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Elétrica.
vii
"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu."
Eclesiastes 3:1
Resumo
Estudos apontam que aproximadamente 78 milhões de raios incidem todos os anos no Brasil.
Tal fenômeno figura como um dos principais ofensores em desligamentos não programados de
linhas de transmissão com níveis de tensão de até 230 𝑘𝑉 . Além disso, a cada 50 mortes
no mundo por raios, 1 ocorre no Brasil. Ainda no contexto de segurança, dados extraídos
apontam 175 mortes no estado de Minas Gerais, entre os anos de 2000 a 2019, colocando o
estado em segundo lugar no pódio nacional, atrás apenas do estado de São Paulo com 327
mortes. Todos os quantitativos apresentados sugerem a importância dos estudos de transitórios
nos aspectos construtivos de dipositivos de proteção em torres de transmissão, para que seja
garantido o desempenho de linhas de transmissão exigidos por normas regulatórias. Os estudos
referentes as análises de transitórios eletromagnéticos tendem a prever não apenas um aumento
significativo da confiabilidade do sistema como também garantir a segurança humana dos que
se encontram próximos a regiões atingidas, a partir da produção de projetos de aterramentos
confiáveis. A fim de agaranhar resultados consistentes, são realizadas análises comparativas
entre os modelos para os distintos cenários de resistividade, corrente injetada e dependência
de parâmetros do solo. Por fim, é abordada a melhoria do desempenho das linhas, a partir da
instalação de dispositivos de proteção para-raios. Sendo assim é possível sugerir a alocação
ótima de para-raios dentro do cenário base proposto, visando alinhar a viabilidade financeira
com o ganho relacionado a proteção do sistema. Previstas tais análises, constata-se a efetividade
de redução de sobretensões atmosféricas na cadeia de isoladores a partir de projeto adequado
de aterramento e a instalação ótima de para-raios.
xi
Abstract
Studies show that approximately 78 million lightning fall every year in Brazil, such phe-
nomenon is one of the main reasons of unscheduled shutdowns of transmission lines. Besides
that, 1 out of 50 deaths caused by lightning in the world happens in Brazil. Still mentioning the
security issue, data shows 175 deaths in the state of Minas Gerais between the years of 2000
and 2019, making it the second with most deaths caused by lightning, behind only of the state
of São Paulo with 327 deaths. All the figures presented suggest the importance of studies of
transients in the construction aspects of protection devices in transmission towers, so that the
performance of transmission lines required by regulatory standards is guaranteed. Studies re-
lated to the analysis of electromagnetic transients tend to predict not only a significant increase
in the reliability of the system, but also to guarantee the safety of those who are close to the
affected regions, from the production of reliable grounding projects. In order to capture consis-
tent results, comparative analyzes between the models are performed in an exhaustive way for
the different scenarios of resistivity, injected current and soil parameter dependence. Finally,
the improvement of the performance of the lines is addressed, by installing lightning protec-
tion devices. Therefore, it is possible to suggest the optimal allocation of surge arresters within
the proposed base scenario, aiming to align the financial viability with the gain related to the
protection of the system. Having such analyzes, the effectiveness of reducing atmospheric over-
voltage in the insulator string can be noticed with the proper grounding project and the optimal
installation of surge arresters.
xiii
Lista de Figuras
xv
3.6 (a) GPR resultante da injeção da Primeira Corrente de Retorno, considerando
aterramentos representados por Circuito Equivalente Completo com parâmetros
dependentes/independentes da frequência para solos com resistividade de 100
Ω.𝑚. (b) GPR resultante da injeção de Correntes Subsequentes de Retorno,
considerando aterramentos representados por Circuito Equivalente Completo
com parâmetros dependentes/independentes da frequências para solos com re-
sistividade de 100 Ω.𝑚. Elaborado pela autora. . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.9 𝜎(𝑓 ) / 𝜎0 para 100 Ω.𝑚, 1000 Ω.𝑚 e 2000 Ω.𝑚. Elaborado pela autora. . . . . 40
3.33 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade
igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequên-
cias. (a) Sem aplicação de para-raios (b) Com aplicação de para-raios em todas
as fases. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.34 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade
igual a 4000 Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequên-
cias. Com aplicação de para-raio na fase A da torre central. . . . . . . . . . . . 60
3.35 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade
igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequên-
cias. Com aplicação de para-raio na fase B da torre central. . . . . . . . . . . . 61
3.36 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade
igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequên-
cias. Com aplicação de para-raio na fase C da torre central. . . . . . . . . . . . 61
3.37 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade
igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequên-
cias. Com aplicação de para-raios nas fases A e B da torre central. . . . . . . . 62
3.38 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade
igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequên-
cias. Com aplicação de para-raios nas fases A e C da torre central. . . . . . . . 63
3.39 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade
igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequên-
cias. Com aplicação de para-raios nas fases B e C da torre central. . . . . . . . 63
3.40 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistivi-
dade igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com
parâmetros do solo invariantes, submetido a primeira corrente de retorno. (a)
Sem aplicação de para-raios (b) Com aplicação de para-raios em todas as fases. 64
3.41 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistivi-
dade igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com
parâmetros do solo invariantes, submetido a primeira corrente de retorno. Com
aplicação de para-raio na fase A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.42 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistivi-
dade igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com
parâmetros do solo invariantes, submetido a primeira corrente de retorno. Com
aplicação de para-raio na fase B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.43 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistivi-
dade igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com
parâmetros do solo invariantes, submetido a primeira corrente de retorno. Com
aplicação de para-raio na fase C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.44 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistivi-
dade igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com
parâmetros do solo invariantes, submetido a primeira corrente de retorno. Com
aplicação de para-raios nas fases A e B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.45 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistivi-
dade igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com
parâmetros do solo invariantes, submetido a primeira corrente de retorno. Com
aplicação de para-raios nas fases A e C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.46 Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistivi-
dade igual a 4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com
parâmetros do solo invariantes, submetido a primeira corrente de retorno. Com
aplicação de para-raios nas fases B e C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Lista de Tabelas
2.2 Parâmetros das funções de Heidler para representação das descargas de retorno
subsequente no MSS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
xxiii
3.11 Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de um circuito
equivalente com parâmetros do solo invariantes com a frequência. . . . . . . . 56
3.12 Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de resistência
𝑅𝐿𝐹 . Aplicação de para-raios em todas as fases. . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.13 Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de resistência
𝑅𝐿𝐹 . Aplicação de para-raios em apenas uma fase de forma alternada. . . . . . 60
3.14 Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de resistência
𝑅𝐿𝐹 . Aplicação de para-raios em duas fases de forma alternada. . . . . . . . . 62
3.15 Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de um circuito
equivalente com parâmetros do solo invariantes. Aplicação de para-raios em
todas as fases. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
3.16 Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de um circuito
equivalente com parâmetros do solo invariantes. Aplicação de para-raio em
apenas uma fase de forma alternada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.17 Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de um circuito
equivalente com parâmetros do solo invariantes. Aplicação de para-raios em
duas fases de forma alternada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.18 Custos modulares de materiais, mão de obras e outras despesas relacionadas a
instalação dos dispositivos para-raios e sistema de aterramento elétrico. . . . . 70
3.19 Características básicas da linha de trasmissão Votorantim- Muriaé II. Dados
fornecidos pela Energisa Minas Gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
xxv
MSS - Mount San Salvatore
NGNS - Next Generation Network Showcase
PPGEL - Programa de Pós Graduação em Engenharia Elétrica
RLC (circuito) – Resistor, Indutor e Capacitor
SNPTEE - Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica
UFSJ - Universidade Federal de São João del-Rei
ZnO - Óxido de Zinco
Sumário
1 Introdução 1
1.1 Relevância do tema sob investigação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Contextualização da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3.1 Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3.2 Objetivos específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.5 Organização do Texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.6 Publicações Decorrentes da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2 Fundamentação Teórica 11
2.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Modelagens matemática, eletromagnética e computacional . . . . . . . . . . . 12
2.2.1 Modelagem das Formas de Ondas das Correntes Típicas de Descargas
Atmosféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2.2 Modelagem dos Cabos Para-Raios e Condutores Fase da Linha de Trans-
missão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2.3 Modelagem da Torre de Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2.4 Modelagem da Cadeia de Isoladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.5 Modelagem do Equipamento Para-raio . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2.6 Modelagem do Sistema de Aterramento Elétrico e Sua Inclusão em
Plataformas de Transitórios Eletromagnéticos do Tipo ATP . . . . . . . 21
xxvii
2.2.7 Modelagem das Grandezas Físicas que Caracterizam os Comportamen-
tos de Aterramentos Elétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2.3 Para-raios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4 Conclusões 73
A Apêndice 93
A.1 Análise de Desempenho de Linhas de Transmissão com a Instalação de Para-
raios em Paralelo com a Cadeia de Isoladores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
CAPÍTULO 1
Introdução
1
Capítulo 1. Introdução 2
de Minas Gerais, as adversidades podem acentuar ainda mais a vulnerabilidade dos sistemas
elétricos frente à incidência de descargas atmosféricas, uma vez que o estado apresenta carac-
terísticas naturais (clima e relevo) que intensificam a densidade de descargas atmosféricas no
local, além de valores elevados de resistividades do solo, que, por sua vez, corroboram os efeitos
danosos ao sistema elétrico quando submetidos a incidências de descargas atmosféricas [3].
Marcelino, Patrícia.
3 1.2. Contextualização da Dissertação
Em 2012, S. M. M. Lúcio apresentou um estudo no qual fez avaliações dos efeitos do solo e
da frequência nos parâmetros longitudinais de linhas de transmissão, tendo em vista aplicação
em estudos de transitórios eletromagnéticos associados a descargas atmosféricas [23]. Em 2014,
R. A. R. Moura aprofundou os estudos de [23] incluindo novas formulações, tanto para os
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 1. Introdução 4
parâmetros longitudinais, quanto para os transversais, bem como suas sensibilidades em relação
ao efeito do solo [24]. Adicionalmente, relatou as influências do efeito do solo nas sobretensões
atmosféricas estabelecidas em linhas de transmissão.
Nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020 foram defendidas dissertações especificamente na
área de aterramentos elétricos. Em 2017, A. B. Amaral apresentou estudos relativos aos com-
portamentos transitórios de aterramentos elétricos determinados mediante aplicação das teorias
de campo (HEM) e de linhas de transmissão, com aplicação para configurações típicas de torres
de transmissão [29]. Em 2019, N. R. Melo avaliou limites práticos do uso da função pulso
para avaliação de comportamento transitório de aterramentos elétricos, com o objetivo de au-
mentar os comprimentos dos segmentos e, assim, melhorar a eficiência computacional do HEM
[8]. Em 2020, P. H. N. Vieira, também com o objetivo aperfeiçoar a eficiência computacional,
apresentou detalhes de implementação computacional de alto desempenho do HEM [30]. São
merecedores de destaque também as seguintes dissertações: determinação de impedância im-
pulsiva de arranjos típicos de aterramentos [31]; comportamento de aterramentos de malhas de
Marcelino, Patrícia.
5 1.3. Objetivos
1.3 Objetivos
Esta dissertação de mestrado tem como objetivo geral realizar uma série de análises de
sensibilidade de sobretensões atmosféricas1 , em linhas de transmissão de 138 𝑘𝑉 , em relação
aos seguintes elementos/equipamentos: formas de ondas típicas das correntes de primeiras e
subsequentes descargas de retorno (parâmetros medianos); aterramento elétrico (modelado por
sua resistência em baixa frequência, sua impedância impulsiva e sua impedância harmônica);
solo (com parâmetros elétricos, resistividade e permissividade, constantes e variáveis com a
frequência); presenças ou não de cadeias de isoladores (modeladas por meio do método DE –
do inglês Disruptive Effect) e para-raios (via modelo do IEEE) em paralelo com as mesmas.
1
Neste trabalho por sobretensão atmosférica deve ser entendida a sobretensão que é estabelicida na cadeia de isoladores
devido a descarga atmosférica que incide diretamente em uma linha de transmissão. Ou seja, é a diferença de tensão resultante
sobre a cadeia de isoladores.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 1. Introdução 6
Dentro do contexto geral desta dissertação, para garantir que as análises de sensibilidades
das sobretensões atmosféricas sejam realizadas, faz-se necessário o cumprimento dos seguintes
objetivos específicos:
1.4 Metodologia
Dentro do contexto de incidências diretas2 o sistema elétrico de transmissão pode ser sub-
metido a desligamentos a partir de dois mecanismos distintos: flashover3 e backflashover4 [5].
O fenômeno de backflashover, que figura como principal responsável pelos desligamentos não
programados de linhas de transmissão com níveis de tensão de até aproximadamente 230 kV5 ,
é o mecanismo discutido de forma predominante ao longo desta dissertação.
2
No contexto do ponto de incidência da descarga atmosférica, é possível designar duas distintas interações com linhas de
transmissão. A primeira interação é denominada descarga direta. A mesma ocorre quando a descarga atmosférica incide em
um dos cabos fases, no cabo para-raios ou no topo da torre. Essa interação é abordada no contexto desta dissertação. A
segunda interação trata das descargas indiretas, que são referentes a incidências atmosféricas no solo situado nas proximidades
do sistema de transmissão de energia elétrica, em pontos próximos o suficiente para que perturbações sejam induzidas na rede
[5]. Tal interação não é discutida no âmbito deste trabalho.
3
No presente trabalho, é denominado flashover o fenômeno fisíco que ocorre quando a incidência de descarga atmosférica
atinge diretamente um dos cabos fases e ocasiona a disrupção do isolamento da linha; este fato pode ser originado por falha na
blindagem ou até mesmo pela ausência de cabos para-raios na linha.
4
No presente trabalho, é denominado backflashover o fenômeno fisíco associado à disrupção do isolamento devido à so-
bretensão resultante na cadeia de isoladores quando a incidência de descarga ocorre no topo da torre ou sobre o(s) cabo(s)
para-raios [42].
5
Para linhas de transmissão com níveis de tensão de até 230 𝑘𝑉 o fenômeno que determina de forma predominante a
coordenação de isolamento na linha de transmissão é a descarga atmosférica. Em contrapartida, em cenários nos quais os
valores de níveis de tensão superam 230 𝑘𝑉 , a coordenação de isolamento é determinada a partir de surtos de manobras.
Marcelino, Patrícia.
7 1.4. Metodologia
1. Estudo do estado da arte na temática estudada, com ênfase nas dissertações [36]-[39], bem
como os principais artigos citados nestas referências.
3. Utilização do método Vector Fitting (VF) para obtenção de circuito equivalente, com base
na resposta em frequência obtida no passo 2. Implementação feita no MATLAB com o
auxílio de toolbox disponibilizada em [47].
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 1. Introdução 8
Essa dissertação está organizada em 4 capítulos, onde no presente capítulo (Capítulo 1), são
abordados a relevância do tema em investigação, a contextualização da dissertação, os objetivos
geral e específicos bem como a metodologia adotada.
No capítulo 2, está apresentada de forma suscinta a abordagem qualitativa dos componentes
do sistema elétrico contemplando conceitos físicos do comportamento de sistemas de aterra-
mento frente a solicitações oriundas de descargas atmosféricas. Este capítulo não apresenta
desenvolvimentos matemáticos das modelagens atribuídas aos componentes do sistema elé-
trico. Optou-se por uma abordagem suscinta na descrição do estado da arte de aterramentos
elétricos e dos componentes necessários para a modelagem do estudo de caso, em decorrência
dos inúmeros trabalhos e pesquisas conduzidas pelo Grupo de Alta Tensão e Coordenação de
Isolamento (GATCI) que, ao longo dos anos, tem contribuído para o acervo da evolução dos
estudos relacionados a transitórios e comportamentos de sistemas de aterramentos submetidos
a solicitações de descargas atmosféricas. Esses trabalhos são referenciados ao longo do texto
desta dissertação.
No capítulo 3, são apresentados os resultados referentes às análises de sensibilidade em
que estudos de casos são submetidos. Com uma abordagem inicial matemática da modela-
gem adotada para cada componente, o capítulo explora as interpretações físicas das respostas
transitórias das sobretensões atmosféricas nas mísulas da cadeia de isoladores frente a solici-
6
Nesta dissertação não são utilizadas ferramentas computacionais de otimização. Por conseguinte, o termo "alocação ótima”
deve ser entendido como uma análise incipiente de verificação do melhor posicionamento dos para-raios em uma determinada
torre de transmissão, sem cálculo da quantidade total de para-raios em determinado trecho de linha de transmissão e nem
seleção de torres que receberão tais para-raios.
Marcelino, Patrícia.
9 1.6. Publicações Decorrentes da Dissertação
Marcelino, Patrícia.
CAPÍTULO 2
Fundamentação Teórica
11
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 12
2.2.1 Modelagem das Formas de Ondas das Correntes Típicas de Descargas Atmosféri-
cas
Marcelino, Patrícia.
13 2.2. Modelagens matemática, eletromagnética e computacional
(︁ )︁𝑛𝑘
𝑚 𝑡
∑︁ 𝐼0𝑘 𝜏1𝑘 − 𝑟1
𝑖(𝑡) = (︁ )︁𝑛𝑘 𝑒 2𝑘 (2.1)
𝑘=1 𝜂𝑘 1 + 𝑡
𝜏1𝑘
Em que:
𝐼0 − amplitude da corrente;
𝜏1 − constante relacionada ao tempo de frente da onda de corrente;
𝜏2 − constante relacionada ao decaimento da onda de corrente;
𝑛− fator adimensional que controla a taxa de crescimento da onda de corrente (fator de
correção da corrente de pico), 2 ≤ 𝑛 ≤ 10. Em outras palavras, é o fator que influencia a taxa
de subida da função: quanto maior o valor de 𝑛 maior a inclinação;
[︂(︁ )︁(︁ )︁ 𝑛1 ]︂
𝑟11 𝑚2 𝑟12
− 𝜏2𝑘 𝑟2𝑘
𝑛𝑘 = 𝑒 (2.2)
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 14
Figura 2.1: Típica forma de onda de corrente associada a primeiras descargas de retorno negativas
descendentes.
• I10 , I30 e I90 : valores da corrente, respectivamente, a 10%, 30% e 90% de Ipl ;
• T10: tempo necessário para que a onda de corrente atinja o valor de I90 a partir do valor
I10 ;
• T30: tempo necessário para que a onda de corrente atinja I90 a partir do valor I30 ;
• T50: intervalo de tempo decorrido entre o instante em que a corrente atinge o valor de
2kA, na frente da onda, e o ponto na cauda relativo a 50% de Ip2 ;
• S10: taxa de crescimento média da corrente entre as amplitudes de 10% e 90% na frente
de onda (em relação a Ip1 );
• S30: taxa de crescimento média da corrente entre as amplitudes de 30% e 90% na frente
de onda (em relação a Ip1 );
Marcelino, Patrícia.
15 2.2. Modelagens matemática, eletromagnética e computacional
Esse conjunto de parâmetros torna-se essencial para que a modelagem computacional das
correntes obtidas de descargas atmosféricas se assemelhem, por exemplo, aos valores medianos
coletados de fenômenos reais.
Dessa forma, tendo como referência as medições de Berger [54] realizadas no Monte San
Salvatore (MSS), as formas de ondas adotadas por esta dissertação são representadas a partir
do somatório das Funções de Heidler, já apresentadas anteriormente na Equação (2.1), e que
podem ser visualizadas na Figura 2.2.
Figura 2.2: Ondas de correntes representativas de (a) primeiras descargas de retorno e (b) descargas
subsequentes, associadas a descargas negativas descendentes medidas na Estação do Monte San
Salvatore. Formas de onda obtidas como uma soma de funções Heidler. Elaborado pela autora.
Sabendo que a qualidade dos resultados de simulação e ensaios laboratoriais que permitem
analisar os desempenhos de linhas de transmissão, dispositivos e equipamentos submetidos a
fenômenos de incidência atmosférica está intrisicamente associada aos parâmetros característi-
cos das correntes solicitadas, aplicam-se sete funções de Heidler a fim de modelar o primeiro
impulso de corrente caracterizando adequadamente sua forma de onda. A primeira descarga
possui amplitude igual a 𝐼𝑃 𝑓 = 31,07𝑘𝐴 e 𝑇𝑑30 1 = 3,83𝜇𝑠. Os respectivos parâmetros incluí-
dos nas sete funções que formam o somatório podem ser verificados na Tabela 2.1 [65]. Para as
descargas de retorno subsequentes a representação ocorre a partir da aplicação do somatório de
duas funções de Heidler assumindo o valor de pico igual a 𝐼𝑃 𝑠 = 12,09𝑘𝐴 e 𝑇𝑑30 = 0,67𝜇𝑠. De
forma similar, o conjunto de parâmetros das funções de Heidler para as correntes subsequentes
pode ser verificado na Tabela 2.2 [65].
1
𝑇𝑑30 é definido como tempo de frente equivalente (𝑇𝑑30 = 𝑇30 /0,6), onde 𝑇30 é o intervalo de tempo entre as amplitudes
de 30% e 90% (em relação a 𝐼𝑃 1 ) da corrente na frente de onda.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 16
Tabela 2.1: Parâmetros das funções de Heidler para representação de primeiras descargas no MSS.
Tabela 2.2: Parâmetros das funções de Heidler para representação das descargas de retorno subsequente
no MSS.
Para modelar os cabos para-raios e os condutores fase é utilizado o modelo de J. Marti, am-
plamente conhecido e estabelecido na literatura [66], o modelo adotado considera os parâmetros
das linhas dependentes da frequência. Para mais detalhes desse modelo, além da referência ori-
ginal [66], sugere-se que consultas às referências [36], [37].
Marcelino, Patrícia.
17 2.2. Modelagens matemática, eletromagnética e computacional
(︃ )︃
4ℎ
𝑍𝑖𝑖 = 60 ln −1 (2.3)
𝑟
√︁ √︃
2ℎ + 4ℎ2 + 𝑑2𝑖𝑗 30𝑑𝑖𝑗 𝑑2
𝑍𝑖𝑗 = 60 ln + − 60 1 + 𝑖𝑗2 (2.4)
𝑑𝑖𝑗 ℎ 4ℎ
Em que:
ℎ− altura do ponto mais alto do condutor em relação a superfície do solo, em metro;
𝑟− raio do condutor, em metro;
𝑑𝑖𝑗 − distância entre os centros dos condutores 𝑖 e 𝑗, em metro.
Na referência [36], são apresentados cálculos detalhados das impedâncias de surtos próprias
e mútuas de torres de linhas de transmissão de 138 𝑘𝑉 , mediante a utilização das Equações
(2.3) e (2.4). No capítulo 3, são apresentados detalhes quantitativos da torre de transmissão.
A modelagem da cadeia de isoladores pode ser realizada por distintos métodos, dos quais
vale citar: Efeito Disruptivo [75],[53],[76]; Leader Progressivo [77],[78] e tensão-tempo (Curva
V-t) [79]. Embora a utilização do método tensão-tempo (Curva V-T) para avaliação da ocor-
rência de ruptura do isolamento apresente valores consistentes, deve-se ressaltar que tais curvas
descrevem o desempenho de isoladores de forma adequada apenas em casos onde são subme-
tidos a tensões impulsivas padronizadas. Uma forma de contornar a limitação descrita anteri-
ormente, é a aplicação de métodos, pelos quais são permitidos a avaliação do desempenho da
cadeia de isoladores frente a solicitações impulsivas arbitrárias. Dentro os métodos, destacam-
se os: Efeito Disruptivo e o Leader Progressivo.
O método adotado nesta dissertação, a fim de representar o processo de disrupção das ca-
deias de isoladores, que envolve a avaliação de sobretensões atmosféricas em linhas de trans-
missão, é o Método do Efeito Disruptivo (DE). Considerando o objetivo desta dissertação o Mé-
todo do Efeito Disruptivo apresenta maior simplicidade de formulação e implementação, sem
que ocorra perda de consistência nos seus resultados. Este método é descrito matematicamente
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 18
pela Equação (2.5), onde a variável 𝑡𝑎 representa o tempo de atraso na formação da coluna de
descarga; 𝑡1 o instante no qual ocorre a disrupção entre os terminais da cadeia de isoladores e o
valor crítico da tensão, representado por 𝑈0 , é excedido; a variável 𝑘2 é frequentemente adotado
como constante e o 𝐷𝐸 é o parâmetro no qual é avaliada a ocorrência da disrupção da cadeia
de isoladores [80].
As Equações (2.6) e (2.7) apresentam matematicamente os parâmetros 𝐷𝐸𝑏 e 𝑈0 segundo a
Critical Flashover Overvoltage (CFO) das cadeias de isoladores [53].
∫︁ 𝑡1 +𝑡𝑎
𝐷𝐸 = [𝑈 (𝑡) − 𝑈0 ]𝑘2 𝑑𝑡 (2.5)
𝑡1
𝑈0 = 𝑘3 × 𝐶𝐹 𝑂 (2.7)
Marcelino, Patrícia.
19 2.2. Modelagens matemática, eletromagnética e computacional
Na busca por uma modelagem consistente do para-raios, são realizadas aproximações não
lineares capazes de representar suas características dinâmicas. Inúmeros modelos foram pro-
postos a fim de representar os blocos de ZnO ao longo dos anos ( [82]; [83]; [84]; [85]; [86];
[87]; [88]; [89]; [90]; [91]). Em sua grande maioria, os modelos são constituídos de resistências
não lineares representando a curva característica VxI do para-raios e indutores representando a
dependência da frequência [36].
O modelo adotado nesta dissertação é o proposto pelo IEEE, amplamente aplicado em es-
tudos de surtos de frente de ondas rápidas. Este modelo apresenta resultados satisfatórios para
correntes de descargas atmosféricas. Estudos comparativos entre o modelo convencional, o mo-
delo proposto por Pincetti [86] e o modelo proposto pelo IEEE [92] podem ser conferidos no
trabalho [93]. O trabalho sinaliza o modelo proposto pelo IEEE como o modelo com menores
desvios quando comparados aos dados de Datasheet disponibilizados pelo fornecedor.
O modelo proposto pelo IEEE é apresentado na Figura 2.3 [92] e equações matemáticas são
as de (2.8) a (2.12).
0,2𝑑
𝐿0 = (2.8)
𝑛
100𝑑
𝑅0 = (2.9)
𝑛
15𝑑
𝐿1 = (2.10)
𝑛
65𝑑
𝑅1 = (2.11)
𝑛
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 20
100𝑛
𝐶= (2.12)
𝑑
Onde:
Para obtenção correta do modelo proposto pelo IEEE [92], deve-se adotar o seguinte proce-
dimento:
2. Passo 2: Ajustar os valores p.u de 𝐴0 e 𝐴1 , a fim de obter boa aproximação entre a tensão
residual de impulso atmosférico e a corrente de descarga;
3. Passo 3: Ajustar o valor de 𝐿1 , até que se possa obter uma aproximação plausível para a
tensão residual de impulso atmosférico (𝑉1 0) para uma corrente de descarga de 8/20𝜇𝑠.
Marcelino, Patrícia.
21 2.2. Modelagens matemática, eletromagnética e computacional
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 22
forma significativa [94], [102], [103]. As principais características do HEM são descritas a
seguir (de forma muito objetiva). Mais detalhes podem ser consultados em [13], [14].
Inicialmente, duas etapas devem ser realizadas: i) aplicação da transformada rápida de Fou-
rier no sinal de corrente que solicita o aterramento, o que permite determinar o espectro de
frequências de interesse e ii) divisão (discretização) do sistema de aterramento em N pequenos
segmentos condutores, onde o comprimento de cada segmento (normalmente) é igual a 10 (dez)
vezes seu raio (aproximação de fio fino, do inglês thin wire approximation). Os processos físico-
matemáticos descritos em sequência são aplicados para cada frequência do espectro, tendo em
vista o objetivo de determinar a resposta em frequência do aterramento. Assim, percebe-se
que o HEM corresponde a um modelo eletromagnético desenvolvido no domínio da frequên-
cia. É merecedor de destaque que o HEM necessita somente dos seguintes dados de entrada: a
corrente que solicita o aterramento; a configuração geométrica do sistema de aterramento e os
parâmetros do solo (resistividade e permissividade elétricas e permeabilidade magnética). Vale
ressaltar que a maioria dos solos não apresenta efeito magnético apreciável, de tal forma que
sua permeabilidade magnética relativa é unitária [104], [21].
Cada segmento é considerado uma fonte de correntes de duas naturezas, uma longitudinal
𝐼𝐿 (que flui ao longo do segmento) e outra transversal 𝐼𝑇 (que flui do segmento para o solo
circunvizinho). 𝐼𝐿 gera um campo elétrico não conservativo (rotacional) e 𝐼𝑇 um campo elétrico
conservativo (divergente). Com o auxílio do potencial vetor magnético (A), associado a 𝐼𝐿 , e
do potencial escalar elétrico (V), associado a 𝐼𝑇 , são determinadas as quedas de tensão ΔV
(forças eletromotrizes induzidas) e potenciais elétricos V (em relação ao terra remoto) em cada
par de segmentos (transmissor e receptor). Desta forma, são estabelecidas equações integrais
(duplas) para ΔV e V. Estas integrais dependem da frequência, da geometria do aterramento,
dos parâmetros do solo e das distribuições de 𝐼𝑇 e 𝐼𝐿 . Contudo, tais distribuições não são
conhecidas e estão contidas nos integrandos das integrais duplas. Desse ponto em diante, o
Método dos Momentos (MoM) é aplicado para resolver estas integrais duplas [105]. Nesta
dissertação assume-se que as distribuições de 𝐼𝑇 e 𝐼𝐿 são do tipo “função pulsos uniformes por
partes”, ou seja, na solução via MoM as correntes são uniformes em determinado segmento e
nulas nos demais [9], [13], [14].
Marcelino, Patrícia.
23 2.2. Modelagens matemática, eletromagnética e computacional
Uma importante grandeza física gerada pelo HEM é Z(𝜔), dada pela relação entre os fasores
de tensão e de corrente no ponto de injeção para cada frequência do espectro de interesse. Com
Z(𝜔) a admitância harmônica Y(𝜔) é determinada, Y(𝜔) = [Z(𝜔)]−1 . Posteriormente, é utilizada
a técnica denominada Vector Fitting (VF), muito bem conhecida e amplamente divulgada na li-
teratura, para ajustar a resposta em frequência do aterramento elétrico via aproximações com
funções racionais [106]. A passividade é garantida mediante perturbação de resíduos [107].
Finalmente, com base na função racional obtida, é possível sintetizar um circuito elétrico que
pode ser prontamente incluído em simulações no domínio do tempo [108]. É importante desta-
car que este circuito elétrico gera a mesma resposta em frequência que é determinada pelo HEM.
Assim, inclui todos os efeitos reativos e de propagação de ondas eletromagnéticas. Na Seção
2.3 são apresentadas algumas informações adicionais sobre a implementação computacional do
HEM e sua inclusão no ATP.
Dois comentários finais merecem destaque. O primeiro refere-se ao efeito da interface ar-
solo, que é levado em consideração mediante o método de imagens. Para o acoplamento trans-
versal utiliza-se o método das imagens complexas [16], enquanto para o longitudinal o método
das imagens ideais. Mais detalhes podem ser verificados em [9]. O segundo está associado à
desconsideração de efeitos não lineares no solo, como por exemplo, a ionização (dado que o
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 24
HEM considera o sistema de aterramento e solo como lineares). Dois aspectos motivam esta não
consideração: i) a corrente associada à descarga atmosférica é aproximadamente dividida por
4 (quatro) quando atinge a interface torre-aterramento e ii) os cabos contrapesos que compõem
o aterramento de linhas de transmissão são relativamente longos. Conforme destacado em [9],
existe uma possibilidade de consideração indireta do efeito de ionização, por meio de um au-
mento equivalente ao raio dos eletrodos (similar à modelagem de efeito corona em condutores
aéreos). Entretanto, tal possiblidade não é explorada nesta dissertação 2 .
𝑉
𝑅𝐿𝐹 = (2.13)
𝐼
Marcelino, Patrícia.
25 2.2. Modelagens matemática, eletromagnética e computacional
i(t), outras grandezas essenciais, tais como: impedância transitória, impedância impulsiva,
comprimento efetivo e coeficiente impulsivo.
• Impedância harmônica Z(𝜔): conforme Equação (2.15), onde V(𝜔) e I(𝜔) são, respecti-
vamente, os fasores de tensão e de corrente (módulo e ângulo) no domínio da frequência.
Com Z(𝜔) diversos comportamentos e grandezas físicas podem ser determinados, tais
como: 𝑅𝐿𝐹 e as faixas de frequências onde existe predominância de efeitos capacitivos
ou indutivos.
𝑉 (𝜔)
𝑍(𝜔) = (2.15)
𝐼(𝜔)
𝐺𝑃 𝑅𝑝𝑖𝑐𝑜
𝑍𝑃 = (2.16)
𝐼𝑝𝑖𝑐𝑜
• Coeficiente impulsivo (𝐼𝐶 ): dado pela Equação (2.17). 𝐼𝐶 < 1 (𝑍𝑃 < 𝑅𝐿𝐹 ) indica de-
sempenho impulsivo “melhor” que seu desempenho em baixas frequências; 𝐼𝐶 > 1 (𝑍𝑃
> 𝑅𝐿𝐹 ) indica desempenho impulsivo “pior”. Uma forma precisa de determinar 𝐿𝐸𝐹 é
construir curvas de 𝐼𝐶 versus comprimento do eletrodo 𝐿, onde no ponto de inflexão de
𝐼𝐶 o correspondente 𝐿 é igual a 𝐿𝐸𝐹 .
𝑍𝑃
𝐼𝐶 = (2.17)
𝑅𝐿𝐹
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 26
Recentemente, em 2014, Alipio publicou um artigo no qual apresentou um modelo que con-
templa a variação dos parâmetros de solos típicos com a frequência [98]. Este modelo: i) foi
amplamente validado via medições de GPR em aterramentos elétricos de configurações geomé-
tricas diversas [13], [14], [98], [99] e ii) foi recentemente sugerido pelo Cigré para consideração
da variação dos parâmetros do solo com a frequência em estudos relacionados a descargas at-
mosféricas [116]. Por esses aspectos, o modelo de [98] é o utilizado nesta dissertação para o
cômputo da dependência em relação à frequência dos parâmetros elétricos do solo.
(︃ )︃𝛾
𝑓
𝜎 = 𝜎0 + 𝜎0 × ℎ (𝜎0 ) × (2.18)
1𝑀 𝐻𝑧
Onde:
𝑓 : frequência em Hz.
A Tabela 2.4 apresenta os valores disponíveis dos parâmetros ℎ (𝜎0 ), 𝛾 e 𝜖′∞ /𝜖0 . Esses
valores são escolhidos conforme grau de conservadorismo optado na simulação.
Marcelino, Patrícia.
27 2.3. Aspectos Computacionais
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 2. Fundamentação Teórica 28
Marcelino, Patrícia.
CAPÍTULO 3
Esse capítulo tem como objetivo analisar os resultados dos estudos de casos visando dis-
cussões sobre as análises de sensibilidade de distintas configurações de aterramento frente a
injeção de correntes impulsivas. Sabe-se da importância da confiabilidade do sistema de ater-
ramento para a análise fidedigna do desempenho de linhas de transmissão. Por esse motivo, as
análises dos estudos de casos apresentados neste capítulo contemplam uma interpretação minu-
ciosa dos fenômenos recorrentes de solicitações atmosféricas para três distintas representações
da configuração do sistema de aterramentos elétricos.
A primeira configuração, representada pela resistência de baixa frequência 𝑅𝐿𝐹 , que é res-
ponsável por caracterizar a resposta do sistema de aterramento durante o "transitório lento",
tem associação com as caudas de ondas de corrente e tensão. A partir dessa configuração o
aterramento é tratado via parâmetros concentrados.
A segunda configuração de aterramento é representada a partir da impedância impulsiva
𝑍𝑃 , ainda se tratando de uma configuração de parâmetro concentrado. Estudos recentes rela-
tam sobre a consistência na abordagem do comportamento dinâmico do aterramento frente a
solicitações de descargas atmosféricas a partir da representação do aterramento por impedância
impulsiva [117]. Vale ressaltar que 𝑍𝑃 , que tem sua definição abordada na Subseção 2.2.7, é ob-
tido a partir de implementação consistente de um modelo eletromagnético capaz de quantificar
a resposta desse parâmetro em uma ampla faixa de frequências.
Conseguinte, são analisados dois modelos de aterramento com parâmetros distribuídos, onde
o modelo HEM é aplicado com a finalidade de representar as grandezas fisícas inerentes ao
29
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 30
Na especificação do cabo fase é adotado o condutor de alumínio com alma de aço (CAA)
Linnet. Para o cabo para-raios, usam-se as especificações do condutor de aço revestido de
alumínio do tipo Alumoweld ASTM B-416, que se encontra na Tabela 3.1. Os parâmetros
necessários para a modelagem da linha de transmissão no ATPDraw são apresentados na Tabela
3.2.
Tabela 3.1: Especificações do cabo para-raios: condutor de aço revestido de alumínio do tipo
Alumoweld ASTM B-416.
Marcelino, Patrícia.
31 3.2. Estudo de Casos
• 1º Porção: A impedância 𝑍1 vai do solo até a altura da fase C, tem-se então ℎ1 = 26,815𝑚;
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 32
3.2.3 Para-raios
A Tabela 2.3 apresenta os valores da curva característica obtidos a partir do Datasheet dis-
ponibilizado por fornecedor do modelo de para-raios: PEXLIM R 145 kV, que tem suas carac-
terísticas apresentadas na Tabela 3.4.
Tabela 3.4: Características do para-raios. Modelo : PEXLIM R 145 kV.
Dados - Para-raios
Modelo Tensão nominal (V) Máx tensão residual (10 kA,8/20 𝜇𝑠) Dimensão (Amáx) (m)
PEXLIM R 145 kV 138000 358000 1,388
A configuração geométrica adotada nesta dissertação pode ser visualizada na Figura 3.2,
onde é incluído o acoplamento eletromagnético entre os cabos contrapesos para o sistema de
aterramento de pé de torre de uma linha de transmissão de 138 𝑘𝑉 . Desta forma, tem-se as
seguintes grandezas para a caracterização correta do modelo:
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
33 Sobretensões Atmosféricas
• Os valores de resistividade adotados para o solo são: 100 Ω𝑚, 1000 Ω𝑚, 2000 Ω𝑚 e 4000
Ω𝑚;
• As simulações adotam o valor do comprimento dos cabos contrapesos iguais aos valores
de comprimento efetivo (𝐿 = 𝐿𝐸𝐹 ). Esse critério é adotado conforme praticado pela
CEMIG, alinhado a critérios de viabilidade técnica e financeira.
A Tabela 3.6 apresenta o comprimento dos cabos contrapesos para o modelo de sistema de
aterramento adotado de acordo com os valores de resistividade do solo em baixas frequências.
Tabela 3.6: Comprimento de cabos contrapesos para o sistema de aterramento de acordo com a
resistividade do solo de baixas frequências.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 34
A impedância de aterramento, que tem sua definição inicial no domínio da frequência, apre-
senta dependência da geometria do aterramento e de características eletromagnéticas do meio.
Por este motivo, a primeira análise de sensibilidade realizada é referente à impedância harmô-
nica para três distintos valores de resistividade do solo: 100 Ω.𝑚, 1000 Ω.𝑚 e 2000 Ω.𝑚.
Figura 3.3: Impedância Harmônica do Aterramento da Figura 3.2 com parâmetros constantes do solo
(solos com resistividades de 100 Ω.𝑚,1000 Ω.𝑚 e 2000 Ω.𝑚). (a) Módulo da Impedância harmônica.
(b) Ângulo da Impedância harmônica. Elaborado pela autora
A análise baseada nas curvas de módulo e fase contemplam duas regiões distintas que ca-
racterizam a resposta do aterramento elétrico, onde a primeira está associada a frequências de
valores mais baixos, enquanto a segunda refere-se a valores de frequências elevadas. Não é
possível definir a frequência usual na qual ocorre a transição entre as regiões de baixas e eleva-
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
35 Sobretensões Atmosféricas
das frequências, porém é possível observar, na Figura 3.3, que a transição na qual ocorre uma
variação brusca de comportamento da resposta do aterramento está em torno de 105 𝐻𝑧.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 36
Figura 3.4: Impedância Harmônica do Aterramento da Figura 3.2 com parâmetros do solo dependentes
da frequência (solos com resistividades de 100 Ω.𝑚,1000 Ω.𝑚 e 2000 Ω.𝑚.).(a) Módulo da Impedância
harmônica. (b) Ângulo da Impedância harmônica. Elaborado pela autora
Os valores dos módulos das impedâncias de aterramento para a frequência de 100 𝐻𝑧 apre-
sentam desvios percentuais muito baixos quando comparados os distintos modelos de solo (pa-
râmetros constantes ou variáveis) para cada valor de resistividade (Figuras 3.3 e 3.4). Este é um
comportamento esperado, pois, em baixas frequências, o efeito da variação com a frequência é
muito reduzido, independentemente da resistividade do solo.
Diferentemente do que foi exposto para o modelo de aterramento com parâmetros constan-
tes, a faixa de frequência na qual a representação do aterramento pode ser expressa a partir de
uma resistência não é tão significativa no modelo que contempla parâmetros do solo dependen-
tes da frequência. A prática dessa representação, torna-se exclusivamente consistente apenas
em cenários de baixa resistividade do solo, como pode ser observado para o caso de 100 Ω.𝑚.
Por fim, é possível notar que a impedância de aterramento sofre diminuição significativa
quando considerada a variação dos parâmetros do solo (permissividade e condutividade) com a
frequência. É possível justificar esse fato a partir das análises das Equações (2.19) e (2.18), onde
a diminuição da impedância é consequência do aumento da condutividade com a frequência. As
diferenças das impedâncias de aterramento para os distintos modelos podem ser verificadas na
Figura 3.5. A distorção da curva da impedância que é observada decorre do defasamento da
impedância ocasionado pela sensibilidade dos parâmetros do solo com a frequência.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
37 Sobretensões Atmosféricas
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 38
modelos. Além disso, é possível obter os valores da resistência em baixas frequências (𝑅𝐿𝐹 ) e
da impedância impulsiva (𝑍𝑝 ), que são apresentados em detalhes na Tabela 3.7. Essas variáveis
são submetidas a comparação e análises de sensibilidade nos próximos tópicos, onde é con-
siderada a representação de aterramentos também por parâmetros concentrados. Para realçar
os principais pontos de divergências entre os modelos, além dos valores de 𝑅𝐿𝐹 , 𝐼𝑐 e 𝑍𝑝 , são
descritos na Tabela 3.7 o pico de GPR e as diferenças percentuais entre esses valores de pico as-
sociados aos modelos de aterramento para os valores de resisitividades 𝜌 = 100 Ω.𝑚, 𝜌 = 1000
Ω.𝑚 e 𝜌 = 2000 Ω.𝑚. Consideram-se as primeiras (𝐹 𝑆) e subsequentes (𝑆𝑆) descargas de
retorno. A quantificação da diferença de percentual do GPR e 𝑍𝑝 é dada a partir das Equações
(3.1) e (3.2).
(︁ )︁
GPRpico(parâmetros dependentes da frequência) − GPRpico(parâmetros constantes)
ΔGPR% = × 100 (3.1)
GPRpico(parâmetros constantes)
(︁ )︁
Zp (parâmetros dependentes da frequência) − Zp (parâmetros constantes)
ΔZp % = × 100 (3.2)
Zp (parâmetros constantes)
As Figuras 3.6, 3.7 e 3.8 apresentam as formas de GPR em que o modelo de aterramento
elétrico é submetido a injeção de correntes da primeira corrente de retorno (no lado direito) e
na injeção de correntes subsequentes de retorno (no lado esquerdo).
Figura 3.6: (a) GPR resultante da injeção da Primeira Corrente de Retorno, considerando aterramentos
representados por Circuito Equivalente Completo com parâmetros dependentes/independentes da
frequência para solos com resistividade de 100 Ω.𝑚. (b) GPR resultante da injeção de Correntes
Subsequentes de Retorno, considerando aterramentos representados por Circuito Equivalente Completo
com parâmetros dependentes/independentes da frequências para solos com resistividade de 100 Ω.𝑚.
Elaborado pela autora.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
39 Sobretensões Atmosféricas
Figura 3.7: (a) GPR resultante da injeção da Primeira Corrente de Retorno, considerando aterramentos
representados por Circuito Equivalente Completo com parâmetros dependentes/independentes da
frequência para solos com resistividade de 1000 Ω.𝑚.(b) GPR resultante da injeção de Correntes
Subsequentes de Retorno, considerando aterramentos representados por Circuito Equivalente Completo
com parâmetros dependentes/independentes da frequências para solos com resistividade de 1000 Ω.𝑚.
Elaborado pela autora.
Figura 3.8: (a) GPR resultante da injeção da Primeira Corrente de Retorno, considerando aterramentos
representados por Circuito Equivalente Completo com parâmetros dependentes/independentes da
frequência para solos com resistividade de 2000 Ω.𝑚.(b) GPR resultante da injeção de Correntes
Subsequentes de Retorno, considerando aterramentos representados por Circuito Equivalente Completo
com parâmetros dependentes/independentes da frequências para solos com resistividade de 2000 Ω.𝑚.
Elaborado pela autora.
Os resultados apresentados nas Figuras 3.6 - 3.8 ilustram as consequências das abordagens
das distintas hipóteses: i) modelo de aterramento com valores de condutividade e permissivi-
dade do solo com valores fixos e ii) modelo de aterramento com valores de condutividade e
permissividade do solo com valores variáveis com a frequência. Dentro desse contexto, vale
salientar as seguintes análises:
É possível verificar entre os resultados, tanto para os casos onde a injeção é relativa às
primeiras correntes, quanto para as correntes subsequentes, que o efeito da variação dos parâ-
metros do solo com a frequência influencia de forma significativa a amplitude da tensão. Os
níveis de GPR sofrem redução quando o efeito da variação dos parâmetros do solo é aplicada.
Além disso essa redução é intensificada com o aumento da resistividade do solo.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 40
Figura 3.9: 𝜎(𝑓 ) / 𝜎0 para 100 Ω.𝑚, 1000 Ω.𝑚 e 2000 Ω.𝑚. Elaborado pela autora.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
41 Sobretensões Atmosféricas
Assim, é possível verificar que a diminuição do GPR é mais pronunciada em cenários onde
ocorre a injeção de correntes de retorno subsequentes. Em contrapartida, no período denomi-
nado de cauda da onda, os modelos de aterramentos não apresentam variações expressivas no
valor obtido no GPR. Essa última análise ocorre porque, no intervalo de tempo onde se tem a
cauda da onda, o GPR não apresenta dependência com a frequência. Durante esse período, as
baixas frequências estimulam a associação com o valor de 𝑅𝐿𝐹 .
Os resultados evidenciam que, além da amplitude, a forma de onda da tensão pode ser alte-
rada quando considerada a influência da frequência nos parâmetros do solo, sobretudo quando
o aterramento é inserido em solos com valores elevados de resistividade. Tal alteração é justi-
ficada pelo fato de que a medida que a resistividade do solo em baixas frequências aumenta o
efeito da variação com a frequência é cada vez mais significativo.
O valor de 𝑅𝐿𝐹 independe da forma de onda da corrente injetada e do modelo de solo apli-
cado (seja com parâmetros do solo dependentes ou independentes da frequência).Sua dependên-
cia está única e exclusivamente associada à geometria do aterramento e o valor da resistividade
em baixas frequências (𝜌0 ).
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 42
Figura 3.10: Análise de sensibilidade para 𝑅𝐿𝐹 e 𝑍𝑝 para os valores de resistividade: 100 Ω.𝑚, 1000
Ω.𝑚 e 2000 Ω.𝑚, (a) submetidas a solicitação da primeira corrente de retorno. (b) submetidas a
solicitação de correntes subsequentes de retorno. Elaborado pela autora.
Tabela 3.7: Valores de Pico de GPR, 𝑅𝐿𝐹 , e 𝑍𝑝 para os modelos de aterramento, considerando os
parâmetros do solo dependentes e independentes da frequência.
Os resultados obtidos e analisados nesta subseção estão em total concordância com as pes-
quisas publicadas por [98], [9]. Contudo, foram repetidas aqui com o objetivo de verificar a
consistência das implementações realizadas nesta dissertação.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
43 Sobretensões Atmosféricas
vel observar que as formas de onda das sobretensões seguem os mesmos padrões para todas as
resistividades e para as duas descargas de retorno, tanto as primeiras quanto as subsequentes.
Além disso, neste primeiro momento desconsidera-se a ocorrência de falhas de isolamento e a
presença de para-raios instalados em paralelo com as cadeias de isoladores. Com essa análise,
é possível estimar os níveis máximos de sobretensão atmosférica sem a instalação de disposi-
tivos de proteção. Em relação aos valores de pico das sobretensões atmosféricas, a Tabela 3.8
apresenta-os em conjunto com as variações percentuais entre os modelos de parâmetros con-
centrados e distribuídos tomando como referência as sobretensões determinadas via circuitos
equivalentes. Vale salientar, que o modelo de aterramento de referência é a modelagem de cir-
cuito equivalente RLC, uma vez que um dos objetivos desta dissertação é verificar se os modelos
de parâmetros concentrados conseguem reproduzir os resultados de sobretensões atmosféricas
oriundas do modelo mais geral de aterramento elétrico. As Equações (3.3) e (3.4) apresen-
tam o cálculo usado das variações entre os modelos a partir da comparação da Sobretensões
atmosféricas (SA).
(︁ )︁
SACEpico(parâmetros constantes) − SARLF pico(parâmetros constantes)
ΔSARLF (%) = × 100 (3.3)
SARLF pico(parâmetros constantes)
(︁ )︁
(SACEpico(parâmetros constantes) − SAZp pico(parâmetros constantes)
ΔSAZp (%) = × 100 (3.4)
SAZp pico(parâmetros constantes)
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 44
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
45 Sobretensões Atmosféricas
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 46
Vale salientar que, no caso base adotado, busca-se a representação de diferentes modelos de
aterramentos elétricos a fim de realizar as análises de sobretensões atmosféricas.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
47 Sobretensões Atmosféricas
Tabela 3.8: Pico de sobretensão atmosférica considerando distintos modelos de aterramento com
parâmetros independentes da frequência.
• A variação da resistividade do solo afeta o parâmetro condutividade, que por sua vez leva
a alterações na impedância de aterramento. Dessa forma, é possível observar que a análise
dessas figuras indica, no ponto de injeção, uma diminuição dos níveis de sobretensão, à
medida que a resistividade diminui. Tal comportamento está associado com o efeito de
atenuação, mais pronunciado para solos de baixas resistividades. Ainda em decorrência
disso, os modelos de parâmetros concentrados (𝑅𝐿𝐹 e 𝑍𝑝 ) apresentam menores desvios
para solos com resistividades baixas, ou seja, os desvios vão aumentando conforme o
aumento do valor da resistividade. Além disso, os valores são muito próximos dos dois
modelos para baixas resistividades (𝑅𝐿𝐹 ≈ 𝑍𝑝 ) enquanto o modelo considerado possui
parâmetros do solo independentes da frequência;
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 48
Para solos com parâmetros constantes, o valor de 𝐼𝑐 é muito próximo de um, ou seja, até
o comprimento efetivo, tal valor é igual a 1. Acima do comprimento efetivo, ele é maior
que um. Dessa forma, o desempenho impulsivo vai ser no máximo igual ao do 𝑅𝐿𝐹 . Ele
nunca será maior, já que 𝐼𝑐 = 𝑍𝑝 /𝑅𝐿𝐹 . Foram utilizados comprimentos próximos ao
comprimento efetivo. As diferenças percentuais entre os modelos são significativamente
pequenas até mesmo para as primeiras descargas de retorno, pois o desempenho, como
visto a partir do cálculo do coeficiente de impulso Ic, são similares;
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
49 Sobretensões Atmosféricas
Para as primeiras descargas de retorno, máximas diferenças próximas de 18,44% são obser-
vadas, quando comparado com o modelo de parâmetros concentrados para baixas frequências
(𝑅𝐿𝐹 ) e 3,06% para o modelo concentrado de impedância impulsiva (𝑍𝑝 ) . Por outro lado, para
as subsequentes estas diferenças alcançam, no máximo, valores próximos de 1,79% e 0,92%
para comparações similiares entre os modelos.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 50
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
51 Sobretensões Atmosféricas
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 52
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
53 Sobretensões Atmosféricas
Tabela 3.9: Pico de sobretensão atmosférica considerando distintos modelos de aterramento com
parâmetros dependentes da frequência.
As variações entre os modelos são mais pronunciadas para as injeções das primeiras descar-
gas e são mais significativas de acordo com o aumento do valor da resistividade do solo.Ademais,
a redução ocasionada pela dependência dos parâmetros do solo com a frequência está associada
com os relevantes efeitos de propagação do campo eletromagnético nos eletrodos de aterra-
mento, altamente dependentes da frequência, resistividade e permissividade elétricas do solo.
Ainda em função das comparações entre os modelos de aterramento, o modelo de aterramento
por impedância impulsiva (parâmetro concentrado) demonstra resultados satisfatórios para a
configuração estudada, pois é de conhecimento que esse modelo é mais adequado na presença
de correntes impulsivas, como as de descargas atmosféricas, quando comparado ao modelo de
resistência de aterramento (em baixas frequências). Apenas para a resistividade do solo igual a
100 Ω.𝑚 é possível perceber que o modelo de baixas frequências apresenta desvios inferiores
ao observado no modelo de impedância impulsiva 𝑍𝑝 .
Essas diferenças permitem concluir que o modelo, se inadequadamente aplicado, pode su-
perestimar, em alguns casos, os valores das sobretensões na cadeia de isoladores, conduzindo a
resultados errôneos, principalmente em solos com resistividades altas.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 54
Vários métodos podem ser empregados com o intuito de melhorar o desempenho de sistemas
de distribuição frente a incidência de descargas atmosféricas. Um desses métodos,que atua no
sentido reduzir ocorrência de backflashovers, contempla a diminuição do valor da impedância
de aterramento da torre. Por esse motivo, é de extrema importância garantir o melhor modelo
de aterramento a ser aplicado. Isso se deve ao fato de que, ao atingir a base da torre, a corrente
injetada sofre uma reflexão, gerando uma onda de tensão ("tensão refletida") que irá se somar
àquela que se forma na cadeia de isoladores. Entretanto, essas duas ondas de tensão apresentam
polaridades opostas, de modo que, quanto maior for a amplitude da tensão "refletida", menor
será a tensão total na cadeia de isoladores. Como a amplitude da tensão refletida aumenta à
medida que, diminui o valor da impedância de aterramento, pode-se dizer que, quanto menor o
valor desta impedância, menor o valor de sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores, e
como consequência, ocorre uma diminuição no número de interrupções da linha decorrentes de
backflashovers. A impedância de aterramento das torres é um dos parâmetros que mais afetam o
desempenho de uma linha de transmissão frente a descargas atmosféricas, devendo-se sempre,
pelas razões expostas, procurar limitá-la aos valores mais baixos possíveis.
Nessa simulação, nos cenários propostos de resistividades do solo de 100 Ω.𝑚, 1000 Ω.𝑚
e 2000 Ω.𝑚, com injeção da primeira corrente e subsequentes de retorno. Isso se dá devido ao
fato das sobretensões estarem abaixo da curva de suportabilidade da cadeia de isoladores.
Nos cenários onde o solo apresenta valores de resistividade mais elevados, tal como 4000
Ω.𝑚, ocorre a disrupção da cadeia de isoladores em 2 ocasiões, sendo estas: i) Para o caso
onde o aterramento é representado por parâmetros concentrados a partir de uma resistência
𝑅𝐿𝐹 , modelada em baixas frequências e ii) Para o caso em que se utiliza parâmetros do solo
constantes com a frequência e o aterramento é representado por parâmetros distribuídos a partir
de circuito equivalente (CE).
No primeiro cenário apresentado na Figura 3.29, são fornecidos os dados de sobretensão
e tempo de disrupção verificados na Tabela 3.10. Observa-se que a disrupção da cadeia de
isoladores ocorre após o primeiro pico de corrente e a primeira fase a ser desligada em 7,795
𝜇𝑠 é a fase C, mais próxima do solo. No instante em que ocorre a disrupção da cadeia de
isoladores, a fase C possui a maior amplitude de sobretensão. No método DE, o efeito disruptivo
considerado de um surto de sobretensão leva em consideração os seguintes pontos: i) Considera-
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
55 Sobretensões Atmosféricas
se um valor mínimo de tensão que precisa ser excedido antes que uma disrupção comece ou
continue e ii) O tempo em que ocorre a disrupção não é exclusivamente associado apenas ao
momento em que a fase atinge um valor determinado de sobretensão, assim é associado também
com a duração em que a fase permanece acima de valor denominado 𝑉0 .
Neste trabalho, quando ocorre disrupção da cadeia de isoladores, considera-se a curva até o
momento em que ocorre a disrupção da primeira fase. Os tempos de interrupções das demais
fases não estão contemplados, pois neste trabalho a modelagem do arco elétrico não é objeto de
estudo. Sendo assim, os tempos de interrupções das demais fases poderiam apresentar valores
não confiáveis.
Tabela 3.10: Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de resistência.
Figura 3.29: Análise da ruptura da cadeia de isoladores considerando sobretensão atmosférica resultante
nas fases A,B e C, para solos com resistividade de 4000 Ω.𝑚. Aterramento modelado a partir de
resistência 𝑅𝐿𝐹 . Elaborado pela autora.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 56
Tabela 3.11: Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de um circuito equivalente
com parâmetros do solo invariantes com a frequência.
Figura 3.30: Análise da ruptura da cadeia de isoladores considerando sobretensão atmosférica resultante
nas fases A,B e C, para solos com resistividade de 4000 Ω.𝑚. A modelagem é realizada com
parâmetros independentes da frequência, em decorrência da injeção da primeira corrente de retorno.
Aterramento modelado a partir de um circuito equivalente com parâmetros do solo invariantes com a
frequência. Elaborado pela autora.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
57 Sobretensões Atmosféricas
vida útil consideravelmente maior em relação ao seu uso direto (caso tivesse que operar para
condições próximas e menores que o valor de pico da corrente mediana). Por ter custo elevado
e aumentar suas chances de falha com o aumento de atuações, quanto menos o dispositivo para-
raios for solicitado, melhor, seja do ponto de vista financeiro ou de desempenho da linha de
transmissão a longo prazo [119], [36]. Análises do ponto de vista financeiro são exploradas na
Seção 3.4.
A seguir, na Figura 3.31 é possível observar os casos de alocação de para-raios que são
analisados nesta dissertação a partir das simulações realizadas para os solos com resistividades
de 2000 Ω.𝑚 e 4000 Ω.𝑚 .
Figura 3.31: Configurações de ZnO utilizadas para comparação da redução da sobretensão atmosférica
na cadeia de isoladores. Caso 01 – sem instalação de para-raios ZnO; Caso 02 – instalação de para-raios
ZnO em todas as fases da torre de transmissão; Caso 03 – instalação de para-raios ZnO em apenas uma
fase de maneira alternada e Caso 04 – instalação de para-raios em ZnO em duas fases de maneira
alternada.
É possível observar a partir das simulações já apresentadas neste trabalho que, em se tra-
tando de solos com valores moderados de resistividades, ou seja, inferiores a 2000 Ω.𝑚, a
modelagem correta do aterramento é suficiente para garantir o desempenho adequado de li-
nhas de transmissão frente a surtos atmosféricos, dentro do cenário base1 proposto. Tal fato é
constatado anteriormente, quando a análise de disrupção da cadeia de isoladores aponta uma
sobretensão acima da curva de suportabilidade apenas para alguns casos onde a resistividade do
solo é igual a 4000 Ω.𝑚. Sabendo disso, esta seção é direcionada a analisar apenas os cenários
1
Linha de transmissão de 138 kV, formas de ondas de correntes típicas medidas em San Salvatore com parâmetros medianos,
cadeia de isoladores modelado pelo método DE, aterramento conforme configuração geométrica da Figura 3.2 e Tabela 3.6,
torre de transmissão Modelo L6 modelada conforme Figura 3.1 com três torres adjacentes (vide Figura 3.32).
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 58
onde os solos apresentam valores de resistividades relativamente altas, que, no escopo desta dis-
sertação, compreende os solos com as resistividades de 4000 Ω.𝑚. Para o início das análises,
os testes de aplicação de para-raios para verificação do desempenho das linhas de transmissão
são realizados para os casos onde ocorreram a disrupção da cadeia de isoladores.
• Caso Base 𝑅𝐿𝐹 : O sistema proposto nesta dissertação é composto por uma torre prin-
cipal, cujo topo incide a descarga atmosférica. Tendo como referência as medições
de Berger [54] realizadas no Monte San Salvatore, as formas de ondas adotadas por
esta dissertação são representadas a partir do somatório das Funções de Heidler. Ao
derredor estão mais três torres adjacentes de cada lado (vide Figura 3.32). O sistema
é alimentado por uma tensão trifásica de 138 kV, as torres que podem ser visualizadas
na Figura 3.1 possuem altura de 33,565 m e vãos de 333 m. O aterramento de todas
as torres são representados por parâmetros concentrados a partir de uma resistência
modelada em baixas frequências.
• Caso 01: Análise comparativa com o caso base e a aplicação de para-raios em todas
as fases da estrutura.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
59 Sobretensões Atmosféricas
são instalados. A instalação do dispositivo de proteção evita o desligamento das fases que
sofreram, no caso base, disrupção da cadeia de isoladores sem a aplicação do para-raio.
Tabela 3.12: Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de resistência 𝑅𝐿𝐹 .
Aplicação de para-raios em todas as fases.
Figura 3.33: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequências. (a) Sem aplicação de
para-raios (b) Com aplicação de para-raios em todas as fases.
• Caso 02: Análise comparativa com o caso base e a aplicação de para-raios em apenas
uma fase de forma alternada.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 60
São analisados os três distintos cenários possíveis, onde a instalação dos para-raios
ocorrem em apenas uma das três fases.
Desta forma, formam-se três distintos arranjos, observados na Tabela 3.13 e nas Fi-
guras 3.34-3.36.
Tabela 3.13: Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de resistência 𝑅𝐿𝐹 .
Aplicação de para-raios em apenas uma fase de forma alternada.
Figura 3.34: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000 Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequências. Com aplicação de para-raio
na fase A da torre central.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
61 Sobretensões Atmosféricas
Figura 3.35: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequências. Com aplicação de para-raio
na fase B da torre central.
Figura 3.36: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequências. Com aplicação de para-raio
na fase C da torre central.
Uma análise importante retirada das comparações simuladas é relacionada ao fato de que,
no cenário proposto, a instalação do para-raio em apenas uma fase é suficiente para evitar
a disrupção da cadeia de isoladores em todas as fases. É possível observar uma redução
significativa da sobretensão atmosférica na fase onde o dispositivo é instalado (chegando
a 52,28%) e uma redução de até 19,12% em fases adjacentes.
• Caso 03: Análise comparativa com o caso base e a aplicação de para-raios em duas
fases de forma alternada.
São analisados os três distintos cenários possíveis, onde as instalações dos para-raios
ocorrem em duas das três fases, de forma alternada. Sendo assim, formam-se 3
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 62
distintos arranjos, que podem ser observados na Tabela 3.14 e nas Figuras 3.37-3.39.
De forma similar aos casos anteriores, são observadas não só a redução da sobre-
tensão atmosférica na fase onde foram instalados os dispositivos de proteção como
também a influência dessa aplicação na outra fase da linha.
Tabela 3.14: Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de resistência 𝑅𝐿𝐹 .
Aplicação de para-raios em duas fases de forma alternada.
Figura 3.37: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequências. Com aplicação de para-raios
nas fases A e B da torre central.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
63 Sobretensões Atmosféricas
Figura 3.38: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequências. Com aplicação de para-raios
nas fases A e C da torre central.
Figura 3.39: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por resistência em baixas frequências. Com aplicação de para-raios
nas fases B e C da torre central.
É possível constatar que o melhor cenário dentro do caso proposto é a instalação dos para-
raios nas fases mais altas (A e B), onde a aplicação pode ocasionar redução de 27,64% na
fase C, quando considerada a incidência na torre central.
• Caso Base CE: O que difere o caso base do primeiro cenário para o segundo é apenas a
modelagem do aterramento. No novo cenário, o aterramento de todas as torres é represen-
tado por parâmetros distribuídos a partir de um circuito equivalente. A injeção de corrente
considerada é a primeira corrente de retorno e o solo possui parâmetros constantes.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 64
• Caso 01: Análise comparativa com o caso base e a aplicação de para-raios em todas as
fases da estrutura. Reduções percentuais podem ser observadas na Tabela 3.15 e na Figura
3.40.
Tabela 3.15: Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de um circuito equivalente
com parâmetros do solo invariantes. Aplicação de para-raios em todas as fases.
Figura 3.40: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com parâmetros do solo invariantes,
submetido a primeira corrente de retorno. (a) Sem aplicação de para-raios (b) Com aplicação de
para-raios em todas as fases.
De forma similar ao caso base com o aterramento representado por 𝑅𝐿𝐹 , é possível constatar
valores semelhantes, ou seja, que ultrapassam 50% a redução das sobretensões atmosféricas.
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
65 Sobretensões Atmosféricas
• Caso 02: Análise comparativa com o caso base e a aplicação de para-raios em apenas uma
fase de forma alternada.
São analisados os três distintos cenários possíveis, onde a instalação do para-raio ocorre
em apenas uma das três fases. Sendo assim, formam-se três distintos arranjos, observados
na Tabela 3.16 e nas Figuras 3.41-3.43.
Tabela 3.16: Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de um circuito equivalente
com parâmetros do solo invariantes. Aplicação de para-raio em apenas uma fase de forma alternada.
Figura 3.41: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com parâmetros do solo invariantes,
submetido a primeira corrente de retorno. Com aplicação de para-raio na fase A.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 66
Figura 3.42: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com parâmetros do solo invariantes,
submetido a primeira corrente de retorno. Com aplicação de para-raio na fase B.
Figura 3.43: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com parâmetros do solo invariantes,
submetido a primeira corrente de retorno. Com aplicação de para-raio na fase C.
As reduções são mais pronunciadas quando se opta por instalar o para-raio na fase mais alta
(fase A), seja a diminuição da sobretensão atmosférica da própria fase quanto a redução oca-
sionada nas fases adjacentes. A instalação de apenas um para-raio já é suficiente para garantir
o desempenho adequado da linha, ou seja, cenário onde não ocorre a disrupção da cadeia de
isoladores em nenhuma das fases.
• Caso 03: Análise comparativa com o caso base e a aplicação de para-raios em duas fases
de forma alternada.
São analisados os três distintos cenários possíveis, onde as instalações dos para-raios ocor-
Marcelino, Patrícia.
3.3. Grandezas Físicas representativas do Comportamento Dinâmico do Aterramento Elétrico e
67 Sobretensões Atmosféricas
rem em duas das três fases. Sendo assim, formam-se três distintos arranjos, observados
na Tabela 3.17 e nas Figuras 3.44-3.46.
São observadas não só a redução da sobretensão sob a fase onde foi instalado o dispositivo
de proteção como também a influência dessa aplicação nas demais fases da estrutura.
Tabela 3.17: Ruptura de cadeia de isoladores. Aterramento modelado a partir de um circuito equivalente
com parâmetros do solo invariantes. Aplicação de para-raios em duas fases de forma alternada.
Figura 3.44: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com parâmetros do solo invariantes,
submetido a primeira corrente de retorno. Com aplicação de para-raios nas fases A e B.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 68
Figura 3.45: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com parâmetros do solo invariantes,
submetido a primeira corrente de retorno. Com aplicação de para-raios nas fases A e C.
Figura 3.46: Sobretensão atmosférica sob a cadeia de isoladores para solo com resistividade igual a
4000Ω.𝑚, aterramento representado por circuito equivalente com parâmetros do solo invariantes,
submetido a primeira corrente de retorno. Com aplicação de para-raios nas fases B e C.
Marcelino, Patrícia.
69 3.4. Discussões Finais Práticas
alinhar não só a necessidade da proteção como também a viabilidade financeira de tal aplicação.
Segundo estudos elaborados pela Empresa de Pesquisa Energética, a montagem de para-raios
em linhas de transmissão chega a ser avaliada em aproximadamente 20% do custo dos equipa-
mentos [120].
Dessa forma, quando considerada a aplicação parcial da proteção da torre com para-raios,
a instalação do dispositivo nas duas fases superiores garantem maior redução na probabilidade
de ocorrência de ruptura da cadeia de isoladores, por conta da redução dos níveis de tensão
observados nas mísulas onde os para-raios são instalados. No caso da utilização de um único
para-raios, é sugerida a instalação na fase mais alta (neste trabalho, denominada como fase
A). Para uma melhor análise da alocação ótima de para-raios com os distintos modelos de
aterramentos explorados nesta dissertação, as Tabelas A.1 e A.2, apresentam, respectivamente,
as reduções percentuais das sobretensões em solos com resistividades de 2000 Ω.𝑚 e 4000 Ω.𝑚.
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 70
Marcelino, Patrícia.
71 3.5. Síntese do Capítulo
menores (COM), ou seja, os acessórios da instalação. Esses dados foram extraídos exclusiva-
mente da base de preços da ANEEL. Todos os demais dados foram fornecidos pela Energisa
Minas Gerais.
A fim de exemplificar a parcela significativa dos custos relacionados à aplicação de dispo-
sitivos para-raios, seguem dados da linha de transmissão Votorantim - Muriaé II, recentemente
construída na concessão da Energisa Minas Gerais, Tabela 3.19.
Tabela 3.19: Características básicas da linha de trasmissão Votorantim- Muriaé II. Dados fornecidos
pela Energisa Minas Gerais.
O capítulo de resultados figura como um dos principais capítulos desta dissertação. Per-
meando a construção matemática e fisicamente consistente da modelagem eletromagnética dos
dispositivos utilizados na simulação, o capítulo sugere análises relevantes relacionadas ao ater-
ramento e à alocação ótima de dispositivos para-raios em torres de transmissão.
Busca-se pontuar as críticas referentes aos distintos modelos de aterramento elétrico e suas
limitações quando comparado à modelagem completa a partir de um circuito equivalente, ainda
considerando os parâmetros do solo variantes com a frequência. Ao longo do capítulo, é mos-
trada a pouca eficiência do aterramento em reduzir sobretensões atmosféricas decorrentes da
injeção de ondas de correntes típicas de descargas de retorno subsequentes. Tal afirmação torna-
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 3. Resultados e Análises de Sensibilidade 72
Marcelino, Patrícia.
CAPÍTULO 4
Conclusões
As principais conclusões deste trabalho são evidenciadas a partir das simulações contidas
no terceiro capítulo. De forma sucinta, pode-se pontuar os seguintes resultados referentes às
análises dos distintos modelos de aterramento:
73
Capítulo 4. Conclusões 74
Marcelino, Patrícia.
75 4.1. Síntese da Dissertação e Principais Resultados
• A partir do estudos sugeridos neste trabalho, é possível constatar que a aplicação de para-
raios como dispositivos de proteção gera uma redução significativa da sobretensão obser-
vada sob a mísula da cadeia de isoladores. Na ocorrência de um surto atmosférico, os
dispositivos para-raios atuam de forma a ”grampear” o valor da sobretensão resultante
sobre a cadeia de isoladores. Sendo assim, a aplicação desses equipamentos pode prever
como consequência a diminuição nas taxas de desligamentos não programados das linhas
de transmissão. Porém, é de extrema importância analisar a alocação ótima dos dispo-
Marcelino, Patrícia.
Capítulo 4. Conclusões 76
• É possível observar, a partir das simulações já apresentadas neste trabalho, que se tratando
de solos com valores moderados de resistividades, ou seja, inferiores a 2000 Ω.𝑚, para
uma linha de 138 kV, o projeto correto do aterramento é suficiente para garantir o desem-
penho adequado de linhas de transmissão frente a surtos atmosféricos, dentro do cenário
base proposto. Em contrapartida, para valores mais elevados de resistividade, representa-
dos nesta dissertação, principalmente, a partir das simulações com resistividades de 4000
Ω.𝑚 o uso de dispositivos para-raios é um dos possíveis métodos que podem ser aplicados
com a finalidade de atingir o desempenho da linha de transmissão requerido por órgãos
regulamentadores.
• A definição quanto à quantidade e localização dos para-raios requer uma análise técnica
específica da linha, incluindo simulações computacionais. A definição dos pontos de apli-
cação dos pára-raios de linha depende de fatores, tais como, o histórico de desligamento
das linhas, características geométricas das linhas, conhecimento da topografia e do nível
ceráunico ou densidade de descargas a terra das regiões por onde passam as linhas, resisi-
tivade do solo, índice de queima de isoladores instalados, grau de importância das linhas,
etc. Uma avaliação econômica deve ser realizada, de modo a permitir ao usuário analisar
qual a opção que melhor viabilize a sua instalação, bem como o retorno econômico do
investimento.
• Nos casos estudados nesta dissertação, quando considerada a aplicação parcial da proteção
da torre com para-raios, a instalação do dispositivo nas duas fases superiores da torre
central garante maior redução na probabilidade de ocorrência de ruptura da cadeia de
isoladores da torre central, por conta da redução dos níveis de tensão observados onde o
para-raio é instalado. No caso da utilização de um único para-raio, é sugerida a instalação
na fase mais alta (neste trabalho, denominada como fase A), considerando que a incidência
ocorre no topo da torre central.
Por fim, conclui-se que, para regiões apresentando solos de elevada resistividade, a solução
mais viável pode ser a aplicação de para-raios em conjunto com a melhoria da impedância de
aterramento.
Marcelino, Patrícia.
77 4.2. Propostas de continuidade
• Devido ao esforço computacional despendido nas simulações para solos com valores altos
de resistividade, este trabalho limitou-se a resistividades de até 4000 Ω.𝑚. Dessa forma,
sugere-se a expansão de simulações abrangendo solos com valores de resistividades mai-
ores que 4000 Ω.𝑚;
• Sugere-se o estudo da energia absorvida pelos dispositivos para-raios. Para que projetos
de para-raios sejam realizados de forma consistente, é necessário levar em consideração
a capacidade de absorção de energia, onde o para-raios precisa suportar em média, não
apenas um impulso de corrente, mas sim três impulsos de corrente;
Marcelino, Patrícia.
Referências Bibliográficas
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pós-graduação em Engenharia Elétrica da Universidade de São João Del-Rei e Centro
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Marcelino, Patrícia.
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Marcelino, Patrícia.
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Marcelino, Patrícia.
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Marcelino, Patrícia.
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APÊNDICE A
Apêndice
Para uma melhor análise da alocação ótima de para-raios com os distintos modelos de ater-
ramentos explorados nesta dissertação, as Tabelas A.1 e A.2, apresentam respectivamente as
reduções percentuais das sobretensões em solos com resistividades de 2000 Ω.𝑚 e 4000 Ω.𝑚.
93
Apêndice A. Apêndice 94
Tabela A.1: Reduções observadas nas sobretensões atmosféricas sob a mísula da cadeia de isoladores a
partir da instalação de para-raios. Resistividade do solo = 2000 Ω.𝑚
Marcelino, Patrícia.
A.1. Análise de Desempenho de Linhas de Transmissão com a Instalação de Para-raios em Paralelo
95 com a Cadeia de Isoladores.
Tabela A.2: Reduções observadas nas sobretensões atmosféricas sob a mísula da cadeia de isoladores a
partir da instalação de para-raios. Resistividade do solo = 4000 Ω.𝑚
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