1. Justifique, segundo Rousseau, o porquê do contrato social ser um instrumento
de perpetuação da desigualdade social. Entre os autores contratualistas, Jean-Jacques Rousseau busca elaborar uma história hipotética da humanidade. Nesta, não são tratados os fatos, mas sim o desenvolvimento do homem em sociedade. Em especial, sua abordagem acompanha a trajetória do homem, da liberdade à servidão. Como parte essencial de tal transformação, encontramos o contrato social. Um ponto essencial para os contratualistas, o contrato social, é a passagem dos homens de indivíduos independentes à parte de uma sociedade estruturada. Para Rousseau, a desigualdade nasce já na formação das sociedades e é perpetuada pelo contrato social. Em sua teoria, as sociedades se iniciam com a agricultura e a metalurgia. Tais culturas promoveram, além de um comércio primitivo entre os indivíduos, a fixação do homem à terra. Do uso da terra surge sua partilha, daí a propriedade e uma nova forma de direito (distinta da lei natural). O direito da propriedade incentiva a disputa por mais e melhores terras, mas não defende seus proprietários dos ataques de conquistadores. Assim, crescem as desigualdades sociais, agora baseadas na posse da terra e na capacidade de conquista /defesa. O ponto essencial para entender Rousseau é que o contrato social surge neste momento, proposto pelos mais fortes. Assim, busca a proteção dos avantajados e a manutenção da desigualdade social. Nas palavras do autor: “Tal foi ou deve ter sido a origem da sociedade e das leis, que propiciaram novos entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruíram irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para sempre a lei da propriedade e da desigualdade [...]” (ROUSSEAU, /1754, p. 115)
Em resumo, o contrato social busca eternizar as condições presentes em seu
surgimento. No período em questão, grande parte dos homens não conhecia os perigos apresentados por tal contrato (sendo beneficiados por ele os que tinham vaga noção). Já em seu tempo, Rousseau conseguia delinear explicitamente o papel do contrato social na perpetuação da propriedade e, consequentemente, da desigualdade social. 2. Indique e explique a diferença entre a liberdade dos antigos e dos modernos segundo Benjamin Constant. No discurso “Da Liberdade dos Antigos Comparada à dos Modernos” (1980), Benjamin Constant compara as formas de liberdade pertinentes entre os povos da antiguidade e os que lhe eram contemporâneos. Esta impactará diretamente os modelos de organização social e governos implementados. Bem como, afetará a satisfação do povo com as estruturas que o cercam. Na antiguidade clássica, as pessoas se organizavam em repúblicas de pequena extensão territorial, onde apenas parte da população recebia o título de “cidadão”. A isso equivale dizer que, dentro de uma população reduzida, apenas um grupo seleto era portador de direitos políticos. Dessa forma, tal grupo era livre na esfera pública, sendo permanentemente ativo na democracia direta. Por outro lado, havia a primazia da esfera pública sobre a privada, onde estes mesmos cidadãos eram submetidos às decisões populares. Assim, os homens eram verdadeiramente livres na vida pública, ainda que para isso se privassem de liberdades particulares. Chegando à modernidade, os homens desenvolveram desejos distintos. Nos grandes estados modernos onde todos (ou ao menos todos do sexo masculino) possuíam direitos políticos, o sistema mais comum tornou-se a democracia representativa. Dessa forma, nem todos os homens conseguem participar ativa e constantemente da vida pública. Ao contrário, sentem-se distintos do governo, preferindo que este não interfira em seus assuntos “privados”. Ou seja, desde que tenham seus direitos individuais preservados, os homens modernos abrem mão, de bom grado, da alta influência na esfera pública – sob ressalvas do autor, que acredita que os homens não deveriam livrar-se de sua atuação política tão facilmente. Benjamin ainda desenvolve mais profundamente as causas dessas distinções. Para tanto, aponta fatores que impactam diretamente a forma como se dá organização social e o exercício das liberdades. Entre eles, podemos aqui apenas citar a extensão territorial e populacional (menor na antiguidade), a manutenção do escravismo (entre os antigos), a frequência das guerras (menor na modernidade) e a proeminência do comércio (entre os modernos). Em suma, o autor aponta como idílico o retorno aos sistemas políticos da antiguidade. Tais modelos serviram excepcionalmente aos antigos, dado que combinavam com a liberdade por eles almejada. Entretanto, visto a mudança no anseio de liberdade popular, estes não cabem na modernidade. Seria um erro, como de fato o foi segundo Constant, revolucionar as estruturas sociais antes de entender a ascendente primazia, entre os modernos, das liberdades individuais. Referências
CONSTANT, B. De la Liberté cliez les Modernes. Paris: Collection Pluriel, 1980.
ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre A origem da desigualdade. São Paulo: Ridendo Castigat Mores, /1754.