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Movimentos messiânicos: As revoltas populares no campo

Movimentos Messiânicos no Brasil foi o nome dado às revoltas populares no


campo que aconteceram no Brasil no final do século XIX. O período está entre a
república oligárquica da política do café com leite. As revoltas marcaram grandes
mudanças no cenário político e social do país na época e até hoje é lembrada.

O contexto dos movimentos messiânicos no Brasil

Neste período, o projeto liberal acaba tendo maior proeminência, apesar de


traços positivistas (positivismo: inspirado no ideal de progresso contínuo da
humanidade) poderem ser identificados tanto na bandeira como na primeira constituição
republicana de 1891. Em suma, esse período que vai de 1889 até 1930 é conhecido
como República Velha ou República Oligárquica. Este nome tem relação com a
preocupação política de manter os privilégios das elites agrárias, principalmente aquelas
ligadas à economia cafeeira e localizadas no sudeste no Brasil.
Dessa maneira, podemos dizer que não havia uma preocupação com instituições
públicas voltadas para a melhoria de vida da população. O voto era restrito aos homens
alfabetizados e não era secreto, o que possibilitava a prática do voto de cabresto, onde
jagunços acompanhavam os eleitores para favorecer seus patrões.
Tal cenário provocou uma série de fenômenos, como a Revolta da Vacina, a
Revolta da Chibata e os Movimentos Messiânicos. A seguir falaremos um pouco sobre
os três movimentos messiânicos mais conhecidos deste período que, para além do
caráter religioso, estavam profundamente associados aos problemas sociais da
República Velha.

Movimentos messiânicos: Canudos

Fotografia do corpo de Antônio Conselheiro, em 1897. A autoria da fotografia é


atribuída à Flávio de Barros.
Ainda no século XIX, formou-se no interior do norte da Bahia uma cidade, cujos
princípios e forma de organização, iam contra a lógica liberal vigente no país. A cidade
foi fundada em 1893 no Arraial de Canudos por Antônio Conselheiro, um peregrino que
vagava pelo sertão nordestino.
Conselheiro já havia sido comerciante, professor e caixeiro-viajante, mas só
assumiu a vida de andarilho após ser liberado pela justiça por falta de provas em relação
à acusação de ter matado a própria mulher e a própria mãe. Reunindo seguidores por
onde passava, Conselheiro construiu uma igreja na antiga fazenda Belo Monte, dando
início ao povoado.

O início e fim de Canudos


Em Canudos vigorava a divisão de bens e tarefas, incluindo a terra. Conselheiro
era crítico da República, mas não tinha como objetivo restaurar a monarquia no país,
como depois o governo o acusou. Dessa maneira, em 1896 ocorreram conflitos entre os
sertanejos, também chamados de jagunços, e forças policiais da Bahia.
Após a resistência dos moradores, o exército foi convocado. Na imprensa foi
promovida uma grande campanha difamatória contra o povoado, para assim justificar a
intervenção militar. É importante ressaltar que o presidente nessa época era Prudente de
Moraes que não era um militar como Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
Por conseguinte, em março de 1897 é enviada uma expedição com 6.500
soldados para destruir canudos. O exército usa a tática de cerco, e após instalar uma
metralhadora no alto de uma colina, sitia a cidade, que é alvejada com tiros e disparos
de canhões.
Ao final do conflito, o que sobrou da população, um bando de crianças,
mulheres e idosos famintos, acabou se rendendo. Ainda assim, muitos foram degolados
pelos militares. Tamanha barbárie impactou o jornalista Euclides da Cunha, que após o
conflito publicou o livro Os Sertões, baseado em sua experiência como correspondente.

Movimentos messiânicos: Contestado

Grupo de rebeldes do reduto Antônio Tavares aprisionado pela Coluna de Leste,


destacando-se a presença de mulheres e crianças. Fonte: Arquivo Histórico do Exército.
Já na segunda década do século XX, no sul do Brasil, inicia-se em outubro de
1912 um conflito que fez parte dos movimentos messiânicos na época. Localizado na
divisa entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, a região das agitações é conhecida
como Contestado. O nome foi atribuído em virtude da disputa jurídica entre as
autoridades dos dois estados devido a produção madeireira e de erva-mate.
Porém, o início das tensões residia na expropriação da terra de pequenos
posseiros conhecidos como caboclos ou sertanejos. A construção da Ferrovia Rio São
Paulo pela empresa Brazil Railway, ligada a Percival Farquhar, um conhecido
empresário estadunidense, atenuou os problemas envolvendo a terra. O governo teria
concedido a empresa o direito de exploração de até 15km de cada margem da ferrovia.
Acontece que nessa área morava uma grande população de posseiros, que
acabaram expulsos para dar lugar à extração madeireira e para a colonização da terra
por parte de imigrantes europeus. Os caboclos, por sua vez, compunham uma população
muito religiosa e eram devotos de monges que circularam pela região no passado, que
também pregavam princípios de solidariedade e coletividade.
O último desses monges, um homem chamado José Maria, reuniu seguidores
assim como Antônio Conselheiro fez em Canudos, mas diferentemente do nordestino,
ele acabou morrendo no primeiro conflito.

A Guerra do Contestado
A partir da morte de José Maria, os caboclos passaram a formar redutos que
consistiam em cidades santas. Ali, seus novos líderes afirmavam ser guiados por
mensagens espirituais dos falecidos monges. Inicialmente as forças policiais de Santa
Catarina e do Paraná junto com a força de segurança das empresas que atuavam na
região e dos jagunços dos coronéis locais, combateram os caboclos. Esses mantiveram
postura defensiva até 1914, quando começaram a contra-atacar.
Sendo assim, duas expedições do exército foram convocadas para dar fim ao
conflito. A última delas, em setembro de 1914 foi comandada pelo General Setembrino
de Carvalho, que organizou um cerco controlando o fluxo de pessoas e restringindo a
entrada de suprimentos. Com o passar do tempo os redutos passaram a se render, o que
também não evitou a degolação de muitos sertanejos, assim como aconteceu em
Canudos.

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