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Coagulação e Mistura Rápida

Prof.ª Andriane de Melo Rodrigues


e-mail: andriane.melo@ifgoiano.edu.br

1
Coloides
Substâncias que não se separam sob a ação da gravidade, mas é
possível separá-las usando filtros extremamente finos ou processos de
coagulação.

2
Coloides Estão sujeitos
à coagulação
• Do ponto de vista enérgico:
Coloides Coloides
reversíveis irreversíveis
Termodinamicamente estáveis Termodinamicamente instáveis
(proteínas, amidos, polímeros cadeias (argilas, óxidos metálicos,
longas) microrganismos)

• Afinidade com à água:

Sistemas coloidais Sistemas coloidais


hidrófobos hidrófilos
Repelem à agua Afinidade com à água
(Sabão disperso na água, gelatina) (ouro e enxofre coloidal)
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Propriedades e Características dos Coloides:

• Possuem massa elevada e elevada relação área/volume de partícula.

Capacidade para atrair e reter outras substâncias


na sua superfície, em um processo conhecido como
adsorção.

• Nos coloides as partículas dispersas estão em movimento constante e errático


devido às moléculas do fluido estarem constantemente a colidir contra elas.

• Estabilidade: dependerá da fase dispersa.


4
5
Origem da carga superficial
Existem três principais caminhos para a origem da carga superficial negativa em coloides:

1. Grupos presentes na superfície sólida podem, ao reagir com a água, receber ou doar
prótons

Substancias orgânicas contendo grupo carboxílico e Óxidos insolúveis, como a sílica e silanol (SiOH)
aminas

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Sendo a carga superficial dependente do pH da solução.
Origem da carga superficial
2. Grupos superficiais podem reagir na água com outros solutos além de
prótons

A formação de complexo envolve


reações químicas entre grupos
da superfície da partícula
(silanol) e solutos adsorvíeis
(fosfato) e dependem do pH

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Origem da carga superficial
3. Imperfeições na estrutura da partícula (substituição isomórfica), que são
responsáveis em grande parte pelas cargas das argilas minerais

Plaquetas de sílica tetraédrica são


cruzadas por plaquetas de alumina
octaédrica, de modo que, se um átomo
de silício é substituído por um de
alumínio durante a formação da
plaqueta, resulta em carga superficial
negativa. 8
Dupla Camada Elétrica (DCE)
A carga superficial, juntamente com a
movimentação browniana, leva a formação da
DCE

Íons de carga oposta (contraíons) são


fortemente adsorvidos na superfície da
partícula, formando uma camada interna
firmemente aderida, e íons de mesma carga
(coíons) são repelidos, formando uma
camada externa difusa, mantida próxima a
partícula pelas forças eletrostáticas.

A concentração de íons decresce


exponencialmente até igualar a concentração
da solução 9
Dupla Camada Elétrica (DCE)
A diferença de potencial elétrico entre um ponto
imediatamente fora da superfície da partícula,
ate onde a concentração iônica iguala a solução,
cai gradualmente à medida que se afasta da
superfície.

Não é possível medir a diferença de potencial na


superfície da partícula (potencia Nernst). Mas é
possível medir o pontencial zeta.

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Potencial zeta
Equação de Smoluchowski (utiliza a mobilidade
eletroforética para determinar o potencial
zeta): O Potencial Zeta não pode ser
medido diretamente, por isso é
4𝜋 .𝜗 𝑀 calculado através do rastreamento do
ζ= 5
= 1,256 . 10 . 𝜇 (𝑒𝑚 𝑚𝑉) movimento de partículas carregadas
𝐸 .𝐷 𝐷
em um campo de tensão, chamada
mobilidade eletroforética (M).
onde,

𝜗 = velocidade da particula, 𝜇m/s


𝜇 = viscosidade dinâmica da água, poises (1 poise =
0,0102 kg.s/m² Portanto, mobilidade eletroforética é
E = pontencial aplicado por unidade de comprimento uma medida relativa de quão rápido
da célula eletroforética, volt/cm uma partícula se move em um campo
M = v/E: mobilidade eletroforética, volt/cm elétrico.
D = constante dielétrica da água = 80,4 c.g.s.e a 20 °C e
78,5 c.g.s.e.* a 25 °C 11
Potencial zeta
Princípio de medição por mobilidade
eletroforética:

Introduz-se uma suspensão


coloidal diluída em uma cuba com dois
eletrodos e aplica-se um potencial elétrico à
suspensão.

As partículas com carga elétrica líquida irão


se mover na direção do eletrodo de carga
contrária, tão mais rapidamente quanto
maior a sua carga elétrica e maior o campo
elétrico aplicado.

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Por que o potencial zeta é importante?

• Indica a carga superficial, podendo ser usado para prever e controlar a


estabilidade de suspensões coloidais.

• Quanto maior o potencial zeta mais provável que a suspensão seja estável, pois as
partículas carregadas se repelem umas às outras e essa força supera as forças de
van der Waals, as quais promovem agregação.

> Potencial zeta > estabilidade (repulsão)

< Potencial zeta > instabilidade (agregação)


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Por que o potencial zeta é importante?

O potencial zeta é influenciado por:


• concentração de eletrólitos;
• pH (concentração de íons que
determinam o potencial).

A concentração do íon na qual o potencial


zeta é zero é definida como o ponto
isoelétrico (pIE) = Ponto de carga líquida
zero.

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O potencial zeta diminui
com o aumento da
concentração iônica
(eletrólitos)

• Reduz a concentração
de íons na camada
difusa

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Mecanismos de coagulação

Atualmente, considera a coagulação como resultado individual ou


combinado de quatro mecanismos:

1. Compressão da dupla camada elétrica


Devido a carga negativa das
partículas coloidais, que impede a
2. Adsorção e neutralização de cargas aproximação entre elas. Faz-se
necessário alterar a força iônica
do meio (sais de alumínio ou
3. Varredura
ferro, polímeros catiônicos).

4. Adsorção e formação de pontes

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Compressão da dupla camada elétrica
Uso de eletrólitos indiferentes (que não
tem características de hidrólise ou de
adsorção, por exemplo cloreto de sódio,
de cálcio)

Como os coagulantes usados no


tratamento de água não são eletrólitos
indiferentes podem ocorrer outros
fenômenos além da compressão da dupla
camada.

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Compressão da dupla camada elétrica

18
Adsorção e
neutralização de cargas
Se um agente coagulante que tenha carga
contrária ao do coloide for adsorvido em
sua superfície, a carga resultante será
neutra, desestabilizando-o.

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Varredura Varredura

Formação de
precipitados

Adsorção e
Neutralização
de cargas

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Adsorção e formação de pontes
Caracteriza-se pelo uso de polímeros de grandes cadeias moleculares (massa molar >
106), servindo de ponte entre a superfície a qual estão aderidas e outras partículas.

Frequentemente usada em
conjunto com a neutralização
da carga, fazendo crescer
rapidamente os flocos
resistentes às forças de
cisalhamento que provocam a
ruptura.

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Diagramas de
coagulação

Valores ótimos de “dosagem


de coagulante x pH de
coagulação”,

Diagrama de Amirtharajah e Mills, em 1982 22


Diagramas de coagulação
Ensaios de “jart test” realizados para se obter dados para projetos e operações de estações de
tratamento

As informações obtidas através dos ensaios


laboratoriais com uso do Jar Test podem ser
especificadas em diagramas de coagulação.
Dados como, a dosagem do coagulante, pH de
coagulação e a turbidez remanescente são
descritos graficamente nos diagramas.

Dando informações como a necessidade ou não


do uso de alcalinizante ou acidificante, além dos
custos com os coagulantes incluídos.

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Remoção de
turbidez

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Diagrama de coagulação Mendes (1989)
Unidade de mistura rápida com ressalto hidráulico
Ressalto hidráulico ocorre quando a corrente liquida passa do regime rápido (supercrítico)
para o tranquilo (subcrítico), com a profundidade da água passando de menor para maior
que a profundidade crítica.

Para que ocorra o ressalto as profundidades da agua antes e


depois do ressalto (h1 e h2), devem satisfazer a relação:
Utilizados em canais
retangulares, calhas 𝑈1
parshall e vertedouros
ℎ2 1 𝐹𝑟 =
= 1 + 8𝐹𝑟2 − 1 onde:
ℎ1 2 𝑔. ℎ1

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Ressalto hidráulico
O ressalto hidráulico pode ser classificado em função do Número_de_Froude (Fr).
Seguindo o exposto em Chow (1973,2009), tem-se a seguinte classificação:

a) Se 1<Fr<1,7: ressalto hidráulico ondulado. Neste caso não se tem o ressalto propriamente dito, mas sim a
formação de ondas que se propagam para jusante. A dissipação de energia é muito pequena, de modo que o
ressalto não é empregado como dissipador;

b) Se 1,7<Fr<2,5: ressalto hidráulico fraco. Pouca energia é dissipada. Uma série de pequenos vórtices é
formada sob a superfície livre na região do ressalto e a região a jusante do ressalto permanece
aproximadamente uniforme e lisa;

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c) Se 2,5<Fr<4,5: ressalto oscilante. Para este intervalo de Fr1, o ressalto apresenta uma superfície livre com
ondulações e ocorre a formação de ondas que podem se propagar para jusante sobre longas distâncias. Este
fenômeno pode causar erosões em alguns tipos de canais

d) Se 4,5<Fr<9,0: ressalto estável. Este tipo de ressalto é empregado como dissipador de energia em bacias de
dissipação. Aproximadamente 45 a 70% da energia total a montante do ressalto é dissipada ao longo de sua
extensão;

e) Se Fr>9,0: ressalto forte. Este tipo de ressalto não é empregado como dissipador de energia porque há o risco
de ocorrência de erosões significativas em função da elevada turbulência.

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Ressalto hidráulico
• De acordo com Richter (2009), o tipo de ressalto desejável para a mistura
rápida é o estável, com número de Froude entre 4,5 e 9.
Pode ser também aceito o salto
fraco, devendo se evitar o
ressalto ondulado e oscilante.

No caso de ressalto hidráulico em que o número de Froude, esteja


compreendido entre 2,5 e 4,5 (ressalto oscilante), deve ser previsto
dispositivo que anule as oscilações de velocidade a jusante do Deve ser evitado
ressalto.
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Ressalto em
calhas Parshall

A calha Parshall consiste em


três seções:
• uma seção
convergente a
montante que leva a
• uma seção
estrangulada ou
garganta e
• uma seção divergente
na saída, dispostas
em planta

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Desenho esquemático de uma calha parshall e suas dimensões
Calha ou vertedor Parshall 30
Para mistura rápida em ressaltos
Recomendações Penna (1984), Di Bernardo e Penna (1985) e Coelho
(1989):
• Menor altura possível na lamina líquida da garganta, compatível com as vazões de
medição previstas;

• Descarga livre na saída;

• Ressalto hidráulico iniciando no final da garganta;

• Execução de rebaixo após o trecho divergente para instalação de malha e


comporta tipo vertedor.

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Tabela 1. Dimensões padronizadas de calha Parshall (cm), vazão (L/s)

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33
Exemplo (pg 339 Di Bernardo)
• Verificar as condições de mistura rápida de um calha Parshall para as
vazões de primeira e segunda etapa: Q1 = 1,3 m³/s e Q2 = 2,6 m³/s

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Equações
1. Vazões em calhas Parshall, com descarga livre na saída, é dada pelas seguintes
equações, nas quais Q (m³/s) e a largura nominal da garganta (w) em m.

• 30,5 cm ≤ w ≤ 244 cm  Q = 0,372 w (3,281 Ha)1,568(w)0,026

• 305 cm ≤ w ≤ 1525 cm  Q = (2,2926 w + 0,4737)Ha1,6

• w = 7,6 cm  Q = 0,1765 Ha1,547 Equações 1

• w = 15,2 cm  Q = 0,381 Ha1,580

• w = 22,9 cm  Q = 0,535 Ha1,530


35
Equações

2. Altura da água na seção de medição (Ha)


Equações anteriores, exemplo:
𝟏
𝑸 𝟏,𝟓𝟔𝟖(𝒘)𝟎,𝟎𝟐𝟔
Ha =
0,372 w (𝟑,𝟐𝟖𝟏)𝟏,𝟓𝟔𝟖(𝒘)𝟎,𝟎𝟐𝟔

3. Largura da calha na seção de medição:


𝟐
D’= .(D - w) + w (m) Equação 2
𝟑
onde:
D e W são dimensões (m), tabela 1
36
Equações
3. Velocidade na seção de medição:
𝑸
𝒗𝒂 = ′ (m/s) Equação 3
𝑫 𝑯𝒂

4. Energia total disponível na seção de medida de Ha

𝒗𝒂𝟐
Ea = Ha + + N (m) Equação 4
𝟐𝒈

37
Equações
6. Ângulo:
−𝒈 𝑸
cosƟ= (graus) Equação 6
𝒘 𝟎,𝟔𝟕 𝒈 𝑬𝒂 𝟏,𝟓

onde:
g é aceleração da gravidade (m/s²)

7. Velocidades médias de escoamento:


𝟏
𝜽 2.g.E𝒂 𝟐
V1= 2.cos . (m/s) Equação 7
𝟑 𝟑

8. Altura da água no inicio do ressalto:


(V1)²
y1= 𝑬𝒂 – (m) Equação 8
𝟐𝒈
38
Equações

9. Número de Froude:
𝑽𝟏
𝑭𝒓 = Equação 9
𝒈. 𝒚𝟏

10. Altura no final do ressalto (assumindo que se tenha canal na seção retangular
com fundo horizontal)
y1
y3 = 𝟐
𝟏 + 𝟖𝑭𝒓𝟐 − 𝟏 (m) Equação 10

11. Profundidade da lamina de água e velocidade de escoamento no trecho


divergente:
Y2 = y3 – (N – K) (m) Equação 11

𝑸
V2 = (m/s) Equação 12
𝑪 𝒚𝟐
39
Equações
13. Perda de energia
En = Ea – E2 (m)
Equações 13
𝒗𝟐𝟐
E2 = + 𝒚𝟐 + (𝑵 − 𝑲)
𝟐𝒈
onde: N e K é tabelado

14. Perda de carga:


Δh = Ha + 0,229 – y3 (m) Equação 14

40
Equações

15. Tempo de mistura:


𝑮
Tmr = (s) Equação 15
(𝑽𝟏+𝑽𝟐)/𝟐
onde: G é tabelado

16. Gradiente de velocidade:


γ 𝑬𝒏
Gmr = (s-1) Equação 16
µ 𝑻𝒎𝒓

Onde:
γ = 9.980 kg/m³ (peso específico)
µ = 1,167x10-3 N.s/m² (viscosidade
absoluta da água) 41
42
Gradiente e tempo de mistura rápida NBR 12216

NBR 12216:
• Gradientes de velocidade de 700 s-1 a
1100 s-1,
• Tempo de mistura < 5 s;

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Demais unidades de mistura rápida com
ressalto hidráulico
• Vertedor retangular (pag. 330 Di Bernardo)
• Resolver exemplo

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Unidades mecanizadas de mistura rápida
Os agitadores de turbina são classificados pelo tipo de fluxo produzido:

a) Escoamento radial: quando o liquido se move perpendicularmente (ângulo de 90°) ao eixo


b) Escoamento axial: quando o liquido se move paralelamente ao eixo agitador

45
Tipo de
agitadores
usados na
mistura rápida
mecanizada

46
Relação entre numero de potencia (ou Ktb) e o numero de Reynolds

47
Recomendações NBR 12216

Os agitadores mecanizados devem obedecer às seguintes condições:

a) a potência deve ser estabelecida em função do gradiente de velocidade;

b) períodos de detenção inferiores a 2 s exigem que o fluxo incida diretamente sobre as pás
do agitador;

c) o produto químico a ser disperso deve ser introduzido logo abaixo da turbina ou hélice
do agitador.
48
Exemplo (pag 357 Di Bernardo)

• Dimensionamento de uma unidade mecanizada de mistura rápida ,


com agitador de rotor tipo turbinas com 6 paletas planas, com
escoamento radial (misturador tipo II), para vazão de 250 L/s em
primeira etapa e 500 L/s em segunda etapa, temperatura da agua de
20°C, gradiente de velocidade de 1000 s-1 , tempo de mistura de 5s na
câmera.
Adotar:
µ da água = 1,05x10-3 N.s/m²
ρa = 998,2 kg/m³ 1 W = 735 cv 49
Tipos de misturadores padronizados no Brasil

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São recomendadas as seguintes relações entre as dimensões da câmera
e do rotor:
𝐿𝑐
• 2,7 ≤ ≤ 3,3 Anteparos
𝐷𝑡𝑏

𝐷𝑡𝑏
• Btb =
4

𝐷𝑡𝑏
Diâmetro (Dtb)
• btb =
5
Comprimento da paleta Largura da
Largura dos (Btb) paleta (btb)
• Le = 0,1 Dtb anteparos (Le)

𝐻𝑢
• 2,7 ≤ ≤ 3,9
𝐷𝑡𝑏
Profundidade
Lado em planta (Lc) Distancia entre a turbina e a
útil (Hu)
ℎ𝑓 base da câmera (hf)
• 0,75 ≤ ≤ 1,3 51
𝐷𝑡𝑏
Potência NBR 12216
A potência fornecida à água por agitadores mecânicos deve ser
determinada pela expressão:

P = μ Vc G2 Equação 17

onde:
P = potência, em W ou N·m/s
μ = viscosidade dinâmica, em Pa.s ou N.s/m²
G = gradiente de velocidade, em s-1
Vc = volume útil do compartimento, em m³
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Equação geral usada para o dimensionamento do agitador usado em unidades de
mistura rápida mecanizadas:
No caso de rotor tipo turbina de paletas
Pu = Ktb ρa Nr3 Dtb5 Equação 18 planas, com escoamento radial, o valor de
Ktb tem sido adotado igual a 5.

onde:
Pu = potencia introduzida na agua (Nm/s)
Ktb = coeficiente que depende do tipo de
rotor e das características da câmera em
que o agitador esta instalado;
ρa = massa especifica da água (kg/m³); Potência do motor (Pm):
Nr = rotação (rps)
Dtb = diâmetro do rotor ou turbina (m) Pm = 2 Pu Equação 19

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