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Aulas:
● Escravos no Caribe
● Colonização dos EUA
Textos:
● A formação e a estrutura econômica da Hacienda na Nova Espanha – Enrique Florescano
● O açúcar e a escravidão no Caribe nos séculos XVII e XVIII – Herbert S. Klein
● A fase colonial dos EUA – Merril Jensen
➢ Escravos no Caribe
Ao iniciar a aula, o professor Horacio explicou que o objetivo da aula era entender a
historiografia norte-americana sobre o período colonial dos Estados Unidos. Um adendo a ser
feito: o conteúdo que compõe esse tema é majoritariamente escrito por norte-americanos.
Uma característica importante a ser ressaltada é a que a região, onde atualmente
corresponde aos Estados Unidos da América, foi ocupada pelos conquistadores espanhóis,
franceses e ingleses. Com essa afirmação, é possível questionar-se do por que o
desenvolvimento foi diferente das colônias caribenhas ou até mesmo da América Espanhola?
● Periodização
Sendo essa uma questão que causa divergências entre os historiadores, as datas que
marcam a colonização são adotadas de forma convencional, isto é, a periodização ocorre para
auxiliar no estudo da história.
Adota-se o ano de 1607 como início da fase histórica de colonização dos EUA, pois foi
quando os estrangeiros chegaram no território que batizaram com o nome de Virgínia. Assim
como em diversas regiões do continente americano, houveram expedições anteriores de
reconhecimento, mas, segundo essa visão historiográfica, nada de importante aconteceu para
que se consolidasse como um marco. Para alguns autores estadunidenses, o período colonial
dos EUA termina no ano de 1775, quando ocorreu a primeira batalha da luta pela
independência; para outros, o marco final da colonização britânica é o ano de 1776 com a
Declaração de Independência, promulgada no dia 4 de julho, sendo também uma data
convencional. Ainda nessa questão, outro potencial marco para o fim da colonização dos EUA
poderia ser o tratado de paz assinado em 1783, declarando o fim das guerras de independência.
● Semelhanças entre a colonização dos EUA e da América Espanhola
Por mais que algumas regiões da América do Norte tenham sido exploradas pelos
espanhóis, a colonização britânica nessa região foi quem obteve destaque, além de um
desenvolvimento diferente daqueles encontrados nas colônias espanholas e inglesas no Caribe
como na América Espanhola. Apesar das diferenças, que serão pontuadas mais a frente, existem
semelhanças encontradas no contexto denominado colonização.
Pode-se apontar como semelhanças gerais entre as colonizações:
1) o governo da metrópole tomava decisões sem consultar as opiniões dos colonos –
uma característica válida para todas as colônias da América;
2) as metrópoles estavam interessadas no desenvolvimento das colônias desde que
atendessem seus interesses econômicos – tratavam-nas como subordinadas às suas
necessidades comerciais e financeiras;
3) a metrópole considerava as populações da colônia como inferiores – os colonos
nascidos na colônia eram vistos como verdadeiros vassalos.
● Diferenças entre a colonização dos EUA e da América Espanhola
As diferenças dos sistemas coloniais podem ser resumidas através de
“conceitos-chaves”: modelo de administração e experiência de governo, questão religiosa na
colônia, questão agrária e imigração de colonos.
Das diferenças citadas acima, a primeira delas caracteriza-se praticamente como oposta
entre as Américas Espanholas e Portuguesas e as Treze Colônias. Nas Américas, o governo da
metrópole, Portugal e Espanha, era quem gerenciava o desenvolvimento da colônia de forma a
sustentar seus interesses econômicos. No caso da América Espanhola, o modelo de
administração usado para gerir a área conquistada abrangia uma divisão territorial em 4 partes,
chamadas de vice-reinos, que eram governados por um representante direto do rei, o vice-rei.
Em contraste deste cenário, havia liberdade de organização política nas Treze Colônias,
especialmente em comunidades locais, onde os representantes se ocupavam na construção de
soluções, sem interferência da coroa inglesa. Tira-se de conclusão que os Estados Unidos,
mesmo na sua época colonial, tiveram uma experiência de governo democrática incipiente.
A questão religiosa na América Espanhola foi marcada principalmente pela intolerância,
visto que a única religião permitida na colônia era o catolicismo pregado na Igreja Católica. Para
a efetivação dessa religiosidade na colônia, foram criadas as Missões, as Ordens Religiosas, além
de um aparato judicial, como a Inquisição, trazido da Europa para a América. Já nas Treze
Colônias, a tolerância religiosa foi o ponto central, apesar de existir um número maior de
protestantes, a prática de outras religiões e crenças era de livre culto. A liberdade religiosa foi
fundamental para a atração de imigrantes, como por exemplo, os judeus, mas, além dessa,
outra característica que contribui para a atratividade foi a promessa de distribuição de terras,
desenvolvendo assim pequenas propriedades produtoras. Observa-se o contrário na América
Espanhola, visto que a concentração das terras e os grandes latifúndios foram marcantes na
questão agrária.
Por fim, a imigração de colonos também acontecia de forma diferente, o governo
espanhol possuía rígidos códigos sobre a imigração, a exemplo, era necessária uma autorização
da coroa para vir à América. Já no caso das Treze Colônias, o governo inglês até incentivava a
transumância da Europa para à América do Norte, não só de ingleses, mas de outras
“nacionalidades”, visto que esse conceito no contexto abordado ainda não estava formado.
Referência:
FLORESCANO, Enrique. A formação e a estrutura econômica da Hacienda na Nova Espanha. Em:
História da América Latina: A América Latina Colonial, São Paulo: Edusp, 2012. V. II, cap. 4, p.
151-186
➢ Texto 10: O açúcar e a escravidão no Caribe nos séculos XVII e XVIII – Herbert S. Klein
Referência:
KLEIN, Herbert S. O açúcar e a escravidão no Caribe nos séculos XVII e XVIII. Em: KLEIN, Herbert
S. A escravidão africana na América Latina e Caribe. São Paulo. Brasiliense, 1986. p. 58-81
O autor do capítulo em questão tem por objetivo mostrar como o passado colonial
contribuiu na formação e na história das nações do Novo Mundo , discorrendo sobre os modos
de colonização europeia no continente americano e comparando-os. Fica evidente ao longo da
leitura que o seu foco está em mostrar como o passado colonial formou o que as nações são
hoje e, para isso, ele aponta as semelhanças e diferenças dos sistemas implantados nas
Américas Portuguesa e Espanhola, com ênfase na espanhola, e na colonização britânica da
América do Norte, especialmente no território que viria a ser os Estados Unidos da América.
No início, o autor apresenta a tese de que o passado colonial exerceu e ainda exerce
influência em diversos âmbitos, seja social, econômico ou político, nos países que hoje,
independentes, compõem o continente Americano. Ele continua dizendo que todas as colônias
tinham uma característica em comum: contribuir para a prosperidade de sua metrópole.
Configurando-se como uma exceção, uma das colônias do Novo Mundo desenvolveu suas
próprias particularidades impactando de forma direta na construção da nação independente
que viria a se tornar a partir do ano de 1776. Para isto, o autor pontua em seu texto essas
particularidades que transformaram as Treze Colônias Americanas nos Estados Unidos da
América.
O primeiro tópico que Jensen analisa relacionando as colônias da Espanha e as Treze
Colônias é a questão da emigração europeia para a América. No caso da primeira, o governo
espanhol não permitia a livre transferência de espanhóis de um continente a outro, para isto
era necessária uma autorização para deixar a Espanha. Em contrapartida, a colonização
britânica na América do Norte aconteceu com maior liberdade, uma vez que o governo inglês
não interferiu nos processos, entre eles, na migração, pelo contrário! Com isso, os Estados
Unidos ganharam fama de ser uma terra de possibilidades. Importante ressaltar que no século
XVIII, migraram para essa região alemães, judeus, irlandeses, escoceses e suíços.
O segundo tópico trazido pelo autor é sobre a religião e a liberdade de culto. A Igreja
Católica tinha uma relação extremamente próxima com as colônias espanholas – como prova
desse relacionamento tem-se as Ordens Religiosas, o envio de padres e jesuítas às colônias,
além das missões de catequização e conversão dos povos nativos. Com isso, a liberdade
religiosa era uma ideia inexistente, visto que a única religião permitida era a Católica; aqueles
que professavam outra fé poderiam ser submetidos a punições. Do contrário aconteceu no
lugar que viriam a ser os Estados Unidos, uma das possibilidades que essas colônias permitiam
era a liberdade religiosa, sendo este um dos pilares que mais atraíram imigrantes, vide o
contexto de guerras político-religiosas na Europa.
Outro detalhe importante que é posto em questão é a política administrativa. Na
colonização espanhola, a região conquistada foi dividida em quatro vice-reinos, cada um [dos
vice-reinos] era governado por uma figura que detinha poder absoluto chamado de vice-rei.
Durante a colonização este sistema pode até ter tido uma experiência administrativa positiva,
mas quando essas regiões se revoltaram com o objetivo de tornar-se uma nação independente,
elas não tinham experiência de governo próprio, como afirma o autor. Como foi dito acima, o
governo inglês pouco interferiu nas colônias da América do Norte, ação contrária ao que fez o
governo espanhol, que marcou forte presença em suas colônias. Posto isso, é possível
compreender a diferença entre os sistemas, visto que as Treze Colônias acabaram
desenvolvendo sociedades políticas, administrando assuntos de caráter internos e com regime
de votação. Por fim, o autor explica que por conta dessa particularidade do passado colonial,
em virtude de um século e meio de experiência política, os Estados Unidos se erguem
administrativamente fortes em 1776 e viriam a ser o que são atualmente.
Referência:
JENSEN, Merril. A Fase Colonial. Em: WOODWARD, Comer Vann. Ensaios comparativos sobre a
história americana. São Paulo. Ed. Cultrix, 1972. cap. 2, p. 30-45