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Editora Via Sestra 

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Capa da presente edição: Exultação de Satã , de Richard Westall R.A. (1765-1836). Lápis e aquarela
sobre papel (56,5 x 38,7 cm), circa  1794.
 1794.
Prælusio Vox Mortem,
Mortem, Mortiferum Poculum: Editorial..........................
E ditorial................................................
......................................11
................11
Obverti in Hostem:
Hostem: Exu Bode Preto, por Danilo Coppini...........................................................
Coppini............................................................13
.13
Hoc Est Enim Corpus Meum:
Meum: A Feitiçaria no Brasil Colonial, por Gilmara Cruz.....................17
Verborum Virtutem:
Virtutem: Quatro Truques Sujos, por Morbitvs Vividvs & King.............................21
King.............................21
 Agrat Bat Mahalat:
Mahalat: As Demônias da Qabalah,
Qabal ah, por Inkubus......................................................
Inkubus.......................................................25
.25
Laus Satanus:
Satanus : Entrevista com "El Papa Negro", Cesar Augusto Marín....................................27
Marín....................................27
Ego Sum Diabolus,
Diabolus , por Cesar Augusto Marín...........................................................
Marín...............................................................................34
....................34
Crudum Vulnus:
Vulnus: Bruxaria e o Lado
L ado Obscuro de Yesod, por Edgar Kerval..............................37
Cruenta Victoria:
Victoria: Entrevista com U.N.C.U.L.T..............
U.N.C.U.L.T....................................
............................................
..........................................39
....................39
Lucifuge Rofocale:
Rofocale: O Código da
d a Sombra, por Luís
L uís Gonçalves.....................................................49
Gonçalves.....................................................49
Diaboli Mentulam:
Mentulam: O Sabat, por Stanislas
Stanisl as de Guaita..........................
Guaita................................................
..........................................87
....................87
 Abditae Causae:
Causae: Alguns Pensamentos Sobre a Imaginação, por Frater Resurgam..................95
 Agios O Vindex:
Vindex: Tetraedro, Saturno e o Portal dos Deuses Obscuros, por Luís Gonçalves ......101
Index Librorum Prohibitorum......................
Prohibitorum............................................
............................................
............................................
........................................104
..................104
Talvez seja esse o mais breve editorial que ousamos escrever para a presente edição
da Lucifer Luciferax. Breve e súbito, como o exato momento em que a famígera foice separa
o corpo animado do espírito que o habita.
Infelizmente, tivemos problemas diversos com relação aos prazos de alguns de
d e nossos
Colaboradores. O que nos fez alterar o conteúdo da presente edição, sendo também o único
motivo do atraso da edição impressa.
Nossos primeiros agradecimentos dirigem-se aos Irmãos e Amigos da Morte Súbita
Inc., em especial, D. King, Inkubus, Anarco-Thelemita e Morbitvs Vividus e aos ternos e
diletos Betopataca e Ana, da iniciativa Coisa Feita – Magia Vintage; foram vocês que nos
auxiliaram na tarefa de cobrir os hiatos e que nos ajudam constantemente nas questões mais
variadas, profundas (ou nem tão profundas assim), inclusive com a Editora Via Sestra.
Agradecimentos e cumprimentos especiais ao Templo de Quimbanda Maioral
Beelzebuth e Exu Pantera Negra, à Corrente 49, ao Danilo Coppini e à Pris Cila , pessoas que
admiramos bastante nas mais variadas esferas.
Manifestamos nossa gratidão também à talentosa historiadora e autora Gilmara
Cruz, que nos brinda nessa edição com seu trabalho A Feitiçaria
Feitiçari a no Brasil Colonial; ao Papa
Negro, Irmão Cesar Augusto Marín, herdeiro da Corrente Hectoriana; ao Irmão Edgar
Kerval; à entidade U.N.C.U.L.T que nos concedeu singular entrevista; a nosso antigo amigo
e Irmão, Luís Gonçalves, cujo extenso estudo acerca de Lucifuge
L ucifuge Rofocale gura nas páginas
do presente trabalho; ao grande amigo Leandro Márcio Ramos; à Rafaela “Mística” Von
Blomberg, pelas longas conversas e amizade.
De qualquer forma, a obra está longe de estar completa e voltamos à completa imersão
e ao silêncio.

 Nox Atra Cava Circumvolat


Circumvola t Umbra
Pharzhuph, Frater Nigrvm Azoth
Lucifer Luciferax & Editora Via Sestra
editor@editoraviasestra.com.br

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Existem classes espirituais quase esquecidas dentro do Culto de Exu e Pombagira. A
incompreensão dessas Legiões acabou minguando-as, mas sob hipótese alguma diminuiu a
importância e o poder das mesmas. Quando um grupo de espíritos recebe uma “alcunha”
podemos armar que existem traços sólidos que as conectam, tanto na forma astral, quanto
na essência oculta dos espíritos e Exu Bode Preto é um exemplo que se encaixa perfeitamente
dentro dessa linha de raciocínio.
Bode Preto é uma das máscaras do
d o Diabo. Podemos traçar inúmeras correlações, mas
as mais signicativas e que certamente inuenciaram a Quimbanda Brasileira estão dentro
das Tradições de Bruxaria vindas através das bruxas e feiticeiros europeus cujo vórtice
estava conectado ao culto do Mestre Leonardo, todavia, enxergamos traços que conectam
essa ligação com a própria descrição bíblica delineada em Levítico 16:8-10, relativa a Azazel:

“E tirará sortes quanto aos dois bodes: uma para o Senhor e a outra para Azazel. Arão trará o
bode cuja sorte caiu para o Senhor e o sacricará como oferta pelo pecado.
 Mas o bode sobre o qual caiu a sorte para Azazel
Azazel será apresentado vivo ao Senhor para
para se fazer
 propiciação e será enviado para
para Azazel no deserto.”

No Dictionnaire Infernal (Jacques
Infernal (Jacques Auguste Simon Collin de Plancy) Mestre Leonardo
é descrito como grão-mestre das orgias noturnas de demônios. Ele é representado com três
chifres de bode e com um rosto humano e negro. Em algumas outras descrições esse espírito
era considerado o Grande Bode Negro dos Sabbats
Sabbats.. Outra associação interessante, mas que
sob nossa compreensão não expressa aquilo que comungamos está dentro da descrição
encontrada no Dictionary of Phrase and Fable (1898) 
(1898)   onde Mestre Leonardo possui dutos
que o conectam com o “Bode de Mendes” adorado pelos Templários e denominado como
Baphomet .
Todas essas conexões, associações e sincretismos acabaram sendo reetidos na
gura de Exu. Segundo relatos advindos das esferas espirituais (contato com Exus que nos
relataram a formação da Legião de Bode Preto) a forma como esses Exus dançavam (face a
face) provocando a libido das mulheres assemelhava-se
assemelhava-s e muito às danças eróticas praticadas
nos antigos Sabbats. Um espírito de natureza selvagem, que provoca a libido, traz à tona
desejos e impulsos reprimidos (tidos como pecados) era a personicação do Bode Preto, ou
melhor, era um Exu Bode Preto.
Essa característica de Bode também possui ligações pânicas muito evidentes e
isso mostra claramente a associação desse Exu com o elemento Fogo, com as chamas que

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destroem a inércia, com a quebra dos dogmas e comportamentos reprimidos por regras
temporais, enm, essa Legião de Feiticeiros expõe o que está oculto pelas saias.
Dentro dos aspectos esotéricos, Exu Bode Preto trabalha com aquilo que é
reprimido. Capaz de abrir caminhos, escalar qualquer obstáculo, sobreviver sob quaisquer
circunstâncias, reproduzir e emanar a virilidade, essa Legião também é EXTREMAMENTE
escravista. Deturpam facilmente a mente das pessoas fechando-as em círculos de correntes,
anal, o prazer tem esse poder. São capazes de corromper em níveis profundos, mod icando
toda estrutura psíquica de uma pessoa. O prazer pode ser encontrado em variadas formas
(inclusive na morte e no assassinato), mas essa não é a natureza de todas as pessoas.

“O bode preto é uma guração do diabo, o espantalho da distração cinegética, lançando a


confusão no espírito dos que andam em procura ou então à espera da lépida caça. Simula
animais: veados, antas e outros, desaparecendo à vista da mira do caçador. Manifesta-se o bode
 preto dentro de várias peles, mas comumente é o próprio animal lendário que vem intrigar
o homem: um enorme bode, com longos pêlos, olhos brilhantes como fogo, e um bigodão de
causar terror aos mais destemidos. Tem um berro agudo, como só mesmo satanás seria capaz
de emitir: reboa, reboa e por muito tempo o eco repercute nas quebradas a pique. O bode
 preto fala, e pela manifestação articulada é que se distingue dos outros colegas da mesma
cor; também se distingue pelo colossal cavanhaque, característico do monstro, anotado pelos
caçadores do alto sertão. “ - Portal São Francisco

Na Quimbanda Brasileira raras são as pessoas que o possuem em sua ancestralidade,


anal, são espíritos diretamente conectados com a força da Bruxaria. Assim, somente aquelas
ou aqueles que tiveram passagens por tais círculos podem compartilhar de sua essência.
Cultuá-lo é uma opção pessoal, mas não podemos esquecer de seus aspectos escravistas.

Ponto Riscado Exu Bode Preto – Expressa todos os seus poderes

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Pontos Cantados

“Bode Preto bé bé
 Arma ponto quem tem
Bode preto bé bé
 Arma ponto quem tem

 Meu Exu tá virado na linha do


do cão
 Derruba inimigo no chão
 Meu Exu tá virado na linha do
do cão
 Derruba inimigo no chão” 

“Acende a caldeira quero ver pular 


Bode Preto, meia noite, a Quimbanda vai girar 
Coloca na caldeira o nome do defunto
 Pula daqui, pula acolá, Bode Preto vai buscar!”

Características

Comida: Farofa de dendê com pimenta, carne seca crua, sete pedaços de chuchu,
milho torrado.
Bebida:  Aguardente (marafo). Essa aguardente pode ser descansada em ervas
alucinógenas. Também aprecia licores fortes e encorpados.
Tabaco: Cigarro de palha ou charutos escuros. Esse Exu também pode ter em sua
entrega o tatê ( cannabis
cannabis).).
Flores: Cravos vermelhos, trombetas.
Pontos de força:  Alto das colinas, campinas (onde trabalha com Exu das Campinas),
beira de rios e nas encruzilhadas de cabaré.
Manifesta-se através do Reino da Lira, mas nossa experiência mostra-nos que pertence ao
Reino elemental do Fogo.
PARA SABER MAIS, CONSULTE:
Quimbanda - O Culto da Chama Vermelha e Preta
De Danillo Coppini - Terceira edição revista & ampliada

Conheça e aprenda sobre os fundamentos formadores da


Quimbanda Brasileira e a lida de Exu e Pombagira com essa obra de
625 páginas!
Embora o livro não substitua a prática e a experiência direta
com os Espíritos, através dele é possível aprender muito sobre a histó-
ria da religião; as hierarquias de Exu e Pombagira; os Reinos de Exu;
os Pontos de Poder; a descrição de mais de 66 Exus e Pombagiras; etc.
O livro mostra, de maneira simples, intuitiva e prática, como
são feitos trabalhos de banimento, energização, prosperidade nan -
ceira e sentimental, abertura de caminhos, uso de pólvora, comidas,
ervas, os de conta (conhecidas como ‘guias’ na Umbanda), assenta -
mentos, e muito mais.
Essa terceira edição apresenta ainda um complemento iné-
dito e inestimável para o Culto de Exu e Pombagira: o mistério dos
Mirins e a maneira de cultuá-los de acordo com a Quimbanda.

Disponível exclusivamente na loja online da Editora Via Sestra:


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 A magia é a ciência da aplicação
da vontade sobre a vida.
(Papus)

Por Gilmara Cruz1


satanaanticristo@hotmail.com

Práticas antigas, associadas ao “paganismo” foram sufocadas, demonizadas e


usurpadas pela religião católica. Esta costumava demonizar e julgar diabólico tudo aquilo
que não foi assimilado por ela e que fugiam às suas regras. Assim, iniciou-se uma perseguição
desenfreada que castigou, humilhou e matou muitas pessoas em todo o mundo, tendo como
principal front: O Tribunal da Inquisição.
A Inquisição perseguiu e julgou milhares de pessoas em vários países. Portugal,
Espanha, Itália, entre outros. No Brasil não houve um Tribunal da Inquisição instaurado,
mas houve diversas visitas que estimavam scalizar o território. Mas, a scalização não
esteve restrita somente a visitação, pois se percebe a efetiva participação do clero, as ações
dos comissários, juntamente às visitas inquisitoriais. Dessa forma, antes, durante e depois da
visitação havia a vigilância
vi gilância a este território. Foram três visitações ao nordeste. Durante essas
visitações foram produzidos vários documentos importantes para o estudo da Inquisição e
sua ação na Colônia. Documentos ricos em informações e narrativas referentes às práticas
cotidianas. Graças a essa documentação, pesquisadores da área puderam investigar vários
casos e produzir pesquisas sobre o tema de Feitiçaria 2.
Debrucei-me sobre algumas dessas documentações e pesquisas para aqui expor
um breve resumo. Sabe-se que muitas mulheres foram perseguidas no Brasil Colonial por
“crime” de Feitiçaria, mas nenhuma delas
dela s foram queimadas pela Inquisição neste território.
Quando os casos chegavam ao extremo, eram enviados a Portugal para julgamento e lá sim
mulheres e homens poderiam ser queimados.

1 Mestre em História pela Universidade Federal de Sergipe e graduada em História pela Universidade
Federal da Bahia. Gilmara é autora do livro: “Práticas de Feitiçaria: o caso de Maria Gonçalves Cajada”.
Qualicada em Dança Tribal Ritualística e Dança Obscura, Gilmara é estudiosa de Magia, Feitiçaria Antiga,
Rituais Ancestrais, Paganismo, Sagrado Feminino e Filosoas Ocultas desde 2001.
2 Aqui considero pertinente demonstrar a distinção entre Feitiçaria e Bruxaria. Esses conceitos
divergiram e se igualaram em algumas épocas e regiões, mas com o passar dos tempos alguns autores
chegaram ao consenso que a Feitiçaria estava ligada ao conhecimento da natureza e seu uso. Os conhecidos
feitiços, práticas de curandeirismo, e uso de materiais da natureza para a realização de algum desejo. Já a
Bruxaria foi entendida como um poder mental e no Brasil Colonial, assim como partes do mundo, estava
associado ao pacto Diabólico, relacionado ao culto organizado.

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Personagens como Violante Carneiro, Paula Siqueira, Isabel Rodrigues, Antonia
Maria, Manuel João, Tareja Rodrigues, Catarina Fróes, Ludovina Ferreira, Maria Gonçalves,
entre outras, compõem a História da Feitiçaria no Brasil Colonial. Havia uma predominância
feminina nos casos.
A perseguição se dava por “crimes” de feitiçaria que envolvia blasfêmias, rituais
diabólicos, porções mágicas, práticas sexuais, orações e palavras místicas, bolsas de
mandinga, símbolos mágicos, benzeduras, adivinhações, cartas de tocar, sortilégios, leitura
de livros proibidos, entre outros. Práticas que envolviam negros,
negros, índios e brancos.
A frase que inicia o texto refere-se à prática de conquista amorosa e sedutora usada
por muitas mulheres no Brasil Colonial. Signica “este é o meu corpo”, usada também em
Rito católico com outro propósito. Estas palavras foram assimiladas por várias mulheres,
entre elas Violante Carneiro, que buscavam sucesso em suas práticas sexuais e as recitavam,
na boca do parceiro, durante o coito, com intuito de deixa-lo apaixonado.
Muitas palavras, evocações, ritos, simpatias, poções, entre outras, eram feitas com
o intuito em realizar algum desejo, seja para o amor, ou para o ódio; para saúde ou para
doença; para vida ou para morte. Mas sempre em busca de d e solucionar problemas e conitos
da realidade colonial. A força de Deus não era tão útil a todos e não
nã o resolvia a opressão e os
abusos do mundo em colônia, muitos acabavam buscando em outras crenças a solução de
suas insatisfações.
É incessante o tráco entre a mente e o mundo e como o primeiro pode articular
coisas para manipular o segundo. Práticas mágicas como usar sêmen, cabelos, pedra d’ara,
poções, pós, unhas, óleos, avelãs, sangue menstrual, ervas, entre muitos outros, estavam
catalogadas entre as ações mágicas consideradas como Feitiçaria pela Religião Católica
no período. Nestas terras, conhecidas como obra do Diabo, ora Purgatório, ora Éden, aos
olhos dos cristãos ocidentais, estava a obra do demônio associada às essas prátic as. A m de
ilustrar o texto, citarei resumidamente alguns casos:
Em São João Del Rey, uma mulher chamada de Antonia Maria, foi acusada de feitiçaria
por ter sido encontrada com feitiços que envolviam sangue menstrual, ossos, cabelos e
espinho de ouriço-caixeiro. Ela rezava: "Aqui te fervo o teu coração com quantos nervos em
teu corpo estão. Com Barrabás, Satanás, com Lúcifer e sua mulher, todos se queiram ajuntar
e no teu coração queiram entrar para que não possas estar, nem sossegar sem que a sentença
a favor de (...) queiras dar, e tudo quanto te pedir queiras outorgar."
Francisco José, um preso, blasfemava contra a igreja renegando violentamente
os símbolos da fé católica, dizendo: "São Paulo era um bêbado e um asno que não sabia
o que dizia" e mandando-lhes "meter o crucixo na parte mais imunda de seus corpos".
Maria Fernandes, em uma de suas blasfêmias, armou que arrenegava de Deus, e que ele
mijava sobre ela com a intenção de afogá-la. Do mesmo modo, Apolônia de Bustamante,
confessando, armou que por sete anos em que esteve amancebada com Francisco
Francisc o Coutinho
sofrera muito com a má vida que este lhe dava
dav a e por isso ela arrenegou de Deus e se entregou
ao Diabo, pedindo que ele a levasse dali: “dou-me aos Diabos, os Diabos me levem já”.
Paula de Siqueira, em conssão ao visitador declarou ter aprendido “umas palavras
para que, dizendo-as a alguma pessoa, lhe quisesse bem e amansasse, as quais palavras
nomeavam as estrelas e os diabos e outras palavras supersticiosas e ruins”. Nóbrega, mulher
que costumava se deitar com homens que lhe aprazia por detrás, possuía um protetor
doméstico e também tinha ofício de feiticeira diabólica. Ela armava ser conhecedora de
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muitos feitiços e que falava com os Diabos e lhe mandava fazer o que queria e eles a obedeciam.
Ela tinha um familiar em um anel que se chamava Baul. Nóbrega andava aconselha ndo suas
amigas para não se benzer em nome de Jesus e armava que tinha ganhado de Lúcifer um
Diabo particular, chamado Antonim.
Não poderia deixar de fora o caso de Maria Gonçalves Cajada, feiticeira diabólica e
muito inuente na época colonial, entre os estados de
d e Pernambuco e Bahia, por onde passou
Maria deixou seus rastros de feitiçaria, ensinando a muitas mulheres e trabalhando para
elas por encomenda. Maria disse: “Eu ponho-me à meia-noite no meu quintal, com a cabeça
ao ar, com a porta aberta para o mar, e enterro e desenterro umas botijas e estou nua da
cintura para cima e com os cabelos soltos, e falo com os diabos e os chamo, e estou com eles
em muito perigo...” Este ritual, feito pela Maria Cajada, tinha objetivo de adquirir riquezas.
Catarina Fróes procurou Maria Cajada para encomendar um feitiço para matar o seu genro,
pois ele não dava boa vida a sua lha. Antonia Fernandes ensinou a Guiomar que para ter
bom casamento era necessário que tomasse três avelãs ou três pinhões furados e tirado o
miolo para rechea-lo de cabelos do corpo, unha dos pés e mãos e rapadura
rapad ura da sola dos pés e
depois o engolisse e quando lançados por baixos os torrasse para virar pó e desse de beber
ao marido.
Ludovina Ferreira, famosa por praticar feitiços de cura e comandar um grupo de
mulheres as quais faziam bailes com danças, canções em estranha língua e viagens noturnas
com pacto ilícito ao Diabo, também compõe esse universo feminino desse período colonial.
Além dela, Sabina, Joana Maria, Domingas e a índia Vitória foram acusadas de feitiçaria
pela inquisição, algumas delas chegando até a gerar processos.
Em resumo, esses são alguns casos de feitiçaria, no Brasil colonial, registrados nos
documentos inquisitoriais durantes as visitações. O acervo é muito maior do que possamos
imaginar e existem muitos casos que nunca foram registrados, sendo assim difícil de
mapeá-los. Aqui se encontravam práticas indígenas, africanas e europeias e muitas vezes
essas práticas se mesclavam. Toda tentativa era válida. Diversos foram os motivos que
levaram a prática de magia considerada feitiçaria: amansar, conquistar amores, destruir
casamentos, amigar, matar, atrair riquezas, adoecer, curar, qualquer coisa que necessitasse
de ajuda sobrenatural. Essa época foi marcada por uma forte dualidade: Deus e o Diabo,
céu e inferno, bem e mal, e aquilo que fugia dos conceitos cristãos era de fato associado
diretamente ao Diabo. Mulheres e homens que para fugir e/ou solucionar seus problemas
recorriam a outras crenças, vendo na magia talvez uma saída, permeando entre a repressão
de Deus e a liberdade do Diabo.
...Oh monstros, ó vestais, ó mártires sombrias
Espíritos nos quais o real sucumbe aos mitos
Vós que buscais o além, na prece e nas orgias
Ora cheia de prantos, ora de gritos

Vós que minha alma perseguiu em vosso inferno


Pobres irmãs, eu vos renego e vos aceito
Por vossa triste dor, vosso desejo eterno
Pelas urnas de amor que inundam vosso peito!

Charles Baudelaire, Mulheres Malditas

19
Práticas de feitiçaria - O Caso de Maria Gonçalves Cajada
De Gilmara Cruz
Este livro, através da análise de documentos históricos, conta a história real de uma feiticeira portu
portu--
guesa, que foi degredada para o Brasil e foi processada pela Inquisição. A história de Maria Gonçalves Cajada
foi registrada na Bahia no século XVI através de seu processo inquisitorial. Ela era uma famosa feiticeira que
foi acusada por fazer pacto com o Diabo, praticar blasfêmias contra o Bispo da Igreja e praticar diversos ritu-
ais de magia. Tinha fama de “feiticeira diabólica” e era conhecida pelo nome de “Arde-lhe o rabo”. Praticava
diversos feitiços sob encomenda em troca de dinheiro e alguns alimentos. Manipulava objetos, ingredientes,
palavras e símbolos. Adentrar no universo descrito nessas páginas é conhecer um pouco sobre antigas práticas
e rituais de magia.
Esta é a sinopse do livro Práticas de Feitiçaria: o caso de Maria Gonçalves Cajada, de Gilmara Cruz.
Gilmara é estudiosa de magia, feitiçaria antiga, rituais ancestrais, sagrado feminino, paganismo e losoas
ocultas desde 2001. É graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia e Mestre em História pela
Universidade Federal de Sergipe.
Um livro bom também pode (e deve) ser pautado por uma uidez na escrita que te faz esquecer que
está lendo, por exemplo, um livro acadêmico ou documental. Que no nal da leitura você apenas quer mais. É
isso que encontramos no texto da Gilmara. Um livro que nos traz informações interessantes sobre a Inquisição
no Brasil, especicamente na Bahia, mas que não tenta nos enar goela abaixo sua opinião pessoal ou mesmo
tenta mostrar exageradamente que ela sabe sobre o assunto, coisa que vemos
vemo s com uma certa frequência por aí,
principalmente em livros baseados em dissertações e teses.

Disponível na loja online da Editora Via Sestra:


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Quatro Truques Sujos
Por Morbitvs Vividvs & King 

1. A Realidade é o que pensamos d'Ela.

O mundo é como o percebemos ou existe uma verdade além disso que devemos buscar?
Conceitos universais que transcendem nossa percepção e criação?

Antes de começar a tentar responder isso saiba que qualquer discussão sobre um
universo subjetivo ou objetivo perde o sentido a partir do momento em que tomamos
consciência de que, seja como for, estamos presos dentro de nossa própria mente. Ou lim itados
por nosso próprio sistema nervoso central, para usar uma metáfora moderna. Protágoras de
Abdera já armava que o homem é a medida de todas as coisas, de tudo o que existe já que
todas as coisas são relativas às disposições do homem, ou seja o mundo, e a realidade por
extensão, é o que o homem constrói e destrói, assim não existem verdades absolutas, toda
verdade é relativa a uma determinada pessoa, grupo de pessoas ou sociedade.
Esta é a Tábua da Esmeralda
Esmerald a e a primeira lei do Caibalion: a realidade
reali dade é mental. Toda
forma de magia, do Pai Nosso, passando pela criança
cria nça que coloca o dente de leite recém caído
debaixo do travesseiro e chegando aos Sigilos Caóticos são apenas formas de se convencer
que uma mudança é possível. E que essa mudança pode ser operada por um ato resultante
de nossa vontade, de nossa mente. E não apenas isso, mas
ma s quanto mais forte for a mente,
m ente, ou
vontade, mais forte será o seu controle sobre a sua realidade. A vida é um sonho. Isso é um
fato.

2. Duas ou mais mentes podem unir forças e denir a realidade de uma outra.

Se o número de pessoas que acreditam em algo for grande o suciente, a força dess as
mentes combinada pode alterar a realidade
realida de de todas as outras mentes com quem convivem,
independente das crenças individuais. Quando você acostuma as pessoas a sua volta com
uma visão sua é melhor mudar o círculo de amigos
am igos se quiser construir um novo eu. Lembre-
se que você é a soma de crenças alheias, daquilo que você demonstra.

21
Hitler armou que os mentirosos também são grandes magos, e ele não estava errado.
Se a Alemanha houvesse ganhado a guerra, os documentários hoje não teriam títulos como
“O Maior Monstro de Nossa Era” ou “O Horror do Nazismo”. Se não existe uma verdade
absoluta, então toda armação que vá além do indivíduo é uma mentira.
E mais importante do que isso, é que cada mente que passa a adotar a realidade
alienígena como sua própria, fortalece esta realidade. Quando acreditamos que um
pensamento é certo e o adotamos como nosso pensamento o fortalecemos.
Este é o poder por trás de todas as religiões e ideologias. Você consegue imaginar que
seria concebível manter o status da vida que leva agora se decidisse abrir mão do dinheiro?
Você acredita que indivíduos que lutam contra a sociedade devem ser punidos? Ou que
mesmo que você não seja uma pessoa exatamente “do bem” existem pessoas muito piores
à solta por aí?
É por causa disso que praticar magia COM um grupo é mais fácil, enquanto se
praticar magia PARA um grupo se torna um trabalho excruciante. Quando você está COM
um grupo, a vontade dos outros se soma e é como nadar
nad ar a favor da correnteza. Quando você
v ocê
está fazendo PARA uma plateia, suas dúvidas e crenças são obstáculos a mais que precisam
ser vencidos. Ninguém vai para um show de mágica para ver um coelho sair da cartola, as
pessoas vão para lá tentar pegar o mago
ma go com a mão na massa.
massa . Literalmente, mesmo que não
se aperceba disso, a audiência está sempre contra você. Este é o segredo do Hermitão, pois
todo exercício de fortalecimento de magia envolve um certo grau de isolamento.
Primeiro se fortaleça, aprenda a dominar a sua realidade e a rechaçar tudo aquilo
que vá contra ela. Calar é importante, pois evita que as pessoas lutem contra uma realidade
que quer se manifestar por meio de ceticismo ou crenças contrárias. Se você quer assustar
alguém diga que mandou uma maldição, mas, se quiser mandar uma maldição, não diga
a ninguém. Por outro lado, toda magia de cura deve ser anunciada, já que nesse caso as
pessoas esperam ser curadas, e o desejo delas fortalece o seu. É por isso também que todo
desejo de cura deve ser sincero.

3. Uma mente mais forte pode denir a realidade de uma mente mais fraca.

O truque anterior pode dar a entender que a Realidade é Democrática, ou seja, é


denida pelas crenças e pensamentos da maioria. Essa descrição não é totalmente exata.
A meu ver, a realidade é como uma República. Isso porque as pessoas não têm votos de
mesmo peso. O que ocorre é que em geral as pessoas dão o seu voto de conança para que
uma outra pessoa arque com a responsabilidade de lhes dizer o que é real e o que não é.
É da natureza humana seguir líderes, ou aqueles que julgamos serem bons líderes.
Desde que começamos a nos reunir em grupos começaram a surgir disputas para ver quem
assumiria o poder. Em um grupo, aqueles que lideram estão sempre em desvantagem
numérica sobre os que são liderados, e, mesmo assim,
assi m, o grupo maior sempre segue, mesmo
quando se sente prejudicado. Os líderes não surgem porque se quando em quando um
indivíduo apresenta uma visão que agrada a todos, ele surge porque todos querem ser
liderados.
Este foi sempre o papel do xamã, dos sacerdotes e atualmente dos cientistas e meios
22
de comunicação. Além disso, uma mente dominante pode impor sua própria vontade sobre
a vontade de uma mente fraca e apontar aquilo que ela quer que seja real. Anal, se o líder
diz, por que não deveríamos acreditar nele? Pense no processo de impeachment que nosso
ex-presidente Collor sofreu. Você de fato acredita que de um dia para o outro todo mundo
que o elegeu decidiu tirá-lo do poder? Ou isso foi a vontade de uma minoria inuente que
com a ajuda da mídia contaminou a opinião pública? No atentado de 11 de setembro aos
Estados Unidos, o mundo todo tinha medo de terroristas ou esse medo foi imposto com a
ajuda da mídia? O terrorismo existe desde que formas de governo foram criadas e essas
estão presentes desde que dois indivíduos ou mais decidiram viver juntos.
Em nosso dia a dia isso se mostra no poder da crítica e do elogio. Toda mentira pode
ser uma profecia que se auto realiza se for impulsionada por uma vontade forte o bastante.
A maneira como isso é feito é uma forma de arte, talvez a mais desconhecida e poderosa
de todas as artes. Quando você fala algo pra pra alguém, isso é passado para o consciente,
aonde é julgado, e talvez aceito ou talvez rejeitado. O que é aceito é passado direto para
o subconsciente/inconsciente, e é levado de volta para a realidade. É o que chamamos de
concordância. Quanto mais cabeças unidas na sua intenção, mais rápido a realidade física
vem a se manifestar. Com o seu subconsciente você pode alterar parte da realidade. Mas se
 juntar com o subconsciente de outros, você pode alterar toda a realidade. A realidade
realida de é, no
nal das contas, uma mentira bem contada.
Mas não adiante apenas sair por aí contando vantagem para se tornar uma pessoa
bem-sucedida. O primeiro princípio da realidade é – prove aos outros aquilo que fala.
Observe qualquer brecha e mostre aos olhos alheios aquilo que a sua boca quer passar.
Um mentiroso estratégico é aquele que sabe atestar a verdade das próprias mentiras. É
exatamente essa a sua meta. Não adianta espalhar, por exemplo, que alguém está am de
você. Isso irá ter efeito reverso, logo esse alguém volta e te derruba. A primeira coisa que
você precisa criar, nesses casos é, um efeito físico, que faça algo nascer. Existem coisas que é
melhor não falar pois isso pode acordar
ac ordar o Ego, que é um grande Cão de guarda da realidade
de cada um.
Deixe o ego alheio dormir achando que está tudo em ordem. Lembre-se que existe
a linguagem não verbal. Criar pensamentos numa pessoa e fazê-la acreditar naquilo que
você quer, é o ideal, nesses casos. Você pode dar a entender, pelo seu jeito, aquilo que se
você expusesse em palavras poderia voltar contra você. A realidade da linguagem no m
das contas vai além das palavras. Lembre-se, o objetivo é convencer uma pessoa de algo.
Nada convence mais que a visão. Nada. Mostre aos outros aquilo que você quer. Mostre
delicadamente.
Muita gente cai na burrice de tentar mostrar ou forçar uma visão que não existe. Ou
que está claramente sendo deturpada. Seja natural. O jogo é você começar a observar o como
uma coisa é feita e jogar da mesma forma com ela. O como uma pessoa pensa e convence-
la pelo próprio raciocínio. Mostre a outrem a visão daquilo que quer pelas beiradas. Não
adianta de um dia para o outro, quando você quer se livrar de um amor qualquer, dizer
após um término que está tudo bem. Todos sabem que não. Porém, se você souber dizer
aos outros, que já a um tempo não andava mais sentindo nada pelo seu parceiro, a coisa ui
de modo diferente. É mais fácil do inconsciente aceitar, e é mais fácil da cabeça dos outros
mudarem você, pela concordância deles. Lembre-se que o máximo da realidade não é o
interior, mas sim o exterior. O que você exterioriza é o que vão entender. Essa é a chave da
questão.

23
4. A mente pode ser fortalecida por atos de Vontade.

Sua mente não é a massa cinzenta que existe entre suas orelhas. Nem aquilo que dói
quando você tem que car pensando em um assunto
as sunto difícil. Sua mente é aquilo formado
formad o por
seus pensamentos e por sua vontade. Quando você começa a fazer uma dieta é seu cérebro
que diz “estou com fome, preciso comer agora” são seus pensamentos que pedem que esse
alimento seja uma pizza quentinha, mas é sua Vontade que deve controlar esse impulso,
caso você, de fato, acredite que agora a dieta é o melhor a fazer.
Saiba então que uma mente pode ser fortalecida por atos de Vontade. Como peso
aumenta os músculos e como problemas melhoram o cérebro a Vontade também pode ser
exercitada. Esta é a única razão das 'provas de fogo' do xamanismo, das 'iniciações' dos
sistemas tradicionais, do diploma que você consegue em uma faculdade para exercer uma
prossão. Esses rituais mostram que sua vontade foi forte em determinada direção - vencer
o desconforto físico, fazer parte da ordem ou se aplicar a aprender por tantos anos as bases
de uma prossão. Mostram como sua Vontade é forte para evitar que você saia d a linha que
traçou, que erre o alvo que decidiu ser o seu objetivo - curiosamente a palavra pecado se
de pecare,, literalmente errar o alvo.
deriva justamente de pecare
A sua própria mente, seus sentimentos, suas emoções e reações, são todas,
absolutamente todas, alteráveis. Você pode deturpá-las a seu bel prazer e tornar a cção
em realidade através de uma crença externa nisso. Tudo depende do rótulo que você dá
aquilo que sente, é uma forma de autoengano, que se inicia por uma mentira e depois se
torna uma verdade absoluta. Mas na prática esse exercício não precisa levar anos. Mesmo o
menor ato, onde a vontade de alguém sobrepuja a de outros, tem o poder de desaar o status
quo.. Cada pequeno passo é uma vitória. Parar de fumar, artes marciais, trabalho voluntário
quo
ou qualquer coisa que lhe faça acordar cedo são bons exemplos. Essa é a grande diferença
entre um seguidor e um iluminado. O seguidor completa o jejum apesar dos seus desejos. O
iluminado completa por causa de sua Vontade.

24
Este texto é um resumo, um pouco da minha experiência pessoal, entre evocações/
invocações, incubações e vivências com as principais demônias cabalísticas. Os rabinos
associam a Samael quatro esposas. Quatro prostitutas, rainhas dos Succubi e Incubbi.
Lilith, Nahemah, Agarath e Mochlath 1. São as quatro esposas de Samael, as Mães
da sedução, dos abortos, da liberdade e da prostituição. Apesar de dizerem que Lilith é o
símbolo de tudo isso em um Arquétipo/Força/Entidade, só quando se entra em contato
com a mesma ela mostra claramente o que ela faz.
Lilith seduz. Ela é a Mãe da Sedução, da paixão, do amor
am or em sua forma mais visceral.
Lilith é a Lua Nova,
Nova, aquele chifre delgado ao entardecer anuncia o reinado
reinado daquela que
seduz todos que deseja. Invoca-se ela com uma vela vermelha dedicada a ela e Laylah (que
em hebraico signica noite) ou Lilith, como é mais conhecida, sempre atende.
Ela traz o objeto de desejo. Ela o enche de luxuria e de paixão. Lilith é a preferida,
segundo as lendas, de Samael e através dela uma geração de demônios nasceram. As
descrições do Zohar e da Cabalá tradicional a descrevem como uma mulher que aos poucos
está apodrecendo. Ambos nasceram juntos, segundo o Zohar e morrerão juntos no m dos
tempos.
Ela é morena, tem longos cabelos negros como seus olhos que trazem um detalhe
diferencial: sua pupila é vermelha; veste um vestido preto, translúcido. Sua voz é doce, ela
vem em sonhos de uma maneira bastante diferente do que muitos relatam. Sem fornicação,
sem violência. Muito pelo contrário do que se diz, os demônios são cavalheiros e damas
exemplares. LYLYTh vem com sonhos sensuais, brincadeiras de sedução e nunca se deixa
levar pelas crendices tolas de vulgaridade e ans. Ela é uma dama, uma rainha. E gosta de
ser tratada assim. Em minha experiência com a Lilith, pude presenciar seu poder de forma
extremamente interessante. Cabe a cada um evoca-la e presenciar o poder dela, causando
no objeto de seu desejo uma paixão incontrolável pelo evocador, levando aos poucos a se
entregar completamente aquilo que foi solicitado a Ela.
Enquanto uma é morena, a segunda é loira.
l oira. Veste um vestido verde-claro e tem olhos
da mesma cor. Ela vem com um cheiro de absinto, de desejo, de sedução. Muitos dizem que
Nahemah é mãe do adultério, mas não: ela é a verdadeira Mãe dos Abortos. As tradições
cabalísticas também a descrevem horrendamente - como uma mulher meio animal, careca,
que vaga pelo Gehenna comendo areia. Naamah é uma deusa da divinação, da luxuria e da
paixão. Ela seduziu dois anjos, Aza e Azael (não confunda com Azazel) e então foi chamada
de mãe de todas as bruxas e espíritos malignos do mundo pelo Zohar.
Ela é a “charmosa” como a tradução de seu nome, Nahema ou Naamah, nos mostra.

1 Com outra ortograa: Lilith, Naamah, Agrat e Machalath.


25
Por razões pessoais não falo muito de Naamah. Mas digo que a experiencia, a evocação da
mesma, nos mostra o poder absurdo que Ela possui. Sua lua é a minguante e apesar de seu
sarcasmo, ela é uma demônia muito fácil de se obter contato. O maior problema está em
retirar dela as informações sobre o que ela pode fazer, já que a palavra “abortos” vai muito
além para a compreensão da loira. Como qualquer experiência com ela mostrará.
A terceira, que a Qabalah tradicional descreve como uma mulher em uma carruagem
sendo puxada por um boi e um asno e que possui cabelos feitos de serpentes como a
Medusa, tem o nome de Agarath, ou Agrat. AGRTh é a demônia da Liberdade, mas seu
nome também nos remete a algo interessante: Agrat Bat Mahalat, ou Agrat lha de Mahalath
(Mochlath/Machalath/Machaloth), aquela que traz Ilusão. Ela ensina feitiçaria para as
bruxas, dá receitas de feitiços, encantos e ans. Mas também traz tristeza e arrependimento
quando invocada para tal propósito. Ela vem como uma mulher com um vestido amaranto,
um amarelo fosco. Tem cabelos castanhos claros e fala com a arrogância de uma soberana.
Agrat, Igrat, Ograt foi responsável por seduzir o próprio rei Salomão e dar à luz a Asmodeo.
Ruiva com olhos claríssimos, que vão do tom do céu ao tom do mar em segundos,
vem a última esposa, seu nome é Mochlath. Ela se apresenta como a Mãe da Prostituição,
a Senhora da Dor e do Prazer, veste um vestido azul-esverdeado e é coberta de joias. Ela
ama isso. Ela é isso. Ela intensica o desejo carnal, o prazer sexual, ela intensica a dor, os
problemas de saúde, ela gera desejo masoquista de sofrer, ela causa a depressão, ela corrói
a alma do homem.
Mochlath, Mahalath, Machaloth é uma deusa extremamente calma e pode te falar dos
piores agelos com uma doçura que lhe é peculiar. A ela também cabe ensinar a feitiçaria,
divinação, como rogar pragas e maldições, realizar feitiços... Assim como incitar a vaidade e
revelar a fraqueza pessoal de cada um. O trabalho, a experiência pessoal com cada demônia,
vai lhe mostrar muito do que elas realmente são capazes, assim como seus gostos; algumas
irão te pedir incensos, frutas, velas... São agrados, mimos, que se dão às rainhas, às deusas
do Inferno.

26
Quem é Cesar Augusto Marín? Poderia nos contar um pouco sobre a sua trajetória
e história mística e mágicka?

Minhas origens ou história começaram na minha infância,


i nfância, recordo que meu primeiro
livro mágicko foi o Livro de São Cipriano; aos 8 anos de idade realizei meu primeiro ritual.
A partir dali tudo ao meu redor se tornou um impulso cada vez maior à obtenção do que
hoje conquistei como ocultista. Uma das minhas principais inuências - e que ainda hoje
considero meu mestre espiritual - foi Aleister Crowley, já que muitas das experiências de
ordem astral foram impelidas por este personagem e muitas de suas losoas, da mesma
maneira que as descritas por Anton Szandor LaVey, pesquisei entre muitos autores do
panteão abismal (Kenneth Grant, Austin Osman Spare, Dion Fortune, Israel Regardie,
Gérard Encausse, Maldoror, Marquês de Sade e, um de meus favoritos, H.P. Lovecraft, entre
tantas guras transcendentais nestes mistérios). Ficava maravilhado acerca dos incríveis
relatos com que estes iniciados e iniciadas conseguiram aceder ao epicentro de suas vidas
chamado Magick. Já, quando conheci Héctor Escobar Gutiérrez, o Papa Negro, em meados
de 1999, havia percorrido algo por conta própria, mas foi após estreitar os laços com este
grande iniciado, amigo e camarada, que pude alcançar,
alca nçar, como diríamos, um maior potencial
no descobrimento de muitos processos em nível consciente e discernir muito melhor tantos
aspectos da Magia. A experimentação com a Magia Tântrica foi uma das principais causas
que me conduziram às iniciações seguintes para chegar a ter a honra e privilégio de ser o
herdeiro, não só da Corrente Hectoriana como tal, mas também dos mistérios da Serpente-
Dragão e tudo o que auxilia eu ser nomeado como o novo Papa Negro da América do Sul.

Como foi o seu contato com Héctor Escobar Gutiérrez?

Esta história é bem interessante e relatarei o dia em que, por m, tive o grande prazer
de conhece-lo. Tive uma visão antes de
d e nos tornarmos amigos, na época eu tinha 18 anos,
a nos, e,
nessa visão, eu aparecia na casa de Héctor e ele me recebia como se estivesse me esperando
há muito tempo; um amigo do passado ou do que há por vir nas grandes ondas do tempo,
e justamente assim essa história começou. Nos encontramos neste plano físico e desde esse
primeiro momento nos aproximamos bastante, sendo o primeiro Magista que rituali zou não
somente em vida, mas também em sua morte com sua despedida fúnebre, algo que ainda
hoje nos afeta a todos que o conheciam, e, mais ainda, aos que pertenciam ao seu círculo
interno, assim, a grosso modo, foi meu primeiro encontro com o Grande Copto.

27
Como é ser o atual Papa Negro, Sumo Sacerdote e sucessor de Mestre Héctor?

Em verdade é algo sumamente graticante, visto que continuar com seu legado e
com nossas tradições é o mais importante. Algo que sei, desde a esfera de conhecimento na
qual Héctor se encontra, ele estará diabolicamente feliz, rindo a gargalhar.
O levar de nossos conhecimentos aqueles que se aproximam a contribuir e tornar
esse legado ainda maior é fantástico!

Para Você, qual é a importância e o signicado da obra singular de Héctor Escobar


Gutiérrez em termos mundiais?

A estética de sua poesia seria um dos maiores legados que poderia ser deixado ao
mundo inteiro, com a perfeita métrica conseguiu reviver os grimórios ancestrais e as mais
belas e antigas palavras do arquetípico esquecido, considerando-o de um modo muito
pessoal, “O Último dos Poetas Malditos” entre Baudelaire, Rimbaud, Poe, Vargas Vila e
tantos outros que, com sua literatura, levaram a margem do caos ao mundo, deixando a
porta estelar que conduz ao exterior cada vez mais exposta ao passo daqueles antigos aos
que de uma forma ou outra rendiam culto através de suas diatribes infernais!

Várias pessoas costumam relacionar os trabalhos de Anton S. LaVey com a obra


de Héctor Escobar Gutiérrez. No seu entendimento, quais seriam essas relações ou
associações? O que há de unidade entre os sistemas de ambos?

Bom, Irmão, isto já é mais complexo, já que apesar de haver desenvolvido


desenvolvi do seu próprio
sistema, resgatando as palavras do empoeirado e vetusto paroquial nosso, se maravilhava
de maneira particular no que outros ocultistas como LaVey se mostravam ao mundo, a
parafernália e o misticismo levados de maneira tão infame e por sua vez tão lógica, isto o
motivou a incluir em seus rituais algo destas losoas, especialmente a de Crowley, sendo
igualmente considerado por Héctor como seu mentor e mestre espiritual, é por isso que
em meu livro o chamo com o termo Satânico-Thelemita, dando a entender a inuência
destes dois grandes Magistas e, ainda assim,
ass im, regressando à gruta do conhecimento ancestral
deixando entrever a profundidade e seriedade de nosso sistema.

Nos próximos meses a Editora Via Sestra publicará o livro Ordo Draconis Infernum,
em língua portuguesa, no Brasil. Do que se trata esse livro e o que o leitor encontrará em
suas sinistras páginas?

O livro abre as portas da percepção para aqueles seres honestos que, em sua busca
árdua, intentam encontrar o caminho de retorno a si mesmos; o livro é formado por quatro
partes nas quais se altera a ordem psíquica e emocional, permitindo o estudante sincero

28
ir profundo dentro de sua consciência interior mediante certos processos utilizados pelos
maiores iniciados na história, através dos quais encontraram a entrada para o grande salão
onde o Santo Graal, o Cálice de Babalon, os aguardava.

Em quais projetos iniciáticos, místicos e/ou mágickos Você está envolvido? O que
você poderia nos falar a respeito desses projetos?

Por agora estou terminando o segundo livro da O.D.I., onde revelamos os rituais
internos e grupais da referida ordem. Há pouco terminamos uma viagem pelas principais
cidades de nosso país compartilhando um pouco de todo esse conhecimento.
E na busca innita de tudo aquilo que em meu ser crepita e se inama para alcançar
a unidade.

Atualmente você participa, lidera ou coordena alguma Ordem ou grupo de pessoas


com interesses comuns na Via Sinistra? O que poderia nos falar sobre tais atividades?

Atualmente temos uma união Mágicka com outros respeitados ocultistas de


diferentes ordens e conhecimentos (Edgar Kerval, reconhecido ocultista Qliphótico em nível
mundial; Ljóssál Loðursson, igualmente ocultista da Elite Hiperbórea, vinculado a outros
ramos da mesma corrente; cabe agregar que há poucos meses se uniu a esta causa também
Paul Núñez, diretor principal da Editora Via Sinistra e atual dirigente da Igreja Maior de
Lúcifer na América Latina) – este triunvirato concebido com o único propósito de reunir
forças e sabedoria é igualmente uma forma de mostrar ao mundo como conhecimentos
tão heterogêneos podem encontrar um ponto de encontro, com isso dizemos: “A Magick
é Todo”, é bom ser um ocultista de qualquer caminho da árvore, mas uma vez unicado,
se dará conta em seu silêncio interior que sempre foi parte do todo e o todo, parte de você
mesmo.

O que você costuma sugerir aos indivíduos que pretendem ingressar de maneira
mais comprometida e séria no Caminho da Mão Esquerda?

Para todos aqueles Neótos que se aproximam do Umbral, onde a luz tênue é só a
sutil chama de seu ser tentando escapar e precipitar-se mais no profundo daquele mistério
chamado Magick, eu digo, não passe inadvertido
inadv ertido ante o guardião do umbral, rende tributo,
 já que ele, na forma de Anubis, é quem abre todos os caminhos pelos quais sua alma viajará
até alcançar o último Sol e seus raios diamantinos vindos de outros mundos que cegaram
seus passos enquanto caminha de plano em plano, de ciclo em ciclo, sorri somente de ser o
único eleito que vislumbrou a loucura iluminada.
Mas, é Seth ao nal quem o levará até alcançar o nal e fundir-se no Caos Primordial,
 junto aos proscritos Deuses do Vazio Estelar.

29
O verdadeiro ocultista é aquele que estuda assiduamente e jamais se deixa enganar por
falsos profetas, charlatães ou místicos de segunda categoria que em seu afã de reconhecimento
tomam o duro trabalho de outros para si, sigam éis ao que a sua consciência interior dita,
só assim estarão no caminho para encontrarem a si mesmos.

Muitos de nossos leitores possuem certa apreciação por estilos musicais um tanto
heterodoxos, tais como a música extrema, o ‘black metal’, a música ritualística e o ‘dark
ambient’. Você aprecia este tipo de música também? Tem ligação com alguma banda
sobre a qual poderia nos contar?

Para mim a música é tudo, e claro, com algumas exceções posso vislumbrar um
grande nascimento de novos projetos e sons, tanto que recomendo em meu livro alguns
prodígios desta nova era, muitos de nossos amigos
ami gos vinculados à Corrente Hectoriana levam
isso muito a sério, levando a nível mundial o legado de nossa Ordem.
Nossos amigos do Disgrace and Terror são um dos mais claros exemplos do que
signica este grande poder que simboliza nossa corrente e com o qual tem conseguido
sobressair em seu meio como uma das melhores bandas do gênero no mundo.
Thy Antichrist, banda de um de nossos mais queridos amigos erradicados nos Estados
Unidos, que leva o estandarte de tão grande legado por todas essas terras e igualmente
reconhecido em nível mundial.
Internal Suffering, de nossas terras Pereiranas, cujo reconhecimento mundial tem
sido um grande tributo constante à corrente e à nossa grande amizade.
E, como estas, muitas outras bandas de natureza tanto internacional quanto nacional,
que tem se sentido atraídas pelo uxo constante da Corrente Hectoriana e de noss a losoa.

Vemos algumas atividades culturais e literárias relacionadas à Via Sinistra pela


América Latina, especialmente na Colômbia, Peru e Chile. Encontros, lançamentos de
livros, etc. Quem são as pessoas por detrás dessas inestimáveis iniciativas? O que você
pode falar sobre elas e sobre o seu próprio envolvimento/colaboração?
envolvimento/colaboração?

Como já havia lhe dito antes, Irmão, iniciamos


inicia mos um processo de unicação com outras
correntes e estamos próximos de realizar o primeiro Consortium
C onsortium latino americano de língua
espanhola chamado “Nuestro Aquelarre”, aqui na Colômbia, com a colaboração de alguns
dos mais reconhecidos ocultistas de nossa época, no momento estamos trabalhando com a
logística do evento, conversando com os convidados, acertando datas, mas te asseguro que
será algo muito bom para todos nós.
Sobre as publicações, posso dizer que nosso amigo Paul está lançando um dos
últimos livros de Michael W. Ford, o “AKHKHARU – Magick Vampírica”. Todos nós
estamos dispostos a viajar para onde
ond e nos convidem para levar livros e além da literatura do
Caminho da Mão Esquerda, também estamos à disposição para enviar livros para qualquer
parte do mundo através das editoras Via Sinistra, Sirius Limited e Editorial Ophiolatreia.

30
A passagem célebre de Liber AL vel Legis, “Faz o que tu queres, pois há de ser tudo
da Lei” costuma ser bastante utilizada por indivíduos como uma justicativa comum
para todos os tipos de comportamentos excessivos, tais como uso abusivo de drogas e etc.
No seu entendimento, o que é o “querer” e a “vontade” no contexto iniciático, místico e
mágicko?

Cada homem e cada mulher é uma estrela!


Seria semelhante à passagem que citou e isto signica que todos temos a vontade de
seguir nossos próprios princípios, claro está que ninguém deve alterar de nenhuma forma o
curso de outra estrela, o pior de tudo é que muitas destas pessoas são sinceros
si nceros equivocados,
 já que tendo um potencial imenso, decidem recorrer à estratagemas para embarcar em
uma odisseia da qual só sairiam mal livrados, a verdadeira vontade é algo que poderia
ser confuso para muitos e desta maneira dar curso a inúmeras aberrações ou psicopatias,
mitomanias e demais particularidades que nada tem a ver com o propósito original de
encontrar a essência do que isto signica, mas o estudante que se agarra ao caminho em
sua forma mística descobrirá que a vontade se torna mais rme a medida que consegue ir
descobrindo seu propósito na vida como um criador.
cri ador. E esta é a maneira em que se executa a
intenção da verdadeira vontade posta em curso correto de ação mediante a criação.
Qualquer que seja a forma de expressão artística em que cada ser descubra sua
verdadeira vontade, e esta o impulsione ao excesso, magnânimo, fantástico, estará no
caminho de sua verdade individual, ainda que nem todos sejam dotados deste processo
interessante, igualmente podem se desenvolver em seu meio com o que é mais próximo ou
com o que mais se identica para cada ser; desta maneira se intensica a razão pela qual o
verdadeiro criador é aquele que do nada rearma ou constrói um ideal e é assim como a
verdadeira vontade se fará manifesta.

No Brasil estamos todos atolados num lamaçal de extrema boçalidade e ignorância,


não somente em se tratando da população em geral, pois há muito desses adjetivos dentro
do próprio viés sinistro. Como é isso no seu país de origem?

De mesma forma que em muitos países estamos abarrotados por crenças estultas e
pelo embotamento criado pelos pensadores da moral, ramos religiosos e dogmáticos que
ainda possuem poder sobre as massas. É de entender que todo o desenvolvimento
des envolvimento intelectual
de muitos países ainda se baseia na consciência de sua cultura religiosa, este estigma que
desde a infância nos corrói até a medula é a primeira coisa que deveríamos submeter a
um juízo de caráter individual, assim, desta maneira, lograríamos não só a liberação do
indivíduo, mas também a de muitos, e já que tudo isso se baseia na compreensão intelectual
e no desenvolvimento emocional de cada um, sendo os seres mais próximos da identidade
de deus, somos os mais altruístas de todos e dói em nós o que passa ao redor, especialm ente
com tantas pessoas brilhantes e de inteligência mais latente, que ainda se sentem obrigadas
a serem submetidas ao jugo de uma religião por compromisso social.
Todos deveríamos nos unir neste momento para adiantarmos o primeiro plano para
31
dizer “somos o primeiro sangue, o sangue antigo, aquele de outrora que levava o estandarte
dos fortes e pensadores livres; em nossas veias corre o tempo de crenças ancestrais e com
ela a sabedoria suprema dos Deuses Arquetípicos, assim, que sejamos um no pensamento
universal da aniquilação do dogma religioso e cultural, que ata as mãos dos fazedores do
eterno retorno da verdade, Sozinhos”.

Em suas experiências pessoais há elementos nativos colombianos que foram


importantes para o seu próprio desenvolvimento? O que poderia nos falar a respeito
disso?

A natureza que nos rodeia tem sido e sempre será a maior manifestação de meu
arquétipo pessoal, ao identicar cada ser com a força implícita da divindade, estou em
perfeita harmonia com tudo e tudo está equilibrado em minha natureza.
 Justo nesta região onde me encontro, a qual chamaram “O Eixo do Mal”, existiram
aborígenes que em descobertas arqueológicas e antropológicas foi demonstrado que eram
adoradores da Lua e à ela rendiam culto mediante sacrifícios de sangue; é por isso que
irradiados por essas forças ancestrais estamos mais do que predispostos à mesma corrente
Mágicka produzida por toda essa grande quantidade de energia.

Você conhece algum autor brasileiro que de alguma maneira seja relevante para a
Via Sinistra?

Em verdade, até o momento, me foi negado o prazer de


d e conhecer algum de seus autores
obscuros, mas sempre estamos abertos à possibilidade de estender o livre pensamento com
a sabedoria compartilhada.

Quais personalidades, sejam autores, magistas, bruxos, feiticeiros, mais


inuenciaram você? Quais obras ou trabalhos você considera realmente importantes?

Aleister Crowley, Anton LaVey, Arthur Avalon, HP Lovecraft, Papus, MacGregor


Mathers, Israel Regardie, Kenneth Grant, Julius Evola, Linda Falorio, Miguel Serrano, José
María Vargas, Héctor Escobar Gutiérrez, Nietzsche, Maldoror; mais recentemente: Thomas
Karlsson, Michael W. Ford, Asenath Mason, E.A. Koetting, e tantos outros que nesse
momento me escapam da memória, sendo todos parte deste sincronismo do despertar.

Eu agradeço muitíssimo por sua diligência e atenção ao nos conceder essa breve e
mui importante entrevista e reservo abaixo o espaço que julgar necessário para registrar
suas palavras nais nesse singelo alfarrábio! Muito obrigado, Cesar Marin! Laus Satanus!

32
Para mim foi um grato prazer contestar todas as suas inquietudes e poder, de uma
maneira ou de outra, dar a conhecer o pensamento de um diletante do Caminho da Mão
Esquerda!

Laus Satanus!
Ho Serpente-Drakon Ho Megas!

Cesar Augusto Marín

33
A todo mundo, aqui estou Eu!
Quem, nos livros sagrados, chamam o Diabo!
Eu sou aquele cuja gura inspira medo!
Eu sou aquele em quem todas as estrelas têm seu manto!
Eu sou aquele em quem a Serpente-Dragão se acende e se recria eternamente!
Eu sou aquele que foi forjado no vazio cósmico pelos Sóis mais antigos e mais
distantes!
Eu sou aquele que traz a luz, mas
ma s não aquela a que muitos dentre vós nomeiam,
nomeia m, mas
sim a luz tênue e obscura que se precipita desde o abismo com todos os nomes dos Irmãos
meus, os Malignos!
Chamaram-me de horror neste mundo, mas, em minha sapiência eterna, eu sou
apenas um Deus que traz o Caos sem pudor e sem escrúpulos, e falo com a verdade, e a
ciência é apenas um dos meus mais queridos lhos!
Atende ao compromisso eterno, Oh! Tu, Irmão ou Irmã, que tende para o abismo,
tens que saber que eu sou o número e o glifo, como a Besta encarnada com todo o seu
arquétipo, revelo-me diante do valente que ousa chamar-me sem temor e que se atreve a
confrontar-me, pois deves saber, querido incauto, que minha imagem real é tão sombria que
nem mesmo aquele deus inventado, sendo real, se atreveria a me confrontar!
Mas, pobres mortais, que veem o inimigo em mim, porque sendo Uno em mim
mesmo, eu sou o Todo e o Vazio!
Eu sou o Grande Abismo!
Eu sou o Deus da folia e da loucura profana, aquele que entre todos os deuses sempre
ensina a felicidade eterna!
Com uma gargalhada eu agito os mundos e faço todos os espectros desaparecerem!
Através do vinho, das viandas, das mulheres e das delícias mais profanas, meus
escolhidos são, sem hesitação, os Sacerdotes do Abismo!
Ambos, os Bruxos quanto as Bruxas, dançam ao redor da Árvore do Espanto, pois, a
partir de Daath têm que saber que me regozijo na criação e, ainda mais além, no que ainda
não foi inventado!
O nada innito é de onde eu venho, é a concha alquímica onde minha natureza crepita
c repita

34
e, como a imortal Fênix, eu me levanto das minhas próprias cinzas!
A Serpente-Dragão é meu símbolo mais sagrado e, após este, como a Árvore da
Morte, se ergue o véu que ao deixar o medo te aproxima do eterno despertar!
Vinde a mim sem temor ou dúvida, ou cai, presa daqueles que, sendo minhas
testemunhas, são os mais próximos amigos, Daemonos proscritos que descenderam da
primeira chama, daquela luz cegadora, para seguir a mim na eternidade, sendo todos um
mesmo!
Eu sou a Legião e todos nós somos Anjos que do Caos Primordial vieram celebrar o
triunfo da Verdadeira Vontade do Mal hoje!

Frater Aiwass!
O Papa Negro da América do Sul!
Laus Satanus!
Ho Serpente-Drakon Ho Megas!

35
A Bíblia do Adversário
de Michael W. Ford
“Uma obra singular e de caráter único, fundamental para todos os Luciferianos dese
dese--
 josos em conhecerem a Filosoa e as práticas Luciferianas
L uciferianas sob a perspectiva de um de seus
maiores expoentes. Altamente recomendada a todos os indivíduos que possuem interesse
no Caminho da Mão Esquerda & Via Sinistra.”

“A Bíblia do Adversário possui o caráter duplo de servir como introdução losóca


e como um grimório de auto iniciação na Magia Luciferiana. Publicado originalmente em
2007, A Bíblia do Adversário apresenta unicação e esclarecimentos contemporâneos do
poder de iniciação no Caminho da Mão Esquerda, acerca do Adversário e Luciferianismo.

A edição ora apresentada pela Editora Via Sestra traz um grimório completamente
reeditado e expandido que inicia com os 11 Pontos de Poder e os Fundamentos Filosócos;
guiando o Leitor rumo às profundezas obscuras através da Verdadeira Vontade, do Desejo
e da Crença, iluminado pela Chama Negra ou Luz Interior.”

Disponível exclusivamente na loja online da Editora Via Sestra:


http://www.lojaeditoraviasestra.com.br/pd-58135E.html

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A bruxaria é o descendente direto das antigas culturas xamãnicas, aparecendo
na humanidade desde o início dos tempos. Um dos principais aspectos da bruxaria é o
desenvolvimento do “eu” interior em conjunto com os poderes da natureza, os poderes da
feitiçaria, equilibrados com o lado
l ado negro. Exploraremos sobre o lado noturno, seus métodos
de aprendizado e a experiência na corrente dentro do caminho inverso de Yesod, através d a
feitiçaria do sonho e pela herança dos cultos sabáticos, trabalhando com a Qlipha Gamaliel.
O trabalho com o lado inverso de Yesod é uma reunião no reino dos sonhos, tendo
como principais pontos o foco e a canalização dos poderes da qlipha e seu entendimento
que emanam sua sabedoria sagrada para dentro do subconsciente do adepto. Neste ponto,
o mago abre uma corrente lunar profunda através da fórmula de ressurgência atávica,
alinhando seu espírito com o lado negro de Yesod, no qual reside o poder da Qlipha Gama liel.
Explorar a bruxaria e o lado obscuro de Yesod signica abrir o portal em uma zona
de puricação que tem como propósito a criação de templos astrais nos quais as diversas
reuniões de feiticeiros(as) trabalham com súcubos e energias que emergem dos templos
negros de Gamaliel. Os ritos desenvolvidos lá são conduzidos pela aplicação de vontade,
crença e desejo. São esses três pilares de fundação dentro do culto sabático da bruxaria e
seus métodos de trabalho. O lado negro de Yesod existe no contexto do controle do sonho,
emergindo dos templos astrais onde todo poder é manifestado.
A queda do adepto pelo caminho invertido de Malkuth, o leva até o lado obscuro
de Yesod, a esfera lunar das ilusões e visões que transcendem a razão. Toda ascensão pela
árvore deve ser feita através da esfera lunar, incluindo a subida nos caminhos inversos da
árvore. Gamaliel é um estado mental profundo conectado com a loucura, a transmutação
dos sentidos e revelações ocultas por transmissões sugestionadas do outro lado. Como é o
governante do portal dos sonhos, ele nos leva a absorver
ab sorver suas energias através da exploração
de rituais de eroto-comatose usando energia sexual para aumentar a obsessão criativa como
método de controle dos sonhos, bem como de práticas sexuais transgressivas.
O lado obscuro de Yesod equivale ao Muladhara chakra e move -se dentro do uido
primal que é a menstruação da sexualidade sagrada, simbolizando
simboli zando a sexualidade exploratória
de Gamaliel via Per Vas Nefandus
Ne fandus (sodomia). Aqui, o uxo das correntes sexuais é incubado
como sementes que emergem de suas próprias essências causando um aumento aumen to de poder
no adepto através de estados alterados de consciência e a utilização de plantas sagradas
como ayahuasca, cogumelos, Cannabis ou tabaco (com o qual tive poderosas conexões nos
últimos anos) e as práticas
práticas da alquimia sexual. Por meio disso, o adepto explora o misterioso
 jardim sagrado da gnose sexual e da bruxaria lunar via cópula e conexão com as deusas
lunares governada por Lil Az ‘H’ Az Lil no seu aspecto
as pecto mais cru: como uma serpente súcubo
do astral, aquela que segura o vaso cheio
c heio de libações de suas interações
i nterações e experimentos com
humanos.
37
A prostituta do dragão-serpente nos direciona para conexões com as formas primais
da qlipha Gamaliel. Pelo lado
l ado inverso de Yesod, os poderes dos templos astrais de
d e adoração
às correntes lunares na forma da tríade Lilith - Naamah - Gamaliel, manifesta-se como
sonhos espectrais,
espectrais, símbolos sugestivos e geometrias ocultas. Neste lado, exploramos os
portais dos sonhos através da lembrança de sonhos e dimensões do passado distante e
templos visitados em outras realidades sem espaço ou tempo. A contraparte de Yesod é
fortemente conectada com a corrente lunar de Gamaliel, próximo de sentimentos e emoções,
focando o uxo de energia provinda da esfera solar. Em um nível mais psicológico, po-
demos dizer que Lilith é o ponto focal, representando o corpo psíquico do adepto.
ad epto. Gamaliel
representando o misterioso “eu” etérico ou o centro da essência do adepto e da psique. E
através desses pontos, temos a lua movendo a energia por ambos os lados, se manifestando
manifes tando
no plano físico por sonhos e pulsações psíquicas.

PARA SABER MAIS, CONSULTE:

LIFTOACH ISH ‘A’ GAMALIEL


Os Mistérios da Magia Lunar e a Sexualidade Sagrada
De Edgar Kerval
Disponível exclusivamente na loja online da Editora Via Sestra,
em três versões, a partir de R$ 44,00 + frete.

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Perdoa-me o clichê, mas poderia nos dizer como foi o surgimento do U.N.C.U.L.T?

A gênesis das pessoas, das coisas e das formas constituem-se em um evento


indubitavelmente paradoxal, pois quando nos aproximamos do objeto observado
percebemos que na verdade não conseguimos identicar exatamente as engrenagens que
movem determinados acontecimentos ou surgimentos. Eu sinto que todas as coisas e eventos
 já aconteceram em algum momento dentro dos pulmões de Zvrvan, e que nós estamos
seguindo um longo carma aos modus operandi da morte, no delírio contínuo de nossas
ações e emoções, apenas repetimos cenas em um tétrico e masoquista circo de ilusões, de
emoções que o consciente coletivo encena frequentemente com as mesmas roupas e as

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mesmas lágrimas. Destarte, o U.N.C.U.L.T é uma ideia , uma expressão, uma fórmula, não
há como denir o momento de seu surgimento, mas, poderia dizer que em um momento
no tempo nós, enquanto entidade, tencionamos uma forma de música que pudesse se
aproximar mais daquilo que sentíamos do que daquilo que as pessoas do lado de fora de
nossa linha pensavam que precisavam sentir.

Quando surgiu?

Em termos materiais, o U.N.C.U.L.T, enquanto manifestação sobre os atos, surgiu


entre os vivos no de 2006 do calendário ocidental.

O que você pode nos dizer sobre o signicado do nome U.N.C.U.L.T, ALÉM de
“Uma Nulicação Catalizadora Ultrapassa os Limites Transcenden
Transcendentais”?
tais”?

Eu poderia dizer que as palavras são grades mundanas e no fundo de tudo


caminhamos em espinhos demiúrgicos que alimentam uma forte teia de vaidades e apenas
uma nulicação extraordinária, destruidora e incisiva poderá ultrapassar aquilo que antes
pensávamos que era o transcendente, pois além destes limites ELE habita!

Em suma, o que é U.N.C.U.L.T para você?

Uma manifestação musical/espiritual do Satanismo Adramaliko Antimateria, a


bandeira da corrente LVL22 e o sangue do culto 67!

Por que os membros do U.N.C.U.L.T devem permanecer incógnitos?

Não é segredo que todos da horda tem ou já tiveram envolvimento com o dito Black
Metal (ou como queiram chamar) no Brasil. As formas pelas quais as pessoas envolvidas
neste meio estão acostumadas a lidar
lid ar com situações e pessoas é algo muito distante
di stante daquilo
que consideramos importante para nossa existência e uma dessas coisas é o fato de quem fazfa z
ou não nossos louvores. Nossa capa social ou nossa identidade são aspectos mundanos que
estão carregados de sentidos igualmente mundanos, nossos louvores são para os senhores
e senhoras de nosso culto, movidos por nossa fé! A minha alma não tem nome ou forma ela
é o fruto proibido do caos, o movimento obsceno das torrentes da existência, é ela que está
gritando quando você ouve a nossa música, é ele que se debate nas palavras dos homens
desta era, assim, como eu lho do lho do nada poderia dizer quem é isso ou aquilo! Nós
somos os devotos! Os nulicadores!

Quais são suas principais referências musicais?


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Musicalmente falando eu escuto muitas coisas, aquilo que chamam hoje em dia de
Black Metal Ortodoxo, Death Metal, Doom Metal etc. Além desses aspectos mais óbvios sou
muito atraído por “músicas” (ou ruídos/drones) ambientes, músicas ritualísticas e também
música clássica.

Como as músicas e letras são compostas?

Todas as letras do U.N.C.U.L.T são mantras de devoção que estão divididos entre
orações que narram rituais executados por nós e mantras que falam sobre os pilares da
nossa fé. Antes de chegar ao nosso full, com o título traduzido de Vcifrtnsmael Cantvs
Adramlas Ostivm: Anti-estrutural formulas da gênesis do anti-mundo, já tivemos outras
músicas, tendo em vista que a horda foi formada há mais de 10 anos, assim como a formação
dos devotos que temos hoje não é a mesma desde o início,
i nício, mas poderia dizer que o resultado
deste trabalho é um substrato de tudo que aconteceu antes. O resultado nal deste trabalho
traba lho
foi feito de fato por pessoas que estavam imersas em cada palavra dita neste disco, isso eu
posso armar com toda certeza!Nossas letras são inspiradas no livro
li vro sagrado do nosso culto,
o LIBER EVTHANASIAS LVX, e as músicas são evocadas
evocad as pelos devotos em comunhão com
seus entes inspiradores.

Alguns indivíduos comparam o U.N.C.U.L.T com bandas como Batushka, Ghost,


Cult of Fire e Acherontas. Como você vê essas comparações com essas quatro bandas
especicamente?

 Já ouvi coisas parecidas sobre a nossa sonoridade, não tenho nada o que concordar
ou discordar das pessoas que pensam isso ou pensam qualquer coisa que seja sobre nós
porque elas desenvolvem suas visões a partir de um ponto focal especíco que não me
cabe julgamento. O que poderia dizer é que somos diferentes deles no sentido de práticas
espirituais reais, pois não sei até que ponto essas bandas gringas são de fato portadoras das
energias que proclamam ou se são apenas uma marca.

Em 2018 vocês lançaram o álbum “Ucifrtnsmael Cantvs Adramalas Ostivm: Anti-


estrutual Formulas Da Genesis Do Anti-Mundo” pelo selo Berserk Ritual Productions,
fora do Brasil. Por que optaram por lançar o material fora do país de origem? Onde
podemos encontrar o álbum à venda no Brasil?

Bom, lançar um material é algo minimamente


mi nimamente complexo e depende de vários fatores,
lançar fora do Brasil não foi um plano, mas foi algo que simplesmente aconteceu. Eu
estava em contato com o B.R.P que me fez uma ótima proposta, inclusive o próprio selo
foi responsável por toda a arte gráca do disco que eu particularmente acho magníca,
então as coisas aconteceram dessa forma. Este disco
dis co pode ser encontrado hoje com o próprio

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B.R.P em suas últimas cópias, e aqui no Brasil as cópias que foram para o C.H.P.V estão
completamente esgotadas, tive informações que os selos PAGAN WAR e HAMMER OF
DAMINATION tem algumas cópias que pegaram diretamente com o B.R.P.
Atualmente estou em diálogo com alguns selos para um relançamento deste disco,
mas posso adiantar que em 2019 teremos um SPLIT VINIL lançando aqui no Brasil, em
parceria com um grandioso selo e uma horda do C.H.P.V.

O U.N.C.U.L.T canta algumas partes de suas composições em língua portuguesa –


o que eu particularmente achei muito interessante – como é a recepção das pessoas fora e
dentro do país com relação a essa característica?

No Brasil, assim como em outros países que passaram pela violência da colonização
os arquétipos desta empreitada são vividos até hoje, por tanto as pessoas tem uma sedução
muito forte pelo idioma estrangeiro, isso não é racional, é simplesmente afetivo ou de certa
forma mercadológico, por este motivo que muitas hordas optam por cantar em inglês por
exemplo. Não julgo este ato, pois por outro lado penso que alguns optam por transmitir sua
mensagem em um idioma, digamos, mais universal, que é o que o idioma inglês se tornou
no ocidente indiscutivelmente, tanto que um dos nossos hinos possui alguns trechos em
inglês.
Temos uma ligação muito forte com o Latim, eu particularmente sempre uso o LatimLa tim
em minhas composições não apenas no U.N.C.U.L.T mas também em minhas outras hordas!
Com relação à recepção aqui no Brasil ela é bem vista pelas pessoas que gostam de hordas
mais subterrâneas mas fora do país eu percebo que o ponto etnocêntrico é muito forte, as
pessoas tendem a ter uma resposta mais forte a mensagens mais
ma is fáceis de serem decifradas,
decifrada s,
no entanto estamos na contramão deste tipo de mensagem “eu amo satã,
sa tã, matem os cristãos”.
Tenho consciência que nossas letras e metáforas não serão entendidas por todos e todas pois
elas precisam de compreensão, leitura e abstração, não fazemos música para o rebanho!

O álbum “Ucifrtnsmael Cantvs Adramalas Ostivm: Anti-estrutual Formulas Da


Genesis Do Anti-Mundo” está totalmente disponível no YouTube. Aparentemente,
vocês sabem disso, não se incomodam e trata-se de uma publicação autorizada [por favor,
corrija-me se eu estiver errado]. O que vocês acham desse tipo de divulgação totalmente
aberta do trabalho de vocês? Como isso afeta nas vendas do CD? Há ainda muitas bandas
que preferem lançar seus trabalhos exclusivamente em mídias analógicas (LPs e K7s), o
que vocês pensam sobre isso?

Bom minhas ideias particulares sobre isso já passaram por uma longa trajetória e o
que eu penso hoje sobre esse tema de certa forma polêmico dentro da música extrema não
é o que eu pensava a alguns anos atrás por exemplo. Se for falar em “vendas” eu vejo que
o que antes se pensava como algo que iria atrapalhar hoje ajuda bastante, pois as pessoas
buscam ouvir na internet uma música antes de comprar, isso é fato, muitas das hordas que
conheço hoje do Ortodoxo, por exemplo, conheci por canais da internet, tanto que as cópias
que foram para o C.H.P.V aqui no Brasil do FULL do U.N.C.U.L.T se esgotaram em duas
42
semanas.
A mostra do nosso material que você se refere é a do canal do YouTube ODIUM
NOSTRUM, e sobre isso estamos livre de toda e qualquer hipocrisia sobre o tema, pois os
fatos são que muitas bandas tem a opção de não expor seu material na internet, elas alegam
diversos motivos que sinceramente não me interessam, mas para mim não faz diferença,
pois o nosso culto não será mudado ou manipulado por que nossas músicas são ouvidas
pelas pessoas na internet. Várias das hordas
horda s que conheci do ortodoxo eu vi pela primeira vez
no canal ODIUM NOSTRUM, inclusive a maior divulgação que o BATUSHKA já teve foi
neste canal, e como é de conhecimento de todos e todas o disco dele foi o mais vendido nos
últimos dois anos, nos mais diversos formatos. Sobre os formatos analógicos eu tenho muito
interesse neles, pois eles zeram parte da minha formação musical em um momento onde
o CD ainda não existia, mas essa anidade é exclusivamente afetiva ela não se justica por
nada factual, assim como penso que lançar em K7 ou LP não lhe torna “melhor” ou “pior”
que algo ou alguém, são apenas escolhas e em alguns casos conveniência. Atualmente o que
me interessa no formato que vou lançar os materiais das minhas hordas é o quanto de arte
visual eu posso usar nele, nesse caso o LP é claramente a melhor opção, pois eu acredito
que as imagens também fazem parte do trabalho como um todo, pois no nosso caso elas
expressam visualmente nossas intenções, tanto que no CD do U.N.C.U.L.T no lugar das
letras optamos por uma imagem que representasse cada mantra ou oração.

O U.N.C.U.L.T faz apresentações ao vivo? Há uma agenda de shows? Há previsão


de saírem em tour internacional ou nacional?

Não pensamos no momento em tocar ao vivo, mas se isso acontecer sem dúvidas
será um ritual do C.H.P.V em um primeiro momento, pois aqui no Brasil os eventos estão
mais voltados para um tipo de “Black Metal” que não nos identicamos, por tanto, creio
que tantos nós como os demais (que participassem
participas sem de um evento conosco sem compartilhar
de uma fé sinistra real) se sentiram deslocados ou desconfortáveis em dividir o palco, pois
nosso som é puramente baseado na FÉ sinistra! Uma tour sem dúvidas é algo impossível
pois temos outros objetivos neste momento.

O ‘gênero’ ‘black metal’ – e aqui incluo os indivíduos que apreciam a música e


características muito comuns às bandas do gênero – erta bastante com uma imagem de
superioridade intelectual, força obscura, conhecimento mágicko sinistro e não submissão.
No cenário ‘underground’ é muito comum a tentativa de manter essa “imagem” (falsa).
Imagino que a música do U.N.C.U.L.T seja majoritariamente adorada e ‘consumida’ por
esses indivíduos. Como você enxerga e avalia essa questão entre ‘imagem’ e ‘conteúdo’
das bandas e dos indivíduos?

Bom, posso falar com conhecimento de causa, pois já frequentei muitos lugares do
dito “Black Metal” assim como tive e tenho contato com vários deles há muitos anos, e
sem dúvidas as ideias nutridas por eles como as que você falou “superioridade intelectual,
força obscura, conhecimento mágicko sinistro e não submissão” são falsas! Chega a ser
hilário pois cerca de 80% deles não passam de viciados, pessoas que não leem, que não tem
43
nenhuma prática espiritual e muitas vezes não tem ao menos estabilidade em suas vidas
sociais, essas pessoas são superiores em que? ou a quem? Muitos não são superiores nem
a animais, pelo contrário, aqui no no Brasil eu penso que o Black Metal, assim como as
igrejas evangélicas, agregam as pessoas mais medíocres da nossa sociedade com uma ideia
de superioridade baseada em nenhum esforço e apenas em mera pose, onde um evangélico
coloca embaixo do braço uma livro que nunca leu por completo, e um fracassado qualquer
coloca uma camisa de uma banda antiga ou desconhecida de um cd que o único esforço
que fez foi parar para ouvir enquanto se drogava e esses dois atos desprovido de qualquer
envolvimento intelectual ou espiritual com o conteúdo daquilo que supostamente lhe faz
superior lhe promove uma falsa ideia de emancipação.
Sobre nossas músicas serem consumidas por eles isso não me importa também, nossas
músicas são o resultado do nosso culto e ele não irá se modicar por conta de quem nos
escuta ou deixa de ouvir. Imagine a situação hipotética em que um analfabeto que nunca
teve contato com a educação formal entra em uma sala do último período de um curso
de exatas e se depara com diversas fórmulas de matemática avança no quadro e com um
professor que está falando uma linguagem especíca para os seus alunos, o tal personagem
não iria conseguir decodicar absolutamente nada daquelas mensagens, assim como o fato
de ele estar na sala vendo a aula não iria modicar o conteúdo ministrado. Nosso caso
funciona da mesma forma, em termos de metáforas, não nos importa quantos mendigos
para na rua para ouvir as preces que entoamos dentro de nossos templos pois as colunas
que sustentam nossa morada são fortes e indestrutíveis.

Temas relacionados ao ocultismo e às mais variadas expressões da Via Sinistra


são absolutamente comuns no gênero musical mais extremo, em especial no ‘black
metal’. Como você avalia a proximidade entre a abordagem do tema na música e o
desenvolvimento espiritual do indivíduo? As bandas estão falando sobre algo que lhes é
familiar ou há mais imagem do que essência?

O Black Metal não é sinônimo de espiritualidade, em muitos casos existe um apego


forte a imagem, mas não a mensagem, ou, em uma outra via, uma releitura da mensagem
ocultista para temas sociais ou coisas do tipo, sinceramente nada disso me atinge ou me
importa de fato. Mas, o que acontece é que as pessoas conhecem muito pouco daquilo
que vem falando em suas músicas, e como eu falei na pergunta anterior o Black Metal tem
incorporado mais mentes medíocres do que mentes emancipadas.

A estética e a temática artística do U.N.C.U.L.T parece reetir conceitos advindos


de algumas correntes esotéricas. O que você poderia nos dizer sobre essas correntes e
inuência? Qual é o envolvimento verdadeiro do U.N.C.U.L.T com a Via Sinistra, além
da manifestação artística musical?

Todas as letras e emanações do U.N.C.U.L.T estão voltadas para nossa prática


espiritual, o S.A.A (Satanismo Adramaliko Antimatéria), todos os corpos envolvidos com
esta horda espiritual são devotos em algum grau desta forma de fé.

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Provavelmente vocês conheçam indivíduos ligados à música extrema e ao Caminho
da Mão Esquerda que consomem drogas lícitas e ilícitas. O que vocês acham das drogas
sob perspectiva social? O que vocês acham da utilização de alteradores de consciência
‘articiais’ em âmbito místico e recreativo?

Sobre as drogas eu tenho duas correntes de pensamento, a primeira delas sem dúvi das
estaria sob um escopo social, percebendo que incide sobre o temas das drogas um forte
caráter moral que varia indubitavelmente de acordo com o tempo e espaço em que cada
sociedade está inserida, então sob um ponto de vista moral minha visão sobre isso está para
além da ideia do bem o do mal, assim como todas as outras coisas, formas e manifestações
que os humanos têm algum tipo de contato, essas esferas também são em si representações
do que a humanidade é ao longo de sua própria história.
Em uma segunda via a minha interpretação espiritual sobre o tema, as drogas de um
modo geral produzem ou estimulam um outro estado da consciência, e falo por conhecimento
de causa pois já fui usuário de várias delas. Este outro lado na nossa consciência possui
instrumentos diferenciados de nossa percepção comum, e neste sentido pode sim ser us ado
como parte de uma tecnologia de comunicação espiritual.
espiri tual. No entanto, não é esta a nalidade
da esmagadora maioria das pessoas que fazem uso dessas substâncias e neste ponto temos
uma discussão polêmica que beira um certo julgamento moral mas sem dúvidas não
é este o caso. Espiritualmente falando eu vejo qualquer tipo de vício como uma forma
de aprisionamento demiúrgico e é fato que algumas substâncias têm um poder químico
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viciante sobre o corpo muito mais forte que outras, como a cocaína, o crack e o tabaco.
É neste ponto que vemos várias e várias pessoas, sobretudo no ambiente do dito “Black
Metal” apontando o dedo para as famigeradas igrejas cristãs com os discursos hipócritas
como “eles se ajoelham… eles se submetem… nós somos livres!” Então me pergunto: livres?
de fato nenhum de nós é livre, mas a diferença entre os vivos em carne é o quão estúpida
é a nossa cela, e a cela de muitas destes são algumas carreiras de pó, enquanto a de outros
são os muros de uma igreja e para mim o que muda é apenas a roupa social que veste um
pastor e um tracante.

Vocês leem quais autores e quais livros? Quais são as principais inuências
literárias que permeiam a essência do U.N.C.U.L.T e a de vocês como indivíduos?

Conhecendo bem os devotos da horda poderia dizer que temos inuências muito
parecidas, somos todos interessados pelas Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia
e Ciências Políticas), pela literatura de horror e sem dúvidas a literatura ocultista,
frequentemente conversamos sobre estes temas. Mais em termos do U.N.C.U.L.T, como dito
anteriormente tudo está envolvo do LIBER EVTHANASIAS LVX.

Vocês estão ligados a alguma organização e/ou grupo de indivíduos que estudam
e praticam alguma manifestação concreta da Via Sinistra? Qual é a importância de haver
mais indivíduos ligados às artes negras e grupos praticantes?

Sim, nós somos, como já dito antes devotos do Culto 67 da corrente LVL22, eu
poderia dizer que esta é uma manifestação que está no seio do Círculo Hermético Pvtridvs
Vox, que detém em termos de expressão indivíduos com diversas práticas espirituais. Mas,
especicamente nós somos uma fração do C.H.P.V com essa prática particular.

Recentemente tivemos uma grande greve de caminhoneiros de proporções


nacionais. Estamos em fase de jogos de futebol na Copa do Mundo. De acordo com
pesquisas internacionais, estamos sempre entre os países mais ignorantes do mundo.
A quantidade de religiões cristãs protestantes é enorme no Brasil. Somos um país com
uma das menores taxas de livrarias e bibliotecas com relação à população. Os canais da
TV aberta são majoritariamente de conteúdo religioso ou ligados ao protestantismo.
Adoramos novelas e consumimos uma avalanche de quinquilharias que brilham no
escuro.
Como vocês enxergam a questão da alienação das massas sob perspectiva pessoal?
O que vocês veem além da imagem da massa de manobra? Na opinião de vocês, como isso
afeta o cotidiano e os projetos relacionados à música extrema e à Via Sinistra?

Novamente, assim como no tema das drogas, temos duas vias de leitura, no entanto
irei me deter exclusivamente aqui a minha perspectiva sob uma ótica espiritual do tema.
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A alienação é um grande tema das Ciências Sociais, sobretudo da Sociologia, e se eu for
falar em termos de Ciência poderia dizer que esta é sem dúvidas a única com autoridade
suciente para falar com propriedade sobre o tema. Partindo deste raciocínio eu poderia
iniciar minha fala apontando para o fato que a alienação enquanto distanciamento da
realidade e ilusão sobre a atividade humana realizada esteve presente em diversas etapas
da formação das sociedades humanas, tendo sem dúvidas seu estado embrionário no início
do mundo moderno com o processo de urbanização e instrumentalização do chamado
“trabalho formal”. Este é um processo gigantesco de alienação demiúrgica, as mídias de
massa, as informações de massa, a política baseada no sistema econômico capitalista e mais
outras mil engrenagens de modelagem da ilusão social
socia l que chamamos de identidade. Tudo
que se envolve com a via sinistra se coloca em um lugar diametralmente oposto a todo este
projeto do EGO, por tanto, não é difícil supor que lançar lâminas ao dragão do logos é uma
tarefa árdua para poucos.

O sistema educacional público de nosso país é algo imensamente questionável e,


na maioria das vezes, de qualidade muito baixa quando comparado ao ensino particular
ou aos sistemas adotados por outros países. Qual é a importância da educação e da cultura
para vocês?

A cultura de uma forma mais ampla, não entrando aqui no mérito da cultura
escolar ou do que o sociólogo francês Bourdieu chamaria de Capital Cultural, reproduz os
sistemas do demiurgo na nossa sociedade, no entanto, os princípios da educação sistemática
podem, em uma via paradoxal, ser o início da emancipação do indivíduo. Poderia dizer
que espiritualmente falando este seria um processo dialético da educação formal, de
síntese, antítese e tese, ao mesmo tempo em que reproduz as condições das desigualdades
demiúrgicas cria a possibilidade de um novo titã anti-cósmico ser desperto em uma alma
inquieta.

Como os trabalhos da extinta MLO e do Temple of the Black Light, especialmente os


ligados à Corrente 218 e aos cultos Necrosócos tratados em Liber Azerate, Liber Falxifer,
inuenciam a vida de vocês no viés artístico e espiritual individual? Desde quando vocês
conhecem os trabalhos mencionados? Como vocês os conheceram verdadeiramente?
verdadeiramente?

Não posso falar por todos da horda pois estes trilharam caminhos diferentes dos
meus, mas se tratando da minha pessoa os trabalhos da MLO tiveram um grande inuencia
na minha consciência espiritual a nível de organização de certas tecnologias de comunica ção
espiritual. O primeiro trabalho que tive contato foi o LIBER AZERATE, não me lembro ao
certo a quantos anos exatamente, mas a primeira versão que tive acesso era uma apostila
impressa (ou xerocada não tinha como identicar) que obtive por meio de uma pessoa
próxima a mim, depois o material surgiu em PDF, inclusive em português.
Apesar de ser uma obra magníca não trazia grandes novidades em termos de
conteúdo e proposta espiritual, pois muitas das fontes utilizadas para a composição
do mesmo, em termos de arquétipos, eu já havia tido contato anteriormente, no entanto
a simetria e organização do trabalho me chamaram muita atenção sobretudo o seu ente
47
superior e central, o senhor dos 11.
Caminhei neste grimório em termos de práticas e estudos, até que passamos a nos
deslocar em nosso sistema interno o S.A.A. Já com relação ao Falxifer tive acesso em um
momento posterior e meu interesse pela obra é com relação
rela ção a profundidade de conhecimento
com relação ao oculto, mas não com relação às suas práticas espirituais.

O que mais o U.N.C.U.L.T gostaria de dizer aos nossos estimados Leitores?

Em primeiro lugar gostaria de agradecer a você Pharzhuph por este prazeroso e raro
diálogo, pois muito raramente me deparo com pessoas que considero realmente inteligentes
e espiritualmente emancipadas. Gostaria de dizer que o Lucifer Luciferax
Luc iferax tem o meu respeito
e admiração pois sempre vi este trabalho dentro de uma proposta séria e forte
f orte dentro da Via
Sinistra. No mais sobre o U.N.C.U.L.T eu não tenho a intenção de falar nada mais do que
está expresso nas nossas músicas! Hoje e sempre seremos os pilares de uma fé sinistra onde
os pilares são a DOR, a DEVOÇÃO e a DISCIPLINA! Ave XI! Ave 67!

https://uncultlbrvthnsslvx.bandcamp.com/releases

48
NOTA INTRODUTÓRIA:

Este artigo nasceu de um trabalho anterior no qual me centrei nas diferenças entre dois espíritos da
d a demonologia
tradicional: Lucifuge Rofocale, o "espírito dos pactos" que gura de forma proeminente no Grand Grimoire,
Grimoire, e
Focalor, o 41º espírito da Goetia
Goetia.. À medida que o escrevia foi-se tornando claro que vários outros assuntos
deveriam ser discutidos, e então eu decidi expandir o trabalho anterior para outro bem mais completo sobre
Lucifuge Rofocale, contendo também algum material original. A intenção não é apenas partilhar informação,
mas também trazer novas perspectivas que possam ser úteis a certos estudos de demonologia e simbologia, e
fornecer ferramentas novas a quem as saiba usar com prudência, inteligência e responsabilidade.

É importante salientar, no entanto, que este texto não deve ser encarado como um estudo puramente académico
de uma gura clássica da demonologia ocidental (embora contenha partes que podem incluídas nesse campo),
mas antes uma análise de Lucifuge Rofocale, incluindo muitas investigações, descobertas e intuições relacionadas com
a mesma entidade, com base na minha própria experiência e em muita coisa que eu aprendi através de outros . Trata-se
portanto de um estudo pessoal, que pode – e deve – se r aprofundado e ampliado por todos aqueles que vejam
neste texto uma ferramenta de estudo (ou trabalho) válida.

***

ÍNDICE:

• O Início
• Parte I – "O Nome"
• Parte II – "A Imagem"
• Parte III – "O Reexo"
• Parte IV –
 – Anexos
 Anexos
Anexo 1 – Lucifuge Rofocale noutros grimórios?
Anexo 2 – Tabela dos Espíritos
Anexo 3 – "Bem e Mal": Ou será assim mesmo?
Anexo 4 – Galeria de Lucifuge

• Agradecimentos e Dedicatória

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O INÍCIO:

Há quase duas décadas, eu estava numa livraria a ler partes d' O Livro de Magia Cerimonial de
Cerimonial  de Arthur E. Waite,
quando parei de folhear o livro numa página que continha uma representação algo tosca de um Espírito que
eu nunca tinha visto antes:

LUCIFUGE ROFOCALE

A minha atenção foi imediatamente dirigida para esta imagem, por pelo menos duas razões. No instante
em que vi esta imagem, eu reparei como o Espírito parecia combinar partes de outras imagens semelhantes
que eu tinha visto antes: o “Bode Sabático” Baphomet de Eliphas Lévi, o deus grego Pan, o Puck ou “Robin
Goodfellow” do folclore inglês, ou uma conjunção bizarra das duas cartas “O Louco” e “O Diabo” do Tarot.
A outra razão pela qual eu me senti impelido de estudar melhor isto foi o Nome do Espírito, por razões que
serão explicadas de seguida. No entanto, antes de entrarmos em maiores detalhes, torna-se necessário antes
explicar “quem” ou “o que” é Lucifuge Rofocale, de acordo com as fontes tradicionais disponíveis, de forma a
dar ao leitor um contexto correcto para este estudo.

O PRIMEIRO-MINISTRO DO INFERNO

O espírito Lucifuge Rofocale é de especial interessante porque existe apenas UMA fonte na qual ele aparece:
Vermelho , também conhecido como Grand Grimoire.
O Verdadeiro Dragão Vermelho, Grimoire. Neste grimório é dito que Lucifuge
Rofocale é um de seis espíritos inferiores sob as ordens dos três Superiores: Lúcifer, Beelzebuth, e Astaroth 1 2.

1 Esta tríade infernal de Lúcifer, Beelzebuth e Astaroth parece derivar de um tratado anterior ao Grand Grimoire em
Grimoire em
alguns séculos: o Hygromanteia
Hygromanteia ou
 ou Tratado Mágico de Salomão, no qual os quatro espíritos guardiães dos pontos cardeais
são: Loutzipher  (Leste),
 (Leste), Beelzeboul (Sul), Astaroth (Oeste) e Asmodai (Norte). Apenas Asmodai – ou Asmodeus – não faz
parte da tríade superior.
2 Outros documentos, como a Clavicula Salomonis De Secretis,
Secretis, referem Lúcifer, Belzebut e Elestor.
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Estes são os seis espíritos inferiores:

«Lucifuge, Primeiro Ministro


Satanachia, Grande General
 Agaliarept, General
Fleurèty, Tenente General
Sargatanas, Brigadeiro
Nebiros, Marechal de Campo»

E mais,

«O primeiro é o grande LUCIFUGE  ROFOCALE , Primeiro Ministro infernal, que detém o controlo,
com que Lúcifer o investiu, sobre toda a riqueza e todos os tesouros do mundo. Os seus subordinados são
Baal, Agares e Marbas, assim como milhares de outros demónios ou espíritos que são seus subordinados.»

A leitura do Grimório revela que este é o clássico demónio dos pactos, o espírito com quem um pacto pode
ser feito para obter poder ou dinheiro, embora, no entanto, ele exija a alma do karcista (mago) após vinte ou
karcista (mago)
cinquenta anos .1

Vamos agora passar para o estudo do nome do espírito.

Parte I:

“O NOME”

“LUCIFUGE” – AQUELE QUE FOGE DA LUZ

Tal como disse anteriormente, eu achei o nome “Lucifuge Rofocale” muito intrigante quando o vi a primeira
vez. A primeira parte, “Lucifuge”, era semelhante a “Lúcifer”, mas eu lembrava-me de estudos anteriores que
“lucifugus” em latim queria dizer “(aquele) que foge da luz”. Isto é um nome muito curioso para o espírito que
governa sobre as riquezas e os tesouros! O meu primeiro pensamento quando percebi isto foi que perseguir
o poder mundano e auto-engrandecimento através de um “pacto infernal” conduziria inevitavelmente à
perdição, para longe da luz da verdade espiritual. Neste caso, Lucifuge Rofocale seria uma máscara para
o próprio Diabo, o aliciador ou tentador do Homem, prometendo-lhe todo o poder e riquezas em troca da
sua própria alma. Isto, pelo menos, é o que o Grand Grimoire aparenta
Grimoire aparenta transmitir numa primeira análise do
texto. Este aspecto merece uma reexão mais aprofundada, a qual eu deixarei para quando abordarmos a
simbologia de Lucifuge Rofocale.

Há um outro signicado de “Lucifuge”, ou neste caso Lucifugus


Lucifugus,, que vem da obra De Operatione Dæmonum,
Dæmonum,

1 O mago inteligente pode, no entanto, estabelecer um pacto que favoreça tanto ele próprio como o Espírito.
As instruções dadas no Grand Grimoire 
Grimoire  – ou qualquer outro Grimório – são por vezes intencionalmente confusas ou
enganadoras, enquanto noutros casos escondem pistas à vista de todos. A análise de diferentes edições dos grimórios é
também muito enriquecedora.
51
Demónios” , de (pseudo-)Michael Psellus1. Nesta obra o autor fornece um sistema de
“Sobre a Operação dos Demónios”,
classicação dos vários tipos de dæmons ou espíritos, organizando-os em seis grupos:
dæmons ou

· os ígneos, associados ao elemento Fogo;


· os aéreos, associados ao elemento Ar;
· os aquosos ou aquáticos, associados à Água;
· os terrenos ou terrestres, associados à Terra;
· os subterrâneos, que residem nas profundezas da terra;
· e os heliofóbicos, chamados lucífugos, que são avessos à luz solar.

Os vários tipos de dæmons  organizam-se assim num esquema que contém os 4 elementos aristotélicos mais
dæmons organizam-se
duas categorias de espíritos que são avessos à luz: os subterrâneos (por razões óbvias) e os lucífugos, que
‘fogem da luz’2. Assim, não existe aqui qualquer elemento angelical ou divino, uma vez que todos estes grupos
estão inseridos na realidade material formada pelos 4 elementos e pela ausência de luz.  Na realidade, segundo Psellus,
os demónios lucífugos são o pior dos seis grupos, pois apesar de todos os dæmons  odiarem Deus e o Homem,
dæmons odiarem
os lucífugos são eminentemente maliciosos e enganadores, superando o intelecto do Homem com fantasias
e ilusões, com intenção de o destruir. Psellus acrescenta que “os subterrâneos e os lucífugos, se eles se poderem
insinuar para dentro dos pulmões daqueles que os encontram, agarram-nos e sufocam-nos, tornando-os epilépticos e
insanos”.. Terrível.
insanos”
E falando em “terrível”, aproveito para partilhar convosco a fotograa de uma criatura horrenda chamada
Lucifugus, conhecida por assombrar os pesadelos de muitas pessoas:
 Myotis Lucifugus,

É um morcego. Só.3

1 (2010). Michael Psellus on the Operation of Dæmons.


COLLISSON, Marcus (2010). Michael Dæmons. Golden Hoard Press.
2 É importante reparar que neste caso, lucífugo ('lucifugus' no texto original em latim) não se refere a apenas uma
entidade – como é o caso de Lucífugo Rofocale – mas a um grupo de espíritos ou dæmons
dæmons cuja
 cuja característica principal é a
sua aversão à luz.
3 Não é "só" um morcego. Na verdade, 'morcego' em latim é "vespertilio", derivado de "Vesper", Vénus como
Estrela do Anoitecer. O aspecto 'claro' de Vénus é Lúcifer, a Estrela da Manhã. A simbologia é forte.
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“ROFOCALE” – O ENIGMA DE LUCIFUGE

O nome “Rofocale” foi sem dúvida o mais desaante dos dois. O nome não parecia ser latim, nem eu me
lembrava de qualquer nome ou palavra latina remotamente parecida com “Rofocale”. Percorri dicionários de
latim, grego e hebraico sem qualquer sucesso.
Parecia haver uma pista sobre este nome no texto do Grand Grimoire,
Grimoire , pois quando Lucifuge concorda com
as condições do pacto e mostra a sua assinatura, ele diz que a forma de o chamar é pronunciando a palavra
“Rofocale”. Isto é muito signicativo em termos mágicos, pois implica que a palavra “Rofocale” é um sigilo
 (um mantra
sonoro (um
sonoro mantra)) de Lucifuge – ou posto de outra forma, o nome “Rofocale” representa Lucifuge
 Lucifuge.. Mas como?
Fiz muitas pesquisas sobre esta palavra, até que
q ue encontrei uma teoria que, de tantas vezes repetida como se de
um facto
um comprovado se tratasse, merece ser aqui mencionada.
 facto comprovado se

A HIPÓTESE “ROFOCAL=FOCALOR” – UM ANAGRAMA DOS DIABOS

Na minha procura pelo signicado do nome Rofocale, eu tropecei em algumas fontes que diziam que “Rofocal”
(se eliminarmos o ‘e’ nal, que não é pronunciado) é um anagrama de “Focalor”, o nome de um espírito da
Goetia, estabelecendo assim uma possível ligação com base nos
 Ars Goetia, no s seus nomes. Pelo que eu sei, esta suposição
parece advir do livro clássico de Elizabeth M. Butler, “Ritual Magic”,
Magic”, primeiro publicado em 1949, o qual foi
extremamente inuente até aos nossos dias . 1

Enquanto é certamente verdade que as letras que compõem o nome “Rofocal” são as mesmas que compõem
o nome “Focalor”, explicar o signicado de “Lucifuge Rofocale” associando-o a Focalor parece obscurecer esta
questão, em vez de a iluminar  (desculpem).
 (desculpem).
De acordo com o texto da Goetia
Goetia,,

«O quadragésimo-primeiro espírito é F OCALOR


OCALOR , ou Forcalor, ou Furcalor. É um duque
 poderoso e forte. Ele aparece na forma de um homem com asas de grifo. O seu ofício é assassinar
homens e afogá-los nas águas, e afundar navios de guerra, pois ele tem poder sobre os ventos e
o mar, mas não fará mal a ninguém se assim for ordenado pelo exorcista. Espera regressar aos
Sétimos Tronos dentro de 1000 anos. Governa 30 legiões de demónios, e o seu selo é este:

Selo de F OCALOR
OCALOR , 41o espírito da Goetia.

1 Por exemplo: GUILEY, Rosemary Ellen (2009). The Encyclopedia of Demons and Demonology.
Demonology . Infobase Publishing.
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Esta descrição tem praticamente nada  a ver com qualquer descrição de Lucifuge Rofocale, tanto por aparência
nada a
como por funções:

• Lucifuge Rofocale é descrito como o “Primeiro Ministro do Inferno”, tendo poder sobre riquezas materiais
e tesouros. Ele tem três cornos (ou o que por vezes parece ser um chapéu de bobo), pernas de bode e cascos,
e uma cauda, enquanto segura uma bolsa com moedas e uma espécie de anel ou arco 1. Existem algumas
variações subtis nas representações de Lucifuge Rofocale, mas todas elas seguem um padrão semelhante.

• Focalor é descrito como um duque forte e poderoso, tendo poder sobre os ventos e os mares, sendo capaz de
afogar homens e destruir navios de guerra. Aparece na forma de um homem com asas de grifo.

Aparentemente não existem razões para acreditar que o nome “Rofocal(e)” possa ser explicado pela sua
associação ao espírito Focalor. No entanto, numa edição francesa do Grand Grimoire existe
Grimoire existe uma representação
de Lucifuge Rofocale como uma esnge alada, o que poderia trazer alguma substância a esta conexão 2.

Apesar de tudo, na maioria das edições o carácter de Lucifuge aparece de forma bem diferente. Não mostra
uma esnge ou criatura alada, mas em vez disso a cabeça estilizada do próprio Lucifuge, e um sigilo. Pode ser
algo como isto:

1 Ou um corno! É curioso reparar que o "anel" aparece de formas diferentes nas várias representações de Lucifuge.
Em algumas é um anel ou arco, noutras é um corno, enquanto noutras Lucifuge está literalmente a "passar através do
anel", enquanto segura um segundo anel mais pequeno (!!). Estas discrepâncias são curiosas e serão melhor exploradas na
segunda parte deste texto – "A Imagem".
2 STRATTON-KENT, Jake (2009). The True Grimoire.
Grimoire. Scarlet Imprint.
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ou isto:

ou isto:

Não há asas, nem esnges, nem grifos, nem nada


nada.. Tal como acontece nas imagens de Lucifuge, existem algumas
variações no carácter e sigilo do espírito, mas todos eles seguem mais ou menos o mesmo padrão.
A explicação do nome “Rofocale” pela sua associação ao espírito goético Focalor permanece assim inconsistente
e, em última análise, ilógica. É uma coincidência que Rofocal (sem o ‘e’ nal) seja um anagrama de Focalor, da
mesma maneira que Bael  é um anagrama de Beal
Bael é Beal,, respectivamente o nome do 1º espírito da Goetia
Goetia,, e um nome
alternativo para Berith, o 28º espírito goético – e no entanto, ambos são universalmente reconhecidos como
entidades muito diferentes.

ABRAMELIN MOSTRA A CHAVE

Foi depois de eu aprender esta teoria “Rofocal=Focalor” que a resposta veio até mim: d e forma completamente
inesperada, e mesmo à frente dos meus olhos.
Eu estava a ler o Livro III da Magia
da  Magia Sagrada de Abramelin o Mago,
Mago , o qual contém uma série de quadrados com
letras, com vários poderes mágicos. Com algumas poucas excepções, os quadrados neste livro são perfeitos
 palíndromos,, isto é, os quadrados podem ser lidos da mesma forma tanto do início para o m como o inverso.
 palíndromos
No terceiro capítulo são mencionados quatro quadrados usados “para fazer aparecer qualquer espírito, e tomar
etc” . Um desses quadrados mágicos é este:
qualquer forma, seja de homem, animal, ave, etc”.

55
Primeiro eu notei na primeira linha soletrando “Lúcifer”. As palavras seguintes não tinham qualquer
signicado para mim 1, mas quando cheguei à última linha... algo de repente fez sentido. “ REFICUL” – “Lúcifer”
contrário  – soou-me muito familiar, pois fazia-me lembrar o segundo nome do espírito que eu estava
escrito ao contrário –
a investigar: Lucifuge Rofocale.
Bom... porque não? Se Lucifuge é “aquele que foge da luz” e Lúcifer é o “portador da luz”, então faria
perfeitamente sentido que o “sombrio” Lucifuge fosse o inverso  do “luminoso” Lúcifer – num sentido bem
inverso do
literal2. Assim, tornou-se claro para mim que “Rofocale” foi uma forma de codicar a verdadeira natureza de
Lucifuge, enquanto ao mesmo tempo serviu para manter o segre do escondido à vista de todos, trocando-se as
vogais correctas por outras – até mesmo adicionando o ‘e’ nal para complicar ainda mais as coisas.
Isto vem conrmar a suspeita anterior, quando primeiro abordámos o nome “Rofocale”, de que “Rofocale”
(Recul, inversão de Lúcifer, o “portador da luz”)
luz” ) signica o mesmo que “Lucifuge” (Lucifugus, “aquele que
luz”).
 foge da luz”).

“ROFOCALE” – CHAMANDO LUCIFUGE PELO SEU NOME

“ Resposta e Acordo do Espírito:

«(...) Também aprovo o teu Livro, e dou-te a minha verdadeira assinatura em pergaminho,
que axarás no nal, para a usares conforme precisares. Além disso, coloco-me à tua disposição,
 para aparecer na tua presença à tua chamada quando,
chamada  quando, estando puricado, e empunhando o terrível
Bastão Explosivo, abrires o Livro, tendo traçado o círculo cabalístico e  pronunciado a palavra
 ROFOCALE . Prometo-te ter relações amistosas com aqueles que estiverem forticados pela posse do
dito Livro, onde está a minha verdadeira assinatura, desde que me invoquem com consideração,
de forma amigável e de acordo com as regras, na primeira ocasião em que precisarem de mim.
Também me comprometo a entregar-te o tesouro que procuras, com a condição de manteres o
segredo inviolável para sempre, seres caridoso para com os pobres e me dares uma moeda de ouro
ou prata no primeiro dia de cada mês. Se não o zeres, serás meu para sempre.

– LUCIFUGE ROFOCALE, APROVADO

Tendo em conta aquilo que eu escrevi anteriormente, o que aconteceria se trocássemos a palavra “Rofocale”
por “Recul”? Não faria sentido?...
Esta inversão de nomes, de “Lúcifer” para “Recul”, é sem dúvida o aspecto mais interessante de Lucifuge
Rofocale e aquele que merece a mais demorada reexão, pois é precisamente aí que se esconde a sua verdadeira
natureza.
Deixarei esse assunto para um próximo capítulo. Por enquanto, irei debruçar-me sobre a simbologia presente
simbologia presente
nas várias representações de Lucifuge Rofocale.

1 Excepto a palavra na segunda linha, por razões unanimemente


unanimemente óbvias.
 óbvias.
2 Este facto é de suma importância nesta investigação, tal como será explicado adiante.
56
Parte II:

"A IMAGEM"

LUCIFUGE ROFOCALE: fonte primária.

«(...) A gente do campo, todavia, continuou a aderir às suas antigas imagens. Nos meios rurais,
o «inimigo» não aparece para ensinar losoa; proporciona antes conselhos de natureza mais prática e,
em vez de tesouros de sabedoria, dá-lhes dinheiro. Ao camponês, ele aparecia e ainda o faz sob a forma
bestial de épocas remotas, com chifres, cascos e cauda. É assim que o representam os livros negros do
século passado, usando ainda, ocasionalmente, um casaco franjado, como se tivesse de pagar tributo aos
 progressos da civilização. Ostenta os três chifres como um gorro de bobo e as suas patas de bode são
as do seu antepassado Pã. Como traz dinheiro consigo, são muitos aqueles que o olham com simpatia;
 porém, tal dinheiro não proporciona uma riqueza duradoura, uma vez que depressa se converte em
excremento de cavalo ou cinzas. É por essa razão que os feiticeiros estão sempre ansiosos por se verem
livres de numerário tão efémero: tratava-se literalmente de dinheiro ígneo, porquanto se inamava
quando lançado por terra. O demónio adopta por vezes uma forma bovina, como podemos ler no livro
de conjurações “A Galinha Preta”, embora traje uma antiquada sobrecasaca bordada e folhos. Contudo,
tal não chega para torná-lo mais amável: vestido de veludo e rendas, continua a ser o antigo inimigo,
um monstro formidável.»

– SELIGMANN, Kurt (1948), “The History of Magic”, Pantheon Books Inc.

57
Inicio esta parte com duas coisas que eu adoro. A primeira é aquela que eu considero ser a imagem mais
emblemática de Lucifuge Rofocale – aquela que eu chamo a “fonte primária” ou
primária” ou “progenitora” de quase todas as
“progenitora” de
outras versões tradicionais da imagem. Devido à clareza da imagem, é essa que eu vou usar como modelo de
comparação quando explicar os elementos das várias ilustrações de Rof ocale. Eu também tenho uma fotograa
de outra imagem de Lucifuge, que vou partilhar de seguida, que me parece ser um “estágio intermédio” entre
esta gura original e as outras: não tão simbolicamente carregada como a imagem original 1, nem tão pobre
em detalhes como as versões posteriores. Resta saber se a minha “fonte primária” não terá sido ela própria
inspirada noutra gravura mais antiga, pois a edição francesa acrescenta por baixo da gura: d’après une gravure
 (“segundo uma gravura antiga”). Seja como for, aquilo que importa destacar nestas duas imagens
ancienne (“segundo
ancienne
neste momento é a minúcia do detalhe pois,
detalhe pois, ao contrário das restantes, são extremamente claras.

LUCIFUGE ROFOCALE: fonte secundária.

A segunda coisa que eu mais gosto neste início é um parágrafo em que eu considero que Kurt Seligmann
conseguiu captar uma parte essencial da simbologia de Lucifuge Rofocale – não s ó pela maravilhosa descrição
do “espírito dos pactos”, como também por referir que o dinheiro dado pelo diabo é efémero. Essa qualidade
efémera do “dinheiro do diabo” é ilustrada precisamente pela fonte
pela  fonte primária das imagens de Lucifuge,
Lucifuge, a imagem
que inicia esta Segunda Parte, na qual Lucifuge segura um saco virado ao contrário, deixando cair as moedas
que se inamam quando tocam no chão.

Antes de passarmos a uma análise da(s) imagem(ns) de Lucifuge Rofocale, é importante referir que as

1 Ou carregada de outra forma.


58
representações grácas das entidades extrafísicas não têm de corresponder exactamente à forma como elas se
manifestam no plano físico. Se é certo que nalguns casos as descrições se aproximam da forma como se dá a
manifestação física, também é verdade que a simbologia das imagens pode ser tanto ou mais importante do
que a própria representação. No caso deste espírito em particular e segundo a minha própria visão 1, aprendi
que tanto a descrição de Rofocale como a simbologia da sua imagem são igualmente importantes 2.
Passemos, então, ao estudo da imagem de Lucifuge:

TRÊS CORNOS... OU UM CHAPÉU DE BOBO?

Quando eu vi pela primeira vez a imagem a Lucifuge Rofocale, não consegui perceber se e le tinha 3 cornos ou
um chapéu de bobo – principalmente porque qualquer um delesd eles caria bem na imagem de Lucifuge! Vejamos:
no Tarot, a imagem tradicional do Louco mostra um homem com chapéu de bobo, segurando um saco (atado
numa vara que ele transporta ao ombro) e usando uma roupa algo parecida com a de Lucifuge. Na carta do
Diabo, por sua vez, aparece... enm... o Diabo!, com todas as características bestiais que nós já conhecemos.

Dois arcanos maiores do Tarot de Marselha: “O Louco”


L ouco” e “O Diabo”.

Nalgumas versões do Tarot de Visconti-Sforza, a carta do Diabo é bem mais parecida com a imagem tradicional
de Lucifuge, acrescentando as pernas e patas de bode. É curioso reparar, no entanto, que d os Tarocchi do século

1 Quando estudamos certas entidades, nós dirigimos, de forma consciente ou inconscientemente, alguma da nossa
energia para elas. Segundo a lei das correspondências o reverso também acontece, e a própria entidade também foca
alguma da sua atenção em nós – cada um segundo as regras, liberdades e condicionamentos característicos da dimensão
física ou extrafísica a que pertence. "Assim em cima como em baixo".
baixo" . Lembra-se?...
2 É essencial referir que a experiência com qualquer tipo de entidade é sempre individual e única.
59
XV que sobreviveram até aos nossos dias, em nenhum deles se encontra a carta do Diabo1. As cartas do Diabo
que são vendidas juntamente com os baralhos modernos são cartas de substituição.
substituição.
Mantendo-se esta dúvida sobre se Lucifuge teria cornos ou um chapéu de bobo, eu tratei de aprofundar esta
questão tentando apanhar todas as imagens do espírito que eu conseguisse. Hoje posso dizer que tenho uma
boa colecção de imagens de Lucifuge Rofocale, desde as mais antigas às mais modernas (algumas muito boas),
o que me permite armar que são na verdade 3 cornos – embora a alusão ao chapéu de um bobo se mantenha,
e não me parece que isso tenha sido despropositado.

Algumas versões da imagem mostram dois cornos em vez de três, como esta:

Existe ainda outro factor sobre os três cornos que eu gostaria de referir. No Dictionnaire Infernal de
Infernal de Collin de
Plancy, publicado pela primeira vez em 1818 , é referido um outro demónio dotado de 3 chifres – o qual, que
2

eu saiba, é o único além de Lucifuge a ser representado com esta característica peculiar. 3 Trata-se de Leonard
ou Mestre Leonardo, o “Grande Bode Negro” do Sabbat das Bruxas.

«Leonardo, demónio da primeira ordem, grão-mestre dos sabbats, chefe dos demónios subalternos, inspector-geral de
 feitiçaria, magia
magia negra e bruxaria.
bruxaria. Ele é muitas vezes chamado
chamado “Le Grand Negre”
Negre” (O Homem Negro).
Negro). Ele preside o Sabbat
sob a forma de um bode da cintura para cima; ele tem três cornos na sua cabeça, duas orelhas de raposa, pêlos nos como
cabelo, olhos inamados e muito abertos, uma barba de bode, e uma face no seu traseiro. As bruxas adoram-no beijando-o
na face inferior enquanto seguram uma vela verde nas mãos. Por vezes ele assemelha-se a um cão de caça, ou um boi, ou
um grande pássaro preto, ou um tronco de árvore com uma face sombria acima. Os seus pés, quando ele comparece no
Sabbat, são sempre de um ganso. Entretanto, pessoas com experiência de terem visto o Diabo no Sabbat observaram que ele
não tem pés, de todo, quando assume a forma de um tronco de árvore, e noutras circunstâncias extraordinárias. Leonardo
é taciturno e melancólico; mas em todas as assembleias de bruxas e demónios onde ele é obrigado a aparecer, ele mostra-se
em vantagem e faz uso de uma solenidade soberba.»
Eu não sei se existe alguma ligação entre Leonard e Lucifuge, até porque o Grand Grimoire data,
Grimoire data, segundo se
acredita, de inícios do século XIX – que é precisamente a altura em que o Dictionnaire Infernal foi
Infernal foi publicado. Se
existiu alguma inuência directa ou indirecta eu sinceramente não sei – no entanto, acredito que não se trata
de uma coincidência. Eu explicarei a minha opinião quando falar sobre o anel, arco ou corno (instrumento
musical de sopro) que Lucifuge Rofocale segura numa das mãos.

1 Artigo de Mary K. Greer (em Inglês) – "Tarot e cartas de jogar na Bruxaria": www.marykgreer.com/2008/04/09/
tarot-and-playing-cards-in-witchcraft
2 A versão que inclui as famosas imagens de Louis Breton só foi publicada mais tarde, em 1863.
3 Existiu não um demónio, mas uma gura gura divina da tradição celta chamada TARUOS TRIGARANOS, um touro com três
cornos, que teria estado associado à fertilidade da terra e aos mistérios do 'outro mundo'.
60
(Mestre) LEONARDO , Senhor do Sabbat das Bruxas.

Eu não sei se existe alguma ligação entre Leonard e Lucifuge, até porque o Grand Grimoire data,
Grimoire data, segundo se
acredita, de inícios do século XIX – que é precisamente a altura em que o Dictionnaire Infernal foi
Infernal foi publicado. Se
existiu alguma inuência directa ou indirecta eu sinceramente não sei – no entanto, acredito que não se trata
de uma coincidência. Eu explicarei a minha opinião quando falar sobre o anel, arco ou corno (instrumento
musical de sopro) que Lucifuge Rofocale segura numa das mãos.

Na fonte primária:
Tratam-se claramente de 3 cornos, sem qualquer margem para dúvidas. O corno do meio, no entanto, tem um
formato muito peculiar, diferente dos outros.

Na fonte secundária:
Não é tão claro que se trate de cornos, devido à sua forma estranha. Há a sugestão de um chapéu de bobo.

61
UM SACO DE MOEDAS E UM TESOURO

Em quase todas as imagens de Lucifuge aparece um tesouro, um monte de moedas caído (ou guardado) no
chão. E em quase  todas as imagens de Lucifuge ele segura um saco, do qual existem algumas variações que
quase todas
são dignas de nota. Em algumas imagens, ele apenas segura um saco com moedas – ou pelo menos presume-
se que sejam moedas ou dinheiro, sendo ele o espírito que detém o controlo sobre as riquezas e tesouros do
mundo – enquanto uma espécie de tesouro (monte de moedas) é visível no chão. Noutras imagens Lucifuge
segura um saco, enquanto outro saco com moedas (visíveis) está caído no chão. E numa terceira variação, que
me parece ser das mais relevantes ao nível simbólico, Lucifuge seg ura um saco de moedas virado ao contrário,
deixando-as cair para o chão. Quando elas tocam no chão, inamam-se. Nesta variação, não existe qualquer
tesouro ou monte de moedas.

Diferentes versões do saco com moedas e do tesouro no chão.

Também houve algo que eu não referi quando falei dos dois arcanos do Tarot, o Louco e o Diabo, e que tem
precisamente a ver com o saco de Rofocale. O Louco do Tarot transporta um pequeno saco com todos os bens
que possui – o que signica o seu desapego em relação às coisas materiais. Lucifuge, por outro lado, guarda
tesouros no seu saco, os quais se transformam em cinzas quando lançados por terra – mostrando a natureza
ilusória e transitória dos tesouros, honrarias ou riquezas materiais que ele traz.
Existem até outras variações nas quais nem sequer existe um saco de moedas! Nelas vê-se, apesar de tudo,
um tesouro escondido (enterrado?) no chão, estando Lucifuge a protegê-lo, parado em cima dele. Esta é uma
dessas versões:

62
Na fonte primária:
Não existe qualquer tesouro. O saco de moedas segurado por Lucifuge está virado ao contrário, deixando as
moedas cair, que se inamam quando tocam no chão.

Na fonte secundária:
Lucifuge segura um saco (vazio?), e outro saco com moedas visíveis está caído no chão. A minha suspeita de
que o saco segurado por Lucifuge está vazio baseia-se no f acto de ele parecer não conter qualquer peso dentro
dele (moedas, etc) devido à sua posição meio de lado. Um saco cheio de moedas não estaria de lado, como que
esvoaçando, mas sim pendurado. É claro que pode apenas ser liberdade artística por parte de quem desenhou
esta imagem... No entanto, pode haver aqui um trocadilho propositado, baseado na palavra latina follis
latina  follis,, "saco"
ou "fole" (literalmente um "saco de ar"), sugerindo a mesma natureza ilusória e efémera do "dinheiro do diabo"
que está presente na fonte primária. Curiosamente, a palavra latin  follis  é a origem etimológica das palavras
 follis é
inglesas folly
inglesas  (loucura) e fool
 folly (loucura) e fool (louco).
 (louco). O Louco do Tarot também carrega um "saco de ar"...

UMA CAUDA

«Neste comenos tremeu a Terra e, logo depois desta convulsão, a Lua, toda manchada de laivos
de sangue, desceu rapidamente sobre a encruzilhada de Nevilly e, apenas tornou a subir para o seu
lugar, um grande senhor apareceu fora do círculo, no qual a virtude das palavras mágicas lhe vedava
a entrada.
O corpulento senhor, mais alto do que Siderol, por toda a grandeza do barrete de Sganarello, tinha
 grandes e revoltados cornos de carneiro sobre a cabeça, um enorme rabo de macaco que graciosamente
movia por entre as pernas, pés de bode e em cima de tudo isto uma cabeleira de bolsa e um vestido
escarlate agaloado de ouro, porque é sempre neste aparato que o Diabo costuma aparecer às criaturas.
Se alguma vez chamardes por ele, vereis, cheios de horror, a gura que vos acabo de mostrar.»

– “O Grande Livro de São Cipriano ou O Tesouro do Feiticeiro”; terceira parte, “Engrimanços


Diabo” , capítulo II.1
de S. Cipriano ou Os Prodígios do Diabo”,

A cauda é uma das características sempre associadas ao Diabo. Apesar de o Livro de S. Cipriano mencionar um

1 Uma das minhas edições preferidas de O Grande Livro de São Cipriano é


Cipriano  é a edição portuguesa da Nascente, uma
chancela da 20|20 Editora. Aconselho também a tradução inglesa do mesmo livro pelo lusitano José LEITÃO: The Book of St.
Cyprian – The Sorcerer's Treasure,
Treasure , publicado em 2014 pela Hadean Press.
63
macaco” , a verdade é que não existe, que eu saiba, nenhuma tradição demonológica que associe
“enorme rabo de macaco”,
o rabo do Diabo a algum animal em especíco. No entanto, encontramos o mesmo motivo em divindades da
natureza – usadas como fonte de inspiração para criar a imagem clássica do Diabo  – como o deus cornudo Pan:

Seja qual for a verdadeira origem da cauda do Diabo (isto é, Lucifuge), ela parece simplesmente representar
uma maior ligação à natureza animal/terrena do que no comum mortal,
mortal , conrmando assim Lucifuge como o “senhor
das coisas materiais”.

UM ANEL , UM ARCO? OU UM CORNO!

Este parece ser o elemento que sofreu mais mutações ao longo do tempo, sem dúvida por descuido nas
reproduções e reproduções de reproduções a
reproduções  a que a imagem de Lucifuge Rofocale foi sujeita ao longo do tempo.
Para explicar melhor aquilo que eu quero dizer, passo a mostrar três imagens distintas:

Um anel muito estranho...

Não é interessante como na primeira imagem (à esquerda) Lucifuge segura um arco ou um anel, na segunda
segura qualquer coisa que não se percebe (por motivos anatómicos não pode ser um aro/anel como na
primeira imagem), e na terceira Lucifuge está a passar através do mesmo anel? A sequência, posta desta forma,
através do
quase parece um truque de ilusionismo. Se isto foi propositado ou não, eu não sei, mas é sem dúvida curioso.
A imagem mais à direita faz parte de um conjunto de imagens similares que mantêm algumas diferenças em
relação às versões mais conhecidas, como as duas primeiras – principalmente no saco de dinheiro que não
existe, e de exibirem dois anéis em vez de um. Curiosamente, a imagem que está mais próxima daquela que eu
chamo a “fonte primária” é a do centro, aquela em que não se percebe bem o que é aquilo que Lucifuge está a
segurar. A mesma representação tosca foi feita noutras imagens:

64
Vericando a "fonte primária", percebe-se perfeitamente o que é este "anel esquisito":

Trata-se de um corno – um instrumento musical de sopro em forma de corno.


É curioso que em todas as descrições de Lucifuge Rofocale que eu já li, em nenhuma  delas se explica o que
nenhuma delas
é aquele anel, qual a sua função, nem porque é que nalgumas imagens ele não parece, de todo, um anel. A
resposta está precisamente no corno mostrado na "fonte primária", e não é difícil imaginar como é que os erros
de representação foram transformando o corno, primeiro em algo que não se percebia bem, depois num arco,
e nalmente numa espécie de "portal" em forma de anel que Lucifuge parece estar a atravessar.

65
Agora a irresistível questão: porquê um corno?
Eu referi antes uma possível ligação entre Lucífugo e Leonardo, um demónio referido no Dictionnaire Infernal
de Collin de Plancy como sendo o "homem de negro" do Sabbat das Bruxas, baseando-me no facto de ambos
terem traços caprinos e ostentarem três cornos. Bom, eu n ão sei se existe de facto alguma ligação, mas quando
q uando
descobri que o "anel misterioso" na verdade era um corno, isso levou-me a considerar outras hipóteses.
Em primeiro lugar, porque
lugar, porque é
 é que Lucifuge, um demónio representado com três cornos, pernas e cascos de bode,
tocaria um corno?
Nós vemos algo muito semelhante em tradições europeias relacionadas com a Caçada Selvagem. Nas tradições
célticas e germânicas, a Caçada Selvagem é uma horda de espectros fantasmagóricos que atravessam a noite
liderados pelo Rei da Caçada Selvagem, HERNE, o Deus Cornudo, o qual toca um corno como que a chamar os
espíritos e a anunciar a subversão da ordem vigente.

H ERNE
ERNE , o Caçador – ilustrado por George
George Cruikshank, c. 1843.

Segundo a tradição, a Caçada Selvagem ocorria entre o início do ano celta, por volta do início de Novembro
(a festa do “Samhain” dos neo-pagãos) e o Solstício de Inverno, que correspondia ao festival “Jul” ou “Yule”
dos povos nórdicos. Esta era uma altura do ano tradicionalmente associada a um aumento da actividade
paranormal, desfazendo-se temporariamente o “véu” que separa os dois mundos, material e espiritual (ou
ctónico). A Caçada Selvagem está associada, dessa forma, a um tempo entre os tempos e
tempos  e a um espaço entre os
espaços,, aquele espaço e tempo que não são espaço nem tempo, nem luz nem trevas, nem vida nem morte, nem
espaços
sono nem vigília, mas ambos e nenhum ao mesmo tempo – o Caos primordial, no qual a Ordem do universo
é suspensa temporariamente e se regressa à “Idade de Ouro” governada por Saturno, o Deus Negro. 1 Não é
sem razão que o Diabo aparece sempre nas encruzilhadas, já que na encruzilhada, no sítio onde os caminhos
se cruzam, estamos num espaço que nem é um caminho nem é o outro, mas é ambos e nenhum ao mesmo
tempo. Este é um dos fundamentos teóricos da Caçada Selvagem segundo as tradições antigas e modernas de
Bruxaria. É inegável também a associação clara entre a Caçada Selvagem e o Sabbat das Bruxas, mas com uma
diferença fundamental: enquanto o primeiro é uma incursão do mundo dos mortos no mundo dos vivos, o
segundo é celebrado num espaço e tempo além do mundo dos vivos. 2

1 (1996).  Masks of Misrule.


 JACKSON, Nigel (1996). Masks Misrule. Capall Bann Publishing.
2 (2013). Apocalyptic Witchcraft.
GREY, Peter (2013). Apocalyptic Witchcraft. Scarlet Imprint.
66
O Rei da Caçada Selvagem sempre foi chamado por muitos nomes: poderia ser o celta Gwynn ap Nudd ou
o germânico Wotan, um deus muito romantizado na era moderna mas que era originalmente um guerreiro-
xamã furioso, sábio e traiçoeiro, conhecedor dos mistérios da morte e da magia. Por vezes podia ser uma
deusa, como Herodias (Aradia), Hécate, ou Frau Holda, enquanto para os cristãos era o Diabo que liderava a
Caçada Selvagem. De facto, o Rei da Caçada Selvagem está intimamente associado à gura do Deus Cornudo,
chamado ora CERNUNNOS ora KARNAYNA nas correntes gardneriana e alexandriana do Wicca. Este era o senhor
dos mistérios da vida e da morte, mostrado em certos casos como uma divindade sentada numa postura
que faz lembrar as asanas  yôguicas, e rodeado de animais. Pela sua íntima associação à Natureza, o Deus
asanas yôguicas,
Cornudo está também associado a plantas e árvores, por vezes assumindo até certas formas que são um
misto de humano e árvore. Não é, assim, coincidência que muitos destes animais e símbolos correspondam
precisamente a algumas das formas assumidas pelo demó nio Leonardo quando preside ao Sabbat das Bruxas.
Haverá quem pense que estabelecer uma conexão entre Lucifuge e o Deus Cornudo é um passo de gigante,
tendo-me eu baseado apenas em semelhanças fortuitas – e é bem possível que o seja, e que as semelhanças
sejam apenas coincidências. No entanto, as “coincidências” não acabam aqui: na verdade, isto é apenas o
início.

 Altar de C ERNUNNOS
ERNUNNOS , com Apollo e Mercúrio. Museu
Museu Saint-Remi (Reims – França).

Nesta imagem, por exemplo, vemos Cernunnos segurando um saco de onde jorram moedas, como a corrente
de um rio, o que simboliza o poder de Cernunnos sobre as riquezas do submundo –
submundo – como Plutão, o deus do
submundo e das riquezas subterrâneas. Um motivo semelhante é encontrado nas imagens de Lucifuge, que
nós já estudámos, que o mostra vertendo para o chão as moedas de um saco.
Existe ainda outra imagem (bem mais conhecida) de Cernunnos, que deve também ser aqui referida:

67
Repare-se no "anel" (aliás, torque) segurado por Cernunnos. Parece familiar?

Esta imagem de Lucifuge também é curiosa, pois mostra Lucifuge a passar através  do anel maior, como se se
através do
tratasse de um portal, ou um rito de iniciação. Na verdade, existem alguns círculos megalíticos que contêm
pedras com buracos naturais, que fazem parte de uma antiga tradição de "passar através do anel". Segundo se
acreditava, essas "passagens" na pedra eram guardadas por espíritos ou fadas, e o acto de passar através da
pedra teria efeitos milagrosos – nalguns casos, a cura de uma doença, ou o advento de uma gravidez desejada.
Uma dessas pedras situa-se em Mên-an-Tol, na Cornualha, Reino Unido:

68
Até agora eu explorei diversas gravuras de Lucifuge Rofocale, em que tentei expor a minha interpretação
de alguns detalhes que diferem entre elas. Alguns desses detalhes terão sido surpreendentes para algumas
pessoas, enquanto outros não foram assim tão surpreendentes. Eu não esperava outra coisa: na verdade,
"trata-se apenas de mais uma representação do Diabo" , em que muito já foi escrito sobre esse assunto e já há poucas
investigações novas que nos consigam surpreender. Certo.
A novidade que eu tenciono introduzir neste estudo reside, no entanto, na conciliação entre o estudo das
gravuras de Lucifuge que foi feito no capítulo anterior e as descobertas descritas na 1ª Parte sobre a relação
entre Lucifuge e Lúcifer: ou mais precisamente, entre "Rofocale" e a inversão de Lúcifer (Recul). Sendo
Lucifuge representado por uma gura teriomórca (humana e animal), em que medida é que isso se torna
relevante quando compreendemos que Lucifuge é o inverso  de Lúcifer? Em que é que a descrição de Lúcifer
inverso de
segundo os grimórios nos poderá
pod erá ajudar, para que possamos compreender melhor a gura de Lucifuge? É isso
que eu me proponho a fazer neste capítulo.
Segundo a descrição presente no Grimorium Verum:
Verum:

«Lúcifer aparece na forma de um bonito rapaz. Quando zangado ele aparece avermelhado; no entanto,
não existe nada de monstruoso nele.»

Outras descrições de Lúcifer existem. A descrição seguinte é dada na Clavicula Salomonis De Secretis 1, um
"manual das bruxas" capturado pela Inquisição veneziana no ano 1636 da Era Comum, e que foi um dos livros
que inspiraram tanto o Grand Grimoire como
Grimoire como o Grimorium Verum:
Verum:

«Lúcifer aparece como um jovem, de muito boa aparência, mais bonito do que se consegue descrever. Os
seus olhos irradiam como a imagem do Sol, e quando ele ca zangado, eles enchem-se de vermelhidão.
No entanto, não existe nada de assustador na sua forma.»

Ilustração de LÚCIFER  segundo o "Dictionnaire Infernal" de Collin de Plancy.

1 PETERSON, Joseph H. (2018), Secrets of Solomon,


Solomon, Twilit Grotto Press.
69
Como podemos vericar, as fontes tradicionais apresentam sempre Lúcifer em forma humana, sem qualquer
característica monstruosa. Lucifuge, por outro lado, é um monstro formidável, e isto leva-nos precisamente ao
cerne desta questão. Eles são, sem qualquer dúvida, opostos
opostos:: enquanto um tem uma forma humana belíssima
além de qualquer descrição, o outro tem a aparência bestial dos antigos deuses da natureza, provocando
pânico só de vê-lo.1
Há aqui, no entanto, um aspecto que não pode ser ignorado: ambos são aspectos de uma mesma realidade! E é
precisamente no Grand Grimoire que
Grimoire  que se encontra esta pista.

LÚCIFER É LUCIFUGE!

Para quem ler certas partes do Grand Grimoire sem


Grimoire  sem ideias pré-formadas, é bem claro que Lúcifer é Lucifuge. Na
realidade, isso torna-se óbvio logo na Primeira Conjuração, "dirigida ao Imperador Lúcifer", quando Lucifuge é
vez :
conjurado a primeira vez:

« Imperador  LÚCIFER , Mestre e Príncipe dos EspíritosE spíritos Rebeldes, eu te conjuro a abandonar a
tua morada , seja qual for a parte do mundo em que se situe, e venhas aqui comunicar comigo.
Ordeno-te e conjuro-te em Nome do Poderoso Deus vivo, Pai, Filho e Espírito Santo, a aparecer sem
barulhos e qualquer cheiro maldito, a responder com voz clara e inteligível, ponto por ponto, a tudo
o que te perguntar, sem o que serás certamente forçado à obediência pelo poder dos divinos  ADONAI  ,
ELOHIM  ,  ARIEL ,  J EHOVAH 
EHOVAH  , T 
 AGLA ,  M   , e por toda a hierarquia das inteligências superiores, que
 ATHON 
te forçarão contra a tua vontade. Venité! venité! Submiritillor LUCIFUGE , ou o tormento eterno te
dominará pelo grande poder deste Bastão Explosivo. In subito.

Se LÚCIFER  não se apresentar depois de estas palavras serem pronunciad as , então deverá realizar
a segunda conjuração (...)»

A mesma pista é repetida na Segunda e na Terceira Conjurações. De seguida, depois de o pacto celebrado entre
o Mago e o Espírito, a "Promessa do Espírito" está escrita de forma que o Espírito se refere sempre a si mesmo
como "Lúcifer", em vez de "Lucifuge" como seria de esperar. Por outras palavras, dizer que Lúcifer é Lucifuge
não é apenas uma suspeita, mas algo que está bem explícito no texto do Grand Grimoire.
Grimoire .

Parte III:

“O REFLEXO”

O título desta Terceira Parte é sugestivo, na medida em que da mesma forma que “Recul” (Rofocale) é o
‘espelho’ de “Lucifer”, assim também os sigilos de Lucifuge correspondem aos mesmos sigilos de Lúcifer, mas
espelhados.. Esta é a hipótese que eu proponho aqui, em primeira mão.
espelhados
No mundo dos grimórios e da Tradição Salomónica existem vários sigilos de Lúcifer, alguns deles até com
algumas variações. Aqueles em que me irei centrar nesta parte são apenas dois sigilos que estão incluídos
no Grimorium Verum,
Verum, mais um do Grimório de Armadel.
Armadel . Existem outros sigilos noutros grimórios que são
igualmente interessantes, mas para o que eu quero demonstrar, estes chegam. São eles:

1 A palavra "pânico" deriva do nome do deus grego Pan, com cornos, pernas e cascos de bode, e cauda!
70
Sigilos de Lúcifer. À esquerda: os caracteres de Lúcifer segundo o Grimorium Verum.
 À direita, a verde: o sigilo de Lúcifer segundo o Grimório de Armadel.
Armadel.

Dos sigilos do Grimorium Verum,


Verum, vou apenas focar-me no sigilo triangular à direita e no símbolo abaixo, do
qual irei tratar à parte dos restantes 1. Não vou preocupar-me em tentar interpretar o símbolo circular, pois ele
parece ter sido copiado de fontes anteriores e os caracteres são agora i ninteligíveis. Estes, no entanto, parecem
ter sido baseados nalgum tipo de escrita mágica, como aquela conhecida como Passing the river  ("Passando
 ("Passando o
rio"), descrita por Agrippa nos seus Três
seus  Três Livros de Filosoa Oculta.
Oculta .
Algo que se pode destacar logo de início é que dos sigilos de Lúcifer que incluem triângulos (como é este caso),
esses triângulos são sempre  descendentes – isto é, dois vértices para cima, e um para baixo. O sigilo presente
sempre descendentes
no Grimório de Armadel é
Armadel  é especialmente interessante, pois não só aparece gravado a verde (a cor de Vénus)
no documento original, como também inclui um símbolo que faz lembrar um  Ankh  egípcio, ou o símbolo
 Ankh egípcio,
astrológico de Vénus.
Lúcifer sempre esteve associado a Vénus. Sendo o "Portador da Luz", Lúcifer representa Vénus enquanto
Estrela da Manhã, que nasce antes do Sol como que anunciando o "nascimento da luz". O seu irmão era
Vesper, a Estrela do Anoitecer que, sendo visível depois de o Sol se ter posto, era uma espécie de "anunciador
da noite". Transportando esta simbologia dual de Vénus para este estudo, temos também dois pares de
opostos-complementares: Lúcifer, o "portador da luz", e Lucífugo, "aquele que foge da luz". Esta equivalência
não é por acaso: na verdade, o nascer e o pôr do Sol são os dois momentos do dia mais poderosos para
respectivamente Lúcifer e Lucífugo, pois encarnam o princípio já mencionado, no contexto da Bruxaria
Tradicional, de inbetweenness  – nem luz nem treva, nem dia nem noite. Uma reexão mais aprofundada sobre
inbetweenness –
isto, nomeadamente no contexto dos grimórios e das guras quase míticas dos mágicos Rei Salomão e São

1 Este reserva-nos uma surpresa agradável!...


71
Cipriano, permitirá tirar algumas conclusões interessantes acerca daquilo que eu acabei de escrever 1. Como
disse antes, o meu objectivo não é mostrar verdades mas
verdades  mas sim provocar
sim  provocar consciências,
consciências , já que o trabalho é sempre
individual.
Divagações luciferinas à parte... Depois de chegar a estas conclusões acerca de Lucifer e Lucifuge, aquilo que
eu z foi simplesmente inverter  ou espelhar  os
inverter ou   os sigilos de Lúcifer, de forma a obter os sigilos de Lucifuge. O
resultado foi este:

Apesar do segundo ter sido aquele que eu achei mais interessante num aspecto simbólico, foi o primeiro que
me despertou mais a atenção. Na realidade, sempre que olho para este sigilo não consigo ver outra coisa senão
os braços e cornos de Lucifuge Rofocale!

 Já o segundo sigilo invertido é muito interessante pois


pois aquilo que antes era um
um Ankh  ou um símbolo de Vénus,
 Ankh ou
torna-se agora um dos símbolos astrológicos da Terra, ou o símbolo alquímico do
d o Antimónio. Esta equivalência
é interessante na medida em que demonstra a estreita relação de Lucifuge com o plano material, através da
sua associação ao símbolo da Terra. Já na Alquimia, o Antimónio era também chamado o “Lobo Cinzento”,
pois quando derretido ele “devora” os outros metais, como o cobre, o estanho e o chumbo, formando ligas
metálicas2.

1 O Rei Salomão era crente no deus de Israel mas prestava homenagem aos deuses estrangeiros. O seu nome em
hebraico, Shlomo
Shlomo,, poderá estar relacionado com Shalim
Shalim,, uma gura divina da mitologia ugarítica que encarnava Vénus
como Estrela do Anoitecer. Cipriano, por sua vez, era sacerdote e feiticeiro, e o seu nome deriva de Chipre (Cyprianus
= "homem de Chipre" em Latim), que era a ilha sagrada da deusa Afrodite (Vénus). Em Latim, "Cypris" era também um
nome de Vénus.
2 Adam McLean: "Animals in the Alchemical Tradition" [
Tradition"  [http://www.alchemywebsite.com/animal.html
http://www.alchemywebsite.com/animal.html].].
72
– Símbolo astrológico da Terra, ou:
– Símbolo alquímico do Antimónio.

A associação do Antimónio (e por arrastamento, neste contexto, de Lucifuge) a um "lobo devorador" é muito
curiosa, pois faz-me lembrar os lobos, dragões e serpentes das mitologias mundiais que devoram o Sol ou a
Lua durante os eclipses. E na verdade, o Grande Livro de São Cipriano parece
Cipriano  parece conter uma referência subtil a um
eclipse lunar, na história – já mencionada na Parte II – em que Siderol invoca o Diabo numa encruzilhada:

«Neste comenos tremeu a Terra e, logo depois desta convulsão, a Lua, toda manchada de
laivos de sangue , desceu rapidamente sobre a encruzilhada de Nevilly e, apenas tornou a subir para
o seu lugar, um grande senhor apareceu fora do círculo, no qual a virtude das palavras mágicas lhe
vedava a entrada.
O corpulento senhor, mais alto do que Siderol, por toda a grandeza do barrete de Sganarello, tinha
 grandes e revoltados cornos de carneiro sobre a cabeça, um enorme rabo de macaco que graciosamente
movia por entre as pernas, pés de bode e em cima de tudo isto uma cabeleira de bolsa e um vestido
escarlate agaloado de ouro, porque é sempre neste aparato que o Diabo costuma aparecer às criaturas.
Se alguma vez chamardes por ele, vereis, cheios de horror, a gura que vos acabo de mostrar.»

Durante um eclipse lunar a Lua ca de facto avermelhada, como se estivesse manchada de sangue. Lucifuge
Rofocale, "aquele que foge da luz",
luz", seria neste aspecto simbolizado pelo "astro eclipsante" 
eclipsante"   que provoca o
obscurecimento da luz lunar. Não é sem razão, também, que na perspectiva indiana, o Nodo Lunar Norte,
associado a uma Serpente ou Dragão cósmico, é chamado o "Devorador", pois é representado a devorar os
luminares durante os eclipses. Poderá isso esconder uma associação inteligente para o nome alternativo do
Grimoire  – o Dragão Vermelho?
Grand Grimoire – Vermelho?

O Dragão Vermelho – o Eclipsante.

73
Finalmente, na próxima secção irei explorar o último e mais interessante dos três sigilos de Lúcifer, pois trata-
se de uma descoberta fundamental na minha investigação:

CLAUNECK – O GUARDIÃO DOS TESOUROS

O Espírito Clauneck é mencionado no Grimorium Verum e


Verum e é importante para esta investigação, pois eu acredito
que ele poderá ser uma chave para o enigma de Lucifuge.

No Grimorium Verum,
Verum, Clauneck é o primeiro de 18 Espíritos subordinados e é descrito da seguinte forma:

«Clauneck tem poder sobre bens e riquezas; pode descobrir tesouros escondidos a quem zer um
 pacto com ele; pode conceder riqueza,
riqueza, pois ele é muito amado por Lúcifer. Traz dinheiro
dinheiro de muito
longe. Obedece-lhe e ele obedecer-te-á.»

 O seu sigilo é este1:

Aquilo que primeiro me despertou a atenção foi o facto de, tal como Lucifuge, Clauneck também estar associado
a riquezas, e trazer tesouros a quem zer um pacto com ele. Além disso, há outra surpresa sobre Clauneck:

 À esquerda: sigilo de Clauneck.


Clauneck.
 À direita: sigilo de Lúcifer, invertido.

1 PETERSON (2007).

74
Isto é extremamente interessante. Lucifuge Rofocale jamais aparece no Grimorium Verum – no entanto, aqui
temos o exemplo de um Espírito mencionado no mesmo grimório, que aparentemente tem as mesmas funções
de Lucífugo, e que além disso tem como a sua marca o sigilo invertido de Lúcifer. À luz desta descoberta, não
deixa de ser curioso o facto de, segundo aquilo que tenho vindo a de fender ao longo de todo este texto, o nome
"Rofocale" derivar da inversão do
inversão do nome "Lucifer" – ou seja, "Recul".

A ASSINATURA DE LUCIFUGE ROFOCALE

A esta altura deve ser claro para o meu leitor que a minha abordagem aos grimórios parte de uma interdependência
grimórios , havendo certas cifras e códigos que só conseguem ser decifrados quando se comparam
entre os vários grimórios,
os vários livros e textos. Não sei se é a forma “correcta”, mas é assim que eu trabalho. No capítulo anterior
vimos como o sigilo de Clauneck está relacionado com o mistério da “inversão de Lucifer” presente em
Lucifuge Rofocale. Agora, veremos de que forma a Assinatura de Lucifuge conrma esta descoberta:

Esta assinatura, visível em todas as edições do Grand Grimoire sempre


Grimoire sempre com a mesma forma, parece ser
dividida em duas partes: duas letras “n” minúsculas no princípio e no m, mais a parte central. Retirando as
duas letras “n” (como em “N.N.”, substituto das iniciais de qualquer nome), camos com a estrutura central
do sigilo:

Esta parte central, curiosamente, faz lembrar um Chi-Rho, um conhecido símbolo cristão que utiliza as duas
primeiras letras do nome de Cristo – XPICTOC (“Christos”) – mas na ordem inversa!

Enquanto no Chi-Rho o “P” (letra grega “Rho”) se encontra acima do “X” (letra grega “Chi”), na assinatura
de Lucifuge a posição relativa de ambos é inversa  – o que faz todo o sentido, já que na Bíblia a expressão
inversa –
“Estrela da Manhã” (Lúcifer) é usada como sinónimo de Jesus Cristo. O inverso de Lúcifer/Cristo seria, assim,
representado por um sinal semelhante ao Chi-Rho, mas em que as letras que o compõem ocupassem lugares
inversos..
inversos
Além disso – e aqui está aquilo que eu acho realmente interessante – a parte essencial da assinatura de Lucifuge
realmente interessante
(o tal “Chi-Rho” invertido) faz-me lembrar algo que nós já vimos antes.
Na verdade, eu arriscaria dizer que a assinatura de Lucifuge é uma ultra-simplicação do sigilo invertido de
ultra-simplicação do
Lúcifer, ou do sigilo de Clauneck:

75
 Já as duas letras "N" levaram-me a concluir que poderiam ser iniciais de palavras – como acontece no texto
do Grand Grimoire,
Grimoire, em casos em que em vez de se escrever o nome de alguém, escreve-se "N.N.". Tratando-
se da assinatura de "Lucifuge Rofocale", essas letras seriam "L" e "R". Algo muito semelhante existe no
Verum, assim como nos Segredos de Salomão e
Grimorium Verum, Salomão  e nas Clavicules du Roi Salomon par Armadel,
Armadel , em que
certas invocações exigem que adicionemos as iniciais de um primeiro e de um último nome ao sigilo de um
Espírito. Acrescentando as letras certas, teríamos a autêntica  Assinatura de Lucifuge Rofocale:
Rofocale:

L R

L.R. ... ou "Lucifuge Rofocale"... ou a primeira e última letras de "Lucifer".


A Dualidade persiste até ao m.

REFLEXÃO FINAL (OU QUASE...)

Com este último capítulo eu tenciono deixar uma última provocação aos meus leitores para, no caso de verem
nas minhas palavras algo de valor que possa ser aproveitado, fazerem eles mesmos a sua própria busca em
torno destes mistérios, enigmas e códigos. É verdade que muito ca por dizer e por mostrar – no entanto,
acredito que este texto despertará o interesse de algumas pessoas que, como eu, sentiram uma chamada para
explorarem os dois caminhos, o luminoso e o tenebroso, apenas para descobrirem que, no nal, os dois são
apenas um. Deus e o Diabo andam de mãos dadas. A ilusão da separação só existe na nossa mente, e no
medo irracional que ainda nutrimos por tudo aquilo que ainda não compreendemos, ou que achamos que vai
 contra as regras do “politicamente correcto” do mundo moderno. No entanto, o mundo moderno
 perigosamente contra
 perigosamente
é apenas uma máscara que nos transmite a falsa segurança de que tudo conhecemos e tudo controlamos. É uma
armadilha do Ego, que tudo deseja controlar, conhecer, qualicar e quanticar. A realidade, no entanto, não
é assim tão simples. A verdade só pode ser descoberta no limítrofe
limítrofe,, no extremo
extremo,, n’Aquilo que não é nem deixa
de ser ao mesmo tempo. Em tempos, houve quem tenha dado um Nome a este Mistério Supremo: ABRAXAS
Supremo:  ABRAXAS..
Para nós, isto não é mais do que as Duas Faces de Janus/Jaun, o u os dois aspectos de Vénus: LUCIFER e REFICUL.

76
(Reconstrução de uma imagem tradicional de Lucifuge por Tiago "Nerve" Gonçalves)

77
Parte IV:
Anexos

ANEXO 1 – LUCIFUGE ROFOCALE NOUTROS GRIMÓRIOS?

Nas pesquisas sobre Lucifuge Rofocale e a sua referência única no Grand Grimoire,
Grimoire, procurei por possíveis
fontes deste texto, de forma a tentar descobrir “antecessores” deste curioso espírito em grimórios anteriores.
Um dos grimórios que inspiraram directamente o Grand Grimoire foi
Grimoire foi o Grimorium Verum,
Verum, considerado um dos
mais inuentes livros europeus de magia negra. Aquilo que se torna interessante neste caso é comparar a lista
dos seis espíritos inferiores entre o Grand Grimoire e
Grimoire e o Grimorium Verum.

Os seis espíritos

inferiores, segundo:

Grimorium
Grimor ium Verum: Grand Grimoire:

1. Put Sa
Put Sata
tana
naki
kiaa Lucifugé Rofocale
2. Agalierap Satanachia
3. Tarchimache   Agaliarept
4. Fleruty Fleurèty  
5. Sagatana Sargatanas
6. Nesbiros Nebiros

Algo em que reparamos imediatamente é que cada lista tem uma entidade aparentemente sem correspondente
na outra lista. Por exemplo, Lucifuge Rofocale não
Rofocale não gura no Grimorium Verum,
Verum, enquanto Tarchimache  não tem
Tarchimache não
lugar no Grand Grimoire.
Grimoire . A primeira tentação seria considerar que um é o outro, apenas com nomes diferentes.
O primeiro problema nesta hipótese é que os dois espíritos ocupam lugares diferentes na hierarquia, e o
segundo problema é que nada é dito no Grimorium Verum sobre
Verum sobre as características e funções de Tarchimache 1.
Quando estudamos os grimórios e reparamos em alguma lacuna ou algo que não faz sentido, o melhor é
procurarmos os textos que por sua vez inuenciaram o(s) grimório(s) em estudo. E neste caso, essa é realmente
a melhor solução. Existe um texto, pelo menos, que foi a fonte de inspiração para o Grimorium Verum e
Verum e para o
Grimoire : trata-se do grimório Clavicula Salomonis De Secretis,
Grand Grimoire: Secretis , apelidado aqui neste texto como Segredos
de Salomão .
2

Quando comparamos a “hierarquia infernal” presente nos Segredos de Salomão  Salomão   com as suas equivalentes
no Grimorium Verum e no Grand Grimoire,
Grimoire , reparamos que ela tem muito de semelhante àquelas presentes
nos outros dois grimórios, o que seria de esperar – mas também tem algumas diferenças signicativas que,
curiosamente, parecem preencher as lacunas e ao mesmo tempo esclarecem as diferenças entre o GV e o
GG – em especial esta questão de Tarchimache
Tarchimache   (GV) e Lucifuge Rofocale 
Rofocale  (GG). É por isso que estes estudos
comparativos se tornam tão importantes.
Quem já estudou o Grimorium Verum poderá
Verum poderá pensar que eu estou louco se disser que Tarchimache e Agalierap,

1 É dito apenas que Tarchimache é subordinado a Beelzebuth.


2 Ver a este respeito: PETERSON, Joseph H. (2018), Secrets of Solomon,
Solomon, Twilit Grotto Press. Ver também: Grimorium
Verum (2007),
Verum (2007), do mesmo autor.
78
duas entidades aparentemente bem distintas no referido
refe rido texto, são exactamente o mesmo. Na verdade,
ve rdade, não só
são exactamente o mesmo, como os seus nomes são duas partes do mesmo nome original. E isso eu só entendi
quando estudei os Segredos de Salomão.
Salomão .
Para ilustrar melhor aquilo que estou a dizer, passarei a mostrar-vos uma tabela de comparação dos seis
espíritos inferiores nos Segredos de Salomão,
Salomão , no Grimorium Verum,
Verum, e no Grand Grimoire:
Grimoire:

Os seis espíritos

inferiores, segundo:

Segred
Segredos
os de Sal
Salomã
omão:
o: Grimor
Grimorium
ium Veru
erum:
m: Grand
Grand Gri
Grimoi
moire:
re:

1. Syrach Put Satanakia Lucifuge Rofocale


2. Satanachi Agalierap Satanachia
3. Aga
Agaterapta
tarr Kymath Tarchimache Agaaliarept
Ag
4. Fteruthy Fleruty Fleurety  
5. Serphagathana
Se Sagatana Sargatanas
6. Resbiroth Nesbiros Nebiros

Sabendo que estas listas seguem uma ordem cronológica, desde a mais antiga (Segredos
( Segredos de Salomão)
Salomão ) até à mais
moderna (Grand
(Grand Grimoire),
Grimoire ), compreenderemos que:

– Nos Segredos de Salomão,


Salomão , o primeiro dos 6 espíritos inferiores chama-se Syrach. Por contraste, no Grimorium
 Syrach não é um dos seis espíritos inferiores, mas sim um Duque que governa sobre o utros 18 espíritos
Verum Syrach
Verum
subordinados;

– Tendo cado vago o lugar de Syrach


Syrach,, a hierarquia foi modicada de duas formas:

· No Grimorium Verum colocou-se
Verum colocou-se Put Satanakia no primeiro lugar e ao mesmo tempo foi acrescentado
outro nome após Agalierap:  “Tarchimache”. Estes dois nomes, Agalierap e Tarchimache, são
claramente derivados do nome de um espírito dos Segredos de Salomão,
Salomão, AGATERAPTAR KYMATH, mas
dividindo-o de forma diferente: “Agaterap–” tornou-se “Agalierap” no GV, e “–tar Kymath” cou
“Tarchimache”1.

· No Grand Grimoire a
Grimoire  a hierarquia original foi mantida (apenas com as pequenas diferenças nos nomes,
tal como no GV), mas com a diferença nítida no primeiro dos espíritos inferiores: em vez de Syrach,
temos agora Lucifuge Rofocale.

Com este raciocínio ca assim desmonstrado que Tarchimache não é igual a Lucifuge Rofocale, mas na verdade
é o mesmo que Agalierap, ou Agaliarept.

1 Nas Clavicules du Roi Salomon, par Armadel,


Armadel, Livro Terceiro, também anteriores ao Grimorium Verum,
Verum, é quando uma
divisão nítida parece ter sido feita. Neste caso temos dois espíritos, Agateraptor e Himacth, com selos diferentes.
79
Em relação a Syrach e Lucifuge Rofocale, trata-se de uma relação curiosa. No Grimorium Verum é
Verum é referido Syrach
mas não Lucifuge, enquanto no Grand Grimoire acontece
Grimoire  acontece o oposto. Já nos Segredos de Salomão,
Salomão , Syrach ocupa
o lugar de Lucifuge na hierarquia dos seis espíritos inferiores segundo o Grand Grimoire,
Grimoire, mas tem também o
cargo de Syrach segundo o Grimorium Verum,
Verum, governando igualmente sobre 18 espíritos subordinados.
Tirando isto não há muito mais a dizer, pois nenhuma descrição de Syrach é fornecida, nem nos Segredos de
 nem nas Clavicules du Roi Salomon par Armadel,
Salomão nem
Salomão Armadel , excepto que ele está sob as ordens
orde ns de Lúcifer e tem dois
sigilos: um correspondente a Syrach na Europa, e outro correspondente a Syrach na Ásia (os dois continentes
de Lúcifer):

Ou nos Segredos de Salomão:


Salomão :

80
ANEXO 2 – TABELA DOS ESPÍRITOS

Clavicules du Roi
Clavicula Salomonis Grimorium Grand
Salomon, par
De Secretis Verum Grimoire
Armadel

3 Espíritos Lúcifer Lúcifer Lúcifer Lúcifer


Belzebuth Belzebut Beelzebuth Beelzebuth
Superiores Elestor E le s t or Astaroth Astaroth
Syrach Sirachi – Lucifuge R.
Satanachi Satanachi Satanakia Satanachia
Agateraptar 
Agaterap tar  Agateraptor 
Agaterap tor  Agalierap Agaliarept
6 Espíritos
Kymath Himacth Tarchimache –
Inferiores
Fteruthy – Fleruty Fleurety
Serphagathana Stephanata Sagatana Sargatanas
Resbiroth – Nesbiros Nebiros
Claunth Elantiel/Chaunta Clauneck Bael
Reschin Resochin Musisin  Agares
Beschard Bechar Bechard  Marbas
Frimodth Frimoth Frimost Pruslas
Klepoth Klepoth Klepoth  Aamon
K lio Klic/Kleim K h il Barbatos
Mertiel Mertiel Merlde Buer 
18 Espíritos Glithret Sirumel/Selytarel Clistheret Gusoyn
Subordinados Sirchael Sirechael Sirchade Botis
a Syrach Hepath Hepoth Hicpacth Bathim
(excepto GG) Segol Fegot Humots Pursan
Humeth Humet Segal Eligor  
Frulthiel Frulhel Frucissière Loray
Galand Galant Guland Valefar 
Surgath Surgatha Surgat Foraii
Menail Menail Morail  Ayperus
Fruthmel – Frutimière Naberus
Hurchetmigaroth Glitia Huictiigaras Glasya Labolas

Tabela de comparação dos vários Espíritos nos 4 Grimórios.

81
ANEXO 3 – "BEM E MAL": OU SERÁ ASSIM MESMO?

É importante notarmos que considerar um "demónio" como uma entidade "negativa" e um "anjo" como uma
entidade "positiva" é apenas uma criação do modelo de pensamento religioso/moralista de origem judaico-
cristã, que ainda perdura na forma como muitos interpretam estes assuntos.
Mas e se... um demónio não fosse realmente demoníaco
demoníaco?? Eu evitarei usar a palavra "demónio" ao longo de
todo este texto precisamente por causa desses condicionamentos culturais de que muitos acabam por ser
vítimas. Depois, como pensam que estão a lidar com "demónios" que são "maus", convém, quando se decidem
a invocar o Diabo, que se protejam com os nomes potentíssimos de Deus: Adonay, Elohim, Ariel e Jehovah –
tudo exactamente como está escrito nos grimórios, pois é assim que tem de ser. Se algo falhar, será a danação
eterna para o mágico. Disparates.
Para um pagão, um 'demónio' que rege sobre as tempestades seria um "deus da d a tempestade"; outro que regesse
o dinheiro ou as aquisições materiais, seria o "deus da riqueza". Por outras palavras, o facto de lhes chamarmos
 ou deuses
demónios ou
demónios  só reecte aquilo que nós pensamos sobre eles, e não aquilo que eles são.
deuses só
Se mantivermos a nossa mente aberta a esta possibilidade, perceberemos então que tal como no mundo
material, alguns espíritos são pacícos e amorosos, e outros são autênticos  lhos da puta puta.. Regra geral, anjos
são considerados "anjos" porque são entidades que pertencem a planos de existência mais 'elevados' do
que o material / energético, e como tal a sua co-criação  juntamente com o Mago será dirigida para ns mais
co-criação juntamente
relacionados com a espiritualidade. Por outro lado, "demónios" são considerados dessa forma uma vez que
existem em níveis mais 'baixos', e mantêm, por isso mesmo, maior poder sobre as realidades material e
energética – sendo assim mais frequentemente chamados para ns mundanos
mundanos,, práticos
 práticos,, do dia-a-dia. Se alguns
não se importariam de reduzir o leitor  a
 a cinzas? Com certeza que não. Mas todos são necessários, cada um com
uma função diferente. "Assim em cima como em baixo".
baixo" . Lembra-se? Não sei se me faço entender... 1
Enm. Isto daria para várias páginas de texto, mas a minha intenção não é explicar como fazer um pacto com
o diabo. Aquilo que eu considero importante reter com esta mensagem pode ser resumido em três pontos:

· "Bem" e "Mal" são classicações morais e/ou religiosas criadas pelo ser humano, para que ele possa
ter a ilusão de que conhece tudo o que o rodeia, incluindo as realidades superiores – ou inferiores – ao
ilusão de
mundo físico;

· O contacto com realidades suprafísicas implica que o homem (re)conheça a sua própria 
própria  realidade
suprafísica, para que possa movimentar-se em ambos os planos com mestria e não seja vítima das
circunstâncias que ele próprio propiciou;

· No círculo mágico, por vezes o maior inimigo do mágico é ele próprio. Assim como o seu maior amigo.

1 Por outras palavras, os  lhos da puta existem


os lhos puta existem tanto "cá em baixo" como "lá em cima"! Assim como os bonzinhos
bonzinhos!!
82
ANEXO 4 – GALERIA DE LUCIFUGE

UM ESTUDO COMPARATIVO DAS DIFERENTES VERSÕES DAS IMAGENS DE LUCIFUGE


(OU: UMA "CRONOLOGIA SEM DATAS" DAS IMAGENS DE LUCIFUGE)

"Cronologia sem datas" não deixa de ser uma expressão curiosa, e irónica. A questão – e por isso é que tem
mesmo de ser "sem datas" – é que grande parte das imagens de Lucifuge que eu consegui reunir até hoje
foram retiradas de cópias em PDF de diferentes edições do Grand Grimoire,
Grimoire , as quais, como é óbvio, não contêm
elementos sucientes para que se possa identicar os anos
ano s das referidas edições. Assim, esta tentativa de uma
"cronologia sem datas" resulta apenas num
n um primeiro estudo comparativo das diferentes representações de Lucifuge
Rofocale,, em que me baseei nas semelhanças e diferenças das várias imagens de forma a poder estabelecer,
Rofocale
de um modo mais ou menos seguro, quais são as imagens originais e quais são as imagens derivadas dessas
originais.
Passemos então ao estudo propriamente dito, agrupando as imagens em 4 tipos + 1:

TIPO 1 – FONTE & IMAGEM(NS) DERIVADA(S):

Esta primeira é a mais óbvia de todas. As imagens são semelhantes em todos os pormenores, havendo apenas
a diferença na qualidade e nos pequenos
pequen os detalhes, que me permitem armar com toda a certeza que a imagem
à esquerda é a imagem original.

83
TIPO 2 – FONTE & IMAGENS DERIVADAS:

Esta variação e as suas derivadas distinguem-se por, ao contrário da Fonte 1, o "corno de sopro" já não ser
tão óbvio como na imagem original. Tratam-se, de facto, do "estágio de transição" entre o desenho do corno e
desenho do arco (vide Tipo 3, já a seguir).

TIPO 3 – FONTE & IMAGENS DERIVADAS:

A imagem original (à esquerda) parece ser original de uma edição italiana, e parece ser o protótipo das
imagens que mostram Lucifuge já com um arco, em vez de um corno de sopro. De reparar também que aquilo
que parece ser uma "tampa do tesouro" no chão, na imagem original, já não é tão perceptível nas imagens
derivadas.

84
TIPO 4:

Entre estas imagens e outras semelhantes, não consegui descobrir


des cobrir uma que pudesse ser a imagem-fonte. Todas
elas mostram Lucifuge com características semelhantes: 2 cornos em vez de três, sem roupa, e segurando um
anel enquanto passa através de um anel maior, como se se tratasse de um "portal".

TIPO 5 – IMAGEM ÚNICA:

85
Esta imagem é tão diferente de qualquer outra que merece a sua própria categoria especial. Contém o mesmo
pormenor presente naquela que eu chamei a "fonte primária" (Tipo 1), com o saco invertido e as moedas
inamando-se quando tocam no chão. No entanto, ao contrário dessa imagem, onde Lucifuge segura um
instrumento de sopro em forma de corno, nesta ele também está como que a passar "através do anel", à
semelhança das imagens do Tipo 4. Também ao contrário de qualquer outra, nesta imagem a ponta da cauda
de Lucifuge está enrolada ao seu braço esquerdo. Outro pormenor curioso: apesar de ser uma imagem de
Lucifuge Rofocale, ela é legendada como se se referisse ao Imperador Lúcifer ("L'Empereur
( "L'Empereur Lucifer",
Lucifer", em cima).
É preciso fazer mais comentários?

AGRADECIMENTOS E DEDICATÓRIA:

Este texto nunca teria sido possível sem a ajuda de algumas pessoas cujo apoio, consciente ou inconscientemente,
foi essencial ao longo de todo este processo. Falo em “processo” porque para mim foi realmente um processo
– por vezes doloroso e outras vezes recompensador, em que muitas vezes pensei que iria caminhar para a
minha própria auto-destruição e só quis desistir, e noutras vezes senti que a minha mão era guiada por Algo
que eu não sei bem descrever. Só sei que este foi o artigo mais difícil e mais recompensador que eu escrevi até
hoje. Descobri muitas coisas sobre mim próprio ao longo deste processo, e percebo agora que eu tinha de o
escrever. Porquê? Não sei nem consigo adivinhar. E se o leitor quiser que eu seja sincero, ainda hoje não sei se
fui só eu que escrevi isto...
* Ao esforço e paciência invejáveis do meu Irmão, Tiago “Nerve” Gonçalves, pelo trabalho admirável com a
imagem de Lucifuge Rofocale. You’re THE Man!
* Aos membros dos grupos do Facebook: “Solomonic – Secrets of the Magickal Grimoires” e
Grimoires”  e “Magic & Grimoires” –
Grimoires”  –
um grande OBRIGADO pela vossa ajuda essencial, apesar de poder ter parecido simples ou sem importância.
* Aos autores: Joseph H. Peterson, Jake Stratton-Kent, Aaron Leitch, e o lusitano José Leitão – os vossos
trabalhos foram para mim uma verdadeira musa inspiradora. Obrigado! Thank you!
* À minha querida amiga A.C. – as tuas intuições revelaram-se mais acertadas do que tu ou eu alguma vez poderíamos
imaginado. Obrigado! :)
ter imaginado. Obrigado!
* E nalmente:
 A São Cipriano:

Que com a mão direita celebra a Missa


e com a mão esquerda comanda o Sabbat;
Que a Experiência há 19 anos revelada pela Tua Sabedoria
 possa agora servir como Farol no meu caminho.
Que os Teus passos sejam os meus passos,
E que a Tua aprendizagem seja também a minha aprendizagem.

 AMEN!

Luís Gonçalves
Quarta-feira, 26 de Setembro de 2018

86
A Visão de Fausto, por Luis Ricardo Falero (1851-1896), circa 1880, óleo sobre tela.

Quem estiver habituado a procurar malmequeres nos campos terá às vezes encontrado,
nas colinas cobertas de ervas, faixas circulares de um verde mais escuro onde a vegetação é
mais densa e mais alta. Muitas vezes os semicírculos formam uma perfeita circunferência;
essas faixas têm diâmetros e larguras diferentes: parecem traçadas com compasso e cam
vermelhas no outono, com um diadema de tortulhos e outros criptógamos de vivas cores.
Velha tradição arma que as fadas aí dançavam sua ronda ao luar...
As fadas — inocentes e alegres deidades da natureza — sempre trazem consigo a
vara das metamorfoses e têm acolhedor sorriso nos lábios; exuberante alegria expande-se
ao seu redor em maravilhosos dons, e sob seus passos leves a erva cresce em abundância; a
noite se ilumina com a luz fosforescente de seu voo prateado... São a própria vida encarnada
no esplendor das formas femininas; são o amor que tudo fecunda com um fulgor de seus
doces olhos!
Mas você já viu também, perto de certas ruínas mal afamadas, cheias de espíritos
maus, em volta de cemitérios abandonados ou em escarpas que desmoronam, trilhas onde a
erva nunca cresce, como se um hálito impuro tivesse por lá passado tornando a terra estéril?

87
— Avance: ar gelado passa por seus cabelos... Siga ao longo do silvado de aparência
sinistra; um instinto infalível o guia com arrepios... Deixe à esquerda o charco dos feiticeiros,
feiticeiros,
uma poça de água estagnada num côncavo, dissimulada por ramos esmaecidos de salgueiro.
As tradições ingênuas do povo proíbem a aproximação: esses pântanos sombrios, rodeados
de arbustos baixos, são respiradouros do inferno! — Ó fadas! Boas fadas! Vocês não moram
aqui: onde estarão?
Não sentiu? — O fantasma que pegou sua mão vai guia-lo e você obedece em
silêncio... Sobe o aclive abrupto onde os arbustos vermelhos parecem espectros agachados
nos vapores do crepúsculo.
Agora atravessa uma ondulação do terreno, chega a uma crista: o caminho leva a
uma charneca solitária onde a erva rala em parte amarelece...
À frente eleva-se selvagem edifício... Aproxime-se mais, é um dólmen: você vê a
pedra gigantesca, onde a faca sagrada dos druidas empurpurava-se no sacrifício prescrito
em honra a Thor e Teutad.
Escureceu completamente.
Mas eis que luar sinistro e sangrento bate no antigo altar do Moloch e da Céltica. Dir-
se-ia sangue — e talvez seja!
Vamos! A lua surgiu vermelha no horizonte de bosques, ao longe; luz estranha clareia
a cena; o ar está pesado, fétido, estagnado.
Mas como sopro errante de braseiro resfriado, no vale que assume estranha aparência,
o vento morno, mudo, de mau agouro bafeja sobre a erva rara e na moita inexível...
Agora a lua enorme se elevou e lentamente clareou a charneca, tornando nítidas as
coisas antes indistintas... Diga-me, é um caminho essa faixa
fa ixa circular que contorna o dólmen?
Não, não é um caminho. A erva está aí aparada e como que estragada por vapor
corrosivo no nível do solo. É o contrário da ronda das fadas. A fecundidade, a vida,
desapareceram.
Ainda alguns minutos e a morte vai vomitar todos os espectros de seu império: são
larvas indecisas que oscilam e se condensam com diculdade; sapos voadores, crocodilos
cujos olhos amejam, bruscamente se revezando; dragões com goelas de hipopótamo e
asas de morcego; gatos enormes, patas moles e incertas como tentáculos de polvo... Eis que
descem mulheres nuas urrando, selvagens e descabeladas,
descabeladas , caracolando sobre vassouras que
investem e recuam...
Estamos no Sabat.
Uma feiticeira faz um encantamento, agachada ao pé do dólmen: tem um punhado
de varas acesas na mão direita; molha dois dedos da esquerda num cântaro de argila entre
os joelhos. — Aie Saraie! Grita ela, Aie Saraie!... Um clarão aparece no fundo do cântaro e
pequeno animal de lá foge, ligeiro, ágil, do tamanho de um esquilo: é Mestre Leonardo. A
feiticeira levanta-se em sinal de respeito. Leonardo em um segundo cresceu dois metros, é
agora monstruoso bode com chifres retorcidos. A uorescência vaga que emana de todo seu
corpo, como pálida atmosfera, dissolve-se no ar em espirais e tem estranho mau cheiro.
Mil fogos fátuos volteiam aqui e ali pela charneca.

88
De repente um deles parece elevar-se, estala e subitamente se xa entre os chifres do
diabo.
Pois mestre Leonardo é o diabo.
De todo o horizonte, dos quatro pontos cardeais, em confusão, chegam feiticeiros,
feiticeiras e demônios. Risca o céu o voo dos espíritos e sob o olhar inamado
i namado de Hécate o ar
esverdeado escurece vagamente; a terra vela-se de sombras movediças que se entrecruzam.
Har! Har! Sabat!... gritam os recém-chegados, agrupando-se em volta do mestre que,
solícito, oferece o traseiro a cada um para ser beijado. Mas em lugar das nádegas do bode
há um rosto jovem, de rara beleza, e os sectários recebem na boca a carícia de lábios frescos
e vivos.
Urzes e ciprestes queimam por toda charneca: ardem e utuam, multicores. Melodia
invisível, qual harmônica debulhando notas sonoras de timbre líquido e de inefável pureza
se faz ouvir...
É um estranho contraste com os urros da assembleia.
Mestre Leonardo, depois da homenagem dos éis, assume um ar altivo e com
desdém sobe à tribuna dourada, à qual o altar druídico serve de pedestal; daí domina toda a
assembleia. À frente está o mestre de cerimônias, bastão de comando na mão. Faz a chamada
pelos nomes, vericando as marcas ou os estigmas.
Mas está chegando o carneiro negro, de olhos incandescentes: vem como um furacão
do setentrião, bale para acalmar aquela que traz em seu dorso. Linda moça nua vem montada
sobre sua pele macia. Está triste e chora... É a vítima esperada, a Rainha do Sabat.
Sabat .
Todos se agrupam ao seu redor demonstrando respeitosa impaciência. Descendo da
montaria enquanto é aclamada, vela a nudez na desordem de seus cabelos longos.
O mestre de cerimônias levanta a vara de outro com solenidade; o diabo se levanta,
cumprimenta a jovem, desce anal da tribuna: a missa negra vai
negra vai começar.
Sátiros humildes cavaram à esquerda uma concavidade no solo: Leonardo para lá se
dirige com grande pompa para urinar em primeiro lugar. Os mais importantes da assembleia
o imitam. É a água lustral para as aspersões — e que vai também aspergir a recém-chegada.
A seguir, os feiticeiros aí molham dois dedos da mão esquerda e se consagram às avessas.
De novo a procissão se move. Vai levar para o altar de Teutad a virgem que o bode
deve iniciar; aí recebe todos os sacramentos do inferno.
A seguir, é untada com unguento à base de cantaria e estramônio: embriaguez
titilante gradualmente invade seu corpo; começa a se torcer, enlouquecida em seu pudor
pelo automatismo do desejo.
No Introito
Introito Satanás
 Satanás manda afastar as crianças, muito jovens ainda para tomar parte
no grande mistério — com grande sacrilégio para a universal comunhão do amor. Eles
descem para os charcos do diabo,
diabo, levando varas brancas para dar de comer aos sapos, todos
aspergidos e vestidos de veludo verde ou de seda escarlate; todos têm um sino pendurado.
Entre eles e a grande assembleia, duendes do ar tecem uma nuvem espessa e Leonardo
consagra a recém-chegada.

89
Deitada sobre o altar, assustada e ofegante, recebe o acre beijo do deus. É uma dor
terrível, a queimadura de ferro em brasa; a seguir, é a angústia da invasão abundante,
gelada1...
Todos os demonólogos se eternizam em grandes detalhes 2  que não queremos
reproduzir.
A ronda desenfreada serpenteia em volta do par, com urros de alegria feroz, e
mistura, confunde os sexos e as categorias, incestuosos
i ncestuosos e sodomitas, por toda a charneca sob
o luar... O incesto é honrado sobremaneira, porque o Sabat torna-se para ele o eterno viveiro
de Satanás: “Nunca existiu perfeito feiticeiro ou encantador que não tivesse sido gerado por
pai e lha ou mãe e lho” 3.
Sobre o corpo da nova sacerdotisa — altar vivo — o bode malcheiroso ocia: oferece
trigo ao espírito da terra que faz crescer as colheitas; solta pássaros que vão levar pelo céu
noturno os votos dos assistentes ao demônio da liberdade.
Depois preparam um bolo, cozem e o consagram sobre os ancos ensanguentados
da sacerdotisa: é a Conferreatio
Conferreatio,, a hóstia do amor impuro, a oferenda do mal universal, a
comunhão infernal que se distribui a toda assembleia...
Chegou a hora do festim fraterno e os pastores impúberes trazem do pasto o batalhão
de sapos conados a seus cuidados vigilantes.
As velhas fúrias para quem o amor é agora apenas uma reminiscência duas vezes
estéril, preparam cadáveres diversos ou cozem com ervas encantadas as crianças mortas
antes de serem sacramentadas.
As taças circulam com hidromel: todos tomam, se inebriam. Os monstros
hermafroditas, os duendes com diversos disfarces, trazem guloseimas infernais para as
mesas onde o camponês se confraterniza com
c om o senhor e o prelado, onde as mais orgulhosas
damas estão ao lado dos rústicos.
rústic os. Por que as castelãs ainda desprezariam
desprezaria m os vilões... Nobres
e plebeus misturados: a grande luxúria cega também não misturou seu sangue e sua saliva?
Uma grande nuvem plúmbea devorou a lua. Só os braseiros rubros iluminam a
charneca.
Então uma voz horrível, sem som distinto, uma voz rouca e gelada se faz ouvir por
duas vezes: Vinguem-se ou morram! 
morram!  Imediatamente Leonardo levantando a cauda peluda
que encobria seu presunçoso impudor deixa cair de si grãos negros, em rosário..., depois pós
malcheirosos. Grandes pedaços de pano foram estendidos, conforme o ritual, para colher
esse esterco de várias formas precioso; são venenos, elixires e ltros: existem para o amor,
para a loucura, para a morte; há também para curas misteriosas... Algumas vezes servem
para tomar os campos estéreis, outras para infestar o ar e produzir as epidemias. Faz uma
distribuição geral.

1 contentur . — Esta
Igneam esse diaboli mentulam frigidum semen ejus, Sabbathi meretrices uma voce contentur .
citação de Sylvester Prerias diz o suciente: por essa ignomínia sem nome, tomada ao acaso entre mil pode-se
facilmente imaginar quais sejam as outras.
2 Citaremos um, em latim:
latim: Aliquid
 Aliquid turpissimum
turpissimum (quod tamen scribam),
scribam), astruunt: videlicet doemonem
doemonem incubum
uti membro genital bifurcato, ut simul utroque vase ubutatur .
3 Bodin, Demonomanie des Sorciers,
Sorciers , livro IV cap. V.
90
Anal com os cabelos emaranhados, afoita e lépida se levanta a rainha do Sabat; com
voz ressoante ameaça o céu, com o punho: — Trovão de Deus, grita a vítima triunfante,
trovão de Deus, caia, se ousar!... Depois joga-se sobre um sapo e o rasga com ódio entre os
dentes: — Ah, Filipe, se eu te apanhasse!...
Empalidece o horizonte aos primeiros clarões da aurora. Subitamente o bode
se transforma em enorme galo negro, com crista em chamas fulgurantes, e se ouve um
formidável cantar.
A assembleia se dispersa rapidamente e todos desaparecem.

Não seria possível condenar nesta curta descrição todas as insanidades, todas as
infâmias que se amontoam nos escritos de Bodin,
B odin, Lancre, Delrio, Boguet, Sprenger, Michaelis
e outros demonólogos.
Sem falar do capítulo interminável dos folguedos lúbricos — por nós restringido
a algumas linhas depuradas — não dissemos nada sobre a dança dos sapos, nem sobre
as lamentações proferidas por estes interessantes animaizinhos contra as feiticeiras que
deles tratam com pouco cuidado; nem da conssão feita ao diabo dos pecados que não
foram cometidos, nem da colheita periódica de carne humana sob os patíbulos, nem de
outros detalhes intermináveis de gosto igualmente apurado. Nossa intenção foi colocar a
tragicomédia em seu aspecto de conjunto: não é preciso dizer que tentando um agrupamento
lógico das cenas principais, não pudemos conciliar
concilia r as opiniões de todos os autores. Ao invés
de se entenderem a respeito da disposição da cerimônia, cada cad a qual inverte com arte as fases
diversas que a compõem. Todos os escritores
esc ritores dão o mesmo fundo; mas para certos detalhes
de forma, seria difícil obter perfeito acordo.
Procuraremos dar com minúcia, o que há de real nesse amálgama de fantasmagorias
lendárias, onde cada um verá o que quiser, segundo seu ponto de vista, ou seja, dramas
temíveis ou a mais burlesca das pantomimas.
Para completar o quadro contaremos em algumas linhas o que as tradições populares
dizem da invocação, do pacto, do transporte para o Sabat.
Eliphas Levi, em seu Dogma e Ritual da Alta Magia, enumera conscienciosamente
as cerimônias bizarras, odiosas ou ridículas requeridas em goetia para o efeito de conjurar
o demônio. A ele dirigimos os interessados, curiosos de especicações do gênero. Mas as
regras absolutas foram feitas para serem violadas, as prescrições imperativas para que as
evitássemos, e, de fato, nunca ou quase nunca o feiticeiro empregou esse cerimonial para
forçar o diabo a aparecer .
Os anais da bruxaria estão cheios de narrativas de invocações bem-sucedidas, sem
esse luxo de apresentação. Vê-se mesmo o diabo aparecer sem que ninguém tenha tido a
intenção de o fazer vir, gritando com voz de trovão: Por que me chamou?
Mas comumente o herói da aventura é um estudante meio pobre que, por curiosidade
passou os olhos sobre algum engrimanço colocado ao seu alcance, por acaso... São artesãos
da infelicidade, o acaso e a curiosidade! O Diabo, que é muito no, e ainda por cima mau
companheiro, grita e lança olhares ameaçadores; não quer ser incomodado à toa; ameaça, se
enfurece. Por m exige que se liguem a ele por contrato livremente consentido.
91
O pobre imprudente treme todo e não sabe como sair da difícil situação. Mas Satanás
 já acalmado torna-se paternal e faz propostas sedutoras. Não é coisa rara prometer, sob
alguma condição... Oh! quase nada. Quer apenas duas linhas de compromisso assinado por
essa mão que ainda treme.
Um pacto! eis aí! O estudante durante quatro ou dez ou trinta anos pertencerá ao
demônio de corpo e alma; nesse prazo o demônio se compromete a servi-lo com todos os
seus recursos e a defendê-lo com toda sua arte. A bolsa do pobrezinho cará sempre cheia
de dobrões e piastras. Seduzirá as mais recatadas mulheres só com um olhar; poderá se
transportar para o lugar que quiser com a rapidez do pensamento; seus desejos, quaisquer
que sejam, serão realizados assim que forem formulados em seu coração. O oferecimento é
sedutor; o infeliz não pode resistir. Assina com seu sangue a cédula em dobro: o diabo leva
uma; quanto à outra, ó maravilha! colocada sobre uma picada de alnete no braço, entra na
carne, sem aumentar o arranhão, que, ao contrário, cicatriza imediatamente.
Quem quiser conhecer o epílogo dessa espécie de aventura (sempre segundo a lenda)
deve ler a rara e curiosa obra de Palma Cayet: História Prodigiosa e Lamentável de Jean Fauste,
Grande Mago e sua Vida Espantosa.
Espantosa .
Esse é o tipo de quase todas as lendas de evocação: o fundo não varia, a forma também
não.
Aqui poderíamos chamar a evocação de acaso; em compensação o pacto é voluntário
e perfeitamente expresso.
Porque, é preciso dizer, os teólogos distinguem o pacto expresso ou  formal
 formal do
 do pacto
(ipso facto)
de fato (ipso facto) não expresso ou tácito
tácito.. Ao comer a maça, segundo eles, a mãe Eva concluiu
com o demônio um pacto tácito...
Mas trégua a essas discussões sobre ninharias de baixa escolástica. Resta-nos dizer
uma palavra sobre o transporte dos feiticeiros 
feiticeiros  para o Sabat. A maneira difere conforme o
autor e o país: a pessoa elástica do diabo presta-se a todos os usos. Seus costumes mudam
segundo os seres que ele pretende conquistar.
Algumas vezes a feiticeira sente-se arrebatada ao soar da meia-noite, por força
desconhecida que a leva pelos ares com a rapidez do vento até o lugar do Sabat. Outras
vezes Satanás aparece distintamente, sob a forma de um bode ou de um carneiro, toma-a
sobre as costas ou entre os chifres e a leva saindo pela chaminé. Em outros lugares ele
dá às vassouras a virtude que conhecemos: entre as mãos da proprietária esses modestos
utensílios tornam-se, chegada a hora, montarias infatigáveis, rápidas e éis.
Mas uma ou duas horas antes de ser arrebatada (de qualquer modo que o arrebatamento
se processe), aquele ou aquela que quer ir ao Sabat deve untar o corpo, principalmente
as coxas, o ventre e as virilhas com unguento especial — a composição varia pouco — e
Satanás e seus cúmplices têm o cuidado de manter seus éis da sinagoga constantemente
abastecidos.
O leitor não deve esquecer esta particularidade; é ponto importante anotar...
Às vezes, os candidatos aos ágapes infernais apressam a virtude maravilhosa do
unguento pelas propriedades secretas de um electuário absorvido na forma de pílula
bastante grande. Vale a pena examinar esses detalhes o mais seriamente possível; aqui
apenas os mencionamos.
92
Considerando que o capítulo VI de O Templo de Satã  instruirá
 instruirá o leitor sobre o problema
do feiticeiro em suas mais modernas encarnações, não vamos agora tocar no assunto — e
terminaremos por uma aventura estranha ouvida da boca do camponês de Lorena a quem
ela aconteceu. Vamos registrá-la como pudermos, nos termos em que nos foi contada. Quem
fala é um homem de aproximadamente 35 anos.
— Isto se passou na minha infância: devia ter cinco ou seis anos. Foi em Cutting (vila
da Lorena anexada) no outono de 1859. Uma noite em que o céu parecia tinta, estávamos
conversando em família perto do fogão de nossa cozinha quando estranha melodia foi ouvida
lá fora. Era como o canto de 15 ou 20 pessoas que tivessem adotado para a circunstância a
mesma voz de falsete. A ária, modulada em apenas duas ou três notas, não deixava de
agradar; sua monotonia mesma era impressionante.
“Corri para fora e nada vi. As vozes pareciam vir de muito alto; mas tornavam-se
sensivelmente mais claras, como se o coro se aproximasse de nós.
Fiquei com muito medo e as palavras de minha mãe não vieram me conformar: —
Tome cuidado, meu lho, é a alta caça (chamamos assim entre nós a viagem aérea dos
feiticeiros e feiticeiras em viagem para o Sabat).
Duro de pavor pus-me a parodiar esses monstros e a lhes gritar injúrias: o canto
cessou de súbito. Quando me dispunha a entrar, um osso
oss o humano caiu no meu boné, quase
me derrubando; agachei-me para apanhá-lo, mas não pude por conta do mau cheiro.
Vi minha mãe tão aterrorizada quanto eu: coisas mortas, sem nome, caíram no átrio
a seus pés, vindas pela chaminé.
Ninguém mais me verá parodiar a alta caça.”
Como dissemos, o feiticeiro também é sincero: a maior parte do tempo inabalável
em sua crença no Demônio — seu Mestre — é em nome do Inferno que vaticina, ameaça,
maldiz... e, ainda que baseando sua fé numa mentira, seu poder não é em vão.
A fé move montanhas, disse o Cristo... Triste fé, pensarão, a fé dessas pessoas! De
acordo; mas triste ou não, cega ou esclarecida, passiva ou ativa, é sempre a fé.
Que se trate de mago ou feiticeiro, não procuremos em outro lugar o segredo da  força
da força
oculta..
oculta
— Ele está aí.

GUAITA, Stanislas de. O Templo de Satã . Rio de Janeiro: Editora Três, 1973. 192 p.
Tradução de: Celina C. Salles.

93
O Sabbath das Bruxas, por Luis Ricardo Falero (1851-1896), circa 1880, óleo sobre tela.

94
O não iniciado interpreta a imaginação como algo “imaginário”, no sentido comum
da palavra, ou seja, como algo irreal. Mas a imaginação é uma realidade.
Quando um indivíduo imagina, cria uma forma no Astral, ou em um plano ainda
mais elevado; e esta forma se converte em algo real para os seres inteligentes que habitam o
referido plano, assim como as coisas materiais são reais para nós.
Esta forma criada pela imaginação pode ter uma existência transitória, produzindo
resultados não transcendentes ou importantes; e pode ser utilizada para nalidades boas ou
más, se for vitalizada.
Para a prática mágica, tanto a imaginação como a vontade devem pôr-se em ação,
pois trabalham em conjunto. E mais, a imaginação deve preceder à vontade, com o m de
produzir o maior efeito possível.
A vontade sem apoio pode criar uma corrente, e a tal corrente não será de todo
inoperante, ainda que seu efeito seja vago e indenido, porque a Vontade sem apoio não
cria outra coisa que efeitos correntes.
A imaginação pode criar sozinha uma imagem de maior ou menor duração; mas não
poderá fazer nada de importância a menos que seja vitalizada e dirigida pela vontade.
Quando ambas se somam, ou seja, quando a imaginação cria uma forma e a vontade
a utiliza e a dirige, pode-se obter resultados mágicos e maravilhosos.
As seguintes instâncias podem servir para ilustrar a operação de proteção mágica
que tenho experimentado pessoalmente e sobre a qual tenho falado parcialmente.
Há de se considerar uma particularidade, tendo em conta que aprendi esse método
através do estudo e da reexão antes de ser iniciado na Golden Dawn, posso apenas conar
o processo a outras pessoas que conheça e nas quais possa conar.
Nunca se deve esquecer que um processo oculto pode ser usado tanto para o bem
quanto para o mal. Um mago poderia aproveitar esse conhecimento para se fortalecer e se
proteger das consequências de seus atos malignos no plano oculto, energizando-se para
causar ainda mais dano aos demais. Um conhecimento leva a outro e uma chave simples
pode guiar a outras descobertas importantes.
Enquanto mais reito sobre o tema, tenho mais convicção de que esse conhecimento
não deve sair de nossa ordem.

95
Primeira Ilustração

Há poucos anos percebi que cava exausto depois de ter me encontrado com uma
determinada pessoa.
No princípio pensei que fosse o resultado natural de haver mantido uma longa
conversa com aquele ancião; mas a medida que eu me extenuava, o homem se revitalizava
nervosamente. Suponho que o ancião desconhecia que tinha um organismo
organis mo vampiro, porque
sempre foi um homem reto e benevolente que provavelmente caria horrorizado diante de
tal sugestão.
Ele nunca foi um vampiro intencional, se fosse, teria se casado com uma mulher
 jovem para recuperar as forças de seu organismo cansado.
A próxima vez em que foi visitar-me, antes de recebe-lo, me fechei para ele,
imaginando que ao meu redor, um pouco distante de mim, corria um uido ódico que era
como uma armadura impenetrável diante de qualquer corrente hostil.
Este processo mágico foi imediato e permanente. Nunca tive que repeti-lo.

Segunda Ilustração

Uma dama que esperava desenvolver-se espiritualmente se converteu em médium


passiva e sua saúde começou a perder força.
Em uma ocasião, sentindo-se muito mal, enquanto fazia uns supostos passes
de mesmerização, secretamente a protegi com uma aura como em meu próprio caso. O
resultado foi imbatível e começou rapidamente a se fortalecer novamente; e como é bem
sabido pelos estudantes de ocultismo que me conhecem, ela “parecia mais humana” e suas
experiências mediúnicas cessaram. Ela seguiu meu conselho e se manteve sã por algum
tempo. Mas depois voltou a suas experiências mediúnicas passivas e sua saúde piorou até
encontrar a morte.
Ainda não havia sido iniciado na Golden Dawn, se não haveria utilizado para minha
proteção pessoal o Pentagrama Banindo. Duas semanas depois tive um sonho muito real
no qual uma criatura elemental evocada me atacava, ferindo-me a garganta e atravessando-
me com uma corrente elétrica por todo o corpo. O sonho tinha um signicado astrológico
e, ao mesmo tempo, acreditei que havia uma base física e que o espírito vampiro que havia
se apoderado de sua vítima estava determinado a me atacar por haver interferido em seus
desígnios por algum tempo.

Terceira Ilustração

Uma dama me pediu ajuda contra um que se encontrava próximo e que a deixava
completamente exausta e enferma.

96
O homem tinha uma saúde debilitada e achei que se tratava de outro caso de
vampirismo.
Obtive a descrição do homem, mas não lhe disse quando, nem como, nem que
processo utilizaria em seu caso.
Primeiro, os imaginei se encontrado e coloquei entre eles uma barreira de defesa.
Depois a cobri completamente com uma investidura de uido ódico. Também imaginei
al redor dela o Pentagrama Ordinário de Invocação para protege-la. Os efeitos injuriosos
cessaram e não regressaram jamais
jama is e ela permaneceu para sempre indiferente aquele homem.

Quarta Ilustração

Uma dama me contou que um homem havia exercido uma fascinação peculiar sobre
ela e que sempre pensava nele, ainda que sem nenhuma intenção em especial.
Como havia recebido certa informação de que o indivíduo era praticante de Vodu,
decidi cortar a cadeia.
Os imaginei frente a frente, ele emanava correntes de uido ódico, com os que havia
enlaçado a dama. Então imaginei que eu levava uma espada na mão com a qual cortava
os tais laços, com uma tocha queimava os lamentos restantes que ainda utuavam a seu
redor.
A fascinação antinatural cessou e em poucos meses seus encontros terminaram.

Quinta Ilustração

Há alguns anos, um homem veio a mim para me contar que outro indivíduo utilizava
constantemente uma expressão profana em sua presença; tal expressão obstruía seus
pensamentos nos momentos menos oportunos.
Pareceu-me que a dita expressão era uma espécie de mantram, como chamado pelos
Ocultistas Orientais, que é uma palavra ou expressão que produz efeitos ocultos por meio
de uma vibração que infere no Akásico.
Julguei que um elemental havia sido vitalizado pelo mantram e que meu consulente
era sensível a ele. Prescrevi para que da próxima vez que ouvisse aquela expressão imaginasse
uma criatura horrível envolta na mesma profanidade, que mantivesse a dita imagem a sua
frente e que a explodisse com um cartucho oculto de pólvora desintegrando-o em átomos.
Quando nos vimos novamente ele me contou que não havia conseguido explodir o
elemental, mas havia afastado ele de si e que não causava mais problemas.

Como conclusão devo fazer uma advertência.


Ainda que seja correto e recomendável, antes de iniciar qualquer trabalho mágico,
97
consulte um Adepto; por outro lado, guarde absoluto segredo sobre o trabalho que está
realizando. Se fala sobre isso com outros, o trabalho se descentraliza e diversica, perdendo
sua força e sua efetividade, além disso há o risco de abrir suas mentes para correntes
desarmonizadas. Se for mencionado para aquele em cujo nome o trabalho é feito, ele tende
a perturbar seu equilíbrio causando um estado de expectativa nervosa, que é desfavorável
para a recepção do bem oculto pretendido.

Notas Suplementares
por G.H. Frater Non Omnis Moriar  (Dr.
 (Dr. William Wynn Westcott)

O documento de nosso Frater V.H. Resurgam me parece que requer um capítulo


preliminar introdutório mais simples.
Suas notas são valiosas e suas instâncias podem ser realizadas por vocês, sob o crédito
dele mesmo.
Posso apenas acrescentar algumas notas.
A imaginação deve ser distinguida da simples fantasia, dos pensamentos gurados
ou das visões vazias. Para que o processo mental seja ordenado e tenha resultados.
A imaginação é a faculdade criativa da mente humana, a energia plástica, o poder
formativo.
Na linguagem dos teosostas esotéricos, o poder da imaginação para criar formas
mentais é chamado Kriya Shakti, que é o misterioso poder do pensamento capaz de criar
fenômenos externos com resultados perceptíveis, inerentes à energia, quando são fertilizados
pela vontade.
Um dogma hermético antigo diz que qualquer ideia pode se manifestar externamente
pela obtenção da arte da concentração
Há um antigo dogma hermético de que qualquer ideia pode ser manifestada
externamente, se apenas, pela cultura, a arte da concentração for obtida; Da mesma forma,
é um resultado externo produzido por uma corrente
c orrente de força de vontade. A Cabala
Cabal a ensinou
que o homem, pelo seu poder criativo através da Vontade e dod o Pensamento, era mais Divino
do que os Anjos; porque ele pode criar - eles não podem. Ele está um passo mais perto do
Demiurgo, a Deidade Criativa - mesmo agora que ele está encerrado na matéria - mais
perto do que as Hostes Angélicas, embora cada Anjo seja apenas um Espírito - e não esteja
contaminado com a matéria. Até mesmo a concepção ortodoxa de um Anjo é a de um ser
que executa comandos e não de um que origina, cria e age " de novo".
novo".

Comentário

As experiências de Frater Resurgam, por aceitas ou discutidas que possam parecer, são
claras Projeções Mentais dirigidas para infundir uma maior segurança pessoal psicológica,
tanto a seus consulentes, quanto para ele mesmo.
98
Este tipo de Projeção Mental, ou Visualização Criativa, são menos ocultas do que os
Irmãos podem supor, já que inclusive em alguns cursos de vendas ou de relações humanas
se apresentam como referência para aumentar vendas ou eliminar os possíveis complexos
de inferioridade e de perseguição dos indivíduos.
É evidente que as ditas experiências são aconselháveis, pois entre outras coisas,
rearmam o caráter e ampliam a visão da realidade
realida de cotidiana, mas, por favor, não caiam em
obsessões persecutórias que o obriguem a proteger-se continuamente de tudo e de todos.
Uma pessoa pode despertar nossa simpatia ou não, nem por isso ela é um vampiro
espiritual. É mais factível que você esteja apreensivo e menos que a pessoa seja um vampiro.
A mediunidade é tão nociva e tão inócua como qualquer prática oculta. E um adepto
é tão punível como o mais ignorante dos neótos.

MATHERS, Samuel Liddell Macgregor. Los Documentos Secretos de la Golden


Dawn. 3. ed. Barcelona: Editoral Humanitas, 1996. 224 p.

99
Desculpem se o texto apresentar algum erro. Foi escrito primeiro em inglês, para
enviar a outras listas sobre a ONA, e só depois o traduzi às pressas para o português.
Há um facto curioso que nos desperta a atenção quando estudamos o Tetraedro e as
suas ligações a Saturno (como a esfera do Caos) e 3 outros "Portais Estelares" que existem,
do ponto de vista de uma pessoa aqui na Terra, perto das estrelas Dabih, Algol e Naos. De
acordo com o livro "NAOS - A Practical Guide to the Modern Magick":

"Portais Estelares são regiões no tempo-espaço onde o nosso universo causal e o


universo acausal se juntam — eles são portais físicos, e a passagem de um universo para
o outro é possível através dele. De acordo com a lenda, existem Portais Estelares perto das
estrelas Dabih, Naos e Algol: isto é, se se viajasse
via jasse a partir da Terra em direcção
di recção a uma destas
estrelas, passar-se-ia por um Portal Estelar. Existem também histórias de um Portal Estelar
dentro do nosso próprio Sistema Solar — o Portal através do qual os Deuses Obscuros
vieram para a Terra. Acredita-se que este Portal Estelar está próximo do planeta Saturno".

Lembrem-se desta explicação, pois ela será importante mais tarde nesse texto.
De acordo com o escrito "Notes on Esoteric
E soteric Tradition - Cosmic Wheel & Tetrahedron"
nós sabemos que um Tetraedro, em especial um Tetraedro de Quartzo, é o melhor instrumento
para abrir um Portal para o Acausal, isto é, para o próprio Caos primordial. É através deste
meu texto que vou tentar explicar PORQUE é que o Tetraedro é um instrumento do Caos, e
como é que ele se relaciona intimamente com Saturno e as três estrelas Dabih-Naos-Algol,
baseado nalgumas descobertas que z há algum tempo.
Em primeiro lugar devemos ver que 3 caminhos na Árvore de Wyrd que ligam as
esferas de Marte, Sol e Júpiter a Saturno (VII° - Caos). Estes são:

- O caminho de VINDEX, ligando o Sol a Saturno;


- O caminho de SAUROCTONOS, ligando Marte a Saturno;
- O caminho de NAOS, ligando Júpiter e Saturno.

E agora veremos que estes três caminhos/Deuses estão ligados às estrelas Algol,
Dabih e Naos, e como é que eles podem ser intimamente relacionados com o Tetraedro...
para abrir o Portal de Saturno (Caos).
101
Quando vemos os sigilos mostrados em CAELETHI (O Livro Negro de Satã II),
notaremos que cada um dos Deuses Obscuros é representado por um sigilo. Agora, se algum
de vocês tiver lido o texto chamado "Liber Coelum Stellarum Fixarum — A Discourse on
the Fifteen Stars", de Phil Legard, (creio que exista um versão PDF na Internet), verão que
de acordo com a "Tabela dos Sigilos das Quinze Estrelas", o sigilo antigo de "Caput Algol",
segundo o hermético De XV Stellis, é o sigilo moderno de VINDEX. E isto é perfeitamente
lógico, uma vez que VINDEX era o nome dado ao Opfer ou Sacrifício oferecido aos Deuses
Obscuros, ou alternativamente à Mãe de Sangue, Davcina/Baphomet, sendo frequentemente
decapitado. Algol ou Ras al-Ghul, a estrela Beta da constelação de Perseu, signica "a
cabeça do Demônio" em árabe e representa claramente a cabeça decepada do Sacerdote
que desempenhava o papel de Kthunae ou o Senhor da Terra, durante o Hieros Gamos.
Oswald Wirth até comparou a constelação de Perseu e a sua estrela Algol ao 12° Arcano,
que é chamado o Dependurado (sacricado/decapitado) e que corresponde a VINDEX
segundo a tradição sinistra da ONA. Dessa forma, temos uma clara ligação entre VINDEX
(Sol-Saturno) e a estrela Algol, que é um Portal Estelar.
A ligação entre o Deus Obscuro NAOS (Júpiter-Saturno) e a estrela Naos é bastante
fácil de fazer, uma vez que ambos partilham o mesmo nome.
A última correspondência entre SAUROCTONOS (Marte-Saturno) e o Portal Estelar
Dabih, é aparentemente um pouco mais difícil.
di fícil. No entanto, como veremos, é também muito
fácil, uma vez que sabemos o signicado literal de "Sauroctonos". Signica "matador de
lagarto" em grego (como Apollo Sauroctonos, que é representado a matar um lagarto).
... a estrela Dabih era chamada
cham ada pelos Árabes de "estrela da sorte do matador". Portanto,
nós TAMBÉM temos uma ligação entre SAUROCTONOS (matador) (matad or) e Dabih (matador), que
é o terceiro e último Portal Estelar.
E agora isto é extremamente curioso. Não seria tentador compararmos as esferas
do Sol, Marte, Júpiter e Saturno, e os caminhos que as unem, como os quatro vértices de
um Tetraedro Acausal, sendo o vértice do topo a esfera de Saturno, e os três caminhos em
direção a Saturno os símbolos dos outros três Portais Estelares que existem perto de Algol,
Dabih e Naos?
Vejam esta imagem de um Tetraedro:

102
E agora vejam o Tetraedro Acausal desenhado na Árvore de Wyrd e como ele se
adapta perfeitamente às esferas, aos caminhos conectando-as, e às três estrelas que são os
Portais Estelares convergindo para o Caos/Saturno:

Desta forma, o Tetraedro realmente é um fantástico símbolo para o próprio universo


Acausal, e ilustra perfeitamente os três Portais Estelares de Algol-Dabih-Naos e a sua
"União" em Saturno, a esfera do Caos e dos Deuses Obscuros (VII°).

103
O Livro da Magia Negra e dos Pactos
De Arthur Edward Waite
Disponível exclusivamente na loja online da Editora Via Sestra:

http://www.lojaeditoraviasestra.com.br/pd-5D1FCF.html
Não é à toa que O Livro da Magia Negra e dos Pactos, de Arthur Edward Waite, tenha sido uma das
primeiras obras que inuenciariam Aleister Crowley no início de sua jornada mística, mágicka e espiritual.
O livro de Waite discorre de forma ampla acerca do conteúdo dos principais grimórios de magia ne-
gra ocidentais, apresentando seus conteúdos, rituais, cerimônias, orações, sacrifícios, pactos e toda a base que
ajudou a fundamentar os alicerces, supersticiosos ou não, da Magia Negra, do Diabolismo e do Cerimonial
Mágico dos dias atuais.
O livro é basicamente dividido em duas partes.
A primeira trata da literatura da magia cerimonial; da tradição das impressões e dos trabalhos não
publicados; das distinções entre magia branca e negra; da Magia de Arbatel; da Teosoa Pneumática; do En -
quiridião do Papa Leão III; das Chaves de Salomão e dos livros a ele atribuídos ao lo ngo da história; do Quarto
Livro da Filosoa Oculta, de Agrippa; do Grimorium Verum; do Grande Grimório e do Dragão Vermelho; do
Grimório de Honório; da Galinha Preta; da Galinha que encontra tesouros; etc.
A segunda parte, nomeada Grimório Completo, apresenta os rituais completos dos principais siste-
mas mencionados na primeira parte do livro, indo da Preparação do Preparador até a Necromancia Infernal.
Todos os paramentos e utensílios mágicos são apresentados, assim como também as maneiras de fa fa--
zê-los, de acordo com os grimórios.
São descritos integralmente: rituais de evocação demoníaca; rituais de sangue; a obtenção dos pactos;
o sacrifício de animais no contexto mágico; rituais necromânticos em cemitérios; os nomes e hierarquias dos
espíritos malignos; os rituais de conjuração do Lemegeton; o rito de Lucifuge Rofocale; o genuíno Sanctum
Regnum ou verdadeiro método de se fazer os Pactos; etc.
Apresenta ainda: trabalhos de ódio e destruição; trabalhos de amor; experimentos de invisibilidade; a
Mão da Glória; o espelho de Salomão; visão de espíritos e a Necromancia Infernal.

104
A Magia de Baphomet
De Walter Jantschik
Disponível exclusivamente na loja online da Editora Via Sestra:

http://www.lojaeditoraviasestra.com.br/pd-5D1FC7.html

Com esta obra pretendo apresentar aos leitores uma introdução às áreas e disciplinas
ocultas das criações mentais mágicas,
mágic as, da magia de Baphomet, da magia do Golem, e da prá-
prá -
tica mágica da evocação.
Há poucos textos e referências na literatura oculta sobre os temas apresentados neste
livro, por isso senti uma forte necessidade de entrar em detalhes e promover mais esclareci-
mentos sobre essas interessantes áreas da magia.
O leitor cará conhecendo algo sobre a evocação mágica do Golem, a missa do Golem
e a egrégora do Golem, e entre outras coisas também, ele cará sabendo quando o Golem
aparecerá novamente no recinto do beco dos alquimistas em Praga, etc.
Além disso o leitor obterá algumas indicações interessantes, como por exemplo, a
produção de uma egrégora mágica, a descrição
desc rição da evocação de uma egrégora, e muito mais.
Depois serão mostrados caminhos para a iniciação mágico-demoníaca. Em seguida será
apresentada, pela primeira vez, a evocação mágica da entidade demoníaca Lilith. No nal
do livro, descrevo um procedimento para a produção e a utilização de uma máquina mágica
de sigilo. Espero que esta obra chegue às mãos corretas e estimule a realização de muitas
outras pesquisas relativas a este assunto!

105

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