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Incompetência

A competência se divide em:

Ratione materiae (Absoluta)


Material Ratione personae (Absoluta)
/ Ratione loci (Relativa)
Competência
\
Funcional (Absoluta)

A incompetência absoluta é capaz de gerar nulidade absoluta,


enquanto a incompetência relativa é capaz de gerar nulidade relativa.

Obs: Para Aury Lopes Jr., o princípio do juiz natural não fez
distinções entre competência absoluta e competência relativa, não
cabendo ao intérprete fazê-lo. Dessa forma, a violação de qualquer
regra de competência seria causa de nulidade absoluta por afronta ao
princípio do juiz natural.

 “Com relação à competência em razão do lugar, ao


compreendermos que a jurisdição é uma garantia, não pode ela ser
esvaziada com a classificação civilista de que é ‘relativa’. Ou seja, a
eficácia da garantia do juiz natural não permite que se relativize a
competência em razão do lugar. Assim, também consideramos a
competência, em razão do lugar, absoluta.

Contudo, até por honestidade acadêmica, destacamos que não é essa


a posição majoritária na jurisprudência brasileira. Predomina a noção
civilista de que a competência, em razão do lugar do crime, é relativa.
(...)” (Aury Lopes Jr, p. 161-162)

Incompetência absoluta

É causa de nulidade absoluta o desrespeito às regras de


competência ratione materiae, ratione personae e funcional.
Obs: Para Ada Pellegrini, a violação de regra de competência
fixada na Constituição Federal é causa de inexistência jurídica, por
violação do princípio do juiz natural, que é um pressuposto processual
de existência.

O entendimento majoritário, no entanto, é de que se trata de


causa de nulidade, sob o argumento de ter ocorrido a violação da
competência, que é pressuposto processual de validade. Para essa
corrente doutrinária, não há que se falar em inexistência dos atos
praticados por juiz incompetente, tendo em vista que, em última
análise, foram proferidos por juiz regularmente investido de jurisdição,
que é una. Seriam inexistentes apenas os atos praticados por pessoa
que não é juiz.

Apesar do entendimento de Ada Pellegrini no sentido de tratar-se


de causa de inexistência jurídica, a doutrinadora ressalvava não ser
possível o ajuizamento de uma 2ª ação penal em caso de absolvição,
em razão do princípio do ne bis in idem.

 “A expressão constitucional do art. 5º, LIII (“Ninguém será


processado nem sentenciado senão pela autoridade competente“),
deve ser lida, portanto, como garantia do juiz constitucionalmente
competente para processar e julgar. Não será juiz natural, por isso, o juiz
constitucionalmente incompetente, e o processo por ele instruído e
julgado deverá ser tido como inexistente.

(...) em se tratando de sentença inexistente (proferida por juiz


constitucionalmente incompetente, em contraste com o art. 5º, LIII, da
CF), esta simplesmente não transitaria em julgado, sendo nenhuma sua
eficácia. Poderia o vício ser declarado pro societate, formulando a
acusação nova pretensão punitiva e, na arguição de coisa julgada
oferecida pela defesa (arts. 95, V, e 110 do CPP), argumentar com a
não ocorrência desta, por ser a sentença inexistente?

Não. Em se tratando de processo penal, o rigor técnico da ciência


processual há de ceder perante os princípios maiores do favor rei e do
favor libertatis.1 E o dogma do ne bis in idem deverá prevalecer,
impedindo nova persecução penal a respeito de fato delituoso que foi
objeto de outra ação penal.

1 Esses princípios baseiam-se na predominância do direito de liberdade do acusado


quando colocado em confronto com o direito de punir do Estado, ou seja, na dúvida,
sempre prevalece o interesse do réu. Devem orientar, inclusive, as regras de
interpretação, de forma que, diante da existência de duas interpretações
antagônicas, deve-se escolher aquela que se apresenta mais favorável ao acusado.
É certo que o ne bis in idem, como impedimento para o segundo juiz de
manifestar-se em outro processo, contra o mesmo réu e pelo mesmo
fato, é princípio que se liga tecnicamente à coisa julgada, em sua
função negativa. E que, na hipótese de sentença juridicamente
inexistente, não se forma a coisa julgada. Mas, no terreno da repressão
penal, no qual estão diretamente em jogo valores supremos do
indivíduo — vida, liberdade, dignidade —, o ne bis in idem assume
dimensão de proteção autônoma, sendo reconhecido mesmo
naqueles casos em que não se poderia falar, tecnicamente, em coisa
julgada.

Nessa ótica, “perseguido" que foi penalmente o acusado, ainda que


perante juiz constitucionalmente incompetente, que o absolveu, não
poderá ser novamente processado pelo mesmo fato, apesar de a
sentença não ter aptidão para passar em julgado. Até porque a
garantia do juiz constitucionalmente competente é erigida em favor do
"processado" e do "sentenciado“.

A categoria da inexistência da teoria geral perde força no processo


penal, sempre que haja uma absolvição, a qual acaba surtindo efeitos
jurídicos para impedir um novo julgamento pelo mesmo fato apontado
como delituoso.” (Grinover, Scarance e Magalhães, p. 44-46)

Obs: O curso da prescrição é interrompido pelo recebimento da


denúncia ou da queixa, nos termos do art. 117, I, do CP. Isso não ocorre,
no entanto, se o recebimento da peça acusatória for feito por
magistrado absolutamente incompetente.

Art. 117, CP/40: O curso da prescrição interrompe-se:

I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;

O recebimento da denúncia por magistrado absolutamente


incompetente não interrompe a prescrição penal (art. 117, I, CP)
“O recebimento da denúncia por magistrado absolutamente
incompetente não interrompe a prescrição penal (CP, art. 117, I). Esse o
entendimento da 2ª Turma ao denegar habeas corpus no qual a defesa
alegava a consumação do lapso prescricional intercorrente, que teria
acontecido entre o recebimento da denúncia, ainda que por juiz
incompetente, e o decreto de condenação do réu. Na espécie,
reputou-se que a prescrição em virtude do interregno entre os aludidos
marcos interruptivos não teria ocorrido, porquanto apenas o posterior
acolhimento da peça acusatória pelo órgão judiciário competente
deteria o condão de interrompê-la.” STF – HC 104907/PE (Info. 626) –
julgado em 2011

“(...) Ausência de eficácia interruptiva da prescrição penal em virtude


de o recebimento da denúncia haver resultado de deliberação
proferida por juiz incompetente “ratione materiae”. Não incidência do
art. 117, n. I, do Código Penal, quando a decisão que recebe a
denúncia emana de autoridade judiciária absolutamente
incompetente.” STF – AP 635/GO (Info. 846) – julgado em 2016

Incompetência relativa

É causa de nulidade relativa o desrespeito às regras de


competência ratione loci.

Antes da reforma do CPP de 2008, era muito comum que, ao final


da instrução, o juiz verificasse a sua incompetência relativa e, após
aplicar o art. 109 do CPP, remetesse o feito ao juiz competente.

Art. 109, CPP/41: Se em qualquer fase do processo o juiz


reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-
lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte,
prosseguindo-se na forma do artigo anterior.

Cumpre destacar que as partes possuem um momento preclusivo


para alegar a incompetência relativa, mas, no processo penal, pela
leitura do Código, o juiz poderia reconhecer a qualquer momento.

Ao receber o processo, o juiz competente aplicava o art. 567 do


CPP, isto é, ele renovava/retificava os atos decisórios, aproveitava os
instrutórios e proferia sentença.

Art. 567, CPP/41: A incompetência do juízo anula


somente os atos decisórios, devendo o processo,
quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz
competente.

Entretanto, em 2008, foi introduzido no processo penal o princípio


da identidade física do juiz (art. 399, § 2º, CPP).
Art. 399, § 2º, CPP/41: O juiz que presidiu a instrução
deverá proferir a sentença.

Para Pacceli, os arts. 109 e 567 devem ser interpretados de forma


conjunta com o princípio da identidade física do juiz, isto é, a reforma,
para ele, trouxe um limite temporal (abertura da AIJ) para o juiz
reconhecer de ofício a sua incompetência relativa.

 “Poderia o juiz afirmar de ofício a sua incompetência relativa, nos


termos do art. 109, CPP?
Em princípio, sim, e ao contrário do que ocorre no processo civil. (...)

Todavia, se ele já tiver iniciado a instrução, pensamos que não mais será
possível a declinatória de foro, de ofício, isto é, sem a provocação das
partes. Por isso, o art. 109, CPP, deve ter delimitado o prazo de sua
aplicação. Assim, ainda que relativamente incompetente, e desde que
não tenha sido provocado pelas partes – seja por meio de exceção,
seja por meio de defesa direta – art. 396 e art. 396-A, CPP – se o juiz
iniciar a instrução, deverá concluí-la, por força da preclusão, em
relação às partes, e por força da identidade física prevista no art. 399, §
2º, CPP.” (Pacelli, p. 724)

Existem precedentes no STJ trazendo para o processo penal a sua


súmula 33, que veda a declaração da incompetência relativa de ofício
pelo juiz. Cabe observar que a referida súmula teve como fundamento
para a sua instituição processos de execução fiscal.

A competência territorial é relativa e não pode ser decretada de ofício


pelo juiz (Súmula 33 do STJ trazida para o Processo Penal)
“Embora o Código de Processo Penal seja omisso no tocante à
competência relativa, seu art. 3º admite a utilização de ‘interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais de direito’. Como decorrência, mostra-se
perfeitamente possível aplicar o Código de Processo Civil, para, de
forma subsidiária, reconhecer a possibilidade de modificação de
competência em razão do território (art. 102 do CPC), assim como a
perpetuação da jurisdição (art. 87 do CPC), caso a competência
relativa não seja arguida a tempo e modo. (...)
A competência em razão do local é relativa, não podendo ser
decretada de ofício. Enunciado 33 da Súmula do STJ. Precedentes desta
Corte.” STJ – CC 134272/RO (Terceira Seção) – julgado em 2015

Resumindo: para Pacelli, o juiz pode reconhecer de ofício a sua


incompetência relativa até a abertura da AIJ, em respeito ao princípio
da identidade física do juiz. Para o STJ, o juiz não pode reconhecer de
ofício a sua incompetência relativa, com base na Súmula 33 do Tribunal,
trazida para o processo penal.

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