RESENHA TEXTO AULA 08 - Teoria e Método em Geografia
Gabriel Muniz de Souza Queiroz
Notas Sobre Epistemologia da Geografia – Dirce Suertegaray
Escrito de autoria de uma das docentes de Teoria e Método em Geografia, estas Notas Sobre Epistemologia da Geografia se apresentam de forma bastante didática, como afirmado em sua proposta; e elucidativa, como desenvolvimento das questões que têm sido pontuadas no decorrer desta disciplina do POSGEA/UFRGS. Suertegaray inicia o texto com noções sobre epistemologia – ramo da filosofia que estuda o conhecimento científico –, relacionando-a à contemporaneidade, dada a sua importância na fundamentação da sociedade atual. Passa, então, a discorrer sobre a Epistemologia da Geografia, trazendo um recorte que compreende os anos 1870 até a atualidade. Centrando a abordagem em questões de semântica e metodologia, a autora aponta algumas questões inerentes a este campo científico, destacando a utilidade de sua Epistemologia; as relações entre teoria e prática nas escolhas dos geógrafos; e a presença marcante do empirismo, trazendo a necessidade de romper com esta perspectiva, afirmando, assim a importância do desenvolvimento epistemológico enquanto ciência. Para contextualizar a Geografia no campo do pensamento científico, Suertegaray traça um apanhado histórico, que situa a ciência em questão em suas relações com diversas correntes de pensamento filosófico / científico, destacando inicialmente dois caminhos para o conhecimento do mundo: A Metafísica e a Dialética. A partir de então, o texto dedica capítulos específicos para alguns métodos científicos, com suas características conceituais e metodológicas. Primeiramente o Positivismo é apresentado, dado o seu período de hegemonia (séc. XIX) e a sua influência na constituição da Geografia como ciência autônoma (anos 1870). No entanto, a autora pontua a distinção que o método positivista fazia entre ciências naturais e sociais, o que trouxe um dilema (e críticas) para o campo geográfico, cuja especificidade de atuação transita entre os dois vieses científicos. Além disso, outras críticas chegam com o Neopositivismo, por esta ambiguidade e também pela não construção de teorias no período da Geografia Clássica. Em seguida o método Dialético é contextualizado historicamente, com os pioneiros na Grécia antiga, sendo retomado no século XVIII, com destaque ao pensamento de Hegel. Precede-se, então, a concepção dialética de Marx e Engels em seu Materialismo Histórico, desvinculando-se da influência de Hegel a partir de uma abordagem não idealista. Para a Geografia, a abordagem marxista representou uma ruptura e críticas às leituras positivistas, configurando um antagonismo no debate sobre o fazer geográfico na modernidade, tendo forte influência nos anos 1970, também na Geografia no Brasil. O terceiro método apresentado é o da Fenomenologia, difundido por Hussell no séc. XIX, sendo retomada nos anos 1970, como uma das vertentes surgidas após as críticas à Geografia Clássica. A Fenomenologia privilegia o sujeito do conhecimento, considerando o ato de construir essências e significações, havendo uma aproximação entre sujeito, objeto e outros sujeitos, excluindo crenças e preconceitos no intuito de captar o sentido e significados atribuídos pelos atores ao espaço vivido. Esta corrente, no campo geográfico, apontou os caminhos para a Geografia Humanista, principalmente em sua abordagem na Geografia Cultural. Após a explanação destes métodos, Suertegaray passa a um capítulo que especifica as relações da Geografia com a Pós-Modernidade. A autora apresenta as diferentes compreensões sobre este conceito – cujo sentido ainda está por se consolidar – porém refere-se temporalmente ao período de transformações ocorridas desde os anos 1970 até a atualidade, caracterizado como Período Técnico Científico Informacional, conforme a proposição de Milton Santos. Também é destacada, na Geografia (ou geografias), a multiplicidade de abordagens, leituras, métodos, valorizando bastante questões de identidade, e ressaltando variáveis de relação entre o único e o múltiplo. Temos então, no sétimo capítulo, uma proposição sobre Geografia, Ambiente e Anarquismo. Como já disposto nos capítulos anteriores, esta abordagem passa também pelos conceitos relacionados a Anarquismo / Anarquia; apresenta alguns de seus pensadores pioneiros, dando destaque àqueles que em suas leituras aprofundaram reflexões sobre o espaço geográfico, em especial os pensadores anarquistas/geógrafos Kropotkin e Reclus. A autora traça, em seguida, apontamentos sobre as experiências de espaços anarquistas no decorrer da história, trazendo relação com algumas possibilidades atuais na questão de organização política e espacial, em diferentes escalas (em especial, as menores, comunidades, municípios); E noções sobre o conceito de Ambiente, tal como desenvolvido em Geografia e suas relações com a perspectiva libertária. O texto finaliza com um capítulo adicional, a partir do qual Suertegaray discorre sobre alguns conceitos geográficos, propondo uma elaboração de imaginação geográfica (disco de cores) para enfatizar as relações entre os conceitos entre si (multiplicidades) e junto ao conceito maior de espaço geográfico (unicidade).