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Indaiatuba-SP
2018
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/
Capa da presente edição: Exultação de Satã , de Richard Westall R.A. (1765-1836). Lápis e aquarela
sobre papel (56,5 x 38,7 cm), circa 1794.
1794.
Prælusio Vox Mortem,
Mortem, Mortiferum Poculum: Editorial..........................
E ditorial................................................
......................................11
................11
Obverti in Hostem:
Hostem: Exu Bode Preto, por Danilo Coppini...........................................................
Coppini............................................................13
.13
Hoc Est Enim Corpus Meum:
Meum: A Feitiçaria no Brasil Colonial, por Gilmara Cruz.....................17
Verborum Virtutem:
Virtutem: Quatro Truques Sujos, por Morbitvs Vividvs & King.............................21
King.............................21
Agrat Bat Mahalat:
Mahalat: As Demônias da Qabalah,
Qabal ah, por Inkubus......................................................
Inkubus.......................................................25
.25
Laus Satanus:
Satanus : Entrevista com "El Papa Negro", Cesar Augusto Marín....................................27
Marín....................................27
Ego Sum Diabolus,
Diabolus , por Cesar Augusto Marín...........................................................
Marín...............................................................................34
....................34
Crudum Vulnus:
Vulnus: Bruxaria e o Lado
L ado Obscuro de Yesod, por Edgar Kerval..............................37
Cruenta Victoria:
Victoria: Entrevista com U.N.C.U.L.T..............
U.N.C.U.L.T....................................
............................................
..........................................39
....................39
Lucifuge Rofocale:
Rofocale: O Código da
d a Sombra, por Luís
L uís Gonçalves.....................................................49
Gonçalves.....................................................49
Diaboli Mentulam:
Mentulam: O Sabat, por Stanislas
Stanisl as de Guaita..........................
Guaita................................................
..........................................87
....................87
Abditae Causae:
Causae: Alguns Pensamentos Sobre a Imaginação, por Frater Resurgam..................95
Agios O Vindex:
Vindex: Tetraedro, Saturno e o Portal dos Deuses Obscuros, por Luís Gonçalves ......101
Index Librorum Prohibitorum......................
Prohibitorum............................................
............................................
............................................
........................................104
..................104
Talvez seja esse o mais breve editorial que ousamos escrever para a presente edição
da Lucifer Luciferax. Breve e súbito, como o exato momento em que a famígera foice separa
o corpo animado do espírito que o habita.
Infelizmente, tivemos problemas diversos com relação aos prazos de alguns de
d e nossos
Colaboradores. O que nos fez alterar o conteúdo da presente edição, sendo também o único
motivo do atraso da edição impressa.
Nossos primeiros agradecimentos dirigem-se aos Irmãos e Amigos da Morte Súbita
Inc., em especial, D. King, Inkubus, Anarco-Thelemita e Morbitvs Vividus e aos ternos e
diletos Betopataca e Ana, da iniciativa Coisa Feita – Magia Vintage; foram vocês que nos
auxiliaram na tarefa de cobrir os hiatos e que nos ajudam constantemente nas questões mais
variadas, profundas (ou nem tão profundas assim), inclusive com a Editora Via Sestra.
Agradecimentos e cumprimentos especiais ao Templo de Quimbanda Maioral
Beelzebuth e Exu Pantera Negra, à Corrente 49, ao Danilo Coppini e à Pris Cila , pessoas que
admiramos bastante nas mais variadas esferas.
Manifestamos nossa gratidão também à talentosa historiadora e autora Gilmara
Cruz, que nos brinda nessa edição com seu trabalho A Feitiçaria
Feitiçari a no Brasil Colonial; ao Papa
Negro, Irmão Cesar Augusto Marín, herdeiro da Corrente Hectoriana; ao Irmão Edgar
Kerval; à entidade U.N.C.U.L.T que nos concedeu singular entrevista; a nosso antigo amigo
e Irmão, Luís Gonçalves, cujo extenso estudo acerca de Lucifuge
L ucifuge Rofocale gura nas páginas
do presente trabalho; ao grande amigo Leandro Márcio Ramos; à Rafaela “Mística” Von
Blomberg, pelas longas conversas e amizade.
De qualquer forma, a obra está longe de estar completa e voltamos à completa imersão
e ao silêncio.
11
Existem classes espirituais quase esquecidas dentro do Culto de Exu e Pombagira. A
incompreensão dessas Legiões acabou minguando-as, mas sob hipótese alguma diminuiu a
importância e o poder das mesmas. Quando um grupo de espíritos recebe uma “alcunha”
podemos armar que existem traços sólidos que as conectam, tanto na forma astral, quanto
na essência oculta dos espíritos e Exu Bode Preto é um exemplo que se encaixa perfeitamente
dentro dessa linha de raciocínio.
Bode Preto é uma das máscaras do
d o Diabo. Podemos traçar inúmeras correlações, mas
as mais signicativas e que certamente inuenciaram a Quimbanda Brasileira estão dentro
das Tradições de Bruxaria vindas através das bruxas e feiticeiros europeus cujo vórtice
estava conectado ao culto do Mestre Leonardo, todavia, enxergamos traços que conectam
essa ligação com a própria descrição bíblica delineada em Levítico 16:8-10, relativa a Azazel:
“E tirará sortes quanto aos dois bodes: uma para o Senhor e a outra para Azazel. Arão trará o
bode cuja sorte caiu para o Senhor e o sacricará como oferta pelo pecado.
Mas o bode sobre o qual caiu a sorte para Azazel
Azazel será apresentado vivo ao Senhor para
para se fazer
propiciação e será enviado para
para Azazel no deserto.”
No Dictionnaire Infernal (Jacques
Infernal (Jacques Auguste Simon Collin de Plancy) Mestre Leonardo
é descrito como grão-mestre das orgias noturnas de demônios. Ele é representado com três
chifres de bode e com um rosto humano e negro. Em algumas outras descrições esse espírito
era considerado o Grande Bode Negro dos Sabbats
Sabbats.. Outra associação interessante, mas que
sob nossa compreensão não expressa aquilo que comungamos está dentro da descrição
encontrada no Dictionary of Phrase and Fable (1898)
(1898) onde Mestre Leonardo possui dutos
que o conectam com o “Bode de Mendes” adorado pelos Templários e denominado como
Baphomet .
Todas essas conexões, associações e sincretismos acabaram sendo reetidos na
gura de Exu. Segundo relatos advindos das esferas espirituais (contato com Exus que nos
relataram a formação da Legião de Bode Preto) a forma como esses Exus dançavam (face a
face) provocando a libido das mulheres assemelhava-se
assemelhava-s e muito às danças eróticas praticadas
nos antigos Sabbats. Um espírito de natureza selvagem, que provoca a libido, traz à tona
desejos e impulsos reprimidos (tidos como pecados) era a personicação do Bode Preto, ou
melhor, era um Exu Bode Preto.
Essa característica de Bode também possui ligações pânicas muito evidentes e
isso mostra claramente a associação desse Exu com o elemento Fogo, com as chamas que
13
destroem a inércia, com a quebra dos dogmas e comportamentos reprimidos por regras
temporais, enm, essa Legião de Feiticeiros expõe o que está oculto pelas saias.
Dentro dos aspectos esotéricos, Exu Bode Preto trabalha com aquilo que é
reprimido. Capaz de abrir caminhos, escalar qualquer obstáculo, sobreviver sob quaisquer
circunstâncias, reproduzir e emanar a virilidade, essa Legião também é EXTREMAMENTE
escravista. Deturpam facilmente a mente das pessoas fechando-as em círculos de correntes,
anal, o prazer tem esse poder. São capazes de corromper em níveis profundos, mod icando
toda estrutura psíquica de uma pessoa. O prazer pode ser encontrado em variadas formas
(inclusive na morte e no assassinato), mas essa não é a natureza de todas as pessoas.
14
Pontos Cantados
“Bode Preto bé bé
Arma ponto quem tem
Bode preto bé bé
Arma ponto quem tem
Características
Comida: Farofa de dendê com pimenta, carne seca crua, sete pedaços de chuchu,
milho torrado.
Bebida: Aguardente (marafo). Essa aguardente pode ser descansada em ervas
alucinógenas. Também aprecia licores fortes e encorpados.
Tabaco: Cigarro de palha ou charutos escuros. Esse Exu também pode ter em sua
entrega o tatê ( cannabis
cannabis).).
Flores: Cravos vermelhos, trombetas.
Pontos de força: Alto das colinas, campinas (onde trabalha com Exu das Campinas),
beira de rios e nas encruzilhadas de cabaré.
Manifesta-se através do Reino da Lira, mas nossa experiência mostra-nos que pertence ao
Reino elemental do Fogo.
PARA SABER MAIS, CONSULTE:
Quimbanda - O Culto da Chama Vermelha e Preta
De Danillo Coppini - Terceira edição revista & ampliada
15
A magia é a ciência da aplicação
da vontade sobre a vida.
(Papus)
1 Mestre em História pela Universidade Federal de Sergipe e graduada em História pela Universidade
Federal da Bahia. Gilmara é autora do livro: “Práticas de Feitiçaria: o caso de Maria Gonçalves Cajada”.
Qualicada em Dança Tribal Ritualística e Dança Obscura, Gilmara é estudiosa de Magia, Feitiçaria Antiga,
Rituais Ancestrais, Paganismo, Sagrado Feminino e Filosoas Ocultas desde 2001.
2 Aqui considero pertinente demonstrar a distinção entre Feitiçaria e Bruxaria. Esses conceitos
divergiram e se igualaram em algumas épocas e regiões, mas com o passar dos tempos alguns autores
chegaram ao consenso que a Feitiçaria estava ligada ao conhecimento da natureza e seu uso. Os conhecidos
feitiços, práticas de curandeirismo, e uso de materiais da natureza para a realização de algum desejo. Já a
Bruxaria foi entendida como um poder mental e no Brasil Colonial, assim como partes do mundo, estava
associado ao pacto Diabólico, relacionado ao culto organizado.
17
Personagens como Violante Carneiro, Paula Siqueira, Isabel Rodrigues, Antonia
Maria, Manuel João, Tareja Rodrigues, Catarina Fróes, Ludovina Ferreira, Maria Gonçalves,
entre outras, compõem a História da Feitiçaria no Brasil Colonial. Havia uma predominância
feminina nos casos.
A perseguição se dava por “crimes” de feitiçaria que envolvia blasfêmias, rituais
diabólicos, porções mágicas, práticas sexuais, orações e palavras místicas, bolsas de
mandinga, símbolos mágicos, benzeduras, adivinhações, cartas de tocar, sortilégios, leitura
de livros proibidos, entre outros. Práticas que envolviam negros,
negros, índios e brancos.
A frase que inicia o texto refere-se à prática de conquista amorosa e sedutora usada
por muitas mulheres no Brasil Colonial. Signica “este é o meu corpo”, usada também em
Rito católico com outro propósito. Estas palavras foram assimiladas por várias mulheres,
entre elas Violante Carneiro, que buscavam sucesso em suas práticas sexuais e as recitavam,
na boca do parceiro, durante o coito, com intuito de deixa-lo apaixonado.
Muitas palavras, evocações, ritos, simpatias, poções, entre outras, eram feitas com
o intuito em realizar algum desejo, seja para o amor, ou para o ódio; para saúde ou para
doença; para vida ou para morte. Mas sempre em busca de d e solucionar problemas e conitos
da realidade colonial. A força de Deus não era tão útil a todos e não
nã o resolvia a opressão e os
abusos do mundo em colônia, muitos acabavam buscando em outras crenças a solução de
suas insatisfações.
É incessante o tráco entre a mente e o mundo e como o primeiro pode articular
coisas para manipular o segundo. Práticas mágicas como usar sêmen, cabelos, pedra d’ara,
poções, pós, unhas, óleos, avelãs, sangue menstrual, ervas, entre muitos outros, estavam
catalogadas entre as ações mágicas consideradas como Feitiçaria pela Religião Católica
no período. Nestas terras, conhecidas como obra do Diabo, ora Purgatório, ora Éden, aos
olhos dos cristãos ocidentais, estava a obra do demônio associada às essas prátic as. A m de
ilustrar o texto, citarei resumidamente alguns casos:
Em São João Del Rey, uma mulher chamada de Antonia Maria, foi acusada de feitiçaria
por ter sido encontrada com feitiços que envolviam sangue menstrual, ossos, cabelos e
espinho de ouriço-caixeiro. Ela rezava: "Aqui te fervo o teu coração com quantos nervos em
teu corpo estão. Com Barrabás, Satanás, com Lúcifer e sua mulher, todos se queiram ajuntar
e no teu coração queiram entrar para que não possas estar, nem sossegar sem que a sentença
a favor de (...) queiras dar, e tudo quanto te pedir queiras outorgar."
Francisco José, um preso, blasfemava contra a igreja renegando violentamente
os símbolos da fé católica, dizendo: "São Paulo era um bêbado e um asno que não sabia
o que dizia" e mandando-lhes "meter o crucixo na parte mais imunda de seus corpos".
Maria Fernandes, em uma de suas blasfêmias, armou que arrenegava de Deus, e que ele
mijava sobre ela com a intenção de afogá-la. Do mesmo modo, Apolônia de Bustamante,
confessando, armou que por sete anos em que esteve amancebada com Francisco
Francisc o Coutinho
sofrera muito com a má vida que este lhe dava
dav a e por isso ela arrenegou de Deus e se entregou
ao Diabo, pedindo que ele a levasse dali: “dou-me aos Diabos, os Diabos me levem já”.
Paula de Siqueira, em conssão ao visitador declarou ter aprendido “umas palavras
para que, dizendo-as a alguma pessoa, lhe quisesse bem e amansasse, as quais palavras
nomeavam as estrelas e os diabos e outras palavras supersticiosas e ruins”. Nóbrega, mulher
que costumava se deitar com homens que lhe aprazia por detrás, possuía um protetor
doméstico e também tinha ofício de feiticeira diabólica. Ela armava ser conhecedora de
18
muitos feitiços e que falava com os Diabos e lhe mandava fazer o que queria e eles a obedeciam.
Ela tinha um familiar em um anel que se chamava Baul. Nóbrega andava aconselha ndo suas
amigas para não se benzer em nome de Jesus e armava que tinha ganhado de Lúcifer um
Diabo particular, chamado Antonim.
Não poderia deixar de fora o caso de Maria Gonçalves Cajada, feiticeira diabólica e
muito inuente na época colonial, entre os estados de
d e Pernambuco e Bahia, por onde passou
Maria deixou seus rastros de feitiçaria, ensinando a muitas mulheres e trabalhando para
elas por encomenda. Maria disse: “Eu ponho-me à meia-noite no meu quintal, com a cabeça
ao ar, com a porta aberta para o mar, e enterro e desenterro umas botijas e estou nua da
cintura para cima e com os cabelos soltos, e falo com os diabos e os chamo, e estou com eles
em muito perigo...” Este ritual, feito pela Maria Cajada, tinha objetivo de adquirir riquezas.
Catarina Fróes procurou Maria Cajada para encomendar um feitiço para matar o seu genro,
pois ele não dava boa vida a sua lha. Antonia Fernandes ensinou a Guiomar que para ter
bom casamento era necessário que tomasse três avelãs ou três pinhões furados e tirado o
miolo para rechea-lo de cabelos do corpo, unha dos pés e mãos e rapadura
rapad ura da sola dos pés e
depois o engolisse e quando lançados por baixos os torrasse para virar pó e desse de beber
ao marido.
Ludovina Ferreira, famosa por praticar feitiços de cura e comandar um grupo de
mulheres as quais faziam bailes com danças, canções em estranha língua e viagens noturnas
com pacto ilícito ao Diabo, também compõe esse universo feminino desse período colonial.
Além dela, Sabina, Joana Maria, Domingas e a índia Vitória foram acusadas de feitiçaria
pela inquisição, algumas delas chegando até a gerar processos.
Em resumo, esses são alguns casos de feitiçaria, no Brasil colonial, registrados nos
documentos inquisitoriais durantes as visitações. O acervo é muito maior do que possamos
imaginar e existem muitos casos que nunca foram registrados, sendo assim difícil de
mapeá-los. Aqui se encontravam práticas indígenas, africanas e europeias e muitas vezes
essas práticas se mesclavam. Toda tentativa era válida. Diversos foram os motivos que
levaram a prática de magia considerada feitiçaria: amansar, conquistar amores, destruir
casamentos, amigar, matar, atrair riquezas, adoecer, curar, qualquer coisa que necessitasse
de ajuda sobrenatural. Essa época foi marcada por uma forte dualidade: Deus e o Diabo,
céu e inferno, bem e mal, e aquilo que fugia dos conceitos cristãos era de fato associado
diretamente ao Diabo. Mulheres e homens que para fugir e/ou solucionar seus problemas
recorriam a outras crenças, vendo na magia talvez uma saída, permeando entre a repressão
de Deus e a liberdade do Diabo.
...Oh monstros, ó vestais, ó mártires sombrias
Espíritos nos quais o real sucumbe aos mitos
Vós que buscais o além, na prece e nas orgias
Ora cheia de prantos, ora de gritos
19
Práticas de feitiçaria - O Caso de Maria Gonçalves Cajada
De Gilmara Cruz
Este livro, através da análise de documentos históricos, conta a história real de uma feiticeira portu
portu--
guesa, que foi degredada para o Brasil e foi processada pela Inquisição. A história de Maria Gonçalves Cajada
foi registrada na Bahia no século XVI através de seu processo inquisitorial. Ela era uma famosa feiticeira que
foi acusada por fazer pacto com o Diabo, praticar blasfêmias contra o Bispo da Igreja e praticar diversos ritu-
ais de magia. Tinha fama de “feiticeira diabólica” e era conhecida pelo nome de “Arde-lhe o rabo”. Praticava
diversos feitiços sob encomenda em troca de dinheiro e alguns alimentos. Manipulava objetos, ingredientes,
palavras e símbolos. Adentrar no universo descrito nessas páginas é conhecer um pouco sobre antigas práticas
e rituais de magia.
Esta é a sinopse do livro Práticas de Feitiçaria: o caso de Maria Gonçalves Cajada, de Gilmara Cruz.
Gilmara é estudiosa de magia, feitiçaria antiga, rituais ancestrais, sagrado feminino, paganismo e losoas
ocultas desde 2001. É graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia e Mestre em História pela
Universidade Federal de Sergipe.
Um livro bom também pode (e deve) ser pautado por uma uidez na escrita que te faz esquecer que
está lendo, por exemplo, um livro acadêmico ou documental. Que no nal da leitura você apenas quer mais. É
isso que encontramos no texto da Gilmara. Um livro que nos traz informações interessantes sobre a Inquisição
no Brasil, especicamente na Bahia, mas que não tenta nos enar goela abaixo sua opinião pessoal ou mesmo
tenta mostrar exageradamente que ela sabe sobre o assunto, coisa que vemos
vemo s com uma certa frequência por aí,
principalmente em livros baseados em dissertações e teses.
20
Quatro Truques Sujos
Por Morbitvs Vividvs & King
O mundo é como o percebemos ou existe uma verdade além disso que devemos buscar?
Conceitos universais que transcendem nossa percepção e criação?
Antes de começar a tentar responder isso saiba que qualquer discussão sobre um
universo subjetivo ou objetivo perde o sentido a partir do momento em que tomamos
consciência de que, seja como for, estamos presos dentro de nossa própria mente. Ou lim itados
por nosso próprio sistema nervoso central, para usar uma metáfora moderna. Protágoras de
Abdera já armava que o homem é a medida de todas as coisas, de tudo o que existe já que
todas as coisas são relativas às disposições do homem, ou seja o mundo, e a realidade por
extensão, é o que o homem constrói e destrói, assim não existem verdades absolutas, toda
verdade é relativa a uma determinada pessoa, grupo de pessoas ou sociedade.
Esta é a Tábua da Esmeralda
Esmerald a e a primeira lei do Caibalion: a realidade
reali dade é mental. Toda
forma de magia, do Pai Nosso, passando pela criança
cria nça que coloca o dente de leite recém caído
debaixo do travesseiro e chegando aos Sigilos Caóticos são apenas formas de se convencer
que uma mudança é possível. E que essa mudança pode ser operada por um ato resultante
de nossa vontade, de nossa mente. E não apenas isso, mas
ma s quanto mais forte for a mente,
m ente, ou
vontade, mais forte será o seu controle sobre a sua realidade. A vida é um sonho. Isso é um
fato.
2. Duas ou mais mentes podem unir forças e denir a realidade de uma outra.
Se o número de pessoas que acreditam em algo for grande o suciente, a força dess as
mentes combinada pode alterar a realidade
realida de de todas as outras mentes com quem convivem,
independente das crenças individuais. Quando você acostuma as pessoas a sua volta com
uma visão sua é melhor mudar o círculo de amigos
am igos se quiser construir um novo eu. Lembre-
se que você é a soma de crenças alheias, daquilo que você demonstra.
21
Hitler armou que os mentirosos também são grandes magos, e ele não estava errado.
Se a Alemanha houvesse ganhado a guerra, os documentários hoje não teriam títulos como
“O Maior Monstro de Nossa Era” ou “O Horror do Nazismo”. Se não existe uma verdade
absoluta, então toda armação que vá além do indivíduo é uma mentira.
E mais importante do que isso, é que cada mente que passa a adotar a realidade
alienígena como sua própria, fortalece esta realidade. Quando acreditamos que um
pensamento é certo e o adotamos como nosso pensamento o fortalecemos.
Este é o poder por trás de todas as religiões e ideologias. Você consegue imaginar que
seria concebível manter o status da vida que leva agora se decidisse abrir mão do dinheiro?
Você acredita que indivíduos que lutam contra a sociedade devem ser punidos? Ou que
mesmo que você não seja uma pessoa exatamente “do bem” existem pessoas muito piores
à solta por aí?
É por causa disso que praticar magia COM um grupo é mais fácil, enquanto se
praticar magia PARA um grupo se torna um trabalho excruciante. Quando você está COM
um grupo, a vontade dos outros se soma e é como nadar
nad ar a favor da correnteza. Quando você
v ocê
está fazendo PARA uma plateia, suas dúvidas e crenças são obstáculos a mais que precisam
ser vencidos. Ninguém vai para um show de mágica para ver um coelho sair da cartola, as
pessoas vão para lá tentar pegar o mago
ma go com a mão na massa.
massa . Literalmente, mesmo que não
se aperceba disso, a audiência está sempre contra você. Este é o segredo do Hermitão, pois
todo exercício de fortalecimento de magia envolve um certo grau de isolamento.
Primeiro se fortaleça, aprenda a dominar a sua realidade e a rechaçar tudo aquilo
que vá contra ela. Calar é importante, pois evita que as pessoas lutem contra uma realidade
que quer se manifestar por meio de ceticismo ou crenças contrárias. Se você quer assustar
alguém diga que mandou uma maldição, mas, se quiser mandar uma maldição, não diga
a ninguém. Por outro lado, toda magia de cura deve ser anunciada, já que nesse caso as
pessoas esperam ser curadas, e o desejo delas fortalece o seu. É por isso também que todo
desejo de cura deve ser sincero.
3. Uma mente mais forte pode denir a realidade de uma mente mais fraca.
23
4. A mente pode ser fortalecida por atos de Vontade.
Sua mente não é a massa cinzenta que existe entre suas orelhas. Nem aquilo que dói
quando você tem que car pensando em um assunto
as sunto difícil. Sua mente é aquilo formado
formad o por
seus pensamentos e por sua vontade. Quando você começa a fazer uma dieta é seu cérebro
que diz “estou com fome, preciso comer agora” são seus pensamentos que pedem que esse
alimento seja uma pizza quentinha, mas é sua Vontade que deve controlar esse impulso,
caso você, de fato, acredite que agora a dieta é o melhor a fazer.
Saiba então que uma mente pode ser fortalecida por atos de Vontade. Como peso
aumenta os músculos e como problemas melhoram o cérebro a Vontade também pode ser
exercitada. Esta é a única razão das 'provas de fogo' do xamanismo, das 'iniciações' dos
sistemas tradicionais, do diploma que você consegue em uma faculdade para exercer uma
prossão. Esses rituais mostram que sua vontade foi forte em determinada direção - vencer
o desconforto físico, fazer parte da ordem ou se aplicar a aprender por tantos anos as bases
de uma prossão. Mostram como sua Vontade é forte para evitar que você saia d a linha que
traçou, que erre o alvo que decidiu ser o seu objetivo - curiosamente a palavra pecado se
de pecare,, literalmente errar o alvo.
deriva justamente de pecare
A sua própria mente, seus sentimentos, suas emoções e reações, são todas,
absolutamente todas, alteráveis. Você pode deturpá-las a seu bel prazer e tornar a cção
em realidade através de uma crença externa nisso. Tudo depende do rótulo que você dá
aquilo que sente, é uma forma de autoengano, que se inicia por uma mentira e depois se
torna uma verdade absoluta. Mas na prática esse exercício não precisa levar anos. Mesmo o
menor ato, onde a vontade de alguém sobrepuja a de outros, tem o poder de desaar o status
quo.. Cada pequeno passo é uma vitória. Parar de fumar, artes marciais, trabalho voluntário
quo
ou qualquer coisa que lhe faça acordar cedo são bons exemplos. Essa é a grande diferença
entre um seguidor e um iluminado. O seguidor completa o jejum apesar dos seus desejos. O
iluminado completa por causa de sua Vontade.
24
Este texto é um resumo, um pouco da minha experiência pessoal, entre evocações/
invocações, incubações e vivências com as principais demônias cabalísticas. Os rabinos
associam a Samael quatro esposas. Quatro prostitutas, rainhas dos Succubi e Incubbi.
Lilith, Nahemah, Agarath e Mochlath 1. São as quatro esposas de Samael, as Mães
da sedução, dos abortos, da liberdade e da prostituição. Apesar de dizerem que Lilith é o
símbolo de tudo isso em um Arquétipo/Força/Entidade, só quando se entra em contato
com a mesma ela mostra claramente o que ela faz.
Lilith seduz. Ela é a Mãe da Sedução, da paixão, do amor
am or em sua forma mais visceral.
Lilith é a Lua Nova,
Nova, aquele chifre delgado ao entardecer anuncia o reinado
reinado daquela que
seduz todos que deseja. Invoca-se ela com uma vela vermelha dedicada a ela e Laylah (que
em hebraico signica noite) ou Lilith, como é mais conhecida, sempre atende.
Ela traz o objeto de desejo. Ela o enche de luxuria e de paixão. Lilith é a preferida,
segundo as lendas, de Samael e através dela uma geração de demônios nasceram. As
descrições do Zohar e da Cabalá tradicional a descrevem como uma mulher que aos poucos
está apodrecendo. Ambos nasceram juntos, segundo o Zohar e morrerão juntos no m dos
tempos.
Ela é morena, tem longos cabelos negros como seus olhos que trazem um detalhe
diferencial: sua pupila é vermelha; veste um vestido preto, translúcido. Sua voz é doce, ela
vem em sonhos de uma maneira bastante diferente do que muitos relatam. Sem fornicação,
sem violência. Muito pelo contrário do que se diz, os demônios são cavalheiros e damas
exemplares. LYLYTh vem com sonhos sensuais, brincadeiras de sedução e nunca se deixa
levar pelas crendices tolas de vulgaridade e ans. Ela é uma dama, uma rainha. E gosta de
ser tratada assim. Em minha experiência com a Lilith, pude presenciar seu poder de forma
extremamente interessante. Cabe a cada um evoca-la e presenciar o poder dela, causando
no objeto de seu desejo uma paixão incontrolável pelo evocador, levando aos poucos a se
entregar completamente aquilo que foi solicitado a Ela.
Enquanto uma é morena, a segunda é loira.
l oira. Veste um vestido verde-claro e tem olhos
da mesma cor. Ela vem com um cheiro de absinto, de desejo, de sedução. Muitos dizem que
Nahemah é mãe do adultério, mas não: ela é a verdadeira Mãe dos Abortos. As tradições
cabalísticas também a descrevem horrendamente - como uma mulher meio animal, careca,
que vaga pelo Gehenna comendo areia. Naamah é uma deusa da divinação, da luxuria e da
paixão. Ela seduziu dois anjos, Aza e Azael (não confunda com Azazel) e então foi chamada
de mãe de todas as bruxas e espíritos malignos do mundo pelo Zohar.
Ela é a “charmosa” como a tradução de seu nome, Nahema ou Naamah, nos mostra.
26
Quem é Cesar Augusto Marín? Poderia nos contar um pouco sobre a sua trajetória
e história mística e mágicka?
Esta história é bem interessante e relatarei o dia em que, por m, tive o grande prazer
de conhece-lo. Tive uma visão antes de
d e nos tornarmos amigos, na época eu tinha 18 anos,
a nos, e,
nessa visão, eu aparecia na casa de Héctor e ele me recebia como se estivesse me esperando
há muito tempo; um amigo do passado ou do que há por vir nas grandes ondas do tempo,
e justamente assim essa história começou. Nos encontramos neste plano físico e desde esse
primeiro momento nos aproximamos bastante, sendo o primeiro Magista que rituali zou não
somente em vida, mas também em sua morte com sua despedida fúnebre, algo que ainda
hoje nos afeta a todos que o conheciam, e, mais ainda, aos que pertenciam ao seu círculo
interno, assim, a grosso modo, foi meu primeiro encontro com o Grande Copto.
27
Como é ser o atual Papa Negro, Sumo Sacerdote e sucessor de Mestre Héctor?
Em verdade é algo sumamente graticante, visto que continuar com seu legado e
com nossas tradições é o mais importante. Algo que sei, desde a esfera de conhecimento na
qual Héctor se encontra, ele estará diabolicamente feliz, rindo a gargalhar.
O levar de nossos conhecimentos aqueles que se aproximam a contribuir e tornar
esse legado ainda maior é fantástico!
A estética de sua poesia seria um dos maiores legados que poderia ser deixado ao
mundo inteiro, com a perfeita métrica conseguiu reviver os grimórios ancestrais e as mais
belas e antigas palavras do arquetípico esquecido, considerando-o de um modo muito
pessoal, “O Último dos Poetas Malditos” entre Baudelaire, Rimbaud, Poe, Vargas Vila e
tantos outros que, com sua literatura, levaram a margem do caos ao mundo, deixando a
porta estelar que conduz ao exterior cada vez mais exposta ao passo daqueles antigos aos
que de uma forma ou outra rendiam culto através de suas diatribes infernais!
Nos próximos meses a Editora Via Sestra publicará o livro Ordo Draconis Infernum,
em língua portuguesa, no Brasil. Do que se trata esse livro e o que o leitor encontrará em
suas sinistras páginas?
O livro abre as portas da percepção para aqueles seres honestos que, em sua busca
árdua, intentam encontrar o caminho de retorno a si mesmos; o livro é formado por quatro
partes nas quais se altera a ordem psíquica e emocional, permitindo o estudante sincero
28
ir profundo dentro de sua consciência interior mediante certos processos utilizados pelos
maiores iniciados na história, através dos quais encontraram a entrada para o grande salão
onde o Santo Graal, o Cálice de Babalon, os aguardava.
Em quais projetos iniciáticos, místicos e/ou mágickos Você está envolvido? O que
você poderia nos falar a respeito desses projetos?
Por agora estou terminando o segundo livro da O.D.I., onde revelamos os rituais
internos e grupais da referida ordem. Há pouco terminamos uma viagem pelas principais
cidades de nosso país compartilhando um pouco de todo esse conhecimento.
E na busca innita de tudo aquilo que em meu ser crepita e se inama para alcançar
a unidade.
O que você costuma sugerir aos indivíduos que pretendem ingressar de maneira
mais comprometida e séria no Caminho da Mão Esquerda?
Para todos aqueles Neótos que se aproximam do Umbral, onde a luz tênue é só a
sutil chama de seu ser tentando escapar e precipitar-se mais no profundo daquele mistério
chamado Magick, eu digo, não passe inadvertido
inadv ertido ante o guardião do umbral, rende tributo,
já que ele, na forma de Anubis, é quem abre todos os caminhos pelos quais sua alma viajará
até alcançar o último Sol e seus raios diamantinos vindos de outros mundos que cegaram
seus passos enquanto caminha de plano em plano, de ciclo em ciclo, sorri somente de ser o
único eleito que vislumbrou a loucura iluminada.
Mas, é Seth ao nal quem o levará até alcançar o nal e fundir-se no Caos Primordial,
junto aos proscritos Deuses do Vazio Estelar.
29
O verdadeiro ocultista é aquele que estuda assiduamente e jamais se deixa enganar por
falsos profetas, charlatães ou místicos de segunda categoria que em seu afã de reconhecimento
tomam o duro trabalho de outros para si, sigam éis ao que a sua consciência interior dita,
só assim estarão no caminho para encontrarem a si mesmos.
Muitos de nossos leitores possuem certa apreciação por estilos musicais um tanto
heterodoxos, tais como a música extrema, o ‘black metal’, a música ritualística e o ‘dark
ambient’. Você aprecia este tipo de música também? Tem ligação com alguma banda
sobre a qual poderia nos contar?
Para mim a música é tudo, e claro, com algumas exceções posso vislumbrar um
grande nascimento de novos projetos e sons, tanto que recomendo em meu livro alguns
prodígios desta nova era, muitos de nossos amigos
ami gos vinculados à Corrente Hectoriana levam
isso muito a sério, levando a nível mundial o legado de nossa Ordem.
Nossos amigos do Disgrace and Terror são um dos mais claros exemplos do que
signica este grande poder que simboliza nossa corrente e com o qual tem conseguido
sobressair em seu meio como uma das melhores bandas do gênero no mundo.
Thy Antichrist, banda de um de nossos mais queridos amigos erradicados nos Estados
Unidos, que leva o estandarte de tão grande legado por todas essas terras e igualmente
reconhecido em nível mundial.
Internal Suffering, de nossas terras Pereiranas, cujo reconhecimento mundial tem
sido um grande tributo constante à corrente e à nossa grande amizade.
E, como estas, muitas outras bandas de natureza tanto internacional quanto nacional,
que tem se sentido atraídas pelo uxo constante da Corrente Hectoriana e de noss a losoa.
30
A passagem célebre de Liber AL vel Legis, “Faz o que tu queres, pois há de ser tudo
da Lei” costuma ser bastante utilizada por indivíduos como uma justicativa comum
para todos os tipos de comportamentos excessivos, tais como uso abusivo de drogas e etc.
No seu entendimento, o que é o “querer” e a “vontade” no contexto iniciático, místico e
mágicko?
De mesma forma que em muitos países estamos abarrotados por crenças estultas e
pelo embotamento criado pelos pensadores da moral, ramos religiosos e dogmáticos que
ainda possuem poder sobre as massas. É de entender que todo o desenvolvimento
des envolvimento intelectual
de muitos países ainda se baseia na consciência de sua cultura religiosa, este estigma que
desde a infância nos corrói até a medula é a primeira coisa que deveríamos submeter a
um juízo de caráter individual, assim, desta maneira, lograríamos não só a liberação do
indivíduo, mas também a de muitos, e já que tudo isso se baseia na compreensão intelectual
e no desenvolvimento emocional de cada um, sendo os seres mais próximos da identidade
de deus, somos os mais altruístas de todos e dói em nós o que passa ao redor, especialm ente
com tantas pessoas brilhantes e de inteligência mais latente, que ainda se sentem obrigadas
a serem submetidas ao jugo de uma religião por compromisso social.
Todos deveríamos nos unir neste momento para adiantarmos o primeiro plano para
31
dizer “somos o primeiro sangue, o sangue antigo, aquele de outrora que levava o estandarte
dos fortes e pensadores livres; em nossas veias corre o tempo de crenças ancestrais e com
ela a sabedoria suprema dos Deuses Arquetípicos, assim, que sejamos um no pensamento
universal da aniquilação do dogma religioso e cultural, que ata as mãos dos fazedores do
eterno retorno da verdade, Sozinhos”.
A natureza que nos rodeia tem sido e sempre será a maior manifestação de meu
arquétipo pessoal, ao identicar cada ser com a força implícita da divindade, estou em
perfeita harmonia com tudo e tudo está equilibrado em minha natureza.
Justo nesta região onde me encontro, a qual chamaram “O Eixo do Mal”, existiram
aborígenes que em descobertas arqueológicas e antropológicas foi demonstrado que eram
adoradores da Lua e à ela rendiam culto mediante sacrifícios de sangue; é por isso que
irradiados por essas forças ancestrais estamos mais do que predispostos à mesma corrente
Mágicka produzida por toda essa grande quantidade de energia.
Você conhece algum autor brasileiro que de alguma maneira seja relevante para a
Via Sinistra?
Eu agradeço muitíssimo por sua diligência e atenção ao nos conceder essa breve e
mui importante entrevista e reservo abaixo o espaço que julgar necessário para registrar
suas palavras nais nesse singelo alfarrábio! Muito obrigado, Cesar Marin! Laus Satanus!
32
Para mim foi um grato prazer contestar todas as suas inquietudes e poder, de uma
maneira ou de outra, dar a conhecer o pensamento de um diletante do Caminho da Mão
Esquerda!
Laus Satanus!
Ho Serpente-Drakon Ho Megas!
33
A todo mundo, aqui estou Eu!
Quem, nos livros sagrados, chamam o Diabo!
Eu sou aquele cuja gura inspira medo!
Eu sou aquele em quem todas as estrelas têm seu manto!
Eu sou aquele em quem a Serpente-Dragão se acende e se recria eternamente!
Eu sou aquele que foi forjado no vazio cósmico pelos Sóis mais antigos e mais
distantes!
Eu sou aquele que traz a luz, mas
ma s não aquela a que muitos dentre vós nomeiam,
nomeia m, mas
sim a luz tênue e obscura que se precipita desde o abismo com todos os nomes dos Irmãos
meus, os Malignos!
Chamaram-me de horror neste mundo, mas, em minha sapiência eterna, eu sou
apenas um Deus que traz o Caos sem pudor e sem escrúpulos, e falo com a verdade, e a
ciência é apenas um dos meus mais queridos lhos!
Atende ao compromisso eterno, Oh! Tu, Irmão ou Irmã, que tende para o abismo,
tens que saber que eu sou o número e o glifo, como a Besta encarnada com todo o seu
arquétipo, revelo-me diante do valente que ousa chamar-me sem temor e que se atreve a
confrontar-me, pois deves saber, querido incauto, que minha imagem real é tão sombria que
nem mesmo aquele deus inventado, sendo real, se atreveria a me confrontar!
Mas, pobres mortais, que veem o inimigo em mim, porque sendo Uno em mim
mesmo, eu sou o Todo e o Vazio!
Eu sou o Grande Abismo!
Eu sou o Deus da folia e da loucura profana, aquele que entre todos os deuses sempre
ensina a felicidade eterna!
Com uma gargalhada eu agito os mundos e faço todos os espectros desaparecerem!
Através do vinho, das viandas, das mulheres e das delícias mais profanas, meus
escolhidos são, sem hesitação, os Sacerdotes do Abismo!
Ambos, os Bruxos quanto as Bruxas, dançam ao redor da Árvore do Espanto, pois, a
partir de Daath têm que saber que me regozijo na criação e, ainda mais além, no que ainda
não foi inventado!
O nada innito é de onde eu venho, é a concha alquímica onde minha natureza crepita
c repita
34
e, como a imortal Fênix, eu me levanto das minhas próprias cinzas!
A Serpente-Dragão é meu símbolo mais sagrado e, após este, como a Árvore da
Morte, se ergue o véu que ao deixar o medo te aproxima do eterno despertar!
Vinde a mim sem temor ou dúvida, ou cai, presa daqueles que, sendo minhas
testemunhas, são os mais próximos amigos, Daemonos proscritos que descenderam da
primeira chama, daquela luz cegadora, para seguir a mim na eternidade, sendo todos um
mesmo!
Eu sou a Legião e todos nós somos Anjos que do Caos Primordial vieram celebrar o
triunfo da Verdadeira Vontade do Mal hoje!
Frater Aiwass!
O Papa Negro da América do Sul!
Laus Satanus!
Ho Serpente-Drakon Ho Megas!
35
A Bíblia do Adversário
de Michael W. Ford
“Uma obra singular e de caráter único, fundamental para todos os Luciferianos dese
dese--
josos em conhecerem a Filosoa e as práticas Luciferianas
L uciferianas sob a perspectiva de um de seus
maiores expoentes. Altamente recomendada a todos os indivíduos que possuem interesse
no Caminho da Mão Esquerda & Via Sinistra.”
A edição ora apresentada pela Editora Via Sestra traz um grimório completamente
reeditado e expandido que inicia com os 11 Pontos de Poder e os Fundamentos Filosócos;
guiando o Leitor rumo às profundezas obscuras através da Verdadeira Vontade, do Desejo
e da Crença, iluminado pela Chama Negra ou Luz Interior.”
36
A bruxaria é o descendente direto das antigas culturas xamãnicas, aparecendo
na humanidade desde o início dos tempos. Um dos principais aspectos da bruxaria é o
desenvolvimento do “eu” interior em conjunto com os poderes da natureza, os poderes da
feitiçaria, equilibrados com o lado
l ado negro. Exploraremos sobre o lado noturno, seus métodos
de aprendizado e a experiência na corrente dentro do caminho inverso de Yesod, através d a
feitiçaria do sonho e pela herança dos cultos sabáticos, trabalhando com a Qlipha Gamaliel.
O trabalho com o lado inverso de Yesod é uma reunião no reino dos sonhos, tendo
como principais pontos o foco e a canalização dos poderes da qlipha e seu entendimento
que emanam sua sabedoria sagrada para dentro do subconsciente do adepto. Neste ponto,
o mago abre uma corrente lunar profunda através da fórmula de ressurgência atávica,
alinhando seu espírito com o lado negro de Yesod, no qual reside o poder da Qlipha Gama liel.
Explorar a bruxaria e o lado obscuro de Yesod signica abrir o portal em uma zona
de puricação que tem como propósito a criação de templos astrais nos quais as diversas
reuniões de feiticeiros(as) trabalham com súcubos e energias que emergem dos templos
negros de Gamaliel. Os ritos desenvolvidos lá são conduzidos pela aplicação de vontade,
crença e desejo. São esses três pilares de fundação dentro do culto sabático da bruxaria e
seus métodos de trabalho. O lado negro de Yesod existe no contexto do controle do sonho,
emergindo dos templos astrais onde todo poder é manifestado.
A queda do adepto pelo caminho invertido de Malkuth, o leva até o lado obscuro
de Yesod, a esfera lunar das ilusões e visões que transcendem a razão. Toda ascensão pela
árvore deve ser feita através da esfera lunar, incluindo a subida nos caminhos inversos da
árvore. Gamaliel é um estado mental profundo conectado com a loucura, a transmutação
dos sentidos e revelações ocultas por transmissões sugestionadas do outro lado. Como é o
governante do portal dos sonhos, ele nos leva a absorver
ab sorver suas energias através da exploração
de rituais de eroto-comatose usando energia sexual para aumentar a obsessão criativa como
método de controle dos sonhos, bem como de práticas sexuais transgressivas.
O lado obscuro de Yesod equivale ao Muladhara chakra e move -se dentro do uido
primal que é a menstruação da sexualidade sagrada, simbolizando
simboli zando a sexualidade exploratória
de Gamaliel via Per Vas Nefandus
Ne fandus (sodomia). Aqui, o uxo das correntes sexuais é incubado
como sementes que emergem de suas próprias essências causando um aumento aumen to de poder
no adepto através de estados alterados de consciência e a utilização de plantas sagradas
como ayahuasca, cogumelos, Cannabis ou tabaco (com o qual tive poderosas conexões nos
últimos anos) e as práticas
práticas da alquimia sexual. Por meio disso, o adepto explora o misterioso
jardim sagrado da gnose sexual e da bruxaria lunar via cópula e conexão com as deusas
lunares governada por Lil Az ‘H’ Az Lil no seu aspecto
as pecto mais cru: como uma serpente súcubo
do astral, aquela que segura o vaso cheio
c heio de libações de suas interações
i nterações e experimentos com
humanos.
37
A prostituta do dragão-serpente nos direciona para conexões com as formas primais
da qlipha Gamaliel. Pelo lado
l ado inverso de Yesod, os poderes dos templos astrais de
d e adoração
às correntes lunares na forma da tríade Lilith - Naamah - Gamaliel, manifesta-se como
sonhos espectrais,
espectrais, símbolos sugestivos e geometrias ocultas. Neste lado, exploramos os
portais dos sonhos através da lembrança de sonhos e dimensões do passado distante e
templos visitados em outras realidades sem espaço ou tempo. A contraparte de Yesod é
fortemente conectada com a corrente lunar de Gamaliel, próximo de sentimentos e emoções,
focando o uxo de energia provinda da esfera solar. Em um nível mais psicológico, po-
demos dizer que Lilith é o ponto focal, representando o corpo psíquico do adepto.
ad epto. Gamaliel
representando o misterioso “eu” etérico ou o centro da essência do adepto e da psique. E
através desses pontos, temos a lua movendo a energia por ambos os lados, se manifestando
manifes tando
no plano físico por sonhos e pulsações psíquicas.
http://www.lojaeditoraviasestra.com.br/index.html
38
Perdoa-me o clichê, mas poderia nos dizer como foi o surgimento do U.N.C.U.L.T?
39
mesmas lágrimas. Destarte, o U.N.C.U.L.T é uma ideia , uma expressão, uma fórmula, não
há como denir o momento de seu surgimento, mas, poderia dizer que em um momento
no tempo nós, enquanto entidade, tencionamos uma forma de música que pudesse se
aproximar mais daquilo que sentíamos do que daquilo que as pessoas do lado de fora de
nossa linha pensavam que precisavam sentir.
Quando surgiu?
O que você pode nos dizer sobre o signicado do nome U.N.C.U.L.T, ALÉM de
“Uma Nulicação Catalizadora Ultrapassa os Limites Transcenden
Transcendentais”?
tais”?
Não é segredo que todos da horda tem ou já tiveram envolvimento com o dito Black
Metal (ou como queiram chamar) no Brasil. As formas pelas quais as pessoas envolvidas
neste meio estão acostumadas a lidar
lid ar com situações e pessoas é algo muito distante
di stante daquilo
que consideramos importante para nossa existência e uma dessas coisas é o fato de quem fazfa z
ou não nossos louvores. Nossa capa social ou nossa identidade são aspectos mundanos que
estão carregados de sentidos igualmente mundanos, nossos louvores são para os senhores
e senhoras de nosso culto, movidos por nossa fé! A minha alma não tem nome ou forma ela
é o fruto proibido do caos, o movimento obsceno das torrentes da existência, é ela que está
gritando quando você ouve a nossa música, é ele que se debate nas palavras dos homens
desta era, assim, como eu lho do lho do nada poderia dizer quem é isso ou aquilo! Nós
somos os devotos! Os nulicadores!
Todas as letras do U.N.C.U.L.T são mantras de devoção que estão divididos entre
orações que narram rituais executados por nós e mantras que falam sobre os pilares da
nossa fé. Antes de chegar ao nosso full, com o título traduzido de Vcifrtnsmael Cantvs
Adramlas Ostivm: Anti-estrutural formulas da gênesis do anti-mundo, já tivemos outras
músicas, tendo em vista que a horda foi formada há mais de 10 anos, assim como a formação
dos devotos que temos hoje não é a mesma desde o início,
i nício, mas poderia dizer que o resultado
deste trabalho é um substrato de tudo que aconteceu antes. O resultado nal deste trabalho
traba lho
foi feito de fato por pessoas que estavam imersas em cada palavra dita neste disco, isso eu
posso armar com toda certeza!Nossas letras são inspiradas no livro
li vro sagrado do nosso culto,
o LIBER EVTHANASIAS LVX, e as músicas são evocadas
evocad as pelos devotos em comunhão com
seus entes inspiradores.
Já ouvi coisas parecidas sobre a nossa sonoridade, não tenho nada o que concordar
ou discordar das pessoas que pensam isso ou pensam qualquer coisa que seja sobre nós
porque elas desenvolvem suas visões a partir de um ponto focal especíco que não me
cabe julgamento. O que poderia dizer é que somos diferentes deles no sentido de práticas
espirituais reais, pois não sei até que ponto essas bandas gringas são de fato portadoras das
energias que proclamam ou se são apenas uma marca.
41
B.R.P em suas últimas cópias, e aqui no Brasil as cópias que foram para o C.H.P.V estão
completamente esgotadas, tive informações que os selos PAGAN WAR e HAMMER OF
DAMINATION tem algumas cópias que pegaram diretamente com o B.R.P.
Atualmente estou em diálogo com alguns selos para um relançamento deste disco,
mas posso adiantar que em 2019 teremos um SPLIT VINIL lançando aqui no Brasil, em
parceria com um grandioso selo e uma horda do C.H.P.V.
No Brasil, assim como em outros países que passaram pela violência da colonização
os arquétipos desta empreitada são vividos até hoje, por tanto as pessoas tem uma sedução
muito forte pelo idioma estrangeiro, isso não é racional, é simplesmente afetivo ou de certa
forma mercadológico, por este motivo que muitas hordas optam por cantar em inglês por
exemplo. Não julgo este ato, pois por outro lado penso que alguns optam por transmitir sua
mensagem em um idioma, digamos, mais universal, que é o que o idioma inglês se tornou
no ocidente indiscutivelmente, tanto que um dos nossos hinos possui alguns trechos em
inglês.
Temos uma ligação muito forte com o Latim, eu particularmente sempre uso o LatimLa tim
em minhas composições não apenas no U.N.C.U.L.T mas também em minhas outras hordas!
Com relação à recepção aqui no Brasil ela é bem vista pelas pessoas que gostam de hordas
mais subterrâneas mas fora do país eu percebo que o ponto etnocêntrico é muito forte, as
pessoas tendem a ter uma resposta mais forte a mensagens mais
ma is fáceis de serem decifradas,
decifrada s,
no entanto estamos na contramão deste tipo de mensagem “eu amo satã,
sa tã, matem os cristãos”.
Tenho consciência que nossas letras e metáforas não serão entendidas por todos e todas pois
elas precisam de compreensão, leitura e abstração, não fazemos música para o rebanho!
Bom minhas ideias particulares sobre isso já passaram por uma longa trajetória e o
que eu penso hoje sobre esse tema de certa forma polêmico dentro da música extrema não
é o que eu pensava a alguns anos atrás por exemplo. Se for falar em “vendas” eu vejo que
o que antes se pensava como algo que iria atrapalhar hoje ajuda bastante, pois as pessoas
buscam ouvir na internet uma música antes de comprar, isso é fato, muitas das hordas que
conheço hoje do Ortodoxo, por exemplo, conheci por canais da internet, tanto que as cópias
que foram para o C.H.P.V aqui no Brasil do FULL do U.N.C.U.L.T se esgotaram em duas
42
semanas.
A mostra do nosso material que você se refere é a do canal do YouTube ODIUM
NOSTRUM, e sobre isso estamos livre de toda e qualquer hipocrisia sobre o tema, pois os
fatos são que muitas bandas tem a opção de não expor seu material na internet, elas alegam
diversos motivos que sinceramente não me interessam, mas para mim não faz diferença,
pois o nosso culto não será mudado ou manipulado por que nossas músicas são ouvidas
pelas pessoas na internet. Várias das hordas
horda s que conheci do ortodoxo eu vi pela primeira vez
no canal ODIUM NOSTRUM, inclusive a maior divulgação que o BATUSHKA já teve foi
neste canal, e como é de conhecimento de todos e todas o disco dele foi o mais vendido nos
últimos dois anos, nos mais diversos formatos. Sobre os formatos analógicos eu tenho muito
interesse neles, pois eles zeram parte da minha formação musical em um momento onde
o CD ainda não existia, mas essa anidade é exclusivamente afetiva ela não se justica por
nada factual, assim como penso que lançar em K7 ou LP não lhe torna “melhor” ou “pior”
que algo ou alguém, são apenas escolhas e em alguns casos conveniência. Atualmente o que
me interessa no formato que vou lançar os materiais das minhas hordas é o quanto de arte
visual eu posso usar nele, nesse caso o LP é claramente a melhor opção, pois eu acredito
que as imagens também fazem parte do trabalho como um todo, pois no nosso caso elas
expressam visualmente nossas intenções, tanto que no CD do U.N.C.U.L.T no lugar das
letras optamos por uma imagem que representasse cada mantra ou oração.
Não pensamos no momento em tocar ao vivo, mas se isso acontecer sem dúvidas
será um ritual do C.H.P.V em um primeiro momento, pois aqui no Brasil os eventos estão
mais voltados para um tipo de “Black Metal” que não nos identicamos, por tanto, creio
que tantos nós como os demais (que participassem
participas sem de um evento conosco sem compartilhar
de uma fé sinistra real) se sentiram deslocados ou desconfortáveis em dividir o palco, pois
nosso som é puramente baseado na FÉ sinistra! Uma tour sem dúvidas é algo impossível
pois temos outros objetivos neste momento.
Bom, posso falar com conhecimento de causa, pois já frequentei muitos lugares do
dito “Black Metal” assim como tive e tenho contato com vários deles há muitos anos, e
sem dúvidas as ideias nutridas por eles como as que você falou “superioridade intelectual,
força obscura, conhecimento mágicko sinistro e não submissão” são falsas! Chega a ser
hilário pois cerca de 80% deles não passam de viciados, pessoas que não leem, que não tem
43
nenhuma prática espiritual e muitas vezes não tem ao menos estabilidade em suas vidas
sociais, essas pessoas são superiores em que? ou a quem? Muitos não são superiores nem
a animais, pelo contrário, aqui no no Brasil eu penso que o Black Metal, assim como as
igrejas evangélicas, agregam as pessoas mais medíocres da nossa sociedade com uma ideia
de superioridade baseada em nenhum esforço e apenas em mera pose, onde um evangélico
coloca embaixo do braço uma livro que nunca leu por completo, e um fracassado qualquer
coloca uma camisa de uma banda antiga ou desconhecida de um cd que o único esforço
que fez foi parar para ouvir enquanto se drogava e esses dois atos desprovido de qualquer
envolvimento intelectual ou espiritual com o conteúdo daquilo que supostamente lhe faz
superior lhe promove uma falsa ideia de emancipação.
Sobre nossas músicas serem consumidas por eles isso não me importa também, nossas
músicas são o resultado do nosso culto e ele não irá se modicar por conta de quem nos
escuta ou deixa de ouvir. Imagine a situação hipotética em que um analfabeto que nunca
teve contato com a educação formal entra em uma sala do último período de um curso
de exatas e se depara com diversas fórmulas de matemática avança no quadro e com um
professor que está falando uma linguagem especíca para os seus alunos, o tal personagem
não iria conseguir decodicar absolutamente nada daquelas mensagens, assim como o fato
de ele estar na sala vendo a aula não iria modicar o conteúdo ministrado. Nosso caso
funciona da mesma forma, em termos de metáforas, não nos importa quantos mendigos
para na rua para ouvir as preces que entoamos dentro de nossos templos pois as colunas
que sustentam nossa morada são fortes e indestrutíveis.
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Provavelmente vocês conheçam indivíduos ligados à música extrema e ao Caminho
da Mão Esquerda que consomem drogas lícitas e ilícitas. O que vocês acham das drogas
sob perspectiva social? O que vocês acham da utilização de alteradores de consciência
‘articiais’ em âmbito místico e recreativo?
Sobre as drogas eu tenho duas correntes de pensamento, a primeira delas sem dúvi das
estaria sob um escopo social, percebendo que incide sobre o temas das drogas um forte
caráter moral que varia indubitavelmente de acordo com o tempo e espaço em que cada
sociedade está inserida, então sob um ponto de vista moral minha visão sobre isso está para
além da ideia do bem o do mal, assim como todas as outras coisas, formas e manifestações
que os humanos têm algum tipo de contato, essas esferas também são em si representações
do que a humanidade é ao longo de sua própria história.
Em uma segunda via a minha interpretação espiritual sobre o tema, as drogas de um
modo geral produzem ou estimulam um outro estado da consciência, e falo por conhecimento
de causa pois já fui usuário de várias delas. Este outro lado na nossa consciência possui
instrumentos diferenciados de nossa percepção comum, e neste sentido pode sim ser us ado
como parte de uma tecnologia de comunicação espiritual.
espiri tual. No entanto, não é esta a nalidade
da esmagadora maioria das pessoas que fazem uso dessas substâncias e neste ponto temos
uma discussão polêmica que beira um certo julgamento moral mas sem dúvidas não
é este o caso. Espiritualmente falando eu vejo qualquer tipo de vício como uma forma
de aprisionamento demiúrgico e é fato que algumas substâncias têm um poder químico
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viciante sobre o corpo muito mais forte que outras, como a cocaína, o crack e o tabaco.
É neste ponto que vemos várias e várias pessoas, sobretudo no ambiente do dito “Black
Metal” apontando o dedo para as famigeradas igrejas cristãs com os discursos hipócritas
como “eles se ajoelham… eles se submetem… nós somos livres!” Então me pergunto: livres?
de fato nenhum de nós é livre, mas a diferença entre os vivos em carne é o quão estúpida
é a nossa cela, e a cela de muitas destes são algumas carreiras de pó, enquanto a de outros
são os muros de uma igreja e para mim o que muda é apenas a roupa social que veste um
pastor e um tracante.
Vocês leem quais autores e quais livros? Quais são as principais inuências
literárias que permeiam a essência do U.N.C.U.L.T e a de vocês como indivíduos?
Conhecendo bem os devotos da horda poderia dizer que temos inuências muito
parecidas, somos todos interessados pelas Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia
e Ciências Políticas), pela literatura de horror e sem dúvidas a literatura ocultista,
frequentemente conversamos sobre estes temas. Mais em termos do U.N.C.U.L.T, como dito
anteriormente tudo está envolvo do LIBER EVTHANASIAS LVX.
Vocês estão ligados a alguma organização e/ou grupo de indivíduos que estudam
e praticam alguma manifestação concreta da Via Sinistra? Qual é a importância de haver
mais indivíduos ligados às artes negras e grupos praticantes?
Sim, nós somos, como já dito antes devotos do Culto 67 da corrente LVL22, eu
poderia dizer que esta é uma manifestação que está no seio do Círculo Hermético Pvtridvs
Vox, que detém em termos de expressão indivíduos com diversas práticas espirituais. Mas,
especicamente nós somos uma fração do C.H.P.V com essa prática particular.
Novamente, assim como no tema das drogas, temos duas vias de leitura, no entanto
irei me deter exclusivamente aqui a minha perspectiva sob uma ótica espiritual do tema.
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A alienação é um grande tema das Ciências Sociais, sobretudo da Sociologia, e se eu for
falar em termos de Ciência poderia dizer que esta é sem dúvidas a única com autoridade
suciente para falar com propriedade sobre o tema. Partindo deste raciocínio eu poderia
iniciar minha fala apontando para o fato que a alienação enquanto distanciamento da
realidade e ilusão sobre a atividade humana realizada esteve presente em diversas etapas
da formação das sociedades humanas, tendo sem dúvidas seu estado embrionário no início
do mundo moderno com o processo de urbanização e instrumentalização do chamado
“trabalho formal”. Este é um processo gigantesco de alienação demiúrgica, as mídias de
massa, as informações de massa, a política baseada no sistema econômico capitalista e mais
outras mil engrenagens de modelagem da ilusão social
socia l que chamamos de identidade. Tudo
que se envolve com a via sinistra se coloca em um lugar diametralmente oposto a todo este
projeto do EGO, por tanto, não é difícil supor que lançar lâminas ao dragão do logos é uma
tarefa árdua para poucos.
A cultura de uma forma mais ampla, não entrando aqui no mérito da cultura
escolar ou do que o sociólogo francês Bourdieu chamaria de Capital Cultural, reproduz os
sistemas do demiurgo na nossa sociedade, no entanto, os princípios da educação sistemática
podem, em uma via paradoxal, ser o início da emancipação do indivíduo. Poderia dizer
que espiritualmente falando este seria um processo dialético da educação formal, de
síntese, antítese e tese, ao mesmo tempo em que reproduz as condições das desigualdades
demiúrgicas cria a possibilidade de um novo titã anti-cósmico ser desperto em uma alma
inquieta.
Não posso falar por todos da horda pois estes trilharam caminhos diferentes dos
meus, mas se tratando da minha pessoa os trabalhos da MLO tiveram um grande inuencia
na minha consciência espiritual a nível de organização de certas tecnologias de comunica ção
espiritual. O primeiro trabalho que tive contato foi o LIBER AZERATE, não me lembro ao
certo a quantos anos exatamente, mas a primeira versão que tive acesso era uma apostila
impressa (ou xerocada não tinha como identicar) que obtive por meio de uma pessoa
próxima a mim, depois o material surgiu em PDF, inclusive em português.
Apesar de ser uma obra magníca não trazia grandes novidades em termos de
conteúdo e proposta espiritual, pois muitas das fontes utilizadas para a composição
do mesmo, em termos de arquétipos, eu já havia tido contato anteriormente, no entanto
a simetria e organização do trabalho me chamaram muita atenção sobretudo o seu ente
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superior e central, o senhor dos 11.
Caminhei neste grimório em termos de práticas e estudos, até que passamos a nos
deslocar em nosso sistema interno o S.A.A. Já com relação ao Falxifer tive acesso em um
momento posterior e meu interesse pela obra é com relação
rela ção a profundidade de conhecimento
com relação ao oculto, mas não com relação às suas práticas espirituais.
Em primeiro lugar gostaria de agradecer a você Pharzhuph por este prazeroso e raro
diálogo, pois muito raramente me deparo com pessoas que considero realmente inteligentes
e espiritualmente emancipadas. Gostaria de dizer que o Lucifer Luciferax
Luc iferax tem o meu respeito
e admiração pois sempre vi este trabalho dentro de uma proposta séria e forte
f orte dentro da Via
Sinistra. No mais sobre o U.N.C.U.L.T eu não tenho a intenção de falar nada mais do que
está expresso nas nossas músicas! Hoje e sempre seremos os pilares de uma fé sinistra onde
os pilares são a DOR, a DEVOÇÃO e a DISCIPLINA! Ave XI! Ave 67!
https://uncultlbrvthnsslvx.bandcamp.com/releases
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NOTA INTRODUTÓRIA:
Este artigo nasceu de um trabalho anterior no qual me centrei nas diferenças entre dois espíritos da
d a demonologia
tradicional: Lucifuge Rofocale, o "espírito dos pactos" que gura de forma proeminente no Grand Grimoire,
Grimoire, e
Focalor, o 41º espírito da Goetia
Goetia.. À medida que o escrevia foi-se tornando claro que vários outros assuntos
deveriam ser discutidos, e então eu decidi expandir o trabalho anterior para outro bem mais completo sobre
Lucifuge Rofocale, contendo também algum material original. A intenção não é apenas partilhar informação,
mas também trazer novas perspectivas que possam ser úteis a certos estudos de demonologia e simbologia, e
fornecer ferramentas novas a quem as saiba usar com prudência, inteligência e responsabilidade.
É importante salientar, no entanto, que este texto não deve ser encarado como um estudo puramente académico
de uma gura clássica da demonologia ocidental (embora contenha partes que podem incluídas nesse campo),
mas antes uma análise de Lucifuge Rofocale, incluindo muitas investigações, descobertas e intuições relacionadas com
a mesma entidade, com base na minha própria experiência e em muita coisa que eu aprendi através de outros . Trata-se
portanto de um estudo pessoal, que pode – e deve – se r aprofundado e ampliado por todos aqueles que vejam
neste texto uma ferramenta de estudo (ou trabalho) válida.
***
ÍNDICE:
• O Início
• Parte I – "O Nome"
• Parte II – "A Imagem"
• Parte III – "O Reexo"
• Parte IV –
– Anexos
Anexos
Anexo 1 – Lucifuge Rofocale noutros grimórios?
Anexo 2 – Tabela dos Espíritos
Anexo 3 – "Bem e Mal": Ou será assim mesmo?
Anexo 4 – Galeria de Lucifuge
• Agradecimentos e Dedicatória
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O INÍCIO:
Há quase duas décadas, eu estava numa livraria a ler partes d' O Livro de Magia Cerimonial de
Cerimonial de Arthur E. Waite,
quando parei de folhear o livro numa página que continha uma representação algo tosca de um Espírito que
eu nunca tinha visto antes:
LUCIFUGE ROFOCALE
A minha atenção foi imediatamente dirigida para esta imagem, por pelo menos duas razões. No instante
em que vi esta imagem, eu reparei como o Espírito parecia combinar partes de outras imagens semelhantes
que eu tinha visto antes: o “Bode Sabático” Baphomet de Eliphas Lévi, o deus grego Pan, o Puck ou “Robin
Goodfellow” do folclore inglês, ou uma conjunção bizarra das duas cartas “O Louco” e “O Diabo” do Tarot.
A outra razão pela qual eu me senti impelido de estudar melhor isto foi o Nome do Espírito, por razões que
serão explicadas de seguida. No entanto, antes de entrarmos em maiores detalhes, torna-se necessário antes
explicar “quem” ou “o que” é Lucifuge Rofocale, de acordo com as fontes tradicionais disponíveis, de forma a
dar ao leitor um contexto correcto para este estudo.
O PRIMEIRO-MINISTRO DO INFERNO
O espírito Lucifuge Rofocale é de especial interessante porque existe apenas UMA fonte na qual ele aparece:
Vermelho , também conhecido como Grand Grimoire.
O Verdadeiro Dragão Vermelho, Grimoire. Neste grimório é dito que Lucifuge
Rofocale é um de seis espíritos inferiores sob as ordens dos três Superiores: Lúcifer, Beelzebuth, e Astaroth 1 2.
1 Esta tríade infernal de Lúcifer, Beelzebuth e Astaroth parece derivar de um tratado anterior ao Grand Grimoire em
Grimoire em
alguns séculos: o Hygromanteia
Hygromanteia ou
ou Tratado Mágico de Salomão, no qual os quatro espíritos guardiães dos pontos cardeais
são: Loutzipher (Leste),
(Leste), Beelzeboul (Sul), Astaroth (Oeste) e Asmodai (Norte). Apenas Asmodai – ou Asmodeus – não faz
parte da tríade superior.
2 Outros documentos, como a Clavicula Salomonis De Secretis,
Secretis, referem Lúcifer, Belzebut e Elestor.
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Estes são os seis espíritos inferiores:
E mais,
«O primeiro é o grande LUCIFUGE ROFOCALE , Primeiro Ministro infernal, que detém o controlo,
com que Lúcifer o investiu, sobre toda a riqueza e todos os tesouros do mundo. Os seus subordinados são
Baal, Agares e Marbas, assim como milhares de outros demónios ou espíritos que são seus subordinados.»
A leitura do Grimório revela que este é o clássico demónio dos pactos, o espírito com quem um pacto pode
ser feito para obter poder ou dinheiro, embora, no entanto, ele exija a alma do karcista (mago) após vinte ou
karcista (mago)
cinquenta anos .1
Parte I:
“O NOME”
Tal como disse anteriormente, eu achei o nome “Lucifuge Rofocale” muito intrigante quando o vi a primeira
vez. A primeira parte, “Lucifuge”, era semelhante a “Lúcifer”, mas eu lembrava-me de estudos anteriores que
“lucifugus” em latim queria dizer “(aquele) que foge da luz”. Isto é um nome muito curioso para o espírito que
governa sobre as riquezas e os tesouros! O meu primeiro pensamento quando percebi isto foi que perseguir
o poder mundano e auto-engrandecimento através de um “pacto infernal” conduziria inevitavelmente à
perdição, para longe da luz da verdade espiritual. Neste caso, Lucifuge Rofocale seria uma máscara para
o próprio Diabo, o aliciador ou tentador do Homem, prometendo-lhe todo o poder e riquezas em troca da
sua própria alma. Isto, pelo menos, é o que o Grand Grimoire aparenta
Grimoire aparenta transmitir numa primeira análise do
texto. Este aspecto merece uma reexão mais aprofundada, a qual eu deixarei para quando abordarmos a
simbologia de Lucifuge Rofocale.
1 O mago inteligente pode, no entanto, estabelecer um pacto que favoreça tanto ele próprio como o Espírito.
As instruções dadas no Grand Grimoire
Grimoire – ou qualquer outro Grimório – são por vezes intencionalmente confusas ou
enganadoras, enquanto noutros casos escondem pistas à vista de todos. A análise de diferentes edições dos grimórios é
também muito enriquecedora.
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Demónios” , de (pseudo-)Michael Psellus1. Nesta obra o autor fornece um sistema de
“Sobre a Operação dos Demónios”,
classicação dos vários tipos de dæmons ou espíritos, organizando-os em seis grupos:
dæmons ou
Os vários tipos de dæmons organizam-se assim num esquema que contém os 4 elementos aristotélicos mais
dæmons organizam-se
duas categorias de espíritos que são avessos à luz: os subterrâneos (por razões óbvias) e os lucífugos, que
‘fogem da luz’2. Assim, não existe aqui qualquer elemento angelical ou divino, uma vez que todos estes grupos
estão inseridos na realidade material formada pelos 4 elementos e pela ausência de luz. Na realidade, segundo Psellus,
os demónios lucífugos são o pior dos seis grupos, pois apesar de todos os dæmons odiarem Deus e o Homem,
dæmons odiarem
os lucífugos são eminentemente maliciosos e enganadores, superando o intelecto do Homem com fantasias
e ilusões, com intenção de o destruir. Psellus acrescenta que “os subterrâneos e os lucífugos, se eles se poderem
insinuar para dentro dos pulmões daqueles que os encontram, agarram-nos e sufocam-nos, tornando-os epilépticos e
insanos”.. Terrível.
insanos”
E falando em “terrível”, aproveito para partilhar convosco a fotograa de uma criatura horrenda chamada
Lucifugus, conhecida por assombrar os pesadelos de muitas pessoas:
Myotis Lucifugus,
É um morcego. Só.3
O nome “Rofocale” foi sem dúvida o mais desaante dos dois. O nome não parecia ser latim, nem eu me
lembrava de qualquer nome ou palavra latina remotamente parecida com “Rofocale”. Percorri dicionários de
latim, grego e hebraico sem qualquer sucesso.
Parecia haver uma pista sobre este nome no texto do Grand Grimoire,
Grimoire , pois quando Lucifuge concorda com
as condições do pacto e mostra a sua assinatura, ele diz que a forma de o chamar é pronunciando a palavra
“Rofocale”. Isto é muito signicativo em termos mágicos, pois implica que a palavra “Rofocale” é um sigilo
(um mantra
sonoro (um
sonoro mantra)) de Lucifuge – ou posto de outra forma, o nome “Rofocale” representa Lucifuge
Lucifuge.. Mas como?
Fiz muitas pesquisas sobre esta palavra, até que
q ue encontrei uma teoria que, de tantas vezes repetida como se de
um facto
um comprovado se tratasse, merece ser aqui mencionada.
facto comprovado se
Na minha procura pelo signicado do nome Rofocale, eu tropecei em algumas fontes que diziam que “Rofocal”
(se eliminarmos o ‘e’ nal, que não é pronunciado) é um anagrama de “Focalor”, o nome de um espírito da
Goetia, estabelecendo assim uma possível ligação com base nos
Ars Goetia, no s seus nomes. Pelo que eu sei, esta suposição
parece advir do livro clássico de Elizabeth M. Butler, “Ritual Magic”,
Magic”, primeiro publicado em 1949, o qual foi
extremamente inuente até aos nossos dias . 1
Enquanto é certamente verdade que as letras que compõem o nome “Rofocal” são as mesmas que compõem
o nome “Focalor”, explicar o signicado de “Lucifuge Rofocale” associando-o a Focalor parece obscurecer esta
questão, em vez de a iluminar (desculpem).
(desculpem).
De acordo com o texto da Goetia
Goetia,,
Selo de F OCALOR
OCALOR , 41o espírito da Goetia.
1 Por exemplo: GUILEY, Rosemary Ellen (2009). The Encyclopedia of Demons and Demonology.
Demonology . Infobase Publishing.
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Esta descrição tem praticamente nada a ver com qualquer descrição de Lucifuge Rofocale, tanto por aparência
nada a
como por funções:
• Lucifuge Rofocale é descrito como o “Primeiro Ministro do Inferno”, tendo poder sobre riquezas materiais
e tesouros. Ele tem três cornos (ou o que por vezes parece ser um chapéu de bobo), pernas de bode e cascos,
e uma cauda, enquanto segura uma bolsa com moedas e uma espécie de anel ou arco 1. Existem algumas
variações subtis nas representações de Lucifuge Rofocale, mas todas elas seguem um padrão semelhante.
• Focalor é descrito como um duque forte e poderoso, tendo poder sobre os ventos e os mares, sendo capaz de
afogar homens e destruir navios de guerra. Aparece na forma de um homem com asas de grifo.
Aparentemente não existem razões para acreditar que o nome “Rofocal(e)” possa ser explicado pela sua
associação ao espírito Focalor. No entanto, numa edição francesa do Grand Grimoire existe
Grimoire existe uma representação
de Lucifuge Rofocale como uma esnge alada, o que poderia trazer alguma substância a esta conexão 2.
Apesar de tudo, na maioria das edições o carácter de Lucifuge aparece de forma bem diferente. Não mostra
uma esnge ou criatura alada, mas em vez disso a cabeça estilizada do próprio Lucifuge, e um sigilo. Pode ser
algo como isto:
1 Ou um corno! É curioso reparar que o "anel" aparece de formas diferentes nas várias representações de Lucifuge.
Em algumas é um anel ou arco, noutras é um corno, enquanto noutras Lucifuge está literalmente a "passar através do
anel", enquanto segura um segundo anel mais pequeno (!!). Estas discrepâncias são curiosas e serão melhor exploradas na
segunda parte deste texto – "A Imagem".
2 STRATTON-KENT, Jake (2009). The True Grimoire.
Grimoire. Scarlet Imprint.
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ou isto:
ou isto:
Foi depois de eu aprender esta teoria “Rofocal=Focalor” que a resposta veio até mim: d e forma completamente
inesperada, e mesmo à frente dos meus olhos.
Eu estava a ler o Livro III da Magia
da Magia Sagrada de Abramelin o Mago,
Mago , o qual contém uma série de quadrados com
letras, com vários poderes mágicos. Com algumas poucas excepções, os quadrados neste livro são perfeitos
palíndromos,, isto é, os quadrados podem ser lidos da mesma forma tanto do início para o m como o inverso.
palíndromos
No terceiro capítulo são mencionados quatro quadrados usados “para fazer aparecer qualquer espírito, e tomar
etc” . Um desses quadrados mágicos é este:
qualquer forma, seja de homem, animal, ave, etc”.
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Primeiro eu notei na primeira linha soletrando “Lúcifer”. As palavras seguintes não tinham qualquer
signicado para mim 1, mas quando cheguei à última linha... algo de repente fez sentido. “ REFICUL” – “Lúcifer”
contrário – soou-me muito familiar, pois fazia-me lembrar o segundo nome do espírito que eu estava
escrito ao contrário –
a investigar: Lucifuge Rofocale.
Bom... porque não? Se Lucifuge é “aquele que foge da luz” e Lúcifer é o “portador da luz”, então faria
perfeitamente sentido que o “sombrio” Lucifuge fosse o inverso do “luminoso” Lúcifer – num sentido bem
inverso do
literal2. Assim, tornou-se claro para mim que “Rofocale” foi uma forma de codicar a verdadeira natureza de
Lucifuge, enquanto ao mesmo tempo serviu para manter o segre do escondido à vista de todos, trocando-se as
vogais correctas por outras – até mesmo adicionando o ‘e’ nal para complicar ainda mais as coisas.
Isto vem conrmar a suspeita anterior, quando primeiro abordámos o nome “Rofocale”, de que “Rofocale”
(Recul, inversão de Lúcifer, o “portador da luz”)
luz” ) signica o mesmo que “Lucifuge” (Lucifugus, “aquele que
luz”).
foge da luz”).
«(...) Também aprovo o teu Livro, e dou-te a minha verdadeira assinatura em pergaminho,
que axarás no nal, para a usares conforme precisares. Além disso, coloco-me à tua disposição,
para aparecer na tua presença à tua chamada quando,
chamada quando, estando puricado, e empunhando o terrível
Bastão Explosivo, abrires o Livro, tendo traçado o círculo cabalístico e pronunciado a palavra
ROFOCALE . Prometo-te ter relações amistosas com aqueles que estiverem forticados pela posse do
dito Livro, onde está a minha verdadeira assinatura, desde que me invoquem com consideração,
de forma amigável e de acordo com as regras, na primeira ocasião em que precisarem de mim.
Também me comprometo a entregar-te o tesouro que procuras, com a condição de manteres o
segredo inviolável para sempre, seres caridoso para com os pobres e me dares uma moeda de ouro
ou prata no primeiro dia de cada mês. Se não o zeres, serás meu para sempre.
– LUCIFUGE ROFOCALE, APROVADO
Tendo em conta aquilo que eu escrevi anteriormente, o que aconteceria se trocássemos a palavra “Rofocale”
por “Recul”? Não faria sentido?...
Esta inversão de nomes, de “Lúcifer” para “Recul”, é sem dúvida o aspecto mais interessante de Lucifuge
Rofocale e aquele que merece a mais demorada reexão, pois é precisamente aí que se esconde a sua verdadeira
natureza.
Deixarei esse assunto para um próximo capítulo. Por enquanto, irei debruçar-me sobre a simbologia presente
simbologia presente
nas várias representações de Lucifuge Rofocale.
"A IMAGEM"
«(...) A gente do campo, todavia, continuou a aderir às suas antigas imagens. Nos meios rurais,
o «inimigo» não aparece para ensinar losoa; proporciona antes conselhos de natureza mais prática e,
em vez de tesouros de sabedoria, dá-lhes dinheiro. Ao camponês, ele aparecia e ainda o faz sob a forma
bestial de épocas remotas, com chifres, cascos e cauda. É assim que o representam os livros negros do
século passado, usando ainda, ocasionalmente, um casaco franjado, como se tivesse de pagar tributo aos
progressos da civilização. Ostenta os três chifres como um gorro de bobo e as suas patas de bode são
as do seu antepassado Pã. Como traz dinheiro consigo, são muitos aqueles que o olham com simpatia;
porém, tal dinheiro não proporciona uma riqueza duradoura, uma vez que depressa se converte em
excremento de cavalo ou cinzas. É por essa razão que os feiticeiros estão sempre ansiosos por se verem
livres de numerário tão efémero: tratava-se literalmente de dinheiro ígneo, porquanto se inamava
quando lançado por terra. O demónio adopta por vezes uma forma bovina, como podemos ler no livro
de conjurações “A Galinha Preta”, embora traje uma antiquada sobrecasaca bordada e folhos. Contudo,
tal não chega para torná-lo mais amável: vestido de veludo e rendas, continua a ser o antigo inimigo,
um monstro formidável.»
57
Inicio esta parte com duas coisas que eu adoro. A primeira é aquela que eu considero ser a imagem mais
emblemática de Lucifuge Rofocale – aquela que eu chamo a “fonte primária” ou
primária” ou “progenitora” de quase todas as
“progenitora” de
outras versões tradicionais da imagem. Devido à clareza da imagem, é essa que eu vou usar como modelo de
comparação quando explicar os elementos das várias ilustrações de Rof ocale. Eu também tenho uma fotograa
de outra imagem de Lucifuge, que vou partilhar de seguida, que me parece ser um “estágio intermédio” entre
esta gura original e as outras: não tão simbolicamente carregada como a imagem original 1, nem tão pobre
em detalhes como as versões posteriores. Resta saber se a minha “fonte primária” não terá sido ela própria
inspirada noutra gravura mais antiga, pois a edição francesa acrescenta por baixo da gura: d’après une gravure
(“segundo uma gravura antiga”). Seja como for, aquilo que importa destacar nestas duas imagens
ancienne (“segundo
ancienne
neste momento é a minúcia do detalhe pois,
detalhe pois, ao contrário das restantes, são extremamente claras.
A segunda coisa que eu mais gosto neste início é um parágrafo em que eu considero que Kurt Seligmann
conseguiu captar uma parte essencial da simbologia de Lucifuge Rofocale – não s ó pela maravilhosa descrição
do “espírito dos pactos”, como também por referir que o dinheiro dado pelo diabo é efémero. Essa qualidade
efémera do “dinheiro do diabo” é ilustrada precisamente pela fonte
pela fonte primária das imagens de Lucifuge,
Lucifuge, a imagem
que inicia esta Segunda Parte, na qual Lucifuge segura um saco virado ao contrário, deixando cair as moedas
que se inamam quando tocam no chão.
Antes de passarmos a uma análise da(s) imagem(ns) de Lucifuge Rofocale, é importante referir que as
Quando eu vi pela primeira vez a imagem a Lucifuge Rofocale, não consegui perceber se e le tinha 3 cornos ou
um chapéu de bobo – principalmente porque qualquer um delesd eles caria bem na imagem de Lucifuge! Vejamos:
no Tarot, a imagem tradicional do Louco mostra um homem com chapéu de bobo, segurando um saco (atado
numa vara que ele transporta ao ombro) e usando uma roupa algo parecida com a de Lucifuge. Na carta do
Diabo, por sua vez, aparece... enm... o Diabo!, com todas as características bestiais que nós já conhecemos.
Nalgumas versões do Tarot de Visconti-Sforza, a carta do Diabo é bem mais parecida com a imagem tradicional
de Lucifuge, acrescentando as pernas e patas de bode. É curioso reparar, no entanto, que d os Tarocchi do século
1 Quando estudamos certas entidades, nós dirigimos, de forma consciente ou inconscientemente, alguma da nossa
energia para elas. Segundo a lei das correspondências o reverso também acontece, e a própria entidade também foca
alguma da sua atenção em nós – cada um segundo as regras, liberdades e condicionamentos característicos da dimensão
física ou extrafísica a que pertence. "Assim em cima como em baixo".
baixo" . Lembra-se?...
2 É essencial referir que a experiência com qualquer tipo de entidade é sempre individual e única.
59
XV que sobreviveram até aos nossos dias, em nenhum deles se encontra a carta do Diabo1. As cartas do Diabo
que são vendidas juntamente com os baralhos modernos são cartas de substituição.
substituição.
Mantendo-se esta dúvida sobre se Lucifuge teria cornos ou um chapéu de bobo, eu tratei de aprofundar esta
questão tentando apanhar todas as imagens do espírito que eu conseguisse. Hoje posso dizer que tenho uma
boa colecção de imagens de Lucifuge Rofocale, desde as mais antigas às mais modernas (algumas muito boas),
o que me permite armar que são na verdade 3 cornos – embora a alusão ao chapéu de um bobo se mantenha,
e não me parece que isso tenha sido despropositado.
Algumas versões da imagem mostram dois cornos em vez de três, como esta:
Existe ainda outro factor sobre os três cornos que eu gostaria de referir. No Dictionnaire Infernal de
Infernal de Collin de
Plancy, publicado pela primeira vez em 1818 , é referido um outro demónio dotado de 3 chifres – o qual, que
2
eu saiba, é o único além de Lucifuge a ser representado com esta característica peculiar. 3 Trata-se de Leonard
ou Mestre Leonardo, o “Grande Bode Negro” do Sabbat das Bruxas.
«Leonardo, demónio da primeira ordem, grão-mestre dos sabbats, chefe dos demónios subalternos, inspector-geral de
feitiçaria, magia
magia negra e bruxaria.
bruxaria. Ele é muitas vezes chamado
chamado “Le Grand Negre”
Negre” (O Homem Negro).
Negro). Ele preside o Sabbat
sob a forma de um bode da cintura para cima; ele tem três cornos na sua cabeça, duas orelhas de raposa, pêlos nos como
cabelo, olhos inamados e muito abertos, uma barba de bode, e uma face no seu traseiro. As bruxas adoram-no beijando-o
na face inferior enquanto seguram uma vela verde nas mãos. Por vezes ele assemelha-se a um cão de caça, ou um boi, ou
um grande pássaro preto, ou um tronco de árvore com uma face sombria acima. Os seus pés, quando ele comparece no
Sabbat, são sempre de um ganso. Entretanto, pessoas com experiência de terem visto o Diabo no Sabbat observaram que ele
não tem pés, de todo, quando assume a forma de um tronco de árvore, e noutras circunstâncias extraordinárias. Leonardo
é taciturno e melancólico; mas em todas as assembleias de bruxas e demónios onde ele é obrigado a aparecer, ele mostra-se
em vantagem e faz uso de uma solenidade soberba.»
Eu não sei se existe alguma ligação entre Leonard e Lucifuge, até porque o Grand Grimoire data,
Grimoire data, segundo se
acredita, de inícios do século XIX – que é precisamente a altura em que o Dictionnaire Infernal foi
Infernal foi publicado. Se
existiu alguma inuência directa ou indirecta eu sinceramente não sei – no entanto, acredito que não se trata
de uma coincidência. Eu explicarei a minha opinião quando falar sobre o anel, arco ou corno (instrumento
musical de sopro) que Lucifuge Rofocale segura numa das mãos.
1 Artigo de Mary K. Greer (em Inglês) – "Tarot e cartas de jogar na Bruxaria": www.marykgreer.com/2008/04/09/
tarot-and-playing-cards-in-witchcraft
2 A versão que inclui as famosas imagens de Louis Breton só foi publicada mais tarde, em 1863.
3 Existiu não um demónio, mas uma gura gura divina da tradição celta chamada TARUOS TRIGARANOS, um touro com três
cornos, que teria estado associado à fertilidade da terra e aos mistérios do 'outro mundo'.
60
(Mestre) LEONARDO , Senhor do Sabbat das Bruxas.
Eu não sei se existe alguma ligação entre Leonard e Lucifuge, até porque o Grand Grimoire data,
Grimoire data, segundo se
acredita, de inícios do século XIX – que é precisamente a altura em que o Dictionnaire Infernal foi
Infernal foi publicado. Se
existiu alguma inuência directa ou indirecta eu sinceramente não sei – no entanto, acredito que não se trata
de uma coincidência. Eu explicarei a minha opinião quando falar sobre o anel, arco ou corno (instrumento
musical de sopro) que Lucifuge Rofocale segura numa das mãos.
Na fonte primária:
Tratam-se claramente de 3 cornos, sem qualquer margem para dúvidas. O corno do meio, no entanto, tem um
formato muito peculiar, diferente dos outros.
Na fonte secundária:
Não é tão claro que se trate de cornos, devido à sua forma estranha. Há a sugestão de um chapéu de bobo.
61
UM SACO DE MOEDAS E UM TESOURO
Em quase todas as imagens de Lucifuge aparece um tesouro, um monte de moedas caído (ou guardado) no
chão. E em quase todas as imagens de Lucifuge ele segura um saco, do qual existem algumas variações que
quase todas
são dignas de nota. Em algumas imagens, ele apenas segura um saco com moedas – ou pelo menos presume-
se que sejam moedas ou dinheiro, sendo ele o espírito que detém o controlo sobre as riquezas e tesouros do
mundo – enquanto uma espécie de tesouro (monte de moedas) é visível no chão. Noutras imagens Lucifuge
segura um saco, enquanto outro saco com moedas (visíveis) está caído no chão. E numa terceira variação, que
me parece ser das mais relevantes ao nível simbólico, Lucifuge seg ura um saco de moedas virado ao contrário,
deixando-as cair para o chão. Quando elas tocam no chão, inamam-se. Nesta variação, não existe qualquer
tesouro ou monte de moedas.
Também houve algo que eu não referi quando falei dos dois arcanos do Tarot, o Louco e o Diabo, e que tem
precisamente a ver com o saco de Rofocale. O Louco do Tarot transporta um pequeno saco com todos os bens
que possui – o que signica o seu desapego em relação às coisas materiais. Lucifuge, por outro lado, guarda
tesouros no seu saco, os quais se transformam em cinzas quando lançados por terra – mostrando a natureza
ilusória e transitória dos tesouros, honrarias ou riquezas materiais que ele traz.
Existem até outras variações nas quais nem sequer existe um saco de moedas! Nelas vê-se, apesar de tudo,
um tesouro escondido (enterrado?) no chão, estando Lucifuge a protegê-lo, parado em cima dele. Esta é uma
dessas versões:
62
Na fonte primária:
Não existe qualquer tesouro. O saco de moedas segurado por Lucifuge está virado ao contrário, deixando as
moedas cair, que se inamam quando tocam no chão.
Na fonte secundária:
Lucifuge segura um saco (vazio?), e outro saco com moedas visíveis está caído no chão. A minha suspeita de
que o saco segurado por Lucifuge está vazio baseia-se no f acto de ele parecer não conter qualquer peso dentro
dele (moedas, etc) devido à sua posição meio de lado. Um saco cheio de moedas não estaria de lado, como que
esvoaçando, mas sim pendurado. É claro que pode apenas ser liberdade artística por parte de quem desenhou
esta imagem... No entanto, pode haver aqui um trocadilho propositado, baseado na palavra latina follis
latina follis,, "saco"
ou "fole" (literalmente um "saco de ar"), sugerindo a mesma natureza ilusória e efémera do "dinheiro do diabo"
que está presente na fonte primária. Curiosamente, a palavra latin follis é a origem etimológica das palavras
follis é
inglesas folly
inglesas (loucura) e fool
folly (loucura) e fool (louco).
(louco). O Louco do Tarot também carrega um "saco de ar"...
UMA CAUDA
«Neste comenos tremeu a Terra e, logo depois desta convulsão, a Lua, toda manchada de laivos
de sangue, desceu rapidamente sobre a encruzilhada de Nevilly e, apenas tornou a subir para o seu
lugar, um grande senhor apareceu fora do círculo, no qual a virtude das palavras mágicas lhe vedava
a entrada.
O corpulento senhor, mais alto do que Siderol, por toda a grandeza do barrete de Sganarello, tinha
grandes e revoltados cornos de carneiro sobre a cabeça, um enorme rabo de macaco que graciosamente
movia por entre as pernas, pés de bode e em cima de tudo isto uma cabeleira de bolsa e um vestido
escarlate agaloado de ouro, porque é sempre neste aparato que o Diabo costuma aparecer às criaturas.
Se alguma vez chamardes por ele, vereis, cheios de horror, a gura que vos acabo de mostrar.»
A cauda é uma das características sempre associadas ao Diabo. Apesar de o Livro de S. Cipriano mencionar um
Seja qual for a verdadeira origem da cauda do Diabo (isto é, Lucifuge), ela parece simplesmente representar
uma maior ligação à natureza animal/terrena do que no comum mortal,
mortal , conrmando assim Lucifuge como o “senhor
das coisas materiais”.
Este parece ser o elemento que sofreu mais mutações ao longo do tempo, sem dúvida por descuido nas
reproduções e reproduções de reproduções a
reproduções a que a imagem de Lucifuge Rofocale foi sujeita ao longo do tempo.
Para explicar melhor aquilo que eu quero dizer, passo a mostrar três imagens distintas:
Não é interessante como na primeira imagem (à esquerda) Lucifuge segura um arco ou um anel, na segunda
segura qualquer coisa que não se percebe (por motivos anatómicos não pode ser um aro/anel como na
primeira imagem), e na terceira Lucifuge está a passar através do mesmo anel? A sequência, posta desta forma,
através do
quase parece um truque de ilusionismo. Se isto foi propositado ou não, eu não sei, mas é sem dúvida curioso.
A imagem mais à direita faz parte de um conjunto de imagens similares que mantêm algumas diferenças em
relação às versões mais conhecidas, como as duas primeiras – principalmente no saco de dinheiro que não
existe, e de exibirem dois anéis em vez de um. Curiosamente, a imagem que está mais próxima daquela que eu
chamo a “fonte primária” é a do centro, aquela em que não se percebe bem o que é aquilo que Lucifuge está a
segurar. A mesma representação tosca foi feita noutras imagens:
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Vericando a "fonte primária", percebe-se perfeitamente o que é este "anel esquisito":
65
Agora a irresistível questão: porquê um corno?
Eu referi antes uma possível ligação entre Lucífugo e Leonardo, um demónio referido no Dictionnaire Infernal
de Collin de Plancy como sendo o "homem de negro" do Sabbat das Bruxas, baseando-me no facto de ambos
terem traços caprinos e ostentarem três cornos. Bom, eu n ão sei se existe de facto alguma ligação, mas quando
q uando
descobri que o "anel misterioso" na verdade era um corno, isso levou-me a considerar outras hipóteses.
Em primeiro lugar, porque
lugar, porque é
é que Lucifuge, um demónio representado com três cornos, pernas e cascos de bode,
tocaria um corno?
Nós vemos algo muito semelhante em tradições europeias relacionadas com a Caçada Selvagem. Nas tradições
célticas e germânicas, a Caçada Selvagem é uma horda de espectros fantasmagóricos que atravessam a noite
liderados pelo Rei da Caçada Selvagem, HERNE, o Deus Cornudo, o qual toca um corno como que a chamar os
espíritos e a anunciar a subversão da ordem vigente.
H ERNE
ERNE , o Caçador – ilustrado por George
George Cruikshank, c. 1843.
Segundo a tradição, a Caçada Selvagem ocorria entre o início do ano celta, por volta do início de Novembro
(a festa do “Samhain” dos neo-pagãos) e o Solstício de Inverno, que correspondia ao festival “Jul” ou “Yule”
dos povos nórdicos. Esta era uma altura do ano tradicionalmente associada a um aumento da actividade
paranormal, desfazendo-se temporariamente o “véu” que separa os dois mundos, material e espiritual (ou
ctónico). A Caçada Selvagem está associada, dessa forma, a um tempo entre os tempos e
tempos e a um espaço entre os
espaços,, aquele espaço e tempo que não são espaço nem tempo, nem luz nem trevas, nem vida nem morte, nem
espaços
sono nem vigília, mas ambos e nenhum ao mesmo tempo – o Caos primordial, no qual a Ordem do universo
é suspensa temporariamente e se regressa à “Idade de Ouro” governada por Saturno, o Deus Negro. 1 Não é
sem razão que o Diabo aparece sempre nas encruzilhadas, já que na encruzilhada, no sítio onde os caminhos
se cruzam, estamos num espaço que nem é um caminho nem é o outro, mas é ambos e nenhum ao mesmo
tempo. Este é um dos fundamentos teóricos da Caçada Selvagem segundo as tradições antigas e modernas de
Bruxaria. É inegável também a associação clara entre a Caçada Selvagem e o Sabbat das Bruxas, mas com uma
diferença fundamental: enquanto o primeiro é uma incursão do mundo dos mortos no mundo dos vivos, o
segundo é celebrado num espaço e tempo além do mundo dos vivos. 2
Altar de C ERNUNNOS
ERNUNNOS , com Apollo e Mercúrio. Museu
Museu Saint-Remi (Reims – França).
Nesta imagem, por exemplo, vemos Cernunnos segurando um saco de onde jorram moedas, como a corrente
de um rio, o que simboliza o poder de Cernunnos sobre as riquezas do submundo –
submundo – como Plutão, o deus do
submundo e das riquezas subterrâneas. Um motivo semelhante é encontrado nas imagens de Lucifuge, que
nós já estudámos, que o mostra vertendo para o chão as moedas de um saco.
Existe ainda outra imagem (bem mais conhecida) de Cernunnos, que deve também ser aqui referida:
67
Repare-se no "anel" (aliás, torque) segurado por Cernunnos. Parece familiar?
Esta imagem de Lucifuge também é curiosa, pois mostra Lucifuge a passar através do anel maior, como se se
através do
tratasse de um portal, ou um rito de iniciação. Na verdade, existem alguns círculos megalíticos que contêm
pedras com buracos naturais, que fazem parte de uma antiga tradição de "passar através do anel". Segundo se
acreditava, essas "passagens" na pedra eram guardadas por espíritos ou fadas, e o acto de passar através da
pedra teria efeitos milagrosos – nalguns casos, a cura de uma doença, ou o advento de uma gravidez desejada.
Uma dessas pedras situa-se em Mên-an-Tol, na Cornualha, Reino Unido:
68
Até agora eu explorei diversas gravuras de Lucifuge Rofocale, em que tentei expor a minha interpretação
de alguns detalhes que diferem entre elas. Alguns desses detalhes terão sido surpreendentes para algumas
pessoas, enquanto outros não foram assim tão surpreendentes. Eu não esperava outra coisa: na verdade,
"trata-se apenas de mais uma representação do Diabo" , em que muito já foi escrito sobre esse assunto e já há poucas
investigações novas que nos consigam surpreender. Certo.
A novidade que eu tenciono introduzir neste estudo reside, no entanto, na conciliação entre o estudo das
gravuras de Lucifuge que foi feito no capítulo anterior e as descobertas descritas na 1ª Parte sobre a relação
entre Lucifuge e Lúcifer: ou mais precisamente, entre "Rofocale" e a inversão de Lúcifer (Recul). Sendo
Lucifuge representado por uma gura teriomórca (humana e animal), em que medida é que isso se torna
relevante quando compreendemos que Lucifuge é o inverso de Lúcifer? Em que é que a descrição de Lúcifer
inverso de
segundo os grimórios nos poderá
pod erá ajudar, para que possamos compreender melhor a gura de Lucifuge? É isso
que eu me proponho a fazer neste capítulo.
Segundo a descrição presente no Grimorium Verum:
Verum:
«Lúcifer aparece na forma de um bonito rapaz. Quando zangado ele aparece avermelhado; no entanto,
não existe nada de monstruoso nele.»
Outras descrições de Lúcifer existem. A descrição seguinte é dada na Clavicula Salomonis De Secretis 1, um
"manual das bruxas" capturado pela Inquisição veneziana no ano 1636 da Era Comum, e que foi um dos livros
que inspiraram tanto o Grand Grimoire como
Grimoire como o Grimorium Verum:
Verum:
«Lúcifer aparece como um jovem, de muito boa aparência, mais bonito do que se consegue descrever. Os
seus olhos irradiam como a imagem do Sol, e quando ele ca zangado, eles enchem-se de vermelhidão.
No entanto, não existe nada de assustador na sua forma.»
LÚCIFER É LUCIFUGE!
« Imperador LÚCIFER , Mestre e Príncipe dos EspíritosE spíritos Rebeldes, eu te conjuro a abandonar a
tua morada , seja qual for a parte do mundo em que se situe, e venhas aqui comunicar comigo.
Ordeno-te e conjuro-te em Nome do Poderoso Deus vivo, Pai, Filho e Espírito Santo, a aparecer sem
barulhos e qualquer cheiro maldito, a responder com voz clara e inteligível, ponto por ponto, a tudo
o que te perguntar, sem o que serás certamente forçado à obediência pelo poder dos divinos ADONAI ,
ELOHIM , ARIEL , J EHOVAH
EHOVAH , T
AGLA , M , e por toda a hierarquia das inteligências superiores, que
ATHON
te forçarão contra a tua vontade. Venité! venité! Submiritillor LUCIFUGE , ou o tormento eterno te
dominará pelo grande poder deste Bastão Explosivo. In subito.
Se LÚCIFER não se apresentar depois de estas palavras serem pronunciad as , então deverá realizar
a segunda conjuração (...)»
A mesma pista é repetida na Segunda e na Terceira Conjurações. De seguida, depois de o pacto celebrado entre
o Mago e o Espírito, a "Promessa do Espírito" está escrita de forma que o Espírito se refere sempre a si mesmo
como "Lúcifer", em vez de "Lucifuge" como seria de esperar. Por outras palavras, dizer que Lúcifer é Lucifuge
não é apenas uma suspeita, mas algo que está bem explícito no texto do Grand Grimoire.
Grimoire .
Parte III:
“O REFLEXO”
O título desta Terceira Parte é sugestivo, na medida em que da mesma forma que “Recul” (Rofocale) é o
‘espelho’ de “Lucifer”, assim também os sigilos de Lucifuge correspondem aos mesmos sigilos de Lúcifer, mas
espelhados.. Esta é a hipótese que eu proponho aqui, em primeira mão.
espelhados
No mundo dos grimórios e da Tradição Salomónica existem vários sigilos de Lúcifer, alguns deles até com
algumas variações. Aqueles em que me irei centrar nesta parte são apenas dois sigilos que estão incluídos
no Grimorium Verum,
Verum, mais um do Grimório de Armadel.
Armadel . Existem outros sigilos noutros grimórios que são
igualmente interessantes, mas para o que eu quero demonstrar, estes chegam. São eles:
1 A palavra "pânico" deriva do nome do deus grego Pan, com cornos, pernas e cascos de bode, e cauda!
70
Sigilos de Lúcifer. À esquerda: os caracteres de Lúcifer segundo o Grimorium Verum.
À direita, a verde: o sigilo de Lúcifer segundo o Grimório de Armadel.
Armadel.
Apesar do segundo ter sido aquele que eu achei mais interessante num aspecto simbólico, foi o primeiro que
me despertou mais a atenção. Na realidade, sempre que olho para este sigilo não consigo ver outra coisa senão
os braços e cornos de Lucifuge Rofocale!
1 O Rei Salomão era crente no deus de Israel mas prestava homenagem aos deuses estrangeiros. O seu nome em
hebraico, Shlomo
Shlomo,, poderá estar relacionado com Shalim
Shalim,, uma gura divina da mitologia ugarítica que encarnava Vénus
como Estrela do Anoitecer. Cipriano, por sua vez, era sacerdote e feiticeiro, e o seu nome deriva de Chipre (Cyprianus
= "homem de Chipre" em Latim), que era a ilha sagrada da deusa Afrodite (Vénus). Em Latim, "Cypris" era também um
nome de Vénus.
2 Adam McLean: "Animals in the Alchemical Tradition" [
Tradition" [http://www.alchemywebsite.com/animal.html
http://www.alchemywebsite.com/animal.html].].
72
– Símbolo astrológico da Terra, ou:
– Símbolo alquímico do Antimónio.
A associação do Antimónio (e por arrastamento, neste contexto, de Lucifuge) a um "lobo devorador" é muito
curiosa, pois faz-me lembrar os lobos, dragões e serpentes das mitologias mundiais que devoram o Sol ou a
Lua durante os eclipses. E na verdade, o Grande Livro de São Cipriano parece
Cipriano parece conter uma referência subtil a um
eclipse lunar, na história – já mencionada na Parte II – em que Siderol invoca o Diabo numa encruzilhada:
«Neste comenos tremeu a Terra e, logo depois desta convulsão, a Lua, toda manchada de
laivos de sangue , desceu rapidamente sobre a encruzilhada de Nevilly e, apenas tornou a subir para
o seu lugar, um grande senhor apareceu fora do círculo, no qual a virtude das palavras mágicas lhe
vedava a entrada.
O corpulento senhor, mais alto do que Siderol, por toda a grandeza do barrete de Sganarello, tinha
grandes e revoltados cornos de carneiro sobre a cabeça, um enorme rabo de macaco que graciosamente
movia por entre as pernas, pés de bode e em cima de tudo isto uma cabeleira de bolsa e um vestido
escarlate agaloado de ouro, porque é sempre neste aparato que o Diabo costuma aparecer às criaturas.
Se alguma vez chamardes por ele, vereis, cheios de horror, a gura que vos acabo de mostrar.»
Durante um eclipse lunar a Lua ca de facto avermelhada, como se estivesse manchada de sangue. Lucifuge
Rofocale, "aquele que foge da luz",
luz", seria neste aspecto simbolizado pelo "astro eclipsante"
eclipsante" que provoca o
obscurecimento da luz lunar. Não é sem razão, também, que na perspectiva indiana, o Nodo Lunar Norte,
associado a uma Serpente ou Dragão cósmico, é chamado o "Devorador", pois é representado a devorar os
luminares durante os eclipses. Poderá isso esconder uma associação inteligente para o nome alternativo do
Grimoire – o Dragão Vermelho?
Grand Grimoire – Vermelho?
73
Finalmente, na próxima secção irei explorar o último e mais interessante dos três sigilos de Lúcifer, pois trata-
se de uma descoberta fundamental na minha investigação:
No Grimorium Verum,
Verum, Clauneck é o primeiro de 18 Espíritos subordinados e é descrito da seguinte forma:
«Clauneck tem poder sobre bens e riquezas; pode descobrir tesouros escondidos a quem zer um
pacto com ele; pode conceder riqueza,
riqueza, pois ele é muito amado por Lúcifer. Traz dinheiro
dinheiro de muito
longe. Obedece-lhe e ele obedecer-te-á.»
Aquilo que primeiro me despertou a atenção foi o facto de, tal como Lucifuge, Clauneck também estar associado
a riquezas, e trazer tesouros a quem zer um pacto com ele. Além disso, há outra surpresa sobre Clauneck:
1 PETERSON (2007).
74
Isto é extremamente interessante. Lucifuge Rofocale jamais aparece no Grimorium Verum – no entanto, aqui
temos o exemplo de um Espírito mencionado no mesmo grimório, que aparentemente tem as mesmas funções
de Lucífugo, e que além disso tem como a sua marca o sigilo invertido de Lúcifer. À luz desta descoberta, não
deixa de ser curioso o facto de, segundo aquilo que tenho vindo a de fender ao longo de todo este texto, o nome
"Rofocale" derivar da inversão do
inversão do nome "Lucifer" – ou seja, "Recul".
A ASSINATURA DE LUCIFUGE ROFOCALE
A esta altura deve ser claro para o meu leitor que a minha abordagem aos grimórios parte de uma interdependência
grimórios , havendo certas cifras e códigos que só conseguem ser decifrados quando se comparam
entre os vários grimórios,
os vários livros e textos. Não sei se é a forma “correcta”, mas é assim que eu trabalho. No capítulo anterior
vimos como o sigilo de Clauneck está relacionado com o mistério da “inversão de Lucifer” presente em
Lucifuge Rofocale. Agora, veremos de que forma a Assinatura de Lucifuge conrma esta descoberta:
Esta parte central, curiosamente, faz lembrar um Chi-Rho, um conhecido símbolo cristão que utiliza as duas
primeiras letras do nome de Cristo – XPICTOC (“Christos”) – mas na ordem inversa!
Enquanto no Chi-Rho o “P” (letra grega “Rho”) se encontra acima do “X” (letra grega “Chi”), na assinatura
de Lucifuge a posição relativa de ambos é inversa – o que faz todo o sentido, já que na Bíblia a expressão
inversa –
“Estrela da Manhã” (Lúcifer) é usada como sinónimo de Jesus Cristo. O inverso de Lúcifer/Cristo seria, assim,
representado por um sinal semelhante ao Chi-Rho, mas em que as letras que o compõem ocupassem lugares
inversos..
inversos
Além disso – e aqui está aquilo que eu acho realmente interessante – a parte essencial da assinatura de Lucifuge
realmente interessante
(o tal “Chi-Rho” invertido) faz-me lembrar algo que nós já vimos antes.
Na verdade, eu arriscaria dizer que a assinatura de Lucifuge é uma ultra-simplicação do sigilo invertido de
ultra-simplicação do
Lúcifer, ou do sigilo de Clauneck:
75
Já as duas letras "N" levaram-me a concluir que poderiam ser iniciais de palavras – como acontece no texto
do Grand Grimoire,
Grimoire, em casos em que em vez de se escrever o nome de alguém, escreve-se "N.N.". Tratando-
se da assinatura de "Lucifuge Rofocale", essas letras seriam "L" e "R". Algo muito semelhante existe no
Verum, assim como nos Segredos de Salomão e
Grimorium Verum, Salomão e nas Clavicules du Roi Salomon par Armadel,
Armadel , em que
certas invocações exigem que adicionemos as iniciais de um primeiro e de um último nome ao sigilo de um
Espírito. Acrescentando as letras certas, teríamos a autêntica Assinatura de Lucifuge Rofocale:
Rofocale:
L R
REFLEXÃO FINAL (OU QUASE...)
Com este último capítulo eu tenciono deixar uma última provocação aos meus leitores para, no caso de verem
nas minhas palavras algo de valor que possa ser aproveitado, fazerem eles mesmos a sua própria busca em
torno destes mistérios, enigmas e códigos. É verdade que muito ca por dizer e por mostrar – no entanto,
acredito que este texto despertará o interesse de algumas pessoas que, como eu, sentiram uma chamada para
explorarem os dois caminhos, o luminoso e o tenebroso, apenas para descobrirem que, no nal, os dois são
apenas um. Deus e o Diabo andam de mãos dadas. A ilusão da separação só existe na nossa mente, e no
medo irracional que ainda nutrimos por tudo aquilo que ainda não compreendemos, ou que achamos que vai
contra as regras do “politicamente correcto” do mundo moderno. No entanto, o mundo moderno
perigosamente contra
perigosamente
é apenas uma máscara que nos transmite a falsa segurança de que tudo conhecemos e tudo controlamos. É uma
armadilha do Ego, que tudo deseja controlar, conhecer, qualicar e quanticar. A realidade, no entanto, não
é assim tão simples. A verdade só pode ser descoberta no limítrofe
limítrofe,, no extremo
extremo,, n’Aquilo que não é nem deixa
de ser ao mesmo tempo. Em tempos, houve quem tenha dado um Nome a este Mistério Supremo: ABRAXAS
Supremo: ABRAXAS..
Para nós, isto não é mais do que as Duas Faces de Janus/Jaun, o u os dois aspectos de Vénus: LUCIFER e REFICUL.
76
(Reconstrução de uma imagem tradicional de Lucifuge por Tiago "Nerve" Gonçalves)
77
Parte IV:
Anexos
Nas pesquisas sobre Lucifuge Rofocale e a sua referência única no Grand Grimoire,
Grimoire, procurei por possíveis
fontes deste texto, de forma a tentar descobrir “antecessores” deste curioso espírito em grimórios anteriores.
Um dos grimórios que inspiraram directamente o Grand Grimoire foi
Grimoire foi o Grimorium Verum,
Verum, considerado um dos
mais inuentes livros europeus de magia negra. Aquilo que se torna interessante neste caso é comparar a lista
dos seis espíritos inferiores entre o Grand Grimoire e
Grimoire e o Grimorium Verum.
Os seis espíritos
inferiores, segundo:
Grimorium
Grimor ium Verum: Grand Grimoire:
1. Put Sa
Put Sata
tana
naki
kiaa Lucifugé Rofocale
2. Agalierap Satanachia
3. Tarchimache Agaliarept
4. Fleruty Fleurèty
5. Sagatana Sargatanas
6. Nesbiros Nebiros
Algo em que reparamos imediatamente é que cada lista tem uma entidade aparentemente sem correspondente
na outra lista. Por exemplo, Lucifuge Rofocale não
Rofocale não gura no Grimorium Verum,
Verum, enquanto Tarchimache não tem
Tarchimache não
lugar no Grand Grimoire.
Grimoire . A primeira tentação seria considerar que um é o outro, apenas com nomes diferentes.
O primeiro problema nesta hipótese é que os dois espíritos ocupam lugares diferentes na hierarquia, e o
segundo problema é que nada é dito no Grimorium Verum sobre
Verum sobre as características e funções de Tarchimache 1.
Quando estudamos os grimórios e reparamos em alguma lacuna ou algo que não faz sentido, o melhor é
procurarmos os textos que por sua vez inuenciaram o(s) grimório(s) em estudo. E neste caso, essa é realmente
a melhor solução. Existe um texto, pelo menos, que foi a fonte de inspiração para o Grimorium Verum e
Verum e para o
Grimoire : trata-se do grimório Clavicula Salomonis De Secretis,
Grand Grimoire: Secretis , apelidado aqui neste texto como Segredos
de Salomão .
2
Quando comparamos a “hierarquia infernal” presente nos Segredos de Salomão Salomão com as suas equivalentes
no Grimorium Verum e no Grand Grimoire,
Grimoire , reparamos que ela tem muito de semelhante àquelas presentes
nos outros dois grimórios, o que seria de esperar – mas também tem algumas diferenças signicativas que,
curiosamente, parecem preencher as lacunas e ao mesmo tempo esclarecem as diferenças entre o GV e o
GG – em especial esta questão de Tarchimache
Tarchimache (GV) e Lucifuge Rofocale
Rofocale (GG). É por isso que estes estudos
comparativos se tornam tão importantes.
Quem já estudou o Grimorium Verum poderá
Verum poderá pensar que eu estou louco se disser que Tarchimache e Agalierap,
Os seis espíritos
inferiores, segundo:
Segred
Segredos
os de Sal
Salomã
omão:
o: Grimor
Grimorium
ium Veru
erum:
m: Grand
Grand Gri
Grimoi
moire:
re:
Sabendo que estas listas seguem uma ordem cronológica, desde a mais antiga (Segredos
( Segredos de Salomão)
Salomão ) até à mais
moderna (Grand
(Grand Grimoire),
Grimoire ), compreenderemos que:
· No Grimorium Verum colocou-se
Verum colocou-se Put Satanakia no primeiro lugar e ao mesmo tempo foi acrescentado
outro nome após Agalierap: “Tarchimache”. Estes dois nomes, Agalierap e Tarchimache, são
claramente derivados do nome de um espírito dos Segredos de Salomão,
Salomão, AGATERAPTAR KYMATH, mas
dividindo-o de forma diferente: “Agaterap–” tornou-se “Agalierap” no GV, e “–tar Kymath” cou
“Tarchimache”1.
· No Grand Grimoire a
Grimoire a hierarquia original foi mantida (apenas com as pequenas diferenças nos nomes,
tal como no GV), mas com a diferença nítida no primeiro dos espíritos inferiores: em vez de Syrach,
temos agora Lucifuge Rofocale.
Com este raciocínio ca assim desmonstrado que Tarchimache não é igual a Lucifuge Rofocale, mas na verdade
é o mesmo que Agalierap, ou Agaliarept.
80
ANEXO 2 – TABELA DOS ESPÍRITOS
Clavicules du Roi
Clavicula Salomonis Grimorium Grand
Salomon, par
De Secretis Verum Grimoire
Armadel
81
ANEXO 3 – "BEM E MAL": OU SERÁ ASSIM MESMO?
É importante notarmos que considerar um "demónio" como uma entidade "negativa" e um "anjo" como uma
entidade "positiva" é apenas uma criação do modelo de pensamento religioso/moralista de origem judaico-
cristã, que ainda perdura na forma como muitos interpretam estes assuntos.
Mas e se... um demónio não fosse realmente demoníaco
demoníaco?? Eu evitarei usar a palavra "demónio" ao longo de
todo este texto precisamente por causa desses condicionamentos culturais de que muitos acabam por ser
vítimas. Depois, como pensam que estão a lidar com "demónios" que são "maus", convém, quando se decidem
a invocar o Diabo, que se protejam com os nomes potentíssimos de Deus: Adonay, Elohim, Ariel e Jehovah –
tudo exactamente como está escrito nos grimórios, pois é assim que tem de ser. Se algo falhar, será a danação
eterna para o mágico. Disparates.
Para um pagão, um 'demónio' que rege sobre as tempestades seria um "deus da d a tempestade"; outro que regesse
o dinheiro ou as aquisições materiais, seria o "deus da riqueza". Por outras palavras, o facto de lhes chamarmos
ou deuses
demónios ou
demónios só reecte aquilo que nós pensamos sobre eles, e não aquilo que eles são.
deuses só
Se mantivermos a nossa mente aberta a esta possibilidade, perceberemos então que tal como no mundo
material, alguns espíritos são pacícos e amorosos, e outros são autênticos lhos da puta puta.. Regra geral, anjos
são considerados "anjos" porque são entidades que pertencem a planos de existência mais 'elevados' do
que o material / energético, e como tal a sua co-criação juntamente com o Mago será dirigida para ns mais
co-criação juntamente
relacionados com a espiritualidade. Por outro lado, "demónios" são considerados dessa forma uma vez que
existem em níveis mais 'baixos', e mantêm, por isso mesmo, maior poder sobre as realidades material e
energética – sendo assim mais frequentemente chamados para ns mundanos
mundanos,, práticos
práticos,, do dia-a-dia. Se alguns
não se importariam de reduzir o leitor a
a cinzas? Com certeza que não. Mas todos são necessários, cada um com
uma função diferente. "Assim em cima como em baixo".
baixo" . Lembra-se? Não sei se me faço entender... 1
Enm. Isto daria para várias páginas de texto, mas a minha intenção não é explicar como fazer um pacto com
o diabo. Aquilo que eu considero importante reter com esta mensagem pode ser resumido em três pontos:
· "Bem" e "Mal" são classicações morais e/ou religiosas criadas pelo ser humano, para que ele possa
ter a ilusão de que conhece tudo o que o rodeia, incluindo as realidades superiores – ou inferiores – ao
ilusão de
mundo físico;
· O contacto com realidades suprafísicas implica que o homem (re)conheça a sua própria
própria realidade
suprafísica, para que possa movimentar-se em ambos os planos com mestria e não seja vítima das
circunstâncias que ele próprio propiciou;
· No círculo mágico, por vezes o maior inimigo do mágico é ele próprio. Assim como o seu maior amigo.
"Cronologia sem datas" não deixa de ser uma expressão curiosa, e irónica. A questão – e por isso é que tem
mesmo de ser "sem datas" – é que grande parte das imagens de Lucifuge que eu consegui reunir até hoje
foram retiradas de cópias em PDF de diferentes edições do Grand Grimoire,
Grimoire , as quais, como é óbvio, não contêm
elementos sucientes para que se possa identicar os anos
ano s das referidas edições. Assim, esta tentativa de uma
"cronologia sem datas" resulta apenas num
n um primeiro estudo comparativo das diferentes representações de Lucifuge
Rofocale,, em que me baseei nas semelhanças e diferenças das várias imagens de forma a poder estabelecer,
Rofocale
de um modo mais ou menos seguro, quais são as imagens originais e quais são as imagens derivadas dessas
originais.
Passemos então ao estudo propriamente dito, agrupando as imagens em 4 tipos + 1:
Esta primeira é a mais óbvia de todas. As imagens são semelhantes em todos os pormenores, havendo apenas
a diferença na qualidade e nos pequenos
pequen os detalhes, que me permitem armar com toda a certeza que a imagem
à esquerda é a imagem original.
83
TIPO 2 – FONTE & IMAGENS DERIVADAS:
Esta variação e as suas derivadas distinguem-se por, ao contrário da Fonte 1, o "corno de sopro" já não ser
tão óbvio como na imagem original. Tratam-se, de facto, do "estágio de transição" entre o desenho do corno e
desenho do arco (vide Tipo 3, já a seguir).
A imagem original (à esquerda) parece ser original de uma edição italiana, e parece ser o protótipo das
imagens que mostram Lucifuge já com um arco, em vez de um corno de sopro. De reparar também que aquilo
que parece ser uma "tampa do tesouro" no chão, na imagem original, já não é tão perceptível nas imagens
derivadas.
84
TIPO 4:
85
Esta imagem é tão diferente de qualquer outra que merece a sua própria categoria especial. Contém o mesmo
pormenor presente naquela que eu chamei a "fonte primária" (Tipo 1), com o saco invertido e as moedas
inamando-se quando tocam no chão. No entanto, ao contrário dessa imagem, onde Lucifuge segura um
instrumento de sopro em forma de corno, nesta ele também está como que a passar "através do anel", à
semelhança das imagens do Tipo 4. Também ao contrário de qualquer outra, nesta imagem a ponta da cauda
de Lucifuge está enrolada ao seu braço esquerdo. Outro pormenor curioso: apesar de ser uma imagem de
Lucifuge Rofocale, ela é legendada como se se referisse ao Imperador Lúcifer ("L'Empereur
( "L'Empereur Lucifer",
Lucifer", em cima).
É preciso fazer mais comentários?
AGRADECIMENTOS E DEDICATÓRIA:
Este texto nunca teria sido possível sem a ajuda de algumas pessoas cujo apoio, consciente ou inconscientemente,
foi essencial ao longo de todo este processo. Falo em “processo” porque para mim foi realmente um processo
– por vezes doloroso e outras vezes recompensador, em que muitas vezes pensei que iria caminhar para a
minha própria auto-destruição e só quis desistir, e noutras vezes senti que a minha mão era guiada por Algo
que eu não sei bem descrever. Só sei que este foi o artigo mais difícil e mais recompensador que eu escrevi até
hoje. Descobri muitas coisas sobre mim próprio ao longo deste processo, e percebo agora que eu tinha de o
escrever. Porquê? Não sei nem consigo adivinhar. E se o leitor quiser que eu seja sincero, ainda hoje não sei se
fui só eu que escrevi isto...
* Ao esforço e paciência invejáveis do meu Irmão, Tiago “Nerve” Gonçalves, pelo trabalho admirável com a
imagem de Lucifuge Rofocale. You’re THE Man!
* Aos membros dos grupos do Facebook: “Solomonic – Secrets of the Magickal Grimoires” e
Grimoires” e “Magic & Grimoires” –
Grimoires” –
um grande OBRIGADO pela vossa ajuda essencial, apesar de poder ter parecido simples ou sem importância.
* Aos autores: Joseph H. Peterson, Jake Stratton-Kent, Aaron Leitch, e o lusitano José Leitão – os vossos
trabalhos foram para mim uma verdadeira musa inspiradora. Obrigado! Thank you!
* À minha querida amiga A.C. – as tuas intuições revelaram-se mais acertadas do que tu ou eu alguma vez poderíamos
imaginado. Obrigado! :)
ter imaginado. Obrigado!
* E nalmente:
A São Cipriano:
AMEN!
Luís Gonçalves
Quarta-feira, 26 de Setembro de 2018
86
A Visão de Fausto, por Luis Ricardo Falero (1851-1896), circa 1880, óleo sobre tela.
Quem estiver habituado a procurar malmequeres nos campos terá às vezes encontrado,
nas colinas cobertas de ervas, faixas circulares de um verde mais escuro onde a vegetação é
mais densa e mais alta. Muitas vezes os semicírculos formam uma perfeita circunferência;
essas faixas têm diâmetros e larguras diferentes: parecem traçadas com compasso e cam
vermelhas no outono, com um diadema de tortulhos e outros criptógamos de vivas cores.
Velha tradição arma que as fadas aí dançavam sua ronda ao luar...
As fadas — inocentes e alegres deidades da natureza — sempre trazem consigo a
vara das metamorfoses e têm acolhedor sorriso nos lábios; exuberante alegria expande-se
ao seu redor em maravilhosos dons, e sob seus passos leves a erva cresce em abundância; a
noite se ilumina com a luz fosforescente de seu voo prateado... São a própria vida encarnada
no esplendor das formas femininas; são o amor que tudo fecunda com um fulgor de seus
doces olhos!
Mas você já viu também, perto de certas ruínas mal afamadas, cheias de espíritos
maus, em volta de cemitérios abandonados ou em escarpas que desmoronam, trilhas onde a
erva nunca cresce, como se um hálito impuro tivesse por lá passado tornando a terra estéril?
87
— Avance: ar gelado passa por seus cabelos... Siga ao longo do silvado de aparência
sinistra; um instinto infalível o guia com arrepios... Deixe à esquerda o charco dos feiticeiros,
feiticeiros,
uma poça de água estagnada num côncavo, dissimulada por ramos esmaecidos de salgueiro.
As tradições ingênuas do povo proíbem a aproximação: esses pântanos sombrios, rodeados
de arbustos baixos, são respiradouros do inferno! — Ó fadas! Boas fadas! Vocês não moram
aqui: onde estarão?
Não sentiu? — O fantasma que pegou sua mão vai guia-lo e você obedece em
silêncio... Sobe o aclive abrupto onde os arbustos vermelhos parecem espectros agachados
nos vapores do crepúsculo.
Agora atravessa uma ondulação do terreno, chega a uma crista: o caminho leva a
uma charneca solitária onde a erva rala em parte amarelece...
À frente eleva-se selvagem edifício... Aproxime-se mais, é um dólmen: você vê a
pedra gigantesca, onde a faca sagrada dos druidas empurpurava-se no sacrifício prescrito
em honra a Thor e Teutad.
Escureceu completamente.
Mas eis que luar sinistro e sangrento bate no antigo altar do Moloch e da Céltica. Dir-
se-ia sangue — e talvez seja!
Vamos! A lua surgiu vermelha no horizonte de bosques, ao longe; luz estranha clareia
a cena; o ar está pesado, fétido, estagnado.
Mas como sopro errante de braseiro resfriado, no vale que assume estranha aparência,
o vento morno, mudo, de mau agouro bafeja sobre a erva rara e na moita inexível...
Agora a lua enorme se elevou e lentamente clareou a charneca, tornando nítidas as
coisas antes indistintas... Diga-me, é um caminho essa faixa
fa ixa circular que contorna o dólmen?
Não, não é um caminho. A erva está aí aparada e como que estragada por vapor
corrosivo no nível do solo. É o contrário da ronda das fadas. A fecundidade, a vida,
desapareceram.
Ainda alguns minutos e a morte vai vomitar todos os espectros de seu império: são
larvas indecisas que oscilam e se condensam com diculdade; sapos voadores, crocodilos
cujos olhos amejam, bruscamente se revezando; dragões com goelas de hipopótamo e
asas de morcego; gatos enormes, patas moles e incertas como tentáculos de polvo... Eis que
descem mulheres nuas urrando, selvagens e descabeladas,
descabeladas , caracolando sobre vassouras que
investem e recuam...
Estamos no Sabat.
Uma feiticeira faz um encantamento, agachada ao pé do dólmen: tem um punhado
de varas acesas na mão direita; molha dois dedos da esquerda num cântaro de argila entre
os joelhos. — Aie Saraie! Grita ela, Aie Saraie!... Um clarão aparece no fundo do cântaro e
pequeno animal de lá foge, ligeiro, ágil, do tamanho de um esquilo: é Mestre Leonardo. A
feiticeira levanta-se em sinal de respeito. Leonardo em um segundo cresceu dois metros, é
agora monstruoso bode com chifres retorcidos. A uorescência vaga que emana de todo seu
corpo, como pálida atmosfera, dissolve-se no ar em espirais e tem estranho mau cheiro.
Mil fogos fátuos volteiam aqui e ali pela charneca.
88
De repente um deles parece elevar-se, estala e subitamente se xa entre os chifres do
diabo.
Pois mestre Leonardo é o diabo.
De todo o horizonte, dos quatro pontos cardeais, em confusão, chegam feiticeiros,
feiticeiras e demônios. Risca o céu o voo dos espíritos e sob o olhar inamado
i namado de Hécate o ar
esverdeado escurece vagamente; a terra vela-se de sombras movediças que se entrecruzam.
Har! Har! Sabat!... gritam os recém-chegados, agrupando-se em volta do mestre que,
solícito, oferece o traseiro a cada um para ser beijado. Mas em lugar das nádegas do bode
há um rosto jovem, de rara beleza, e os sectários recebem na boca a carícia de lábios frescos
e vivos.
Urzes e ciprestes queimam por toda charneca: ardem e utuam, multicores. Melodia
invisível, qual harmônica debulhando notas sonoras de timbre líquido e de inefável pureza
se faz ouvir...
É um estranho contraste com os urros da assembleia.
Mestre Leonardo, depois da homenagem dos éis, assume um ar altivo e com
desdém sobe à tribuna dourada, à qual o altar druídico serve de pedestal; daí domina toda a
assembleia. À frente está o mestre de cerimônias, bastão de comando na mão. Faz a chamada
pelos nomes, vericando as marcas ou os estigmas.
Mas está chegando o carneiro negro, de olhos incandescentes: vem como um furacão
do setentrião, bale para acalmar aquela que traz em seu dorso. Linda moça nua vem montada
sobre sua pele macia. Está triste e chora... É a vítima esperada, a Rainha do Sabat.
Sabat .
Todos se agrupam ao seu redor demonstrando respeitosa impaciência. Descendo da
montaria enquanto é aclamada, vela a nudez na desordem de seus cabelos longos.
O mestre de cerimônias levanta a vara de outro com solenidade; o diabo se levanta,
cumprimenta a jovem, desce anal da tribuna: a missa negra vai
negra vai começar.
Sátiros humildes cavaram à esquerda uma concavidade no solo: Leonardo para lá se
dirige com grande pompa para urinar em primeiro lugar. Os mais importantes da assembleia
o imitam. É a água lustral para as aspersões — e que vai também aspergir a recém-chegada.
A seguir, os feiticeiros aí molham dois dedos da mão esquerda e se consagram às avessas.
De novo a procissão se move. Vai levar para o altar de Teutad a virgem que o bode
deve iniciar; aí recebe todos os sacramentos do inferno.
A seguir, é untada com unguento à base de cantaria e estramônio: embriaguez
titilante gradualmente invade seu corpo; começa a se torcer, enlouquecida em seu pudor
pelo automatismo do desejo.
No Introito
Introito Satanás
Satanás manda afastar as crianças, muito jovens ainda para tomar parte
no grande mistério — com grande sacrilégio para a universal comunhão do amor. Eles
descem para os charcos do diabo,
diabo, levando varas brancas para dar de comer aos sapos, todos
aspergidos e vestidos de veludo verde ou de seda escarlate; todos têm um sino pendurado.
Entre eles e a grande assembleia, duendes do ar tecem uma nuvem espessa e Leonardo
consagra a recém-chegada.
89
Deitada sobre o altar, assustada e ofegante, recebe o acre beijo do deus. É uma dor
terrível, a queimadura de ferro em brasa; a seguir, é a angústia da invasão abundante,
gelada1...
Todos os demonólogos se eternizam em grandes detalhes 2 que não queremos
reproduzir.
A ronda desenfreada serpenteia em volta do par, com urros de alegria feroz, e
mistura, confunde os sexos e as categorias, incestuosos
i ncestuosos e sodomitas, por toda a charneca sob
o luar... O incesto é honrado sobremaneira, porque o Sabat torna-se para ele o eterno viveiro
de Satanás: “Nunca existiu perfeito feiticeiro ou encantador que não tivesse sido gerado por
pai e lha ou mãe e lho” 3.
Sobre o corpo da nova sacerdotisa — altar vivo — o bode malcheiroso ocia: oferece
trigo ao espírito da terra que faz crescer as colheitas; solta pássaros que vão levar pelo céu
noturno os votos dos assistentes ao demônio da liberdade.
Depois preparam um bolo, cozem e o consagram sobre os ancos ensanguentados
da sacerdotisa: é a Conferreatio
Conferreatio,, a hóstia do amor impuro, a oferenda do mal universal, a
comunhão infernal que se distribui a toda assembleia...
Chegou a hora do festim fraterno e os pastores impúberes trazem do pasto o batalhão
de sapos conados a seus cuidados vigilantes.
As velhas fúrias para quem o amor é agora apenas uma reminiscência duas vezes
estéril, preparam cadáveres diversos ou cozem com ervas encantadas as crianças mortas
antes de serem sacramentadas.
As taças circulam com hidromel: todos tomam, se inebriam. Os monstros
hermafroditas, os duendes com diversos disfarces, trazem guloseimas infernais para as
mesas onde o camponês se confraterniza com
c om o senhor e o prelado, onde as mais orgulhosas
damas estão ao lado dos rústicos.
rústic os. Por que as castelãs ainda desprezariam
desprezaria m os vilões... Nobres
e plebeus misturados: a grande luxúria cega também não misturou seu sangue e sua saliva?
Uma grande nuvem plúmbea devorou a lua. Só os braseiros rubros iluminam a
charneca.
Então uma voz horrível, sem som distinto, uma voz rouca e gelada se faz ouvir por
duas vezes: Vinguem-se ou morram!
morram! Imediatamente Leonardo levantando a cauda peluda
que encobria seu presunçoso impudor deixa cair de si grãos negros, em rosário..., depois pós
malcheirosos. Grandes pedaços de pano foram estendidos, conforme o ritual, para colher
esse esterco de várias formas precioso; são venenos, elixires e ltros: existem para o amor,
para a loucura, para a morte; há também para curas misteriosas... Algumas vezes servem
para tomar os campos estéreis, outras para infestar o ar e produzir as epidemias. Faz uma
distribuição geral.
1 contentur . — Esta
Igneam esse diaboli mentulam frigidum semen ejus, Sabbathi meretrices uma voce contentur .
citação de Sylvester Prerias diz o suciente: por essa ignomínia sem nome, tomada ao acaso entre mil pode-se
facilmente imaginar quais sejam as outras.
2 Citaremos um, em latim:
latim: Aliquid
Aliquid turpissimum
turpissimum (quod tamen scribam),
scribam), astruunt: videlicet doemonem
doemonem incubum
uti membro genital bifurcato, ut simul utroque vase ubutatur .
3 Bodin, Demonomanie des Sorciers,
Sorciers , livro IV cap. V.
90
Anal com os cabelos emaranhados, afoita e lépida se levanta a rainha do Sabat; com
voz ressoante ameaça o céu, com o punho: — Trovão de Deus, grita a vítima triunfante,
trovão de Deus, caia, se ousar!... Depois joga-se sobre um sapo e o rasga com ódio entre os
dentes: — Ah, Filipe, se eu te apanhasse!...
Empalidece o horizonte aos primeiros clarões da aurora. Subitamente o bode
se transforma em enorme galo negro, com crista em chamas fulgurantes, e se ouve um
formidável cantar.
A assembleia se dispersa rapidamente e todos desaparecem.
Não seria possível condenar nesta curta descrição todas as insanidades, todas as
infâmias que se amontoam nos escritos de Bodin,
B odin, Lancre, Delrio, Boguet, Sprenger, Michaelis
e outros demonólogos.
Sem falar do capítulo interminável dos folguedos lúbricos — por nós restringido
a algumas linhas depuradas — não dissemos nada sobre a dança dos sapos, nem sobre
as lamentações proferidas por estes interessantes animaizinhos contra as feiticeiras que
deles tratam com pouco cuidado; nem da conssão feita ao diabo dos pecados que não
foram cometidos, nem da colheita periódica de carne humana sob os patíbulos, nem de
outros detalhes intermináveis de gosto igualmente apurado. Nossa intenção foi colocar a
tragicomédia em seu aspecto de conjunto: não é preciso dizer que tentando um agrupamento
lógico das cenas principais, não pudemos conciliar
concilia r as opiniões de todos os autores. Ao invés
de se entenderem a respeito da disposição da cerimônia, cada cad a qual inverte com arte as fases
diversas que a compõem. Todos os escritores
esc ritores dão o mesmo fundo; mas para certos detalhes
de forma, seria difícil obter perfeito acordo.
Procuraremos dar com minúcia, o que há de real nesse amálgama de fantasmagorias
lendárias, onde cada um verá o que quiser, segundo seu ponto de vista, ou seja, dramas
temíveis ou a mais burlesca das pantomimas.
Para completar o quadro contaremos em algumas linhas o que as tradições populares
dizem da invocação, do pacto, do transporte para o Sabat.
Eliphas Levi, em seu Dogma e Ritual da Alta Magia, enumera conscienciosamente
as cerimônias bizarras, odiosas ou ridículas requeridas em goetia para o efeito de conjurar
o demônio. A ele dirigimos os interessados, curiosos de especicações do gênero. Mas as
regras absolutas foram feitas para serem violadas, as prescrições imperativas para que as
evitássemos, e, de fato, nunca ou quase nunca o feiticeiro empregou esse cerimonial para
forçar o diabo a aparecer .
Os anais da bruxaria estão cheios de narrativas de invocações bem-sucedidas, sem
esse luxo de apresentação. Vê-se mesmo o diabo aparecer sem que ninguém tenha tido a
intenção de o fazer vir, gritando com voz de trovão: Por que me chamou?
Mas comumente o herói da aventura é um estudante meio pobre que, por curiosidade
passou os olhos sobre algum engrimanço colocado ao seu alcance, por acaso... São artesãos
da infelicidade, o acaso e a curiosidade! O Diabo, que é muito no, e ainda por cima mau
companheiro, grita e lança olhares ameaçadores; não quer ser incomodado à toa; ameaça, se
enfurece. Por m exige que se liguem a ele por contrato livremente consentido.
91
O pobre imprudente treme todo e não sabe como sair da difícil situação. Mas Satanás
já acalmado torna-se paternal e faz propostas sedutoras. Não é coisa rara prometer, sob
alguma condição... Oh! quase nada. Quer apenas duas linhas de compromisso assinado por
essa mão que ainda treme.
Um pacto! eis aí! O estudante durante quatro ou dez ou trinta anos pertencerá ao
demônio de corpo e alma; nesse prazo o demônio se compromete a servi-lo com todos os
seus recursos e a defendê-lo com toda sua arte. A bolsa do pobrezinho cará sempre cheia
de dobrões e piastras. Seduzirá as mais recatadas mulheres só com um olhar; poderá se
transportar para o lugar que quiser com a rapidez do pensamento; seus desejos, quaisquer
que sejam, serão realizados assim que forem formulados em seu coração. O oferecimento é
sedutor; o infeliz não pode resistir. Assina com seu sangue a cédula em dobro: o diabo leva
uma; quanto à outra, ó maravilha! colocada sobre uma picada de alnete no braço, entra na
carne, sem aumentar o arranhão, que, ao contrário, cicatriza imediatamente.
Quem quiser conhecer o epílogo dessa espécie de aventura (sempre segundo a lenda)
deve ler a rara e curiosa obra de Palma Cayet: História Prodigiosa e Lamentável de Jean Fauste,
Grande Mago e sua Vida Espantosa.
Espantosa .
Esse é o tipo de quase todas as lendas de evocação: o fundo não varia, a forma também
não.
Aqui poderíamos chamar a evocação de acaso; em compensação o pacto é voluntário
e perfeitamente expresso.
Porque, é preciso dizer, os teólogos distinguem o pacto expresso ou formal
formal do
do pacto
(ipso facto)
de fato (ipso facto) não expresso ou tácito
tácito.. Ao comer a maça, segundo eles, a mãe Eva concluiu
com o demônio um pacto tácito...
Mas trégua a essas discussões sobre ninharias de baixa escolástica. Resta-nos dizer
uma palavra sobre o transporte dos feiticeiros
feiticeiros para o Sabat. A maneira difere conforme o
autor e o país: a pessoa elástica do diabo presta-se a todos os usos. Seus costumes mudam
segundo os seres que ele pretende conquistar.
Algumas vezes a feiticeira sente-se arrebatada ao soar da meia-noite, por força
desconhecida que a leva pelos ares com a rapidez do vento até o lugar do Sabat. Outras
vezes Satanás aparece distintamente, sob a forma de um bode ou de um carneiro, toma-a
sobre as costas ou entre os chifres e a leva saindo pela chaminé. Em outros lugares ele
dá às vassouras a virtude que conhecemos: entre as mãos da proprietária esses modestos
utensílios tornam-se, chegada a hora, montarias infatigáveis, rápidas e éis.
Mas uma ou duas horas antes de ser arrebatada (de qualquer modo que o arrebatamento
se processe), aquele ou aquela que quer ir ao Sabat deve untar o corpo, principalmente
as coxas, o ventre e as virilhas com unguento especial — a composição varia pouco — e
Satanás e seus cúmplices têm o cuidado de manter seus éis da sinagoga constantemente
abastecidos.
O leitor não deve esquecer esta particularidade; é ponto importante anotar...
Às vezes, os candidatos aos ágapes infernais apressam a virtude maravilhosa do
unguento pelas propriedades secretas de um electuário absorvido na forma de pílula
bastante grande. Vale a pena examinar esses detalhes o mais seriamente possível; aqui
apenas os mencionamos.
92
Considerando que o capítulo VI de O Templo de Satã instruirá
instruirá o leitor sobre o problema
do feiticeiro em suas mais modernas encarnações, não vamos agora tocar no assunto — e
terminaremos por uma aventura estranha ouvida da boca do camponês de Lorena a quem
ela aconteceu. Vamos registrá-la como pudermos, nos termos em que nos foi contada. Quem
fala é um homem de aproximadamente 35 anos.
— Isto se passou na minha infância: devia ter cinco ou seis anos. Foi em Cutting (vila
da Lorena anexada) no outono de 1859. Uma noite em que o céu parecia tinta, estávamos
conversando em família perto do fogão de nossa cozinha quando estranha melodia foi ouvida
lá fora. Era como o canto de 15 ou 20 pessoas que tivessem adotado para a circunstância a
mesma voz de falsete. A ária, modulada em apenas duas ou três notas, não deixava de
agradar; sua monotonia mesma era impressionante.
“Corri para fora e nada vi. As vozes pareciam vir de muito alto; mas tornavam-se
sensivelmente mais claras, como se o coro se aproximasse de nós.
Fiquei com muito medo e as palavras de minha mãe não vieram me conformar: —
Tome cuidado, meu lho, é a alta caça (chamamos assim entre nós a viagem aérea dos
feiticeiros e feiticeiras em viagem para o Sabat).
Duro de pavor pus-me a parodiar esses monstros e a lhes gritar injúrias: o canto
cessou de súbito. Quando me dispunha a entrar, um osso
oss o humano caiu no meu boné, quase
me derrubando; agachei-me para apanhá-lo, mas não pude por conta do mau cheiro.
Vi minha mãe tão aterrorizada quanto eu: coisas mortas, sem nome, caíram no átrio
a seus pés, vindas pela chaminé.
Ninguém mais me verá parodiar a alta caça.”
Como dissemos, o feiticeiro também é sincero: a maior parte do tempo inabalável
em sua crença no Demônio — seu Mestre — é em nome do Inferno que vaticina, ameaça,
maldiz... e, ainda que baseando sua fé numa mentira, seu poder não é em vão.
A fé move montanhas, disse o Cristo... Triste fé, pensarão, a fé dessas pessoas! De
acordo; mas triste ou não, cega ou esclarecida, passiva ou ativa, é sempre a fé.
Que se trate de mago ou feiticeiro, não procuremos em outro lugar o segredo da força
da força
oculta..
oculta
— Ele está aí.
GUAITA, Stanislas de. O Templo de Satã . Rio de Janeiro: Editora Três, 1973. 192 p.
Tradução de: Celina C. Salles.
93
O Sabbath das Bruxas, por Luis Ricardo Falero (1851-1896), circa 1880, óleo sobre tela.
94
O não iniciado interpreta a imaginação como algo “imaginário”, no sentido comum
da palavra, ou seja, como algo irreal. Mas a imaginação é uma realidade.
Quando um indivíduo imagina, cria uma forma no Astral, ou em um plano ainda
mais elevado; e esta forma se converte em algo real para os seres inteligentes que habitam o
referido plano, assim como as coisas materiais são reais para nós.
Esta forma criada pela imaginação pode ter uma existência transitória, produzindo
resultados não transcendentes ou importantes; e pode ser utilizada para nalidades boas ou
más, se for vitalizada.
Para a prática mágica, tanto a imaginação como a vontade devem pôr-se em ação,
pois trabalham em conjunto. E mais, a imaginação deve preceder à vontade, com o m de
produzir o maior efeito possível.
A vontade sem apoio pode criar uma corrente, e a tal corrente não será de todo
inoperante, ainda que seu efeito seja vago e indenido, porque a Vontade sem apoio não
cria outra coisa que efeitos correntes.
A imaginação pode criar sozinha uma imagem de maior ou menor duração; mas não
poderá fazer nada de importância a menos que seja vitalizada e dirigida pela vontade.
Quando ambas se somam, ou seja, quando a imaginação cria uma forma e a vontade
a utiliza e a dirige, pode-se obter resultados mágicos e maravilhosos.
As seguintes instâncias podem servir para ilustrar a operação de proteção mágica
que tenho experimentado pessoalmente e sobre a qual tenho falado parcialmente.
Há de se considerar uma particularidade, tendo em conta que aprendi esse método
através do estudo e da reexão antes de ser iniciado na Golden Dawn, posso apenas conar
o processo a outras pessoas que conheça e nas quais possa conar.
Nunca se deve esquecer que um processo oculto pode ser usado tanto para o bem
quanto para o mal. Um mago poderia aproveitar esse conhecimento para se fortalecer e se
proteger das consequências de seus atos malignos no plano oculto, energizando-se para
causar ainda mais dano aos demais. Um conhecimento leva a outro e uma chave simples
pode guiar a outras descobertas importantes.
Enquanto mais reito sobre o tema, tenho mais convicção de que esse conhecimento
não deve sair de nossa ordem.
95
Primeira Ilustração
Há poucos anos percebi que cava exausto depois de ter me encontrado com uma
determinada pessoa.
No princípio pensei que fosse o resultado natural de haver mantido uma longa
conversa com aquele ancião; mas a medida que eu me extenuava, o homem se revitalizava
nervosamente. Suponho que o ancião desconhecia que tinha um organismo
organis mo vampiro, porque
sempre foi um homem reto e benevolente que provavelmente caria horrorizado diante de
tal sugestão.
Ele nunca foi um vampiro intencional, se fosse, teria se casado com uma mulher
jovem para recuperar as forças de seu organismo cansado.
A próxima vez em que foi visitar-me, antes de recebe-lo, me fechei para ele,
imaginando que ao meu redor, um pouco distante de mim, corria um uido ódico que era
como uma armadura impenetrável diante de qualquer corrente hostil.
Este processo mágico foi imediato e permanente. Nunca tive que repeti-lo.
Segunda Ilustração
Terceira Ilustração
Uma dama me pediu ajuda contra um que se encontrava próximo e que a deixava
completamente exausta e enferma.
96
O homem tinha uma saúde debilitada e achei que se tratava de outro caso de
vampirismo.
Obtive a descrição do homem, mas não lhe disse quando, nem como, nem que
processo utilizaria em seu caso.
Primeiro, os imaginei se encontrado e coloquei entre eles uma barreira de defesa.
Depois a cobri completamente com uma investidura de uido ódico. Também imaginei
al redor dela o Pentagrama Ordinário de Invocação para protege-la. Os efeitos injuriosos
cessaram e não regressaram jamais
jama is e ela permaneceu para sempre indiferente aquele homem.
Quarta Ilustração
Uma dama me contou que um homem havia exercido uma fascinação peculiar sobre
ela e que sempre pensava nele, ainda que sem nenhuma intenção em especial.
Como havia recebido certa informação de que o indivíduo era praticante de Vodu,
decidi cortar a cadeia.
Os imaginei frente a frente, ele emanava correntes de uido ódico, com os que havia
enlaçado a dama. Então imaginei que eu levava uma espada na mão com a qual cortava
os tais laços, com uma tocha queimava os lamentos restantes que ainda utuavam a seu
redor.
A fascinação antinatural cessou e em poucos meses seus encontros terminaram.
Quinta Ilustração
Há alguns anos, um homem veio a mim para me contar que outro indivíduo utilizava
constantemente uma expressão profana em sua presença; tal expressão obstruía seus
pensamentos nos momentos menos oportunos.
Pareceu-me que a dita expressão era uma espécie de mantram, como chamado pelos
Ocultistas Orientais, que é uma palavra ou expressão que produz efeitos ocultos por meio
de uma vibração que infere no Akásico.
Julguei que um elemental havia sido vitalizado pelo mantram e que meu consulente
era sensível a ele. Prescrevi para que da próxima vez que ouvisse aquela expressão imaginasse
uma criatura horrível envolta na mesma profanidade, que mantivesse a dita imagem a sua
frente e que a explodisse com um cartucho oculto de pólvora desintegrando-o em átomos.
Quando nos vimos novamente ele me contou que não havia conseguido explodir o
elemental, mas havia afastado ele de si e que não causava mais problemas.
Notas Suplementares
por G.H. Frater Non Omnis Moriar (Dr.
(Dr. William Wynn Westcott)
Comentário
As experiências de Frater Resurgam, por aceitas ou discutidas que possam parecer, são
claras Projeções Mentais dirigidas para infundir uma maior segurança pessoal psicológica,
tanto a seus consulentes, quanto para ele mesmo.
98
Este tipo de Projeção Mental, ou Visualização Criativa, são menos ocultas do que os
Irmãos podem supor, já que inclusive em alguns cursos de vendas ou de relações humanas
se apresentam como referência para aumentar vendas ou eliminar os possíveis complexos
de inferioridade e de perseguição dos indivíduos.
É evidente que as ditas experiências são aconselháveis, pois entre outras coisas,
rearmam o caráter e ampliam a visão da realidade
realida de cotidiana, mas, por favor, não caiam em
obsessões persecutórias que o obriguem a proteger-se continuamente de tudo e de todos.
Uma pessoa pode despertar nossa simpatia ou não, nem por isso ela é um vampiro
espiritual. É mais factível que você esteja apreensivo e menos que a pessoa seja um vampiro.
A mediunidade é tão nociva e tão inócua como qualquer prática oculta. E um adepto
é tão punível como o mais ignorante dos neótos.
99
Desculpem se o texto apresentar algum erro. Foi escrito primeiro em inglês, para
enviar a outras listas sobre a ONA, e só depois o traduzi às pressas para o português.
Há um facto curioso que nos desperta a atenção quando estudamos o Tetraedro e as
suas ligações a Saturno (como a esfera do Caos) e 3 outros "Portais Estelares" que existem,
do ponto de vista de uma pessoa aqui na Terra, perto das estrelas Dabih, Algol e Naos. De
acordo com o livro "NAOS - A Practical Guide to the Modern Magick":
Lembrem-se desta explicação, pois ela será importante mais tarde nesse texto.
De acordo com o escrito "Notes on Esoteric
E soteric Tradition - Cosmic Wheel & Tetrahedron"
nós sabemos que um Tetraedro, em especial um Tetraedro de Quartzo, é o melhor instrumento
para abrir um Portal para o Acausal, isto é, para o próprio Caos primordial. É através deste
meu texto que vou tentar explicar PORQUE é que o Tetraedro é um instrumento do Caos, e
como é que ele se relaciona intimamente com Saturno e as três estrelas Dabih-Naos-Algol,
baseado nalgumas descobertas que z há algum tempo.
Em primeiro lugar devemos ver que 3 caminhos na Árvore de Wyrd que ligam as
esferas de Marte, Sol e Júpiter a Saturno (VII° - Caos). Estes são:
E agora veremos que estes três caminhos/Deuses estão ligados às estrelas Algol,
Dabih e Naos, e como é que eles podem ser intimamente relacionados com o Tetraedro...
para abrir o Portal de Saturno (Caos).
101
Quando vemos os sigilos mostrados em CAELETHI (O Livro Negro de Satã II),
notaremos que cada um dos Deuses Obscuros é representado por um sigilo. Agora, se algum
de vocês tiver lido o texto chamado "Liber Coelum Stellarum Fixarum — A Discourse on
the Fifteen Stars", de Phil Legard, (creio que exista um versão PDF na Internet), verão que
de acordo com a "Tabela dos Sigilos das Quinze Estrelas", o sigilo antigo de "Caput Algol",
segundo o hermético De XV Stellis, é o sigilo moderno de VINDEX. E isto é perfeitamente
lógico, uma vez que VINDEX era o nome dado ao Opfer ou Sacrifício oferecido aos Deuses
Obscuros, ou alternativamente à Mãe de Sangue, Davcina/Baphomet, sendo frequentemente
decapitado. Algol ou Ras al-Ghul, a estrela Beta da constelação de Perseu, signica "a
cabeça do Demônio" em árabe e representa claramente a cabeça decepada do Sacerdote
que desempenhava o papel de Kthunae ou o Senhor da Terra, durante o Hieros Gamos.
Oswald Wirth até comparou a constelação de Perseu e a sua estrela Algol ao 12° Arcano,
que é chamado o Dependurado (sacricado/decapitado) e que corresponde a VINDEX
segundo a tradição sinistra da ONA. Dessa forma, temos uma clara ligação entre VINDEX
(Sol-Saturno) e a estrela Algol, que é um Portal Estelar.
A ligação entre o Deus Obscuro NAOS (Júpiter-Saturno) e a estrela Naos é bastante
fácil de fazer, uma vez que ambos partilham o mesmo nome.
A última correspondência entre SAUROCTONOS (Marte-Saturno) e o Portal Estelar
Dabih, é aparentemente um pouco mais difícil.
di fícil. No entanto, como veremos, é também muito
fácil, uma vez que sabemos o signicado literal de "Sauroctonos". Signica "matador de
lagarto" em grego (como Apollo Sauroctonos, que é representado a matar um lagarto).
... a estrela Dabih era chamada
cham ada pelos Árabes de "estrela da sorte do matador". Portanto,
nós TAMBÉM temos uma ligação entre SAUROCTONOS (matador) (matad or) e Dabih (matador), que
é o terceiro e último Portal Estelar.
E agora isto é extremamente curioso. Não seria tentador compararmos as esferas
do Sol, Marte, Júpiter e Saturno, e os caminhos que as unem, como os quatro vértices de
um Tetraedro Acausal, sendo o vértice do topo a esfera de Saturno, e os três caminhos em
direção a Saturno os símbolos dos outros três Portais Estelares que existem perto de Algol,
Dabih e Naos?
Vejam esta imagem de um Tetraedro:
102
E agora vejam o Tetraedro Acausal desenhado na Árvore de Wyrd e como ele se
adapta perfeitamente às esferas, aos caminhos conectando-as, e às três estrelas que são os
Portais Estelares convergindo para o Caos/Saturno:
103
O Livro da Magia Negra e dos Pactos
De Arthur Edward Waite
Disponível exclusivamente na loja online da Editora Via Sestra:
http://www.lojaeditoraviasestra.com.br/pd-5D1FCF.html
Não é à toa que O Livro da Magia Negra e dos Pactos, de Arthur Edward Waite, tenha sido uma das
primeiras obras que inuenciariam Aleister Crowley no início de sua jornada mística, mágicka e espiritual.
O livro de Waite discorre de forma ampla acerca do conteúdo dos principais grimórios de magia ne-
gra ocidentais, apresentando seus conteúdos, rituais, cerimônias, orações, sacrifícios, pactos e toda a base que
ajudou a fundamentar os alicerces, supersticiosos ou não, da Magia Negra, do Diabolismo e do Cerimonial
Mágico dos dias atuais.
O livro é basicamente dividido em duas partes.
A primeira trata da literatura da magia cerimonial; da tradição das impressões e dos trabalhos não
publicados; das distinções entre magia branca e negra; da Magia de Arbatel; da Teosoa Pneumática; do En -
quiridião do Papa Leão III; das Chaves de Salomão e dos livros a ele atribuídos ao lo ngo da história; do Quarto
Livro da Filosoa Oculta, de Agrippa; do Grimorium Verum; do Grande Grimório e do Dragão Vermelho; do
Grimório de Honório; da Galinha Preta; da Galinha que encontra tesouros; etc.
A segunda parte, nomeada Grimório Completo, apresenta os rituais completos dos principais siste-
mas mencionados na primeira parte do livro, indo da Preparação do Preparador até a Necromancia Infernal.
Todos os paramentos e utensílios mágicos são apresentados, assim como também as maneiras de fa fa--
zê-los, de acordo com os grimórios.
São descritos integralmente: rituais de evocação demoníaca; rituais de sangue; a obtenção dos pactos;
o sacrifício de animais no contexto mágico; rituais necromânticos em cemitérios; os nomes e hierarquias dos
espíritos malignos; os rituais de conjuração do Lemegeton; o rito de Lucifuge Rofocale; o genuíno Sanctum
Regnum ou verdadeiro método de se fazer os Pactos; etc.
Apresenta ainda: trabalhos de ódio e destruição; trabalhos de amor; experimentos de invisibilidade; a
Mão da Glória; o espelho de Salomão; visão de espíritos e a Necromancia Infernal.
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A Magia de Baphomet
De Walter Jantschik
Disponível exclusivamente na loja online da Editora Via Sestra:
http://www.lojaeditoraviasestra.com.br/pd-5D1FC7.html
Com esta obra pretendo apresentar aos leitores uma introdução às áreas e disciplinas
ocultas das criações mentais mágicas,
mágic as, da magia de Baphomet, da magia do Golem, e da prá-
prá -
tica mágica da evocação.
Há poucos textos e referências na literatura oculta sobre os temas apresentados neste
livro, por isso senti uma forte necessidade de entrar em detalhes e promover mais esclareci-
mentos sobre essas interessantes áreas da magia.
O leitor cará conhecendo algo sobre a evocação mágica do Golem, a missa do Golem
e a egrégora do Golem, e entre outras coisas também, ele cará sabendo quando o Golem
aparecerá novamente no recinto do beco dos alquimistas em Praga, etc.
Além disso o leitor obterá algumas indicações interessantes, como por exemplo, a
produção de uma egrégora mágica, a descrição
desc rição da evocação de uma egrégora, e muito mais.
Depois serão mostrados caminhos para a iniciação mágico-demoníaca. Em seguida será
apresentada, pela primeira vez, a evocação mágica da entidade demoníaca Lilith. No nal
do livro, descrevo um procedimento para a produção e a utilização de uma máquina mágica
de sigilo. Espero que esta obra chegue às mãos corretas e estimule a realização de muitas
outras pesquisas relativas a este assunto!
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