Você está na página 1de 60

20 ANOS

O papel da ONA
na construção
do sistema de
saúde brasileiro
O papel
título
da ONAdo
´ ç˜
na construção
capítulo
do sistema
´
de saúde
brasileiro
20 ANOS

Expediente
Coordenação editorial:
Organizacão Nacional de Acreditação (ONA)

Argumento e revisão técnica:


• Cláudio José Allgayer CONSELHO
• Péricles Goés da Cruz Triênio 2018-2021
• André Ruggiero Presidente:
• Cássia Manfredini Cláudio José Allgayer
(Confederação Nacional
de Saúde - CNSaúde)
Produção editorial e direção de arte:
GPeS Health Branding and Business Vice-Presidentes:
Ivo Garcia do Nascimento
(Federação Brasileira
Edição: Gilmara Pereira Espino de Hospitais - FBH)
Assistente de edição: Andréa Maciel Fábio Leite Gastal
Redação: Carolina Buriti (Unimed)
Pesquisa: Amanda Ariela de Souza
Revisão: Cecilia Farias e Simone Machado Conselheiros: 
José Luiz Spigolon
Projeto gráfico e diagramação: Gilvan Filho (Confederação das Santas Casas
de Misericórdia, Hosp. e Entidades
Filantrópicas – CMB)

A GPeS e a ONA não se responsabilizam por Lais Perazo Nunes de Carvalho


(Associação Brasileira de Medicina
ideias e conceitos emitidos nos depoimentos de Grupo - Abramge)
publicados. Eles expressam apenas o
pensamento dos autores, não representando Paulo Aparecido Brandão Pinto
necessariamente a opinião das organizações. (Sociedade Brasileira de
Análises Clínicas - SBAC)
A equipe de conteúdo da GPeS se reserva o
direito, por motivos de espaço e clareza, de
resumir os depoimentos recebidos. Vera Queiroz Sampaio de Souza
(Federação Nacional de Saúde
Suplementar - FenaSaúde)
12
No
princípio
Da colaboração
à fundação
Página 14

Sumário

34
Manual
Brasileiro de
As Acreditação
Instituições Evolução do
Acreditadoras aprendizado
Credenciadas Página 22
Difusão Brasil afora
Página 30

EVOLUÇÃO

56
EM NÍVEIS
Rumo à excelência
CRESCER E SE Página 36
TRANSFORMAR
Movimento de
expansão
Página 44

Por
uma saúde
dentro dos
padrões Legado
A estrada até aqui Educação e
Página 56 discussões futuras
Página 50
Agradecimentos
A Organização Nacional de Acreditação (ONA) que tornaram o compromisso com a qualidade
agradece aos colaboradores e membros do Con- e com a segurança do paciente uma verdadeira
selho que dedicaram tempo, conhecimento, ex- missão de vida.
periência e coragem ao longo dessa trajetória de A história da organização é também o rela-
20 anos de entidade. to de momentos importantes do setor de saú-
A ONA agradece também as instituições de brasileiro. Para ajudar a contar essa história
acreditadoras, entidades, associações e socie- foram fundamentais a colaboração e o depoi-
dades do setor e a todos profissionais de saúde mento de algumas pessoas.

Foram entrevistados para este livro:


Ana Maria Malik, professora da José Carlos de Carvalho Gallinari
Fundação Getúlio Vargas (FGV)
Luiz Otávio F. de Andrade,
André Ruggiero, superintendente presidente executivo da Unimed Federação Minas
administrativo financeiro da ONA
Luiz Carlos Marzano, instrutor da DNV GL
Andrea Righi, gerente de certificação da ONA Academy na DNV GL - Business Assurance Brasil
Antonio Quinto Neto, sócio-diretor Maria Carolina Moreno, gerente de qualidade
da AQS Consult Serviços de Saúde assistencial na Unimed Guarulhos
Cássia Manfredini, gerente de Osnir Simonatto, consultor e educador
Normas e Sistemas da ONA
Péricles Góes da Cruz,
César Braga superintendente técnico da ONA
Cláudio José Allgayer, Rubens Covello, presidente do
presidente do Conselho da ONA IQG Health Services Accreditation
Fábio Leite Gastal, Sergio Ruffini, coordenador
vice-presidente do Conselho da ONA do Instituto da Administração Hospitalar
e Ciências da Saúde (IAHCS)
Fabio Motta, vice-presidente do Instituto para
Planejamento e Pesquisa para Acreditação de Vivian Giudice, diretora executiva no Instituto
Serviços de Saúde (IPASS) Brasileiro para Excelência em Saúde (IBES)
Ione Fuhrmeister Roessler Walter Lyrio do Valle, coordenador de auditoria
médica do Hospital das Clínicas (SP) e da área
Jaqueline Gonçalves, fundadora da Infocco
técnica da Afresp
Consultoria
linha
do tempo
1998
Lançamento do primeiro
Manual Brasileiro de
Acreditação Hospitalar,
criado pelo Ministério
da Saúde por meio do 01.fevereiro.2001
Programa de Garantia
e Aprimoramento da
Primeiro hospital acreditado 05.julho.2003
em Nível 1 - Hospital Antônio Primeiro hospital acreditado
Qualidade em Saúde Prudente - Fortaleza, Ceará em Nível 2 - Hospital Anchieta -
Brasília, Distrito Federal
01.junho.1999
Data da constituição
jurídica da ONA

2001
Lançamento do Manual
de Acreditação Brasileiro
01.julho.2003
Primeiro hospital
das Organizações acreditado Nível 3 -
Prestadoras de Serviços Hospital Márcio Cunha
Hospitalares feito - Ipatinga, Minas Gerais
pela ONA

25.outubro.2001
2000
Estruturação do Sistema
Aprovação do Manual
Brasileiro de Acreditação
Brasileiro de Acreditação das Organizações Prestadoras
(SBA) e credenciamento de Serviços Hospitalares
das primeiras Instituições criado pela ONA
Acreditadoras (IACs)
17.abril.2001 2009
ONA atinge 126
Reconhecimento e
autorização da ONA acreditações
para operar e desenvolver homologadas
acreditação hospitalar
no Brasil
07.maio.2013
ONA é aceita como membro da
ISQua, International Society for
Quality in Health Care, a única
organização internacional que
acredita as acreditadoras

2012
Criação do 14.setembro.2017
Manual Brasileiro ONA ultrapassa as 600
de Acreditação: certificações válidas
Serviços
Odontológicos e do
Manual Brasileiro
de Acreditação: 15.outubro.2015 11.abril.2018
Serviços para a Manual Brasileiro de ONA é eleita
Saúde - Selo de Acreditação: Serviços como membro
Qualificação para a Saúde - Selo de do Conselho
Qualificação conquista Internacional
certificação ISQua de Acreditação
da ISQua

2018
2010
Nova edição do Manual
Nova edição do
Manual Brasileiro
Brasileiro de Acreditação das de Acreditação
Organizações Prestadoras de
Serviços de Saúde tem inclusa
2014
Manual Brasileiro
das Organizações
Prestadoras de
em seu âmbito de trabalho Serviços de Saúde
de Acreditação é aprovado também
serviços como laboratórios,
das Organizações pela ISQua
hemoterapia, ambulatórios,
Prestadoras de
atenção domiciliar, pronto
Serviços de Saúde
atendimento, atendimento
é acreditado pelo
odontológico, medicina
ISQua, tendo um
hiperbárica, nefrologia e terapia
renal substitutiva, diagnóstico
padrão internacional 30.abril.2019
de qualidade ONA atinge a marca
por imagem e radioterapia
e medicina nuclear de 800 certificações
válidas
31.outubro.2016
ONA conquista certificação
internacional da ISQua
quantidade Região
de hospitais Norte
18
acreditados
em cada
região
em 2019
Fonte: André Ruggiero, superintendente
Administrativo Financeiro da ONA

Região
344*
Centro-
Oeste
número de
hospitais 28
acreditados
em 1999, 2009
e 2019
Região
Fonte: André Ruggiero,
superintendente
Administrativo
Financeiro da ONA
sul
54
*Até 31/03/2019 126

1999 2009 2019

10 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


acreditações e Subtipo Quantidade Porcentagem

certificações Ambulatório
Atenção domiciliar
131
15
16,40%
1,90%
dadas pela Diagnóstico por imagem,
ONA em 2019* radioterapia e medicina
nuclear
78 9,60%

Dietoterapia 3 0,40%
Esterilização 2 0,30%

Região Hemoterapia 41 5,10%

Nordeste Hospital 344 43,10%

40
Laboratório 118 14,80%
Nefrologia e terapia renal
13 1,60%
substitutiva
Odontologia 6 0,80%
Processamento de roupas
3 0,40%
para a saúde
Programa da saúde 3 0,40%
Pronto atendimento 9 1,10%
Serviços Oncológicos 25 3,10%
Serviços de manipulação 9 1,10%
Total Geral 800 100%
*Até 30/04/2019

número
de hospitais
acreditados
em nível I, 84 99 161
nível II e
nível III
em 2019

Região Nível I em 2019


Sudeste Nível II em 2019

204 Nível III em 2019

Fonte: André Ruggiero,


superintendente
Administrativo
Financeiro da ONA

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 11


Prefácio
O caminho da qualidade e da segurança
A Organização Nacional de Acreditação da acreditação em saúde na região.
(ONA) nasce em junho de 1999, em um Brasil Nesta obra, também tivemos a preocupa-
em constante transformação na área da saúde. ção de reconhecer o papel dos visionários em
Não por acaso, a instituição é contemporânea nosso país que introduziram o interesse pela
ao surgimento da Agência Nacional de Saúde acreditação no Brasil. Profissionais da saú-
Suplementar (ANS) e da Agência Nacional de de que em grupos de pesquisas sediados no
Vigilância Sanitária (Anvisa), que ocorre pouco Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul
mais de dez anos após a Constituição Federal e Paraná constituíram o embrião do que hoje
garantir o direito à saúde aos cidadãos, com a se tornou o Sistema Brasileiro de Acreditação
criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Nes- (SBA) e a própria ONA.
sa época, sentíamos a imperiosa necessidade É de se destacar também, nesse contexto, o
de construir um sistema de saúde mais justo, apoio do então ministro da Saúde, Carlos César
humano e, principalmente, com mais qualida- Albuquerque, e Péricles Góes da Cruz, então co-
de e segurança para os pacientes. ordenador do Programa de Garantia e Aprimo-
Para entender esse momento, ou parte ramento de Qualidade em Saúde da pasta, que
dele, o livro “O papel da ONA na construção muito contribuíram para o desenvolvimento
do sistema de saúde brasileiro” tem a humilde do modelo de acreditação brasileiro.
missão de conduzir o leitor pelos caminhos Não poderíamos deixar de homenagear Luiz
que traçamos ao construir a história da enti- Plínio Moraes de Toledo. O Dr. Plínio, como era
dade. Retratar, por exemplo, o início do grande conhecido por todos, ajudou o “sonho” brasileiro
movimento em defesa da assistência à saúde da acreditação a se tornar realidade. Sua liderança
mais segura. Recordar a importante atuação da foi fundamental para difundir o conceito em uma
Organização Pan-americana da Saúde (Opas), época em que a própria palavra não era conhecida
que firmou acordo de cooperação técnica com e necessitava constantemente ser explicada.
a Federação Latino-Americana de Hospitais e Essa também foi a missão das Instituições
deu origem à primeira publicação sobre o tema Acreditadoras, que, com muito trabalho e
acreditação direcionada aos países da América comprometimento, conseguiram levar o con-
Latina e Caribe. Além de destacar o papel de ceito Brasil afora e foram essenciais para a ex-
seus autores, José Maria Paganini e Humberto pansão do sistema de acreditação.
de Moraes Novaes, precursores do movimento Nesses 20 anos de ONA, reconhecemos que
os caminhos até aqui foram difíceis e sem o de-
sempenho desses parceiros jamais teríamos
conseguido alcançar as já ultrapassadas 800
certificações de hoje. Por essa razão, essa obra
também é uma singela homenagem a todos que
fizeram parte dessa luta: o desafio de construir
um setor de saúde mais seguro – tanto para pa-
cientes como para os profissionais - e uma assis-
tência à saúde de qualidade.
Também temos ciência, caro leitor, de que
essa publicação retrata apenas parte de uma
história e de alguns personagens, pois seria
impossível uma única obra relatar de forma
fidedigna a responsabilidade de tantos parcei-
ros e profissionais na construção e desenvolvi-
mento da entidade nessas duas décadas.
Graças ao trabalho de todos, a ONA é uma
entidade certificadora dos padrões de qualida-
de, de caráter nacional com relevância interna-
cional, que transmite confiabilidade para os go-
vernos, operadoras e prestadores de serviços,
profissionais de saúde e, principalmente, para
o paciente, motivo maior de nossa existência.
Nesses 20 anos de atuação, temos muito a
comemorar. Mas, também, reconhecemos que
são inúmeros os nossos desafios diante de um
Brasil tão imenso e desigual. Seguimos na luta!

Cláudio José Allgayer


Presidente da ONA
No
princípio

01
Da
colaboração
çÃ
` fundação
à ˜
O Brasil de 1999 era presidido por Fer- da em 1998 – movimento que se intensi-
nando Henrique Cardoso em seu segundo ficou alguns anos depois, em 2001, com
mandato. O país abandonara o regime de a criação da Agência Nacional de Saúde
âncora cambial, e o dólar atingia o valor Suplementar (ANS).2
de R$ 2,00. Os brasileiros tinham assisti- Nos meios de comunicação, notícias
do, no ano anterior, à França acabar com o nada animadoras, como a do jornal O Es-
sonho do pentacampeonato de futebol – tado de S. Paulo: “Ministério sabia sobre
conquista que só ocorreria em 2002, no sangue infectado desde abril”.3 A maté-
Mundial do Japão e da Coreia do Sul. ria, publicada em maio de 1999, fez parte
Na saúde, o Brasil passava por gran- de uma ampla cobertura midiática sobre
des transformações. Fazia pouco mais a contaminação de hemoderivados com
de uma década que a Constituição ga- os vírus HIV e da hepatite B nos anos
rantira a saúde como “direito do cidadão precedentes. Outro caso que ganhou as
e dever do Estado” com a criação do Sis- manchetes na época foi o da falsificação
tema Único de Saúde (SUS). O setor de e venda ilegal de medicamentos, o que
saúde brasileiro apresentava 2,96 leitos expunha a fragilidade e os desafios do
por mil habitantes.1 Existiam 1.380 ope- sistema de saúde .
radoras médico-hospitalares ativas, nú- Em “SUS 30 anos: Vigilância Sanitá-
mero que começava a entrar em declínio ria”, os autores relatam a preocupação
após a aprovação da lei 9.656, sanciona- do período:

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 15


No princípio

A tragédia radioativa de Goiânia te, o que deu origem à Organização Na-


(GO) em 1987, devido ao abandono cional de Acreditação (ONA).
de uma ampola de Césio anterior- “A história da ONA está vinculada às
mente utilizada por um serviço de iniciativas do SUS nos anos 1990. São
radioterapia; os óbitos de idosos na contemporâneas ONA, ANS, Anvisa. Es-
Clínica Santa Genoveva, em 1996, sas entidades estão diretamente conec-
no Rio de Janeiro (RJ); de 71 pacien- tadas com a construção do que é hoje o
tes de duas clínicas de hemodiálise, SUS e as políticas nacionais de saúde, em
em Caruaru (PE), em 1996, devido especial os serviços de saúde”, explica Fá-
à contaminação da água por algas bio Leite Gastal, vice-presidente da ONA.
às mortes de 85% dos bebês recém-
-nascidos no Hospital Infantil N. Se- As primeiras discussões
nhora de Nazaré, em 1996, em Boa No mundo, os primeiros debates so-
Vista (RR); os 82 registros de proble- bre os padrões de qualidade na saúde
mas com o uso do soro Ringer Lac- ocorreram nos Estados Unidos. Em 1910,
tato, com 32 óbitos de pacientes de um relatório da Universidade Johns Ho-
hospitais da rede privada em Recife pkins intitulado “Medical Education
(PE), em 1997, vítimas de acidentes in the United States and Canada – A
tromboembólicos pela contaminação Report to the Carnegie Foundation for
de soro do laboratório Endomed®; e o the Advancement of Teaching” eviden-
caso da “pílula de farinha”, em 1998, ciou a discrepância entre os conteúdos
com o anticoncepcional Microvlar®, ministrados em faculdades americanas
da Schering do Brasil, principalmente e canadenses. Na mesma época, Ernst
em São Paulo, entre outros, marca- Codman, um dos autores do relatório,
ram a saúde pública e expressaram começou a discutir com um grupo de ci-
a fragilidade da regulação sanitária rurgiões sobre os padrões mínimos para
da época. Nos estados e municípios, cirurgias e organização do ambiente
a situação não era diferente, com es- hospitalar. Assim, nascia o Colégio Ame-
truturas acanhadas e insuficientes ricano de Cirurgiões.5
para o cumprimento da missão da Posteriormente, o trabalho desenvol-
VS [Vigilância Sanitária], prevista na vido por essa associação deu origem ao
legislação do SUS. A situação trazia Programa de Padronização de Hospitais
muitos riscos à saúde e incomodava (PPH), que nasceu com o objetivo de ga-
até o setor produtivo, pela incerteza e rantir o nível de qualidade nos hospitais.
demora da ação institucional.4
O PPH permitiu não apenas o início
É nesse contexto que a Agência Na- de uma preocupação com a qualidade
cional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dos ambientes hospitalares, mas tam-
foi criada, em janeiro de 1999. E, no ce- bém um meio de a elite médica ameri-
nário de transformação do setor de saú- cana pleitear o controle do sistema no
de durante a última década do século qual seus membros atuavam, uma vez
XX, começam as primeiras discussões que foram os próprios médicos que es-
sobre qualidade e segurança do pacien- tabeleceram os padrões mínimos utili-

16 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


Momento de assinatura da Portaria 538/
GM, de abril de 2001, em Brasília. Nela a Organização
Nacional de Acreditação foi reconhecida como
instituição competente e autorizada a operacionalizar o
desenvolvimento do Processo de Acreditação Hospitalar.

Capa do Manual de Padrões


de Acreditação para América Latina e
Caribe, criado pela Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS), em 1992.

Antes do surgimento da ONA,


discussões e rodas de conversa foram
organizadas por todo o Brasil, contando com
a participação de figuras como Péricles Góes
da Cruz, na época, membro do Programa
de Garantia e Aprimoramento da Qualidade
em Saúde. Hoje, Péricles Góes da Cruz é
superintendente técnico da ONA.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 17


No princípio

zados. É nesse momento que tem iní- Iniciativas no Brasil


cio a construção de uma metodologia Até 1999, a discussão sobre acredita-
de padronização das atividades hospi- ção e qualidade no Brasil ocorria de ma-
talares, o que passou a denominar-se neira isolada. Aliás, poucos sabiam o que
acreditação, um guia de orientação vol- significava a palavra “acreditação”. Só a
tado para as estruturas dos ambientes partir de 1989, a Organização Mundial
nos quais se praticava a medicina.5 de Saúde (OMS) passou a considerar a
acreditação estratégica. Em 1990, ela fir-
Com o passar dos anos, em 1950, o ma um acordo com a Organização Pan-
PPH já tinha avaliado e aprovado 3.290 -Americana de Saúde (OPAS) para elabo-
hospitais. O programa atraiu a atenção da rar o Manual de Padrões de Acreditação
Associação Médica Canadense, e em 1951 para América Latina e Caribe.
estava criada a Joint Commission on Ac- O manual de acreditação foi elabora-
creditation of Hospitals (JCAH), fruto da do pelo médico brasileiro Humberto No-
união entre o Colégio Americano de Cirur- vaes Moraes e pelo argentino José Ma-
giões, o Colégio Americano de Médicos, ria Paganini, então dirigentes da OPAS.
a Associação Americana de Hospitais, a “Devemos destacar ambos como pre-
Associação Médica Americana e a Asso- cursores do movimento da acreditação
ciação Médica Canadense.
Organização independen-
te e sem fins lucrativos,
“Nessa época, ainda não existia
a JCAH visava oferecer e muito foco e preocupação com
desenvolver o processo de implantação de processos de
acreditação voluntária em melhorias da qualidade dentro
hospitais e, posteriormen- dos hospitais” Péricles Góes da Cruz
te, nos diversos ambientes
voltados à saúde. em saúde na América do Sul e Central”,
No final dos anos 1950, a Associação aponta Cláudio José Allgayer, atual pre-
Médica Canadense rompe com a JCAH sidente da ONA e líder das iniciativas em
e cria sua própria agência acreditadora. Porto Alegre acerca do tema na época.
Já nos anos 1990, a JCAH cria um braço O documento foi apresentado em 1992
internacional, a JCI. Além da acreditação para mais de 120 representantes de 22
americana e canadense, na Austrália e países da região6, em conferências inter-
na Inglaterra também se desenvolveram nacionais e para representantes de insti-
padrões nos anos 1970. Em alguns paí- tuições públicas e privadas.
ses da Europa, como Espanha e França, No Brasil, o manual foi distribuído via
a introdução de metodologias de acre- Federação Brasileira de Hospitais (FBH)
ditação ocorrem nos anos 1980.5 É tam- aos associados naquele mesmo ano. Mas
bém nesse período que é fundada a In- como recorda Péricles Góes da Cruz, que
ternational Society for Quality in Health coordenava o Programa de Garantia e
Care (ISQua), em 1985, na Europa, com Aprimoramento de Qualidade em Saú-
o objetivo de promover a qualidade e a de no Ministério da Saúde, a metodolo-
segurança dos serviços de saúde. gia proposta pelo manual não progrediu.

18 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


No princípio

“Nessa época, ainda não existia mui- do Sul, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro,
to foco e preocupação com implantação o ministro resolveu reunir as equipes e
de processos de melhorias da qualidade propor um manual de acreditação único,
dentro dos hospitais”, relembra Péricles. com o intuito de padronizar as iniciativas
Apesar de a iniciativa não ter prospera- regionais em um projeto nacional.
do nacionalmente, posteriormente quatro “O Ministério da Saúde pediu para
diferentes grupos tornaram a acreditação que esses quatro grupos abandonassem
objeto de estudo e passaram a adaptar o que estavam fazendo e ajudassem a
alguns conceitos do manual para suas criar um manual de acreditação nacio-
realidades. Cada equipe atuava regional- nal”, recorda Antonio Quinto Neto, que
mente, estudando o assunto e propondo fez parte do grupo gaúcho.
o aprimoramento de práticas hospitalares. Baseado no manual original da OPAS,
Se debruçavam sobre o assunto, em nas metodologias internacionais existen-
terras gaúchas, profissionais ligados à Fe- tes e na experiência e no trabalho dos qua-
deração dos Hospitais e Estabelecimentos tro grupos regionais, elaborou-se o Manual
de Serviços de Saúde do Rio Grande do Brasileiro de Acreditação de Hospitais, em
Sul (Fehosul), ao Sebrae/RS e ao Instituto 1998. O documento nacional foi testado
de Administração Hospitalar e Ciências da em 17 hospitais Brasil afora.6 Foram eles:
Saúde (IAHCS). No Paraná, a iniciativa cou-
be a um grupo próximo à Secretaria Esta- Região Norte:
dual de Saúde e à Federação dos Hospitais • Hospital Guadalupe (PA)
e Estabelecimentos de Serviço de Saúde • Benemérita Sociedade Portuguesa de
no Estado do Paraná (Fehospar). Em São Beneficência do Pará (PA)
Paulo, uniram-se em torno do tema mem- Região Centro-Oeste:
bros da Associação Paulista de Medicina • Hospital São Francisco de Assis (GO)
(APM) e do Conselho Regional de Medicina • Hospital Regional de Taguatinga (DF)
(Cremesp). No Rio de Janeiro, por sua vez, Região Nordeste:
as discussões foram lideradas por profis- • Hospital Geral de Fortaleza (CE)
sionais de saúde vinculados ao Consórcio • Clínica Antônio Prudente (CE)
Brasileiro de Acreditação (CBA) e à Univer- • Hospital Evangélico da Bahia (BA)
sidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). • Hospital São Rafael (BA)
Enquanto isso, no Ministério da Saú- Região Sudeste:
de, as discussões sobre a qualidade ga- • Hospital Universitário Pedro Ernesto (RJ)
nharam novos contornos em 1995, quan- • Hospital de Ipanema (RJ)
do foi criado o Programa de Garantia e • Fundação Municipal de Ensino Superior
Aprimoramento da Qualidade em Saú- de Marília (SP)
de, no qual os modelos de acreditação • Hospital Sírio-Libanês (SP)
do mundo começaram a ser discutidos. Região Sul:
Posteriormente, quando assume o cargo • Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS)
de ministro, Carlos Albuquerque convida • Hospital Independência (RS)
para ser consultor Humberto Novaes, um • Hospital Santa Casa de Londrina (PR)
dos autores do manual da OPAS. Saben- • Hospital e Maternidade Angelina Caron (PR)
do das atividades isoladas no Rio Grande • Hospital Jaraguá (SC)

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 19


No princípio

Após os testes, o Ministério da Saúde Fizeram parte da fundação da ONA


entendeu que existia a necessidade não as seguintes entidades:
apenas de ter o manual, como também de- • Associação Brasileira de Hospitais
senvolver um sistema brasileiro de acredi- Universitários (Abrahue) 
tação, que precisaria ser gerido por uma • Confederação Nacional de Saúde (CNS)
instituição criada para esse fim. Nascia, • Federação Brasileira de Hospitais (FBH)
assim, a Organização Nacional de Acredi- • Associação Brasileira de Medicina
tação (ONA), em 1o de junho de 1999. de Grupo (Abramge)  
“A ideia básica era de que a organi- • Associação Brasileira
zação não recebesse direcionamen- de Autogestão em Saúde
to de entidades específicas. Então, foi • Federação Nacional de Seguros
criado um Conselho de Administração Privados e Capitalização  
plural, com representantes de entida- • Conselho Nacional de Secretários
des compradoras de serviços de saúde, Estaduais de Saúde (Conass) 
prestadoras de serviços de saúde e go- • Confederação das Unimed
vernamentais”, relembra Cruz, atual su-
perintendente técnico da ONA. Em 2001, portaria do Ministério da
Saúde reconheceu as atribuições da
Organização Nacional de Acreditação.

1
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Séries Históricas e Estatísticas: leitos por mil
habitantes. Disponível em <https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=MS33>
2
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Caderno de Informação da Saúde Suplementar:
beneficiários, operadoras e planos. – Ano 1 (mar. 2006). Dados eletrônicos. Rio de Janeiro: ANS, 2006.
3
WEBER, Demétrio. Ministério sabia sobre sangue infectado desde abril. O Estado de S. Paulo, São
Paulo. 15 de maio de 1999.
4
SILVA, José Agenor Alvares; COSTA, Ediná Alves; LUCCHESE, Geraldo. SUS 30 anos: Vigilância Sanitária.
Ciênc. saúde coletiva, vol.23, no.6. Rio de Janeiro, 2018, p. 1955. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S1413-81232018000601953&script=sci_arttext>.
5
FORTES, Maria Thereza Ribeiro. Acreditação no Brasil: seus sentidos e significados na organização do
sistema de saúde. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <https://www.
arca.fiocruz.br/bitstream/icict/7666/2/0000018.pdf>.
6
NOVAES, Humberto Moraes de. História da acreditação hospitalar na América Latina – O caso Brasil.
V.12 n.14. 2015. Disponível em: <https://revistas.face.ufmg.br/index.php/rahis/article/view/2693>.

20 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


Assinatura do Protocolo de Intenções
firmado pela União Federal, representada pelo
Ministério da Saúde, as entidades prestadoras
e recebedoras privadas de serviços de saúde,
em 15.dez.1998, em Brasília. O objetivo era
alinhar a qualidade hospitalar no Brasil.

Atribuições da ONA foram


reconhecidas em portaria do
Ministério da Saúde.

À época Ministro da Saúde,


José Serra participa de roda de
conversa sobre Qualidade Hospitalar.
A seu lado está o Luiz Plínio Moraes
de Toledo, presidente da ONA.

A Organização Nacional de Acreditação foi fundada com a participação


de entidades de saúde diversas, que dialogaram e participaram de debates e
discussões. Na foto, encontram-se os seguintes líderes, com seus respectivos
cargos à época: Fábio Leite Gastal, superintendente da ONA, Luiz Plínio Moraes
de Toledo, presidente da ONA, Renilson Rehem Sousa, secretário de Assistência à
Saúde do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, diretor do Departamento
de Controle e Assistência à Saúde DECAS/SAS/MS, Alberto Beltrame, diretor do
Departamento de Serviços de Redes Assistenciais DSRA/SAS/MS, e Henrique
Castro, rofessor da Universidade de Brasília (UnB).

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 21


Manual
Brasileiro de
˜
Acreditação

02
Evolução
ç do
aprendizado
Na mesma época em que desenvolvia qualidade que pudessem ser aplicados
o Manual de Acreditação para Améri- em diferentes perfis de hospitais. Para
ca Latina e Caribe, a Organização Pan- responder a essa questão, durante a ela-
-Americana de Saúde (OPAS) realizou boração de seu Manual de Acreditação,
um levantamento em 15.000 hospitais a OPAS contratou, em 1987, o argentino
da América Latina identificando o seu Itaes (Instituto Técnico para a Acredita-
perfil e os principais desafios enfrenta- ção de Estabelecimentos de Saúde).
dos. O cenário encontrado era hetero- Nas discussões com o Itaes, a solução
gêneo. De um lado, existiam grandes encontrada foi estabelecer “degraus” no
centros médicos avançados. De outro, processo de acreditação. O nível 1 seria
um grande número de instituições nas uma marca de corte para atestar se a ins-
quais se encontrava baixa resolubilida- tituição tinha condições suficientes para
de, ausência de mecanismos de controle oferecer assistência de qualidade ao pa-
e até mesmo falta de condições mínimas ciente. O intuito era que os hospitais em
para prevenção de infecção hospitalar. nível 1 continuassem a aprimorar seus
De acordo com Humberto Novaes, uma processos para alcançar a excelência, o
“quantidade razoável” desses hospitais nível 3.
“não resistiria a uma mínima avaliação Esperava-se que nenhum hospital
para garantir uma qualidade permanen- de algum país que estivesse em um pro-
te em todos seus serviços”.1 cesso de acreditação se situasse abaixo
A realidade regional tornava ainda deste nível [1], dentro de um período
mais desafiador estabelecer padrões de de 2 anos, por exemplo. À medida que

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 23


Manual Brasileiro de Acreditação

estes padrões iniciais forem alcançados, Donabedian, autor reconhecido pelos


o hospital vai procurar perseguir para estudos de qualidade em saúde. “O cor-
o padrão seguinte, ou seja, quando o po técnico chegou a um acordo de que
padrão de nível 1 é atingido, o passo se- os níveis seriam orientados pela tríade
guinte é alcançar os níveis 2, 3 e assim, de Donabedian”, explica. Assim, o nível
sucessivamente.1 1, por exemplo, trataria da estrutura em
um conceito abrangente que passa tanto
Outra questão levantada foi a ne- pelo espaço físico como pelos recursos
cessidade de adaptar padrões e indica- humanos, legislação, conformidade re-
dores de qualidade específicos para os gulamentar, entre outros. O nível 2, além
diferentes setores do hospital, mas sem de incorporar as diretrizes preconizadas
perder a noção do todo. A OPAS defi- no nível anterior, adicionaria a verifica-
niu, então, que a acreditação se daria ção dos processos. Por último, o nível 3,
pela unidade hospitalar de forma inte- além de atender aos requisitos anterio-
gral, ou seja, um serviço não poderia res, mostraria que a entidade conseguiu
ser acreditado se obtivesse na avaliação resultados diferenciados na assistência.
um item de forma isolada com nível 3 Ao longo dos anos, os padrões para o
mas com demais ambientes que não nível 1 preconizados na primeira versão
preenchiam os requisitos necessários do manual, em 1999, foram sendo incor-
para o nível 1, por exemplo. porados aos hospitais. Hoje, as exigên-
Para a realidade brasileira da época, cias para alcançar o nível 1 e os demais
a incorporação dessas fases no sistema níveis são completamente diferentes do
de qualidade foram fundamentais para que há duas décadas.
a aderência ao processo. Os manuais in-
ternacionais, por exemplo, não traziam Evolução dos manuais
classificação semelhante. Em 2001, é lançada a primeira publi-
Em 1998, na primeira publicação cação realizada pela ONA: o Manual das
do Manual Brasileiro de Acreditação, a Organizações Prestadoras de Serviços
classificação por níveis é mantida. Na Hospitalares/ Organização Nacional de
segunda edição, após a aplicação do Acreditação – ONA - Coleção Manual
manual em 17 hospitais, foi excluído o Brasileiro de Acreditação – Volume 1.
nível 4, que estava presente no manual A partir de 2001, convênios firmados
da OPAS. Foi aí que foram instituídos os com a Agência Nacional de Vigilância
conhecidos níveis: acreditado (ONA 1), Sanitária (Anvisa) demandaram que fos-
acreditado pleno (ONA 2) e acreditado sem elaborados padrões e manuais não
com excelência (ONA 3). só para hospitais, mas para outros tipos
Fábio Leite Gastal, que na época per- de estabelecimentos. “Uma das coisas
tencia ao grupo gaúcho que participou que a área de serviços da Anvisa exigiu
das discussões para a elaboração do nos convênios foi que levássemos a me-
manual, recorda que, ao elaborar a pu- todologia de acreditação a outros servi-
blicação, o grupo técnico teve a preocu- ços de saúde”, relembra Gastal.
pação de adaptar os níveis do manual Assim, em 2003, é lançado o Manual
aos ensinamentos do professor Avedis de Acreditação das Organizações Pres-

24 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


Capa do primeiro Manual A segunda edição do Manual
Brasileiro de Acreditação, lançado Brasileiro de Acreditação Hospitalar
em 1998. foi lançada em 1999.

O Manual Brasileiro de O Manual Brasileiro de


Acreditação em sua versão 2002. Acreditação lançado em 2004.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 25


MANUAL BRASILEIRO DE ACREDITAÇÃO

tadoras de Serviço de Hemoterapia, Paranaense de Acreditação em Serviços


primeiro concluído e publicado como de Saúde (IPASS) e Instituto Qualisa de
resultado do convênio entre Anvisa e Gestão (IQG, hoje conhecido como IQG
ONA. Oficializado na Resolução – RDC Health Services Accreditation)4.
nº 75  daquele ano, o documento foi O processo de elaboração do manual
elaborado em conjunto pela ONA, pela voltado para nefrologia inovou ao incor-
Sociedade Brasileira de Hematologia e porar elementos como:
Hemoterapia (SBHH) e, inicialmente, • a realização de uma Oficina de Tra-
pela Coordenação de Sangue do Minis- balho patrocinada pela Anvisa, em Bra-
tério da Saúde, que posteriormente foi sília, para discussão e ajustes na primei-
transferida para a Anvisa e se tornou, ra versão do Manual redigida pela ONA e
na época, a Gerência Geral de Sangue e SBN. Foram dois dias de atividades, em
Hemoderivados. 2 27 e 28 de agosto de 2002, com a partici-
Posteriormente, é lançada a primeira pação de organizações que representam
publicação destinada aos laboratórios: pacientes (Federação das Associações
o Manual de Acreditação das Organiza- de Renais e Transplantados do Brasil –
ções Prestadoras de Serviços de Labora- Farbra), prestadores de serviços de saú-
tórios Clínicos. A publicação é fruto de de (Associação Brasileira de Centros de
uma parceria Anvisa, ONA, Sociedade Diálise e Transplante – ABCDT, Serviço
Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e de Nefrologia do Hospital São Rafael /
Sociedade Brasileira de Patologia Clíni- Monte Tabor), instituições governamen-
ca (SBPC), representantes do segmento. tais (Anvisa, Secretaria de Políticas de
Além de passar por consulta pública, Saúde – SPS/MS, Conselho Nacional dos
processo obrigatório para a elaboração Secretários de Saúde – Conass, Vigilân-
de manuais da ONA, esse manual “foi cias Sanitárias Estaduais da Bahia, Para-
submetido a um teste de campo, de 14 a ná, Minas Gerais e Distrito Federal), enti-
18 de julho de 2003, em 29 laboratórios dades de classe (Sociedade Brasileira de
clínicos localizados nas cinco regiões do Nefrologia – SBN, Sociedade Brasileira
país, que foram visitados por equipes de de Enfermagem em Nefrologia – SO-
avaliadores das instituições acreditado- BEN), além da ONA, do IQG e do IPASS.
ras e especialistas da área.3 • a parceria com a Câmara Técnica de
Ainda dentro dos convênios com a Vigilância Sanitária do Conselho Nacio-
Anvisa, em 2003 é lançado o Manual de nal dos Secretários de Saúde (Conass),
Acreditação das Organizações Prestado- que participou do desenvolvimento do
ras de Serviços de Nefrologia e Terapia Manual, e de representantes das Vigilân-
Renal Substitutiva, resultado de uma cias Sanitárias Estaduais da Bahia, Para-
parceria com a Sociedade Brasileira de ná, Minas Gerais e Distrito Federal.
Nefrologia (SBN) e, como os anteriores, O teste de campo, feito por equipes
também foi submetido à consulta públi- de avaliadores das instituições acredita-
ca pela Anvisa (Consulta Pública nº 75, doras e especialistas da área, ocorreu no
de 12 de setembro de 2002). Dessa vez, período de 15 a 19 de setembro.
também colaboraram as Instituições Os convênios também fizeram com
Acreditadoras Credenciadas Instituto que a ONA estreitasse parcerias com

26 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


O Manual Brasileiro de A partir de 2010, os manuais da
Acreditação em sua versão 2006. ONA foram consolidados em uma
única versão.

O Manual Brasileiro de Atual edição do Manual,


Acreditação lançado em 2014. lançada em 2018.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 27


Manual Brasileiro de Acreditação

associações representativas de serviços blicação específica: o Manual para Ava-


específicos, como as já citadas SBAC, liação e Certificação dos Serviços para a
SBPC, SBHH e o Colégio Brasileiro de Saúde. Os serviços passam a ser certifi-
Radiologia, entre outras. cados com o Selo de Qualificação ONA.
Em 2006, a ONA já havia lançado e No ano seguinte, é a vez dos serviços
agrupado seus manuais de acordo com odontológicos ganharem manual pró-
os segmentos em que estavam inseri- prio, fruto de uma parceria da ONA com
dos: serviços de hemoterapia, labora- as Instituições Acreditadoras Creden-
tório clínico, nefrologia e terapia renal, ciadas (IACs), a Faculdade de Odontolo-
hospitalares, radioterapia e serviços gia da USP e a Associação Brasileira de
ambulatoriais. Em 2010, os manuais são Cirurgiões-Dentistas.
consolidados em uma única publicação. Em 2013, o manual consolidado rece-
No mesmo ano, mais um marco: o Ma- be a chancela da International Society for
nual de Acreditação de Programas de Pro- Quality in Health Care (ISQua) e, no ano
moção da Saúde e Prevenção de Riscos e seguinte, é lançada a edição do manual
Doenças é aprovado pela Agência Nacio- certificada pelo órgão internacional. En-
nal de Saúde Suplementar (ANS). “Acho tre as mudanças, está a incorporação dos
que é um passo importante para a ANS, conceitos da Classificação Internacional
já que temos procurado várias formas de para Segurança do Paciente da Organiza-
estímulo e, para a ONA, é um campo novo ção Mundial de Saúde (OMS).
e que responde às preocupações contem- A versão mais recente do manual, de
porâneas”, disse na ocasião o presidente 2018, foi novamente submetida e referen-
da ANS, Fausto Pereira dos Santos3. dada pela ISQua. Na ocasião, Claúdio José
Em 2011, os serviços adjacentes ao Allgayer, presidente da ONA, agradeceu
segmento de saúde como lavanderia, es- ao time responsável pela conquista e des-
terilização e reprocessamento de mate- tacou que “Manter esse reconhecimento
riais, serviço de manipulação de drogas internacional traz um peso de grande rele-
antineoplásicas e de dietas parenterais vo para o nosso trabalho. E nos mostra que
e serviços de dietoterapia, ganham pu- estamos na direção correta”.3

1
NOVAES, Humberto Moraes de. História da acreditação hospitalar na América Latina – O caso Brasil.
V.12 n.14. 2015. Disponível em: <https://revistas.face.ufmg.br/index.php/rahis/article/view/2693>.
2
Ministério da Saúde. Manual de Acreditação de Serviços de Hemoterapia. Disponível em <http://www.
anvisa.gov.br/servicosaude/acreditacao/manuais.htm#acoes>.
3
ONA. ANS aprova primeiro Manual de Acreditação de Programas de Promoção da Saúde e Prevenção
de Riscos e Doenças. 2010. Disponível em <https://www.ona.org.br/Noticia/66/ANS-aprova-primeiro-
Manual-de-Acreditacao-de-Programas-de-Promocao-da-Saude-e-Prevencao-de-Riscos-e-Doencas>.

28 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


A ISQua certifica
acreditadoras que
seguem padrões
internacionalmente
reconhecidos.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 29


As
Ç
Instituições
Acreditadoras
Credenciadas

03
Difusão
Brasil afora
Recém-criada, a ONA começou a atuar tantas outras organizações de saúde”,
de um escritório em Brasília (DF). Forma- analisa Péricles Góes da Cruz, superin-
da por um Conselho de Administração tendente técnico da ONA. “Com essa
composto por diferentes entidades do se- premissa, foi estabelecida pela ONA a
tor de saúde e alguns poucos funcionários criação de Instituições Acreditadoras
responsáveis pelo dia a dia da operação, Credenciadas (IACs)”, completa.
a entidade tinha um grande desafio pela Desde o começo, as IACs têm funcio-
frente: levar a cultura da qualidade ao con- nado como a representação da ONA no
junto das instituições de saúde do País . setor de saúde. São elas as responsáveis
Para isso, a organização contou com pelo diagnóstico, pela execução das tare-
o trabalho fundamental das Institui- fas, por aferir e certificar as instituições
ções Acreditadoras Credenciadas (IACs), conforme as diretrizes do SBA, por
responsáveis por oferecer capilaridade capacitar os avaliadores que realizam o
necessária à expansão do sistema e, ao trabalho em campo.
mesmo tempo, promover e executar de O relacionamento é uma via de mão
forma eficiente a metodologia do Siste- dupla, pois são as IACs que reportam à
ma Brasileiro de Acreditação (SBA). ONA o que está acontecendo no mer-
“Uma única organização, em um País cado, com sugestões para a evolução
com dimensões continentais como o do sistema. “Elas têm responsabilidade
nosso, não teria condições de fazer ava- mercadológica na busca pelo cliente
liação no grande número de organiza- e na identificação de novos nichos de
ções existentes. Temos no Brasil quase acreditação”, analisa Maria Carolina Mo-
7 mil hospitais, 12 mil laboratórios, entre reno, que atuou de 2011 a 2016 na ONA

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 31


As Instituições Acreditadoras Credenciadas

exercendo os cargos de Relações Institu- das instituições de saúde”, de autoria de


cionais e superintendente. Partiram das Antonio Quinto Neto e Fábio Leite Gastal,
IACs, por exemplo, as ideias de trabalhar que participaram ativamente do grupo
metodologias como a de pronto atendi- de estudo sobre o tema em Porto Alegre
mento e atenção domiciliar. na época. Para se ter uma ideia, a equipe
do IAHCS, antes da existência da ONA,
Parceiros de longa data chegou a avaliar 15 hospitais e certificou
Logo nos anos 2000, a ONA começou a cinco deles com o Selo Qualidade RS, em
credenciar as certificadoras. As pioneiras 1998, de acordo com o Programa Gaúcho
foram: Fundação Carlos Alberto Vanzoli- de Qualidade e Produtividade.
ni, Instituto de Administração Hospitalar “Era uma conjugação entre o Prêmio
e Ciências da Saúde (IAHCS), Instituto Nacional da qualidade e acreditação.
de Planejamento e Pesquisa para Acre- Nós fizemos a união desses dois pon-
ditação em Serviços de Saúde (IPASS), tos, juntamos esses dois sistemas”, re-
Det Norske Veritas Germanischer Lloyds corda Sérgio Ruffini, atual coordenador
(DNV/GL) e o então Instituto Qualisa de do IAHCS, que na época já atuava como
Gestão, hoje IQG Health Services Accre- professor do Instituto e participou ativa-
ditation, que estão com a ONA até hoje. mente dos estudos do grupo local.
Algumas dessas certificadoras foram Assim, quando a ONA é fundada, o
compostas pelos profissionais dos grupos IAHCS se credencia como certificadora,
regionais sobre qualidade e acreditação conforme atesta o site do instituto:
que surgiram no País durante os anos 1990
e foram reunidos, posteriormente, pelo Mi- Com o advento da ONA e sua cria-
nistério da Saúde com o objetivo de elabo- ção oficial em 1999, o núcleo original
rar o sistema de acreditação nacional. deste projeto ganhou autonomia,
Esse é o caso do IPASS, no Paraná, orga- passando a se chamar Instituto de
nização sem fins lucrativos formada por Acreditação Hospitalar e Certificação
conselhos, associações e autarquias, que em Saúde – IAHCS, passando a cola-
foi a primeira certificadora credenciada borar diretamente na criação do Sis-
pela ONA. “O grupo que formava o IPASS tema Brasileiro de Acreditação.1
participou ativamente da formação da
ONA”, comenta Fábio Motta, vice-presi- A Fundação Vanzolini, de São Paulo,
dente do instituto. O instituto é responsá- sempre trabalhou em diferentes setores
vel pelo certificado nº 1 da ONA, quando e, na saúde, realizava projetos pontuais e
chancelou os processos de qualidade do consultorias relacionadas à certificação ISO
Hospital Antônio Prudente, localizado 9001 e 14001 – trabalho que permanece
em Fortaleza (CE), como ONA nível 1, no até hoje. Em uma palestra, em 1999, Osnir
dia 1o de fevereiro de 2001. Simonatto, auditor da Vanzolini na época,
Outro exemplo é o IAHCS, no Rio Gran- conheceu Gastal, então superintendente
de do Sul, que ainda nos anos 1990 editou da ONA, e eles começaram a compartilhar
uma das primeiras publicações acerca do conhecimento sobre área de certificação.
tema, o livro “Acreditação Hospitalar, pro- “A ONA estava em um processo de de-
teção dos usuários, dos profissionais e senvolvimento do primeiro manual, mas

32 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


O primeiro escritório da ONA estava localizado em Brasília.

As primeiras Instituições Acreditadoras tiveram seus


certificados entregues pelo então ministro da Saúde, José Serra.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 33


As Instituições Acreditadoras Credenciadas

não tinha desenvolvido as regras para o corporando critérios para admissão de


processo de acreditação propriamente empresas avaliadoras. Essa foi uma das
dito, ou seja, as regras de avaliação e ge- razões pelas quais o número de empresas
renciamento de uma certificação nova”, certificadoras oscilou no período, mas sem
recorda Simonatto, que trabalhou 18 anos ultrapassar 10 avaliadoras. Nesse tempo,
na Vanzolini como certificador ONA. algumas se uniram, como é o caso da DNV,
A DNV/GL, assim como a Vanzolini, que chegou a trabalhar separada da GL até
atua nos mais diferentes setores da eco- a aliança global de ambas em 2013.
nomia. Seu trabalho no setor de saúde A British Standards Institute (BSI) e o
brasileiro começou com a certificação dos Sistema Nacional de Acreditação (DIQC)
laboratórios Hermes Pardini e Fleury pela atuaram como certificadoras ONA até
ISO 9001, em 1998. Luiz Carlos Marzano, 2012 e 2014, respectivamente.
instrutor da DNV/GL Academy na DNV/GL Em dezembro de 2012, o Instituto Bra-
- Business Assurance Brasil, conta como a sileiro para Excelência em Saúde (IBES) foi
colaboração entre as IACs foi importante credenciado pela ONA e passou a integrar o
para vencer o desafio de divulgar a acre- time das IACs. A empresa formada por Vi-
ditação pelo Brasil: “No início, ainda não vian Giudice, Aléxia Costa e Vanice Costa
existiam serviços de saúde acreditados. foi criada justamente para atender o pro-
Assim, foram anos de divulgação do pro- cesso de acreditação da ONA. “Soubemos
cesso de acreditação”, recorda. do processo para as certificadoras, nos can-
A ONA reunia as IACs em encontros pe- didatamos e, em dezembro de 2012, inau-
riódicos e itinerantes pelo Brasil, na sede guramos o IBES”, recorda Vivian Giudice,
de cada certificadora. Nas reuniões – que diretora executiva e fundadora do IBES.
perduram até hoje – discutia-se como in- Atualmente, Fundação Vanzolini, IAH-
centivar a acreditação e aprimorar os re- CS, IPASS, Det Norske Veritas Germanis-
quisitos do manual de acreditação. “Foram cher Lloyds (DNV/GL), IQG e IBES são as
momentos difíceis, pois as certificações certificadoras da ONA. Somadas, as seis fo-
eram muito raras. Mas o idealismo de to- ram responsáveis pelas 800 acreditações
dos os membros das IACs e da direção da vigentes até o lançamento deste livro.
ONA foi fundamental para a continuidade Para Luiz Otávio Fernandes de Andra-
das acreditações”, rememora Marzano. de, que atuou como vice-presidente do
Antes de começar o trabalho junto à Conselho de Administração da ONA en-
ONA, no ano 2000, o IQG concentrava sua tre 2006 e 2014, o trabalho das IACs foi
atuação na promoção da gestão de qualida- importante tanto para a evolução da me-
de nos serviços de saúde. “Antes da ONA, todologia como na expansão de serviços
não falávamos de acreditação”, recorda de saúde certificados. “O crescimento
Rubens Covello, presidente do instituto. e, especialmente, o desenvolvimento
Com a parceria, logo vieram os primeiros de processos de auditoria consistentes
hospitais acreditados, o Santa Paula (SP) e o e bem executados colaboraram muito
hospital da Unimed Fortaleza (CE). para o ganho de credibilidade da meto-
Ao longo dos 20 anos, a ONA foi in- dologia ONA de acreditação”, avalia.

1
IAHCS.Histórico. Disponível em <http://www.iahcs.org.br/site/pagina.php?id=8>.

34 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


8 9 10 11

4 5 6 7

1 2 3

Reunião de representantes
das IACs com a ONA em 2002:
1 – Mara Machado (IQG)
2 – Jaqueline Gonçalves (ONA)
3 – Ivete Wazur (IPASS)
4 – Paulo Maia (ONA)
5 – Juliana Carrijo (Anvisa)
6 – Luiz Marzano (DNV)
7 – Lourival Piovejan (GL)
8 – Péricles Cruz (ONA)
9 – Osnir Simonato (FCAV)
10 – Sérgio Ruffini (IAHCS)
11 – Rubens Covello (IQG)

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 35


EVOLUÇÃO
ç
´
EM NÍVEIS

04
Rumo à
ˆ
excelência
Desde o começo, a ONA teve a preocu- e à gestão integrada; já a fase 3 atesta a
pação de adaptar a metodologia de acre- excelência em gestão da instituição. Po-
ditação para a realidade do setor de saúde rém, com o passar dos anos e o amadu-
da época. A proposta sempre foi incen- recimento das organizações de saúde, a
tivar melhorias nas organizações e esti- ONA se tornou mais rigorosa em relação
mular o aprimoramento contínuo dentro aos critérios que compõem cada um des-
de um processo de aprendizado rumo ao ses níveis. Em outras palavras, o nível 1
ONA 3, o nível de excelência em gestão. do começo da década passada nada se
“Os níveis serviram para que as orga- assemelha com o que é requerido pelo
nizações incorporassem métodos de ges- mesmo selo atualmente.
tão internamente, métodos de segurança
do paciente e assim por diante. Foi um Percepções
processo educativo para as organizações, Ao conquistar a chancela ONA, não
que foram construindo sua gestão por importa o nível, a entidade de saúde sina-
meio dos níveis”, conta Jaqueline Gon- liza ao seu público o compromisso com
çalves, que foi gerente de Normas e Siste- padrões reconhecidos de qualidade e se-
mas da ONA entre 1999 e 2014. gurança. Nas instituições acreditadas, os
Os princípios norteadores de cada um pacientes, por exemplo, podem desfrutar
dos níveis não mudaram ao longo des- de um ambiente mais seguro. Os médi-
ses 20 anos. O nível 1 manteve o foco cos, por sua vez, se sentem mais confian-
nos padrões e requisitos que envolvem tes para realizar procedimentos em uma
segurança; o 2 é dedicado aos processos organização com processos certificados

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 37


EVOLUÇÃO EM NÍVEIS

e por saberem que o paciente está bem cessos também se transforma ao avançar
assistido. A percepção também se esten- dos níveis. Se na avaliação do nível 1 e 2
de aos fornecedores, pois continuar pres- os profissionais tendem a ser mais receo-
tando serviço a uma entidade certificada sos, na conquista pelo nível de excelência
significa preencher os requisitos necessá- eles são mais proativos e querem mostrar
rios para tal – o que começa a ser aferido as melhorias incorporadas.
já no nível 1. “No nível 3, além da maturidade insti-
“Uma organização acreditada na me- tucional, toda a parte de gestão iniciada
todologia ONA trabalha internamente no nível 2 deve estar mais aprofundada.
a gestão de qualidade na assistência, a Exigimos que a organização tenha ciclos
segurança do paciente e a avaliação de de melhoria do que ela gerenciou no pas-
risco em vários processos. Quando uma sado e que implemente novos processos.
instituição é certificada, transmite ao É um ciclo proativo de melhoria de pro-
mercado segurança nessas questões”, cessos”, explica Righi.
analisa Andrea Righi, gerente de certi- Os três níveis de acreditação da ONA
ficação da ONA. são reconhecidos internacionalmente e
O ambiente dentro das instituições e a certificados pela International Society for
participação dos colaboradores nos pro- Quality in Health Care (ISQua).

Os níveis e suas características

Para instituições que atendem aos critérios


Tem validade de 2 anos e
ONA1 de segurança do paciente em todas as
recebe visita de manutenção
Acreditado áreas de atividade, incluindo aspectos
a cada 8 meses.
estruturais e assistenciais.

Para instituições que, além de atender aos


ONA 2 critérios de segurança, apresenta gestão Tem validade de 2 anos e
Acreditado integrada, com processos ocorrendo de recebe visita de manutenção
Pleno maneira fluida e plena comunicação entre a cada 8 meses.
as atividades.

O princípio desse nível é a “excelência em


gestão”. Uma Organização ou Programa
da Saúde Acreditado com excelência
ONA 3 Tem validade de 3 anos e
atende aos níveis 1 e 2, além dos requisitos
Acreditado recebe visita de manutenção
específicos de nível 3. A instituição já deve
com Excelência a cada ano
demonstrar uma cultura organizacional
de melhoria contínua com maturidade
institucional.

Fonte: ONA

38 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


As organizações
de saúde que
possuem o nível 1 de
acreditação da ONA
estão autorizadas a
utilizar o selo da ONA
em seu site e em suas
comunicações.

Selo de
acreditado
pleno
distribuído
aos hospitais
que atingiram
o nível 2 na
acreditação
da ONA.

No nível 3, os
hospitais e instituições
de saúde possuem
acreditação com
excelência e podem
usar este selo.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 39


EVOLUÇÃO EM NÍVEIS

O PRIMEIRO ONA 3 Esse fato foi determinante para a conso-


Se no começo dos anos 2000 a maio- lidação do Sistema Brasileiro de Acredi-
ria dos hospitais brasileiros ainda apren- tação, pois deixou claro que o sistema de
dia sobre o conceito de acreditação hos- gestão, determinado pelos requisitos do
pitalar e como adotar práticas para tornar Manual da ONA, era factível para as orga-
a sua instituição mais segura, essa não era nizações de saúde, mesmo considerando
a realidade para o Hospital Márcio Cunha, todas as dificuldades de alcance de um
que se destacou ao conquistar o reconhe- nível de excelência de gestão”, recorda.
cimento ONA 3 já em sua primeira avalia- Gallinari aponta quatro fatores res-
ção. Construído pela Usiminas, na década ponsáveis por trazer ao Hospital Már-
1960, para atender os funcionários e fami- cio Cunha o reconhecimento inédito: a
liares da recém-criada cidade de Ipatinga disseminação da Cultura de Gestão da
(MG), a organização foi influenciada pela Qualidade, promovida pelo Programa de
gestão profissional da siderúrgica. Aperfeiçoamento da Qualidade, institu-
Ao longo dos anos, a cultura de quali- ído em 1995; o apoio integral da alta di-
dade da Usiminas naturalmente foi per- reção; o investimento de um sistema de
meando a gestão do hospital. O resultado gestão integrado; e o compromisso dos
foi a conquista da acredita-
ção ONA 3 em 27 de junho
Ao longo dos anos, a cultura
de 2003. “Após criteriosa
análise apresentada pelos
de qualidade da Usiminas
avaliadores na reunião de
naturalmente foi permeando a
encerramento da auditoria, gestão do hospital. O resultado
carregada de muita emo- foi a conquista da acreditação
ção, foi comunicado pela ONA 3 em 27 de junho de 2003
DNV que seria recomenda-
da a acreditação em nível de excelência ao colaboradores em construir um sistema
Hospital Márcio Cunha, feito inédito dos de gestão de saúde.
hospitais brasileiros, em função do aten- Para Fábio Leite Gastal, na época su-
dimento aos critérios do Manual Brasilei- perintendente da ONA e que participou
ro de Acreditação”, recorda José Carlos de das avaliações do hospital rumo à cer-
Carvalho Gallinari, que na época atuava tificação, a cultura de qualidade e segu-
como diretor do Hospital Márcio Cunha. rança difundida pela Usiminas – e tam-
A homologação ocorreu nos dias seguin- bém muito presente no Hospital Márcio
tes. E no dia 1º de julho de 2003 foi emitido Cunha – colaborou para a entidade alcan-
o primeiro certificado ONA 3 do Brasil. çar o reconhecimento.
Luiz Carlos Marzano, coordenador “Temos de fazer justiça ao sistema de
técnico das atividades de saúde da DNV qualidade empresarial que, no caso de
e responsável pela avaliação do hospital uma indústria siderúrgica como a Usi-
na época, recorda que, até esse momen- minas, fez toda a diferença. Eles vivem
to, a percepção era de que demoraria para a cultura da segurança, então foi natural
uma instituição alcançar o nível de exce- a adoção dessa prática”, conta. “Eles já ti-
lência. “Foi uma experiência memorável. nham a certificação ISO para laboratório,

40 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


Fábio Leite Gastal,
na época superintendente
da ONA, conversa com
dirigentes e membros
do Hospital Márcio
Cunha durante reunião
de encerramento do
processo de avaliação e
certificação ONA 3.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 41


EVOLUÇÃO EM NÍVEIS

então fazer essa ‘virada’ para o hospital O Hospital Márcio Cunha teve sua cer-
foi muito natural”, completa. tificação ONA 3 renovada ao longo dos
O reconhecimento pelo nível de ex- anos. À obtenção da acreditação em nível
celência trouxe ao hospital “um ciclo de excelência somaram-se outros reco-
virtuoso”, nas palavras de Gallinari. As nhecimentos, como o Prêmio Mineiro
atualizações das edições seguintes dos de Qualidade, em 2008, e a certificação
manuais desafiaram o hospital a aprimo- pela Healthcare Accreditation, cujos cri-
rar seus processos com fornecedores e térios são baseados nos padrões National
clientes, além de contribuir para fortale- Integrated Accreditation for Healthcare
cer as práticas assistenciais. Organizations (NIAHO), em 2014. Em
“Estabeleceu-se uma cultura organi- 2017, o Márcio Cunha foi certificado pela
zacional voltada para gestão eficiente e Healthcare Information and Manage-
centrada no cliente, com alto rigor téc- ment Systems Society (HIMSS), o que o
nico, melhoria constante de processos, tornou um hospital digital. Também no
valorização e desenvolvimento dos co- mesmo ano, o hospital ganhou o prêmio
laboradores e resultados financeiros”, Laboratório de Inovação concedido pela
afirma Gallinari, que hoje ocupa o cargo Organização Pan-Americana de Saúde
de assessor de Relações Institucionais da (OPAS) em parceria com a Agência Nacio-
Fundação São Francisco Xavier. nal de Saúde Suplementar (ANS).

O Hospital
Márcio Cunha,
localizado em Ipatinga,
Minas Gerais, foi o
primeiro acreditado
ONA 3. A acreditação
com excelência foi
concedida em 1º de
julho de 2003.

42 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


Imagem aérea
do Hospital Márcio
Cunha. A unidade
é mantida pela
Usiminas.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 43


CRESCER E SE
TRANSFORMAR

05
Movimento
˜
de expansão
No final de 2001, a ONA, por meio de Nesse período, a baixa adesão de hospi-
suas IACs, havia aprovado os proces- tais à acreditação pode ser explicada tanto
sos de qualidade de sete hospitais em pelo desconhecimento acerca do assunto
diferentes regiões do Brasil. Dois anos como pelo tempo necessário para os hos-
depois, o Hospital Anchieta (DF) é o pri- pitais se prepararem para o processo. “O
meiro deferido com nível pleno (ONA 2), movimento começa muito incipiente em
e o Hospital Márcio Cunha é pioneiro ao 2001 e 2002, até esse momento não temos
conquistar o nível de excelência (ONA um número expressivo de hospitais acredi-
3). Em 2009, dez anos depois da funda- tados”, analisa Péricles Góes da Cruz, supe-
ção da ONA, existiam 126 hospitais certi- rintendente da ONA. “Eu diria que o peso
ficados nos três diferentes níveis. mais expressivo é o da cultura que passa a
Foi também nessa primeira década de ser mais assimilada. Os hospitais precisa-
atuação que a ONA passou a reconhe- vam de um tempo de maturação e prepa-
cer outros serviços de saúde. A primeira ração para serem acreditados”, acrescenta.
certificação de serviços de hemoterapia Assim, aos poucos, os hospitais foram
ocorreu em 2002, laboratórios foram buscando a acreditação, movimento que
acreditados em 2003, nefrologia e ambu- ocorre principalmente a partir de 2006,
latórios em 2005, atenção domiciliar em quando o número de homologações re-
2006, e, por último, os serviços de ima- alizadas pela ONA quase que dobra em
gem em 2007. Ao final de uma década, relação ao ano anterior.
esses serviços totalizavam 164 certifica- No início do movimento de acredita-
ções1 e passariam o número de hospitais. ção, alguns fatores influenciaram os hospi-

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 45


CRESCER E SE TRANSFORMAR

tais a buscarem mais informações sobre o A segunda década


tema e, posteriormente, a se submeterem Após a primeira década de atuação da
à avaliação. Um deles foi a comparação en- ONA é que o debate acerca do tema acre-
tre os pares, a busca pelo certificado para ditação se torna mais frequente, e iniciati-
mostrar ao mercado. O outro, a preocupa- vas prosperam entre os agentes do setor.
ção das entidades em, obviamente, “errar O resultado não poderia ser outro: o cres-
menos” ao aprimorar seu sistema de qua- cimento de instituições certificadas. Em
lidade para conquistar o selo. 19 de junho de 2013, a ONA realiza a ho-
“No primeiro momento, eles enten- mologação da certificação do Laboratório
deram que era marketing. Mas, logo em Gama (ES) e alcança um novo marco em
seguida, quando se implantou de fato a sua história: 1.000 acreditações confe-
acreditação, os hospitais entenderam que ridas3. Na ocasião, Luiz Plínio Moraes de
era um programa de melhoria contínua, Toledo, presidente da ONA, comentou:
identificação do risco, de gerenciamento “O número pode ser insignificante
de pessoas”, analisa Rubens Covello, pre- diante da quantidade de instituições
sidente do IQG Health Services Accredita- existentes no País. Mas é preciso levar em
tion. “A grande sacada do movimento de conta que, quando a ONA iniciou suas
acreditação é justamente o envolvimento atividades, há pouco mais de 13 anos, nin-
de todos os hospitais den-
tro do processo de qualida-
de e segurança”, completa.
Em 2001, a criação da Associação
Em 2001, a criação da
Nacional de Hospitais Privados
Associação Nacional de (Anahp) dá mais um impulso
Hospitais Privados (Anahp) ao movimento ao exigir a
dá mais um impulso ao acreditação dos interessados a
movimento ao exigir a se tornar um hospital associado
acreditação dos interessa-
dos a se tornar um hospital associado. Na guém sabia o que era acreditação aqui no
ocasião de sua fundação, na Carta de Brasí- Brasil. Mesmo o pessoal da área de saúde
lia, firmada pelos dirigentes dos 23 hospi- não conseguia nem guardar o nome. Ou
tais fundadores, a qualidade está presente seja, começamos do zero.”4
como um dos objetivos: “Fazer com que É a partir deste período também
os ganhos com a qualidade dos seus ser- que a Agência Nacional de Saúde Su-
viços cheguem ao maior número possível plementar (ANS) passa a incentivar
de cidadãos”1. No livro: “O Hospital – Me- mais políticas de qualidade no setor.
mórias de um Brasil em Transformação”, Em 2011, ela publica a Resolução Nor-
Reynaldo Brandt, primeiro presidente da mativa 277, que institui um programa
Anahp, conta como a certificação é parte voluntário de acreditação de operado-
dos princípios fundadores da entidade. ras de planos de saúde. Na opinião de
“Naquela época, tínhamos a visão da ne- Sérgio Ruffini, coordenador do IAHCS,
cessidade da certificação como meta a ser essas medidas têm um “efeito cascata”
atingida e, uma vez conseguida, ela seria o positivo. Para conquistar a acreditação
piso, não o teto.”2 junto à ANS, a operadora passa a exigir

46 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


Para comemorar o ingresso da ONA na ISQua,
International Society for Quality in Health Care, foi
organizado um jantar em São Paulo, que contou com a
presença de membros da Diretoria e do Conselho da ONA,
além de representantes das instituições acreditadoras.

No início, o trabalho da
ONA foi de conscientizar sobre a
importância da acreditação. Na foto,
Fábio Leite Gastal apresenta um
trabalho sobre o sistema brasileiro
de acreditação, durante a 16th
International Conference for Quality
in Health Care, em Buenos Aires.

Maria Carolina Moreno, que foi


Relações Institucionais e, posteriormente,
superintendente da ONA.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 47


CRESCER E SE TRANSFORMAR

de seus prestadores informações que que apresentam modelos de gestão e pa-


comprovem a qualificação do serviço. drões operacionais referenciados”, anali-
Isso tem um impacto nas finanças tam- sa Andrade.
bém, pois a operadora pode remunerar Em 2015, a Anahp volta a colaborar
de forma diferenciada, conforme os in- com a expansão de certificações ao re-
dicadores. “Do ponto de vista econômi- estruturar suas categorias e os critérios
co, um grande momento ocorreu quan- de ingresso de seus integrantes. A di-
do a ANS passa a exigir acreditação das visão “Associados Titulares” é direcio-
operadoras e dos prestadores. Foi uma nada aos hospitais com alguma acredi-
mola propulsora”, comenta. tação de excelência como ONA 3 e as
Em 2016, é lançado o QUALISS, via internacionais JCI (Joint Commission
Resolução Normativa 405, com ob- International), NIAHO (National Inte-
jetivo de promover a qualificação de grated Accreditation for Healthcare Or-
hospitais, laboratórios e profissionais ganizations) e Qmentum. Também é
de saúde e disponibilizar as informa- criada a categoria Associados, destinada
ções sobre a qualidade desses ser- às instituições hospitalares que ainda
viços aos beneficiários
de planos de saúde, e a Em 2016, é lançado o QUALISS,
ONA passa a integrar a
via Resolução Normativa 405,
iniciativa a convite da
agência reguladora.
com objetivo de promover
Para Luiz Otávio Fer-
a qualificação de hospitais,
nandes de Andrade, que laboratórios e profissionais
foi vice-presidente da de saúde e disponibilizar as
ONA, o trabalho da ANS na informações sobre a qualidade
unificação do rol de proce- desses serviços
dimentos e na padroniza-
ção dos contratos de operadoras fez com não cumprem os requisitos necessários
que os beneficiários começassem a com- para se tornarem Associados Titulares,
parar as operadoras sob o ponto de vista mas que “se comprometam a adotar
da rede credenciada. Tal visão fez com as medidas necessárias para adquirir a
que as operadoras começassem a exigir certificação de qualidade no prazo de
melhorias na qualidade e segurança dos quatro anos.”5 Em 2017, os hospitais
serviços prestados. associados à entidade respondiam por
“A acreditação passou a ser, nesse 31,8% das acreditações nacionais.6
contexto, uma referência para que a so- A partir da segunda década, a ONA
ciedade pudesse avaliar os prestadores. começa a certificar programas de saúde,
A Resolução Normativa 405 contribuiu serviços oncológicos, hospitais dia e ser-
para fortalecer a transparência sobre o viços odontológicos. Em abril de 2019,
processo de qualificação. Isso porque a entidade alcançou 800 certificações
estabeleceu padrões de divulgação das vigentes totais, sendo que 344 são hos-
acreditações por parte da rede prestadora pitais – 84 em nível 1; 99 em nível 2 e 161
e permitiu ao usuário escolher serviços em nível 3.7

48 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


CRESCER E SE TRANSFORMAR

Transformações Outra mudança está relacionada


As mudanças internas pelas à tecnologia, com o lançamento do
quais a entidade passou em sua sistema ONA Integrare, em março de
segunda década contribuíram 2013. Desenvolvido exclusivamente pela
para o crescimento no número de ONA com o objetivo de automatizar
acreditações. Uma delas foi a própria todo o processo de acreditação, ele
mudança de sede: a entidade sai de permite uma tramitação mais rápida
Brasília (DF) e começa a atuar em de documentação, envio e troca de
escritório no Centro da cidade de São informações pela internet.
Paulo em 2014. A nova fase também O principal trunfo da ferramenta é
é marcada pela aproximação com que ela permite a integração de todos
a International Society for Quality os envolvidos na acreditação em um
in Health Care (ISQua), que certifica ambiente seguro e de fácil navegação.
o Manual Brasileiro de Acreditação Avaliadores, IACs, organizações
das Organizações Prestadoras de acreditadas e em processo de
Serviço de Saúde desde 2013. “Foi a avaliação têm acesso a dados e
primeira vez que um manual brasileiro documentos de cada etapa em
foi acreditado”, conta Maria Carolina andamento, garantindo mais agilidade,
Moreno, que atuou na ONA de 2011 a transparência e segurança.
2016 exercendo os cargos de Relações “O sistema ONA Integrare é o único
Institucionais e, posteriormente, sistema especializado em processos
superintendente. Durante o período, de acreditação em todo o mundo. Essa
Moreno relata mudanças na estratégia afirmativa se deu após uma avaliação
de comunicação e fortalecimento da internacional realizada pela ISQua.
marca, que fizeram com que a ONA Na ocasião, após a apresentação das
mudasse a forma de relacionamento funcionalidades do ONA Integrare,
com seu público. Em 2016, mais um os avaliadores elogiaram o sistema e
reconhecimento: a ONA é acreditada disseram que era a primeira vez que
pela ISQua. No mesmo ano, a tinham se deparado com um processo
organização muda de sede novamente de acreditação sistematizado”, relata
e, dessa vez, vai para o bairro da Cássia Manfredini, gerente de Normas
Consolação, também em São Paulo. e Sistemas da ONA.

1
Levantamento de certificações de 2000-2009, conforme dados fornecidos pela ONA.
2
O Hospital – Memórias de um Brasil em Transformação. Livro da Associação Nacional de Hospitais
Privados (2016).
3
ONA. Ao atingir mil certificações homologadas, ONA mantém muitas instituições acreditadas
desde 1999. Disponível em: <https://www.ona.org.br/Noticia/214/Ao-atingir-mil-certificacoes-homolo-
gadas-ONA-mantem-muitas-instituicoes-acreditadas-desde-1999>.
4
ONA. A história da acreditação no Brasil. Disponível em: <https://www.ona.org.br/Noticia/216/A-O-
NA-e-a-historia-da-acreditacao-no-Brasil>.
5
Portal Saúde Business: Empresas de homecare podem se afiliar à Anahp. Disponível em:
<https://saudebusiness.com/mercado/empresas-de-homecare-podem-se-afiliar-a-anahp/>.
6
Dados do Observatório Anahp 2018.
7
Dados ONA, Abril/2019.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 49


Legado

06
Educação
ç e
˜
discussões
futuras
Vinte anos depois de 1º de junho de saúde e considerou diferentes tipos de
1999, quando a ONA foi fundada, o setor serviço”, comenta.
de saúde ainda tem inúmeros desafios Para Sérgio Ruffini, coordenador do Ins-
pela frente. No entanto, ao longo desses tituto de Administração Hospitalar e Ciên-
anos, diversos fatores atuaram para tornar cias da Saúde (IAHCS), o legado da ONA
a assistência à saúde no Brasil mais segura. está em “puxar” as instituições em direção
Ao lado da difusão da acreditação, é possí- ao aprimoramento da gestão de qualidade
vel citar a atuação da Agência Nacional de e da gestão de risco por meio das atuali-
Saúde Suplementar (ANS) e da Agência de zações das publicações. “Justamente por
Vigilância Sanitária (Anvisa), a influência estabelecer em seus manuais requisitos
das movimentações e transações entre os cada vez mais exigentes em relação à se-
players, inclusive internacionais, e o ama- gurança do paciente, a ONA ‘obriga’ as ins-
durecimento da gestão no setor. tituições a aprender”, analisa.
A ONA contribuiu para a construção Sem dúvida, a contribuição para a edu-
dessa história. Na opinião de Ana Maria cação do setor de saúde foi um dos princi-
Malik, professora da Fundação Getulio pais legados da entidade. E isso também
Vargas, o legado da entidade foi levar a ocorreu de forma vanguardista: a ONA
avaliação de serviços de saúde para além investiu em educação a distância baseada
do hospital. “Ela introduziu com mais ên- na web em uma época em que a modali-
fase a avaliação externa em serviços de dade era pouco utilizada pelos brasileiros.
O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 51
Legado

Além dos convênios firmados entre Para tornar tudo isso possível, a ONA
ONA e Anvisa, que deram origem aos precisava de um parceiro na área de
manuais de acreditação de diversos ser- tecnologia. A escolhida foi a Gestum,
viços de saúde (confira o capítulo 2 des- empresa especializada em educação a
te livro), foram firmadas parcerias entre distância que personalizou a platafor-
as entidades com foco em treinamento ma para atender às necessidades do
e capacitação. Para dar vazão aos inú- programa da entidade e torná-la ade-
meros profissionais que precisavam ser rente ao público – um grande desafio
treinados Brasil afora, o pouco conheci- para o período.
do ensino a distância foi providencial. “Na época, a ONA foi pioneira,
“A ONA foi uma das primeiras institui- pois a capacitação on-line era muito
ções de saúde que apostou em educação baixa”, relembra César Braga, que na
a distância apoiada pela web. Usamos época era CEO da Gestum. Ele tam-
intensivamente a educação a distância bém destaca o ineditismo na criação
para capacitar profissionais de saúde da loja virtual. “Nós desenvolvemos a
das vigilâncias sanitárias municipais e parte de e-commerce, o que também
estaduais e também para a formação de era algo muito inovador para a época.
avaliadores”, conta Fábio Gastal, que na Era possível automatizar todo o pro-
época atuava como superintendente da cesso: as pessoas compravam o curso
organização. diretamente no portal, realizavam o
Assim, nascia o ONA Educare, pro- curso e depois recebiam o certificado
grama de educação a distância baseado digitalizado”, acrescenta.
na web, com conteúdo sobre conceitos A parceria entre os times da ONA e
de qualidade, análise e avaliação para a da Gestum foi fundamental para su-
acreditação, utilizando os critérios base- perar os obstáculos na construção da
ados na metodologia ONA. plataforma do programa de educação a
“O objetivo era a divulgação do mo- distância. Desde seu início, o ONA Edu-
delo de avaliação da qualidade e da acre- care já capacitou mais de 35 mil alunos.
ditação e a formação do maior número Só em 2018, foram 1.823 profissionais
possível de profissionais atuantes na formados pelo programa.
assistência e na gestão do setor saúde”,
recorda Ione Fuhrmeister Roessler, que Discussões sobre o futuro
foi coordenadora, supervisora pedagógi- Péricles Góes da Cruz, superinten-
ca e coautora do Programa de Cursos de dente técnico da ONA, acredita que as
Ensino a Distância via Internet da ONA certificações continuarão a crescer, pois,
entre 2002 e 2013. mesmo com a crise econômica no país
Desde o início, a metodologia utiliza- nos últimos três anos, o número de cer-
da considerava não apenas o conteúdo tificações continuou aumentando – in-
dos cursos, como também proporciona- clusive a quantidade de primeiras certi-
va o debate dos assuntos entre os inte- ficações conquistadas.
grantes em comunidades virtuais, o que Para Luiz Otávio Fernandes de Andra-
oferecia a possibilidade da construção de, vice-presidente da ONA entre 2006
coletiva do aprendizado. e 2014, a tendência é que o assunto con-

52 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


Equipe da ONA promove
formação de profissionais
durante a feira Hospitalar,
em 2018.

5o Encontro de Avaliadores, em 2019,


promovido pela ONA. Promover educação
continuada é uma marca da organização.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 53


Legado

tinue na pauta do setor, inclusive pela


discussão acerca de novos modelos de
remuneração. “Os modelos passam obri-
gatoriamente pelo compartilhamento
de risco entre fontes pagadoras e presta-
doras. Isso exigirá dos prestadores cada
vez mais eficiência em gestão adminis-
trativa e assistencial. As certificações são “Entendemos que a
um direcionamento sobre como adotar
ONA deve fortalecer
as melhores práticas para atingir esse
objetivo”, analisa.
o seu papel de
Na atual gestão da ONA, a meta é atin- protagonismo na
gir 1.000 instituições acreditadas até saúde brasileira
março de 2021. Para isso, a organização e mundial,
trabalha para aprimorar o sistema de colaborando para o
tecnologias e dados, com o objetivo de desenvolvimento do
agilizar o processo de avaliação e moni- setor saúde no nosso
toramento e adotar uma nova estratégia continente”
de comunicação com o mercado. “En- Cláudio Allgayer, presidente da ONA
tendemos que a ONA deve fortalecer o
seu papel de protagonismo na saúde
brasileira e mundial, colaborando para
o desenvolvimento do setor saúde no
nosso continente”, analisa Cláudio All-
gayer, presidente da ONA.

A contribuição da liderança
O legado da ONA no desenvolvimento no começo. Foi o grande idealizador,
do setor de saúde passa pela liderança começou a ‘pregar’ para os hospitais
de Luiz Plínio de Moraes Toledo, que que realmente precisavam de um
fundou e presidiu a entidade por 15 anos. processo para serem avaliados e que
A missão de Toledo foi árdua: ninguém precisávamos de um padrão”, analisa
sabia o que significava a palavra Walter Lyrio do Valle, que foi vice-
acreditação na época, e ele foi um dos presidente da ONA.
responsáveis por ajudar na difusão de Arlindo de Almeida, segundo
um padrão pelo Brasil. presidente da ONA, é lembrado por
“O principal legado do dr. Plínio foi a liderar a organização em um momento-
própria ONA. Ele foi um dos grandes chave: a internacionalização da entidade,
defensores do processo de acreditação, quando esta recebeu o reconhecimento
mesmo com todos os percalços e da ISQua (International Society for
dificuldades pelos quais passamos Quality in Health Care).

54 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


Legado

Luiz Plínio de Moraes Arlindo de Almeida,


Toledo (1948-2015), presidente da ONA
presidente da ONA de 2015 a 2017.
de 1999 a 2015.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 55


Por
uma saúde
dentro dos
˜
padrões

07
A estrada
até´ aqui
Por Cláudio José Allgayer

Ao longo desses 20 anos, a Organização integrada. Por essa razão, ao longo desses
Nacional de Acreditação (ONA) trilhou anos, a ONA firmou parcerias com enti-
seu caminho com a missão de promover dades do setor de saúde, autarquias e so-
a assistência de qualidade e segurança ciedades médicas com o objetivo de que
do paciente. Fizemos isso enfrentando o entendimento de uma instituição segu-
os mais diversos desafios num País de ra e de qualidade extrapolasse o espaço
dimensões continentais, extremamente físico do hospital. Assim, hoje o nosso
diverso e desigual em muitos aspectos, compromisso com o desenvolvimento
entre eles, nos serviços de saúde. de um setor de saúde mais seguro para
Nesse contexto, o apoio e a participa- o paciente é partilhado não apenas com
ção das instituições acreditadoras (IACs), hospitais, mas também com laboratórios,
dos conselheiros e colaboradores da ONA serviços de odontologia, hemoterapia,
foram fundamentais para levar a nossa entre outros serviços de saúde.
mensagem adiante. Esses profissionais Essa também é a realidade de serviços
agiram como desbravadores ao divulgar adjacentes e essenciais para o funcio-
o conceito da acreditação, os princípios namento de uma instituição de saúde,
da metodologia e a importância de tornar como lavanderia e nutrição, entre ou-
as instituições de saúde locais mais segu- tros, que são reconhecidos com o Selo
ros, numa época em que essa discussão de Qualificação. Ao criar essa certificação,
ainda era incipiente. estendemos nosso compromisso em
A ONA sempre vislumbrou o sistema contribuir com um sistema de saúde in-
de saúde como uma rede naturalmente tegrado e mais seguro.

O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro \ 57


Por uma saúde dentro dos padrões

Nesses 20 anos, alcançamos mais de abrangência de serviços certificados e o nú-


800 acreditações válidas. Chegar a essa mero de acreditações concedidas tornaram
marca só foi possível devido ao caráter a ONA referência nos padrões nacionais de
educacional de nossa metodologia. A qualidade e segurança do paciente. Com
adaptação em níveis foi fundamental para a chancela da International Society for
o processo de aprendizado e o aprimora- Quality in Health Care (ISQua), conquista-
mento das instituições. Com os três níveis, mos reconhecimento internacional e mos-
a metodologia reconhece o trabalho, as tramos que o nosso manual está no mesmo
mudanças, a atuação da liderança em cada patamar de outras acreditações ao redor do
marco conquistado rumo à excelência – o mundo. Foram esses os caminhos que tri-
que difere totalmente do “é tudo ou nada” lhamos até aqui. Foram essas as escolhas
preconizado por outras metodologias. que fizemos em prol do desenvolvimento
As características da metodologia, a do setor de saúde brasileiro.

58 \ O papel da ONA na construção do sistema de saúde brasileiro


20 ANOS

www.ona.org.br

Você também pode gostar