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Jl.

Ana Maria Pinto Pires de Oliveira


UNIVERSIDADE FEDERAL
-. DE MA TO GROSSO DO SUL Aparecida Negri lsquerdo
I Organ izadoras
I Reitor
Jorge João Chacha

Vice-Reitor
Amaury de Souza

Obra aprovada pelo


Ipr~
li 'SI
CONSELHO EDITORIAL
através da Resolução
DA UFMS
11/98
AS CIÊNCIAS
,
do .
li' (
CONSELHO EDITORIAL
Amaury de Souza (Presidente).
DO LEXICO
Un Angela Antonia S. T. Delben, Angela Maria Zanon,
.U Antonio Carlos Cubas, Claudio Alves de Vasconcelos
Élcia Esnarriaga de Arruda, Luiz Eduardo Ramos Borg~s,
LEXICOLOGIA
Ul\ Mônica de Carvalho Magalhães Kassar, LEXICOGRAFIA
Oswaldo Coimbra de Oliveira, Maria Marta Giacometti
UF
LJ 1'1
(Chefe da Coordenadoria de Biblioteca Central) e
Horácio Porto Filho (Chefe da Editora UFMS)
TERMINOLOGIA
ou:

Ficha Catalográfica preparada pela


Coordenadoria de Biblioteca Central-UFMS

C569 As ciências do léxico : lexicologia, lexicografia, termi-


.111 nologia / Ana Maria Pinto Pires de Oliveira, Aparecida
Negri Isquerdo, organizadoras. -- Campo Grande, EDITORA
P MS: Ed. UFMS, 1998.
264 p. : 21 cm.
UFMS
li
\l
1. Lexicografia. 2. Lexicologia. i. Pires de Oliveira, UNIVERSIDADE FEDERAL DE MA TO GROSSO DO SUL
I1 Ana Maria Pinto. li. Isquerdo, Aparecida Negri.
I:
I'
o CDD.413.028
CAMPO GRANDE - 1998

",
III

Para que José aprendesse bem o alemão, seus pais permitiram


que ele passasse as férias escolares na Áustria.
- apresentação dos exemplos e de suas respectivas traduções I J
sob forma de frases, o que permite contextualizar a acepção e o uso OS DICIONÁRIOS NA I
gramatical da palavra-entrada e apontar as semelhanças e as diferenças
entre as duas línguas: CONTEMPORANEIDADE:
ID Italia, iI carnevale DODe festeggiato come da Doi. / Na arquitetura, métodos e técnicas
Itália, o carnaval não é festejado como no nosso país.
Maria Tereza Camargo Biderman
Sono tornati da Milano in aereo. / Voltaram de Milão de Universidade Estadual Paulista! Araraquara
avião.Non devi pensare solo allavoro. / Não deve pensar somente no
trabalho.

Com o estabelecimento dessas diretrizes, pretendemos contri-


~\ '\,~ f
~,.u ~ 1-
buir para que o estudante brasileiro da língua italiana possa dispor de um
INTRODUÇÃO Iv' ,''O»: [
instrumento didático que o auxilie na compreensão das acepções e do di
emprego morfossintático das unidades lexicais que integram a s dicionários constituem uma organização sistemática do léxico,
macroestrutura do Dicionário Básico Italiano-Português. uma espécie de tentativa de descrição do léxico de uma língua. 1-
Existem vários tipos de dicionários monolíngues: os dicionários f
de língua, os dicionários analógicos (ou ideológicos), os dicionários o
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA temáticos ou especializados (de verbos e/ou regência verbal, de sinôni-
MARELLO, C. Dizionari bilingui. Bologna, Zanichelli, 1989. mos e antônimos), os dicionários etimológicos, os dicionários históricos,
os dicionários tenninológicos das diferentes áreas do conhecimento: as-
tronomia, biologia, comunicações, direito, ecologia, eletricidade, física,
geologia e geomorfologia, informática, medicina, metalurgia, psicologia, Co
<,.t
química, etc. Vou considerar apenas os dicionários de língua.
Dentre os dicionários de língua podem-se apontar como princi-
pais modelos usuais nas sociedades contemporâneas: o dicionário padrão
e o dicionário geral da língua, além de outros modelos reduzidos - os
mini-dicionários (como se chamam no Brasil), os dicionários escolares e t~\
os dicionários infantis. Cada uma dessas modalidades de dicionários tem
como parâmetro o total de entradas, ou verbetes repertoriados. Assim: o J
\
o
1) o dicionário-padrão com uma nomenclatura (niacroestrutura)
II
de 50.000 palavras-entrada aproximadamente, podendo estender-se até
70.000 verbetes;
o
2) o dicionário escolar - nomenclatura de 25.000 palavras-en-
trada aproximadamente; I "li. '..-;

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3) dicionário infantil - [faixa etária : 7 a 10 anos] _o Webster, da língua inglesa - contem cerca de 500.000 verbetes, nu-
merário de sua última edição; desde a data de sua última edição o inglês já
nomenclatura: 10.000 palavras, [faixa etária: menos de 7 anos] terá incorporado mais alguns milhares de vocábulos, sem contar aqueles
nomenclatura: 5.000 palavras. que já não haviam sido registrados nessa edição por razões variadas.
Um dicionário é um produto cultural destinado ao consumo do Outros dicionários de renome que são tesouros: o Oxford Dictionary of
grande público. Assim sendo, é também um produto comercial, o que o English Language (o grande Oxford) com 400.000 verbetes aproxima-
faz diferente de outras obras culturais. É preciso considerar igualmente damente e o The Heritage Dictionary of the English Language (dicio-
que o dicionário deve registrar a norma lingüística e lexical vigente na nário americano) com um numerário semelhante.
sociedade para o qual é elaborado, documentando a práxis lingüística No caso do português, nossos dicionários gerais são bem mais
dessa sociedade. Por isso, a lexicografia contemporânea considera o di- modestos e incompletos. O "tesouro" mais vasto é a 10a edição do Mo-
cionário sob uma ótica distinta daquela que se tinha no passado. Um rais, reeditado por J. P. Machado para o Editorial Confluência fm 12
exemplo clássico do século XIX é o dicionário de Littré da língua france- volumes (1949-1959), que inclui uma nomenclatura de 306.949 pala-
t
sa, que se pautou exclusivamente em modelos literários. Também nosso vras-entrada. Claro está, que essa obra, baseada num dicionário do sécu-
primeiro dicionarista Antônio de Morais Silva já partilhava este conceito lo XVIII e elaborado há mais de quarenta anos, está muito desatualizada
t no século XVIII, bem como seu predecessor, o Padre Raphael Bluteau
com relação ao vocabulário do português contemporâneo.
i no século XVII e outros famosos dicionários de línguas latinas elaborados
e por Academias de Letras - do francês, do italiano e do espanhol. O dicionário geral do português mais popular é, sem dúvida, o
r NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. A se-
Ademais, os dicionários recolhem o tesouro lexical da língua num gunda edição de 1986 contém 130.000 entradas, sendo, portanto, bem
dado momento da história de um grupo social. Gostaria de lembrar o que menor que aquilo que deve ser o "tesouro" lexical do português brasileiro
afirmei em outro trabalho: contemporâneo. Está no prelo uma terceira edição que deve incorporar
"O léxico pode ser considerado como o tesouro vocabular de uma mais alguns milhares de palavras segundo afirmam os editores. A despei-
determinada língua. Ele inclui a nomenclatura de todos os concei- to de ser bem menor que o MoraislMachado com respeito à nomenclatu-
tos lingüísticos e não-lingüísticos e de todos os referentes do mun- ra, contudo, é bem mais atualizado e ademais, em um só volume, o que o
do físico e do universo cultural, criado por todas as culturas huma- toma mais accessível para os usuários. ",t'Cc> ( I

nas atuais e do passado. Por isso o léxico é o menos lingüístico de ~'


todos os domínios da linguagem. Na verdade, é uma parte do , e c;
idioma que se situa entre o lingüístico e o extralingüístico." 1 ARQUITETURA DOS DICIONARIOS ~' ~

Tendo em vista a definição dada ao dicionário de língua, consta- 1.1. O primeiro problema que se põe na elaboração de um dicio- \
ta-se que apenas o dicionário geral da língua pode aproximar-se do nário é a extensão da sua nomenclatura e/ou macroestrutura. O tama-
ideal de descrever e documentar o léxico de uma língua. Ainda assim, nho desse índice de palavras é fator de algumas coordenadas: em primei- \
esse ideal é sempre intangível, já que o léxico cresce em progressão geo- ro lugar, o público a que se destina. Tal será o destinatário desejado, talo J
métrica, hoje sobretudo, em virtude da grande aceleração das mudanças numerário. Como se referiu acima, nas modernas línguas européias, o
socioculturais e tecnológicas. A rigor, nenhum dicionário por mais volu- modelo padrão de dicionário pode abrigar de 50.000 a 70.000 palavras-
moso que seja, dará conta integral do léxico de uma língua de civilização. entrada. Há quase um século o Petit Larousse vem registrando 50.000
Assim, o maior dicionário geral conhecido de uma língua contemporânea entradas, sendo que cada nova edição, via de regra anual, descarta um
certo número de vocábulos caídos em desuso e os substitui por neologis-
l.Biderman, M. T. "A estrutura mental do léxico" in Estudos de Filo/agia e Lingüística.
Homenagem a Isaac Nicolau Salum, São Paulo, T. A. QueirozJEdusp, 1981, 138. 2. Verdelho, T. Lexicon der romanischen Linguistik, BandIVolume VI, 2, 1994, p.685. 11

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..•
I
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mos entrados em uso. O Petit Robert inclui 70.000 verbetes. A versão vezes (para um total de 50.000 entradas). A seguir, deve-se eXaminar~
canadense desse dicionário, descrevendo o léxico do francês do Québec, . m critério, as listas das palavras de freqüência entre 1 e 5 para eventual-
Dictionnaire Québécois d'Aujourd'Hui (Le Robert, 1992) contém mente coletar outras unidades neste conjunto. Os hapax legomena (fre-
40.000 palavras-entrada (verbetes). Lembro que essa era a nomenclatura qüência 1) serão rejeitados, pois registram idiossincrasias de autores, ou
da segunda edição do Morais (1813). tccnicismos típicos do discurso científico.

A primeira versão do Longman Dictionary of Contemporary Dado o número gigantesco de termos técnicos e científicos, será;
English de 1978 continha 50.000 palavras; hoje já foi ampliado para 55.000. necessário selecionar apenas os termos vulgarizados na língua comum,
Outro dicionário padrão do inglês, elaborado tanto para os falantes nativos geralmente divulgados pelos meios de comunicação de massa. Caso con-)
como para os utentes do inglês como segunda língua é o Collins Cobuild trário, haverá uma sobrecarga de vocábulos de escassa circulação na lín:J
Dictionary of English Language (1987). Os autores desse dicionário - ~~. ~
John Sinclair e sua equipe( University of Birmingham) - basearam-se em Outro problema de difícil solução é o dos regionalismos. O ~
resultados léxico-estatísticos para selecionar sua nomenclatura, operando conceito de regionalismo, especificamente do regionalismo lexical, é
com um corpus de referência de 10 milhões de ocorrências do inglês britâ- muito ambíguo. Os dicionários são lacônicos e até contraditórios no trata-
nico contemporâneo e um pequeno subcorpus do inglês americano. Com mento dessa matéria e formulam um conceito incompleto e inadequado
II uma nomenclatura de 55.000 verbetes, essa obra é o primeiro dicionário de regionalismo. Ora, o conceito de regionalismo remete à questão da
II inglês a basear-se num corpus informatizado da língua [Bank 01English]. norma lingüística.
I Outro dicionário destinado ao grande público, lançado recentemente pela
I Cambridge University Press (1995) Cambridge International Dictionary
Alguns pontos devem ser considerados no enfrentamento desta
ofEnglish registra 50.000 entradas. questão:
a) qual o ponto de referência para definir um termo como regio-
Q De um modo geral, os lexicólogos e lexicógrafos sabem que uma
r{ ( macroestrutura de 50.000 verbetes é mais do que suficiente para o gran- nal?
1I !J li de público, já que ela contém um número de palavras enormemente su- b) se o vocábulo é regional relativamente a um dialeto padrão,
I "perior às reais necessidades vocabulares do homem médio, mesmo o qual é esse dialeto padrão, de qual região?
i I culto. Via de regra, um homem culto domina, no máximo, 25.000 pala-
O dicionário Aurélio, por exemplo, classifica como brasileiris-
vras no seu léxico tanto ativo como passivo. Contudo, os léxicos das
mos um grande número de palavras; ora, essa perspectiva é evidente-
línguas modernas de civilização são espantosamente maiores, em virtude
mente a da ex-metrópole - Portugal - tal critério remete ao português
da pletora de termos das técnicas e das ciências. Por conseguinte, um
europeu como norma padrão.
problema crucial a ser considerado é: como selecionar 50.000 palavras
(ou mais) do gigantesco acervo lexical existente nas grandes culturas? Por outro lado, quando termos regionais designam fenômenos
1)- -Ó ' ou referentes da realidade regional, tal fato ocorre por causa da coisa
.Para uma seleção criteriosa e científica, a estratégia correta é o
nomeada e não por causa do signo. Assim, por exemplo, no português do
recurso a uma grande base textual, um enorme corpus de dados lingüísticos,
Brasil vocábulos oriundos de diferentes regiões do país:
de discursos realmente realizados -língua escrita e oral - para daí extrair a
nomenélatura desejada com base em critérios léxico-estatísticos. Esse Amazônia: boto, curimatã, gaiola, igarapé, poronga, pororoca,
corpus deve conter, no mínimo, 10 milhões de ocorrências de todas as quatipuru, seringa, tucunaré;
modalidades de discurso e/ou texto para garantir a representatividade do Sul do Brasil: arreglar, enriconar, bagual, bombachas, bomba de
acervo lexical da língua, bem como de seu uso. Desse efetivo selecionar- chimarrão, chimarrão, china, chiripá, guaiaca, mate, poncho, querência;
se-á numa primeira etapa, as palavras que ocorreram pelo menos cinco
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".
· Nordeste do Brasil: aipim, caatinga, cajueiro, jangada, dos pelo escritor mineiro tais como: aldemenos, alembrar, arras,
macaxezra, maruim, marruá, oitizeiro, saveiro;
arruido, asinha, aventesma, bofé, convinhâvel, fiúza, fremoso, guai,
.. .Pantanal: anhuma, curicaca, seriema, tuiuiú, acuri, aguaçu lmigo, malino, menhã, mezinha, palafrém, percisão, perjuizo,

<}..
canju}uezra, peúva. ' ,.imembrar; semideiro, sorveter, sujigar, etc.
Por outro lado, muita vez o arcaísmo se identifica com um re-

~
C~m base em estudo de Boulanger (1985) creio que se pode
c (V definir ~eglOn~Iis~o: qualquer fato lingüístico (palavra, expressão, ou ionalismo brasileiro; de fato, no português do Brasil a manutenção de
seu sent~do) propno de uma ou de outra variedade regional do português palavras fósseis do período medieval da língua não é fenômeno raro. São
do Brasil, com exc~ção da variedade usada no eixo lingüístico Rio/São típicos os casos com a prótese a « prep.) como os vocábulos acima
Pa~lo, que se con~Id~ra como o português brasileiro padrão, isto é, a itados respigados na obra roseana: alembrar, arresolver, arruído.
vanedade de ~e~e~encIa,e com exclusão também das variedades usadas Além disso, outro problema é posto pelas obras históricas, quer
em outros terntonos lusófonos.
se trate de historiografia científica, quer se trate de romances históricos.
,~ Outra questão delicada diz respeito aos arcaísmos e/ou pala- Nesse contexto evidentemente ressurgem um grande número de palavras
/ vras/~xpressões caídas em desuso ou que se tornaram obsoletas. O desa- que denominam referentes desaparecidos da sociedade contemporânea.
par:cImento de um referente ou de uma realidade qualquer (costume Assim, o romance de A. Miranda, Boca do Inferno, biografia romancea-
fenomeno cul~ral, etc.) na vida de uma comunidade pode levar a palavra da do poeta seiscentista Gregório de Matos, contém um elevado número
que os ~e~omma ao envelhecimento e à morte, perdurando apenas em desse tipo de vocábulo, a saber: adaga, alcaide, alfanje, arcabuzeiro,
forma fóssil nos doc~mentos da língua. Isso não impede que ela possa vir bacamarte, barregã, degredo, espada, espadachim, gadanho, garrucha,
a ser us~da ~sporadIcamente em dois tipos de situação pelo menos' em liteira, etc. Todas essas palavras testemunham realidades do passado,
t~xtos hIstóncos (c.ientíficos.~u de ficção histórica) ou em criações li~erá- embora eventualmente algumas dentre elas possam continuar a ser usa-
nas quando um artista a reutiliza com finalidade estética. das hoje, porém, com valor semântico diferente [caso de degredo]. Ca-
sos similares são os das palavras cuja primeira acepção ou uso remete a
Veja-se, a título de exemplo, arcaísmos que registrei em roman-
um referente de passado muito distante e nem mesmo de nossa cultura
c~s e obras contemporâ~eas: almotacé ( do séc. XIV, em Ficção e Ideolo-
luso-brasileira, como por exemplo: êxodo « do hebraico), faraó e
gia, 1972), arras (do seco XIII em O analista de Bagé 1982) lt. .
(d ' XVI A • ,,a aneria hieroglifo « do egípcio), patrício e tribuno « do latim clássico). Via de
o seco em ~r~mca da Casa Assassinada, 1959), alarves (do séc.
regra, um dicionário geral da língua registrará essas palavras. Esse tipo de
XIV em Inn:.0duçao a Antropologia Brasileira, 1951) , alestado (do séc.
vestígio verbal arcaico indica claramente como o léxico constitui o
~I em Chao de Ferro, 1976), adejo (do séc. XVIII em Ave Palavra
repositório dos conhecimentos humanos através das idades. E testemu-
970), ~o~tuméli~ (do séc. XVI em A ladeira da memóri~, 1970):
nha também como o acervo lexical de uma língua de civilização com
despauterzo (do seco XVI em Travessias, 1980), malquerença (do séc
antiga tradição escrita pode ser identificado como um tesouro abstrato e
XV em .Conto ~rasileiro Contemporâneo, 1977), arrepelar, arresolver.·
imaterial, lugar da memória das culturas humanas. Nesse tipo de dicioná-
arrespeztar, registrando uma prótese arcaica (todos três em S '
rio geralmente é apontada como acepção original, a do registro histórico
1951). Al~ás, todas as obras de Guimarães Rosa testemUnhama~~:t~
dessas culturas e, secundariamente, as acepções que tais vocábulos ad-
desse escntor pela palavra arcaica. No estudo Arcaísmos de Guímarã
quiriram no português moderno. A história de todas as culturas registra
Rosa e sua abonação em textos medievais3 Nilce S Marti . aes
, . ms regIstrou um elevado número de palavras que nomeavam grupos humanos, povos,
e comentou um grande número de palavras do português medieval, usa-
nações, fatos, entidades, fenômenos, objetos, enfim, realidades desses
mundos. Cf. por exemplo: caldeus, babilõnios, hebreus, fenícios, hititas,
3· ComtJ.'
UniCdaçcão
apresentada no XIX Congresso de Filologia e Lingüística Românica
S an ago e ompostela, 1989.
medos.jõnios, escriba, múmia, cidade-estado, homérico, geronte, éforo,
'
arconte, areópago, biga, etc.
134
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.•
Em suma para as pal .
humanidade, qual 'será o parâ;;~~ ::c~::eedreferen~~s do passado da Com o advento da era da informática, foi na França, no início da
parte, a seleção d .d d '. as esco as? Em grande .1. (' Ida de sessenta, que primeiro se pensou em constituir uma gigantesca
novamente o ta~~:o ~:s leXICaIlScom essas características dependerá 11 I o textual informatizada para servir de registro e fonte de referência
I :J . ,t;Ys' ,nomenc atura e do público alvo.
I' 11 I a confecção de dicionários - o que se chamou de Trésor de Ia
~;/" 1.2. Convem lembrar ainda dici . 1IIIIlgue Française. Esse "tesouro" é um arquivo monumental de obras
{f ~'(, um dicionário enciclo édico ~ue um ICIOnarIOde língua não é
Vft,: to' rios de língua têm car~cteríS~i~a~e:t:lto dessa re~salva: ~lgun~ dicionã- puhlicadas na língua francesa desde o início do Renascimento (século
()-1( informações das mais vari d amente enclClopedlcas, incluindo .VI a XX) com mais de 100 milhões de ocorrências, acrescida de todos
II manuscritos medievais conhecidos da língua francesa. Já foi publicado
mais belas obras lexicográ~::sn=~:~s; ~~b~e~d? cien~ficas. Uma das
I 11\ dezesseis volumes, o Dictionnaire de Ia Langue Française des xrx=
clopédia, é o VocaboIario DeII L' ~IO~arlo. de h~gua e de enci-
última edição de 1995 (12a) c t,a mglua t~Iana, /0 Zmgarelli, cuja X~mc Siêcles (1969-1994) com base nessa gigantesca base digital, obra
on em exce entes Ilustra - b . I ssa que contém, contudo, 80.000 entradas. O volume de informações
so num belíssimo trabalho áf O ' . çoes so re o umver-
confi ur - gr ICO. centenano Petit Larousse tem essa lingüísticas sobre cada entrada é, porém, impressionante, incluindo até
111 'smo informações de natureza estatística. O verbete lumiêre cujas
cicIO:édi~:~::;:'~~;:~;:s:~~::e~tante brasileiro, o Dicionário En-
I trações de cunho enciclopéd'
ICO.
çoes (1978), obra abundante em ilus- I .cpções abonadas distribuem-se dos valores semânticos da língua cor-

I 'nte, aos domínios especializados como: artes plásticas, astronomia, óptica,

1.3 Outro aspecto muito valori d história das idéias, teologia, mecânica, marcenaria, tecnologia, exibe os
lexicográficas é a documentaçã d . 'fi za o nas grandes obras \ eguintes dados estatísticos: freqüência absoluta literária 19.123 ocorrên-
há muito, os lexicógrafos prezar: ao~ stgm _lcados e usos lingüísticos. De 'ias, freqüência relativa literária: seco XIX 1a metade: 25.783; 2a met.:
cas com que documentam s
a
f a o~açao baseada em fontes autênti- 5.903; XX Ia met.: 27.268; 2a met.: 29.048.
rio. No passado grandes mon::e ltrmalço.esso~re as entradas de dicioná-
d e por esse aspecto de sua .
o Dictionnaire de Ia Lan;~u;tetura,
numental Oxford EngIish Dicti:.:.;a~~~
s:
n os eXlcográficos ganhar 1 b id
am ce e n a-
os mais famosos exemplos
e .r-~ttré(1863-1873) e o mo-
Para a língua portuguesa estão sendo elaborados dois dicionários
fundamentados na informática. Em Portugal, a Academia de Ciências de
Lisboa sob a direção do Prof. J. Malaca Casteleiro da mesma Academia
estruturou-se como uma obra !,"edição 1884-1928). O Oxford da Universidade de Lisboa e sob a coordenação da Prof a. Maria
com citações de obras Variad;sql~etn~~ so abo~ava os usos ilustrando-os emanda Bacelar do Nascimento, escreve-se um dicionário contemporâ-
, 1 erarlas ou nao como tamb ' neo da língua portuguesa, que deve conter umas 70.000 entradas, inspi-
cupava com registrar a '. ~.' em se preo-
. primeira ocorrência da pal d rado no dictionnaire do trésor acima referido. No Brasil, sob a direção e
da língua. Quanto ao Littré f' avra nos ocumentos
,pre IrOcitar trabalho anterior a respeito: coordenação do Prof. Francisco da Silva Borba, na UNESP, elabora-se
um dicionário contemporâneo do português, cuja abonação e/ou docu-
francesa,"~~!~é :de ser considera~o, u.ma obra-prima da lexicografia
mentação baseia-se num corpus informatizado do português brasileiro
p a os modernos cntenos lexicográficos Littré d di
COu-semonacalmente à confecção do seu dicio ' . . e 1- contemporâneo de 17 milhões de palavras (a partir de 1950 em diante). )
um inovador para o seu tempo'
anteriores a 1830 (os lá .

da.?"
c aSSlCOS
b nano durante 30 anos. Foi
,em ora seu exem 1"
.
para Littré) constituí
tório léxico e de escolha de citações ' '1
,. 1
p ano so me ua autores
d 1
.: um mo e o de reper-
como I ustraçao das palavras-entra-
A MICROESTRUTURA DO DICIONÁRIO DE líNGUA
2.1. O primeiro problema a ser considerado é o da identificação
Y,
da unidade léxica que constituirá lema ou entrada de dicionário. Faz-se
necessário uma fundamentação lexical teórica que forneça critérios para
4. Bidennan M T C "A 'A • ;; :
tal. Um dos maiores defeitos dos dicionários tradicionais (o AURÉLIO
, . " ciencia da Lexicografia" inALFA S P u1 sendo um deles) é o fato de não se terem fundamentado em critérios
, . a 0,28 (supl.), 1984 3.
136 '

137

"
binatórias lexicais discursivas po-
. . J'unto aberto. A s com . d 1" as
lexicológicos, sobretudo o estabelecimento de um conceito lingüístico de lI11stlturrum con . " freqüentes de umda es exic
. d eras comblllatonas
palavra; melhor dizendo: uma noção clara de unidade lexical. De fato, a ti '10 deIxar e ser m id des do léxico da língua.
I Ira se conve rt ere m
em novas um a .
definição de palavra levanta vários problemas teóricos com conseqüên-
I " . de uma ortografia conservadora e I.ncon-
cias práticas na sua identificação e tratamento ortográfico e lexicográfico. Alem dISSO,em virtude .d d lexicais estejam categonzadas
. b numerosas um a es , .
Lembremos que o lexema (palavra no vocabulário corrente) é lstente, muito em ora. _ d afadas como se fossem vanas
~)-Yt{'~maentidade abstrata que constitui um elemento permanente do sistema mo tal ao nível do léXICOsao, CO?tu o, grd' condicionado, assisten:
d b'güidade E o caso e. ar A •

1\\ . ngüístico. Ao nível do discurso essas unidades abstratas podem mani- unidades, geran o am I
di
'.
gresso nacwna, ces
I ta básica, caixa eletronlCO,
festar-se em formas fixas, podendo, porém, assumir formas variáveis. , ' social, bom w, con I h d retalhos corpo docente, curto
-: Numa língua flexiva como o português um lexema pode assumir várias caixa preta, código de barras, co ~ a ~bra ótic~, folha corrida, força
formas compondo um paradigma (caso dos verbos, dos adjetivos e subs- circuito, dólar paralelo, dor de .ca e~a, ha a ré papel higiênico,
maténa pnma, marc ,
tantivos), mas pode também manifestar-se como formas aparentemente 'entrifuga, fossa negra, . d 'udiciário prata da casa,
. d r legislatlvo, po er J ' b'
discursivas. Nas realizações discursivas (orais e escritas) as fronteiras poder execuuvo- po e _ . I .+. rma agrária, saneamento a-
.+" . ressao artena , rejo , 1
entre uma unidade lexical complexa e um sintagma discursivo são difusas. pressão atmosjenca, P d leit ona Franca. Temos ai a guns
-título e e et or, z j' , d
Existe toda uma gama de soldadura entre os elementos de uma seqüência sico tábua de sa l vaçao, f t s das mais variadas are as o
, . metem are eren e
lingüística, aquilo que podemos chamar de lexia complexa. Assim, pode- exemplos de SIgnos qu~ ~e videnciando quanto este pro-
conhecimento e das atIVIdades humanas, e
mos identificar lexias complexas cujos elementos componentes estão per-
feitamente soldados, e outras com um forte índice de coesão interna. blema é pervasivo. orão a
, d .di se essas lexias complexas comp .
Quase poderíamos afirmar que a freqüência do uso vai dando aos falan- Isso posto, cabera .ecI Ir d mo entradas de dicionárIO,
." aparecen oco
L tes um forte sentimento de cristalização da seqüência discursiva. macroestrutura do dIcIonarlO b tes como subentradas dos mes-
. adas a outros ver e 1 -
) Em parte esse problema se origina de uma característica funda- ou se serão lllcorpor _ 1 se o problema das ocuçoes
ssa questao, co oca- .
mental da linguagem humana: a economia lingüística. De um lado, palavras mos. Paralelamente a e d b"s _ a gosto ainda aSSIm, a
. 1 tai como' a ver iat ' .
simples são utilizadas em vários domínios diferentes do conhecimento, de cunho gramatlca ais '. de acordo de soslaio.
mais daqui a pouco, ' d
multiplicando os valores semânticos da palavra e gerando o fenômeno da limpo, ao longe, ca d a vez '. . o de além de, a ponto e,
te preposlÍlvas - a carg, .'
polissemia; b) por outro lado, palavras simples podem combinar-se entre si P or pouco, uma vez, e '. I de etc. conjunClOnals -
. d à guisa de emp. o , .
de modo quase infinito, resultando unidades complexas. com relação a, de CIma e,. ' 6da vez que, 'da mesma maneIra
além de que,_a-me1!:P-s que ... ") assim que, oa'--- que por conseguznte, . etc.
O reconhecimento de unidades lexicais complexas, especialmen-
que, doZ;;;..'
mo modo_qzce, logo que, nem) ele (s) mesmo(s), ele(s)
. o mesmo-tu. os, as , .
te em vocabulários especializados, é problema espinhoso; sua identifica- pronommalS - consig fiosse onde quer que, seja
ção constitui uma séria dificuldade teórica. Poucas são as lexias comple- I Fosse fossem quem , ,
próprio(s), fiosse 'qga J' • ' r]i- t Ãtradiçãolexicalportuguesae
xas cujo valor lexical está bem constituído. Não existem critérios teóricos onde FOr.seja o que for, seja qua or, e c. bete da palavra-chave ou
J' , . lexi omplexas no ver
bem estabelecidos para o reconhecimento de tais unidades. O fenômeno a de dar guarida a tais exias c d recer aceitável incluir como
da lexicalização das unidades complexas não se verifica de modo unifor- principa1. Se, em alguns cas.os, po e P~u de modo _do mesmo modo
me. Os falantes discordam quanto ao grau de cristalização dessas unida- subentrada de consigo - consIgo mesm~, e será razoável abrir uma
des, máxime os grupos profissionais, usuários das linguagens . da mesma maneira qu , id d
q ue e de maneIra - _ . tem mais como um a es
especializadas. . oslaio que nao eXIS
entrada para gUIsa ou s 'A ara poder abrigar as lexias com-
Como a língua está em perpétuo movimento, seu caráter de simples no português contem~oraneo P tr lado se do ponto de vista
, . d d soslaIO? Por ou o , -
inacabado e de devir está sempre presente, sobretudo no léxico, visto que plexas - a gUIsa e, e, d' ão da lexia complexa, nao
ético a lexia simples esta na base a cnaç
essa é a parte do sistema lingüístico mais suscetível de mudanças por geneI , 139

138

".
. o cair das nuvens, dar murro em ponta
haverá duas outras razões para agir diferentemente? 1) trata-se de uma I .xías complexas: cair de quatn '. ação ficar de pés e mãos
d fi er das tripas cor ,
nova unidade do sistema; 2) será mais fácil para o consulente identificar a (I? faca, fazer as suas, az lh aber a quantas anda, saber de
lexia complexa no dicionário se ela não estiver embutida num outro ver- nmarrados, passar desta para me .or, s rpofiora etc Nestes casos a
. em pôr. tirar o co "
bete. Dicionários há que vão muito longe na compactação dos cognatos cor e salteado, sem tirar n. 'd' essões verbais idiomáticas ao
em subsistemas lexicais. É o caso, por exemplo, do Lexis (língua france- tradição lexicográfica tem incluí o tal s expr ssão o que não parece
fim do verbete do verbo-base ad expre ,
sa) que classifica as unidades léxicas em farm1ias de palavras; assim, os
derivados e compostos são reunidos no mesmo verbete e a justificativa
para isso é: partilham os mesmos traços semânticos com a palavra-entra-
da. Contudo, muitas vezes os laços semânticos já se afrouxaram muito.
desaconselhado.
r (
I ~
Ainda com respeito à identificação ~a.unidadelilexlc~ e
ento da homommla X po ssemla.
",
~:%~~ .

" ~eferir o problema do tratam 1 faz na França o procedimen-


Mais do que isso: essa metodologia pode dificultar a consulta para o ,. . af b etudo aque a que se '
dema lexicogr Ia, so r 1 d grafl'a idêntica (mesmo
consulente não familiarizado com métodos estruturais e suas aplicações id hA imas pa avras e
to tem sido consi ~r~r omon, di tintos a ponto de ser difícil para o
em lexicografia, pois o público não é constituído de lingüistas. A reunião , .' )' mflcados muito lS 1 , ,
slgmÍlcante e sig doi mais homônimos. E o caso,
das lexias por farm1ia é também a prática de dois dicionários etimológicos identif comuns aos OlSou LU

falante identi icar semas d 'dentificar quatro homônimos:


do português: o de J. P. Machado e o de A. G. da Cunha. A despeito da t em que po emos 1 2
por exemp 1o, d e pon o, recisão > ponto < grau de-
justificativa etimológica e histórica para tal procedimento, o consulente ponto] < porção do espaço designada co~~ cada parte de um discurso,
comum terá certamente muita dificuldade para localizar numerosas pala- terminado numa escala de valores> pon o t04 < cada extensão do fio
vras no seu verbete adequado. ista d t de um programa> pon . .
de uma lista e assun o, , lh > Hoje já não se discnfil-
O problema das lexias complexas remete também à questão igual- de linha entre dois furos feitos por uma ~gt~ oa S~ndo possível identificar
A ' base no mesmo e 1m .
mente desafiadora das seqüências de combinatórias lexicais ainda maio- na os homommos com ema entre as várias acepções
los menos um mesmo s ,.
res. Duas categorias são típicas: os sintagmas nominais e os sintagmas semas comuns, ou pe, . te o dicionarista devera in-
r
da palavra, ocorre po issemia;
mia: por consegum ,
- da mesma lexia num único
verbais. Citei alguns sintagmas nominais acima. No domínio científico
cluir esses valores semânticos como acepçoes '
esses sintagmas são extremamente freqüentes; ademais, tais neologias
surgem continuamente nas linguagens especializadas. Assim, esse proble- .verbete. _
ma toma-se altamente complexo, desafiando os lexicógrafos. Os sintagmas - oderei tratar de todas as muitas e complicadasquestoes
N ao p di ârio de língua no espaço de tempo de
referidos, a seguir, constituem unidades léxicas ? Cf: acelerador de partí-
postas pela arquite~ra ~e um , ICl~~:scutida a problemática da tipologia
culas, centro de alta pressão, centro de baixa pressão, padrão de quali- que disponho. ASSIm,nao ser: aq . ráfica temas que já abordei em
dade do ar, zonas de pressão atmosférica, relatório de impacto ambiental l
dos verbet~s n:,m da definiça:e;:::!da qu;stão muito relevante qual
(rima), taxa de mortalidade infantil, fundo de curto prazo, fundo de outras pubhcaçoes, Tampouco dici '0 de língua bem como a da
renda fixa, mercado de capitais, mercado de moeda estrangeira, título , t dos afixos no IClonan
seja a do tratamen o d ' dos sobretudo por prefixação, os
de dívida pública, direitos especiais de saque, renda per capita, ácido inclusão ou não dos numerosoS enva , ,
desoxirribonucléico (ADN ou DNA), sistema de transmissão de sinais, quais incham o léxico contemporâneo de nossa língua. , .
ultra-alta freqüência, linguagem de programação, placa de compressão ~ " d lembrar que outra caractenstlca e qua-
de imagens, placa digitalizadora de imagem, processado r de imagens, J.f,.~ -a tl-hl Para concluir, gostana di " o de língua são as referências
processador de texto, processador digital de sinais, programa de trata- V\r Iidade muito impo~an:e de ~m a:~~~ente úteis para o consulente as
mento de imagem, reconhecimento óptico de caracteres, servidor de cruzadas e/ou rennssoes. S~doP, as redes léxico-semânticas em que
referências cruzadas que evi encIam A

rede local, sistema operacional multiusuário, unidade central de , o 1'exico


' po rtugues .
se estrutura e orgamza
processamento, etc.
Alguns exemplos na classe do verbo para encerrar a questão das 141

140

'.
hav. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
nov BIDERMAN M T C '.
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lexi RIO de Janeiro, Livros Técnicos e C' tífi gu tica quantItatIva e computacional)
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sa) BOULANGER J . C . LeXIS.
. Travaux de 11'
der juin 1982.
, .
ennmologze. n" 2. Université Laval, Québec,
O caso do tupi, os neologismos
par Erasmo d'Almeida Magalhães
da. Universidade de São Paulo
M"
cor
Universidade Estadual Paulista! Araraquara

em
d~
do
JUS
COI
vrc
compulsar dos textos produzidos por religiosos, mormente jesuí-
tas, permite afirmar, sem incidir em erro, que, nos dois primeiros
me séculos de atuação em terras americanas, os missionários tinham como
I
re~ meta primordial aprender e bem conhecer a língua dos naturais da terra.
ve' Nas Constituições da Companhia de Jesus já se determinava que os
es: catequizadores procurassem "tomar bien Ia lengua", a fim de aplicá-Ias
su: nas escolas que se estabelecessem.
rm
rei
Para cumprir tal desiderato foram feitas descrições lingüísticas
eu (publicadas sob o nome de gramática), organizadas lições de doutrina
da cristã em línguas indígenas e preparados dicionários e vocabulários, a
(n
maior parte bilíngües (língua indígena x portuguesa ou espanhol).'
re A disseminação desses escritos e as aulas ministradas nas escolas
di dirigidas por clérigos levaram à difusão do Tupi litorâneo, denominado
di pelos estudiosos língua Tupinambá, um dos focos de nossa atenção, de-
ul vendo ser lembrado que outras línguas indígenas correntes na colônia não
dI foram, praticamente, objeto de estudo.'
pJ
m 1. Os escritos sobre línguas indígenas brasileiras, no período colonial, não abrangiam muitos
Ti títulos, ao contrário do ocorrido na América espanhola, onde, já no século XVI, se dispunha
de várias gramáticas e diferentes catecismos nas línguas Aymara, Nahuatl, Quechua,
p,
etc.
2. O Pe. Fernão Cardim registrou, em 1584, mais de 60 línguas distintas do Tupinambá, na
142 região compreendida entre os atuais Estados de Sergipe e Rio de Janeiro.

143

-.
I••••

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