CENTRO DE HUMANIDADES-CH
CURSO DE PSICOLOGIA
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO I: INFÂNCIA
PROFESSOR: CARLOS DIOGO MENDONÇA
Discentes:
Ester Moreira de Sales
Juliana Alves Saboia
João Pedro Della Guardia
Larici da Silva Alves
Marília Matos Lima
Marina Cristina Lopes Costa
FORTALEZA – CEARÁ
2021
RESENHA
LIVRE para aprender (Temporada 1, episódio 3). O Começo da Vida [Série]. Direção: Estela
Renner. Brasil: Maria Farinha Filmes, 2016. 1 vídeo (42 min). Disponível em:
https://www.netflix.com. Acessado em 3 maio 2021.
Resenhado por Ester Moreira, João Pedro Della Guardia, Juliana Alves, Larici Alves,
Marília Matos, Marina Lopes
A pobreza nega às crianças muitos de seus direitos. Muitas crianças não vão à
escola. [...] Se pesquisar sobre a vida delas, você verá que as famílias não têm
dinheiro para pôr comida na mesa para os filhos. Os pais vão se perguntar: "eu
coloco comida na mesa pra essa criança ou compro uniforme escolar?” (O
COMEÇO…, 2016, episódio 3).
Por mais que Leah Ambwaya não cite dados estatísticos, seu posicionamento é um
reflexo da realidade: o mal causado pela pobreza pode ser indireto, pelo impacto causado no
estado emocional dos pais e na parentalidade, bem como no ambiente doméstico criado por
eles (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 39).
De fato, as múltiplas realidades exibidas em “Livre para Aprender” evidenciam que o
efeito do nível socioeconômico no processo de desenvolvimento é poderoso — não
isoladamente, mas devido à sua influência sobre a atmosfera familiar. Por exemplo, enquanto
em meados do episódio é discutido o uso de tablets durante o almoço, nesse final é abordado a
realidade de crianças que iam para a escola sem se alimentar há dois dias. É inegável que as
crianças pobres estão mais propensas do que as outras crianças a apresentar problemas
emocionais ou comportamentais, e seu potencial cognitivo e o desempenho na escola são mais
prejudicados (Evans, 2004 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 39).
O episódio acerta em não permanecer apenas em dados e teorias, ele vai além: o
telespectador vê rostos e escuta relatos pessoais de como a educação pode ser prejudicada
pelo nível socioeconômico, não apenas estatísticas. “Livre para Aprender” pode ter começado
ressaltando a importância de pais estimulantes e de um ambiente seguro, mostrando uma
realidade ideal, mas não se prende a isso. Na verdade, a mensagem que fica, ao fim do
episódio, é clara: é necessário conseguir fornecer a todas as crianças um ambiente próprio e
seguro para seu desenvolvimento.
[Caso a gente use isso de 1.1 Interfaces] Tendo em vista a análise crítica formulada
até esse ponto sobre os conteúdos e as discussões desenvolvidas no episódio “Livre para
Aprender”, evidencia-se a necessidade de estender esse exame para a relação da parte
resenhada com outras partes da série documental. Nesse ponto, justifica-se a necessidade de
se avaliar a partir da relação com outros episódios devido à estruturação do roteiro, a qual
permite que os episódios “conversem entre si”, isto é, que cada episódio traga, no desenvolver
de sua temática central, informações que se complementem a discussão elaborada em outra
parte. Técnica que se apresenta essencial para trazer ao espectador o entendimento de que as
problemáticas abordadas não ocorrem de forma isolada.
Com base nisso, inicia-se a observação a partir da relação estabelecida com o O quarto
episódio da série, intitulado “Infância Negada”, o qual expande as breves discussões
construídas no episódio 3 acerca das questões referentes à interfaces entre pobreza,
salientando o impacto que esse fator traz para o e desenvolvimento infantil. Nesse sentido,
eEnquanto “Livre Para Aprender” dedica apenas os minutos finais para abordar os efeitos do
nível socioeconômico, "Infância Negada” traz à luz, por 40 minutos, o que a sociedade deixa
à sombra: a realidade de crianças em situação de vulnerabilidade social. Sendo assim, o
quarto episódio é fruto do solo que foi preparado no anterior.
[Caso seja apenas continuação do texto] Seguindo os debates acerca das interfaces
entre pobreza e desenvolvimento infantil apresentados nos minutos finais “Livre para
Aprender”, o quarto episódio da série, intitulado de “Infância Negada”, traz à luz o que a
sociedade deixa à sombra: a realidade de crianças em situação de vulnerabilidade socialNo
desenvolvimento da temática do quarto episódio . Ao longo do episódio, são apresentados
prtratados temas como estresse tóxico, a desnutrição, a necessidade de investir no cuidado da
primeira infância e a importância de ajudar o adulto responsável pela criança, pois somente
assim a sociedade conseguirá assegurar um ambiente favorável para o desenvolvimento.
Em seu início, o episódio apresenta os desafios enfrentados pelas crianças devido ao
seu nível socioeconômico, através de relatos acerca das responsabilidades delegadas àa elas,
tais como trabalhar, limpar a casa e cuidar do irmão mais novo. Após a exibição desses
cotidianos, a narrativa busca explicar, logo nos seus 10 primeiros minutos, de que forma as
negligências sociais podem afetar o desenvolvimento de uma criança. Pia Rebello Britto,
diretora da UNICEF, esclarece da seguinte forma:
Com base nas discussões construídas no episódio 3 que apontam uma interferência do
social no processo de aprendizagem, mostra-se pertinente desenvolver uma relação com o
episódio 5 do documentário, denominado “Criando Junto”. A pertinência dessa relação
justifica-se no fato de que o quinto episódio busca afirmar que a formação da criança não
pode ser entendida como uma responsabilidade única da esfera particular, mas também como
uma obrigação social. Esse debate é construído a partir de uma crítica formulada à ideia
massificada de que os bebês são criados somente pelas mães, trazendo esse pensamento ainda
na parte inicial com o pensamento da psicanalista Vera Iaconelli, a qual afirmaria que não é
possível cuidar de um bebê sem o apoio em rede (O COMEÇO..., 2016). A pesquisadora
estende, ainda, a problemática à alegação de que essa situação ocasiona em um “problema
social” (O COMEÇO..., 2016) que seria responsável pelo isolamento das mães do meio
social.
Acerca do papel da maternidade é essencial trazer o livro “Psicologia na Gravidez”
(2013), de Maria Tereza Maldonado, o qual utiliza-se das análises históricas do
desenvolvimento infantil feitas por Felipe Ariés, para afirmar que a noção de amor materno
surge como uma ideia contemporânea. Tendo em vista que no século XVIII predominava-se
uma conduta de indiferença materna, devido às, principalmente, altas taxas de mortalidade
infantil e na infância (MALDONADO, 2013).
Dessa forma, a discussão sobre a necessidade de promover o desenvolvimento da
criança juntamente com a esfera social e a urgência de se rever os papéis simbólicos
atribuídos nesse meio é trazida no episódio 3 no momento em que se afirma a necessidade de
se promover a interação da criança com vários indivíduos, não se restringindo somente a uma
figura — muitas vezes representada pela mãe — ou em um objeto — contemporaneamente
representado pelas tecnologias.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2 ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.
HILLESHEIM, Betina; GUARESCHI, Neuza Maria de Fátima. De que infância nos fala a
psicologia do desenvolvimento?: Algumas reflexões. Psicol. educ., São Paulo, n. 25, p. 75-
92, 2007.
PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12a ed.
Porto Alegre: AMGH Editora, 2013.