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FILOSOFIA.
PROFESSOR: Dr. Marcos Silva
Esta definição de conhecimento presente na obra platônica Teeteto foi escrita a mais de
2000 anos. Ela quer dizer que: quando temos boas razões que para acreditar que as nossas
crenças - expressadas através de proposições - são verdadeiras, quer dizer que possuímos
"Conhecimento Proposicional”.
Daqui se extrai a Análise Tradicional do Conhecimento ou Definição Tripartida do
Conhecimento (O’Brien, 2013, p.34): “Conhecimento é a Crença Verdadeira Justificada”.
Algumas coisas têm que ser deixadas expostas de antemão. Quando estamos falando de
conhecimento, estamos falando de conhecimento proposicional (por proposições).
Conhecimentos por proximidade - eu conheço alguém -, ou conhecimento de “saber fazer” -
eu sei jogar basquete não são abordados nesse conteúdo. O que abordamos é o conhecimento
acerca das proposições que podem ser bipolares - serem falsa ou verdadeiras. Outro adendo é
a relação entre Crença e Conhecimento pode ser mostrada também pela perspectiva da(o)
sorte/palpite.
Para que eu possa diferenciar um conhecimento de um mero palpite correto eu
precisaria compreender que meu conhecimento tem relação direta com a minha crença, de
modo que, a relação é tão intensa que seria desnecessário eu falar coisas como “eu acredito
que estou lendo e eu sei que eu estou lendo”. Ou seja, se as 2 primeiras cartas que eu viro em
um “jogo da memória” são a mesma figura, eu sei que aquilo foi sorte, porque eu não acreditava
de antemão que iria acertar de primeira. Entretanto, falando no âmbito proposicional, todas as
vezes que eu “conheço”, eu também “acredito” e esta é a diferença entre sorte e conhecimento.
Sendo assim, conhecimento é a crença verdadeira justificada.
Porém, será a crença verdadeira justificada um conhecimento? Este desafio é aceito
pelo filósofo Edmund Gettier. Em seu artigo, o filósofo americano propõe situações hipotéticas
vão - tentar – provar que se pode obter crenças verdadeiras justificadas que não são
conhecimento. A este, é dado o nome de Desafio de Gettier. Estes exemplos hipotéticos se
apresentam como contraexemplos da Análise Tripartida e caso tais exemplos sejam
convincentes ele refutará a ideia de que a crença verdadeira justificada é conhecimento.
A refutação de Gettier não objetiva provar que a crença verdadeira justificada é
conhecimento, mas sim, expor que ela não é suficiente.
Caso II: Suponhamos que um cheiro forte de terra molhada igual a que anuncia a queda
de chuva é tragada pelo olfato do professor Marcos que estava escutando música com fones de
ouvido na sala de sua casa. Ao olhar pela janela ainda com os fones, por estar sem óculos, não
consegue avistar os pingos da chuva caindo, mas ver o céu totalmente fechado de nuvens
pesadas de chuva e ao olhar o chão da janela (que aponta para o quintal de sua vizinha), o chão
está todo molhado. Sendo assim, o professor logo acredita estar chovendo e continua com seu
lazer na sala. O tempo se passa e ao receber uma mensagem no celular enviada por um de seus
alunos, o professor olha novamente pela janela, desta vez a que aponta para a rua. A fundo,
avista seu aluno Euclides atravessando a rua correndo indo em direção a casa do professor.
Suponha que Marcos sabe também que a calha do telhado de sua casa acumula água
toda vez que chove e pode derramar muita água se alguém bater no cano que se conecta a calha.
Daí, Marcos chega à conclusão, c (choveu) e dela deriva d:
d) Choveu, logo a calha está cheia de água, Euclides está vindo em direção a bater na calha
cheia, a água vai cair e molhá-lo todo.
Ao mesmo tempo, vê Euclides vindo com o braço direito estendido para se segurar no
cano da calha e ajustar seu “freio”/”sua parada” com auxílio do cano. Logo, o professor Marcos
infere:
e) Eu sei que a água na calha vai molhar Euclides.
O professor justifica sua crença em c na medida em que sabe que choveu, sabe do
problema na calha, está vendo seu aluno acionar o problema na calha e que a consequência
disso será o fato dele se molhar.
Ao tentar avisar a Euclides, rapidamente, o aluno bate com força na calha e derruba
toda água em cima de si mesmo. Molhando-o de água suja. O professor tira seus fones e vai
correndo ajudá-lo. Ao tirar o fone e colocar os óculos, percebe que não há som de chuva e ao
abrir a porta de entrada da casa percebe que a rua não está molhada e nem está chovendo.
Mais tarde, naquele mesmo dia, ao conversar com sua vizinha, ela lhe explica a Marcos
que a piscininha de plástico da filha dela estourou e jorrou água por todo o quintal, molhando
toda a terra, logo subiu o cheiro de terra molhada e ela também tinha esquecido de avisar que
a calha estava cheia de água desde a chuva da madrugada – ocorrida enquanto o professor
estava dormindo - e ia falar para o professor ajeitar.
Ou seja, o professor acertou sobre c, e c aconteceu – pois realmente choveu, entretanto,
não no momento em que o professor estava escutando música, tornando a premissa c a qual
deriva as outras, falsas – pois na relação entre linguagem e mundo, não tinha chovido quando
o professor inferiu tal crença. Entretanto, as premissas d e e - que derivaram de c - eram
verdadeiras.
Mas se pode dizer que a crença verdadeira justificada do professor Marcos neste caso é
conhecimento? Não, pois a crença está fundamentada numa falsidade.
Esta base edificante é vista como infalíveis (não podem estar erradas); incorrigíveis (não
podem ser refutadas); e indubitáveis - não podem ser postas em dúvida - (O’Brien, 2013,
p.126-127), pelos fundacionistas. E Descartes é um exemplo disso. A base primeira – a certeza
do cógito - fundamenta outras verdades, porém as outras verdades não fomentam a verdade do
cógito, pois esta, é a base primal para a construção de um edifício firmado em chãos de rocha.
Heidegger e a metáfora do solo,luz e da árvore: Para Heidegger a justificação que garante a
metafísica e que lhe provém o fundamento como solo de uma árvore, é o Ser. Mas não somente
o solo, o ser é como a luz que garante o vigor e o crescimento da árvore.
Não é difícil enchergar o fato de que uma justificação se pauta em outra crença, mas para
Heidegger, a crença de que o SER fomenta a metafísica como o solo e a luz alimenta uma
árvore traz esta perspectiva fundacionista de que há um fundamento máximo, último e
derradeiro que alimenta as crenças acerca da metafísica. Assim, a luze e o solo sustenta a
árvore, mas a árvore não sustenta nem o solo e nem a luz.
Ambas as metáforas funcionam como uma imagem que nos remete a fundamentos último, estas
perspectivas hierárquicas que fomentam uma visão de que alguns conhecimentos são mais
valiosos, mais fundamentais e necessários é uma perspectiva fundacionista bem recorrente
dentro da filosofia.
Devemos falar também sobre o âmbito da crítica a esta perspectiva. O fundamento primeiro,
indubitável depende muito do “estado psicológico” daqueles que estão inferindo as
proposições. Ou seja, há possibilidades de acreditar em algum fundamento máximo que não
seja verdadeiro, mas seja verdadeiro para mim (relações de crença). Se eu acredito que Deus
parou o carnaval e matou milhares de covid porque uma certa escola de samba fez algo com a
sua imagem, eu tenho um fundamento primeiro (deus) como base fundacionista das minhas
crenças, entretanto, não quer dizer que eu tenha chegado ao conhecimento.
Tira-se a capacidade de revisão do conhecimento. Perde-se a perspectiva de que todo
conhecimento é falível.
Metáfora do Eixo: Pensemos que existe uma roda com um eixo. Esta roda é desmontável e
todas as suas peças podem ficar ou sair e seu eixo também pode ser substituído ou ter vários
eixos. Baseada nelas eu me inspirei e Metáfora do Navio de várias Rodas de Água (roda
d’água): A roda de água ou roda d'água é um dispositivo circular montado sobre um eixo,
contendo na sua periferia caixinhas ou aletas dispostas de modo a poder aproveitar a energia
hidráulica, ou atuar como propulsor em navios (fonte - wikipedia). Atuando como propulsor –
o que impulsiona, transmite movimento – a justificativa dar movimento a máquina - humana
impulsionando-o em direção ao conhecimento. Essa justificativa deve ser circular, pois assim
como a roda d’água, cada elemento da roda serve como mecanismo que dar mais impulsão ao
próximo elemento, formando assim uma cadeia sustentável de rotação que gera energia –
conhecimento – e ao mesmo tempo direciona, encaminha e move.
Um navio com várias rodas de água seria um navio com várias justificativas circulares
que se conectam - através do navio -, se relacionam e podem seguir qualquer direção, com o
potencial de gerar a força e a direcionamento uma com as outras, gerando assim uma cadeia de
potencialidade que faz com que o barco tenha força para seguir em qualquer direção - por isso
que existem várias áreas do conhecimento.
Metáfora da Hinge: As hinges devem permanecer fixas enquanto agimos para que nossas
atividades em geral sejam possíveis. As hinges não são fixas por conta de algum elemento
externo a elas, mas por uma relação de reciprocidade funcional, contingente e intrassistêmica
que garante a estabilidade do conjunto de hinges. Entretanto, as hinges devem poder ser
revisadas ou modificadas como parte do processo, ou seja, elas têm que ser falseáveis e – como
segunda característica - devem haver várias hinges.
Estas metáforas servem como pano de fundo para a compreensão do conhecimento
como uma rede de crenças já certificadas que nos remetem a um mundo de informações de
dados, sínteses e criação. Seja a proposição ‘a priori’ ou verdadeira ‘a posteriori’ podemos
afirmar que o conhecimento é válido a partir de um conjunto de crenças relacionais e não de
um edifício unitário, monoarquetetônico ou linear. Ex: Sendo a proposição (a) “há um
hipopótamo rosa no teto do CFCH”
Para a é falso: As crenças que se relacionam com, “Não existe hipopótamo rosa”, “é
praticamente impossível levar hipopótamos a lugares tão altos”, “não existem hipopótamos na
cidade” e também conhecimentos de fato como física, biologia e etc. Fomentam a falsidade do
argumento.
Para a é verdadeiro: há um mundo possível onde um brinquedo rosa em forma de
hipopótamo chamado “hipopótamo rosa” foi jogado pelo(a)(e) filho(a)(e) de algum
professor(a)(e) de filosofia do CFCH enquanto ele brincava pelo prédio com parentes. Ou seja,
esta crença é fomentada por várias outras - há um brinquedo em tal forma, ele pode ser jogado,
há tal lugar, há tal e tal possibilidade e etc. Trago aqui o âmbito da falibilidade do
conhecimento.
O problema deste tipo de perspectiva coerentista é que se pode criticá-la a nível
agripiano de ser circular e infinitista - em sua versão holistica. Circular no sentido de poder
terminar e começar na mesma crença/justificativa várias vezes e circular por crenças erradas
ou equivocadas. Infinitistas porque seu formato holístico pode ter infinitas relações possíveis
visto que não há um parâmetro de crença primordial ou axiomáticas.
Bibliografia