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Atividade 02

1. Justifique, segundo Rousseau, o porquê do contrato social ser um instrumento


de perpetuação da desigualdade social.
Entre os autores contratualistas, Jean-Jacques Rousseau busca elaborar uma história
hipotética da humanidade. Nesta, não são tratados os fatos, mas sim o desenvolvimento do
homem em sociedade. Em especial, sua abordagem acompanha a trajetória do homem, da
liberdade à servidão. Como parte essencial de tal transformação, encontramos o contrato social.
Um ponto essencial para os contratualistas, o contrato social, é a passagem dos homens
de indivíduos independentes à parte de uma sociedade estruturada. Para Rousseau, a
desigualdade nasce já na formação das sociedades e é perpetuada pelo contrato social. Em sua
teoria, as sociedades se iniciam com a agricultura e a metalurgia. Tais culturas promoveram,
além de um comércio primitivo entre os indivíduos, a fixação do homem à terra. Do uso da terra
surge sua partilha, daí a propriedade e uma nova forma de direito (distinta da lei natural).
O direito da propriedade incentiva a disputa por mais e melhores terras, mas não
defende seus proprietários dos ataques de conquistadores. Assim, crescem as desigualdades
sociais, agora baseadas na posse da terra e na capacidade de conquista /defesa. O ponto essencial
para entender Rousseau é que o contrato social surge neste momento, proposto pelos mais
fortes. Assim, busca a proteção dos avantajados e a manutenção da desigualdade social. Nas
palavras do autor:
“Tal foi ou deve ter sido a origem da sociedade e das leis, que propiciaram novos
entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruíram irremediavelmente a liberdade
natural, fixaram para sempre a lei da propriedade e da desigualdade [...]”
(ROUSSEAU, /1754, p. 115)

Em resumo, o contrato social busca eternizar as condições presentes em seu


surgimento. No período em questão, grande parte dos homens não conhecia os perigos
apresentados por tal contrato (sendo beneficiados por ele os que tinham vaga noção). Já em seu
tempo, Rousseau conseguia delinear explicitamente o papel do contrato social na perpetuação
da propriedade e, consequentemente, da desigualdade social.
2. Indique e explique a diferença entre a liberdade dos antigos e dos modernos
segundo Benjamin Constant.
No discurso “Da Liberdade dos Antigos Comparada à dos Modernos” (1980),
Benjamin Constant compara as formas de liberdade pertinentes entre os povos da antiguidade
e os que lhe eram contemporâneos. Esta impactará diretamente os modelos de organização
social e governos implementados. Bem como, afetará a satisfação do povo com as estruturas
que o cercam.
Na antiguidade clássica, as pessoas se organizavam em repúblicas de pequena extensão
territorial, onde apenas parte da população recebia o título de “cidadão”. A isso equivale dizer
que, dentro de uma população reduzida, apenas um grupo seleto era portador de direitos
políticos. Dessa forma, tal grupo era livre na esfera pública, sendo permanentemente ativo na
democracia direta. Por outro lado, havia a primazia da esfera pública sobre a privada, onde estes
mesmos cidadãos eram submetidos às decisões populares. Assim, os homens eram
verdadeiramente livres na vida pública, ainda que para isso se privassem de liberdades
particulares.
Chegando à modernidade, os homens desenvolveram desejos distintos. Nos grandes
estados modernos onde todos (ou ao menos todos do sexo masculino) possuíam direitos
políticos, o sistema mais comum tornou-se a democracia representativa. Dessa forma, nem
todos os homens conseguem participar ativa e constantemente da vida pública. Ao contrário,
sentem-se distintos do governo, preferindo que este não interfira em seus assuntos “privados”.
Ou seja, desde que tenham seus direitos individuais preservados, os homens modernos abrem
mão, de bom grado, da alta influência na esfera pública – sob ressalvas do autor, que acredita
que os homens não deveriam livrar-se de sua atuação política tão facilmente.
Benjamin ainda desenvolve mais profundamente as causas dessas distinções. Para
tanto, aponta fatores que impactam diretamente a forma como se dá organização social e o
exercício das liberdades. Entre eles, podemos aqui apenas citar a extensão territorial e
populacional (menor na antiguidade), a manutenção do escravismo (entre os antigos), a
frequência das guerras (menor na modernidade) e a proeminência do comércio (entre os
modernos).
Em suma, o autor aponta como idílico o retorno aos sistemas políticos da antiguidade.
Tais modelos serviram excepcionalmente aos antigos, dado que combinavam com a liberdade
por eles almejada. Entretanto, visto a mudança no anseio de liberdade popular, estes não cabem
na modernidade. Seria um erro, como de fato o foi segundo Constant, revolucionar as estruturas
sociais antes de entender a ascendente primazia, entre os modernos, das liberdades individuais.
Referências

CONSTANT, B. De la Liberté cliez les Modernes. Paris: Collection Pluriel, 1980.

ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre A origem da desigualdade. São Paulo: Ridendo Castigat
Mores, /1754.

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