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Avaliação das Propriedades Estáticas e Dinâmicas de Vigas de

Concreto Armado
Ivan Moura Belo(1); Elisabeth Penner (2)

(1) Graduando do curso de Engenharia de Produção Civil, Centro Federal de Educação Tecnológica
do Paraná – CEFET/PR
email: ivanbelo@hotmail.com

(2) Professor Doutor, Departamento Acadêmico de Construção Civil do Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná – CEFET/PR
email: epenner@cefetpr.br

Av. Sete de Setembro, 3165


80230-901 Curitiba-PR Brasil

Palavras Chaves: Estruturas de Concreto, Dinâmica das Estruturas, Análise Experimental


e Análise Modal.

Resumo

O cálculo de dimensionamento e verificação da segurança de estruturas de


concreto armado normalmente é feita com modelos matemáticos baseados nas
características de resistência e rigidez dos materiais e do arranjo estrutural. As
propriedades de resistência e rigidez dos materiais são consideradas por meio dos
diagramas tensão-deformação convencionais, onde são definidos valores que
caracterizam estados limites das estruturas especificados por normas. Portanto, para
dimensionamento e verificação da segurança é necessário que se conheça a rigidez
dos materiais, que se organize um arranjo estrutural e que a análise estrutural seja
baseada em hipóteses de cálculo coerentes com os comportamentos dos materiais e
com os arranjos estruturais empregados. O arranjo estrutural deve permitir a
otimização da utilização da estrutura.

Este trabalho tem como meta a avaliação da rigidez efetiva de vigas de


concreto armado e sua influência no projeto de sistemas estruturais. O objetivo
principal é a investigação da perda da rigidez de vigas isoladas, submetidas à
vibrações livres, a partir de ensaios dinâmicos, em conjunto com análise modal,
possibilitando o emprego de ensaios não destrutivos para essa avaliação.

1 Introdução

A análise de vibrações em estruturas ocupa um grande espaço no que se


refere a análise experimental de estruturas, pois abrange o estudo do desempenho
estrutural de pontes, edifícios e pisos industriais, vibrações em motores,
compressores , bombas, chassis de automóveis e estruturas off-shore.

A análise dinâmica é feita com o principal objetivo de avaliar o desempenho


do sistema estrutural em questão, possibilitando assim, a avaliação da segurança da
estrutura, bem como a elaboração ou confirmação de modelos matemáticos
existentes.

Os ensaios dinâmicos baseados nos espectros de respostas se destacam


entre os ensaios não destrutivos, pois permitem avaliar o desempenho da estrutura
por meio das propriedades modais, principalmente das freqüências naturais e suas
respectivas deformadas, PENNER (2001).

2 Fundamentos teóricos

2.1 Vibrações Livres

Seja uma viga em balanço, quando ocorrem deslocamentos referentes à


posição inicial de equilíbrio nessa viga, devido a aplicação de uma força ou
perturbação, surgem as vibrações livres.

Nesse caso, o ensaio dinâmico é caracterizado pela remoção súbita de carga.


Por se tratar de um ensaio não destrutivo, além das vantagens econômicas, esse
método é caracterizado pela rapidez, facilidade de execução e, principalmente,
confiabilidade nos resultados obtidos.

2.2 PROPRIEDADES MODAIS

2.2.1 Freqüências Naturais

Uma vez provocado o impulso, a energia adquirida pelo sistema é dissipada


sob a forma de movimento vibratório. Vale lembrar que os fatores que alteram a
natureza da vibração são: a geometria, as propriedades elásticas (produto de rigidez
EI) e a densidade da peça que se está analisando.

As características dinâmicas de um sistema material podem fornecer


importantes critérios de avaliação da sua integridade. O conhecimento do valor da
freqüência natural da peça é importante, uma vez que ele mostra o grau de
deterioração da peça. Obtendo-se o valor da freqüência natural em conjunto com a
informação da massa da peça é possível avaliar a rigidez do sistema.

No caso de peças de concreto armado, as freqüências naturais de vibração alteram-


se com o decorrer da fissuração como conseqüência da redução da rigidez média,
ALVIM (1997).

2.2.2 Amortecimento

Quando um sistema está vibrando e, por algum motivo, a energia do sistema


é dissipada, ocorre o amortecimento. Ou seja, o amortecimento nada mais é do que
a dissipação de energia de um sistema que está vibrando. Quando se deseja manter
esse amortecimento, deve-se substituir a energia que está sendo dissipada por uma
fonte externa, pois do contrário, a amplitude da vibração irá diminuir continuamente
ocasionando a estabilização do sistema.

O amortecimento ocorre muitas vezes como conseqüência da associação de


forças e de tensões no sistema.

2.3 ANÁLISE MODAL

A análise modal é caracterizada pelo emprego de técnicas que sejam


confiáveis para identificação de propriedades dinâmicas nas estruturas. Quando um
sistema for descrito por suas propriedades modais, ou seja, pelas freqüências
naturais e pelos modos de vibração, é denominado Modelo Modal.

Ao se realizar um ensaio dinâmico de vibrações livres, o sinal obtido está no


domínio do tempo, isso quer dizer que o deslocamento será uma função do tempo,
como mostra o gráfico da figura 2.1.

3000,00
Deslocamento específico (um/m)

2500,00
2000,00
1500,00
1000,00
500,00
0,00
-500,0011,70 11,80 11,90 12,00 12,10 12,20 12,30 12,40 12,50
-1000,00
-1500,00
Tempo (s)
Figura 2.1 – Exemplo de uma série temporal de deformações específicas
O movimento descrito pela figura 2.1 é dado pela seguinte equação:

u y ( x, t ) = U y ⋅ cos(ω D t + θ ) ⋅ e ( −ξωt ) (2.1)

onde:

U ⇒ amplitude;

t ⇒ tempo;

ω ⇒ freqüência angular natural do sistema;

ωD ⇒ freqüência angular natural do sistema amortecido dada por:

ωD = ω 1− ξ 2 (2.2)

θ ⇒ ângulo de fase dado por:

 u& 0 + u 0 ⋅ ξ ⋅ ω 
θ = − tan −1   (2.3)
 ωD 

ξ ⇒ grau de amortecimento.

Em estruturas de engenharia civil, ξ é geralmente menor que 1, com ωD ≅ ω.


Portanto a equação (2.1) nos fornece a vibração amortecida do sistema. Os picos de
amplitude da figura 2.1 podem representar uma função logarítmica, onde o
decremento nos fornece o grau de amortecimento.

Porém, é de maior interesse da análise modal, o estudo dos dados obtidos a


partir dos sinais analisados no domínio da freqüência. Pois dessa maneira, é
possível obter o grau de fissuração da peça ou freqüência natural da peça, como já
descrito no item 2.2.1, figura 2.2.

300
Deformação específica (um/m)

250

200
150

100
50

0
0 20 40 60 80 100 120
-50
Freqüência (Hz)

Figura 2.2 – Exemplo de um espectro de deformação específica


3 Avaliação da Rigidez Efetiva

A experimentação realizada neste trabalho tem como objetivos avaliar a


redução da rigidez efetiva de vigas de concreto armado em balanço, em função do
grau de fissuração. A redução da rigidez foi avaliada por meio de ensaios quase
estáticos de flexão simples e de ensaios dinâmicos de vibrações livres.

3.1 Corpo-de-prova

O corpo-de-prova utilizado nos ensaios quase estáticos e dinâmicos


constituiu-se de uma viga de concreto armado com seção transversal de 10x10cm e
110cm de comprimento, figuras 3.1. Como armadura transversal foram adotados
estribos de 4,3mm de diâmetro dispostos a cada 15cm ao longo da peça.
Estribo
15
4,3

2Ø8
100
45

2Ø8
4,3
15

100 25 150

1100
Unidades: mm

Figura 3.1 – Seções longitudinal e transversal do corpo-de-prova

Para o controle da resistência do concreto foram moldados dois corpos-de-


prova cilíndricos com 10cm de diâmetro e 20cm de comprimento, figura 3.2. Dos
ensaios de caracterização mecânica resultou o valor de 10,49MPa. A figura 3.3
apresenta a viga utilizada na experimentação física ainda na fôrma.

Figura 3.2 – Corpos-de-prova cilíndricos Figura 3.3 – Viga na fôrma


3.2 Instrumentação da Viga

A armadura longitudinal da viga foi instrumentada com três extensômetros


elétricos de resistência (do tipo foil gage), instalados na mesma seção transversal da
peça, situados a, aproximadamente, 80cm da extremidade livre. Após cura da viga,
foram instalados dois extensômetros elétricos adicionais, nas bordas superior e
inferior das faces do concreto, também na mesma seção junto ao engaste. Além
disso, a extremidade em balanço foi instrumentada com um acelerômetro de
r
capacidade de 1 g de leitura com um transdutor de deslocamento do tipo indutivo
(LVDT), figura 3.4.

Figura 3.4 – Extensômetros, acelerômetro e LVDT

3.3 Arranjo de Ensaio

O arranjo de ensaio foi preparado de forma a promover o engaste de uma das


extremidades da viga. Essa condição de contorno foi adotada tanto para a execução
dos ensaios quase estáticos quanto dos dinâmicos.

Foram empregadas braçadeiras de aço a fim de promover as condições


preestabelecidas de contorno, isto é, viga em balanço, figura 3.5.
Figura 3.5 – Viga em balanço

O sistema de aquisição de dados utilizado foi composto por um computador


do tipo laptop, com programa e placa de aquisição AD/DA ligados aos
extensômetros elétricos, a um acelerômetro, a um transdutor de deslocamentos
(LVDT) e à uma célula de carga com capacidade de até 20kN de registro de carga,
figura 3.6.

Figura 3.6 – Sistema de aquisição de dados

3.4 Procedimento de Ensaio

Os procedimentos de ensaio consistiram na execução das seguintes etapas:

a) Inicialmente, foi realizado um ensaio de vibrações livres para a determinação


da freqüência natural de vibração f1, correspondente a condição de
integridade da peça;
b) Posteriormente, foi feito um primeiro ensaio de flexão simples para a
determinação do comprimento de engaste efetivo da viga e da rigidez à flexão
inicial da peça. Esse ensaio consistiu na aplicação de uma força transversal
(de valor conhecido) na ponta em balanço. As deformações específicas foram
registradas por meio dos extensômetros. O deslocamento na extremidade em
balanço foi medido por meio do transdutor de deslocamentos (LVDT);

c) Conhecidos os valores do comprimento efetivo de engaste e da rigidez inicial,


foram realizados os ciclos de ensaios quase estáticos de flexão simples cujo
objetivo foi a avaliação da redução da rigidez. Em cada ciclo foi determinada a
curvatura da viga nas seções instrumentadas e a flecha na extremidade livre.
A carga máxima (Pmáx) foi sendo progressivamente aumentada;

d) Entre cada intervalo dos ciclos de ensaio quase estáticos foram executados
os ensaios dinâmicos de vibrações livres. Esses ensaios foram realizados
após o completo descarregamento da peça. A freqüência natural
correspondente ao primeiro modo de vibração foi determinada para cada nível
de solicitação;

e) A investigação da viga terminou com o ensaio de vibrações livres


correspondente ao nível de fissuração máxima da viga atingida após o último
carregamento estático.

3.5 Ensaios Estáticos de Flexão Simples

3.5.1 Rigidez à Flexão Inicial da Viga

O primeiro ensaio de flexão simples foi realizado com o objetivo de se


determinar a rigidez à flexão inicial da viga e o comprimento efetivo de engaste.

Considere uma viga em balanço como configurada no arranjo experimental e


submetida a uma carga P conforme o esquema da figura 3.6, pela Resistência dos
Materiais, o deslocamento da ponta do balanço é dado por:

P ⋅ L3ef
v= (3.1)
3 ⋅ (EI) exp,est

onde:

P ⇒ é a carga aplicada;
(EI)exp,est ⇒ é o produto de rigidez experimental à flexão da peça;

Lef ⇒ é o comprimento efetivo do balanço.

3.5.2 Comprimento Efetivo de Engaste

Na consideração dos efeitos estáticos e dinâmicos é preciso conhecer o


comprimento efetivo do balanço. Para isso, utiliza-se a equação 3.1 e obtém-se a
expressão:

3 ⋅ (EI) exp,est ⋅ v
L ef = 3 (3.2)
P

De posse dos valores máximos de deformações, o comprimento efetivo da


viga foi determinado a partir da equação 3.2:

Lef = 90,2cm

3.5.3 Determinação do Módulo de Elasticidade do Concreto

Para a determinação do módulo de elasticidade do concreto adotou-se a


expressão dada pelo CEB:

Eref = 4700 ⋅ fck (3.3)

Substituindo o valor de fck obtido no item 3.1 na expressão 3.3, tem-se:

Eref = 15,2GPa

3.6 Ensaios Dinâmicos de Vibrações Livres

3.6.1 Determinação da Freqüência Natural de Vibração

Utilizando-se os extensômetros, acelerômetro e LVDT instalados na superfície


da viga foi possível registrar as amplitudes de deformação específica durante a
realização dos ensaios dinâmicos. Por meio do espectro gerado, foram determinadas
as freqüências de primeiro modo de vibração da viga.

As freqüências naturais (em Hz) determinadas experimentalmente pelos


ensaios de vibrações livres, correspondentes aos diversos níveis de carregamento
estático ao qual a viga foi submetida, podem ser vistas no gráfico das figuras 3.7 a
3.11. Vale ressaltar que até a figura 3.8 utilizou-se o acelerômetro, posteriormente,
devido a elevada diminuição da aceleração, utilizou-se o extensômetro da armadura
superior para as figuras 3.9 a 3.11.

0,0016

0,0012
Aceleração (g)

0,0008

0,0004

0
10 15 20 25 30 35 40 45 50
Freqüência (Hz)

Figura 3.7 – Espectro de freqüência do 1o. ensaio dinâmico (N = 0 – Peça íntegra)


0,025

0,02

0,015

0,01

0,005

0
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55

Fr eqüênci a ( Hz )

Figura 3.8 – Espectro de freqüência do 2o. ensaio dinâmico (N = 1,09kN)


600

500

400

300

200

100

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40

Freqüência (Hz)

Figura 3.9 – Espectro de freqüência do 3o. ensaio dinâmico (N = 1,47kN)


600

500

Deformação específica (um/m)

400

300

200

100

0
0 10 20 30 40 50
Freqüência (Hz)

Figura 3.10 – Espectro de freqüência do 4o. ensaio dinâmico (N = 2,77kN)


70

60

50
Deformação específica (um/m)

40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50
Freqüência (Hz)

Figura 3.11 – Espectro de freqüência do 5o. ensaio dinâmico (N = 3,06kN)

3.6.2 Rigidez Determinada por Ensaios Dinâmicos de Vibração Livre

A análise dos espectros de freqüência dos ensaios de vibrações livres permite


obter os valores de rigidez para os diversos estágios de fissuração da viga. Para
tanto, determinaram-se as rigidezes impondo-se a condição de que as freqüências
teóricas fossem iguais às freqüências determinadas experimentalmente.

As freqüências naturais teóricas são dadas por:


2
1  1,875  (EI) exp,din
f1 =   (3.3)
2π  L ef  m

Portanto, a equação 5.4 permite o cálculo das rigidezes efetivas empregando-


se o comprimento efetivo de balanço. Nessa análise foi considerada a massa por
metro linear m = 25kg/m.

Logo, chegaram-se as diversas freqüências correspondentes aos diferentes


ciclos, tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Valores de rigidez (EI)exp,din e freqüência f1


f1 (Hz) (EI)exp,din (N.m2)
41,992 93208,16
37,109 72791,27
26,367 36748,72
22,461 26667,30
20,507 22229,26

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A evolução da fissuração da viga de concreto armado com os carregamentos


aplicados levam a uma perda da rigidez. Todavia, no estado de fissuração
sistemática, a peça se encontrou com o número de fissuras estabilizado, e os
resultados experimentais permitem admitir que para carregamentos crescentes a
rigidez da peça tende a uma rigidez mínima quase constante.

O coeficiente β, definido por 4.1, é um fator de redução que procura exprimir a


diminuição da rigidez pela fissuração dos elementos estruturais.

Onde:

β ⇒ é o fator de redução do produto de rigidez;

(EI)ef ⇒ é o produto de rigidez efetivo determinado experimentalmente por meio dos


ensaios estáticos e dinâmicos;

(EI)ref ⇒ é o produto de rigidez de referência.

Como descrito no item 3.5.3 o valor de (EI)ref adotado foi 130000N.m2, sendo
assim, o valor do coeficiente β está apresentado na tabela 4.1.
Tabela 4.1 – Valores de rigidez (EI)exp,din , freqüência f1 e coef. β
f1 (Hz) (EI)exp,din (N.m2) β
41,992 93208,16 0,72
37,109 72791,27 0,56
26,367 36748,72 0,28
22,461 26667,30 0,21
20,507 22229,26 0,17

5 Referências Bibliográficas

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estrutural por meio de corpos de prova cilíndricos. Boletim Técnico da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

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CORNELL FRACTURE GROUP. Franc3D Menu & Dialog Reference. Cornell


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FERNANDES, C. A., et al.. Reforço de pilares de elevado do metrô de São Paulo.

41º Congresso Brasileiro do Concreto. São Paulo, IBRACON, 1999.

SHAH, S.P; SWARTZ, S.E; OUYANG, C. Fracture mechanics of concrete -


applications of fracture mechanics to concrete, rock and other quasi-brittle
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