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DEFINIÇÕES BÁSICAS
Bastos (1997b) apresenta uma definição de personalidade bastante elucidativa. Para ele, a
personalidade é o conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características
individuais, em sua relação com o meio, incluindo todos os fatores físicos, biológicos, psíquicos e
socioculturais de sua formação, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no curso
de sua existência. Ele ressalta ainda uma dimensão essencial do conceito de personalidade, que
é o seu duplo aspecto: relativamente estável ao longo da vida do indivíduo e relativamente
dinâmico, sujeito a determinadas modificações, dependendo de mudanças existenciais ou
alterações neurobiológicas; a estrutura da personalidade, segundo ele, “mostra-se essencialmente
dinâmica, podendo ser mutável – sem ser necessariamente instável – e encontra-se em constante
desenvolvimento”.
A origem etimológica da palavra personalidade ilumina de modo interessante a dimensão
complexa do conceito. Personalidade provém do termo persona, que significa a máscara dos
personagens do teatro. É aquela máscara que cobria o rosto dos cômicos em Roma, ao
representarem as diferentes personagens de uma peça. Em latim, por sua vez, personare
também significa ressoar por meio de algo. Assim, segundo López Ibor (1970), as duas
conotações etimológicas do termo personalidade apontam para um sentido comum: o autor/ator
faz ressoas a sua voz, a sua versão da história, por meio das diversas máscaras, das diversas
personagens que cria. Pode-se acrescentar à interessante nota de López Ibor que o autor teatral,
ao fazer ressoar sua voz pelas máscaras que cria, ao mesmo tempo em que se esconde, revela-
se, pois suas personagens, suas máscaras, denunciam dialeticamente meandros do que busca
esconder. O poeta Fernando Pessoa expressa de forma sumamente elegante essa dialética
constante da personalidade, dialética do esconder-se e do revelar-se simultaneamente:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Constituição corporal
É o conjunto de propriedades morfológicas, metabólicas, bioquímicas, hormonais, etc.,
transmitidas ao indivíduo principalmente (mas não apenas) pelos mecanismos genéticos. Muitos
autores há séculos procuraram identificar um possível paralelo entre a constituição corporal e o
temperamento e o caráter dos seres humanos. A constituição corporal estabelece, em boa parte, o
aspecto do indivíduo, sua aparência física, o perfil de seus gestos, sua voz, o estilo de seus
movimentos, tendo significativa influência sobre as experiências psicológicas da pessoa ao longo
de sua vida, seu modo de reação em relação aos outros e vice-versa.
Temperamento
É o conjunto de particularidades psicofisiológicas e psicológicas inatas, que diferenciam
um indivíduo de outro. Os temperamentos são determinados por fatores genéticos ou
constitucionais precoces produzidos por fatores endócrinos ou metabólicos. Assim, alguns
indivíduos nascem com temperamentos astênicos, com tendência à passividade, à hipoatividade,
à “vida mansa”; outros nascem com temperamentos estênicos, ativos, com forte tendência à
iniciativa e a reagir prontamente aos estímulos ambientais; e assim por diante. A identificação,
entretanto, de traços e configurações congênitas individuais é tarefa muito difícil, já que o que se
tem são indivíduos que sempre trazem consigo a combinação dos aspectos inatos aos aspectos
adquiridos, aprendidos, incorporados pela interação constante com os pais e a sociedade. A
apreensão do temperamento de uma pessoa, em estado puro, original, é extremamente difícil.
Caráter
Embora o termo caráter tenha, na linguagem comum, conotação moral, indicando força,
vontade, perseverança, personalidade bem-demarcada e estável, não é essa exatamente a sua
definição psicopatológica. Para a psicopatologia, o caráter é a soma de traços de personalidade,
expressos no modo básico de o indivíduo reagir perante a vida, seu estilo pessoal, suas formas de
interação social, gostos, aptidões, etc. O caráter reflete o temperamento moldado, modificado e
inserido no meio familiar e sociocultural. É a resultante, ao longo da história pessoal, da interação
constante entre o temperamento e as expectativas e exigências conscientes e inconscientes
individuais que criaram determinada pessoa. O caráter resulta do modo como o indivíduo
equacionou, consciente e inconscientemente, o seu temperamento com tais exigências e
expectativas.
O temperamento não deve ser confundido com o caráter, pois o primeiro é algo básico e
constitutivo do indivíduo, ao passo que o último traduz-se pelo tipo de reação predominante da
pessoa ante diversas situações e estímulos do ambiente. Mora y López (1974) afirma que é
compreensível que freqüentemente não coincidam o temperamento (tendências inatas iniciais) e o
caráter (conjunto de reações finalmente exibidas pelo indivíduo, já que, entre ambos, se interpõe o
conjunto de funções intelectuais (discriminativas, críticas e judicativas), assim como as inibições e
os hábitos criados pela educação. Em certos casos, o caráter se desenvolve no sentido oposto ao
do temperamento, por sobre compensação psíquica; muitas vezes um indivíduo com caráter
exibicionista e teatral esconde um temperamento tímido e fóbico, ou um caráter agressivo e audaz
encobre um temperamento medroso e angustiado.
TIPOLOGIAS HUMANAS OU TIPOS DE PERSONALIDADE
O termo esquizóide é relativamente antigo, foi empregado por Bleuler (1924) para
descrever aqueles que têm a tendência de voltar-se para si mesmos e afastar-se do mundo
externo. Considerava-se que essas pessoas não possuíam expressividade emocional e que
tinham interesses vagos.
Eulália era uma esquisita, para usarmos a linguagem da mãe, ou romanesca, para empregarmos a
definição das amigas. Tinha em verdade, uma singular organização. Saiu do pai. O pai nascera com
o amor do enigmático, do arriscado e do obscuro; morreu quando aparelhava uma expedição para ir
à Bahia descobrir a “cidade abandonada”. Eulália recebeu essa herança moral, modificada ou
agravada pela natureza feminil. Nela dominava principalmente a contemplação. Era na cabeça que
ela descobria as cidades abandonadas. Tinha os olhos dispostos de maneira que não podiam
apanhar integralmente os contornos da vida. Começou idealizando as coisas, e, se não acabou
negando-as, É certo que o sentimento da realidade esgarçou-se-lhe até chegar à transparência fina
em que o tecido parece confundir-se com o ar.
Os sociopatas são indivíduos que, embora reconhecidos por todos, tem um status
nosotáxico em psicopatologia polêmico, sempre discutível. É uma variação da normalidade ou
uma doença, um modo de ser ou uma categoria médica? São perguntas ainda em aberto.
Segundo a tradição psicopatológica, os sociopatas são pessoas incapazes de uma interação
afetiva verdadeira e amorosa. Não têm consideração ou compaixão pelas outras pessoas,
mentem, enganam, trapaceiam, prejudicam os outros, mesmo a quem nunca lhes fez nada. São
popularmente conhecidos como “mau caráter”, “tranqueira”, “canalha”, etc.
Eis aqui como a CID-10 os descreve:
1. Indiferença e insensibilidade pelos sentimentos alheios
2. Irresponsabilidade e desrespeito por normas, regras e obrigações sociais
3. Incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja dificuldade em estabelecê-
los
4. Muito baixa tolerância a frustrações e baixo limiar para descarga de agressão, inclusive
violência
5. Incapacidade de experimentar culpa e de aprender com a experiência, particularmente
com a punição
6. Propensão marcante para culpar os outros ou para oferecer racionalizações plausíveis
para o comportamento que gerou seu conflito com a sociedade
7. Crueldade e sadismo são freqüentes nesse tipo de personalidade
Uma história intrigante sugere que os perfis psicológicos de muitos “serial killers”
apontam para o papel de transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva. Observa-se que
esses indivíduos muitas vezes não se enquadram na definição de alguém com doença mental
grave, como a esquizofrenia, porém são “mestres do controle” na manipulação das vitimas. A
necessidade de controlar todos os aspectos do crime se enquadra no padrão de pessoas com
transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva e alguma combinação entre esse
transtorno e experiências infelizes na infância podem resultar no padrão de comportamento
considerado transtorno. Na outro ponto do espectro comportamental é comum identificar esse
transtorno entre crianças bem-dotadas cuja busca do perfeccionismo pode ser debilitante.
1. Subordinação das próprias necessidades e desejos àqueles dos outros dos quais é
dependente
2. Solicitação constante de que outros (dos quais depende) tomem as decisões
importantes em sua vida pessoal
3. Sentimento de desamparo quando sozinho por causa de medo exagerado de ser
incapaz de se cuidar
4. Preocupação e/ou medo exagerado de ser abandonado pela(s) pessoa(s) da(s) qual
(is) depende
5. Capacidade limitada de tomar decisões cotidianas sem excesso de conselhos e
reasseguramento pelos outros
6. Relutância em fazer exigências ainda que razoáveis à(s) pessoa(s) da (s) qual (is)
depende
! Para assistir: Garota interrompida, Entre elas, O cabo do medo. Atração Fatal,
Monster - Desejo Assassino, Mulher Solteira Procura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA DA APOSTILA
! Transtornos de personalidade
(KAPLAN, H.; SADOCK, B.; GREBB, J. “Transtornos da personalidade” (Cap. 26; pág. 686) In:
Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7. ed. São Paulo: Artmed).