Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Outro fator relevante que explica o crescimento deste mercado é o fato de que o
perfil do novo consumidor, que está interessado nas inovações e nas opções do
mercado para produtos análogos aos produtos de origem animal, especialmente o
público que tem aderido ao vegetarianismo, veganismo ou flexitarismo, além de
consumidores que, em razão de alergias alimentares, buscam opções análogas que
não levem leite, ovo e/ou soja como estratégia para diversificação de sua dieta.
Surge, assim, espaço para alcançar consumidores de diferentes perfis, até mesmo
os curiosos.
Mas além do produto final, isto é, do alimento que chega à prateleira, é preciso pensar
no mercado B2B, na indústria de ingredientes que precisa acompanhar essa inovação
e fornecer insumos cada vez mais diversificados e focados nesse mercado.
Embora o cenário seja indubitavelmente favorável, para que haja o avanço desejado
e investimento necessário por parte da indústria, é preciso um cenário regulatório
consistente e previsível, que traga segurança jurídica.
Marco regulatório
A proposta seria que as diferentes fontes de obtenção dos alimentos não sejam
tratadas como categorias específicas de novos alimentos, pois esta abordagem
poderia aumentar desnecessariamente o número de produtos classificados como
novos, pois a fonte, por si só, não seria determinante dos riscos do produto.
Este tema está em revisão, tendo havido abertura de processo em 14/05/2019 (TAP
nº 18/19), presente no item 3.7 da Agenda Regulatória 2021/2023 – “Modernização
do marco regulatório, fluxos e procedimentos para novos ingredientes”, o qual
demanda acompanhamento atento por parte dos agentes interessados no assunto.
Isto porque, embora a revisão em curso não esgote as questões afetas à produção e
comercialização de alimentos à base de plantas, tema ao qual se dedica o item a
seguir, a modernização do marco regulatório, fluxos e procedimentos para novos
ingredientes tem estreita relação com o assunto em tela.
Problema regulatório:
– Reguladores de acidez
– Antiespumantes
– Agentes de firmeza
– Preparações enzimáticas
– Solventes de extração
– Agente anti-poeira
– Melhoradores de farinha
– Espessantes
Ainda que a norma Codex indique que essas são funções de coadjuvantes de
tecnologia e que aditivos alimentares não seriam aprovados, verifica-se que as
funções em negrito são relativas a aditivos alimentares, segundo a Portaria
540/1997.
Ou ainda, uma vez que não existem regulamentações específicas para produtos de
origem vegetal, a premissa é encontrar, nas legislações vigentes, produtos similares
que possuam normas de referência para aditivos, sempre tendo em mente a
necessidade tecnológica do aditivo em questão. Por exemplo: Para um hambúrguer
vegetal, uma possibilidade de produto “similar” poderia ser uma panqueca, que teria
consistência parecida e é preparada da mesma forma (cocção em frigideira quente).
Outro item a ser avaliado caso a caso quando da escolha da legislação de referência
para uso de aditivos em produtos plant based seria a composição do produto em
questão. No exemplo dado, se o hambúrguer vegetal possuir como ingredientes
principais as farinhas de vegetais, seria outro ponto a favor do uso da legislação de
referência para aditivos em panquecas nesse caso.
Ainda que superados os desafios acima, falta clareza sobre a possibilidade de os
produtos análogos trazerem denominações baseadas em termos que são de uso
consagrado aos produtos de origem animal – tema que tem gerado bastante debate,
inclusive no âmbito do Poder Legislativo, onde tramitam o PL 10556/18 e o PL
5344/2020, que visam impedir o uso da denominação leite (e de seus derivados) em
produtos que não tenham origem na "secreção mamária das fêmeas mamíferas",
assim como o PL 2876/19 e o PL 5499/2020, que buscam impedir o uso de termos
típicos de produtos cárneos, como hambúrguer e almôndega, a pretexto de evitar a
alegada – e nunca comprovada – confusão por parte dos consumidores, na
contramão do que o mercado consumidor tem demandado, como compravam os
números indicados anteriormente.
Há, também, projeto de lei que visa penalizar estabelecimentos comerciais que
usarem produtos análogos e/ou substitutos de produtos lácteos, sem a devida
informação ao consumidor (PL 5042/2020) e um que objetiva vedar a venda de
produtos análogos próximos dos tradicionais, em prejuízo ao desejo dos
consumidores dos análogos e criando custo injustificado aos mercados (PL
5283/2020).
Em outro, sem que tenha havido o devido debate e verificação da melhor maneira de
informar ao consumidor e em clara invasão da competência técnica da Anvisa, indica
que produtos assemelhados a lácteos deverão trazer a expressão “assemelhado” ou
“sabor que imita” queijo, requeijão, iogurte ou leite, conforme o caso. (PL 515/2021).
Para além da existência dos projetos de lei mencionados, o Mapa abriu uma Tomada
Pública de Subsídio por meio da Portaria SDA Nº 327, DE 02 DE JUNHO DE 2021, a
Tomada Pública de Subsídios - SDA/MAPA n° 005/2021, na qual a questões que
sinalizam a existência de interpretação de que os produtos baseados em plantas
representariam “concorrência desleal” em face dos produtos de origem animal, além
de mencionar a questão atinente à denominação, registro, dentre outras questões de
extrema relevância, mas talvez não do modo e lócus mais adequado.
Em razão do quadro exposto, a indústria não tem clareza sobre os requisitos técnicos
e sanitários admitidos pelos órgãos reguladores, havendo risco de falha no mercado,
caso eventual desfecho no Legislativo ou em decorrência da TPS acima mencionada,
resulte na vedação do uso de denominações consagradas e reconhecidas pelos
consumidores, sob equivocada justificativa de que os produtos análogos
representariam concorrência desleal.
É sabido que o uso das denominações conhecidas pelos consumidores para os
produtos análogos é medido que, além de facilitar a sua identificação em meio a uma
diversidade de opções, cria um ambiente favorável do ponto de vista social a quem
opta pelas opções plant-based (veganos, vegetarianos ou flexitarianos) ou precisa
consumir produtos que não contenham insumos de origem animal (em especial,
alérgicos a leite e/ou ovo).
O fato é que a falta de clareza quanto à competência para regular esse assunto
resulta em falha institucional, o que demanda uma definição urgente do órgão
competente e do marco normativo aplicável, sob pena de um ambiente desfavorável
à inovação (a depender de como o assunto for encaminhado, poderá, inclusive, haver
falha regulatória, caso o caminho adotado seja impeditivo da inovação) e, como
consequência, um cenário que vai na contramão da tendência de mercado e da
demanda ambiental.
Países que não regulamentam o assunto ou que vedam o uso de tais denominações
enfrentam situações de bastante assimetria informacional, que vão desde liminares
em favor do uso das denominações por parte de uma dada empresa, que não alcança
outras do mesmo segmento, a produtos denominados como “creme” ou “pasta”,
dispostos ao lado de iogurtes e queijos, e “bebida a base de”, que ficam expostos ao
lado das embalagens de leite, o que significa dizer que a vedação, a pretexto de
auxiliar o consumidor, cria um desafio ainda maior, seja para aquele que deseja a
versão análoga, seja para aquele que preferiria a versão tradicional, que não tem a
seu favor uma maneira que lhe permita diferenciar os produtos nas gôndolas.