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Essa questão do blanquismo está ligada ao surgimento do assim chamado "Marxismo Ocidental". A
partir de 1910, Kautsky, que até então era o "papa do marxismo", passa a ocupar a posição de um
centro entre Bernstein e Luxemburgo. Ao mesmo tempo em que faz frente ao revisionismo em nome
do marxismo, ele rejeita a ideia de Luxemburgo de que os métodos utilizados na Revolução Russa
de 1905 poderiam ser aplicados na Alemanha. Em sua argumentação, ele distingue o marxismo
russo - "Oriental" e com influência blanquista - do marxismo alemão - "Ocidental". Em História da
Revolução Russa, Trotsky retoma o Prefácio, e discute também as acusações de blanquismo que
foram lançadas primeiro contra Marx e Engels por Bernstein e, a partir dos anos 1910, também
contra os bolcheviques, por Kautsky, a essa altura um "renegado": "A crítica de Engels dirigida contra
o fetichismo da barricada apoiava-se na evolução da técnica em geral e da técnica militar. A tática
insurrecional do blanquismo correspondia ao caráter da velha Paris, ao proletariado semiartesanal, a
ruas estreitas e ao sistema militar de Luís Filipe. Em princípio, o erro de Blanqui consistia em
identificar a revolução com a insurreição. O erro técnico do blanquismo consistia em identificar a
insurreição com a barricada. A crítica marxista foi dirigida contra os dois erros. (...) Engels descobriu
não somente o lugar secundário da insurreição na revolução, mas também o papel declinante da
barricada na insurreição. A crítica de Engels nada tinha em comum com uma renúncia aos métodos
revolucionários em proveito do puro parlamentarismo, como tentaram demonstrar em seu tempo os
filisteus da socialdemocracia alemã, em cooperação com a censura dos Hohenzollern. Para Engels,
a questão das barricadas continuava sendo a questão sobre um dos elementos técnicos da
insurreição. Os reformistas tentaram deduzir da negação do papel decisivo da barricada a negação
da violência revolucionária em geral".
guerra imperialista. No total, somente quatro partidos filiados permaneceram firmes
na oposição à guerra: os Mencheviques e os Bolcheviques na Rússia; o
Independent Labour Party na Inglaterra; e o Partido Social-Democrata da Sérvia.
Para concluir, gostaria de ressaltar que o próprio Engels previu com precisão
impressionante os contornos mais gerais da Primeira Guerra. Para ele, a
militarização de milhões de cidadãos europeus promovida pela Guerra
Franco-Prussiana preparava o terreno tanto para a revolução social como para uma
guerra mundial. No Prefácio, a aposta de Engels é a de que o internacionalismo
proletário poderia se sobrepor ao nacionalismo belicista, como podemos ver em
passagens como: "A anexação da Alsácia-Lorena, a causa mais evidente da
desvairada concorrência armamentista, conseguiu insuflar de maneira chauvinista a
burguesia francesa e a burguesia alemã uma contra a outra; para os trabalhadores
dos dois países, ela se converteu num novo laço de união". No entanto, em textos
dos anos 1880 encontramos prognósticos mais pessimistas. Em um artigo de 1887,
ele afirma que caso uma nova guerra envolvesse a França e a Prússia, o resultado
seria "(...) uma guerra mundial de uma amplitude e uma violência jamais imaginadas
até agora. De oito a dez milhões de soldados vão ser degolados entre eles e ao
fazer isso devastarão toda a Europa como jamais ocorreu a um enxame de
lagostas. As devastações da guerra dos Trinta Anos, concentradas em três ou
quatro anos, e esparzidas por todo o continente; fome, epidemias, embrutecimento
generalizado dos exércitos e das massas populares devido à miséria aguda; caos
irremediável de nosso mecanismo artificial no comércio, a indústria e o crédito,
levando à bancarrota geral; afundamento dos velhos Estados e de seu saber fazer
estatal tradicional, de modo que as coroas rodarão por dezenas sobre o pavimento,
e não se encontrará a ninguém que as recolha; impossibilidade absoluta de prever
como acabará tudo isso e quem sairá vencedor neste combate; um único resultado
está absolutamente claro: o esgotamento geral e a criação das condições da vitória
final da classe operária. Esta é a perspectiva quando o sistema da oferta mútua no
armamento bélico levada ao paroxismo dê inevitavelmente seus frutos”. De fato, a
guerra derrubou monarquias e criou condições para as revoluções operárias na
Rússia, na Alemanha e na Hungria. Contudo, novamente aqui a história não deu
razão a Engels, por mais impressionante que seja sua capacidade de antecipar os
acontecimentos: as revoluções alemã e húngara não se consolidaram, e a revolução
russa, isolada, se degenerou. De modo que talvez a previsão mais precisa de
Engels seja a que temos em uma carta a Bebel de 1886: "No caso de guerra
mundial não estará assegurada mais que a barbárie, e não a vitória do socialismo”.
Referências:
SEWELL, Rob. 4th August 1914 - The great betrayal of the Second International. In:
https://www.marxist.com/4th-august-1914-the-great-betrayal-and-collapse-of-the-sec
ond-international.htm