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PRESENTE
A través de este medio, confirmo la atenta invitación para hacer una estancia de
investigación para reforzar sus estudios doctorales, al Mtro. Carlos Eduardo Tauil, quien
desarrollaría el tema "Fernando Henrique Cardoso e os processos democráticos Brasil-
México: uma interpretação a partir da década de 1970", durante el período de julio a
diciembre de 2018.
Esperando recibir en nuestro posgrado al Mtro. Carlos Eduardo Tauil, les reitero mis más
altas y distinguidas consideraciones y estima,
Atentamente,
Guadalajara, Jalisco, México, a 15 de enero de 2018
Av. Parres Arias # 150 , esq. Periférico Norte, Campus CUCSH Belenes, Zapopan,
Janeiro 2018
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1. RESUMO
A proposta deste estudo é analisar o processo de democratização pelos quais passaram Brasil
e México, no período pós década de 1970, priorizando a interpretação dos acontecimentos e
recepção/produção de análises e práticas por Fernando Henrique Cardoso. Apesar de estes
dois países terem tido desenvolvimentos sociais, econômicos e políticos que convergiram e
divergiram em alguns momentos, eles sempre ocuparam um lugar de destaque na América
Latina, o que os une em suas histórias. Fernando Henrique Cardoso sempre teve o tema da
“Democracia” como uma chave de suas análises e práticas para o desenvolvimento do Brasil.
Não obstante a isso, procurou manter-se atento aos acontecimentos latino americano e, por
coincidência ou não, viveu e conviveu com os processos democráticos que Brasil e México
atravessaram a partir do fim da década de 1970. Nosso objetivo é, portanto, a partir do método
que priorize a relação autor-texto-contexto, compreender como Fernando Henrique Cardoso
analisou e produziu teoria e prática observando países com formações históricas tão
singulares e que atravessaram contemporaneamente processos de democratização, mas que
ainda hoje parecem não terem completado suas transições para regimes e práticas
efetivamente democráticos.
2. INTRODUÇÃO
Durante o curso de sua carreira como acadêmico e político, Cardoso manteve-se atento
às questões relacionadas à formação da democracia brasileira e latino americana. Desde seus
primeiros trabalhos acadêmicos, ainda na década de 1950, o autor tentou diagnosticar algumas
1
A partir de agora vamos nos referir a Fernando Henrique Cardoso apenas como Cardoso.
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Alguns anos antes do golpe militar ocorrido no Brasil, em 1964, quando a CEPAL 3
apresentou seu manifesto afirmando que: “Nas teorias que recebemos e continuamos a receber
dos grandes centros, há com freqüência uma falsa pretensão de universalidade. Toca-nos,
essencialmente, a nós, homens da periferia, contribuir para corrigir essas teorias e introduzir
nelas os elementos dinâmicos que requerem, para aproximar-se da nossa realidade”
(PREBISCH, 1949, p. 21), Brasil e México foram catapuldados a casos peculiares em toda a
América Latina, uma vez que, apesar de algumas divergências que apresentaremos mais a
frente, são dois países que sempre tiveram papel de destaque e protagonismo na história e no
de vir latino americano (CARDOSO, 2011, p. 129).
Na virada do século XIX para o século XX, o México passou por uma revolução que
culminou com o fim do porfiriato4 e ocasionou uma sucessão de disputas políticas em que se
engalfinharam políticos institucionais como Francisco Madero, Felix Diaz, Bernardo Reyes,
Victoriano Horta até revolucionários e contra-revolucionários como Emiliano Zapata, Pascual
Orozco, Venustiano Carranza, Francisco Pancho Villa, Eulálio Gutiérrez dentre outros. Para
alguns pesquisadores da história mexicana, este processo revolucionário começou com a
queda do porfiriato, mas seu desfecho ainda gera imprecisão, sendo que alguns dizem ter o
processo revolucionário findado com a Constituição de 1917, outros com a eleição Adolfo de
La Huerta, em 1920 e outros apostam, ainda, que a revolução só terminou de fato em meados
da década de 1980, quando o PRI 5 começou a perder seu domínio político no México
(CASTAÑOS; LEYVA; CAMPO, 2008, p. 343). E será sob este último argumento que
iremos nos apoiar durante nossos estudos.
2
Naquele momento, Cardoso voltava seu olhar para questões fundamentalmente internas, como as questões
relativas a democracia racial no Brasil.
3
Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Órgão da ONU criado, em 1948, para fomentar o estudo
sobre diagnósticos e prognósticos com fins de desenvolver o continente latino americano).
4
Porfiriato é o termo usado para designar o período, de 1876 a 1911, em que o ditador mexicano Porfírio Diaz
ficou no poder
5
O PRI, Partido Revolucionário Institucional, foi o partido que se apropriou do poder a partir da década do final
da década 1920 até os anos 2000, conforme veremos mais a frente.
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Um dos fatos que acreditamos ser mais intrigantes na futura pesquisa é que entre a
década de 1920 até a década de 1970, Brasil e México viveram situações político
democráticas completamente distintas, mas que parecem ter ocasionado implicações
equivalentes. Se no Brasil, neste período, o que prevaleceu foi uma intensa sequencia de
acontecimentos de rupturas6, não revolucionárias no sentido de insurreições - como a que
ocorreu no México em 1910, que não nos legaram um movimento contínuo de construção da
ordem institucional democrática, no México o que houve foi bem diferente. Maquiado por
uma pseudo-democracia, o México manteve uma ordem institucional democrática estável7.
Para finalizar esta parte, a par das diferenças na ordem colonial hispano-portugues 11,
há muito que se questionar sobre o desenvolvimento sócio, político e econômico no Brasil e
México durante o século XX, mas principalmente em todo o processo de democratização que
estes dois países vivenciaram, pós década de 1970. Portanto, a pergunta que buscaremos
6
Entre as décadas de 1920 e 1980, o Brasil conviveu com a Ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, cinco
Constituições Federais (1934, 1937, 1946, 1967 e 1988), o suicídio de um presidente em pleno mandato, a
renúncia de um presidente, o golpe militar de 1964 (foram outras ações que tumultuam a vida político
democrática e institucional do país, como reformas ministeriais, presidentes interinos etc)
7
Segundo Victor Haya de La Torre, o que se sucedeu no México pós revolução foi um sentimento de fascínio
pelos grandes episódios trágicos que, mesmo sendo consequencias de uma luta por direitos democráticos,
gerou uma passividade social com relação aos demais acontecimentos (1970, p. 98)
8
“Instituições Políticas Brasileiras” 2 Vols. Brasília: Biblioteca do Senado, 1999.
9
“Raízes do Brasil”. São Paulo: Cia das Letras, 2016.
10
“Os Donos do Poder”2 Vols. Rio de Janeiro: Globo Editora, 2012.
11
Ver a metáfora entre Semeador e Ladrilhador que Sérgio Buarque de Holanda faz sobre a diferença de
colonização nas Américas entre portugueses e espanhóis em seu livro “Raízes do Brasil”.
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3. JUSTIFICATIVA
A fim de buscarmos uma visão que nos dê um panorama integralizado, para analisar a
democracia brasileira e mexicana faz-se necessário compreender a maneira pela qual foi feita
a transição do autoritarismo para o regime democrático e os limites destes regimes bem como,
também, os limites dos sistemas políticos destes países. Portanto, não há como refutarmos a
hipótese de que se a hegemonia do poder político 12 no Brasil e México estão amparados pela
ordem econômica em que as duas sociedades foram edificadas, esta transição pôde
encaminhar-se em circunstâncias semelhantes.
Assim como Caio Prado Jr. (2011) assume uma interpretação de que a origem da
organização social brasileira está pautada num arranjo pré-capitalista, o autor mexicano
Sergio de La Peña também nos apresenta a formação mexicana desta forma:
12
Para Antonio Gramsci, em sentido amplo, o conceito de hegemonia se dá quando a classe política toma para
si o domínio da sociedade mais a prerrogativa de direcionar os rumos desta sociedade (COSPITO, 2017, p. 368).
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Este processo de formação econômica parece estar claro para Cardoso, pois em seu
livro “Dependência e Desenvolvimento na América Latina” ele reconhece esta realidade
mexicana:
No México, durante o porfiriato, a base de desenvolvimento, como é sabido,
era a exploração mineira nas haciendas, que, como as comunicações internas
e de energia estavam em mãos de capitais estrangeiros. Dos investimentos
totais do país, 40% correspondiam aos Estados Unidos, 80% dos quais
empregados em minas, petróleo e estradas de ferro (CARDOSO; FALETTO,
1970, p. 78).
Por outro lado, os intelectuais que se exilaram no México, como Rui Mauro Marini,
André Gunder Frank, Vânia Bambirra, Theotônio dos Santos acreditavam que não havia
espaço para o fortalecimento da sociedade civil em países que tiveram suas formações
impostas de forma exógena, que estavam dominados pelo capital internacional e que,
portanto, a única saída para uma sociedade emancipada e realmente democrática era a
revolução socialista.
Ou seja, durante seu exílio, acreditamos que Cardoso pôde estudar e buscar
compreender as possibilidades que a “política” e o fortalecimento da democracia ofereciam
num contexto de dependência econômica e ditadura militar no Brasil, se contrapondo aos
exilados no México que categorizavam a dependência em uma questão estrutural e que não
poderia ser resolvida via política democrática, mas sim, como afirmamos acima, somente com
a revolução socialista.
O período que pretendemos passar no México visa, dentre outras coisas, resgatar esse
debate para compreender as nuances e os argumentos que foram apreendidos por Cardoso,
pois neste sentido, segundo Roberto Swarchz, podemos supor que as interpretações deste
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autor sugerem passar de adequação das normas internas de classe para o anseio de realocação
do país no mercado internacional pela perspectiva de que é possível buscar a democratização
do Estado brasileiro (e América Latina) e seu desenvolvimento econômico a partir de relações
de um país subdesenvolvido, mas ávido por desenvolvimento (SWARCHZ, 1998).
Neste sentido, Cardoso se tornou pioneiro pelo fato de o autor liderar um grupo de
intelectuais que deslocou seu foco analítico das dimensões estruturais da influência histórica
internacional para concentrar-se na representação política, institucionalização da democracia e
fortalecimento da democracia como forma de balancear e controlar a factual cultura
autoritária das sociedades brasileiras e latino americanas (LAHUERTA, 1999, p. 221).
Para Celso Lafer, Cardoso se valeu de ensinamentos de Hannah Arendt, pois “se deu
conta de que numa época de universais fugidos, rupturas e descontinuidades a relação entre o
próprio pensamento e os incidentes da experiência viva é o único ingrediente que nos pode
servir de baliza norteadora” (LAFER, 2009, p. 44). Talvez o grande esforço da carreira de
Cardoso, tanto acadêmica quanto como político, tenha sido o de adaptar suas interpretações a
respeito da democracia brasileira e da América Latina as novas dinâmicas apresentadas
internamente e externamente, isto é, buscou não distanciar suas interpretações do “senso de
materialidade” de situações reais.
Se no fim dos anos da década de 1970, Cardoso atuou como intelectual e agente
público no processo de democratização brasileira, que teve muitas etapas e uma pluralidade
de atores tendo o protagonismo do jogo político no país, no México este processo se deu a
partir do início da década de 1980, momento em que, via pressão dos dois únicos partidos de
oposição ao PRI, as regras eleitorais foram alteradas (em 1986). Somente neste momento o
PAN (Partido da Ação Nacional) e PRD (Partido da Revolução Democrática) conseguiram, de
fato, começar a participar do jogo democrático mexicano e ter alguma influência na política
do país, haja vista que somente em 1997 o PRI perdeu a maioria no Congresso Nacional e
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somente no ano 2000 um candidato de outro partido que não o PRI, Vicente Fox do PAN,
assume a presidência do México (MÁRQUEZ, 2010, p. 139).
Ou seja, como pano de fundo deste estudo, pretendemos, também, esclarecer como se
apresentaram as relações de Autoritarismo versus Democratização e Estado e(versus?)
Sociedade nas sociedades brasileira e mexicana.
As relações acima citadas suscitam debates intermináveis. Este debate é ainda mais
frutífero no Brasil e América Latina pela presença de Cardoso, talvez um dos maiores
expoentes da relação de quem sintetizou, produziu e pôde praticar (ou não) – na presidência
da república do maior país do continente - suas teorias democráticas. Por esta conta, nós
consideramos algumas questões relevantes sobre o tema que pretendemos estudar, dentre elas:
Há problemas de continuidade e/ou ruptura nas interpretações realizadas por Cardoso no
processo de democratização brasileira e mexicano? Em que medida o debate feito por
Cardoso com autores latino americanos, e em especial os exilados mexicanos, influenciou a
primazia do seu foco de análise na sociedade civil e não em estruturas internacionais
predeterminadas? Em que medida os conceitos apreendidos acerca de democracia feitos por
Cardoso importaram para as políticas democráticas enquanto este atuou como agente político?
13
Conceito criado por Cardoso na década de 1970 a fim de explicar os interesses ao redor do Estado, onde
formam-se verdadeiras teias burocráticas que vinculam diferentes facções e que permite aos setores da
burocracia pública e estatal ligarem-se aos grupos de interesses de empresas privadas (FRIZZARINI, 2008, p. 58)
14
“Subdesenvolvimento, Dependência e Periferia: o lugar de Caio Prado Jr. no debate sobre políticas
econômicas na década de 1950”. Dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal de São Paulo em
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5. OBJETIVOS
6. METODOLOGIA
Nossa pesquisa dará atenção a dois aspectos principais: o primeiro na coleta e análise
do maior número de pesquisas que tenham se debruçado sobre as convergências e
divergências sobre os processos de democratização no Brasil e América Latina pós década de
1970, a relação entre Autoritarismo versus Democracia e Estado e Sociedade; a segunda na
metodologia que os intelectuais mexicanos vêm utilizando no estudo da História das Ideias e
do Pensamento Político, tendo como especial ênfase a relação autor-texto-contexto. Desta
forma, buscaremos nos aperfeiçoar na utilização dos instrumentais/ferramentas metodológicas
que vêm sendo utilizados pelos pesquisadores mexicanos no campo do Pensamento Político.
Este comparativo possibilitará situar nossos resultados diante das demais pesquisas
que vêm sendo desenvolvidas e avançar em questões consideradas importantes para o
novembro de 2015.
15
Beal (2015) em sua tese de doutorado sobre a trajetória político-intelectual de Fernando Henrique Cardoso
procurou demonstrar a relevância do contextualismo linguístico nas pesquisas sobre Pensamento Político.
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7. CRONOGRAMA
8. BIBLIOGRAFIA
ARAGÓN, E. P. México: Desarollo com Pobreza. Cidade do México: Siglo Vintiuno, 1975.
BATISTA, Paulo N., O Consenso de Washington: A visão neoliberal dos problemas latino
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do Livro, 1977.
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LAFER, C. FHC: o intelectual como político in Revista Novos Estudos - Cebrap, n. 83, 2009
LAHUERTA, M. Intelectuais e Transição: entre a política e a profissão. 1999, 274 f., Tese
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LAMOUNIER, B. Tribunos, profetas e sacerdotes. São Paulo: Cia das Letras, 2014.
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SKINNER, Q. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Cia das Letras,
1996.
SCHWARZ, R. Um seminário de Marx Folha de São Paulo, São Paulo, 8 de out. 1995,
Caderno Mais, p. 8, 1998.