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ENTRE O ESTÉTICO E O POLÍTICO:

O ROMANCE DE AUTORIA FEMININA NO AMAZONAS

BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Luana Aguiar Moreira
Orientador: Prof. Dr. Allison Leão

Fontes primárias: Obras literárias de Elisabeth Azize, Verenilde Santos Pereira e Regina Melo
que serão analisadas na dissertação.

1. AZIZE, Elisabeth. E Deus chorou sobre o rio. Manaus: Imprensa Oficial, 1984.
________. E Deus chorou sobre o rio. 2. ed. Manaus: Editora Valer, 2006.
________. E Deus chorou sobre o rio. 3. ed. Manaus: Editora Valer, 2019.

2. MELO, Regina. Ykamiabas: Filhas da Lua, Mulheres da Terra. Manaus: Editora


Travessia / Petrobras, 2004.
3. PEREIRA, Verenilde Santos. Um rio sem fim. Brasília: Thesaurus, 1998.

Antologias e dicionários: Obras que apresentam um panorama da literatura no Amazonas ou


algumas informações relevantes sobre o Clube da Madrugada (como é o caso de Telles, 2014),
que utilizarei no momento de contextualização da pesquisa. Um ou outro livro traz informações
sobre as escritoras que pesquiso.
4. BEÇA, NETO, Aníbal. (org.). Marupiara: antologia de novos poetas do Amazonas.
Manaus: SCA/Edições, 1988.

5. ENGRÁCIO, Arthur. Poetas e prosadores contemporâneos do Amazonas. Manaus: UA,


1994.

6. TELLES, Tenório. Clube da Madrugada: presença modernista no Amazonas. Manaus:


Editora Valer, 2014.

7. TELLES, Tenório; GRAÇA, Antônio Paulo. Estudos de literatura do Amazonas.


Manaus: Editora Valer, 2021.

Fontes teóricas:
8. ABDEL-HADY, Zakaryya Mohamed Ahmed. Muslim Women and Gender: Culture
Vs. Divine Text. European Scientific Journal, v. 13, n. 5, 2017, p. 155-164. Disponível
em: <https://doi.org/10.19044/esj.2017.v13n5p155>. Acessado em: 18 de março de
2021.
O autor discorre como como o Islã é visto como uma religião que dá preferência a um
gênero em relação ao outro. Isso foi particularmente percebido ao lidar com questões que são
de preocupação com as mulheres, tais como: deveres e responsabilidades do marido e esposa e
herança. Este artigo tenta examinar se isso é um simples equívoco, ou a existência de qualquer
evidência dentro da Doutrina muçulmana e/ou interpretação de estudiosos muçulmanos que

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apoiam essa perspectiva. Assim, a fim de identificar e esclarecer a postura do Islã sobre a
questão da gênero, o autor revisita as fontes islâmicas e mantem uma comparação com eventos
sociais e históricos que ocorreram no início da Sociedade muçulmana. Este artigo destaca essa
questão e tenta identificar se alguma validação para tal prática foi feita dentro da abordagem
religiosa ou através de conceitos tradicionalmente adquiridos que viveram e cresceu dentro das
culturas muçulmanas ao longo dos tempos.
9. BONATTI, Nícia Adan. Alcorão: uma questão de tradução e leitura. Tradução &
Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores, n. 22, 2011, p. 149-165.

Nesse artigo, a autora analisa o Livro Negro da condição das mulheres que concerne aos
eventos de apedrejamento, escorados pelas leis islâmicas, e que ocorrem em especial no Irã. A
autora apresenta a complexidade da tradução do texto sagrado islâmico, no qual se adiciona a
interpretação autorizada dos ulemás, os intérpretes outorgados do livro-guia em sua cultura.

10. DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território


contestado. Vinhedo: Editora Horizonte; Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 2012.

Esta obra de Regina Dalcastagnè, uma das principais críticas literárias do Brasil, é um o
resultado de uma extensa pesquisa que realizou sobre o cenário da literatura brasileira
contemporânea. Ao realizar um levantamento e análise de obras publicadas nas principais
editoras brasileiras, a autora revela um campo assimétrico, marcado pelo domínio do
patriarcado que confere às obras literárias não apenas menor valor, mas também dificulta o
acesso de escritores marginalizados de serem inseridos no cânone.

11. DALCASTAGNÈ, Regina. A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-


2004. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, n. 26, jul./dez., 2005,
p. 13-71.
O artigo apresenta e discute os resultados de uma pesquisa sobre os 258 romances de
autores brasileiros publicados pelas três mais importantes editoras do país entre 1990 e 2004.
Os dados mostram que o romance brasileiro contemporâneo privilegia a representação de um
espaço social restrito. Suas personagens são, em sua maioria, brancas, do sexo masculino e
das classes médias. Sobre outros grupos, imperam os estereótipos. As mulheres brancas
aparecem como donas-de-casa; as negras, como empregadas domésticas ou prostitutas; os
homens negros, como bandidos. Assim, o campo literário, embora permaneça imune às
críticas que outros meios de expressão simbólica costumam receber, reproduz os padrões de
exclusão da sociedade brasileira.

12. DEL PRIORI, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto,
2004.

Trata-se de uma organização, realizada pela renomada historiadora Mary Del Priori, de
artigos de diversas pesquisadoras brasileiras sobre a história da mulher no Brasil, desde o
período colonial até a contemporaneidade. A obra traça um panorama da história da mulher
brasileira, sendo importante para compreendermos as diversas culturas e realidades que
formaram esta e, consequentemente, influenciaram na produção literária, como as mulheres
escravas, operárias, burguesas etc. Em especial, aproveitaremos o artigo “Escritoras, escritas,
escrituras”, de Norma Telles.

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13. DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Trad. Cláudia de
Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
Neste livro, a partir da obra e da noção de pulsão de morte, de Freud, Derrida analisa o mal
de arquivo, que estaria ligado à pulsão de morte, ao apagamento da memória, cujas
consequências podem ser psíquicas, sociais e políticas. Com esse entendimento, identificamos
a ideia de arquivo como um procedimento central nas práticas artísticas contemporâneas.

14. DUARTE, Constância Lima. Arquivo de mulheres e mulheres anarquivadas: histórias


de uma história mal contada. Gênero. Niterói, v. 9, n. 2, p. 11-17, 1. sem. 2009.
Neste artigo, Constância Lima Duarte, a partir de uma perspectiva derridiana sobre os males
do arquivo, procura refletir a respeito das escritoras brasileiras “anarquivadas”, isto é, aquelas
escritoras que não foram inseridas na historiografia brasileira, deixadas de fora da história e da
memória da literatura nacional. A autora, dessa maneira, procura mostrar as dificuldades de se
pesquisar a literatura de mulheres no Brasil (sobretudo as escritoras mais antigas, do século
XIX) e o impacto que esse apagamento da história literária possui sobre as concepções de
cânone.
15. DUARTE, Constância Lima. Feminismo e literatura no Brasil. Estudos Avançados, v.
17, n. 49, p. 151-172, 2003.
Importante artigo de Constância Lima Duarte, uma das principais estudiosas sobre o
Feminismo e a Literatura no Brasil, no qual a autora traça aspectos importantes do movimento
Feminista no Brasil e no mundo e como este afetou os estudos literários. No artigo, Duarte
realiza um breve histórico das ondas do Feminismo mundial – que, segundo a sua tese, teve um
total de quatro ondas, ao invés de três, normalmente considerada pelos estudiosos. A última
onda, iniciada nos anos 60, estava voltada para reinvindicações ligadas à liberdade sexual e aos
estudos literários. De modo geral, o artigo procura trazer uma abordagem do Movimento
Feminista até chegar aos estudos literários e como esses afetaram a literatura brasileira.
16. FANINI, Michelle Asmar. Fardos e fardões: mulheres na Academia Brasileira de Letras
(1897-2003). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo, 2009.

Trata-se de uma pesquisa de mestrado sobre a história das mulheres na Academia Brasileira
de Letras (ABL), assim como os percalços enfrentados pelas escritoras brasileiras para
ingressarem na instituição, frente a uma sociedade patriarcal que dominava os espaços
literários. Na dissertação, Michelle Fanini discorre a respeito da hegemonia masculina na
Academia e como esta tentou, a todo custo, impedir a posse de mulheres na instituição, seja a
partir de regimentos internos implicitamente misóginos, seja pelo bloqueio explícito e
reverberado das candidaturas femininas. Esta pesquisa, baseada nas relações entre os gêneros
no campo literário – mais no sentido político do que estético – nos mostra as dissonâncias nesse
espaço dominado pelo patriarcado.

17. FUNCK, Susana Bornéo. Crítica literária feminista: uma trajetória. Florianópolis:
Insular, 2016. (Série Estudos Culturais).

Trata-se de uma coleção de artigos e ensaios de Susana Bornéo Funck publicados ao longo
de sua carreira acadêmica, onde a autora dá enfoque às representações femininas na literatura
de autoria feminina, sobretudo em textos de autoras de língua inglesa. Nos textos, Funck

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observa os pontos de resistência e de subversão de uma tradição literária que relegou a mulher
à condição de o outro da cultura e da literatura.

18. GINZBURG, Jaime. Cânone e valor estético em uma teoria autoritária da literatura.
Revista de Letras. São Paulo, v. 44, p. 97-111, 2004.

Neste artigo, Jaime Ginzburg analisa as ideias de Harold Bloom sobre a sua teoria da
construção do cânone literário em sua obra O Cânone Ocidental. Segundo o autor, a teoria de
Bloom se baseia numa perspectiva elitista e autoritária de literatura e até mesmo de formação
do leitor, excluindo tudo aquilo que é produzido à margem dos padrões estéticos americanos,
minorias como mulheres, negros, indígenas etc. A defesa de Ginzburg tem relevância para o
estudo que por ora pretendo realizar, pois busca desconstruir as ideias difundidas e estabelecidas
sobre a Literatura, quem pode escrevê-la e lê-la.
19. HAJJAMI, Aïcha El. A condição das mulheres no Islã: a questão da igualdade.
Cadernos Pagu, n. 30, jan-jun, 2008, p. 107-120.

Trata-se de um artigo de uma pesquisadora do Centre d’Etudes et de Recherche sur la


Femme et la Famille (CERFF), da Universidade Cadi Ayyad, em Marrakech, sobre questões de
igualdade e desigualdade que envolvem a mulher muçulmana. A autora explica que a submissão
feminina em decorrência das leis islâmicas estão, na realidade, ligadas a uma tradução dos
escritos sagrados (realizada pelos homens) que possuem o objetivo de manutenção do
patriarcado. No artigo, Hajjami utiliza diversas passagens do Alcorão para justificar como as
questões de poligamia, o divórcio e a herança são descritas no livro de Maomé e como elas são,
de forma deturpada, transformadas em lei que condiciona à mulher a submissão.

20. HOLLANDA, Heloísa Buarque (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como


crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

Esta obra traz uma série de traduções de artigos escritos por importantes críticas feministas
norte-americanas e europeias, que fundaram as bases da crítica literária feminista mundial e,
consequentemente, também moldaram os estudos de gênero no Brasil. Nela, estão inseridos
artigos de Elaine Showalter, Toril Moi, Ria Lemaire, Teresa de Lauretis, entre outras estudiosas
feministas, que contribuem imensamente para a pesquisa aqui empreendida. O termo “território
selvagem”, o qual está presente na dissertação, refere-se ao conceito criado por Elaine
Showalter no artigo que abre a obra – A crítica feminista no território selvagem – sobre a
literatura como um território selvagem dominado pela figura masculina.

21. HOLLANDA, Heloísa Buarque de (Org.). Pensamento feminista brasileiro: formação


e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.

Esta obra reúne contribuições seminais que emergiram entre os anos 1970 e 1990, e seus
reflexos ainda no começo do século XXI, e que possibilitaram a existência de um pensamento
feminista no Brasil, consolidado a partir do empenho e do trânsito dessas mulheres entre a
universidade, a militância e a política, abarcando textos como os de Constância Lima Duarte,
Heleith Saffioti, Lélia Gonzales, Rita Terezinha Schmidt e Sueli Carneiro.

22. HOLLANDA, Heloísa Buarque de (Org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas


decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.
O livro reúne trabalhos de 22 autoras que dimensionam a contribuição para o debate atual
do pensamento decolonial, apresentando pensadoras pioneiras, como a argentina María
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Lugones; a nigeriana Oyèrónké Oyěwùmí, que questiona os conceitos ocidentais de gênero a
partir da experiência iorubá; a dominicana Yuderkys Espinosa Miñoso, que investiga a
experiência histórica feminina na América Latina; a boliviana Julieta Paredes, que conjuga
ideias e ativismo em defesa do feminismo comunitário; e as brasileiras Luiza Bairros, que
enfatiza a expressão do feminismo negro, e Maria da Graça Costa, que aponta para novas
propostas, como o ecofeminismo.
23. KUMU, Umúsin Panlõn; KENHÍRI, Tolamãn. Antes o mundo não existia. São Paulo:
Livraria Cultura Editora, 1980.

Obra em que se narra o surgimento do mundo, contado por Firmiano Lana e seu filho Luiz
Lana, com a introdução da antropóloga Berta Ribeiro. Trata-se da história/cosmogonia da
etnia Dessana, as quais muitas histórias aparecem tanto no romance de Verenilde quanto no
romance de Regina Melo, e que trarão esclarecimentos para realizarmos uma análise
comparativa.

24. LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. 1. ed. São
Paulo: Ática, 2011.
Obra fundamental para se compreender a história e desenvolvimento da leitura no Brasil.
As autoras realizam uma análise minuciosa a respeito da relação narrador-leitor na literatura
brasileira, do livro enquanto objeto/mercadoria, além de traçarem uma abordagem social da
leitura, quando, por exemplo, exploram no capítulo “A leitora no banco dos réus” a respeito do
papel e da importância da leitora mulher para a construção de uma identidade de leitores/as no
país. Ao que cabe a este trabalho, será dada ênfase ao capítulo citado.

25. LEAL, Virgínia M. V. As escritoras contemporâneas e o campo literário brasileiro:


uma relação de gênero. Tese de Doutorado. Departamento de Teoria Literária e
Literaturas. Universidade de Brasília, 2008.

Esta é uma tese de doutorado que tem como objetivo analisar a literatura de autoria
feminina contemporânea brasileira sob uma perspectiva de gênero. A autora seleciona cinco
escritoras que possuem uma produção literária considerável e de prestígio, publicadas em
editoras de grande alcance (Companhia das Letras, Record e Rocco), para que se possa traçar
o perfil da escritora brasileira contemporânea: Elvira Vigna, Cíntia Moscovich, Stella Florence,
Lívia Garcia-Roza e Adriana Lisboa. O estudo procura analisar de que forma as obras
apresentam questões ligadas à condição feminina, à representação de gênero, ao feminismo etc.,
de modo a perceber se estas apresentam ou não uma construção de pensamento crítico
feminista. Esta pesquisa se apresenta como um estudo similar ao que pretendo realizar na minha
dissertação, salvo alguns aspectos, e contribui de forma contundente para a elaboração de minha
pesquisa.

26. PÁSCOA, Luciane. As artes plásticas no Amazonas: o Clube da Madrugada. Manaus:


Editora Valer, 2011.

Trata-se de um livro de arte sobre as artes plásticas desenvolvidas pelos membros do Clube
da Madrugada, movimento de vanguarda surgido em Manaus em 1954. Embora minha pesquisa
de mestrado não esteja voltada às artes no Amazonas, a autora apresenta um panorama do
contexto histórico e social de formação do grupo literário na cidade, assim como o desejo do
grupo de romper com estéticas artísticas estabelecidas – desejo imergido após a Semana de Arte
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Moderna, em 1922. Essa contextualização do Clube da Madrugada é importante para que, na
minha pesquisa, eu possa analisar o campo das letras e artes no Amazonas e, assim, traçar a
minha interpretação a respeito das relações de gênero entre eles.

27. PAULA, Jolene da Silva. A poesia no Amazonas – a autoria feminina: voz e


silenciamento. (Dissertação). Universidade Federal do Amazonas, 2016.

Trata-se de uma dissertação sobre a poesia de autoria feminina no Amazonas, na qual a


autora procura traçar, linearmente, as principais poetas do estado e analisa as suas obras,
demostrando o valor, a importância e o silenciamento imposto a essas vozes femininas. Assim,
ela apresenta as principais poetas do início do século XX – Violeta Branca e Ílcia Cardoso –,
passando pelas escritoras a partir da década de 60, tendo como expoente Astrid Cabral, até a
produção dos anos 80, protagonizada pelas poetas Regina Melo e Ana Célia Ossame, até chegar
em algumas produções contemporâneas.

28. PEREIRA, Verenilde Santos. Uma etno-experiência na comunicação: Era uma vez...
Rosa Maria. 1995. Dissertação (Mestrado). Universidade de Brasília, Faculdade de
Comunicação. 180 p.

Trata-se da dissertação de mestrado em Comunicação (UnB) de Verenilde Santos Pereira, a


qual obteve como produto o romance Um rio sem fim, que procuramos analisar nesta pesquisa.
A princípio, a autora confessa, tinha-se como objetivo analisar a representação dos indígenas
Waimini Atroari pela imprensa, dos anos 60 aos 90. No entanto, Verenilde percebe como o
discurso científico não seria capaz de compreender a profundidade e a sensibilidade daqueles
povos, transformando a sua dissertação, assim, em um discurso poético.

29. PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Tradução de Viviane


Ribeiro. Bauru, SP: EDUSC, 2005.

Obra da historiadora francesa Michelle Perrot que discute os silêncios impostos às


mulheres devido a uma concepção de mundo masculina. A autora analisa, por exemplo, a
dificuldade de acesso aos arquivos sobre mulheres, sejam estes públicos ou privados. No
primeiro caso, existiu, por muito tempo, uma desimportância de inserir a mulher nos registros
oficiais, já que estava confinada sempre ao espaço privado, aos cuidados da casa e da família.
Assim, como a política, a história e todo o meio público eram dominados pelo homem e pela
forma em que este via o mundo, pouco ou quase nenhum espaço foi dado à mulher nesses
registros. Por outro lado, os documentos de cunho pessoal, privado, como cartas, anotações da
casa e cadernos pessoais (caros à realidade feminina, sobretudo durante o século XIX), muitos
foram destruídos pelas próprias mulheres, um hábito, segundo a historiadora, até mesmo
comum, devido ao pudor ou uma autocensura inconsciente das mulheres, fruto de toda uma
dominação masculina sobre a sociedade.

30. PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. Tradução de Ângela M. S. Corrêa.
São Paulo: Contexto, 2007.

Esta é uma obra de Perrot que nasceu de um programa de rádio francês que tinha como
objetivo apresentar o resultado de mais de 30 anos enquanto pesquisadora da história das

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mulheres. A obra é dividida em cinco partes que mostram o processo de evolução e visibilidade
das mulheres como sujeitos atuantes na sociedade, desde a dificuldade de se encontrar arquivos
sobre mulheres (visto que, por muito tempo, foram excluídas da história oficial, contada pelos
homens) até as conquistas destas pelo Movimento Feminista.

31. SANTOS, Eunice Ferreira dos. Eneida de Moraes: militância e memória. 2004. Tese
(Doutorado em Literatura Comparada), Belo Horizonte, Faculdade de Letras,
Universidade Federal de Minas Gerais.

Esta é uma tese biografia-intelectual de Eneida de Moraes, uma escritora, militante e


intelectual paraense, escrita por Eunice Santos. No estudo, a autora realiza um extenso
levantamento da vida da intelectual e a sua importância para a construção de um pensamento
feminista brasileiro. É de grande importância para esta pesquisa, pois no romance E Deus
chorou sobre o rio, acreditamos que a personagem Eneida, uma mulher forte que comanda uma
manifestação política, fora inspirada na intelectual paraense.

32. SPACKS, Patricia M. La imaginacion femenina. Bogotá: Editorial Debate; Editorial


Pluma, 1980.
Trata-se de um da estudiosa literária norte-americana Patricia Meyer Spacks. É uma pesquisa
sobre várias escritoras com o objetivo de identificar como a voz criativa de uma mulher difere
da de um homem. Ao longo do livro, Spacks examina a prosa de cinquenta mulheres, desde
Virginia Woolf e Simone de Beauvoir aos progenitores de entretenimentos mais populares
como Betty MacDonald. Spacks explora como as mulheres equilibram poder e passividade, as
maneiras como exercem agência por meio de seu papel como cuidadoras domésticas e como
abraçam a escrita para compensar a falta de controle em outros aspectos de suas vidas.

33. SHOWALTER, Elaine. “Feminist Criticism in the Wilderness”. Critical Inquiry, v. 8,


n. 2, Writing and Sexual Difference (Winter, 1981), The University of Chicago Press,
p. 179-205.
Trata-se de um artigo fundamental da Crítica literária feminista, traduzido na coletânea
anteriormente mencionada de Heloísa Buarque de Hollanda (1994). No artigo, Elaine Showalter
discorre sobre o início e “evolução” das análises da crítica feminista na literatura, desde as
vertentes linguísticas e psicanalíticas, até chegar na abordagem cultural, a qual defende ser o
método mais adequado e completo para se estudar a literatura do ponto de vista feminino.

34. VIANA, Maria José Motta. Do sótão à vitrine: memória de mulheres. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 1995.
Valendo-se de elementos de teoria memorialística, da antropologia e da psicanálise, Maria
José Motta Viana procura fazer entender e sentir a realidade da mulher enquanto produto e
produtor de determinada cultura. São analisados livros de memórias de mulheres publicados
nos diversos estados brasileiros, desde o século passado até os nossos dias. Ao final, tem-se
uma bibliografia comentada de mais de oitenta títulos, que acompanha a trajetória de uma
parcela significativa do que as mulheres do Brasil têm escrito.

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35. WOOLF, Virgínia. Um teto todo seu. 1. ed. Tradução de Bia Nunes de Sousa. São Paulo:
Tordesilhas, 2014.
Esta obra é resultado de duas palestras proferidas por Virgínia Woolf em universidades
inglesas para mulheres, nas quais fora solicitado à autora que falasse sobre o tema “mulheres e
ficção”. Neste longo ensaio, Virgínia Woolf discorre a respeito das condições que as mulheres
necessitam para escreverem literatura, sendo seu principal argumento: espaço e independência
financeira (por isso o título da obra) – condições que lhes são negadas ao longo da História,
culminando no pouco preparo e protagonismo das mulheres quanto à escrita literária.
36. WOOLF, Virgínia. A arte do romance. Trad. Denise Bottmann. Porto Alegre, RS:
L&PM Pocket, 2018.

Uma coletânea de nove ensaios de Virgínia Woolf sobre o gênero romance. A autora versa
sobre a escrita ficcional, o prazer da leitura, o papel da mulher na literatura. Destaca-se, para
meu trabalho, o artigo “As mulheres e a literatura”.

37. WOOLF, Virgínia. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Porto Alegre,
RS: L&PM Pocket, 2019.
Este livro reúne sete ensaios de Virginia Woolf nos quais ela questiona a visão tradicional
da mulher como “anjo do lar” e expõe as dificuldades da inserção feminina no mundo
profissional e intelectual da época.

38. YOUNG, Iris Marion. Gender as Seriality: Thinking about Women as a Social
Collective. Journal of Women in Cultural and Society. University of Chicago, 1994,
vol. 19, n. 3, p. 713-738.

A partir da ideia de “serialidade” proposta por Sartre em Crítica da Razão Dialética, Iris
Marion Young realizar uma análise do termo “mulher” como uma serialidade, um coletivo
social. Essa concepção é importante para se pensar a minha pesquisa, pois analiso três obras
que falam de e foram produzidas em contextos sociais diferentes – 1984, 1998, 2004. Ao
observar as romancistas do meu corpus, apesar de não terem feito parte de um grupo social
específico, se constituem como uma serialidade “mulher”, inconscientemente.

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