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De Nelson Peixoto
A partir do argumento Original de Patrick Rolando.
Colaboração: Fábio Umêda.
TELA EM PRETO.
"A paz do Senhor, irmã (ão), seja bem-vinda (o) à casa de Deus e a nossa comunhão entre irmãos!"
CORTA PARA:
PLANO AMPLO da fachada de recepção do templo.
INSERT DA FAMÍLIA ANDREW'S CHEGANDO - Beatrice, Andrew, Caroline e Dener (todos vestidos
de forma elegante e comportada. Dener e o pai em terno completo.
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DYLAN: Fala, Stuart!... estou na igreja do meu amigo, não tem como eu passar na sua casa
agora... Ah, sim, entendi... você também está na Igreja com seus pais, legal, depois
eu passo ai, mas não vou entrar não, te chamo no portão... tá legal, tá legal...
DYLAN: Desculpa ai, cara, estava falando com um amigo! Mais e ai, tudo legal?
DENER: Fico feliz por ter vindo mais uma vez ao nosso culto e espero que permaneça
conosco!
INSERT DE UM CARRO PRETO ESTACIONANDO FRENTE À IGREJA. VEMOS sair dele SAMUEL que
logo de imediato pega na mão de BIANCA que também saiu do automóvel junto com os pais do
namorado. Todos muito bem vestidos: Samuel e o Pai em terno completo.
DENER: ... Vou te apresentar um amigo meu aqui da Igreja! Samuel... (chamando a atenção
do amigo que passa)
DENER: Oi Bianca, olá Samuel! Que bom que vieram. Fico feliz por vê-los tão dedicados a
Igreja! (Num leve sorriso de contentamento) Acho que vocês já se viram no culto
anterior, mas não tive tempo de apresentá-los uns aos outros. Este é o Dylan;
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estudávamos eu e Caroline na mesma escola... Dylan, este é Samuel um dos nossos
jovens obreiro aqui da Igreja...
SAMUEL: Dylan, prazer em encontrá-lo aqui na casa do Senhor! (voltando-se para Dener com
toda naturalidade possível) Mas que coincidência, Dener, parece que o Senhor traça
um mesmo caminho para todos os seus servidores, pois não é que eu e Dylan já nos
conhecemos?!...
DENER: Amem, amem! Louvado seja o Senhor que nos faz ovelhas de um mesmo rebanho!
(Entusiasmado)
DYLAN: Sim, já tive o prazer de conhecer o Samuel e sua encantadora namorada Bianca...
Meus pais conseguiram me transferir para a escola de sua família que, por sinal,
estou encantado! A escola é de uma harmonia indescritível e Samuel já de imediato
despertou minha admiração pela nobreza com que convive com os colegas e
vivencia os ensinamentos de Moises, digo, de Jesus, junto a todos os alunos...
(Dylan ironiza usando português esmerado e correto bem como o trocadilho entre
Moises e Jesus para provocar de forma indireta a Samuel)
DENER: Temos muito que conversar e agradecer nesta noite de louvor pelas agradáveis
coincidências.
CAROLINE: Vejo que nós mulheres temos pouca chances de opinar nossas opiniões quando em
comum com nossos "machos"!
DENER: Mas vamos ao salão lá dos fundos, destinado ao culto dos jovens! Hoje estou me
sentindo até mais inspirado à palavra devido os presentes do senhor neste encontro
de amigos!
PLANO FECHADO na mão de Caroline que segura o braço de Dylan, fazendo-o retardar dos
demais:
PLANO FECHADO EM DYLAN que retira do bolso da jaqueta três papelotes e entrega para Caroline.
Ela estende pra ele uma nota de Cem reais (ou a nota de maior circulação contemporânea):
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CAROLINE: Já que eu tenho interesse nos dois, deixo a escolha ao seu critério!
DYLAN: (Falando sem se voltar para Caroline, olhando pra frente) Vou investir no
primeiro porque o segundo já atingiu o tamanho satisfatório!
CORTA PARA:
PLANO GERAL. VEMOS UM CARRO PARADO E MAÍSA andando de um lado ao outro ora por vez
consultando o relógio.
PLANO GERAL MÉDIO - ÂNGELA sai no portão, abraça Maísa, logo em seguida ambas entram no
veiculo, saindo.
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DYLAN: To ligado, cara! Foi maneiro sim, gosto dessas paradas de ouvir você pregar moral!
Mais agora, daquele portão pra fora é cair na real e ir à luta...
DYLAN: ... mais só pra garantir diz pra ele que eu to ligando, viu! Vai que o cara não anda
abrindo o "Messenger"! Já falou com seu pai sobre o "trampo" que eu cantei?!
DYLAN: Aaaaah!! Agora senti firmeza! Nessa cabeciiiiinnnnnha.... (apontando com o dedo
em direção ao órgão sexual do amigo e subindo até parar na direção da testa)
...santa também cabe alguma sacanagem!
DENER: Dylan! (repreendendo o amigo) Sabe que se rolar este tipo de coisa não tenho
interesse!
DYLAN: Eu sei, por sinal eu vi. Todas as vezes que ela se despediu de você aqui no culto te
dando um abraço de irmão, você se segurou legal.... (Erguendo o braço e baixando-
o a seguir usando como metáfora de excitação masculina com repentina
desestimulação)
DENER: Cara, isso é coisa da sua cabeça! (Admirando com certo ar de censura)
DYLAN: To só tirando uma, cara! (rindo) mas, é só pra te ligar na parada que ela confirmou
pra este fim de semana e faz questão que a gente vá! Já pensou você bolar uma
festinha pros amigos e os caras não dá moral? É na maior caridade que a gente vai
lá, velho! Depois te passo a "Loka"...
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DYLAN: Fui!
STUART: Liguei pro Beto, cara! E ele falou de você... to mal, velho, e bem pouco interessado
em te passar sermão...
DYLAN: Não quero que use essa merda, to nessa só pra levantar uns "cascaios" pra sair do
sufoco, mas assim que passar essa maré vou chutar a barraca e mandar o
fornecedor pra puta que pariu...
STUART: Também não sou trouxa de nadar nessa maré até me afogar, mas é que agora ta
foda, cara... Toma... (tirando do bolso uma cédula de dinheiro)... não to te pedindo
nada! Vai, enche o rabo do seu traficante... ele sim, que tem que ir pra cadeia!
DYLAN: (Tirando os papelotes do bolso) E irá, velho, pode ter certeza disto! Mesmo que eu
me "foda" junto, mas que eu vou empurrar o cara pra merda, ah, isto eu vou!
PLANO FECHADO NUM ESPAÇO VAZIO: VEMOS A MÃO DE DYLAN ESTENDER os papelotes e o
INSERT quase agressivo da mão de STUART pegando o mesmos.
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INT. CASA DE STUART. SALA PRINCIPAL.
STUART ABRE A PORTA entrando. Depara com MICHAEL postado no centro da sala.
MICHAEL: Com quem você estava conversando uma hora dessa lá no portão?
STUART: Com Dylan, aquele meu amigo que vem sempre aqui em casa!
MICHAEL: Dylan! O que ele veio fazer aqui uma hora dessas?!
STUART: Não sei o que você chama de tarde! Acabamos de chegar da Igreja, e ele também
acabou de sair do culto. Passou aqui pra me falar de uma garota que me interessei
lá da igreja dele...
STUART: (Explodindo) Porra meu! Será que você vai controlar até quantas vezes eu ejaculo?!
ÂNGELA dá alguns passos, fica intrigada por ver MICHAEL e STUART num silêncio aparentemente
injustificável:
MICHAEL: Essa aí não vai mais a nossa Igreja, porém, infalivelmente sai uma vez na semana à
noite com a amiguinha sem dizer pra onde vai e como vai. Isto nos dias que estou
em casa, imagina nos dias que estou em escala no interior?! ...
ÂNGELA: Não vejo motivo de explicar a mesma coisa todas as vezes que saio com Maísa. Já
falei que prefiro ir à religião dela que a nossa, é uma questão de afinidade!
STUART E ÂNGELA saem do ambiente sem qualquer palavra, indo para seus quartos.
FADE OUT.
PLANO ABERTO EM FADE IN SURGINDO A NOSSA FRENTE UM LINDO ALVORECER COM IMAGEM
PRIVILEGIADA DO LAGO NO PARQUE INDIGENA E A BELEZA NATURAL DOS EDIFICIOS EM TORNO –
AO FUNDO UMA CANÇÃO EM HARMONIA COM AS IMAGENS.
MESCLAR COM:
VEMOS ÂNGELA E JUNIOR já sentados, servindo-se. IRENE ainda colocando alguns componentes a
mesa, entrando e saindo do quadro/local.
INSERT DE STUART que dependura a mochila na cadeira, sentando a seguir e começando a servir.
JUNIOR: Posso usar seu tablet pra fazer pesquisa pr’um trabalho que o Lucas vai me ajudar
hoje aqui em casa?!...
JUNIOR: Tá estragado...
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STUART: Estragado, não. Você que fuça tudo e acaba desconfigurando! Depois dou uma
olhada pra você...
ÂNGELA: Pode usar o meu tablet também, mano. Adoro quando você usa minhas coisas
porque depois eu ocupo minha cabeça tentando consertar tudo que você coloca de
cabeça pra baixo...
JUNIOR: (Abaixando o tom de voz e confidenciando com Ângela) O Lucas me convidou pra ir
La onde você vai com a Maísa toda semana, disse que é bem legal... mas toda vez
que você vai com ela tenho que ir com papai e a mamãe pra igreja...
STUART: Ai, ai, ai! Vê se dá um tempo, Junior. Já basta as tretas que temos enfrentado...
ÂNGELA: Vou pensar num jeito! Já que o Lucas é irmão da Maísa, quem sabe isso facilite...
ÂNGELA: O pai vai trabalhar hoje no escritório dele aqui na cidade ou está na escala pro
interior?
IRENE: Como sempre né, Ângela! Sabe que seu pai não tem escala fixa... a qualquer hora
pode ser chamado para uma diligencia especial... acho que esta semana vai pra
Ponta Porã. Fico tão aflita quando ele tem missão na fronteira...
ÂNGELA: A senhora sabe que tipo de negócios ele faz aqui no escritório da cidade?
(demonstrando desinteresse)
IRENE: (Sentando-se à mesa) ...Ele tem parceria com alguns empresários, mas não pode
aparecer como sócio devido à função de agente público, por isso montou esse
escritório pra administrar essa atividade extra. Ainda bem que a Telma o ajuda na
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gerência de tudo... nisto ela sempre foi organizada e eficiente... (com um leve
sorriso)
ÂNGELA: Por nada, só estou me decidindo qual curso optar quando for pra faculdade. No
final do ano já temos Enem e nada melhor que escolher alguma coisa que possa
ajudar na economia da família...
STUART: Sim!
PLANO GERAL MEDIO. Visualizamos todos à mesa. Som de suspense começa entrar no áudio.
JUNIOR: Desliga esse celular, desliga esse celular! (exaltado, colocando às mãos aos ouvidos)
ÂNGELA: Alô!
“Irene, sou eu Elias, não desligue, por favor! Não quero atrapalhar sua vida, mas preciso ver meus
filhos, é um direito que eu tenho! Por favor...”
ÂNGELA: É meu pai... é nosso pai Elias, Stuart... ele quer ver a gente...
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FADE OUT.
INSERT DO CARRO DE IRENE estacionando. ÂNGELA abre a porta traseira, saindo do veiculo.
ÂNGELA: Não importa o que acontecer, você será sempre a pessoa mais incrível da minha
vida... amo você!...
STUART: ... Uma mãe é o maior presente que os céus pode nos dar aqui na terra...!
IRENE: (Com os olhos úmidos) ...Eu te amo muito, meu filho, não imaginas o quanto! Os
filhos também são para as mães o seu mais precioso tesouro...
DO PONTO DE VISTA DE IRENE vemos STUART aproximar da irmã na calçada, colocando-se ambos
a caminhar escola à dentro em SEQUENCIA LENTA.
CORTA PARA:
PLANO GERAL MEDIO. ÂNGELA E STUART percorrendo outro corredor da escola, quando:
ANA: Que bom encontrá-los aqui! É que vai rolar uma festinha nesse final de semana e aí
pensei em convidar vocês pra irem também. Acho que vão curtir!...
ÂNGELA: (Num meio sorriso) Ana, já saquei que o convite não vem assim diretamente pra
mim, e mesmo que fosse, prefiro bolar algo mais quente e privado com o Tiago...
Portanto, acho que o crush aqui tá free... (mostrando para Stuart)
STUART: Mal conseguimos resolver uma variável da equação, você apresenta outra! Cara
você é incrível! (fixando a irmã com olhar de simulada irritação)
/ÂNGELA vira-se voltando pra saída, quando visualiza SAMUEL e VITOR vindo ao
longe, entrando pelo mesmo corredor em direção a eles/
ÂNGELA: ...Principalmente essa! Que merda! (suspirando dando alguns passos em retirada)
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STUART: Espera, onde você vai?
ÃNGELA: Tenho que resolver uns problemas e depois que o portão fechar não consigo mais
sair ...
STUART: Oi, Ana, desculpa, é que to meio sem cabeça... mas, do que você tava falando
mesmo?!
ANA: (Aproximando mais do corpo de Stuart) Da gente ir junto no Happy Hour da Denise,
neste domingo agora... vai ter piscina e tudo e ai.. a gente poderia...
STUART: Ah! Legal, Ana... (preocupado com Ângela que se distanciou às pressas)... a gente
poderia falar sobre isto no intervalo com mais tempo?!
ANA: (Vibrante) Ah! Que bom! Então você já aceitou?! – (beijando os lábios do rapaz de
súbito)
VITOR: Que foi cara? (pegando no braço do amigo) Deixa esse babaca pra lá!
VITOR PUXA SAMUEL e ambos continuam o percurso. SAMUEL ainda olha pra trás uma última vez.
STUART: Vou resolver umas paradas primeiro, Aninha! Mas prometo pensar com carinho no
convite, tá legal?!
CORTA PARA:
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EXT. EM FRENTE DA ESCOLA DE ÂNGELA.
CORTA PARA:
BIANCA: Samuel!
BIANCA: O que aconteceu pra esse mau humor todo? Acabamos de nos falar pelo celular e
você estava super alto astral...
CORTA PARA:
EXT. DIA. EM FRENTE AO ESCRITORIO DE MICHAEL (Obs.: Mesmo escritório mostrado no Episódio
04 na visita de Caroline a Michael):
O VEICULO estaciona. Vemos ÂNGELA sair do veiculo e fechar a porta. O Carro distancia, saindo do
local. Ela olha em direção a fachada do local onde é escritório, ajeita a mochila aos ombros,
caminhando de forma decidida para a porta de entrada.
CORTA PARA:
STUART: Era assim também com Ângela e, às vezes, agredia todos nós em casa! Se cuida,
cara!
STUART ACENA “OK” com uma das mãos, sorrindo amavelmente pra garota e entrando a seguir na
sala de aula.
CORTA PARA:
INT. RECEPÇÃO DO ESCRITORIO DE MICHAEL:
PLANO GERAL MEDIO. ÂNGELA surge de ímpeto na recepção. A secretária atende a moça de
sobressalto:
Carmem: Está em reunião com a Sra. Telma, mas posso avisar que você está aqui.
CORTE PARA:
MICHAEL: ...Como que aquele verme conseguiu o contato da Irene?! Você acha que eu sou
otário? (irritado)
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TELMA: ... Eu já falei que não fui eu que passei o contato de Irene pro Elias. Eu não vejo esse
cara há séculos...
MICHAEL: Você não me engana, Telma, tenho certeza que foi você. Eu sei que na verdade
você quer me fuder, isso sim!... (exaltado)
MESCLAR COM:
MICHAEL: Tudo bem, já que você está cem por cento do meu lado, então vamos fazer um
negócio...
MICHAEL: Quero que você apague esse cara; não importa quanto vai pagar por isso, mas
quero serviço de gente grande. Aí eu quero ver esse porra cantar de galo querendo
ver as merdas dos filhos que ele colocou no mundo. Com isto, de quebra já tenho
uma prova da sua fidelidade...
TELMA: Você enlouqueceu de vez! Não ta vendo a enrascada que a gente pode se meter!
TELMA: Eu não sei que casa pode cair pra mim! To vendo que perdi meu tempo ficando
enrolada nessas suas promessas. O que você tem efetivamente me dado pra tudo
que eu facilito pros seus negócios sujos? Cara, se eu abrir a boca naquela distrital
que você trabalha; cê tá na merda, ou no mínimo ocupando a cela que o Elias
acabou de esvaziar! Como vai explicar o sumiço de pacotes e pacotes de cocaína
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que subtrai do depósito de apreensão toda semana e tranca no cofre insuspeitável
de seu lar doce lar...?!
MICHAEL: Já falei pra dá um tempo que to ajeitando as coisas. Você vai se dar bem, mas pra
isso acontecer é bom eu não pegar nenhum vacilo seu...
TELMA: ... mas até quando vou ter que limpar privada?! Pois até hoje é o que tenho feito
pra você. Te ajudo em tudo que é enroscada que você se mete e ainda de quebra
vivo abrindo as pernas toda vez que a Irene tá com dor de cabeça... e olha que
ultimamente a dor de cabeça dela parece que não passa porque você anda
comparecendo, hem!?
MICHAEL: (Indiferente aos insultos de Telma) Volto daqui três dias e espero que tenha
resolvido essa questão. A minha parte já estou fazendo...
MICHAEL: Você não queria ter seu próprio salão? Estou fechando negócio com o Zé, vou
comprar o prédio onde ele toca aquele açougue. Dois meses é o suficiente pra eu te
entregar o negócio montado e funcionando. Tá vendo como abrir as pernas nas
horas certas pode resolver a vida?! Basta abrir pra pessoa certa! (Ironia)
PLANO GERAL MÉDIO. VEMOS MICHAEL pegar sua pasta de trabalho, dar alguns passos e parar
enfrente à TELMA:
MICHAEL: Tenho certeza que você será mais uma vez muito eficiente, ou melhor, perfeita!
MICHAEL CAMINHA em direção à porta, leva sua mão ao trinco, abrindo-a de uma só vez.
TELMA: (Num sorriso irônico) Acho que você vai ter que matar a geração inteira!
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MICHAEL: Vontade não me falta! - /resmunga/.
CORTA PARA:
MENSAGEM: “Você não me conhece ainda, mas sou Ângela sua filha. Toma cuidado que meu
padrasto Michael planeja te matar!”.
MESCLAR COM:
CORTA PARA:
INT. CASA DE STUART. CORREDOR INTERNO. Vemos IRENE aproximar da porta do quarto de
JUNIOR com uma bandeja com lanches na mão:
IRENE: (Batendo na porta com suavidade) Junior, meu filho, trouxe lanche pra vocês...
PLANO GERAL MEDIO. VEMOS Junior e Lucas sentado em torno de uma pequena mesa de estudos.
Tem um livro aberto em destaque sobre a mesa por entre outros cadernos e livros.
LUCAS E JUNIOR apressam em esconder o livro dentro da mochila, voltando a sentar e mostrando
naturalidade.
IRENE: Vão aprendendo desde novos que a conclusão é o que realmente importa de tudo
que fazemos na vida. Passamos toda uma existência fazendo um monte de coisas,
mas chega um momento em que temos que parar e “concluir” porque fizemos tudo
que fizemos...
JUNIOR: Mas a gente não fez muita coisa, mãe, tá fácil fazer a conclusão!
(falando com naturalidade demonstrando total alheamento ao pensamento
filosófico da mãe)
IRENE: É verdade, meus filhos, vocês ainda não fizeram muita coisa!...
LUCAS: Mas nem precisa fazer mais, dona Irene, já terminamos o trabalho, agora é só
escrever qualquer coisa na conclusão e pronto!
IRENE: (Num sorriso triste consigo mesma diante a simplicidade dos filhos e terminando de
servir o lanche) Éh, escrever qualquer coisa na conclusão... (suspira) E a gente mal
sabe que é ela que justifica todo o resto...
JUNIOR: Cara, tive uma ideia... (entusiasmado e falando ao amigo)... a gente pode colocar
uma coisa muito massa nessa conclusão, vou rascunhar aqui primeiro...
IRENE volta-se para sair do quarto, quando depara com Ângela escorada na porta do quarto.
IRENE: Ângela!
IRENE caminha em direção a Ângela que a fixa sem palavras. Sai do quarto fechando a porta.
LUCAS volta a tirar o livro que escondeu de dentro de sua mochila, mostrando entusiasmo para o
amigo o que antes estavam vendo:
LUCAS: ...Eu ia mostrar pra você quando sua mãe entrou, mas deixa eu achar novamente...
Muito massa cara, explica tudo que a gente sente... (Folheando o livro)
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JUNIOR: Você sente também?
LUCAS: Desde criança, mas eu não conto pra ninguém... Vou deixar esse livro com você,
qualquer coisa você esconde ele... Aqui ó, achei... Leia aqui... Muito incrível, cara!
(sorrindo com entusiasmo virando o livro na mesma em direção ao amigo)
CORTA PARA:
VEMOS Stuart sentado na cama, Ângela e Irene em pé. Todos estão tensos:
IRENE: ...E vocês acham que tem sido fácil pra mim? Tenho suportado tudo por vocês e se
não tivesse renunciado a muitas coisas hoje vocês não teriam a vida que tem...
STUART: Mas que vida que nós temos ao lado desse seu marido? Antes tivéssemos lá
naquele casebre onde você conta que ele te encontrou e nos deu comida, porque
eu acho que foi só isso que ele deu pra gente... Mas comida a gente acha até no
lixo...
ANGELA: Foi legal você ter, desde o inicio, contado pra gente sobre o nosso passado, mas
omitir a existência de nosso pai... não se entende isso, mãe!
IRENE: Foi uma das condições de Michael, que esquecêssemos o passado e também, temia
pelo que pudesse acontecer com Elias no presídio...
STUART: O que você temia? (levantando-se da cama, irritado) que seu marido mandasse
matar nosso pai?! Porque poder e desejo ele tem de sobra pra isso...
STUART: Deixa ela, mãe! Quanto mais discutirmos sobre isso menos a gente vai se entender!
CORTA PARA:
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PLANO GERAL MÉDIO, vemos Dylan sentado em sua cama. Em primeiro plano, no enquadramento,
podemos ver os pinos de cocaína e o tablete em sua mesa. Dylan os encara.
PLANO MÉDIO, vemos a mesa onde estão posicionados os pinos e o tablete. Dylan adentra o plano.
PLANO PRÓXIMO, vemos por cima do ombro de Dylan ele tomar um pino em sua mão.
PLANO PRÓXIMO, vemos Dylan segurar o pino, pensativo. Ele joga o pino na mesa e vemo-lo voltar
para a cama.
PLANO MÉDIO, vemos, da perspectiva do teto, Dylan deitado no chão de seu quarto.
MENSAGEM: PARA DENER: “Confirmado Happy Hour na casa da Denise. Começa as duas pra
gente curtir a piscina! Segue localização...”
MESCLAR COM:
SAMUEL: ...Já falamos tudo que tínhamos que falar! Não adianta insistir, Bianca! Você é
minha namorada, a gente se curte e não vou admitir que qualquer coisa seja mais
importante que a gente estar junto, se curtindo no nosso espaço e privacidade...
BIANCA: Poxa, vida! Aceitar o convite pra esse happy Hour na casa da Denise num único
domingo não significa abrir um abismo na nossa privacidade. Não vejo nenhum
problema em estarmos com nossos amigos e fazermos novas amizades!...
SAMUEL: Nem é por isso, sabe! O que me deixa puto é saber que tudo isto tem o dedo
daquele bosta do Stuart... eu vi vocês dois conversando hoje na entrada da sala de
aula!
SAMUEL: Porra, Bianca! (ainda mais irritado) você piorou ainda mais falando que o convite
veio desse cara! Trocou meio quilo de merda por quinhentas gramas de fezes!...
SAMUEL: Porque todos o defendem o tempo todo da mesma forma que fizeram quando
inventou toda aquela historia de assedio contra meu tio... Encobertam o que ele faz
como se fosse uma eterna vitima!...
BIANCA: Isto é coisa da sua cabeça. Ninguém está encobertando ninguém! E quanto a esta
história maluca de quatro anos atrás, o que me parece é que apenas você parou no
tempo e não consegue sair de lá. Por que esta história te incomoda tanto?!
SAMUEL: Sabe por que me incomoda? Porque eu que convivo com o sofrimento do meu tio
até hoje respingando em toda nossa família. Acabou cara, a vida do meu tio e de
todos nós simplesmente foi pra merda porque a porra de um moleque de treze
anos entrou numa crise existencial e ataques de loucura e pra justificar tudo isto
acusou o professor de estar querendo comer a bunda dele...
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BIANCA: Mas você já parou pra pensar alguma vez na hipótese de Stuart ter dito a verdade?!
SAMUEL prende a respiração, empunha as duas mãos quase rente a cabeça, numa expressão de
fúria e violência, soltando uma espécie de grunhido em forma de grito abafado, pressionando o
próprio corpo contra a porta.
SAMUEL: Você não vai nesta festinha... (fixa a garota de ímpeto, ainda mais
desequilibrado)... e se você for... e aquele merda do Stuart estiver por lá, eu acabo
com a raça dele!
CORTA PARA:
PLANO PRÓXIMO, vemos seu rosto com expressões de ansiedade. Ele olha para o relógio.
ANA: “Se não for, vou pra aí...” (anexa figurinha com coraçõezinhos na face)
CORTA PARA:
EXT. AMBIENTE INTERNO NO PREDIO DE BIANCA.
PLANO PROXIMO DA FACE DE SAMUEL. SUAS EXPRESSÕES AINDA ESTÃO ALTERADAS E ALGUMAS
LÁGRIMAS DESCEM DE SEUS OLHOS:
SAMUEL: "...Preciso te ver, to muito mal. Vou passar ai!... O que? ... vou tocar a porra dessa
sua campainha e se não abrir em dois minutos, jogo a merda no ventilador. Aí quero
ver em quem eles acreditam: se em mim ou em você!... (mais carinhoso)... eu sei..
eu sei... você não imagina o quanto é difícil pra mim ter que te ameaçar todas as
vezes que quero apenas estar com você..."
MESCLAR COM:
PLANO PRÓXIMO, vemos as costas de Stuart, e ao fundo vemos uma roda de amigos e um rapaz.
Stuart senta-se em um banco próximo. O rapaz aproxima-se. Stuart troca dinheiro por um pequeno
pacote com maconha.
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CORTA PARA:
CAROLINE: Aqui em casa uma hora dessas, não! tá ficando louco?!... Não, não vou sair nem lá
no portão. Vai que o Dener ou meus pais me vejam com você uma hora dessas?
Não vou ter como explicar, cara!...Vou desligar, depois te ligo e combinamos!
(Desliga o celular demonstrando apreensão e nervosismo)
ANDREW: Não vamos nos alongar por coisas que não tem razão de ser e o que tenho pra falar
é rápido, estou atrasado com os relatórios de venda da loja e pretendo terminar
ainda esta noite...
CAROLINE: Bem, compreendo, mas nada disto justifica o fato de não bater na porta antes de
entrar no quarto de alguém, mas como o senhor disse, não vem ao caso, vamos ao
que te interessa...
ANDREW: Não quero você envolvida com este tal de Dylan e antes que me questione os
porquês, vou logo dizendo que tenho meus motivos!
CAROLINE: E antes que eu entenda seus motivos, era bom me explicar como fazer isto, já que
Dylan frequenta nossa Igreja e participa do culto aos jovens. E se você não sabe
ainda, é um dos melhores e mais próximos amigos do Dener.
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ANDREW: O problema não é com Dener, é com você! .... E quanto a não se envolver com
alguém, você sabe muito bem que estar com alguém nem sempre significa estar
com alguém... não há nenhum inconveniente de você estar com este Dylan, desde
que você não esteja com este Dylan, entendeu?!
CAROLINE: Todas essas regras porque eu vi o que não poderia ser visto?
ANDREW: Nem tudo que a gente vê significa o que a gente viu... Com o tempo você vai
entender isto e também a necessidade de proteger nossa família e os princípios que
a mantém longe desta podridão que está daquela porta pra fora...
ANDREW: Dener vive num outro universo, é voltado para as obras da Igreja, ouve nossas
orientações e seu olhar para a família e para Deus nos deixa seguros quanto ao seu
futuro... hoje você pode até não compreender eu e sua mãe, mas pensamos muito
no futuro de vocês...
CAROLINE: Dener guarda inteira confiança porque é o filho fiel, já eu estou a um passo pra
chutar o balde: dois filhos, duas medidas!
ANDREW: E não poderia ser de outra forma. Nem sempre o mesmo sintoma requer o mesmo
remédio... Não posso ter o mesmo tratamento para você e para seu irmão, porém o
sentimento de proteção, zelo e atenção são os mesmos! Quando você tiver seus
filhos compreenderá o que é isto...
CAROLINE: Por que não corta relações com aquele cara que diz ser seu sócio e na verdade só
exige que repasse bolos e bolos de dinheiro pra ele?
ANDREW: Mais tarde você compreenderá que pra se chegar a hortaliça viçosa é preciso regar
o esterco... ele é o esterco! Preciso que alguém facilite a passagem dos
equipamentos de informática das nossas lojas nas barreiras de fiscalização... ele
facilita isto, mas cobra bem caro! É o jogo, você tem habilidade nas cartas, jogue!
Quanto ao seu irmão... nem todos nasceram para os cassinos....
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MICHAEL SAI fechando a porta atrás de si.
FADE-OUT.
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