. 43.
[18] CALVINO, João. Pastorais: série comentários bíblicos. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2009, p. 312.
[19] BRUCE, F.F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento / editor geral F. F. Bruce; tradução:
Valdemar Kroker. 1 ed. São Paulo: Vida. 2008, p. 1777.
[20] BEACON, Comentário bíblico. Vol. 9: Gálatas a Filemom. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD. 2006, p. 483.
[21] CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. Pergunta 158. “Por quem a palavra de Deus deve ser
pregada?”. Disponível em: <http://monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm>.
Acesso em 19 de junho de 2019.
[22] CALVINO, João. Comentário aos Gálatas. 1 ed. São Paulo: Edições Paracletos. 1998, p. 21.
[23] Ibidem, p. 22.
[24] CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE LONDRES DE 1689. Disponível em:
<http://monergismo.com/textos/credos/1689.htm>. Acesso em 19 de junho de 2019.
[25] HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse. 1 ed. Rio de Janeiro:
CPAD. 2008, p. 711.
[26] É importante ressaltar isto tendo em vista que nos dias atuais, muitos retiram o versículo de 2 Co 3:5—
6 de contexto para afirmarem que o crente não deve se preocupar em estudar teologia, um engano terrível.
[27] BOUNDS, E.M. Poder pela oração. 1 ed. São Paulo: Editora Vida. 2010, p. 14.
[28] Ibidem, p. 14-15.
[29] Ibidem, p. 19.
[30] Ibidem, p. 20.
[31] CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. Pergunta 159. “Como a Palavra de Deus deve ser
pregada por aqueles que são para isto chamados?”. Disponível em:
<http://monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm>. Acesso em 20 de junho de
2019.
[32] LAWSON, Steven. O foco evangélico de Charles Spurgeon. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2012, p. 38. [versão
digital]
[33] The Noite. Entrevista com o pr. Caio Fábio (23/06/2014). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=cbhUEhvm7W0. Acesso em 23 de junho de 2019. [O trecho pertinente
vai do minuto 06:00 ao 08:25].
[34] Ibidem.
[35] É importante ressaltar que ele está sim - no tempo presente - debaixo da ira de Deus, mas não significa
que ele não possa vir a se arrepender desse falso ensino e mudar esse quadro futuramente. Oramos
sinceramente para que isto ocorra!
[36] MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular. 2 ed. São Paulo: Mundo Cristão. 2011, p. 394.
[37] Ibidem, p. 393.
[38] Não é à toa que Paulo nos chama a ser imitadores dele (1 Co 11:1).
[39] KEENER, Craig. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. 1 ed. São Paulo: Vida
Nova. 2017, p. 465.
[40] PECADORES NAS MÃOS DE UM DEUS IRADO. Sermão por Jonathan Edwards 08 de Julho de
1741. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/advertencias/pecadores_maos_deus_irado.htm>. Acesso em 24 de
junho de 2019.
[41] Inaptos seriam todos os pregadores que insistem em se manterem em condição de ignorância mesmo
podendo mudar o quadro. Fazem a obra relaxadamente! Infelizmente, são preguiçosos e não querem fazer o
melhor para servir a Deus no ministério com excelência.
[42] WASHER, Paul. 10 Acusações contra a Igreja Moderna. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2011, p. 103-104.
[43] GOLDSWORTHY, Graeme. Pregando toda a bíblia como escritura cristã. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2013,
p. 43.
[44] Lectio Continua é o método de exposição na qual o pregador prega todo um livro da bíblia, explicando
verso por verso e aplicando os ensinos a vida da Igreja.
[45] LAWSON, Steven. A arte expositiva de João Calvino. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2008, p. 40.
[46] Ibid, p. 41.
[47] Ibid.
[48] Quanto à referida crítica, que tem por base o que se vê na prática da Igreja atualmente, o ministro de
louvor no contexto do evangelicalismo brasileiro, se refere a alguém que supostamente leva a Igreja a
adoração, atuando como um intermediador. Ele geralmente toma para si atribuições que não é sua como, por
exemplo, o ensino da Palavra no meio dos cânticos. A opinião dos autores que vos falam é que isso é ir
além do que é a atribuição de louvar na casa de Deus.
[49] Na 1ª carta do apóstolo Paulo à igreja de Corinto, no capítulo 3, Paulo repreende algumas pessoas por
se posicionarem a favor de homens (mesmo homens legítimos, como Paulo e Apolo). Isso porque alguns
estavam preferindo o estilo e a pregação do apóstolo, enquanto outros já estavam gostando mais do jeito de
Apolo. Porém, também tinha aquele famoso grupo que se dizia mais biblista, ops, de Cristo. Esse era o
grupo que se achava mais espiritual. Ora, nada melhor do que ser diretamente do grupo de Cristo, não é?!
Segundo Hernandes Dias Lopes (LOPES, Hernandes. Comentário Bíblico Expositivo em 1 Co. Como
resolver problemas na Igreja. 1 ed. São Paulo: Hagnos. 2008, p. 23-25), essa igreja estava dividida em
virtude dos inúmeros partidos dentro dela. Ele diz, fazendo obviamente uma inferência a partir dos nossos
modelos partidários atuais, que existiam naquela Igreja as seguintes agremiações:

1) PLP - Partido Liberal de Paulo. Nesse partido estavam os membros fundadores da igreja. Foi Paulo
quem os levou a Cristo. Certamente, era o povo mais antigo, que dominava tudo e controlava todas as
estruturas da igreja;
2) PFA - Partido Filosófico de Apolo. Não é que Paulo não fosse intelectual. Era. Mas Apolo era estiloso
literariamente. De Alexandria, centro intelectual do mundo da época, Apolo encantava com sua retórica.
Por isso, é provável que o povo do PFA fosse a galera mais intelectual da igreja;
3) PCP - Partido Conservador de Pedro. Possivelmente era o povo judeu. Eram aqueles que se apegavam à
Lei do Antigo Testamento. Pedro, portanto, era o seu preferido em vista de ele ter sido reconhecido como o
apóstolo da circuncisão.
4) PCJ - Partido Cristão de Jesus. Talvez o mais problemático! Você conhece aquelas pessoas que acham
que já aprenderam tudo que tinham para aprender? Conhece aqueles que se acham os mais espirituais?
Conhece também aqueles que dizem que quem não é de tal linha doutrinária não é salvo? Pois é! Esse era o
povo do Partido Cristão de Jesus. Os que detinham o melhor título, mas a pior prática!
[50] Artigo disponível em <https://bereianos.blogspot.com/2011/04/voce-e-um-ministro-hupereta.html>
Acesso em 17 de junho de 2019.
[51] Tiago 3.1
[52] “Aparentemente havia muitos, entre os judeus cristãos aos quais Tiago escreveu, que queriam ser
mestres e que ‘estavam tentando ensinar aquilo que não compreendiam claramente’ (A. T. Robertson).
Além disso, estavam disputando o espaço necessário para ocupar tal função. A maneira como Tiago
escreveu, no original grego, pode ser traduzida como: ‘parem de se tornar mestres, muitos de vocês’”
(LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando a Carta de Tiago. São Paulo: Cultura Cristã. 2006, p. 95).
[53] Existem muitos movimentos ditos “cristãos” que abolem completamente a ideia de “pastor” ou líder
religioso. Um dos textos usados é esse de Tiago.
[54] HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento – Isaías a Malaquias. 1 ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2012. p. 1228.
[55] Ibid.
[56] HENRY, Matthew. Op. Cit., p. 1232.
[57] LAWSON, Steven. A arte expositiva de João Calvino. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2008, p. 36. [versão
digital]

[58] Digno é de nota que muitos outros ministérios magníficos de homens dos quais o mundo não era digno
poderiam ser mencionados: Charles Wesley, George Whitefield, John Wycliff, João Crisóstomo, John
Owen, Martin Llyod-Jones, etc. Uma pena que o espaço seja tão pouco para enumerar e descrever o
ministério glorioso desses pregadores segundo o coração de Deus.
[59] LAWSON, Steven. A heroica ousadia de Martinho Lutero. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2013, p. 16. [Versão
digital]
[60] Ibid.
[61] Ibid, p. 20.
[62] Ibidem, p. 96-97.
[63] LUTERO, Martinho. Luther Works – vol. 22 / Editor: Martin H. Bertram. Concordia Publishing
House. 1968, p. 168-169.
[64] LAWSON, Steven. O foco evangélico de Charles Spurgeon. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2012, p. 18. [versão
digital]
[65] Ibidem, p. 18.
[66] Ibid.
[67] LAWSON, Steven. A poderosa fraqueza de John Knox. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2011, p. 12. [Versão
digital]
[68] Ibidem, p. 16.
[69] Ibidem, p. 37.
[70] Ibid, p. 40.
[71] Ibidem, p. 43.
[72] Diário de John Wesley em Áudio. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=AqK8KlzAYOc>. Acesso em 09 de agosto de 2019. [O trecho pertinente se encontra em 4:56 a 5:00].
[73] Apesar de no Brasil esse termo ser mais aplicado aos locais de reunião dos Católicos Apostólicos
Romanos, é importante ressaltar que na tradição protestante anglicana é também comum o uso do termo
“paróquia” para designar as congregações locais.
[74] BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de John Wesley. 2 ed. Rio de Janeiro:
Igreja Metodista. 1995, p. 37.
[75] LUIZ CARLOS RAMOS. A prática homilética de John Wesley. Disponível em:
https://www.luizcarlosramos.net/a-pratica-homiletica-de-john-wesley-2/ Acesso em 9 de agosto de 2019.
[76] Ibid.
[77] GONZÁLES, Justo L. Wesley Para América Latina Hoje. São Paulo: Editeo. 2003, p. 33.
[78] Sermão “Salvação pela fé”, pregado na Universidade de Oxford, em 11 de junho de 1738. Trecho
disponível em: <https://escolasticismoreformado.wordpress.com/2019/06/27/john-wesley-sermao-salvacao-
pela-fe>. Acesso em 27 de junho de 2019.
[79] LAWSON, Steven. A arte expositiva de João Calvino. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2008, p. 68.
[80] Conforme mencionado e defendido pelo artigo “Calvino, o Exegeta da Reforma”. Disponível em:
<https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/movimento-reformado-calvinismo/joao-calvino/calvino-o-
exegeta-da-reforma>. Acesso em 30 de junho de 2019.
[81] LAWSON, Steven. A arte expositiva de João Calvino. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2008, p. 36.
[82] Ibidem, p. 35.
[83] Ibid, p. 40.
[84] LAWSON, Steven. As firmes resoluções de Jonathan Edwards. 1 ed. São Paulo: Fiel. 2010, p. 14.
[versão digital]
[85] Ibid, p. 20.
[86] Ibid, p. 25.
[87] Ibidem, p. 28.
[88] PECADORES NAS MÃOS DE UM DEUS IRADO. Sermão por Jonathan Edwards 08 de Julho de
1741. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/advertencias/pecadores_maos_deus_irado.htm>. Acesso em 24 de
junho de 2019.

[89] Texto de Paul Washer traduzido e postado por Márcia Gizella. REFORMA E AVIVAMENTO. Falsos
mestres não são os únicos vilões. Disponível em: https://reformaeavivamento.blogspot.com/2009/11/falsos-
mestres-nao-sao-os-unicos-viloes.html. Acesso em: 9 ago. 2019.
[90] Artigo disponível em: <https://colunas.gospelmais.com.br/pastor-americano-paul-washer-disse-que-
falsos-mestres-e-falsos-profetas-sao-o-juizo-de-deus-sobre-igreja-o-brasil-esta-sob-juizo_7420.html>.
Acesso em 12 de agosto de 2019.
[91] WASHER, op. Cit.
[92] Esta lista não é exaustiva, pois procuramos indicar livros lidos por nós. Todavia, reconhecemos que há
outras excelentes obras produzidas, muitas delas ainda não traduzidas para o português.

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