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A Teologia da Libertação
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Fevereiro | 2007
A Teologia da Libertação.
Temos recebido muitas perguntas sobre o que é a Teologia da Libertação (TL) de cunho marxista;
e isto é muito bem explicado pelo Papa Bento XVI em muitos de seus artigos e livros.
Vamos resumir em 10 itens o que o Papa Bento XVI explica sobre os erros da Teologia da
Libertação. As frases entre aspas são do Papa:
3. O homem passa a ser o salvador do próprio homem, anula-se a Redenção que Cristo
conquistou com sua Cruz. Aqui está o grande perigo de uma TL de fundo marxista.
Toda espiritualidade católica cai por terra e perdem a sua importância os sacramentos,
mandamentos, etc.
10. “A verdade não deve ser compreendida em sentido metafísico; trata-se de “idea-
lismo”. A verdade realiza-se na história e na práxis. A ação é a verdade. A única coisa
decisiva é a práxis. A práxis torna-se, assim, a única e verdadeira ortodoxia”.
O marxismo foi muitas vezes condenado pelos papas. Como pode, então, esta ideologia ser a
base de uma teologia? O marxismo prega a luta de classes, o materialismo e ateísmo, é inimigo da
religião e da liberdade religiosa, elimina a propriedade privada, impõe a estatização das empresas
e a coletivização das terras, impõe a ditadura de partido único do proletariado, o fim da liberdade
de imprensa, de ir e vir, etc.. A aplicação dele pelo comunismo gerou, segundo “O livro negro do
comunismo” (Stephan Courtois e outros), 100 milhões de mortos.
“Como núcleo e centro da sua Boa Nova, Cristo anuncia a salvação, esse grande dom de Deus
que é libertação de tudo aquilo que oprime o homem, e que é libertação sobretudo do pecado e
do maligno, na alegria de conhecer a Deus e de ser por ele conhecido, de o ver e de se entregar
a ele. Tudo isto começa durante a vida do mesmo Cristo e é definitivamente alcançado pela sua
morte e ressurreição; mas deve ser prosseguido, pacientemente, no decorrer da história, para vir
a ser plenamente realizado no dia da última vinda de Cristo, que ninguém, a não ser o Pai, sabe
quando se verificará” (EN 9).
Por outro lado, a Igreja ensina desde Leão XIII a “Doutrina Social da Igreja”, que não é aceita
pela TL como uma opção eficaz para realizar a justiça social e a paz no mundo. A Santa Sé publicou
há mais de dez anos o “Compêndio de Doutrina Social da Igreja”, com os ensinamentos de cerca de
dez Encíclicas papais sobre o tema. Quem o leu? Quem o aplicou?
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Outro ponto: nenhuma instituição na terra fez e faz tanta caridade como a Igreja Católica, mas
nunca precisou usar de uma ideologia estranha ao Evangelho para isso. Basta examinar a vida de
São Francisco, São João Bosco, Santa Teresa de Calcutá (que rejeitava a TL!), São José de Anchieta,
Santo Frei Galvão, Santo Padre Pio, São Vicente de Paulo, etc. . . Nunca usaram nada parecido com
a ideologia marxista, apenas a caridade evangélica.
Referências bibliográficas:
– “A Fé em crise?” – Editora Pedagógica e universitária Ltda, São Paulo, 1985, pg. 131-148.
Referências:
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O que é a Teologia da Libertação?
Um grupo de teólogos desta linha acaba de publicar um livro contestando a ação do Vaticano e
do Papa. São eles:
Muitos perguntam, o que é afinal, esta teologia da libertação? Vou responder esta pergunta
com a resposta que deu a ela a autoridade da Igreja Católica; o Cardeal Joseph Ratzinguer, escolhido
pelo Papa João Paulo II, em 1981, para ser o Prefeito da Sagrada Congregação da Doutrina da Fé;
aquela que está encarregada de cuidar da “sã doutrina” (1 Timóteo 1,10; 4,6; Tito 1,9; 2,1;2,7;
2 Timóteo 4,3), que com tanta ênfase São Paulo recomendava a Timóteo e a Tito. Hoje o então
Cardeal Ratzinger é o Papa Bento XVI.
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do teólogo protestante Rudolf Bultmann, e do marxismo, usando “a seu modo”, uma lin-
guagem teológica e até dogmática, pertencente ao patrimônio da igreja, revestindo-se até
de uma certa mística, para disfarçar os seus erros”.
“Essa teologia não pretende constituir-se como um novo tratado teológico ao lado dos
outros já existentes; não pretende, por exemplo, elaborar novos aspectos da ética social da
Igreja. Ela se concebe, antes, como uma nova hermenêutica da fé cristã, quer dizer, como
nova forma de compreensão do Cristianismo na sua totalidade. Por isso mesmo muda todas
as formas da vida eclesial; a constituição eclesiástica, a Liturgia, a catequese, as opções
morais. . . ”
A libertação, para a teologia da libertação, é conquistada pela via política, e não pela Redenção
de Jesus, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1,29). Jesus veio para “salvar o
seu povo dos seus pecados” (Mateus 1,21), e disse a Pilatos que “o seu Reino não é deste mundo”. O
pecado, para a teologia da libertação, se resume quase que só no “pecado social”, mas este, não será
“arrancado” com a conversão e com os Sacramentos da Igreja, mas com a “libertação” do povo, pela
luta política. Daí o fato de haver um laxismo moral e espiritual em muitos adeptos dessa teologia.
Muitos não valorizam a celebração da Missa, a não ser como uma “celebração de mobilização política”
do povo oprimido. Não se valoriza suficientemente a oração, a Confissão, a Eucaristia, o santo Rosário,
a adoração ao Santíssimo Sacramento, e a todas as práticas de espiritualidade tradicionais, que são,
então, consideradas superadas e até alienantes.
Conheço várias jovens sacerdotes que se formaram em seminários fortemente influenciados pela
teologia da libertação, e que hoje deixaram o sacerdócio, ficaram esvaziados espiritualmente. . . Noto
que nem se realizaram no campo social e nem no campo religioso.
O então Cardeal Ratzinger mostrou que é difícil enfrentar esse perigo, pois, como afirma:
O então Cardeal mostrou a inversão que se faz no papel da comunidade, povo e história, para a
vida da Igreja:
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“A comunidade ‘interpreta’, com a sua ‘experiência’ os acontecimentos e encontra assim
a sua práxis”.
Em seguida, o então Cardeal mostra a deturpação também naquilo que é essencial: o Reino
de Deus.
“Esse conceito encontra-se também no centro das teologias da libertação, lido porém
no contexto da hermenêutica marxista. Segundo Jon Sobrino, o reino não deve ser compre-
endido espiritualmente, nem universalmente, no sentido de uma reserva escatologicamente
abstrata. Deve ser compreendido de forma partidária e voltado para a práxis”.
Aqui se entende porque os adeptos da TL militam nos partidos políticos que visam a “libertação
do povo”.
Os adeptos da teologia da libertação têm a enganosa mania de pensar que quem não aceita
esta teologia não trabalha pelos pobres e oprimidos e não se preocupa com eles; se acham os únicos
defensores dos excluídos; é um grande erro. A Igreja em seus 2000 anos de vida sempre socorreu os
desvalidos e ainda o faz, mas nunca precisou lançar mão de ideologias estranhas para isso; sempre agiu
pelo puro amor a Jesus Cristo que sofre no doente, no preso, no faminto, etc. A Igreja não precisa que
novos teólogos a ensinem a fazer caridade; ela a faz desde os Apóstolos, ela é “perita em humanidade”,
como disse Paulo VI.
Hoje 25% das instituições que tratam dos aidéticos são da Igreja; em toda a História da Igreja
os santos e santas viveram a verdadeira caridade; só para citar alguns: Santa Isabel da Hungria, S.
Vicente de Paulo, S. Francisco de Assis, S. Camilo de Lelis, S. João Bosco, Madre Teresa de Calcutá,
Ira. Dulce, e milhares de outros que nunca precisaram reinterpretar o Evangelho e politizar a fé com
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métodos marxistas de luta de classes, invasão de propriedades alheias fora, da lei, etc., para promover
os pobres. São os verdadeiros bons samaritanos do Evangelho.
O Papa João Paulo II ao menos por duas vezes, falando aos bispos do Brasil, condenou as
invasões de terras:
1 – Ao segundo grupo de Bispos do Brasil, da Regional Sul l da CNBB, em visita “ad limina
Apostolorum” de 13 a 28 de Março de 1996, o Papa disse:
“. . . mas recordo, igualmente, as palavras do meu predecessor Leão XIII quando ensina
que “nem a justiça, nem o bem comum consentem danificar alguém ou invadir a sua
propriedade sob nenhum pretexto” (RN, 55). A Igreja não pode estimular, inspirar ou
apoiar as iniciativas ou movimentos de ocupação de terras, quer por invasões pelo uso da
força, quer pela penetração sorrateira das propriedades agrícolas.”
“Para alcançar a justiça social se requer muito mais do que a simples aplicação de
esquemas ideológicos originados pela luta de classes como, por exemplo, através da invasão
de terras – já reprovada na minha viagem pastoral em 1991 – e de edifícios públicos e
privados, ou por não citar outros, a adoção de medidas técnicas extremas, que podem ter
consequências bem mais graves do que a injustiça do que pretendiam resolver”.
Não podemos nos fazer de surdos a essas palavras. Concluo com as sábias palavras de D. Estevão:
“O cristão não pode ser de forma alguma, insensível à miséria dos povos do Terceiro
Mundo. Todavia para acudir cristãmente a tal situação, não lhe é necessário adotar um
sistema de pensamento que é anticristão como a Teologia da Libertação; existe a doutrina
social da Igreja, desenvolvida pelos Papas desde Leão XIII até João Paulo II de maneira
cada vez mais incisiva e penetrante. Se fosse posta em prática, eliminaria graves males de
que sofrem os homens, sem disseminar o ódio e a luta de classes”.
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Eu vos explico o que é a Teologia da Libertação.
Resumo: O Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa emérito Bento XVI, quando Prefeito
da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, escreveu uma exposição sobre a Teologia
da Libertação em sua forma extremada, em 18 de março de 1984. Partindo das respectivas
premissas e realçando os conceitos característicos do sistema, o autor mostra que a Teologia
da Libertação não trata apenas de desenvolver a ética social cristã em vista da situação
sócio-econômica da América Latina, mas revolve todas as concepções do Cristianismo:
doutrina da fé, constituição da Igreja, Liturgia, Catequese, opções morais, etc. É de
crer que “a gravidade da Teologia da Libertação não seja avaliada de modo suficiente;
não entra em nenhum esquema de heresia até hoje existente”; é a subversão radical do
Cristianismo, que torna urgente “o problema do que se possa e se deva fazer frente a ela”.
É importante que o público esteja consciente de que a Teologia da Libertação não é a
extensão das promessas do Cristianismo aos problemas morais suscitados pelas condições
sócio-econômicas da América Latina, mas é uma nova versão do racionalismo de Rudolf
Bultmann e do marxismo, que utiliza a linguagem dogmática e ascética do patrimônio
antigo da fé e se reveste de aspectos de mística cristã. O Cardeal Joseph Ratzinger fez
uma explanação do que é a Teologia da Libertação.
Para esclarecer a minha tarefa e a minha intenção, com relação ao tema, parecem-me necessárias
algumas observações preliminares:
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a) Essa teologia não pretende constituir-se como um novo tratado teológico ao lado dos outros
já existentes; não pretende, por exemplo, elaborar novos aspectos da ética social da Igreja. Ela se con-
cebe, antes, como uma nova hermenêutica da fé cristã, quer dizer, como nova forma de compreensão
e de realização do cristianismo na sua totalidade. Por isto mesmo, muda todas as formas da vida
eclesial: a constituição eclesiástica, a liturgia, a catequese, as opções morais;
b) A teologia da libertação tem certamente o seu centro de gravidade na América Latina, mas não
é, de modo algum, fenômeno exclusivamente latino-americano. Não se pode pensá-la sem a influência
determinante de teólogos europeus e também norte-americanos. Além do mais, existe também na
Índia, no Sri Lanka, nas Filipinas, em Taiwan, na África – embora nesta última esteja em primeiro
plano a busca de uma “teologia africana”. A união dos teólogos do Terceiro Mundo é fortemente
caracterizada pela atenção prestada aos temas da teologia da libertação;
a) Surgiu a opinião de que a tradição teológica existente até então não era mais aceitável
e, por conseguinte, se deviam procurar, o partir da Escritura e dos sinais dos tempos,
orientações teológicas e espirituais totalmente novas;
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temente em uma fé ingênua nas ciências; uma fé que acolheu as ciências humanas como um
novo evangelho, sem querer, reconhecer os seus limites e problemas próprios. A psicologia,
a sociologia e a interpretação marxista da história foram considerados como cientificamente
seguras e, a seguir, como instâncias não mais contestáveis do pensamento cristão;
2. A situação teológica assim transformada coincidiu com uma situação da historia espiritual
também ela modificada. Ao final da fase de reconstrução após a segunda guerra mundial, fase que
coincidiu pouco mais ou menos com o término do Concilio, produziu-se no mundo ocidental um sensível
vazio de significado, ao qual a filosofia existencialista ainda em voga não estava em condições de dar
alguma resposta. Nesta situação, as diferentes formas do neo-marxismo transformaram-se em um
impulso moral e, ao mesmo tempo, em uma promessa de significado que parecia quase irresistível à
juventude universal. O marxismo, com as acentuações religiosas de Bloch e as filosofias dotadas de
rigor científico de Adorno, Harkheimer, Habernas e Marcuse, ofereceram modelos de ação com os quais
alguns pensadores acreditavam poder responder ao desafio da miséria no mundo e, ao mesmo tempo,
poder atualizar o sentido correto da mensagem bíblica.
Esta resposta se apresenta totalmente diversa nas formas particulares de teologia da libertação,
teologia da evolução, teologia política, etc. Não pode, pois, ser apresentada globalmente, Existem,
no entanto, alguns conceitos fundamentais que se repetem continuamente nas diferentes variações e
exprimem comuns intenções de fundo. Antes de passar aos conceitos fundamentais do conteúdo, é
necessário fazer uma observação a cerca dos elementos estruturais do teologia da libertação. Paro tal,
podemos retomar o que já afirmamos acerca da situação teológica mudada após o Concilio. Como já
disse, leu-se a exegese de Bultmann e da sua escola como um enunciado da “ciência” sobre Jesus, ciência
que devia obviamente ser considerado como válida. O “Jesus histórico” de Bultmann, entretanto,
apresentava-se separado por um abismo (o próprio Bultmann fala de Graben, fosso) do Cristo da fé.
Segundo Bultmann, Jesus pertence aos pressupostos do Novo Testamento, permanecendo. porém,
encerrado no mundo do judaísmo. O resultado final dessa exegese consistiu em abalar a credibilidade
histórica dos Evangelhos: o Cristo da tradição eclesial e o Jesus histórico apresentado pela ciência
pertencem evidentemente a dois mundos diferentes. A figura de Jesus foi erradicada da sua colocação
na tradição por ação da ciência, considerada como instância suprema. Deste modo, por um lado, a
tradição pairava como algo de irreal no vazio, e, por outro, devia-se procurar para a figura de Jesus uma
nova interpretação e um novo significado. Bultmann, portanto, adquiriu importância não tanto pelas
suas afirmações positivas quanto pelo resultado negativo da sua crítica: o núcleo da fé, a cristologia,
permaneceu aberto a novas interpretações porque os seus enunciados originais tinham desaparecido,
na medida em que eram considerados historicamente insustentáveis. Ao mesmo tempo desautorizava-
se o magistério da Igreja, na medida em que o consideravam preso a uma teoria cientificamente
insustentável e, portanto, sem valor como instância cognoscitiva sobre Jesus. Os seus anunciados
podiam ser considerados somente como definições frustadas de uma posição cientificamente superada.
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Além disso, Bultmann foi importante para o desenvolvimento posterior de uma segunda palavra-
chave. Ele trouxe à moda o antigo conceito de hermenêutica, conferindo-lhe uma dinâmica nova. Na
palavra “hermenêutica” encontra expressão a ideia de que uma compreensão real dos textos históricos
não acontece através de uma mera interpretação histórica, mas toda interpretação histórica inclui
certas decisões preliminares. A hermenêutica tem a função de “atualizar”, em conexão com a determi-
nação de dado histórico. Nela, segundo o terminologia clássica, se trata de uma “fusão dos horizontes”
entre “então” [“naquele tempo”] e o “hoje”. Por conseguinte, ela suscita a pergunta: o que significa o
então (“naquele tempo”), nos dias de hoje? O próprio Bultmann respondeu a esta pergunta servindo-se
da filosofia de Heidegger e interpretou, deste modo, a Bíblia em sentido existencialista. Tal resposta,
hoje, não apresenta mais algum interesse. Neste sentido Bultmann foi superado pela exegese atual.
Mas permaneceu a separação entre a figura de Jesus da tradição clássica e a ideia de que se pode e se
deve transferir essa figura ao presente, através de uma nova hermenêutica.
A este ponto, surge o segundo elemento, já mencionado, da nossa situação: o novo clima filosófico
dos anos sessenta. A análise marxista da história e da sociedade foi considerada, nesse ínterim, a única
dotada de caráter “científico”, isto significa que o mundo é interpretado à luz do esquema da luta de
classes e que a única escolha possível é entre capitalismo e marxismo. Significa, além disso, que toda
a realidade é política e que deve ser justificada politicamente. O conceito bíblico do “pobre” oferece
o ponto de partida para a confusão entre a imagem bíblica da história e a dialética marxista; esse
conceito é interpretado com a ideia de proletariado em sentido marxista e justifica também o marxismo
como hermenêutica legítima para a compreensão da Bíblia. Ora, segundo essa compreensão, existem, e
só podem existir, duas opções; por isso, contradizer essa interpretação da Bíblia não é senão expressão
do esforço da classe dominante para conservar o próprio poder. Gutierrez afirma: “A luta de classes
é um dado de fato e a neutralidade acerca desse ponto é absolutamente impossível”. A partir daí,
torna-se impossível até a intervenção do magistério eclesiástico: no caso em que este se opusesse a tal
interpretação do Cristianismo demonstraria apenas estar ao lado dos ricos e dos dominadores e contra
os pobres e os sofredores, isto é, contra o próprio Jesus, e, na dialético da história, aliar-se-ia à parte
negativo.
Afinal, é “povo” quem participa da “luta de classes”; a “igreja popular” acontece em oposição
à Igreja hierárquica. Por fim, o conceito de “história” torna-se instância hermenêutica decisiva. A
opinião, considerada cientificamente segura e irrefutável, de que a Bíblia raciocine em termos exclusi-
vamente de história da salvação, e, portanto de maneira antimetafísica, permite a fusão do horizonte
bíblico com a ideia marxista da história que procede dialeticamente como autêntica portadora de
salvação. A história é a autêntica revelação e, portanto a verdadeira instância hermenêutica da inter-
pretação bíblica. Tal dialético é apoiado, algumas vezes, pela pneumatologia. Em todo caso, também
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esta última, no Magistério que insiste em verdades permanentes, vê uma instância inimiga do pro-
gresso, dado que pensa “metafisicamente” e assim contradiz a “história”. Pode-se dizer que o conceito
de história absorve o conceito de Deus e de revelação. A “historicidade” da Bíblia deve justificar o seu
papel absolutamente predominante e, portanto, deve legitimar, ao mesmo tempo, a passagem para a
filosofia materialista-marxista, na qual a história assumiu a função de Deus.
Com isto, chegamos aos conceitos fundamentais do conteúdo da nova interpretação do Cristi-
anismo. Uma vez que os contextos nos quais aparecem os diversos conceitos são diferentes, gostaria
de citar alguns deles, sem a pretensão de esquematizá-los. Comecemos pela nova interpretação da fé,
da esperança e da caridade. Com relação a fé, por exemplo, J. Sobrinho afirma: a experiência que
Jesus tem de Deus é radicalmente histórica. “A sua fé converte-se em fidelidade”. Por isso, Sobrinho
substitui fundamentalmente a fé pela “fidelidade à história” (fidelidad a la historia, 143-144). Jesus
é fiel à profunda convicção de que o mistério da vida do homem . . . é realmente o último . . . (144).
Aqui produz-se aquela fusão entre Deus e história que dá a Sobrinho a possibilidade de conservar para
Jesus a fórmula de Calcedônia, ainda que com um sentido completamente mudado; pode-se ver como
os critérios clássicos da ortodoxia não são aplicáveis à análise dessa teologia, Ignacio Ellacuria, na
capa do livro sobre este assunto, afirma: Sobrinho “diz de novo . . . que Jesus é Deus, acrescentando,
porém, imediatamente, que o Deus verdadeiro é somente aquele que se revela historicamente em Jesus
e nos pobres, que continuam a sua presença. Somente quem mantém unidas essas duas afirmações, é
ortodoxo. . . ”
A esperança é interpretada como “confiança no futuro” e como trabalho pelo futuro; com isso
elo é subordinado novamente ao predomínio da história das classes. “Amor” consiste na “opção pelos
pobres”, isto é, coincide com a opção pela luta de classes. Os teólogos da libertação sublinham com
força, diante do “falso universalismo”, a parcialidade e o cárater partidário da opção cristã; tomar
partido é, segundo eles, requisito fundamental de uma correta hermenêutica dos testemunhos bíblicos.
Na minha opinião, aqui se pode reconhecer muito claramente a mistura entre uma verdade fundamental
do Cristianismo e uma opção fundamental não cristã, que torna o conjunto tão sedutor: o sermão da
montanha é, na verdade, a escolha por parte de Deus a favor dos pobres. Mas a interpretação dos
pobres no sentido da dialética marxista da história e a interpretação da escolha partidária no sentido
da luta de classes é um salto “eis allo genos” (grego: para outro gênero), no qual as coisas contrárias
se apresentam como idênticas.
Mas justamente dessa forma deixou-se de trabalhar pelo homem de hoje e se começou a destruir
o presente, a favor de um futuro hipotético: assim produziu-se imediatamente o verdadeiro dualismo.
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são crucificados; estes constituem a maioria dos homens: todos aqueles milhões aos quais a injustiça
estrutural se impõe como uma lenta crucifixão (176 e seguintes). O crente, no entanto, participa
também do senhorio de Jesus sobre a história, através da edificação do reino, isto é, na luta pela justiça
e pela libertação integral, na transformação das estruturas injustas em estruturas mais humanas. Esse
senhorio sobre a história é exercitado ao se repetir o gesto de Deus que ressuscita Jesus, isto é, dando
novamente vida aos crucificados da história (181). O homem assumiu o gesto de Deus e aqui a
transformação total da mensagem bíblica se manifesta de maneiro quase trágica, se se pensa em como
essa tentativa de imitação de Deus se desenvolveu e se desenvolve ainda.
Gostaria de citar apenas alguns outros conceitos: o êxodo se transforma em uma imagem central
da história da salvação; o mistério pascal é entendido como um símbolo revolucionário e, portanto, a
Eucaristia é interpretada como uma festa de libertação no sentido de uma esperança político-messiânica
e da sua práxis. A palavra redenção é substituída geralmente por libertação, a qual, por sua vez, é
compreendida, no contexto da história e da luta de classes, como processo de libertação que avança; por
fim, é fundamental também a acentuação da práxis: a verdade não deve ser compreendida em sentido
metafísico; trata-se de “idealismo”. A verdade realiza-se na história e na práxis. A ação é a verdade.
Por conseguinte, também as ideias que se usam para ação, em última instância são intercambiáveis. A
única coisa decisiva é a práxis. A práxis torna-se, assim, a única e verdadeira ortodoxia. Desta forma,
justifica-se um enorme afastamento dos textos bíblicos: a crítica histórica liberta da interpretação
tradicional, que aparece como não científica. Com relação à tradição, atribui-se importância ao máximo
rigor científico na linha de Bultmann. Mas os conteúdos da Bíblia, determinados historicamente, não
podem, por sua vez, ser vinculantes de modo absoluto. O instrumento para a interpretação não
é, em última análise, a pesquisa histórica, mas, sim, a hermenêutica da história, experimentada na
comunidade, isto é, nos grupos políticos, sobretudo dado que a maior parte dos próprios conteúdos
bíblicos deve ser considerada como produto de tal hermenêutica comunitária.
Quando se tenta fazer um julgamento geral, deve-se dizer que, quando alguém procura com-
preender as opções fundamentais da teologia da libertação não pode negar que o conjunto contém
uma lógica quase incontestável. Com as premissas da critica bíblica e da hermenêutica fundada na
experiência, de um lado, e da análise marxista da história, de outro, conseguiu-se criar uma visão de
conjunto do cristianismo que parece responder plenamente tanto às exigências da ciência, quanto aos
desafios morais dos nossos tempos. E, portanto, impõe-se aos homens de modo imediato a tarefa de
fazer do Cristianismo um instrumento da transformação concreta do mundo, o que pareceria uni-lo a
todas as forças progressistas da nossa época. Pode-se, pois, compreender como esta nova interpretação
do Cristianismo atraia sempre mais teólogos, sacerdotes e religiosos, especialmente no contexto dos
problemas do terceiro mundo. Subtrair-se a ela deve necessariamente aparecer aos olhos deles como
uma evasão da realidade, como uma renúncia à razão e à moral. Porém, de outra parte, quando
se pensa o quanto seja radical a interpretação do Cristianismo que dela deriva, torna-se ainda mais
urgente o problema do que se possa e se deva fazer frente a ela.
2. Todos os valores e toda a realidade são considerados do ponto de vista político. Uma
teologia que não seja essencialmente política, é encarada como fator de conservação dos
apressares no poder.
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que estão diante do patrimônio da fé acrescido de algumas afirmações religiosas que não
podem ser perigosas.
5. O cristão não pode ser, de forma alguma, insensível à miséria dos povos do Terceiro
Mundo. Todavia, para acudir cristãmente a tal situação, não lhe é necessário adotar um
sistema de pensamento que é anticristão como a Teologia da Libertação. Existe a Doutrina
Social da Igreja, desenvolvida pelos Papas desde Leão XIII até João Paulo II de maneira
cada vez mais incisiva e penetrante. Se fosse posta em prática, eliminaria graves males de
que sofrem os homens, sem disseminar o ódio e a luta de classes.
Fonte:
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O Marxismo e a Teologia da Libertação.
A Igreja já havia dito que “Socialismo religioso, socialismo cristão, são termos contraditórios:
ninguém pode ao mesmo tempo ser bom católico e socialista verdadeiro”[1], mas isso não impediu
que religiosos em rebeldia plena ao Magistério afirmassem que “o Reino de Deus é concretamente o
socialismo”[2]. Genésio Boff disse, ao Jornal do Brasil, que o proposto pelos seus “não é Teologia
dentro do marxismo, mas marxismo (materialismo histórico) dentro da Teologia”.
Essa falta de caridade e fidelidade ao ensinado pela Igreja, que não condenou o socialismo por
motivos pequenos e mesquinhos, mas pela sua incongruência com a Revelação cristã, atingiu seu
ápice quando em 1968, religiosos, que já traziam de outrora suas heresias ideológicas, comungaram
e ratificaram atitudes terroristas e revolucionárias. Frei Betto, e seus comparsas, aliados a Carlos
Marighela, levantaram pontos ao longo da Rodovia Belém-Brasília para implementar uma guerrilha
rural, usando o Convento do Araguaia como o centro logístico. Nesse momento os dominicanos se
transformaram, Frei Ivo, virou Pedro, Frei Osvaldo, Sérgio ou Gaspar I, Frei Magno, Leonardo ou
Gaspar, Frei Beto, Vítor ou Ronaldo, tudo isso para que pudessem contactar Marighela e Joaquim
Câmara Ferreira, os cérebros do Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP), que depois virou
Ação Libertadora Nacional (ALN).
Esse grupo terrorista tinha como financiador o governo totalitário cubano. O presidente, Carlos
Marighela, fundou o AC/SP depois que foi expulso do PCB. Interessante que sua obra, Minimanual do
Guerrilheiro Urbano, transformou-se em norte de vários grupos fanáticos de esquerda, como Brigadas
Vermelhas, da Itália, e Baader-Meinhoff, da Alemanha. A ALN assaltou trens-pagadores (o roubo
de Santos-Jundiaí rendeu NCr$ 108 milhões), realizou seqüestros, como o do embaixador americano,
em conjunto com o MR-8 (do hoje ministro da Comunicação Social Franklin Martins e do deputado
Fernando Gabeira). Depois da morte de Marighela, em 1969 (por delação do Frei Fernando), a ALN
passou a ser liderada por Joaquim Câmara Ferreira, que viajou para Cuba com o fim de receber ordens
de Fidel Castro. Além desse extenso currículo, a ALN se envolveu em centenas de assassinatos, tanto
em ação solo, como em parceria com outros grupos terroristas; VAR-Palmares (da ministra Dilma
Rousseff), PCBR, MOLIPO, Tendência Leninista (esses dois últimos vindos da própria ALN). Tudo
isso com a participação, ou no mínimo conhecimento, de religiosos dominicanos.
Os terroristas não lutavam por liberdade, mas sim pelo triunfo da revolução comunista no Brasil,
que bem sabemos é o inverso. No regime militar, ditatorial e podador de liberdade, o número de mortos
chegou a aproximadamente quatrocentos (lembrando que os guerrilheiros de esquerda cometeram cerca
de duzentos assassinatos), enquanto o histórico do marxismo mundial beirava os 100 milhões de mortos.
Alguns casos são bastante significativos; na China, 65 milhões morreram depois que Mao Tse Tung
iniciou o “Grande Salto para Frente”, um desastroso projeto. Na URSS, só de 1917 a 1953, o regime
bolchevique havia matado 20 milhões de pessoas, muitos deles religiosos da igreja ortodoxa russa que
cometiam o crime de professar o cristianismo. Na Coréia do Norte, que até hoje vive no jugo do regime
comunista, o número chegou a dois milhões de mortos. No Camboja, o Khmer Vermelho matou em
três anos 1/3 da população. Na América Latina, países como Cuba, Nicarágua e Peru, que estavam
intimamente ligados nas arquitetações comunistas, carregam cerca de 150 mil mortos. A ilha de Fidel
ainda tem cerca de 2,2 milhões de pessoas, 20% da população de Cuba, de refugiados, principalmente
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nos EUA. Outros números; África, 1,7 milhão, entre Etiópia, Angola e Moçambique, Afeganistão
1,5 milhão, Vietnã um milhão. Seriam, então, esses 100 milhões de mortos pelo comunismo menos
“importantes” do que os 500 assassinados pelo regime militar?
Aqui vale uma pequena recordação. Hoje, muitos comunistas se esforçam para desvencilhar o
marxismo do que eles chamam de “socialismo real”. Lutam contra a história para justificar a eterna
defesa de uma ideologia genocida. Primeiramente, na década de 70 – 80, nenhum dos “companheiros”
e “camaradas” se incomodava em receber financiamento da China, URSS, Cuba, Albânia etc. Essa
repentina aversão ao regime comunista só se sucedeu depois da queda do Muro de Berlim, quando o
mundo finalmente pode ver as desgraças cometidas pelas nações marxistas, mascaradas de um projeto
de igualdade material.
A Espanha, que não sofreu com um regime comunista, chorou seus mortos na guerra civil, quando
marxistas, financiados pela URSS, lutaram pela revolução em terras ibéricas. O historiador Hugh
Thomas disse que “Em tempo algum no curso da história da Europa, talvez mesmo de todo o mundo,
viu-se um ódio tão apaixonado à religião e suas obras.”[6] Tanto na Espanha quanto no Brasil, os
marxistas tinham apoio direto dos soviéticos, entretanto, na península, os religiosos eram martirizados
e perseguidos, enquanto aqui se convertiam à barbárie comunista. Só nos meses precedentes a guerra
160 Igrejas foram depredadas e 270 religiosos mortos. É célebre a foto onde o Cristo Redentor é
“fuzilado” por atiradores comunistas. Ademais, outros monumentos católicos foram profanados, como
a histórica imagem de Nossa Senhora de Granada, que tinha que ser chutada para o alistamento na
Frente Popular. Os processos de canonização são sempre grandiosos; 61 mártires de Cartagena, 47
Irmãos Maristas, 226 de Valença, 500 foram beatificados a pouco tempo por S.S Bento XVI.
Enquanto Frei Betto, e seus camaradas religiosos se levantavam contra os abusos cometidos
pelo regime militar, em Cuba 15 mil e 17 mil pessoas eram fuziladas. A consciência era limpa (ou
hipócrita?), não se incomodavam em receber dinheiro e treinamento de militantes castritas. A falta
de percepção era tão acentuada que se lançavam numa luta contra um inimigo que tinha apenas a
pretensão de combater os futuros fuzilamentos, genocídios, e massacres, que ocorreriam no possível
Brasil vermelho. URSS, China e Cuba eram os financiadores dos guerrilheiros que diziam lutar por
liberdade mais que eram sustentados por regimes genocidas. Tinham mais condescendência com
genocidas e blasfemadores do que com famílias cristãs de classe média. Estrebuchavam-se com marcha
de católicos rezando o terço, mas aplaudiam as frases de seus ídolos, não mais bezerros de ouro, mas
porcos de sangue; “Fuzilamentos, sim, temos fuzilado, fuzilamos e continuaremos fuzilando enquanto
seja necessário. Nossa luta é uma luta de morte”[7]. “Não sou Cristo nem filantropo; sou todo o
contrário de Cristo”[8].
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A Teologia da Libertação tem a sua presença no meio religioso reduzida, mesmo com seu esforço
atual de se reinventar, a maneira que encontrou para tentar manter a sua influência como outrora,
como na década de 80, quando era pujante. Ademais, ainda é ativa na política da América Latina.
O próprio PT surgiu nas sacristias das igrejas TL, e ainda hoje, Frei Betto, Boff, e companhia, são
articuladores da esquerda nacional e internacional. O frade dominicano tem relações amistosas com
Fidel Castro, seu mentor político, as FARC, tendo inclusive o comandante da narcoguerrilha, Raul
Reyes, informado que um dos seus maiores contatos junto ao governo do PT era o religioso católico,
e com diversos partidos marxistas do continente, sendo um dos membros principais do Foro de São
Paulo, dirigindo sua revista quadrimestral, “America Libre”. O dominicano, sem nenhuma timidez,
barbarizou ao dizer em pleno II Fórum Social Mundial, que “a sociedade do futuro mais livre, mais
igualitária e mais solidária se define em uma só palavra: socialismo. Pediu uma salva de palmas para
Karl Marx e disse que o homem novo deve ser filho do casamento de Ernesto Che Guevara e Santa
Teresa de Jesus”, como pontuou Carlos I. S. Azambuja.
A heresia do modernismo deu um grande impulso aos religiosos que já traziam o germe hetero-
doxo. A massificação foi tão profunda que conseguiram corromper toda a Ação Católica, passando essa
a ser um braço dos partidos marxistas. Nessa época, os grandes Bispos de destaque do país estavam
em consonância com tais abusos e profanações, fornecendo uma densa e forte proteção aos religiosos
que se comportavam diametralmente opostos ao ensinado pelo Magistério. Nesse contexto, é bastante
pertinente a figura do ex-frade Leonardo Boff, que diferente de Frei Betto, tinha uma bagagem cultural
e teológica de peso. Ele conseguiu estruturar a Teologia da Libertação, dando a ela um fundamento
sólido. Sua figura caiu para segundo plano quando ainda religioso se envolveu com uma mulher casada,
o que além de acarretar sua saída da vida franciscana, por vontade própria, lançou para um patamar
abaixo a sua importância na teologia americana. Mesmo com essa queda, suas sementes já haviam
sido plantadas em muitos setores da Igreja.
O Magistério, em toda a sua riqueza, é claro quanto a condenação ao socialismo, e a própria Teo-
logia da Libertação. Esta, além da metodologia marxista, cai em outras heresias, como o modernismo,
gnosticismo (ambas intrínsecas), mas também milenarismo, se analisarmos a perspectiva socialista de
redenção, montanismo, com a sua percepção eclesiológica deturpada, e outras heterodoxias. Essas
heresias podem gerar diversas outras, como por exemplo, o berenguarianismo. Além dessas heresias, a
Teologia da Libertação descamba para a defesa do aborto, homossexualismo etc. Nas palavras de Frei
Betto; “O Estado é laico e deve ter o direito de defender a vida das mulheres pobres não incriminando
mais o aborto, o que não significa ser a seu favor.” e “Embora eu seja contra o aborto, admito a sua
descriminalização em certos casos (. . . ) Se os homens parissem, o aborto seria um sacramento.”[9].
O religioso só esquece do ensinamento canônico da Igreja; “Cânone 1398 Quem procurar o aborto
seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae (automática)”, condenação que também
recai aos defensores do infanticídio.
A Teologia da Libertação conseguiu entrar nos seminários e noviciados e, com isso, se estabeleceu
justamente na fonte de formação. Aqui é válido um breve comentário. A chegada da TL nas escolas
católicas foi avassaladora. Talvez não haja uma correta atenção a esse problema, o que, de maneira
decisiva, impede a restauração de uma vivência católica genuína. O mais irônico, é que a Teologia da
Libertação percebeu antes de nós a relevância das escolas e, por isso, se esforçou ao máximo para entrar
e se fixar nesses centros estudantis. Hoje, boa parte dos colégios católicos está entregue a ensinamentos
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liberais e incongruentes com a doutrina da Igreja. O problema é tão complexo, que é até difícil dizer
se foram os religiosos que corromperam as famílias, ou as famílias que levaram para os colégios a
corrupção. Eu, particularmente, acredito na primeira opção. Os colégios católicos, literalmente, de
um dia para o outro, viram seus símbolos sendo guardados em depósitos, aulas de religião reduzidas
a um simplismo empobrecedor, Padres com currículos extensíssimos sendo retirados das salas de aula
unicamente por serem Padres.
Isso sem contar com uma das maiores antíteses com que já me deparei; colégios nominalmente
e tradicionalmente confessionais restringindo ensinamentos e vivências religiosas por defenderam o
pensamento laico. Esses religiosos tíbios geraram fiéis ímpios, e esses fiéis ímpios formaram famílias
liberais-agnósticas-ateias. É a bola de neve.
O apoio de grandes Bispos, no passado, também foi essencial para o fortalecimento dessa linha
herética. Essa condescendência episcopal, somada a maciça presença da TL nos seminários, deram
a ela uma estrutura sólida e grandiosa. A sua presença na Igreja brasileira foi tão enfática que
conseguiam abafar todas as condenações que vinham de Roma, continuando intocados e atuantes.
Com o surgimento do movimento carismático, e associações fiéis e ortodoxas (Legionários de Cristo,
Opus Dei, Comunhão e Libertação, Arautos do Evangelho etc), a Teologia da Libertação passou a
presenciar a sua degradação. Apenas forneciam aos seus seguidores um discurso político e centrado
na dialética marxista, tudo convergia para a “justiça social” e luta de classes; Maria a mulher da
caminhada, Jesus o revolucionário etc. Com isso, o empobrecimento espiritual dos homens, se tornou
inevitável. Esses novos movimentos resgataram o mais puro cristocentrismo.
A TL foi sendo assim minada, sua influência reduzida, entretanto, ainda se faz presente, se
esforçando para sobreviver em meio ao renascimento católico. Interessante é que essa sua tentativa de
manutenção a levou a se aproximar de setores da RCC, que no passado era alvo constante de críticas
e acusações por parte da alta cúpula da TL. Ela cavou a própria cova quando afastou a piedade e
religiosidade dos fiéis, com isso as suas fontes de vocações secaram. Em contrapartida, os novos mo-
vimentos, aversos a essa metodologia dialética e herética, passaram a ter seus seminários e noviciados
apinhados de jovens, derrubando de imediato a falaciosa crise de vocações, tão divulgada pela mídia
catolicofóbica. Dessa forma, uma nova geração de religiosos foi sendo formada, com fidelidade ao Ma-
gistério e ortodoxa no seguimento da doutrina. Serão os futuros padres, freis, monges, Bispos, aqueles
que irão execrar por um todo a Teologia da Libertação da Igreja, e coloca-la no seu devido lugar, nos
livros de história, como uma heresia ao lado de tantas outras.
Notas:
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Para citar este artigo:
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Verdades, erros e perigos na Teologia da Libertação (Parte 1)
Introdução.
Se a causa é justa, necessária e urgente, a estrada escolhida por muitos liberacionistas é perigosa
e errada e até pode ser fatal para a fé cristã e a humanidade: é o teor do recente documento da
Sagrada Congregação da Doutrina da Fé sobre a Teologia da Libertação ( 06/08/1984 ) .
Mas tomemos os fatos da história. Mesmo antes do cristianismo, o judaísmo professava verdades,
como o puro monoteísmo (um só Deus), o livro sagrado (a Bíblia do Antigo Testamento), a esperança
do Messias e da salvação. Mas apegou-se de tal forma ao Antigo Testamento e ao pacto de Deus com o
povo de Israel, que não reconheceu Cristo como o Messias e o Novo Testamento, a ser pregado a todos
os povos, como Aperfeiçoamento do Antigo Testamento. Nós católicos aceitamos o Antigo Testamento
e a escolha do povo de Israel, como fatos verdadeiros, mas não únicos, porque foram uma preparação
para a completa e mais perfeita revelação do Filho de Deus, feito homem.
É verdade, repetimos, que o Antigo Testamento é um livro sagrado, mas não é verdade que seja
o único livro sagrado. É verdade que Israel foi o povo de Deus mas, depois de Cristo, Salvador da
humanidade, não é mais o único povo de Deus.
É preciso portanto, não converter em verdade absoluta, aquilo que só o é parcialmente, porque
nenhuma realidade puramente humana realiza o absoluto, que é Deus.
Exemplifiquemos. Se digo: “Antônio é um bom estudante” afirmo algo que pode ser verdadeiro.
Quando, porém, avanço e digo: “Só Antônio é um bom estudante” faço uma restrição e excluo outros,
o que pode ser falso.
No caso: a opção pelos pobres e mesmo a opção preferencial pelos pobres é uma afirmação
verdadeira. Só a opção pelos pobres já é uma restrição ou exclusão.
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As ideias da “fé” em Lutero, de “predestinação” para Calvino, tomadas em sentido diverso
daquele da Bíblia, graças ao livre exame (releitura da Bíblia e restrição de conceito), fizeram nascer as
denominações protestantes dos luteranos e calvinistas, com seus diversos matizes, introduzidos pelos
seus sucessores.
O mesmo se diga das seitas. Tomam uma base bíblica, como “o batismo dos adultos” para os
batistas, o “sábado” para os adventistas do sétimo dia, “o juízo final” para os testemunhas de Jeová
e sobre essa base única constróem depois, até com uma regular lógica, os seus sistemas e crenças.
Mas todos eles não se julgam católicos. Ao contrário, se dizem anti-papistas, anti-católicos.
Não sucede o mesmo, porém, com os Teólogos da Libertação, mesmo daqueles que empregam os
mesmos métodos de subversão das verdades reveladas. Primam em ser católicos, dos mais genuínos,
e querem continuar a ser considerados católicos, filhos da verdadeira Igreja de Cristo.
Faz-se mister distinguir. Como os cogumelos, uns são bons e outros venenosos.
Quando defendem a libertação integral, colocando a raiz de todo o mal no pecado e exigem a
conversão do coração para a edificação da sociedade justa, empregando o legítimo pluralismo teológico
e baseando e na opção pelos pobres, mantém-se totalmente no campo católico. Pena quando, por
razão de moda, empregam ambíguas, que seria melhor evitar.
São perigosos os que, mesmo propugnando uma justa libertação sócio-política da miséria e
uma mais honrada pobreza, jogam toda a culpa do mal em algumas estruturas sociais e políticas
e descarregam suas iras sobre o negregando pecado social dos outros. Recorrem a estratagemas e
práticas ambíguas para justificar biblicamente sua tese que, na prática, para ser mais eficaz, descamba
na análise marxista, que envenena toda a pretensa libertação.
Para tanto, a Teologia da Libertação faz mais sociologia e política do que teologia. A semelhança
dos marxistas, erigem a economia como a norma suprema da humanidade e, assim, sacrificam na área
da economia a teologia, que se despoja as sua veste espiritual para vestir o macacão proletário. Deve
lutar, então, contra o capitalismo e deixando as armas da fé, assume aquelas do marxismo, que lhe quer
tomar o lugar para erigir, em última análise, o capitalismo de Estado, ou melhor, da classe dominante,
camuflada nas famosas e ilusórias “democracias populares ” .
Nosso grande jurista Sobral Pinto, que estudou, com seriedade, por mais de 50 anos, o marxismo,
sentiu-se obrigado, em consciência, de levantar seu brado de fiel católico, impelido pelo canon 212 § 3
do Código de Direito Canônico (que vale, com maior razão para mim), para advertir que a Teologia
da Libertação, que vigora entre nós, pretende desastrosamente enxertar o materialismo marxista na
teologia espiritualista.
Pareceu-me, entretanto, útil para ajudar a discernir melhor a Teologia da Libertação redigir, em
forma simples, concisa e popular, as verdades, os erros e os perigos da Teologia da Libertação, como
a análise marxista, de que faia o já citado documento da Santa Sé.
Advertimos que não se pode deixar de reconhecer o vivo e sincero desejo de muitos liberacionistas
de resolver o problema da miséria na América Latina, de uma forma atual e eficiente, quanto dizem,
de acordo com o Concílio e a Conferência de Puebla. Mas não bastam a boa vontade e a reta intenção,
principalmente quando aliadas à ingenuidade, para enfrentar e resolver todos os aspectos de uma
realidade complexa.
Por isso mesmo o Concílio Vaticano II requer a interpretação dos “sinais dos tempos”, à luz do
Evangelho. Porque o Evangelho é a revelação de Deus trazida à terra por Jesus Cristo, Filho de Deus
feito homem e transmitida à sua Igreja.Os problemas do homem, a sua dignidade, o seu destino, estão
nas mãos de Deus, que criou o homem livre, para, da liberdade, fazer bom o meritório uso.
Veremos como para a Teologia da Libertação, em geral, não bastam a revelação de Deus e a
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experiência milenar da Igreja. Em virtude de um “aggiornamento” (atualização) mal compreendido,
porque exagerado e exclusivo, quer inovar, trilhar novos caminhos, encontrar novas fontes de verdade,
pois, em última análise, a experiência da Igreja, segundo os Teólogos da Libertação, teria fracassado
na América Latina, por não ter resolvido o problema da miséria. É necessário, portanto, barganhar o
Evangelho, ou melhor, seus métodos ou espírito, a luz do Palavra de Deus pelas ciências humanas.
Parece até que exageramos e pintamos um monstro para o combater mais facilmente. Oxalá
estivéssemos sonhando e para melhor despertar à realidade, nesta exposição sumário, que não abrange
nem aprofunda todos os aspectos da questão, vamos tratar dos seguintes pontos:
I – VERDADES:
II – ERROS:
III – PERIGOS:
1. Lavagem cerebral.
3. Igreja Popular.
l – VERDADES
Faltam homens dirigentes que, bem formados, saibam desfrutar dos recursos naturais em favor
do bem comum, enquanto outros governantes ou elementos à eles associados se locupletam à forra,
espezinhando direitos e aspirações legítimas dos subalternos e subordinados.
Há, portanto, sem nenhuma divida, estruturas injustas que devem ser reparadas, tanto no campo
nacional como no internacional de relações com nações mais desenvolvidas economicamente e ricas e
que fazem sentir o peso do capitalismo desenfreado na sociedade latino-americana.teologia
Vê-se logo que é mais uma questão de educação, que para nós é evangelização (no qual se deve
empenhar seriamente a Igreja ), do que de guerrilhas ou revolução.
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Para a evangelização são eloquentes os ensinamentos e orientações da Doutrina Social da Igreja,
que tem por finalidade a implantação da justiça social, da liberdade e dignidade da pessoa humana, por
meios evangélicos. Insistentemente os Papas clamam em favor dos oprimidos e reclamam uma ordem
mais justa e estabeleceram e aprovaram não só inúmeras obras de beneficência, mais um dicastério
dedicado à “Justiça e Paz”.
Francamente não agrada aos liberacionistas essa doutrina, que apodam de reformismo. Fixam
seus objetivos de luta e reivindicações contra o detestável “pecado social” que oprime os mais pobres
e deserdados. Não insistem na atuação decisiva do pecado pessoal, que existe tanto nos dirigentes que
abusam do seu poder mas também nos subalternos, quando com saúde e trabalhando, não produzem
mais e melhor e não sabem ou não procuram economizar.
Evidentemente condições climatéricas (muito calor) podem não estimular o trabalho e esses
fatores se verificam em todas as nações, embora o elemento local esteja mais habilitado a vencer esses
rigores da região.
É impressionante, porém, examinar a história dos imigrantes em nossos países e religiões. Che-
garam quase todos em situação de miséria e se deram generosa e heroicamente ao trabalho, fazendo
também não pequenas economias. . . e hoje é quase impossível encontrar um descendente de imigrantes
na miséria. . . Nem tudo, portanto, depende unicamente das estruturas públicas.
Mas também existem, é mister dizê-lo, em alguns a indolência, o abandono das terras, o alco-
olismo, gastos imprevidentes e exagerados, como de moradores de favelas que dispendem fartamente
no Carnaval.
É fácil atribuir a culpa de todo o mal às estruturas injustas e pecaminosas. Também lá, como
na vida individual, a raiz de todos os males é o pecado.
O pecado introduziu o mal no mundo e o mantém. Atacar essa raiz, com a formação e a prática
da vida cristã e favorecer a virtude, é o objetivo de uma teologia da Libertação ideal ( possível e
legítima), inspirada nos Evangelhos e digna de aplausos. Assim mesmo, tal Teologia seria apenas
uma parte da Doutrina Social da Igreja e não, como é concebida em nosso meio, como a Teologia que
abarca e interpreta toda a religião.
O discurso de João Paulo II, em Puebla, traçou as coordenadas da Teologia da Libertação autên-
tica: verdade sobre a igreja, verdade sobre Jesus Cristo e verdade sobre o homem. Nessa perspectiva
a opção preferencial pelos pobres recebe seu verdadeiro significado, que é evangélico e se mostra ple-
namente justificado. Implantar a “civilização do amor”, tão reclamada por Paulo VI e João Paulo
II, é a única Teologia de Libertação louvável.Infelizmente não é esse, porém, o tipo de Teologia de
Libertação comumente difundido na América Latina e no Brasil.
Rejeita, em ultima análise, a Doutrina Social da Igreja porque a julga teórética ideologicamente
(teologicamente contra o capitalismo, mas na prática, reforça o sistema dominante) e praticamente
não eficiente e por isso, mesmo quando alguém não a considera erronea, é insuficiente e deve ser
enriquecida pela Teologia da Libertação, com métodos mais modernos, eficazes e científicos, que são
os da análise marxista.
É justa, repetimos, necessária e louvável a defesa dos pobres, não só sociologicamente como
religiosamente, mas o modo de agir da Teologia da Libertação não é evangélico, porque o amor ao
próximo é a suprema norma social do Evangelho, que se aceita por convicção e não por imposição. O
processo evangélico será muito mais lento, mas é mais humano e definitivo; como o operado no mundo
pagão e bárbaro.
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A necessidade de uma teologia atualizada e correspondente à índole e cultura do
povo.
O Concílio Vaticano II foi desejado por João XXIII e confirmado por Paulo VI, mantendo a
fidelidade ao sacro patrimônio da verdade revelada, para enfrentar as novas condições e formas de
vida, introduzidas no mundo hodierno.
Era o famoso “aggiornamento” (atualização), querido por João XXIII e a “inculturação”, auspi-
ciada por Paulo VI, afim de apresentar aos povos de uma forma acentuadamente pastoral a doutrina
da Igreja.
Fazia-se também um apelo à iniciativa dos teólogos para encontrar expressões mais adequadas
para a vivência cristã nos nossos dias.
Para gáudio dos libertacionistas, puderam depois cantar vitória da aplicação concreta de suas
ideias em Nicarágua, com os sandinistas e ministros sacerdotes e a Igreja Popular.
“Aggiornamento” da Igreja não significa uma mudança radical, mas o viver o dia atual da Igreja,
fundada por Jesus Cristo e que deve atravessar os séculos, imutável na doutrina revelada, assistida
pelo Espírito Santo, mas com os pés na terra, tanto quando caminha na praia, como nas montanhas
ou no asfalto. É a mesma Igreja, peregrina neste mundo, que se faz viva e salvífica, adaptando-se, sem
deixar de ser o que é, às circunstâncias do tempo. e do lugar.
Atualização, portanto, deve ser também inculturação, isto é, com capacidade de transmitir a –
mensagem salvadora de Cristo aos diversos povos, encontrando as expressões mais adequadas para ser
compreendida melhor pelos homens, que vivem em situações e ambientes os mais diversos.
Atualização e inculturação da Igreja foram interpretadas por alguns teólogos, como uma liberta-
ção da teologia tradicional para adotar, sem restrições, fórmulas novas de maior abertura cristã para o
mundo e seu empenho sobre as realidades terrestres com uso das ciências humanas (psicologia, pedago-
gia, interpretação marxista da história etc. Assim promoveram uma revolução destruindo o passado,
considerado superado, e fabricando formas modernas, alheias à teologia, e, portanto, reclamam uma
nova interpretação do Evangelho de Cristo,
Nós católicos, porém, cremos na divindade de Cristo, na sua verdadeira e definitiva revelação
pública, e não podemos, por conseguinte, aceitar nem as interpretações do Alcorão nem as de Marx,
embora se apresentem como as mais eficazes e atualizadas,
Mesmo quando não se rejeita o passado e se julga aperfeiçoar o patrimônio cultural e artístico,
é de mal gosto, fazê-lo, desfigurando suas mais belas expressões, como se para melhorar uma pintura
clássica se usassem rabiscos e borrões de arte moderna.
Se esta aplicação de atualização e inculturação é errônea e desastrada para uma arte, com maior
razão o será para a Igreja, que não é invenção nem obra de homens, mas de Deus, criador e Redentor,
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Frutos de Teologia da Libertação.
Não sei como se possa, honestamente, negar a existência da árvore da Teologia da Libertação,
na sua espécie mais agreste, rude, azeda e radical, quando seus frutos aparecem já abundantes aos
nossos olhos, ao menos no Brasil.
Acenamos aqui apenas a alguns desses produtos, pois haveria muitos outros em relação à liturgia,
à vida religiosa, etc.
Frutos da Teologia da Libertação, são os jornais, revistas e editoras católicas, que só martelam
monotonamente a mesma tecla reivindicativa, com satisfação de políticos esquerdizantes e silenciam
até a palavra do Papa, quando esclarece os desvios e erros da Teologia da Libertação.
É óbvio, portanto, que tais frutos denunciam a existência da Teologia da Libertação radical no
Brasil.
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oferece às comunidades eclesiais de base este poder criador de religião e de Igreja.
Por isso, quando se rejeita essa releitura facciosa, os liberacionistas nos apodam de inimigos
dos pobres, da democracia e do povo oprimido, quando não nos apontam como fautores e aliados dos
capitalistas e dos Estados Unidos.
O ataque feito à Escolástica de Santo Tomás de Aquino, começa porque o Santo Doutor da
Igreja exigia, antes de tratar qualquer questão, a definição dos termos, sua delimitação e clareza e
em que sentido eram tomados.Nunca a clareza e exatidão das expressões fizeram mal aos bons e são
exigidas para a promoção da justiça.
Usar de ambiguidades e subterfúgios e, por vezes, até de mentiras, não oferece nenhuma garantia
de credibilidade. O homem honesto não as aceita.
Quem conhece a paciência, discreção e modo de proceder da Sagrada Congregação para a Dou-
trina da Fé (inglória tarefa de alguns, que por isso mesmo se identificam, tem sido difundir dela uma
caricatura) dirá que não agiu em vão, mal informada ou desatentamente com sua intervenção sobre
alguns aspectos da Teologia da Libertação.
Como é usual na Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, o documento foi precedido por
um estudo sério, sereno, prolongado, com assessoria de peritos de diversas partes do mundo. Se uma
crítica se pode fazer ao documento é que tal esclarecimento dado, há anos atrás, teria nos aliviado de
não poucas calamidades.
Não é possível, portanto, conceber razoavelmente tal documento sem provas abundantes da
existência de uma Teologia da Libertação radical, existente na América Latina, incluindo naturalmente
o Brasil, não obstante declarações em contrário de alguns prelados locais, que se confessam testemunhas
oculares autênticas, sempre atentos sobre os acontecimentos religiosos.
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malfadada crítica de “alguns aspectos da Teologia da Libertação”.
Hoje esta explicação (escapatória de quem ignora a possibilidade de uma publicação da Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé sem explícita aprovação ao Santo Padre) não tem mais sentido
algum, após os pronunciamentos explícitos do Santo Padre, tanto em Roma (alocução aos cardeais no
fim de 1984 e aos bispos do Peru) como em suas recentes viagens a países da América Latina. . . que,
porém, são censurados não pelo Governo mas por liberacionistas da Igreja.
Apesar de negado o valor do documento, já produziu alguns frutos como a declaração dos bispos
do Peru e a atenção que lhe deve dar a próxima Plenária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Mas já é algo a recomendação do Presidente da CNBB de deixar aos leigos o campo político e cuidar
o clero da formação religiosa integral dos mesmos leigos.
Será útil recordar algumas orientações finais do documento da Sagrada Congregação para a
Doutrina da Fé, no Capítulo XI.
A promoção humana e a autêntica libertação devem ser compreendidas a partir de uma evan-
gelização integral, em uma Igreja dos pobres, num sentido universal e não de uma classe ou casta.
A verdade sobre o homem, a luta pelos direitos humanos deve ser realizada com meios adequados
à dignidade humana, rejeitando toda e qualquer espécie de violência e tendo em conta que a injustiça
tem sua raiz no coração dos homens. Então se deve recorrer às capacidades éticas da pessoa para a
sua conversão. É ilusão mortal aceitar que o “homem novo” nasça com a mudança de estrutura, pior
ainda quando feita pela violência revolucionária, pois são conhecidas as escravidões gerais dos regimes
totalitários.
O resumo da instrução distingue entre a legítima aspiração dos povos pobres a condições de
vida econômica, social e política, que estejam conformes à dignidade humana (sinal dos tempos ca-
racterísticos de nossa época) que envolve uma grave responsabilidade de todos para esta conquista da
justiça social. As expressões dadas a essa aspiração, são legítimas àquelas que rejeitam a pecaminosa
indiferença diante dos dramáticos problemas da pobreza, miséria e injustiça de que são vítimas Nossos
irmãos e que reprovam quantos contribuem para a manutenção da miséria dos povos. Tal foi, em
última análise, a posição de Puebla.
Outras expressões são ambíguas, enquanto outras representam um grave perigo para a fé, à vida
teologal e a moral dos cristãos.
A Teologia da Libertação abrange todas estas formas diversas e é apresentada em livros, folhetos,
artigos e pregações e, por isso, a Sagrada Congregação para a Defesa da Fé não cita nenhum nome de
liberacionista para que os outros não citados tenham o pretexto de afirmar que o documento não lhes
diz respeito.
II – ERROS
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O pluralismo teológico e a releitura bíblica e dos pronunciamentos do Magistério são exigências
liberacionistas.
O pluralismo serve de passaporte para entrar no campo teológico (é sinal verde que estimula a
pesquisa teológica) e a releitura o redimensiona, na medida dos olhos e dos desejos do “teólogo”. O
pluralismo teológico teria sido ensinado pelo Concílio e a releitura ou reintegração parece mais uma
reedição do livre exame protestante.Mas a alfândega pluralista. liberacionista não só é contraditória,
mas dura e totalitária com o parceiro adversário, impedindo-lhe, em nome do mesmo pluralismo,
de divulgar seus escritos, fechando-lhe até as portas das editoras católicas afim de que a Teologia da
Libertação possa tranquilamente e exclusivamente dominar o campo reservado às discussões teológicas.
Algo semelhante ocorre com os comunistas, os mestres da análise marxista: antes de assumir o poder
exaltam e exasperam a oposição ao Governo, mas, quando no poder, fazem silenciar as oposições ao
Governo, até com processos dignos da máfia.
Com o campo livre, será fácil ao liberacionista impingir sua leitura da Sagrada Escritura e dos
documentos do Magistério e impor a sua “linha pastoral”, que deve ser seguida.teologia
O Concílio trata do pluralismo político que a filosofia social e a sociologia indicam como mul-
típlice e livre expressão de formas sociais, às quais o Estado reconhece uma autonomia em ordem a
uma contribuição para o bem comum. Os direitos e deveres das pessoas, família e grupos devem ser
reconhecidos, respeitados e promovidos.
Numa sociedade pluralista se deve garantir a liberdade da Igreja na comunidade política, distinguindo-
se sempre as ações dos fiéis, indivíduos ou grupos, como cidadãos, guiados pela consciência cristã as
suas ações em nome da Igreja.
Em última análise, nem o Estado nem a Igreja podem ser supremos, pois só Deus o é, mas os
seus membros são criaturas e podem contribuir para melhorar a situação da comunidade, respeitando
sempre os direitos inalienáveis e supremos de Deus.
Um exemplo banal pode facilitar a compreensão desse pluralismo. Diz o provérbio popular:
“Todos os caminhos conduzem à Roma”. Outrora, chegava-se à Roma a pé, a cavalo, em carruagem e
até de barco. Mas normalmente não se vinha de muito longe. Com o progresso de comunicações, hoje,
pode-se chegar de distantes regiões, de carro, de trem ou de avião. Seria inconcebível e injusto limitar
a liberdade de locomoção, da escolha de estradas e meios disponíveis para se chegar a Roma. Mas
a finalidade deve ser respeitada por todos: chegar a Roma e não a Washington ou Moscou. Quem,
devendo acompanhar alguém a Roma e o conduz a outra parte, errou o caminho, ou por incompetência
ou por maldade.
O pluralismo das escolas teológicas pode tomar diversos caminhos mas deve conduzir à reafir-
mação da fé católica,
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Então, nunca a “opção preferencial pelos pobres” pode tornar-se “opção exclusiva pelos pobres”.
A primeira é afirmação verdadeira, a segunda é exclusão injusta e falsa.
Os liberacionistas tomam, porém, os pobres no sentido classista, como os oprimidos que, segundo
Marx, formariam o proletariado. Tomam um avião sequestrado.
Segundo a tese marxista (e assim entramos, já na análise marxista) a história se reduz à luta de
classes: dos opressores contra os oprimidos. E chegou a hora dos oprimidos proclamar a sua libertação
donde o grito de combate: “Proletárias de tudo o mundo, uni-vos!”.
É, sem dúvida, fascinante aos olhos de jovens inexperientes, impetuosos, desejosos de realizar a
justiça social, entrar nessa luta, ao lado dos oprimidos. Respeitemos e apreciemos o seu entusiasmo
pelo ideal da justiça social, mas peçamos que empreguem sua inteligência e espírito crítico para não
embarcar numa empresa ilusória e falsa. Sirva-lhes de aviso, o sinal que estão deixando o caminho
de Cristo, que é de amor, compreensão fraterna, caminho mais longo, mas baseado na persuasão, no
diálogo, no respeito à dignidade humana.
Não foi com violência, não foi distilando aversão, luta ou ódio entre as classes, não foi com
revolução, que Cristo, seus Apóstolos e a sua Igreja, lograram a abolição da escravidão, mostrando
como o escravo é nosso irmão em Cristo.
Embarcando num avião sequestrado pela análise marxista, há o perigo comprovado pela história
repetidamente, apesar de todas as promessas de libertação, de aterrissar numa ditadura do proletariado
que é realmente ditadura sobre o proletariado, ou como está em voga agora, numa “democracia
popular”, paraíso terrestre, onde os liberacionistas preferem não viver.
Em todo o caso, a base bíblica da “opção pelos pobres”, encarecida por Puebla, na releitura
liberacionista, de cunho marxista, é areia movediça sobre a qual não se pode construir sólida e tran-
quilamente, o edifício de uma Sociedade justa e feliz.
As comunidades eclesiais de base que atuam nos diversos ambientes e lugares, com espírito de
evangelização e, portanto, em união com os seus legítimos pastores, são uma bênção extraordinária
para a Igreja em regiões, como a nossa do Brasil, ou em especiais circunstâncias para atender religiosa
e espiritualmente o povo de Deus.
Mesmo, antes do Concílio Vaticano II fui um dos pioneiros, em âmbito diocesano, na Diocese de
Barra do Piraí, a introduzir essas comunidades, ainda muito rudimentares mas ricas de religiosidade e
de catequese popular, deixando organizadas cerca de 570 desses núcleos, com grande eficiência pastoral.
O erro começa quando se faz política partidária nessas comunidades eclesiais de base. A for-
mação política dos leigos é necessária, segundo a fórmula “política do bem comum, fora e acima das
competições partidárias” e, nesse sentido foram impressas Cartilhas Políticas. Mas. algumas delas
pretendem formar uma classe social em luta contra as instituições civis e até eclesiásticas. Suscita a
base, a rebelar-se contra a cúpula, apoiando partidos que endossam a luta de classes. Passam assim
as comunidades eclesiais de base a ser uma mina prolífera de ação partidária, representando “o povo”
no engajamento sócio-político.
São tão exaltadas algumas comunidades eclesiais de base que se julgam novas fontes de revelação
e de inspiração, como as mais genuínas para mostrar concretamente a encarnação da Igreja na realidade
do povo sofrido e angustiado. Dentro do clima de luta, não admira que lhes falem homens sem fé e até
contra ela, em nome da Igreja, como lobos em pele de ovelhas. É de admirar, porém, o açanhamento
de clérigos nessa tarefa.
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Em torno deste tema toma pé a “Igreja Popular”, criada pelo “povo” ou comunidades eclesiais
de base, contaminadas pela luta de classes, em oposição à Igreja da cúpula dominante, a tradicional
Igreja.
Procuremos explicar brevemente o que significa a análise marxista, exatamente condenada pelo
documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, indicando como atua na história e na
religião.
Os liberacionistas nos dizem que tomam elementos da análise marxista como um método, sem
endossar a ideologia marxista. Não podemos acreditar na sinceridade de seus propósitos, quando não
dispõem de capacidade intelectual para avaliar as consequências dessa análise, trinada acriticamente
como ” científica ” .
A análise marxista reduz toda a história à luta de classe. Os liberacionistas, baseados no valor
“científico” da análise marxista, sustentam que ela tem os elementos úteis e eficazes para eliminar a
injustiça social e que o uso desses elementos é uma conquista do progresso e, repetimos, não implica
necessariamente na aceitação da ideologia marxista, que eles mesmos condenam, porque visceralmente
ateia.
Outros negam simplesmente o uso da analise marxista, pois dela não temos necessidade, os
católicos, que podem usar o método jocista de Cardjin: “ver, julgar, agir”, esquecendo-se que esses
três momentos na Ação Católica se faziam à luz do Evangelho.
O Papa, na sua encíclica sobre o trabalho humano, afirma que um capitalismo primitivo que
maneja o homem como instrumento do capital, é contrário à dignidade humana, mas também o
coletivismo marxista, que tem a totalidade da economia, controla o poder político, militar, cultural e
propagandístico. A liberdade dos homens de trabalho está melhor garantida em uma ordem econômica
com milhões de patrões e sindicatos livres do que num sistema em que o Estado é o único patrão e os
sindicatos são instrumentos do Estado.
Teria sido revolucionária a Igreja, já no seu fundador, Jesus Cristo, considerado perigoso e sub-
versivo por Pôncio Pilatos, mas, desde o período constantiniano, unindo-se ao poder e aos poderosos,
tornou-se cúmplice da exploração.
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Só com a reforma das estruturas e o engajamento sócio-político, a Igreja se tornará libertadora.
As violências não são ideais, mas se for preciso “matar por amor”, devemos recorrer à força quando
nos falta outro caminho. Exatamente aqui está um grande erro: o caminho da violência, da luta, do
ódio não é, nem pode ser, o caminho de Cristo: único caminho, verdade e vida.
Um exemplo desastroso dessa análise marxista da história da Igreja nos é dado pela CEHILA,
na História da Igreja na América Latina, como já nos referimos. Há evidente má vontade em distorcer
os latos e as personalidades e ignorância supina de nossas tradições religiosas. Assim a Igreja no Brasil
teria sido a opressora dos pobres, enquanto, em homenagem ao ecumenismo, os invasores protestantes
holandeses e franceses teriam sido os heróis da libertação da nossa Pátria.
Recordemos ainda que a pessoa de Cristo liberacionista lhe tira a auréola de Filho de Deus feito
homem e o considera um simples homem, como o “tal Jesus”, fabricado nos moldes secularizantes
da Teologia da Libertação. Quando denunciei este programa radiofônico, endereçado às comunidades
eclesiais de base, fui taxado de exagerado e até de visionário.
Leva à divisão na Igreja, exigindo uma nova linha pastoral que combate não só os ricos, inimigos
da classe proletária, mas se opõe às próprias exigências da autoridade eclesiástica que não concorda
com a tese liberacionista.
Vale, assim, a palavra do Papa, quando fala de “opção preferencial dos pobres”, não vale, porém,
e deve ser boicotada quando não valoriza o “pecado social” das estruturas, quando denuncia erros e
abusos da Teologia da Libertação radical. . .
3. A Igreja dos pobres é tipicamente classista: é a Igreja Popular, baseada nas comunidades de
base, que representam o povo oprimido, que por ser eficiente instrumento de libertação, deve ser a voz
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da justiça e da verdade, interpretando desta forma nova e “científica” a Cristologia e a Eclesiologia
tradicional da Igreja Católica. Será, portanto, a práxis revolucionária o modo de agir, neste movimento
de libertação, a fonte da verdade e do bem.4. Assim, deixando de lado a Doutrina Social da Igreja, se
deve fazer a leitura política da Sagrada Escritura, sobretudo do Êxodo e do Magnficat, a secularização
do Reino de Deus, as interpretações do Magistério e da Tradição.
É por isso que o documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé afirma que tal falsa
interpretação da Teologia da Libertação, abarca todo o conjunto da doutrina cristã. Por exemplo: a
Missa é oportunidade, em uma reunião social, de tratar e discutir os problemas da libertação e não
admira que a procissão de Corpus Christi não seja para os liberacionistas o louvor a Cristo presente
na Eucaristia, mas excelente ocasião de um comício político e liberacionista.
Os teólogos da Libertação pouco falam da sociedade futura, mas repõem suas esperanças em
um socialismo democrático, que se quiséssemos saber qual é o seu figurino, nos responderiam: Nica-
rágua. É verdade que não diriam Rússia e seus satélites, embora tenham embarcado na libertação de
análise marxista, esperando, talvez, descer do bonde ainda em movimento, antes de chegar ao ponto
final. Assim pensava um prelado vietnamita, ilustre mas ingênuo, mas que foi tragado pelos trágicos
acontecimentos de seu país e hoje deve lamentar-se da escravidão e do inferno, em que se encontram
ele e os seus libertados,
Mas na Nicarágua, a situação é diferente, dirão alguns que para lá viajam frequentemente,
suponho às custas da “opção pelos pobres”. Outros chegaram a endossar, com alegria, as divisas
militares sandinistas (eles que demonstram horror pelos militares!). Nicarágua é proposta como uma
nova e feliz mensagem de libertação para toda a América Latina. Entre o Papa e os sandinistas,
preferem naturalmente estes últimos e demonstram sua solidariedade aos sacerdotes envolvidos no
Governo Sandinista, mesmo quando em flagrante desobediência às leis canônicas.
Diante do histórico e patente mito da libertação marxista e do paraíso proletário (não preci-
saria,então, ser cercado como é ainda que em um campo de concentração!), vê-se que esses clássicos
lutadores pela libertação dos pobres, não são amigos da liberdade dos indivíduos. Os seus direitos
pessoais, a começar da liberdade religiosa, não têm vigência nos países dominados pelo marxismo,
ponto final da análise marxista.
É uma séria advertência aos liberacionistas de não destruírem com seus métodos, tomados ao
marxismo, aquele conjunto de verdadeiras e justas aspirações que animaram suas intenções e sua luta.
III – PERIGOS
Lavagem cerebral.
Imagino a tristeza de uma mãe que formou carinhosamente seu filho, na sólida doutrina cristã
e nas virtudes, ouvi-lo depois de um período no Seminário, agressivo e rebelado contra tudo e contra
todos que lhe haviam ensinado um cristianismo, julgado agora, depois de sua deformação pessoal, como
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superado e viciado. E tal lavagem cerebral foi realizada não num campo de concentração nazista ou
comunista, mas numa instituição, mantida pela caridade cristã, até com sacrifícios dos fiéis. Formou-
se um alguém, podendo ter como modelos Camilo Torres ou Che Guevara. A pretexto da libertação
da classe oprimida, silenciará sua língua a mensagem evangélica do amor cristão, do coração aberto
a todos os homens, enquanto crescem nele a aversão, o espírito de luta, exatamente o contrário de
quanto se deve esperar de um ministro do Senhor, como traço de união entre pobres e ricos.
O pobre jovem contraiu a doença da revolta contra as estruturas e os demais, que não julgam
como ele, pois estão do outro lado, naturalmente junto aos opressores. A doença, ainda quando não
é mortal, debilita seu apostolado, podendo até mesmo levá-lo ao abandono do ministério sacerdotal,
como já ocorreu com outros.
Quando a doença se propaga podemos chegar à epidemia. Então até o ambiente fica empestado
e, para o bem da saúde pública é melhor eliminar o mal, os focos de infecção, como faz o cirurgião.
Francamente preferia estar enganado, bastando admitir apenas uma póda em alguns institutos
ou comunidades seminarísticas do Brasil, para que a árvore da formação sacerdotal, possa produzir
abundantes frutos, onde quer que se prepare um futuro sacerdote.
Encontrei no jornal
“Arquidiocesano” de Mariana, de 21/10/84, uma síntese clara de quatro pontos em que Dom
Edvaldo Gonçalves do Amaral, Bispo de Parnaíba, no Piauí, apresentou ao Encontro das comunidades
eclesiais de base de sua diocese e que, por precisão e simplicidade de linguagem merece ser transcrito
na íntegra: “Há uma certa linha de pastoral na Igreja, infelizmente hoje muito difundida no Brasil,
que exibe características inaceitáveis sob o ponto de vista da autêntica doutrina cristã e da reta práxis
pastoral. teologia São elas:
4. Um envolvimento cada vez mais ativo em política partidária, com uma indisfarçável aspiração
política e ao exercício do poder, camuflado, às vezes, em defesa dos direitos da Igreja ou proteção aos
pobres e marginalizados. Como consequência disso, uma crítica irrazoável e sistemática a todos os
atos do governo civil” .
Igreja Popular.
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Parece, porém, impossível que se instale, no Brasil, a Igreja Popular, não só pelo respeito e
fidelidade de nosso povo ao Santo Padre, como, por causa dos minguados frutos da malfadada Igreja
Brasileira, fundada há mais de 50 anos pelo bispo de Maura, Dom Carlos Duarte Costa, que se rebelou
contra o Papa.
Por isso mesmo, os liberacionistas primam em afirmar que não pretendem estabelecer uma nova
Igreja, mas sim uma teologia nova, viva, real, aplicada ao povo oprimido, mas sempre dentro da Igreja
Católica. Será uma tática para não afugentar o povo?
Entretanto, vão minando os fundamentos da Igreja Católica e colocando outras pedras para
substituir aquelas propostas pela Igreja, fiel a Pedro e a Cristo, seu fundador.
Órfão da Igreja Católica para defender a fé, é a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé: não
ouvi-la, desprezá-la, negar-lhe o valor e autoridade, dissociá-la do Papa, é temeridade, agressividade,
luta, que pode merecer aplausos de certa imprensa escandalistica, mas pode terminar mal.
A um bom filho basta a advertência de uma mãe amorosa, que só lhe deseja o bem e a felicidade.
Outras vozes lhe aconselham libertar-se da escravidão; como ocorreu com o filho pródigo.
O orgulho, a popularidade, o aplauso, solidariedade e ala, rido dos outros, para não enumerar
outros fatores, são vozes tentadoras e péssimas conselheiras, enquanto a humildade dos servos de Deus,
dirá com confiança, como Maria: “Faça-se em mim segundo a vossa vontade”, revelada por Deus e
transmitida pela Igreja.
1 Conclusão.
Se a Teologia da Libertação focaliza e jorra maior luz para compreender e resolver uma grave e
real questão social e moral, como a da injustiça social, e orienta sua linha pastoral para uma educação
de sólida formação religiosa, como base de novas práticas do amor cristão e da. fraternidade humana,
só nos podemos alegrar com este despertar para uma mais efetiva vivência cristã.
Mas, se a Teologia da Libertação quer obter a justiça social pela luta de classes, mesmo quando
empolgada por Lima fala “opção preferencial pelos pobres”, o espírito cristão lhe adverte que a ideo-
lógica análise marxista, considerada “a científica”, é caminho ilusório e errado. É o ensinamento e a
advertência sábia e prudente do Magistério da Igreja, mãe e mestra autorizada e assistida por Deus,
que tem uma experiência de 20 séculos.
É prudente e cristão, ouvir docilmente sua voz e os seus conselhos, repetidos solenemente pelo
documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Portanto, se alguém se encontra nesse
rumo errado, é melhor retroceder e, com humildade, retornar à casa paterna, como o fez o filho pródigo,
certo de obter a reconciliação e o perdão da misericórdia divina
Se, porém, quiser prosseguir na estrada liberacionista para a libertação dos pobres, no tempo e
na eternidade, é certo que não haverá policia da Igreja para conduzi-lo ao cárcere ou manicômio. Li-
vremente usando e abusando da liberdade que Deus lhe deu, se conseguir ver triunfante, por manobras
de astúcia ou até mesmo pela violência, a libertação suspirada do proletariado, desembarcará numa
sociedade completamente diversa daquele paraíso terrestre que sonhou e apregoou e verificará, então,
que foi “pior a emenda que o soneto”. É o mínimo que lhe posso dizer, com a verdadeira história dos
povos nas mãos e na mente.
Lastima também que o liberacionista não quis ouvir, durante sua vida de sacerdote ou ao menos
de fiei, o Pai amoroso que veste os lírios do campo e sustenta os pássaros dos céus e, para guiar os
homens para a verdadeira salvação, fundou a Igreja, ordenando que ouvisse-mos sua voz . . .
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Menosprezada a advertência da Igreja, preferiu ouvir outras vozes e ensinamentos, como os
nossos primeiros pais no paraíso, para se tornarem iguais a Deus. Foram tentados por causa do
orgulho ou da ânsia de popularidade? Não o saberei dizer. Limito-me a registrar o fato, com espírito
de fé e de docilidade à cátedra de Pedro, e a manifestar minha tristeza, vendo como homens de talento,
pela Teologia da Libertação, deram grandes passos, mas fora da estrada.
Referência:
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