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Key-words:Identity, patrimony, memory.
Quando as práticas, os valores e os costumes de determinado grupo de indivíduos passam a
ser reconhecidos pelo próprio grupo como um movimento relevante, é possível
que essa tomada de consciência gere nos indivíduos que protagonizam as vivências, a ideia de
uma identidade coletiva. Ao terem consciência de
sua condição os integrantes do grupo, induzidos pelo dever
de memória, certamente necessitaram de recursos que garantam a manutenção dessa
identidade cultural coletiva que surge. Este resumo é o início de um projeto de pesquisa que
sugere uma reflexão a respeito dos processos de construções identitárias e da utilização dos
processos de patrimonialização como recurso de afirmação e manutenção destas identidades,
abordaremos, portanto, conceitos que interligam e colaboram na produção destes
sistemas, como o dever de memória, e os bens culturais que permeiam o processo
construtivo destas identidades. Tomando como
referência os textos de teóricos como Michel Argier, Paulo Peixoto, e Stuart Hal, que
produziram estudos que nos fornecem estrutura para nortear pesquisas
no campo, contribuem nesta ocasião para uma reflexão crítica a respeito da criação
destas identidades na área da museologia que é um campo que lida de forma direta com
abordadas neste trabalho.
Dever de memória
O modo de vida das sociedades contemporâneas motiva os indivíduos dos grupos sociais
a aderir a prática do registro de seus hábitos e vivências, sentimo-nos por vezes, obrigados a
manter vivas, memórias dos mais diversos aspectos da nossa existência, essa prática sai do
reduto pessoal e individual, se estende ao âmbito familiar e chega na camada coletiva onde os
grupos sociais "organizados", reivindicam seu direito a memória. Quando
chegam às camadas coletivas, os problemas que estas questões envolvem
podem ocasionar transformações importantes e graves em diversos âmbitos das relações
sociais. Importantes escolhas são feitas e como em todos os casos e por mais que seja real o
desejo de manter viva toda a memória que permeia nossa existência, sem nos darmos
conta, por diversas vezes estamos fazendo um importante exercício de curadoria, costurando
assim, a narrativa que contará a história de nossas vidas. Ao acolher equipamentos culturais
como objetos representantes de uma identidade ou cultura, os indivíduos devem estar atentos
se estes equipamentos realmente estão sendo utilizados a favor do grupo representado, e
lembrar que existem os casos em que o patrimônio cultural não estará a serviço das
identidades culturais. (PEIXOTO, 2004)
Processos de patrimonialização
Desde que o conceito da palavra patrimônio se expandiu deixando de corresponder apenas a
um conjunto de bens transmitidos de uma geração a outra, a expressão passa a ter usos
diversos e entre eles designa a noção de "patrimônio cultural", este conceito permite
que qualquer indivíduo que se reconhece pertencente a uma cultura, se veja representado por
determinados bens culturais. O que acontece é que nem todos os casos em que patrimônios
são nomeados ou elegidos com bens culturais de grupos específicos dentro de uma sociedade,
nem todos os indivíduos pertencentes a um mesmo núcleo cultural se sentirão
representados ou nutrirão um sentimento de pertencimento por esse bem, isso se deve ao fator
da possibilidade de que um único indivíduo possua mais de uma identidade. (HALL,2002)
Quando se trata, então, de relacionar os bens culturais aos processos que se dá durante
a construção das identidades culturais coletivas, esta é uma das problemáticas que traz
consigo a noção do patrimônio cultural. Outra situação de conflito é a forma de produção
destes patrimônios e das identidades, pois quando determinada prática, costume ou até mesmo
bem material é acrescentado de signos, valores e memórias, é possível que isto suscite em
grupos sociais a identificação este ou aquele bem fazendo com que estes grupos se apoiem em
torno do patrimônio, o reconhecendo como patrimônio cultural representante de suas culturas
e identidades coletivas, no entanto o percurso feito tanto pelas identidades coletivas
quanto pelos patrimônios culturais é uma via de mão dupla, pois na mesma medida em que o
patrimônio servirá aos integrantes dos grupos identitários como garantia de reconhecimento e
afirmação de suas identidades no meio social, por outro lado possa também as identidades ser
utilizadas como ferramentas a serviço do surgimento de novos bens culturais. A
terceira possibilidade é à proposta por Paulo Peixoto em seu texto A identidade como recurso
metonímico dos processos de patrimonialização, onde ele diz o seguinte:
"Patrimônio e identidade aparecem frequentemente como termos de uma mesma equação. Um
patrimônio faz prova da existência de uma determinada identidade. Uma identidade insinua-se
e justifica-se na medida em que se revela caucionada por um patrimônio."
(PEIXOTO,2004, p. 183)
A partir dessas considerações compreendemos que mesmo sendo estreita a relação entre
patrimônio e identidade, os processos de patrimonialização nem sempre irão assegurar que a
identidade será representada da forma esperada, tanto como as construções identitárias
algumas vezes também não darão conta de socorrer os patrimônios. Sabendo que o patrimônio
e a identidade apoiam-se um no outro para alcançar seus objetivos como objetos do campo
dos bens culturais que são, observamos que nem todas as práticas que produzem identidades
são abraçadas pelos patrimônios, pois o mesmo geralmente pretende alcançar espaços
distantes dos alvos dos processos identitários.
Sendo assim, o trabalho sugere investigações empíricas sobre as relações entre os patrimônios
culturais e os grupos sociais que são representados por estes equipamentos na cidade, para
testar as referências teóricas utilizadas neste trabalho no campo museológico da cidade do
Recife.
Referências Bibliográficas
AGIER, Michell. DISTÚRBIOS IDENTITÁRIOS EM TEMPOS DE
GLOBALIZAÇÃO. Mana [online]. 2001, vol.7, n.2, pp.7-33. ISSN 0104-9313.
DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de Museologia. Tradução:
Bruno Brulon Soares, Marília Xavier Cury. ICOM: São Paulo, 2013. Disponível em:
<http://icom.museum/fileadmin/user_upload/pdf/Key_Concepts_of_Museology/Conceitos-
ChavedeMuseologia_pt.pdf>. Acesso em: set.2017