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Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Direito
Departamento de Direito Privado

DIREITO IMOBILIÁRIO E REGISTROS PÚBLICOS (2002.1)

Prof.: Rafael Souza

APOSTILA 01

Introdução. Registro de Pessoas. Registro de Títulos e Documentos.

1. Histórico

O desenvolvimento da atividade registral acompanha a evolução do homem e da sociedade.


A forma embrionária do que hoje chamamos de registro público já podia ser constatada na
pré-história, onde as pinturas rupestres feitas nas cavernas já serviam para contar os
habitantes de determinado grupo social. A título de exemplo, esse “registro” era útil para
saber a quantidade de alimento que os guerreiros precisavam caçar.

O advento do calendário (egípcios) e da escrita (fenícios), durante a antiguidade oriental,


apontam um novo marco evolutivo para a prática registral, principalmente no que toca a
atividade comercial.

Em Roma, a atividade registral concernente as pessoas naturais começa a ser idealizada a


partir dos censos demográficos que eram constantemente realizados. Esse “registro” será
tratado de maneira mais criteriosa pela Igreja, durante toda a Idade Média e Moderna. O
sacramento do batismo passa a ser considerado “o registro da pessoa natural”.

Com a Idade Média tem-se o declínio de toda e qualquer atividade comercial, o que fará
com que o incipiente hábito do registro comercial seja esquecido. O final da Idade Média
marca o renascimento do comércio e o surgimento das corporações de ofício e das ligas de
comerciantes (burgueses), oportunidade em que os “registros de comércio” passam a ter
evidente utilidade e importância. Com a consolidação dos Estados Nacionais, percebe-se a
necessidade de que o Estado discipline a atividade comercial, criando órgãos competentes
para o registro dos comerciantes e da atividade comercial. Todavia, essa disciplina não
deve ser confundida com intervenção estatal, frontalmente contrária ao modelo liberal
dominante.

Nesse mesmo momento histórico, a laicização dos Estados Nacionais faz com que a Igreja
perca para o Estado a primazia no tocante aos registros de pessoas naturais, tornando-o
oficial.

No Brasil, o registro comercial oficial, instituído ainda no 2o império, precede o registro


civil oficial, que somente foi criado após a Proclamação da República.
2. Conceito

Registro é o conjunto de atos autênticos tendentes a ministrar prova segura e certa do


estado das pessoas (físicas ou jurídicas), de títulos e documentos, da propriedade
imobiliária e do inadimplemento do devedor. Ele fornece meios probatórios, cuja base
primordial descansa na publicidade. (Washington de Barros Monteiro, adaptado)

3. Base legal

O art. 22, XXV, da Constituição Federal atribuiu a competência privativa da União para
legislar sobre registros públicos. No exercício dessa competência, posto que também
prevista na Carta Magna anterior, foi editada a Lei 6.015/73 (LRP) e as Leis 8.935/94 e
9.492/97. Alguns dos elementos essenciais da implementação desses serviços são
submetidos à lei estadual, que, na maioria dos casos, é a própria Lei de Organização
Judiciária (LOJ/BA – Lei Estadual 3.731/79 )

4. Fins do registro público (“Princípios Gerais”)

a) Publicidade: o registro, propiciando a publicidade em relação a todos os terceiros, no


sentido mais amplo, produz o efeito de afirmar a boa-fé dos que praticam atos jurídicos
baseados na presunção de certeza daqueles assentamentos. Esse princípio não foi
expressamente consagrado no art. 1o da LRP, estando previsto nas Leis 8.934/94
(registro público de empresas mercantis), 8.935/94 (Lei dos Notários e Registradores)
e 9.492/97 (serviços de protesto de títulos e outros documentos).

b) Autenticidade: é a qualidade do que é confirmado por ato de autoridade: de coisa,


documento ou declaração verdadeiros. O registro cria presunção relativa de verdade
(juris tantum). É retificável e modificável, uma vez que o Oficial de Registro é o receptor
da declaração de terceiros, que examina segundo critérios predominantemente formais. Só
o próprio registro tem autenticidade.

c) Segurança: como libertação do risco, é, em parte, atingida pelos registros públicos.


Aperfeiçoando-se seus sistemas de controle e sendo obrigatórias as remissões recíprocas,
tendem a constituir malha firme e completa de informações.

d) Eficácia: é a aptidão para produzir efeitos jurídicos, calcada na segurança dos assentos,
na autenticidade dos negócios e declarações para ele transpostos.

5. Efeitos

a) Constitutivos: sem o registro o direito não nasce (ex.: emancipação e aquisição de


propriedade imóvel por ato inter vivos);

b) Comprobatórios: o registro prova e existência e a veracidade do ato ao qual se reporta


(ex.: assento de óbito de pessoa presumidamente morta)
c) Publicitários: o ato registrado, com raras exceções, é acessível ao conhecimento de
todos, interessados e não interessados (ex.: interdição e declaração de ausência)

6. Espécies

a) Registro civil das pessoas naturais (art. 1o, §1o, I, da LRP)

O indivíduo nele encontra meios de provar o seu estado, sua situação jurídica. O registro
civil fixa de modo inapagável os fatos relevantes da vida humana, cuja conservação em
assentos públicos interessa ao Estado, ao indivíduo e a todos os terceiros. Seu interesse
reside na importância mesma de tais fatos e, outrossim, na sua repercussão na existência do
cidadão: ele é maior ou menor, capaz ou incapaz, interdito, emancipado, solteiro ou casado,
filho, pai etc.

Em Salvador, o registro civil das pessoas naturais é feito nos cartórios extrajudiciais
denominados “Cartórios de Registro de Pessoas Naturais” (denomina-se cartórios judiciais
os existentes nas “varas”, onde se pode protocalizar petições, fazer carga de processos etc).

De forma geral, quanto maior e mais populosa a comarca, faz-se necessária a existência de
mais cartórios extrajudiciais. Em Salvador, são 21 somente para o registro de pessoas
naturais, um para cada subdistrito. (Subdistrito de Mares, Nazaré, do Paço (Centro),
Paripe, Penha, Brotas, Conceição da Praia, Ilha de Maré, Madre de Deus, Itapuã,
Periperi, Pilar (Comércio), Pirajá, Plataforma, Santana, Santo Antônio, São Cristóvão,
São Pedro, Sé, Valéria e Vitória).

b) Registro civil das pessoas jurídicas (art. 1o, §1o, II, da LRP)

Começa a existência da pessoa jurídica de direito privado com a inscrição de seu contrato,
ato constitutivo, estatuto ou compromisso, no registro regulado pela LRP. Sendo necessária
a aprovação ou autorização da autoridade governamental, estas precederão qualquer
registro, a cuja margem serão averbadas as alterações pelas quais passe a pessoa jurídica.

A existência de um registro especial para pessoas jurídicas é conveniente, para melhor


distingui-las das comerciais. Ajusta-se ao sistema legal brasileiro, que tem resistido à
unificação dos códigos civil e comercial (com o Novo Código houve apenas a unificação
das obrigações). A condição de comerciante e a comercialidade da atuação de uma empresa
são automaticamente configuradas com seu registro nas Juntas Comerciais, que registram e
cadastram empresas mercantis e matriculam agentes auxiliares do comércio. Não é
conveniente abrir ensejo a confusão entre funções mercantis e não mercantis, pela
unificação dos registros. A distinção ficou bem caracterizada pela edição das Leis 8.934/94
e 8.935/94.

O registro civil das pessoas jurídicas é feito nos cartórios extrajudiciais denominados
“Cartórios de Registro de Títulos e Documentos e de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas”. Em Salvador, 2 são os cartórios para o registro civil de pessoas jurídicas: o
cartório do 1o Ofício e o do 2o Ofício, estabelecidos, respectivamente, no Jardim Baiano e
no Comércio.
c) Registro de títulos e documentos (art. 1o, §1o, III, da LRP)

Atribuição residual (atenção para os itens “4, 5, 6 e 7”, a seguir)

Cabem aos Cartórios de Registro de Títulos e Documentos e de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas:

1 – inscrição dos contratos, atos constitutivos, do estatuto ou do compromisso das


sociedades, associações civis e fundações (registro civil das pessoas jurídicas);

2 – matrícula de jornais e demais publicações periódicas, oficinas impressoras de qualquer


natureza, empresas de radiodifusão que mantenham serviços de notícias, reportagens,
comentários e entrevistas e empresas que tenham por objeto o agenciamento de notícias;

3 – transcrição de instrumentos particulares, para prova de obrigações, do penhor, da


caução, da parceria rural, do mandado judicial de reforma do contrato de arrendamento;

4 – registro obrigatório, para produção de efeitos em relação a terceiros de contratos de


locação de prédios e serviços; documentos decorrentes de depósitos e cauções; cartas de
fiança; contratos sobre bens móveis de compra e venda em prestações, com ou sem reserva
de domínio; contratos de alienação fiduciária; documento de procedência estrangeira;
documentos de qualquer forma relacionados com contratos, quitações e recibos de compra
e venda de automóveis , bem como o penhor desses; atos administrativos em cumprimento
de decisões judiciais para entrega de bens e mercadorias procedentes do exterior;
instrumento de cessão de direitos de crédito, sub-rogação e dação em pagamento;

5 – conservação de quaisquer documentos, mediante registro facultativo, de inteiro teor,


mesmo quando escritos em língua estrangeira, uma vez adotados os caracteres comuns;

6 – supletivamente, a realização de qualquer registro não atribuído expressamente a outro


ofício;

7 – arquivamento de documento original ou em fotocópia autenticada pelo Oficial;

8 – notificação do registro ou de averbação a interessados e a quaisquer terceiros, a


requerimento da parte, quando para tais atos não for exigida intervenção judicial;

O registro de títulos e documentos é feito nos cartórios extrajudiciais denominados


“Cartórios de Registro de Títulos e Documentos e de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas”. Em Salvador, 2 são os cartórios para o registro de títulos e documentos: o
Cartório do 1o Ofício e o do 2o Ofício, estabelecidos, respectivamente, no Jardim Baiano e
no Comércio.

d) Registro de Imóveis (art. 1o, §1o, IV, da LRP) – será objeto de estudo da 2a aula
7. Registros não expressamente previstos na Lei 6.015/73 (Art. 1o, §2o, da LRP)

a) Serviços de Protesto de Títulos (Lei 9.492/97) - será objeto de estudo da 2a aula

b) Registro de Empresas Mercantis (Lei 8.934/94) – matéria de Direito Comercial –


atribuição do Departameno Nacional de Registro de Comércio – DNRC, autarquia
federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e das juntas
comerciais dos estados, autarquias estaduais vinculadas às secretarias de indústria e
comércio.

c) Registro de Contrato Marítimo (previsto na Lei 8.935/94) – matéria de Direito


Marítimo – não será objeto de estudo.

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