Você está na página 1de 203

Introdução

Desnecessário é, dizer que a humanidade - ainda distante do advento da ciência


moderna - necessitava entender e explicar os fenômenos mais óbvios de sua
existência. A pergunta de onde vimos e para onde vamos, por certo não é nova e
remonta aos primórdios das civilizações - antecedendo em muito a agricultura e a
escrita – fazendo-nos relançar os olhos para os mundos históricos e
geograficamente equidistante. Os achados em cavernas revelam traços da ligação
humana com deuses e rituais religiosos próximos a 35 mil anos AC 1, reiterando
que o homem busca além das nuvens, a resposta às suas questões existenciais e
emocionais.

É natural ao homem a procura do entender-se. Tanto em sua expressividade


instintiva, quanto no corpo emocional - detentor dos sentimentos que lhe fazem
humano – o homem busca o autoconhecimento. De igual forma, sua mente superior
exige-lhe uma explicação; um sentido de origem e destino, inerente à própria
consciência de finitude. Não é compreensível uma existência fruto de mero acaso –
pensa a humanidade. Algo além deve existir no seio que bate. Além do fôlego.
Além da animalidade.

Tal sentimento transcende a própria materialidade humana, sugerindo-lhe que


aquém do corpo material, algo superior - de fato transcendente - o habita. Algo que
sobrevive após a morte. O homem não crê que a morte seja o fim. A natureza assim
o revela. Os astros, em sua dança incessante pelo céu, faz crer que os ciclos
terminam para recomeçar. As estações do ano, com uma linearidade similar ao
nascimento, juventude, maturidade e velhice, sugerem que todo fim tem recomeço.
A lua copia as estações. O sol vem e se vai também em quatro ciclos. Por mais
descrente que seja a respeito da vida posterior à vida, o homem crê na vida ao
voltar os olhos para o mundo. Ainda que nada sobreviva à morte, seus compostos
químicos servirão de vida para outra vida, recompondo tal ciclo sagrado.

Talvez não só os compostos químicos. Talvez sim esse algo maior, superior - é
claro – aquilo que lhe faz viver, pensar, agir, e principalmente, sentir. Os
sentimentos diferenciam o homem dos demais animais. Transcende o instinto. O
torna divino. Isso talvez sobreviva.

1
http://www.cliografia.com/2012/12/21/a-religiao-na-pre-historia/
Nos primórdios do desenvolvimento evolutivo, talvez não se entendesse tais
questões. Porém a civilização ganhou corpo. Saímos da caverna. Vimos a luz. A
escrita permitiu às histórias verbais - antes passadas de uma geração à outra em
forma de mitos e lendas - gravassem-se agora em pergaminhos, pedras, cavernas,
peles de animais... As histórias da origem, transformação e compreensão do ser,
não mais esvoaçava-se nas palavras dos segredadores patriarcais. A escrita levou
ao homem a possibilidade de eternidade das suas histórias. O homem registrou nas
pedras, nas peles e no barro, sua ligação e provável origem divina.

Antes de entender seu destino, o homem necessitou compreender melhor sua


origem. A busca não cessou. O homem revirou pedras, construiu instrumentos,
erigiu monumentos incompreensíveis em sua arquitetura, jogou-se ao mar em
desafio ao grande deus das águas. Não mais contentava-se com a pequenez de sua
vila. Desejou o mundo. Conquistou-o, desbravou-o, subjugou-o. Conhecendo o
mundo, conheceria a si mesmo.

Descobertas arqueológicas, evidências científicas, estudos sobressaltados de Freud


a Darwin, perpassando mentes formidáveis como Einstein e Newton, vislumbraram
faíscas de nossa origem e destino. Crescemos. Compreendemo-nos um pouco mais.
Porém a compreensão do mundo confundiu a humanidade. A ciência negava a
religião. Como conciliá-las, de uma anulava a outra; como poderíamos crer em
ambas? Devíamos combater. Fogueira, execração pública, demonização... A
literalidade da mitologia registrada em pedras, peles, papiros e barro, esmagou o
desenvolvimento humano durante mil anos. Antes e depois da imposição pelo
argumento dos homens geniais da história científica, a fogueira seguiu queimando-
os nos altares, nos púlpitos e nas arenas religiosas.

Entretanto, a humanidade atual, ainda que envolta numa névoa de desenvolvimento


tecnológico - quase incompreensível por nós mesmos - é a mesma de sempre. Seus
medos, desejos, aspirações, frustrações, decepções e senso de finitude, não
mudaram. Talvez pioraram. Criamos drogas – lícitas e ilícitas – em fuga da
realidade que nos açoita. Os problemas continuam. Criamos drogas para ajudar a
encarar a fumaça da depressão, da ansiedade, do pânico, da doença que engolfou a
sociedade esquizofrênica do momento. Mas a humanidade é a mesma.
Continuamos em luta. Queremos saber quem somos. E quanto mais procuramos,
menos parecemos descobrir.

Não seria possível, assim, conciliar a ciência coma religião, harmonizando os


poderes?
Será que a ciência não explica a religião e vice versa?

Os gregos antigos diriam que sim, mas nós insistimos que não. Corremos o risco de
novamente nos perder ou fazer a fogueira queimar outra vez. Já fazemos.

As aspirações de nobreza e bondade seguem afirmando ao homem sua diferença


para com aos animais. Somos diferentes. Superiores. Não necessitamos nos
debater. Talvez apenas compreender. Manter a busca do entendimento em si
mesmo. Não mais em guerra filosófica, religiosa. Temos que empreender uma
busca harmoniosa consigo e o mundo natural.

No passado, olhamos para o céu. Vimos a luz. Vimos o Sol. A Lua, as estrelas. Um
infinito belo e cálido que nos envolveu.

Criamos a religião lá atrás, com a finalidade de assemelharmo-nos aos seres que


habitavam o véu brilhante sobre o manto escuro da Terra. Tornarmo-nos como tais.
Criamos rituais, cerimônias, ofertas a deuses, anjos e seres invisíveis de toda
espécie.

Porém, calca ao homem a força cármica da pouca mudança. Somos sempre iguais.

As línguas diferentes expressam um mesmo sentimento. O desenvolvimento


assemelha-se sempre, retumbando ao redor do Globo em repiques menos ou mais
graduados de conhecimento, porém advindos aparentemente de uma única fonte.
Adorando um ou mais deuses, o homem possui em comum, o fascínio pelos astros,
a compreensão de sua influência sobre a agricultura, a vida, oscilando em
benevolência e crueldade. O homem continua necessitando compreender o que ou
quem lá de cima comanda tais eventos.

O que mudou da pré-história para os dias atuais?

Lá nos primórdios da civilização, quando homem estudou os astros, percebeu que


tais fulgurantes corpos celestes, não só influenciavam nos eventos terrestres, como
também em suas próprias vidas, definindo comportamentos; delineando tomadas
de decisões; controlando o mundo de forma independente do nosso querer.

O homem pareceu entender sua origem. E nada diferencia-se no agora.

É nos astros – ou no céu - que parecem existir as respostas sobre nossa origem.
Olhamos para lá, de onde nos vem o socorro. O refrescar da alma; a razão de
permanecermos vivos, diante da impiedade e falta de sentido da vida. Estejam lá
em cima um Deus misericordioso, anjos, arcanjos, elohins, querubins ou até
mesmo, seres mais evoluídos em mundos habitados. É para cima que olhamos.

Porém, tais luminares, visíveis ou invisíveis a nossos limitados olhos, não podem
resumir-se tão somente a bolas de gases incandescentes. Para os homens antigos,
tais luzes seriam deuses. Sim. Cada uma das estrelas fixas, as errantes, a maternal
lua, e o sol comandante da vida, todos seriam deuses. Não poderia ser diferente.

Criamos templos, locais de adoração, altares. Entendemos as influências desses


deuses sobre as oscilações de humor da Terra, bem como quanto a nós mesmos.
Afinal, ditavam o ritmo da vida.

Talvez, muito além de tais distinções e facultação dos processos, tais corpos
projetores de energia vital aos seres, mostrar-se-iam tão somente em seu estado de
luz. Talvez a chama visível não passasse do centro; um coração batendo em
resfolegar ligeiro de um ser corpóreo, invisível aos olhos da perdida humanidade.
Seriam como nós, com nosso aspecto, nosso corpo, nossa semelhança. Porém,
víamos tão somente a luz. As estrelas piscavam. Era o coração dos deuses. E eles o
eram à nossa imagem e semelhança.

Ainda que poderosos entretanto, distavam do aconchego humano. Fragmentamos-


os então. Dividimos as tarefas dos deuses. Ficariam mais perto de nós. Então,
enquanto um maior regia o mundo lá de cima, um menor na hierarquia, regeria a
agricultura. Outros menores surgiriam, responsabilizando-se por cada cereal, cada
fruto, cada semente. Nomeamos deuses para tudo. Para cada gosto, tipo, tamanho,
circunstância, sentimento, palavras. Escrevemos os deuses à nossa imagem e
semelhança outra vez.

E claro, tais deuses evoluíram no ritmo da nossa mente. Entendemos que, se somos
como eles - sobrevivendo à morte física - poderíamos - ao nos desprender da
matéria - unirmo-nos a estes num só corpo divino. Então de lá, os seres que se
desprendiam do corpo físico bem poderiam ajudar a vida na Terra. Cultuamos
assim os ancestrais, os pais, avós, pessoas de vida irrepreensível e piedosa.
Criamos mais deuses.

A premissa é igual em todos os cantos do Globo, independente da religião e


cultura.

Nossa mente prosseguiu na evolução. Entendemos uma parte do caminho. Porém,


como o visível veio à existência? Entendemos que os deuses astrais são divinos,
poderosos. Porém, quem os colocou lá em cima? Quem os fez em luz radiante,
bela, poderosa como o são? Por certo alguém maior, mais poderoso, mais forte. Se
temos origem, tais deuses também o tem. Alguém os criou. E esse alguém - o mais
poderoso dos deuses – existiria como tais existem. Onde estava? Não sabemos.
Invisível, num mundo à parte. No céu, além das estrelas.

A história desse Deus se repetiu em todas as culturas mundo afora. As semelhanças


nas histórias da criação entremearam todos os povos. O aspecto de uma divindade
primordial é perceptível em cada cultura.

Analisando as histórias culturais, percebemos fortemente esse Deus. Nossa fonte


primordial de existência. Mais poderoso que todos os outros do nosso panteão. A
energia central.

Aprofundando, percebemos que uma única história a respeito desse Deus, pode ter
dado fôlego a todas as outras, alastrando-se como fogo em campo sequioso. O
homem é o mesmo em sua origem, portanto o teor principal não mudará. As
histórias se adequam a cada cultura, lugar, circunstância, crença fundamentada. O
Deus primordial se fragmentou em culturas, concebendo-se conforme a vontade do
homem; porém mantendo sua essência infinitamente superior. Permaneceu como
Deus dos deuses. Louvamos a ele, como o salmista disse: “Louvai ao Deus dos
deuses!” Salmos 136:2

Esse Ser primordial – Criador auto criado e supostamente sem princípio e nem fim,
como o próprio tempo - não é privilégio da cultura judaica. Não, nem de longe.
Bem antes do judaísmo já se cria nesse ser primordial. E é pitoresco analisar a
crença de cada nicho cultural em derredor do Globo traçando vertentes
comparativas a respeito.

Olhemos antes para o Oriente.

Para o Budismo e o Hinduísmo, a criação se deu através da respiração do deus


supremo Bhraman. Sua expiração criava e a inspiração destruía. Semelhança
insofismável com as descobertas científicas atuais: Teoria da inflação, buracos
negros... Os orientais sabiam algo a mais do que nós. Conhecimento supra humano
para a época. Fantástico.

Do outro lado do oceano, separados por um mar infinito, um oceano Pacífico de


grandeza, encontramos os povos pré-colombianos com crenças semelhantes. Os
Astecas não aprofundaram nos confins do tempo e do universo. Porém, não se
deram por menos científicos. Acreditavam em outros sóis, onde deuses reuniam-se
para tomada de decisões. Criaram o mundo por indução deste Conselho. Mera
semelhança com o registro da Bíblia? “Façamos o homem à nossa imagem e
semelhança?”

E que interessante tal cultura. Cientistas anteriores a Galileu e Giordano Bruno


acreditavam numa abóbada celeste fixa, cujas luzes inertes nada passavam de
pontuadores do tempo. Mas para os astecas tais pontos seriam os mundos dos
deuses. Seriam habitados. Não só pontos de luz delimitadores de tempo.
Abrigavam deuses, seres elevados. Mundos habitados.

Na mitologia Maia, florescente ali próxima à dos Astecas, assustamo-nos outra


vez. Suas histórias contam de, não um, mas dois deuses criando uma descendência
para preservar sua herança. De novo ecoa o “Façamos.” A Terra maia é criada.
Nela os animais avolumam os prados e florestas. E no fim, aparece o homem. E tal
homem é construído a partir da lama. Incrível, não? A partir daí, claro, o texto
prossegue com a versão individual daquele povo. Não tornando-se perfeito, o
homem de lama é descontruído para o criarem a partir do milho, a base alimentar
de sua estrutura social. O homem maia criou-se pelo milho. O “erro” divino dos
maias retorna à mesma narrativa bíblica de Noé e sua família. O recomeço.

Retornando ao meio da Terra, ao mundo conhecido, o berço de todo conhecimento


e suposta civilização, encontramos os egípcios. Estes, claro, preferiram
complexidade maior em sua gama mitológica. Desde muito que a cultura egípcia é
assombrosa e intrigante. Pouco se entende de sua fabulosa engenharia, de seus
números matemáticos e astronômicos nas imponentes estruturas imortais,
impossíveis a sociedades primitivas. Impossível de fato à compreensão
contemporânea. Tal povo demonstrava deter maior conhecimento tecnológico que
o nosso.

E sua história da criação é portanto e conseguinte, muito mais complexa que as


demais. Estudando-a com profundidade perceberemos o Big Bang; compreensão
da multiplicidade de galáxias; intimidade com o céu. Para outros povos talvez
incompreensível. Para os egípcios não.

O deus auto criado Atum, constitui uma massa única universal, provocando-lhe
uma explosão. Todos os corpos se espalharem, o tempo se contorce no infinito, até
permitir o surgimento da Terra. E a construção do planeta fica por conta de Rá, seu
criador, mantenedor e controlador.
Formidáveis os egípcios sempre. A ciência não os pode desmentir. Como poderiam
aproximar-se tanto do conhecimento moderno?

Não distante da teoria do Big Bang - os Gregos - dos quais herdamos quase todos
os costumes – acreditavam também em um deus primordial. Caos. Este concebeu
por conta própria cinco filhos. Por sua vez estes, na interação entre si, formaram os
demais elementos substanciais do universo. Os gregos possuíam o maior
detalhamento relacionado ao surgimento de todas as coisa. E para a fácil
compreensão, tudo também ganhava o aspecto divino. E, lá no fundo, não é mesmo
assim?

Em conclusão, podemos perceber que em épocas diferentes; em continentes


instransponíveis; com isolamentos geográficos igualmente impossíveis ao homem;
escreveram-se histórias semelhantes, incluindo-se conhecimentos astronômicos
não catalogados como acessíveis à época. Acreditar que tais povos - por sua
suposta ausência tecnológica - engendravam-se em costumes atrasados, é uma
crença repudiavelmente estúpida.

Embora a tecnologia conhecida nos dois últimos séculos de alguma forma não lhes
fossem acessíveis (talvez), a genialidade desse povos mostrava-se graciosa, e os
gérmens do conhecimento moderno há muito lhes habitavam a mente. E, muito
além das particularidades das concepções a respeito da origem do mundo, sua ideia
central sobre o assunto exalava uma lógica peculiar, não podendo nós considerá-la
mera fantasia proveniente do desejo de explicação de suas origens.

O homem antigo conhecia sim suas origens. Já há muito compreendera o próprio


ser. Nós que desviamo-nos da verdadeira essência, envolto num mundo
enlouquecido pelo trabalho, imbuído por distrações efêmeras.

E embora as histórias de criação tenham se tornado objeto de escárnio no meio


científico - devido à imposição cristã da mitologia bíblica como literal - existia em
todos os povos - cada qual à sua maneira - histórias semelhantes, ligando-se em
algum ponto. Registraram-se num passado quando de fato o homem portava um
conhecimento particular que aparentemente não lhe fora revelado em virtude da
ausência dos instrumentos facilitadores à observação. Tais evidências parecem
sugerir a existência de uma história primordial antes de uma diáspora, modificada
conforme as raízes culturais.
Sabemos que uma diáspora humana se deu há 75 mil anos, quando da quase
aniquilação da espécie pela erupção do vulcão Toba na ilha de Sumatra, 2 restaram
poucos seres de nossa espécie sobre o Globo. Segundo evidências, esses poucos
sobreviventes fugiram para um só lugar seguro, enquanto os demais sucumbiam ao
inverno vulcânico. E pode ser que desta aglomeração final, espalharam-se as
histórias conhecidas de hoje. Assim, temos certeza arqueológica científica que a
primordial da história da criação não veio do livro dos judeus. Seus primmeiros
escritos - ao contrário do que alguns acreditam - redigiram-se há apenas 2500 anos.
A probabilidade de que a história bíblica tenha bebido de diversas fontes é óbvia, e
é isso que vamos mostrar neste rápido estudo.

O livro do Gênesis bíblico pode ser a chave do conhecimento sobre nosso destino.
Tentaremos, de forma calma, paciente e detalhada, desvendar cada mistério desse
livro intrigante, complexo, porém absolutamente revelador sobre nossas raízes. E
entendendo nosso início, poderemos compreender nosso destino. Talvez
encontraremos nele a resposta primordial a respeito da primeira questão da vida:
“Quem somos?”

Porém, é necessário compreender que a Bíblia em si, pode não ser literal. Seus
significados ocultos podem nos revelar detalhes mais profundos, mais reveladores.
Mais intrigantes, e de igual forma revelar o que a poeira dos séculos sobrepôs à
luz.

A Cabala judaica afirma que a Bíblia não é necessariamente literal:

"Segundo os cabalistas, as escrituras sagradas possuem quatro significados ou


interpretações diferentes, usualmente identificados pelo acrônimo “pardes”
(qcxt), formado pelas quatro letras iniciais de pashut, remez, derush e sod, e
significando “pomar”. Esses quatro significados são comparados com as três
cascas da noz e seu cerne, sendo o significado sod o mais profundo e místico,
associado ao cerne da noz e identificado com a cabala." Shefer Yestira P.35

Aliás, muitos estudiosos da Bíblia também já conseguiram perceber que esta não
diz tão somente o que parece dizer. Há a percepção da existência de outra camada
sob as histórias.

Seria a Bíblia um grande código a ser decifrado?

2
https://netnature.wordpress.com/2017/07/28/teria-a-catastrofe-de-toba-super-erupcao-vulcanica-
provocado-um-gargalo-genetico-sobre-o-homo-sapiens/
Se sim, quais justificativas encontraríamos para crer que o sentido real do texto
bíblico não seja literal?

Ao longo das leituras da Bíblia, percebemos um Deus cruel e tirano que jamais
combinaria com o amor e a paz, pregado posteriormente pelo cristianismo. Deus, o
criador amoroso e bondoso, não poderia mostrar tal bipolaridade ao tratar a maioria
das falhas humanas a ferro e fogo. Também não faria sentido Jesus, seu filho e
herdeiro da mesma natureza divinal - ao contrário do pai - mostrar-se manso e
humilde. Seria ele a face bondosa de um criador mau? Que sentido isso pode
possuir?

A verdade pungente nos leva a crer que de fato a Bíblia seja um código.

Buscaremos penetrar nas camadas mais profundas do Livro. Talvez chegaremos à


terceira, sobreposta à literalidade e o significado do mito. A quarta camada
pertence somente aos judeus. Estes detém os códigos numéricos correspondentes à
letras do complexo alfabeto hebraico. E sob tais letras, revelam-se palavras. A cada
50 letras, uma se destaca, formando palavras reveladoras. Os rabinos assim o
sabem. Porém a nós, cabe o entendimento do mito, da segunda camada sob a
literalidade, sob o aspecto mais profundo da narrativa da história.

A Bíblia vem tratar da principal questão do ser humano. De onde vimos, o que
somos, e para onde vamos. O livro do Gênesis talvez contenha a resposta para
essas perguntas. Entendendo nossa origem, ficaremos mais próximos do nosso
destino.

A Criação

"No princípio criou Deus o céu e a terra." Gênesis 1:1

Conforme narramos na parte introdutiva, o relato de uma criação e de um Deus


primordial, está presente em todas as culturas do Globo.

A questão do princípio entretanto, é furtiva. O cerne da Bíblia não é uma divagação


filosófica a respeito de questões encerradas por ela. As interpretações a respeito
desse primórdio se resvalam no tempo. Qualquer período pode ser um princípio.
Assim, temos que uma origem é fundamento para a explicação do mundo, não
detendo-se em minúcias desnecessárias. Como foi essa origem, a Bíblia não entra
na questão. Entretanto, fala de um Deus antecedente a essa criação.
Sobre esse Deus e sua forma de manifestação em cada período do tempo,
esmiuçaremos adiante, conforme aprofundarmos no texto.

"A Terra era sem forma e vazia e havia trevas sobre a face do abismo e o espírito
de Deus pairava por sobre a face das águas." Gênesis 1:2

Desde muito, acreditava-se em um abismo além mar. O oceano, em sua plenitude,


desaparecia no horizonte, demonstrando existir um limite a esse plano. Portanto, o
que existia além desse ponto, persistia como um mistério, até de fato iniciarem-se
as grandes navegações, que culminarem irremediavelmente, no “descobrimento”
das américas.

Dentro de tal concepção, percebemos com clareza, que a narrativa bíblica se posta
a uma Terra obviamente plana. O relato é visível. Inclusive tal questão - por
motivos de interpretação literal - reavivou os defensores da ilusória Terra plana, o
quais, por óbvio, não buscam evidências científicas para a questão, mas respaldo
bíblico nas suas crenças.

Devemos, neste caso, entender a narrativa do ponto de vista do autor. Assim, o


mundo é uma grande planície, embora contenha seus particulares relevos. Não
existe na Bíblia uma preocupação científica; algo aprofundado a respeito de
números ou dados de fato compatíveis com a ciência moderna; o que há é uma
narrativa maior, mais filosófica e introspectiva do que racionalizada nos campos da
física, química e geologia. Algo com sentido mais humanizado do que
astronômico.

Assim no texto, o abismo seria para onde escoariam as águas dessa Terra plana.

Uma vez que a crença a respeito de um mundo discoide permaneceu a até poucos
séculos, a Bíblia não peca quanto a essa afirmação.

Portanto, prossigamos neste entendimento.

No texto percebemos a pré-existência de elementos propiciadores da vida.

A água permeia a planície terrena antes da criação. Este elemento na Bíblia possui
diversos significados particulares, perpassando pela purificação, transformação e
renascimento. Desnecessário mencionar as passagens dos grandes patriarcas pelas
águas, bem como o próprio Cristo. A água é vida. É a geradora de todos os
organismos. É a fonte eterna. Portanto, se a água é o elemento primordial da
criação, a vida já possui completo substrato para a existência.

O segundo elemento pré-existente é a terra.

Entendemos claramente que Deus, o pai, se insere nestes dois elementos femininos,
propiciadores da vida a fim de, posteriormente, preenche-los com sua palavra
criadora.

O terceiro elemento perceptível no texto é o ar. O Espírito de Deus pairava sobre as


águas. Assim, movia-se pelo ar.

Entendemos de forma suscinta, que os quatro elementos são o fundamento da vida.

Antes da criação existem assim, os princípios básicos. O fogo neste momento


aguarda a ação no seio de Deus. Ele que impulsionará todo o movimento
responsável pela existência. As trevas habitam o ambiente. Portanto, é esse Espírito
que acenderá a de vida. O fogo completará o princípio.

A narrativa antecedente da criação, encaixa-se parcialmente ao princípio Grego.


Caos, o deus primordial auto criado, concebe de i, cinco filhos: Gaia, a Terra; Nix,
a noite; Érebo, as trevas; Tártaro, o abismo; e Urano, a luz celestial.

A influencia grega na escrita hebraica é, de certo modo, tangível. Estima-se que o


Antigo Testamento tenha principiado sua escritura por volta do Século VII AC.
Nesse tempo, a cultura grega erigia suas bases já há quatro séculos. Destarte,
percebemos uma clara influência grega na narrativa. Entretanto, veremos mais
tarde, que os fundamentos da Bíblia veio de fato dos sumérios, assírios e
babilônicos, enquanto os gregos contribuíram nas outras construções menos
fundamentais.

Dentro da mesma inserção maternal dos elementos Água e Terra, percebemos os


mesmos princípios de forma correlacionada à concepção humana.

A Terra, em todas as culturas, é considerada a grande Mãe. E a água é o veículo de


formação da vida.

Seguindo-se por esse caminho – e é o que também faremos no paralelo da criação -


perceberemos uma mãe ausente de vida interior ainda estéril. Para a concepção, é
necessário a inserção do espírito por meio do fogo. Assim, os três elementos
anteriores, desprovidos da chama, não podem conceber a vida.
A terra está sem forma e vazia. Da mesma forma que se consideravam as mulheres
na Bíblia a quem - por infortúnio do destino - o ventre privou-lhes os filhos.

O Espírito de Deus entretanto, paira sobre as águas. Ou seja, na escala


macrocósmica, podemos perceber a lógica da vida, com o espírito aguardando o
momento de encarne e impelir a grande massa sem forma a adquirir vida.

"E disse Deus: Haja luz; e houve luz." Gênesis 1:3

“Haja luz” é o princípio de todo o movimento da criação. A luz é o fogo, o


elemento inexistente até o momento. E é por meio dele que o Espírito se insere na
massa disforme, concebendo a vida.

Este conceito é percebido no Evangelho:

“E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele
que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de
levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.” Mateus 3:11

Na visão macro simbólica na qual submetemos a compreensão, vemos preambular-


se o surgimento de uma consciência viva. Uma união dos gametas feminino (Água
e Terra), com o masculino (Ar e Fogo). Assim a criação pode prosseguir.

Por outro lado, devemos entender a partir de agora, que a semana conhecida de
hoje, nasce na Babilônia. Os sete dias, na verdade, são referências aos sete planetas
astrológicos conhecidos na época.

Para os babilônios, assírios e sumérios, tanto o sol quanto a lua também se


entendiam como planetas, de modo que ambos detinham seu lugar dentro da
semana. Essa referência ainda é utilizada na língua inglesa e espanhola, dentre
várias outras. Na astrologia moderna, o Sol e a Lua prosseguiram como planetas.

Assim, os dias da semana seguem uma sequência astrológica:

1º - Sol – Sunday – Domingo

2º - Lua – Monday - Lunes

3º - Marte – Tuesday - Martes

4º - Mercúrio – Wednesday - Miércoles


5º - Júpiter – Thursday - Jueves

6º - Vênus – Friday - Viernes

7º - Saturno – Saturday - Sabado

Esta sequência corresponde à forma vista a partir da Terra. Portanto, na percepção


geocêntrica, o tamanho de cada planeta representa sua proximidade em relação à
Terra.

Os egípcios, diferentemente, estendiam sua semana em mais três dias,


demonstrando conhecimento a respeito dos outros três planetas exteriores: Urano,
Netuno e Plutão.

Assim, o relato da criação no primeiro dia, revela que a luz doada para o princípio,
advém do Sol. O fogo completa a sequência dos quatro elementos, permitindo a
inserção do Espírito, o Éter sagrado segundo os gregos. O quinto Elemento.

"E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o
dia primeiro." Gênesis 1:4,5

Aqui percebemos a diferenciação da luz. A grande noite se esvai. O sol inicia seu
ciclo. Nisto temos o princípio que irá permear todos os rituais humanos sobre a
Terra. A luta entre a luz e as trevas, será uma eterna analogia entre o bem o mal, o
certo e o errado, o limpo e o imundo, a vida e a morte. Este ciclo representará a
condição humana sobre a Terra, o qual estará de alguma forma, pendendo sempre
para um dos lados. A Bíblia vai tratar da transcendência a questão, o equilíbrio. O
encontro com o centro de si. Ao ser divino antecedente à criação, que não se
encaixa nessa forma de contraponto.

Antes de mais nada, é importante salientar que - se levado para a forma literal –
entramos no momento mais contraditório da criação. A luz aparece antes do sol.

Alguns especuladores acreditam que esse seja o momento do Big Bang. Aí reside
outra desesperada tentativa de se agregar a mitologia bíblica à ciência moderna.
Entretanto, o verso anterior desmente tal versão, já que existe uma massa disforme
pré-existente, precursora da parte seca do planeta. Portanto, tal prerrogativa não
ganha respaldo científico, visto que pela teoria da explosão inicial, nada existiria,
senão energia condensada em escala incompreensível.
Também é importante afirmar que a narrativa bíblica é envolta em poesia, numa
técnica denominada quiasma. Ou seja, as três partes iniciais se ligam às partes
conseguintes para completude. No caso da narrativa em questão, o que se observa é
uma ligação entre o primeiro dia e o quarto, o segundo com o quinto e o terceiro
com o sexto. Assim, no primeiro dia é criada a luz e no quarto os luminares. No
segundo, as águas são separadas e no quinto, é preenchida com seres vivos. No
terceiro aparece a porção seca, e no sexto são inseridos os que ali habitarão. Assim,
é prudente compreender de antemão, que o narrador não se preocupa em contar
uma história literal, porém, estabelecer uma relação lógica entre o lugar criado e o
que o povoa.

Portanto, compreender o primeiro dia como o dia do Sol, é plenamente lógico. A


luz não se exaltaria sem ele. Também não existiria dia e noite. A lógica é
incontestável.

E, conforme já dissemos a respeito da Cabala, nas camadas do texto bíblico podem


não existir tão somente um significado mítico, como diversas outras mais
profundas. Assim, a analogia da criação da Terra com a concepção de um feto,
possui real sentido. A percepção da concepção humana dentro dos sete dias da
criação, embora não transpareça diretamente no texto, é paralela à lógica da vida
que inicia-se com o processo de preâmbulo da criação.

Assim, ainda que não pretendendo desvendar todas as camadas significativas da


narrativa bíblia, neste relato da criação em particular, pretendemos demonstrar que
o texto que narra a criação do planeta, possui em suas entrelinhas, a descrição da
concepção humana do encarne ao nascimento.

Para fundamentarmos tal interpretação, baseamo-nos na concepção aristotélica. O


que há embaixo existe em cima e tudo o que há em escala menor, possui seu
correspondente na maior. Neste sentido, podemos dizer que, desde o minúsculo
átomo – que nada mais é do que a correspondência micro dos sistemas
circunscritos a núcleos orbitais infinitamente maiores – aos maiores dos planetas e
corpos orbitais formadores do Universo, tudo se repete. O micro e o macro se
correspondem de forma harmônica, não havendo necessariamente, distinção entre
ambos.

"Ao estudar esta temática, Allers, numa abordagem mais teorizante do que
historicista, define quatro formas fundamentais do que poderia designar-se por
pensamento microcosmático: a primeira e a mais simples, quase rudimentar,
expressa a ideia de que o homem é formado pelos mesmos elementos que o
universo — terra, água, fogo, ar —; a segunda, mais complexa, delineia um
contexto dinâmico em que micro e macrocosmos se misturam sob as mesmas leis,
projetando-se, em consequência, formulações de tendência panteísta, hermética
ou astrológico-mágica, na acentuação de uma determinação cosmológia ou no
avultar de um microcosmismo antropocêntrico, tendo como fulcro a alma
universal como princípio de existência e desenvolvimento do universo e abrindo-se
correlativamente à ideia de que o homem, individual ou coletivamente, é capaz de
criar ordem. A terceira forma, com alternância possível de cada um dos termos,
estrutura-se ao nível do simbólico, e exige uma decifração/interpretação, com
incidências diversas que poderão ir do nível sacral ao científico. O microcosmo
poderá avultar, então, como termo dominante. Já não é concebido como
reproduzindo o macrocosmo, nem considerado como sujeito às mesmas leis, mas
posiciona-se como “correspondendo a”, na sua totalidade ou em algumas das
suas partes, “sendo símbolo de”. Maria Cândida Pacheco - O sentido do
Microcosmo no século XII P. 10

Seguindo-se pelo raciocínio da concepção da vida humana em analogia à da


criação do mundo, vemos que a inserção da luz - ou seja - da encarnação do
espírito no feto - da vida em si -; as trevas sobre o abismo recebem concorrência,
dividindo o espaço dantes monocrático. E de forma equilibrada, luz e trevas
disputam a vida. Momentos de luz e trevas concedem a possibilidade ao feto o
avultar-se em forma e vida. Numa visualização mental, é possível enxergar nesse
primeiro dia, uma luz iluminando as águas sobre a massa disforme de terra,
enquanto abaixo, no abismo, as trevas reinam, porém não mais absoluta. O corpo
ainda disforme, possui agora um espírito.

Retomando a discussão sobre a literalização do texto bíblico, é importante salientar


que o escritor desconhecia a existência da forma global do planeta, conforme já
afirmamos anteriormente. Afinal, o mundo não poderia iniciar em um único dia
específico, caso se respeitasse sua globalidade, pois se de um lado rompesse o dia,
no outro seria inevitavelmente noite. Assim, é impossível acreditar que na narrativa
bíblica, exista espaço para o pensamento de um mundo esférico, visto que tal ideia
fora impensada até aos aportes científicos de Galileu. É mais do que evidente que o
autor de Gênesis considerava a Terra um disco plano.

E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre
águas e águas. E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam
debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi.
E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo. Gênesis
1:6-8

Prosseguindo pelo texto nos meandros do segundo dia, as águas são separadas.

Vejamos que é importante lembrar de sua existência antes da criação. No momento


anterior à interferência divina, elas ocupam o disco terrestre por inteiro. Já no
segundo dia, tomarão dois espaços distintos, ocupando os céus e a Terra. O texto
também infere que a parte seca do planeta ainda não aparece, pois continua
envolta pelas águas.

O segundo dia é também o dia da Lua dentro do conhecimento astrológico. A lua,


sabe-se bem, define o movimento das águas em todas as partes da Terra. Lua e
águas são modelos inseparáveis. Assim, o segundo dia é essa poesia à Lua,
detentora do preâmbulo da vida.

Outra vez, na visualização do micro, podemos encontrar o feto em seu


desenvolvimento, com o espírito encarnado, porém ainda envolto nas águas
amnióticas. Entretanto, esse líquido vital irrompe também em seu interior. As
águas de fora passam a compor sua estrutura, ainda sem ossos, de forma
pastosamente líquida e delicada. Ou seja, ocupam o céu - o útero - e o corpo
suspenso em formação. Por coincidência, no segundo mês de gestação, as partes
que se desenvolvem são o sistema nervoso; os aparelhos digestivo, circulatório e
respiratório; os olhos, boca, nariz; e os braços e as pernas também começam a
aparecer. Os ossos e estruturas complexas ainda não existem. O feto porém, torna-
se um ser independente do útero. Está ligado ao seio materno como ao céu; mas se
desenvolve de forma autônoma.

"E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a
porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento
das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom." Gênesis 1:9,10

No terceiro dia as água são separadas; e por magia da palavra divina, aparece então
a porção seca.

É importante ressaltar que no contexto da escrituração dos textos canônicos,


embora se compreendesse que o mundo se resumisse à Terra, tal não seria infinita,
pois os autores mencionavam seus limites.
“O norte estende sobre o vazio; e suspende a terra sobre o nada.
Prende as águas nas suas nuvens, todavia a nuvem não se rasga debaixo delas.
Encobre a face do seu trono, e sobre ele estende a sua nuvem. Marcou um limite
sobre a superfície das águas em redor, até aos confins da luz e das trevas.”
Jó 26:7-10

Assim, percebemos que as águas possuem seu ponto de finalização e tal não é
desmentido no restante do Livro.

Já em nossa correlação com o surgimento da vida fetal - simbólica portanto - a


criação divina pousaria sobre uma forma arredondada - cuja analogia pode ser
compreendida como o ventre materno.

Tal premissa, em termos lógicos relacionados à Terra, não é contraditória. Muito


embora acreditassem que o mundo viesse suspenso no ar (que é um fato), a crença
em sua forma arredondada não foi ignorada.

Isaías cita:

"Ele é o que está assentado sobre o círculo da terra." Isaías 40:22

Ainda sobre a interpretação do desenvolvimento da vida, a porção seca vale-se


pelo entendimento das composições sólidas do feto. No terceiro mês surgem o
esqueleto, costelas e dedos. Os órgãos internos se formaram e o ser humano possui
sua estrutura interna organizada com sua camada sólida externa em proteção.

"E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera
que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim
foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a
árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que
era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro." Gênesis 1:11-13

No terceiro dia também - além de fazer aparecer a porção seca – Deus ordena o
surgimento dos vegetais, os quais buscarão do interior do mundo, o alimento para a
sobrevivência dos seres. Erva verde, ervas que dêem semente e toda a sorte de
árvore frutífera.

Por meio desses elementos no reino vegetal, a base para alimentação dos seres
terrestres estará disponível, e lhes permitirá experimentar a vida futura.
O terceiro dia astrológico pertence a Marte. Sabe-se bem que tal deus na mitologia
grega representava invariavelmente a guerra, a impulsividade, o fogo da ação e da
masculinidade. Entretanto, outra peculiaridade desse deus coincide perfeitamente
com o terceiro dia da criação. Marte é o deus da agricultura, da colheita e da
fertilidade. Temos então no terceiro dia, a perfeita infusão desse planeta
astrológico na vegetação terrestre.

Já na divina coincidência com o desenvolvimento fetal, é justamente no período do


terceiro mês que os órgãos digestivos e seus complementares estão concluídos. Ou
seja, o bebê está preparado para a alimentação. O texto abstrai-se em uma dança
perfeita, demonstrando sincronicidade poética entre o simbólico e o literal.

"E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre
o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e
anos." E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e
assim foi. E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o
dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas. E Deus os pôs na
expansão dos céus para iluminar a terra, e para governar o dia e a noite, e para
fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a
manhã, o dia quarto. Gênesis 1:14-19

Sobre esse dia, nos estenderemos um pouco mais nas explicações.

Cientificamente falando, a discrepância entre a luz do primeiro dia e a criação do


sol no quarto, é absoluta aberração. A luz criada nesse dia é incompatível com o
posterior surgimento do Sol. Por mais que os adeptos de uma crença literal do mito
esperneiem, não há o que discutir. A ciência moderna derruba os argumentos.
Afinal, além da luz, temos o problema da fotossíntese, possível somente em vrtude
do veículo solar. Com os vegetais levantados da terra no dia anterior, não existiria
modo para seu desenvolvimento, embora a diferença se de tão somente um dia.
Sem o sol, a lógica da vida se perde.

Então prosseguiremos momentaneamente, por um outro caminho mais profundo,


antes de nos atermos novamente ao texto.

O quarto dia da criação é o dia central. Existem três dias passados e três por vir. E
é tão somente neste dia central o sol é criado.

Neste dia, também vemos sua relação com o primeiro. Enquanto a luz é criada no
primeiro dia e feita a separação entre ela e as trevas, no quarto dia o objeto de sua
ação é mostrado. O Sol passa a governar o tempo de luz, enquanto a lua e as
estrelas sinalizam a noite. Notemos que nem mesmo o período de trevas está mais
envolto em escuridão. A lua e as estrelas não permitem.

Recobrando-se ao sentido da centralidade do quarto dia, entendemos facilmente


que se trata de um conceito universal. Uma massa de centro nos corpos celestes
rege de forma nuclear todos os demais num centro dependente. O mecanismo da
dinâmica universal assemelha-se sempre a um relógio, e o movimento da
engrenagem tem sempre um centro em torno dos quais circundam os demais
corpos.

A partir da visão terrestre, vemos que Lua circunda o planeta, numa dança
incessante. Nosso mundo é o centro gravitacional dela. Porém a própria Terra
circunda o Sol, acompanhando os outros oito planetas, planetóides, cometas e
materiais ejetados na criação do sistema. Assim, o Sol é o centro. E ele, por sua vez
na dança galáctica, acompanha a elipse do disco lácteo em torno do buraco negro
central. E assim, em trilhões de galáxias, a lógica parece não mudar. Para tudo
existe um centro.

Em escala micro, o princípio da composição atômica possui traços semelhantes. O


Átomo é composto por três partículas básicas, possibilitando o surgimento da
matéria tal como conhecemos. Prótons, nêutrons e elétrons. Prótons e nêutrons
encontram-se unidos ao centro do átomo. O próton com carga positiva “auxilia” o
nêutron, mantendo-o no centro. Enquanto isso, os elétrons - de carga negativa - o
circundam como em uma órbita solar. Ao encontro com outros átomos e suas
cargas negativas, a matéria tal como a conhecemos se forma.

Porém, não é nesse princípio universal que iremos necessariamente adentrar. O


objetivo é explicar a centralidade do dia quarto, entrando numa camada
possivelmente mais profunda.

Em diversas culturas, o Sol é cultuado não somente como Astro Rei, mas como
centro de todo o universo conhecido (O heliocentrismo não é coisa nova, podemos
notar). Inclusive na cultura egípcia, o intrigante Akenaton substitui o culto aos
deuses pela exclusividade ao Sol. Na astrologia suméria, babilônica e assíria, o Sol
é cultuado como o maior dos deuses. Tanto na astrologia antiga quanto na
moderna, o Sol é o regente de todas as circunstâncias terrestres, definindo
personalidades e movimentações pontuais, em sua passagem pelas doze
constelações. É como um ponteiro, indicando as horas de um ano.
Literalmente mantenedor da vida, esse astro é reverenciado há milênios e discorrer
sobre o assunto é adentrar numa vereda infindável de mitos, histórias e concepções
próprias de cada cultura.

Entretanto, o que queremos verificar neste texto, é a possibilidade de uma terceira


camada de ocultismo na narrativa, visto que - conforme se conhece dentre os
místicos - o corpo humano também é detentor de sete pontos energéticos
principais, conhecidos como chacras. Assim como na natureza, o sete parece ser o
princípio e o fim de tudo. Sete são as cores da refração da luz no que conhecemos
por Arco Íris; sete são as organizações das notas musicais para que formem uma
melodia lógica aos ouvidos humanos; sete são os agrupamentos das divisões dos
elementos na tabela periódica. Ao que se parece, tudo o que existe organizou-se em
torno do número sete, o que leva a entender a importância desse número sagrado
para a cultura judaica. À essa luz, a semana de sete dias em homenagem aos
planetas conhecidos, pode também enviesar-se pela compreensão das cores da luz e
seu fracionamento.

A luz celeste – ou de Deus como preferirmos – também se adentra em nós. Todos,


sejam ricos ou pobres, bons ou maus, recebem a luz divina. Tal luz, obedecendo a
lógica de todo o universo, se decompõe em nosso corpo, fracionando-se nos
centros energéticos, refletindo em cores.

Obedecendo as mesmas ordens da decomposição da luz no ambiente material, por


conseguinte, os centros vão do vermelho ao violeta.

Portanto, a partir desta parte, incluiremos os chacras nas concepções dos dias
criados.

O vermelho corresponde ao primeiro dia. O vermelho é o princípio da luz. A


primeira cor. Assim, o primeiro dia da criação é também o correspondente à Terra.
Este liga o ser humano à sua raiz.

O laranja é do segundo dia, quando as águas se separam entre o céu e a terra. Este
está ligado à área sexual. É nela que se impulsionam os estágios instintivos
relacionados à vida por intermédio da preservação da espécie. A sobrevivência e
auto preservação são as pulsões mais básicas do ser. O segundo dia tem como foco
a água. Ou seja, o princípio vital.

A terceira decomposição da luz é amarelo. A área referente a esse chacra é o plexo


solar e o aparelho digestivo. Está assim ligado ao instinto de auto preservação. No
terceiro dia as águas são separadas para cima e para baixo, indicando no corpo a
separação do instinto sexual do alimentar. Também no terceiro dia são criados os
vegetais, a base alimentar de todos os seres. Dessa forma, percebemos com clareza
a inferência linear entre os dias da criação com seu correspondente energético
humano.

No quarto dia, encontraremos o centro da criação, bem como o chacra central do


ser humano. Os outros três conseguintes os pontuaremos nas páginas posteriores.

Por hora, podemos afirmar que a luz desce sobre o ser humano e se decompõe
nestes sete centros energéticos, sendo os três primeiros ligados às necessidades
básicas do ser humano, enquanto os três superiores ligam-se às suas condições
mais elevadas.

Estando no centro e localizando-se no coração, o chacra cardíaco parece envolver-


se em mistérios, tanto quanto o Sol.

Este centro energético é o equilíbrio dos demais. Quando não cultivado, os desejos
animais, relacionados aos três chacras inferiores, desencadeiam um escravismo às
paixões inferiores. De igual forma, os pontos superiores entram em colapso e
passam a viver em função dos inferiores. Temos então a ascendência do Ego que,
veremos mais tarde, é a serpente satânica.

Por outro lado, quando os desejos do coração entram em equilíbrio, os centros


energéticos superiores controlam os desejos inferiores, tornando-os saudáveis.
Num sentido geral, um coração desequilibrado desvirtua todo o corpo.

A menção do coração na Bíblia é absolutamente farta. Os versos em sua


abundância, demonstram que os sentimentos humanos residem no coração.

Até bem pouco acreditava-se que nossos sentimentos residiam nesse órgão e não
no cérebro, visto que para todas as sensações, a reação advenha da região cardíaca.

Não há inverdades nesta afirmação, embora o cérebro comande as funções


químicas do corpo. Existe de fato próximo do coração, uma glândula responsável
por essas sensações, a Timo.

Essa glândula é a responsável pelo “sentir” do coração. Os antigos já a conheciam


como o centro do ser, responsável pela sensação de bem estar. Temos então no
coração, a residência de todos os sentimentos. Tal fato é que nos faz humanos. Os
sentimentos nos diferencia. O controle dos instintos inferiores se dá por meio desse
mecanismo, bem como a condução dos das fontes energéticas superiores.

Portanto, é crença milenar e fundamental para qualquer estudo de profundidade


espiritual, que no coração se situe, além de um centro energético distributivo para o
corpo, habite algo maior, o núcleo do ser. Esse núcleo seria o Espírito imortal, o
Cristo interior, que estando no interior humano, é o filho do homem. Em outras
religiões se denominará como gnosis ou Buda. O centro fundamental da existência.
O Sol interior, pois tal como os planetas e corpos orbitais possuem seu núcleo, no
ser humano não é diferente.

Neste momento, entretanto, não é objetivo nosso adentrar no sentido profundo


desta concepção, pois permearia assuntos ainda não maturados para a compreensão
da narrativa bíblica. Plantamos agora a semente do entendimento para que a ela
retornemos quando o texto assim o permitir.

Por hora, entreter-nos-emos na camada mais superficial do texto, voltando-se para


a analogia ao quarto mês da gestação humana.

Neste momento, o ser em formação, possui percepção da luz e desenvolve


orientação espacial. Sendo assim, o sol, a lua e as estrelas são criados. Na visão
fetal, o sol passa a existir. Também, segundo o texto, os luminares servirão para
contagem do tempo e orientação no espaço. Nada mais perfeito e calçável como
luva, diante do contexto estrutural que passamos a decodificar.

Retornando para a literalização do texto é importante ressaltar que o sol possui


bilhões de anos a mais que a Terra. Não existe também, a mínima possibilidade do
astro mor surgir ao quarto dia da criação, por lógica orbital. Afinal, o planeta seria
órfão de sua estrela por três dias. Assim, uma vez que os dias são contados pelo
movimento de rotação da Terra em torno do gigante estelar, até ao quarto dia não
haveria dia. A ideia é recai no absurdo. De igual forma é impossível crer que as
estrelas tenham surgido no quarto dia. Portanto, é impossível argumentar diante de
tais afirmações. Subordinar o surgimento de toda a vastidão de mundos a um mero
dia terrestre, é liquidificar a massa encefálica.

Toda essa balbúrdia nos serve tão somente para colaborar com a ideia do campo
simbólico e codificado que o texto bíblico permeia. Obviamente, antes de tudo, é
mister entender que o livro bíblico apresenta sua própria explicação para o
surgimento do universo visível àqueles que não possuíam conhecimento. Assim -
muito embora as explicações quando encaradas dentro do campo simbólico - na
maioria das vezes esbarrem em até uma certa lógica aqui e acolá, alicerçar todo o
conhecimento atual num primitivismo destinado a contar a história do mundo a um
grupo de leigos analfabetos há mais de dois mil anos, não é razoável para os dias
atuais.

Entretanto, quando compreendido à luz de uma proposital simbologia, pinçada em


diversas culturas religiosas ao redor, a narrativa ganha forma e sentido, tornando-se
útil para nossos dias em função da grandeza espiritual que visivelmente envolve o
texto.

Voltando-se para o simbolismo da criação do quarto dia, encontramos todos os


luminares criados neste mesmo dia, em um outro texto bíblico, dentro de um
contexto que corrobora com a explicação concedida parágrafos acima:

"E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo
dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça." Apocalipse 12:1

A mulher - é uníssono entre teólogos - é considerada a Igreja de Cristo, muito


embora o catolicismo prefira interpretar como Maria. Como a Igreja, em outros
textos no mesmo livro de Apocalipse é considerada noiva de Cristo, de fato esta
não poderia dar-lhe a luz, estando o catolicismo mais próximo da lógica.

Não adentrando nestes pormenores no momento, na simbologia entendemos que a


mulher, seja ela Maria ou o grupo de cristãos como preferem os protestantes, é a
própria natureza humana. É a carne, o lado mais frágil da consciência.

Embora sejamos representados nesse contexto pela fragilidade e delicadeza da


mulher, o que nos mantém fortes é essa vestimenta de sol. Desta forma, ele é a
representação da centelha divina em nós, do Cristo o qual daremos à luz, quando
transmutados e vestidos de toda a glória que nos permite. Em completude,
estaremos com a lua sob nossos pés - que é a representação do lado negativo da
natureza humana (mitologicamente onde o dragão habita) - e com uma coroa de
doze estrelas sobre a cabeça, que representaria o domínio sobre a influência que as
doze constelações exercem sobre nós.

Mas este, claro, é tema para outro estudo, no qual não vale a pena adentrar no
momento. O objetivo de toda delonga em torno do controverso quarto dia, é que na
verdade, este se refere a algo bem mais amplo que a pendura de globos luminosos a
enfeitar o céu dos humanos.
Voltando-se à camada da qual compreendemos referir-se à formação do homem no
ventre materno, vemos no relato bíblico, que os luminares existem para sinalizar a
separação entre a luz e as trevas. A sutileza das entrelinhas mostra-nos que, com os
olhos agora formados, o humano embrionário pode então perceber a luz em
contraponto com a escuridão.

O sol também representa a luz, enquanto a lua, as trevas. A mulher em apocalipse


possui a lua sob seus pés - como já mencionado - que é o domínio e o controle dos
desejos humanos.

Por fim, o quarto dia é, na astrologia, o dia de Mercúrio, o deus mensageiro dos
céus. Na mitologia grega é Hermes.

Mercúrio é o mestre da comunicação. O responsável pela palavra dos deuses aos


homens. Assim, ele pode ir e voltar dos céus. A correspondência ao quarto dia se
revela nesse ponto, onde o exército celeste (as estrelas) se comunicam com o
homem por meio de Mercúrio.

"E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e


voem as aves sobre a face da expansão dos céus. E Deus criou as grandes baleias,
e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram
conforme as suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu
Deus que era bom. E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e
enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. E foi a tarde e a
manhã, o dia quinto." Gênesis 1:20-23

Preliminarmente, é importante salientar que a classificação bíblica dos animais não


coaduna com a concepção moderna. E o é desnecessária, uma vez que a própria
ciência atual ainda se vê em construção a esse respeito desses assuntos. A Bíblia,
como já repetido, não possui caráter científico.

Portanto, no contexto sagrado, répteis aquáticos representam os seres que se


movimentem sem o auxílio de pernas ou patas ou - no caso dos terrestres - que o
ventre esteja próximo ao solo. Portanto, existem dois tipos de répteis: Os das águas
e os da Terra. Os da terra surgirão no sexto dia.

Cientificamente falando, o quinto dia da criação possui também lógica. A vida


animal surge na água.
De igual forma, percebemos o preenchimento destas águas separadas entre o céu e
a terra do terceiro dia. E de igual forma, percebemos outra vez a menção dos
quatro elementos. Vejamos:

Na mesma narrativa, após a vida surgir na água, ela povoa os céus. Também nisso
há uma correlação científica, visto que as aves seriam - grosso modo - adaptação
dos répteis para vida aérea. Segundo o que conhecemos dentro da biologia, a
proximidade dos pássaros com os répteis primitivos é maior do que com os
mamíferos. Entretanto, não devemos basearmos nessas explicações, visto que no
relato bíblico a demanda é superficial. A Bíblia não está preocupada com lógica,
uma vez que a mensagem a transmitir é diferente dos conceitos estudados na
modernidade.

Inicialmente é perceptível que o livro tem por objetivo mostrar o surgimento de


seres que povoem três dos quatro elementos conhecidos na antiguidade: Água, Ar e
Terra. Sobre o fogo, os animais que o representam também aparecerão adiante.

Retomando de antemão à camada simbólica no que tange à analogia com a


gestação, o que temos subentendido no texto, é o surgimento de consciência da
própria existência. O ser envolto nas águas amnióticas passa à percepção da vida.
No quinto mês, o bebê movimenta-se, suga, engole e consegue distinguir gostos
amargos e doces. Neste estágio, o bebê assemelha-se a um peixe movendo-se nas
águas. Estas finalmente produzem vida, vida de verdade, com consciência de sua
existência e com movimento em interação com o mundo.

Também é necessário compreender que os animais na Bíblia possuem correlações


com a personalidade humana. Não só na Bíblia. Na língua portuguesa, por
exemplo, encurtamos o significado de tal modo, que para cada personalidade;
característica e comportamento; indicamos um animal. Portanto, no conceito
bíblico, tal analogia não é diferente. Jesus é o cordeiro (João 1:26) e seus
seguidores ovelhas (João 10:11). Por outro lado, o mesmo Jesus imputa aos
fariseus a pecha de víboras (Mat. 23:33). Em outro texto, Pedro é arrebatado a uma
visão em que um lençol desce com todo o tipo de animais imundos e uma voz
ordena-lhe matar e comer. Ao responder que jamais comera coisa comum ou
imunda, a voz replica que o apóstolo não deve considerar comum ou imundo o que
o Senhor purificou. Em seguida o texto revela que se tratava de pessoas, das quais
Deus não fazia acepção (Atos 10), porém Pedro as rejeitava em função de sua
antiga formação religiosa.
Enfim, a Bíblia é rica em comparações dessa natureza. Portanto, podemos inferir
com segurança que os animais na criação, representam a personalidade humana.

Voltando-se portanto à compreensão simbólica de que os seres aquáticos seriam as


personalidades mais infantes ou desprovidas da racionalidade. Ou seja, são vidas
de capacidade intelectual menos amadurecida, incapazes de lidar com a
complexidade da vida terrestre. Os peixe são de infinita inocência.

O período fetal de primeira consciência é equiparável à mais simples forma de


vida, tanto em sua mobilidade quanto na incapacidade de autodefesa. De igual
modo, essa consciência infante, refere-se aos imaturos espiritualmente, os quais
ainda não estão preparados para o nascimento do espírito.

Prosseguindo-se no texto, no mesmo dia da criação, as aves surgem nos céus.


Nisso temos também uma interessante analogia. As aves pairam elevadas. Seres
que, até então, não tocam o solo. Estão no espaço das águas superiores, na
expansão dos céus.

Portanto nesta primeira povoação, percebemos claramente a referência à Água,


com os peixes, e ao Ar, com as aves.

A analogia com a gestação, de igual forma, segue perfeita. Nesse período do quinto
mês, os pensamentos ou personalidades elevadas impulsionam o ser em gestação,
embora não exprimíveis. Estão próximos, por fora, porém sem lhe tocar, sem lhes
atingir, como as aves que povoam os céus sem entretanto, tocar o chão.

Nota-se também que no ato da criação, não existem animais imundos, o que virá
perceber-se em textos posteriores e mais detalhadamente no terceiro livro do
Pentateuco. Nada na criação é imundo, de modo que, tanto do ponto de vista
gestacional quanto da parte mitológica, não há contradições. O nascituro é limpo
em pensamentos e ações.

O quinto dia também é uma correlação ao chacra laríngeo, de cor azul. Esse chacra
situa-se na garganta e seu controle principal é a fala. Esse é o primeiro dos três
chacras superiores. Assim, correspondem ao altruísmo concernente à fala, ao
pensamento e ao divino.

Sendo o primeiro dos três, a correlação com o quinto dia está no sentido da
existência da vida. É a primeira vez que a voz de Deus gera vida na odisseia da
criação.
O planeta do quinto dia é Júpiter. O nome atual advém da mitologia Romana, a
qual sincretizou a grega. Portanto Júpiter é Zeus, o deus dos deuses.

Júpiter é o maior planeta do Sistema Solar e possui em sua órbita, 79 luas. Por sua
grandeza, é quase um segundo sol. A Terra é protegida por esse gigante, visto que
todos os corpos celestes em rota de colisão com a Terra são absorvidos por sua
densa atmosfera. Dentre os deuses – à exceção do Sol – ele é o maior.

Na astrologia, Júpiter é conhecido como um pai benevolente por sua grandeza. E


também por sua grandeza, sua história é vasta, e seus reinos infindáveis.

O quinto dia da criação possui referência A Júpiter em virtude da vida que surge.
Deus do raio e do trovão, é ele quem determina as chuvas. E estas por sua vez,
fazem brotar a erva verde, erva que dá semente e todo o tipo de árvore formosa à
vista. A chuva abastece os rios, lagos e oceanos, fazendo brotar a vida no reino das
águas e da terra.

"E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado, e
répteis e feras da terra conforme a sua espécie; e assim foi. E fez Deus as feras da
terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da
terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom." Gênesis 1:24,25

No sexto dia, a Terra com sua vasta cobertura vegetal recebe os moradores
vertebrados.

Nesta fase, três são as categorias: Gado, Répteis da Terra e as Feras do campo.

É importante fazer um adendo para a notória inexistência dos insetos. Chegamos


ao último dia da criação e eles não são e nem serão mencionados. Embora estes
sejam de longe a maior representatividade de espécies do planeta, o livro sagrado
não se ocupa em explicar seu surgimento. Ou os insetos fazem parte da categoria
das aves, ou eles não foram criados por Deus. Assim teorizando, seriam fruto do
pecado humano.

Voltemo-nos então ao que de fato importa.

No terceiro dia da criação, as águas são recuadas e aparece a porção seca do


planeta. No sexto a parte seca recebe vida, retumbando à dança poética da
literatura bíblica.
Gado, na biologia bíblica são todos os ovinos, equinos e animais de médio e grande
porte, tais como bois, cavalos, cabras ou ovelhas, sendo eles domésticos ou
selvagens. O Répteis, como já ditos, são os que possuem o ventre próximo ao solo.
E as feras, aqueles os quais não é prudente enfrentar. Assim, chegamos à categoria
representada pelo elemento fogo, ainda não computada na narrativa bíblica.
Portanto, dentro do espectrômetro da personalidade, o livro deixa claro a existência
de seres referentes aos quatro elementos. Assim como o fogo inexiste na água, as
feras são assim, animais terrestres.

Dentro dessa mesma classificação dos elementos, encontramos a mesma correlação


com o que conhecemos a respeito dos temperamentos humanos dentro da
psicologia. Volvendo nossos olhos ao passado, tal ciência milenar reconheceu
quatro tipos de temperamentos, correspondendo-os com os quatro elementos, como
já postulava Hipócrates por volta de 400aC. Essa percepção parece coexistir com
os escritores bíblicos, ao perceber que as mesmas personalidades correspondiam às
espécies animais. Portanto, sentimo-nos à vontade para discorrer sobre o assunto,
abordando de forma sintática o que o texto bíblico nos dispõe a informar.

Os quatro temperamentos são: Sanguíneo, Fleumático, Melancólico e Colérico.


Percebamos então a analogia com os animais na criação divina:

Os sanguíneos são pessoas de temperamento afetuoso, alegre, otimista e confiante.

“O sanguíneo tem um dos tipos de temperamento mais otimista do quadro. É


muito expansivo, de maneira que sua presença contagie o ambiente onde está e
seja notado. Contudo, pode se mostrar impulsivo, tomando atitudes pouco
pensadas em momentos importantes de sua vida. A espontaneidade o faz querer
interagir com o máximo de pessoas que consiga pois esse é o seu lugar. Por
exemplo, é acostumado a fazer gestos largos e se sentir muito bem em público.
Mostra-se adaptável, entusiasta e resiliente, de maneira que se recupera bem no
tocante à situações difíceis e aprende com sua vivência.”
https://www.psicanaliseclinica.com/tipos-de-temperamento/

Quão próximo das aves os que possuem tal temperamento podem chegar? E por
conseguinte, o temperamento sanguíneo é associado desde a antiguidade ao
elemento Ar.

Vale lembrar que o texto bíblico, ao criar Deus as aves no mesmo dia em que os
animais marinhos, ordenou sua multiplicação na Terra. Ou seja, por mais alto que
voassem, não deveriam esquecer suas origens. Seriam essas significativas
referências uma mera coincidência?

Os Fleumáticos já são lentos, quietos, tímidos, racionais e coerentes.

“Dentre os tipos de temperamento, o fleumático se mostra como o mais dócil de


todos. Isso porque carrega uma postura bastante pacífica e bem sonhadora, de
maneira que enxerga a vida de um jeito mais positivo. Ainda assim, é confiável e
equilibrado como se esperam que possa ser. Uma parte importante em seu
temperamento é que é adepto de uma rotina mais rígida em relação às tarefas. A
adoração por silêncio dá espaço suficiente para pensar e por isso que é difícil
perder o controle.” https://www.psicanaliseclinica.com/tipos-de-temperamento/

Sem dúvidas que o fleumático alinha-se aos primeiros seres da criação, os


aquáticos. Porém numa associação com a terra (outro elemento feminino e
maternal), encontramos esse mesmo tipo de comportamento no gado. A mansidão
é largamente associada na bíblia a estes, e portanto, é o elo entre as águas e a terra
no que tange à docilidade. E mais tarde, será do gado o tipo de sacrifício que Deus
aceitará.

Ao observarmos a categoria dos fleumáticos, perceberemos que seu


comportamento dócil é o modelo idealizado por Deus no que tange à obediência.
Na correlação com o gado – assunto que aprofundaremos mais tarde – o fleumático
possui o equilíbrio dos dois elementos maternais, a água e a terra. Tal equilíbrio na
transmutação e elevação de caráter possibilitará que a carne (natureza carnal) seja
destruída de fato, e o fumo do sacrifício (espírito) suba em cheiro suave ao Senhor.

O temperamento fleumático está obviamente relacionado à Água. Ou seja, com o


princípio de toda a vida. Porém se associa ao gado, por estarem mais próximos do
comportamento idealizado por Deus. Afinal, estão sobre a terra, porém não lhe
pertencem. Seus pés a tocam, porém suas cabeças não estão ligadas ao mundo. Não
se prendem ao solo como os répteis.

O gado, nessa analogia, é uma forma figurativa daqueles que já renasceram pelo
Espírito. Que já despertou para a vida espiritual e vive neste mundo não com
apegos e sim desprendimento e mansidão. Representam a passagem pelos três
primeiros elementos (água, terra e ar), podendo então passar pelo fogo para sua
completa transmutação. Eis aí o principal significado do sacrifício de Abel, o qual
veremos nas páginas seguintes.
Para renascer como espírito, o ser primeiro deve passar pelas águas. É o primeiro
estágio da vida. Sem ela não há começo nem recomeço. Tal alinhamento encontra-
se na Bíblia desde a mitologia da Arca de Noé (Morte e ressurgimento), passando-
se por Moisés - que também é uma simbologia espiritual da passagem pelas águas
quando levado ao Nilo num cesto de junco – e por fim, e mais importante – Jesus –
que passa pelas águas no batismo de João. Enfim, o fleumático é um simbólico
objetivo daquele que deseja a nova vida. É um exemplo, porém não o fim em si
mesmo.

Os Melancólicos são um pouco diferentes. É um grupo triste, medroso e


deprimido. São deles que surgem as melhores poesias e canções; e são deles que
advém as melhores obras de arte. Porém é um grupo que vive pra baixo, que
rasteja. Seus corpos sempre estão próximos ao chão como os répteis.

“O melancólico se mostra bastante sensível com suas emoções e possui um dos


tipos de temperamento mais profundos da lista. São detalhistas graças à sua parte
introvertida. Porém, carregam grandes dificuldades em expor suas emoções e
sentimentos aos outros, se mostrando um pouco distantes aqui. Embora tenha
cautela, costuma ser fiel com aqueles que acredita ou nas ideias que defende. Isso
não significa que não pode exercer seu lado de desconfiança e tomar cautela
quando necessário. Quanto ao lado profissional, o indivíduo melancólico costuma
escolher profissões que possa exercer sozinho sem parceria ou ordenamento de
outra pessoa.” https://www.psicanaliseclinica.com/tipos-de-temperamento/

Não menos por isso, a sutileza bíblica denomina os seres rastejantes por "répteis da
terra". Coincidência ou não, o temperamento melancólico é associado desde à
antiguidade ao elemento Terra. Os répteis da terra também correspondem às
pessoas, que por seus apegos a condições terrestres, não se desprendem do mundo.
Seu ventre, ou seja, seus desejos, sua emoções, arrastam-se, mantendo forte desejo
da permanência no mundo, não almejando uma evolução que lhes permita enxergar
mais alto.

Dentre os répteis, entretanto, é importante salientar, que logo adiante se levantará a


serpente que induzirá a mulher a provar do fruto do conhecimento do bem e do
mal, selando com isso o seu destino. O tratamento com os répteis portanto, deve
ser cauteloso. Seu apego ao mundo, pode tornar-lhe prisioneiro deste.

Finalmente encontramos os Coléricos. Estes, claro, assemelham-se às feras. O


temperamento desse grupo é impetuoso, energético e intenso. São imediatistas e
resolvem suas questões de maneira um tanto menos diplomática. São os mais
complicados nas relações e portanto, podem muito bem aviltar-lhes a pecha de
fera. E tal temperamento, não por acaso, está associado ao elemento Fogo.

“Dentre os tipos de temperamento, o colérico se mostra como o mais selvagem no


grupo. Em suma, se trata do temperamento que é mais explosivo e agressivo que
os demais. Isso aponta diretamente para a índole do indivíduo, de maneira que
você consiga traçar previamente o seu comportamento.”

“Sem contar que pessoas detentoras desse temperamento são comumente


dominadoras e ambiciosas. Embora também sejam enérgicas, façam
planejamentos e tenham determinação, também possuem impulsividade no modo
de agir. Com isso, precisam trabalhar:”

“Infelizmente, os coléricos se mostram bem limitados com algumas ideias e


costumes ao redor. Possuem dificuldade em admitir inovações e a introdução ao
que é diferente do seu modo de ser e pensar. Em casos mais graves, dificultam os
relacionamentos humanos e se mostram ofensivos, agredindo a moral e ética do
outro.”

“Uma ideia bastante natural de que os coléricos são o centro do universo se faz
válida. Os mesmos acreditam que tudo deve girar em torno deles, de maneira que
apenas eles importam. Portanto, não é difícil inferir que a sua postura acaba
dificultando relacionamentos interpessoais com amigos e colegas de trabalho.”
https://www.psicanaliseclinica.com/tipos-de-temperamento/

Para finalizar a análise, podemos também citar a astrologia na influência dos


temperamentos. E como a Bíblia sinaliza factual intimidade em virtude das
referências constantes ao número doze - principalmente no que tange às tribos
israelitas e aos apóstolos de Cristo - os quatro elementos também associam-se aos
signos e às doze constelações.

Portanto, observando atentamente, os temperamentos dos indivíduos sob a regência


de tais constelações, casam-se com os descritos nos parágrafos anteriores.

Assim sendo temos:

Ar – Sanguíneo - Gêmeos, Libra e Aquário;

Água – Fleumático - Câncer, Escorpião e Peixes;


Terra – Melancólico - Touro, Virgem e Capricórnio;

Fogo – Colérico - Áries, Leão e Sagitário.

Evidentemente que a correspondência não é exata. Temperamentos podem variar e


é consensual que ninguém adquire apenas um temperamento em sua índole, mas
uma mescla heterogênea dos quatro. Porém cada qual absorverá uma percentagem
maior, o que caracterizará majoritariamente sua personalidade. Com isso, teremos
mais à frente, a descrição detalhada de outros animais, que simbolizariam as
mesclas do temperamento humano.

"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;
e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre
toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher
os criou." Gênesis 1:26,27

Ao final da complexa obra de criação do sexto dia, a coroa do ecossistema é


colocada. O homem surge - não pela palavra que faz brotar os seres da Terra - mas
pelas mãos cuidadosas do próprio Deus, terminando-se assim o preenchimento do
planeta outrora sem forma e vazio. Na viagem da fecundação à formação da
consciência de vida, os temperamentos estão prontos e incrustados ao ser. Resta tão
somente a absorção, que cada qual desenvolverá, conforme as heranças genéticas e
espirituais intrínsecas a cada espécie.

Nesse pedaço do texto, uma informação importante é inserida, sendo entretanto,


pouco explorada pelos estudiosos num geral.

O homem é criado à imagem e semelhança de Deus. E isso faz com que a religião
sob o véu da ignorância, imagine um homem sentado numa nuvem realizando a
obra criação. Entretanto a própria Bíblia, em todos os textos, deixa claro que não
existe semelhanças físicas entre Deus e o homem, visto não se tratar de um ser
corpóreo. Ao levar esse texto para o campo literal, nossa mente questionadora
perguntaria quais a necessidade de um Deus espiritual possuir forma humana, já
que tais lhes são inúteis. De igual forma, seguiríamos no questionamento,
perguntando para quê lhe serviria boca, sistema digestivo e tudo o mais que
possuímos com fins de sobrevivência, úteis tão somente aos seres corpóreos.

Tais questionamentos aparentemente infantis, apesar de fantasiosos, povoam a


mente de muitos adultos concebedores de um ser divino semelhante em seu físico
ao humano. Essa vaidade em crer que o ser divino criador se assemelhe à nossa
forma física, deve-se à falta de compreensão da não literalidade do texto bíblico.

Quando se fala em imagem e semelhança de Deus, a Bíblia está se referindo às


atribuições espirituais inerentes ao ser humano, tal como espelho do próprio Deus
universal. Faíscas refletoras de algo maior. Deus é espírito. O o "homem" aqui
mencionado na criação, é também espírito. Refere-se à consciência de saber de si,
de possuir existência e ser dotado do mesmo poder criador daquele que o criou.
Essa é a imagem e semelhança. É a capacidade de criação. Somos partículas
divinas, que repetimos em série, torna-se parte do criador.

Por outro lado, encontramos uma inconsistência no texto um tanto curiosa. Tudo o
que surge de vida no planeta brota pela ordenança divina das águas ou da terra.
Com o homem isso não ocorre. E nesse detalhamento que faremos adiante,
sentimos a possibilidade de algo mais no ser humano. Ele é moldado por Deus e
não parece "natural" da Terra.

"E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a


terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e
sobre todo o animal que se move sobre a terra." Gênesis 1:28

De fato o texto deixa transparecer que o homem aqui inserido, não é natural, mas
um administrador do complexo sistema experimental de vida para o qual foi
destinado este embrionário planeta. Sobre isso, abordaremos o assunto quando
falarmos sobre a genealogia de Adão a Noé.

Para o momento, adentraremos num outro problema, que seria o entendimento


sobre a analogia da criação com a concepção ao ser biológico.

Sendo que no sexto dia o homem está criado, como a história da criação pode
referir-se à concepção fetal? Afinal como os dias referem-se aos meses, o ser nesta
etapa possui seis meses de formação e não os nove necessários. Além disso, por
tratar-se de gênero, que entendimento poderíamos conceber a respeito do
masculino nesse desenvolvimento?

Bom, já vemos que a composição física foi plenamente desenvolvida nas fases dos
meses correspondentes aos dias da criação. No sexto dia temos a inserção dos
animais no terreno, que como já visto, são as quatro principais personalidades,
dando uma forma final ao ser, portanto o "homem." O masculino neste caso,
refere-se aos sentido da compreensão, à consciência, ao intangível e não à forma
física. O feminino, que veremos adiante, é a parte carnal do ser. Seu corpo físico e
os instintos inerentes à sobrevivência sobre a face da mãe Terra. Assim, é
facilmente perceptível na Bíblia em sua simbologia, que o homem referido é a
consciência; enquanto a mulher é o corpo ou a natureza inerente a ele. De forma
didática, seria como o software e hardware em perfeita combinação, onde um não
funciona sem o outro, conforme compreendido em Eclesiastes 12:7 ao tratar da
morte:

"E o pó volte à terra, como o era (a mulher), e o espírito (o homem) volte a Deus,
que o deu."

E por sua semelhança com Deus, o espírito (ou consciência astral) é superior ao
corpo (a consciência inferior), uma vez que o corpo se vai, porém o espírito divino
nele inserido é eterno, uma vez que sempre volta para Deus. Já o entendimento
literal do que simbolizaria a superioridade do espírito (que a partir daqui
passaremos a chamar de Consciência ou Eu Superior), por certo criou os
machismos sociais, que podemos por assim dizer, mostram-se inconsistentes e
inexistentes no texto sagrado. Tais machismos não são tangíveis por um simples
motivo: O homem, tomado em seu escopo literal, não é superior à mulher, uma vez
que Deus não criaria alguém a fim de servir-se como objeto de outro ou cuja
finalidade seria de estar tão somente sob suas ordens. Não! Ambos são livres, tal
como os animais, criados sem amarras ou submissões, muito embora existindo
hierarquia social em grande parte dos grupos. Aliás, no reino animal, muito pelo
contrário - na maioria das vezes - quem dita as regras é a fêmea, escolhendo
inclusive, o pai de sua prole. Na natureza o macho que se esforça para agradar a
fêmea, pois dela advirá sua linhagem. A fêmea não é submissa ao macho. Sendo
assim, por certo que na sociedade humana não seria diferente. Entretanto,
justamente essa interpretação literal dos livros sagrados de raiz abraâmica, que
ocasionou toda a balbúrdia nos setores mais conservadores e pouco espirituais da
corrupção religiosa espalhada pelo mundo. Nas sociedades politeístas, entretanto, o
machismo é quase inexistente, evidenciando que no meio monoteísta existiu uma
clara interpretação errônea da Bíblia. Ou seja, sociedades mais evoluídas e
tolerantes espiritualmente, também o são no trato social.

Voltando-se à questão da gestação, no sexto mês, veremos que neste ser em


formação, quase tudo está completo. A genitália está completa. Percebe-se que a
associação com o sexo é evidente. O homem agora tem sexo definido, não mais
sendo um embrião, nem mais confundível com outro animal. A diferenciação
sexual ganha sentido.
"Homem e mulher os criou."

Corpo e espírito (ou Consciência carnal e espiritual), ou ainda, Ser corpóreo e Ser
Astral estão justapostos e interligados. O cordão de prata os fundiu, entrelaçando-
os para o cumprimento de seu papel no mundo físico.

No sexto mês de gestação ocorre algo significativo, já fomentado em escritos


consagrados. A visão espírita - a qual muito se aproxima dos antigos babilônios e
gregos e da qual a Bíblia bebeu a maior parte de sua água - diz que: "No sexto mês
em diante o espírito está completamente em nosso mundo, já reencarnado, daí
para frente, procura se adaptar ao novo corpo que lhe foi dado por Deus. Seus
pensamentos são inocentes, as energias estão renovadas e no plano positivo do
mundo em que vivemos. Dessa forma esta nova vida vai ter uma chance de
recomeçar do zero em sua nova chance de vida." https://oguiadaluz.com/gravidez-
segundo-espiritismo/

No texto bíblico em questão, sem ainda os detalhes da criação da mulher,


menciona-se que "homem e mulher os criou". Sendo assim, é fácil notar que o bebê
está pronto, com corpo e espírito. Tecnicamente portanto, o sexto mês da gestação
é o período em que se pode inferir que o há um término da formação do Ser. A
partir do sétimo mês já está pronto para a concepção.

Por fim - com o espírito plenamente encarnado - é dada a ordem de dominar sobre
os animais: as aves, os peixes, as feras e o gado. Como já vimos, tal domínio deve-
se compreender pela inserção dos quatro temperamentos no DNA físico e espiritual
do homem a nascer.

"E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre
a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á
para mantimento." Gênesis 1:29

O homem está completo e inserido na Terra. Homem e Mulher. Corpo e espírito.


Sua subsistência se dará por meio de alimentos específicos. O corpo necessita de
alimento físico, e nisso encontramos a literalidade sugerindo a alimentação real.
Por outro lado, o espírito, ou a consciência, necessita algo maior que a mera
manutenção do corpo. A alma prospecta de intelecto não se alimentará tão somente
de matéria, visto que tal alimento pertence ao corpo. A alma se alimentará de
elementos intangíveis, porém reais, energéticos e virtualmente coexecutores da
abertura do intelecto. A fonte seria o fruto das árvores e ervas do campo.
Há assim, um adendo no texto imperceptível nas leituras afoitas. O homem
alimentar-se-ia tão somente de ervas ou das árvores que possuíssem fruto ou
semente.

Alimentar-se é adquirir conhecimento. O alimento do corpo é físico, porém da


consciência advém do conhecimento. Um corpo com uma consciência sem
aquisição de conhecimento, está condenado à morte. O conhecimento lhe
propiciará até mesmo a escolha do alimento físico. Lhe estabelecerá a gama de
possibilidades de melhor valia para a sobrevivência, tornando-a menos dura. Não
saberíamos enfrentar as intempéries do clima e da própria vida física sem a
prospecção do intelecto. Nem mesmo desenvolveríamos como humanos. Assim, o
alimento ordenado ao consumo deve possuir semente e fruto. O conhecimento não
pode ser o fim em si. Não deve se ocultar, deixar que morra sem fertilizar-se. Será
inócuo se assim o for. Portanto, temos neste verso, a ordenança intrínseca de que
todo conhecimento adquirido deve ser reproduzido e passado à frente, produzindo
e alimentando novos conhecimentos. Assim, pela concepção mitológica, é
ordenado ao humano o alimentar-se de toda a ciência, conhecimento e filosofia. O
conhecimento básico está aqui representado pela erva, e o filosófico - mais
resistente ao tempo - pelas árvores.

A concepção a respeito desse assunto - de sua reprodução e passagem adiante -


será compreendida mais à frente, quando tratarmos a respeito do dízimo - o qual
representava-se pelos frutos da Terra, os quais deveriam se passar adiante para a
manutenção do sacerdotismo eclesiástico. Ou seja, o conhecimento deveria se
dividir e ganhar guardiões específicos.

"E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em
que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi."
Gênesis 1:30

Aos animais o alimento é diferente. Ao homem o alimento é a erva com semente


bem como o fruto das árvores, cuja semente nele está. Porém para os animais o
alimento resume-se à erva verde. Não é citado assim, a necessidade de que tais
ervas possuam semente.

Por certo, nossos temperamentos não necessitam produzir frutos, visto que estarão
subordinados a nós, devendo manter-se sob controle. Perceba: "E domine sobre os
peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e
sobre todo o réptil que se move sobre a terra."
Estando sob nosso domínio, o alimento deve fazer-se o mais básico e simples. O
resultado do comportamento destes será conforme nosso comando.

"E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a
manhã, o dia sexto." Gênesis 1:31

Toda a obra da criação se consumara. Nada mais a fazer. O homem fora inserido
na Terra e o que se devia realizar neste mundo, terminara.

Na correlação com a progressão fetal, no sexto dia - diferente do que a narrativa


usa ao final de cada etapa: “Isso é bom” - no último dia da criação, Deus diz que
tudo é muito bom. Ou seja, há uma completude nas ações. Embora seja correto
dizer que o feto esteja pronto no sexto mês, tão somente no sétimo –
correspondente igualmente ao sétimo dia - que o nascimento pode ocorrer com
segurança para o bebê. As formações finais se desenvolvem. E a partir do sétimo
mês, o bebê tão somente ganha corpo quanto fortifica-se para adentrar ao mundo
terreno.

Também em paralelo ao que estudamos sobre os chacras, o sexto, de cor Azul


índigo, é o centro de energia mental. Localiza-se na testa e é produzido pela
atividade mental. O ser humano nesse aspecto da natureza, é o mais elevado
mentalmente, portanto sua correlação com o sexto chacra e sua criação no sexto dia
estão perfeitamente alinhados.

O sexto dia, conforme também correlacionamos na astrologia antiga e moderna, é


dedicado a Vênus, a deusa do amor - o sexto planeta do ponto de vista terrestre
para os antigos. Vênus também é relacionada ao sexo e à fertilidade. Sua
correspondente grega é Afrodite. Nada mais correto que o dia desta deusa (deste
planeta) referir-se ao sexto dia da criação. Neste dia Deus abençoa a raça humana
recém criada e a impulsiona à frutificação. De igual forma, as referências ao sexto
dia demonstram relação com a fertilidade ao mencionar-se o povoamento dos
animais sobre a Terra e as sementes das árvores e das ervas.

Para os assírios vênus é Inana e os sumérios, anteriores a estes, a conheciam como


Istar. Os povos mesopotâmicos a cunharão de Rainha do Céu.

Mais tarde, em Jeremias 7:18 e 44:19, o culto a essa deusa é condenado, como de
costume em todos os textos bíblicos, visto a atração de fatores amaldiçoantes ao
povo de Israel.
Vale lembrar que os deuses representados pelos planetas não seriam objeto de
adoração nem mesmo no campo mítico que estamos analisando. O objetivo da
libertação espiritual que permeará o texto bíblico, é justamente livrar-se das
amarras adquiridas por associações divinas a deuses fictícios.

Os planetas, evidentemente exercem influência sobre o comportamento humano e


trânsitos diversos sobre a Terra - uma vez que emitem energias refletidas de
lugares outros do universo. Porém são suas influências que devem se superar para
o alcance da luz. A influência dos astros sobre nossa vida deve ser enxergada como
manifestação do poder divino central, e não como possuidores de divindade em si
mesmos.

"Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados.


E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia
de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou;
porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera." Gênesis 2:1-
3

É evidente que um ser supremo e real, jamais teria necessidade de descanso, uma
vez que por sua eternidade, o criador não possuiria as mesmas necessidades
humanas. Tampouco seria necessário deixar qualquer exemplo para o ser humano,
já que - como seres livres - cada qual escolheria seu próprio dia de repouso, sem a
necessidade de submissão desprovida de lógica ou propósito, imposta por um
ditador celestial.

O sétimo dia como dia de descanso vai muito além de colocações estapafúrdias que
desenvolveram-se ao longo dos séculos nas religiões que detiveram-se a observar
esse dia como sagrado.

Em primeiro plano porém, devemos atentar que a narrativa implicava em


resguardar uma explicação sobre a origem do mundo para a camada mais ignorante
da sociedade. Na antiguidade e até bem pouco tempo, o acesso à educação
pertencia tão somente às elites sociais. A massa, composta por até 95% da
população, além de necessitar de controle, deveria de igual forma possuir
esperança quanto à realidade da vida. Não só esperança, como também um mínimo
entendimento de como surgira. Para estes a narrativa é literalizada. Assim, a
absurda história da criação por meio da mágica palavra de um ser incorpóreo,
invisível e totalmente desconhecido, vem sendo adotada cegamente até os dias de
hoje, por grupos religiosos que contestam as mais contundentes descobertas
científicas.

Por outro lado, a semana da criação representada pelos sete planetas astrológicos,
coincide com a semana do calendário lunar. A semana de sete dias era a expressão
aproximada dos sete dias de uma fase lunar.

O sétimo dia da semana mesopotâmica é homenagem ao planeta Saturno. Em


inglês a expressão é nítida: Saturday.

Saturno é o deus da severidade. É tido como um senhor de barbas longas, sábio,


que cobra do ser humano aquilo que lhe é devido. Possui a autoridade em si e exige
a maturidade. Saturno não perdoa. Saturno executa a lei tal como deve. Exige o
melhor de você. Exige sua perfeição. É o deus da disciplina e da responsabilidade.

Temos neste fim, a reflexão a respeito da natureza de Deus como um todo. O


sétimo dia é o dia do Senhor teu Deus. O Deus da autoridade. Porém o Deus
bíblico não deve ser enxergado como Saturno. Deus é o conjunto de manifestações
dos Céus e da Terra. Os aspectos fragmentados em cada natureza referendada pelos
corpos celestes e terrestres são personalidades divinas referentes a cada
circunstância. Compreendendo-se então a globalidade da fragmentação,
compreenderemos que o Deus bíblico seja a autoridade por sobre todas as
manifestações compreendidas como deuses nas influências astrológicas.

O sétimo dia entre os babilônicos era considerado também um dia de mau agouro,
devido à virada da fase da lua, devendo-se evitar exercer qualquer atividade neste,
por conta da má sorte que poderia sobrevir. Disso entende-se também a ordenança
da narrativa em se descansar nesse dia.

Os egípcios entretanto - embora possuíssem calendário muito semelhante aos dos


mesopotâmios - dividiam seu mês de trinta dias em três semanas de dez. O motivo
de não seguir as fases lunares pode estar embasado em um conhecimento mais
avançado a respeito da astronomia. Possivelmente conheciam os últimos três
planetas exteriores: Urano, Netuno e Plutão, perfazendo tais dias em homenagem a
esses deuses.

No que tange aos sete chacras aqui comentados em paralelo, o sétimo e último
chacra é o coronário e encontra-se no alto da cabeça. A cor de sua energia é
violeta, completando assim o espectro de refração da luz. Por ele adentra a energia
divina advinda da centralidade universal, condensando e fazendo surgir os demais
centros energéticos contidos no ser humano. Este chacra corresponde a Deus. Seu
alinhamento com o sétimo dia da criação é perfeito.

Já na parte alusiva ao ser embrionário - compreensível na inserção da vida na


semana da criação - veremos que ao sétimo mês os riscos de aborto serão mínimos,
uma vez que o máximo que se pode existir, é um nascimento prematuro, com
poucos danos ao bebê. No sétimo mês o bebê está pronto, tanto física quanto
espiritualmente. O laço completou-se e o pequeno corpo necessita tão somente do
aconchego do útero para crescer e concluir seu desenvolvimento. Portanto, é
razoável que possa descansar-se em relação à criação.

Os dias de gestação considerados hoje e na antiguidade são 273. Esse número


corresponde a exatamente 39 semanas. Ou seja, é 39x7. O número 7 como visto,
inicia com a criação e irá perfazer todos os caminhos da Bíblia. Com ele,
caminhará também o número 40 (o próximo depois de 39), também utilizado
largamente. Ambos correspondem à renovação, transformação e renascimento.
Assim, temos a correlação da semana de sete dias com a gestação, parecendo
absorver todos os requisitos necessários à compreensão da completude desse ciclo.

Já numa outra perspectiva, mais ampla por conseguinte, as revelações que


chegaram à humanidade em diferentes campos do globo, indicam que os ciclos
evolutivos da humanidade encaram revoluções de sete fases com sete períodos. As
raças humanas em sua exploração pelo Globo, entrelaçaram-se em sete principais
raízes, com evoluções respectivamente setênias. Sobre este fato, citaremos adiante
compilações do clássico livro espírita: “Os Exilados de Capela.”

Portanto o sétimo dia não é considerado sagrado por motivos tão somente
astrológicos relativos aos planetas ou fases lunares. A organização por meio do
sete também obedece regras energéticas e vibracionais meticulosamente
matemáticas. Um círculo exatamente igual pode conter à sua volta com milimétrica
perfeição, outros seis círculos do mesmo tamanho, demonstrando a perfeição da
natureza que emana do centro. De igual forma as cores refratadas na dispersão da
luz nas gotículas de água, mostram um círculo perfeito (do ponto de vista terrestre,
um arco) com sete cores decompostas. Da mesma forma, a tabela periódica dos
elementos possui sete sessões em sua organização, de modo que a matéria só pôde
ser elucidada quando organizada nesta correlação. Portanto, o número sete não é
apenas um número. É a completa e perfeita correspondência da centralidade
universal.
No sete se encerra o conceito cíclico de final de uma etapa e surgimento de outra.
É o fim para o recomeço. E sempre o recomeço se dá num degrau mais alto na
escala cósmica.

Embora não venhamos a aprofundar neste assunto no momento, ao decorrer das


páginas, retornaremos a ele, conforme a necessidade de luz a respeito da
sacrossantidade do sábado da criação.

"Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados; no dia em que o
Senhor Deus fez a terra e os céus." Gênesis 2:4

Ao inserir o termo "no dia," entende-se que o autor de Gênesis englobou toda a
criação como apenas um ato. Foi apenas uma obra, dividida em sete etapas. E
assim irá prosseguir a história humana e a lógica universal. Para uma compreensão
melhor do que nos é revelado por meio desse verso, entendamos a criação divina
como uma explosão circular. A partir do círculo, tudo surgirá. Esse é o princípio da
energia e matéria. Assim, com o movimento da energia em expansão a partir do
centro, outros círculos surgirão; e com o perfeito agregamento dos outros seis à
volta - em escalas maiores e mais energizadas - teremos a junção energética,
chegando à matéria que é a finalização de sua condensação.

Enfim, o sete é de completa perfeição, nada podendo existir sem o comando


homologador deste número. Tudo mais é derivação deste. Assim, dada a exatidão
de sua perfeição, os judeus o tomaram por sagrado.

O Homem

No capítulo 2, o autor de gênesis recorta e amplia o texto, trazendo em detalhes o


citado no capítulo anterior, relacionado à criação do homem no dia sexto,
minuciando seus primeiros passos ao abrir os olhos para o mundo.

"...E toda a planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do
campo que ainda não brotava; porque ainda o Senhor Deus não tinha feito chover
sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra. Um vapor, porém, subia da
terra, e regava toda a face da terra." Gênesis 2:5,6

Neste texto, vemos que o mundo, antes do surgimento do homem crescia por si só.
De fato essa é a narrativa da criação. Algumas corrente, inclusive, tratam a questão
dentro de uma perspectiva evolutiva, sugerindo que a criação refira-se a períodos
de eras anteriores à raça humana. De certa forma, levado para o campo literal, tal
perspectiva possui sua lógica. Entretanto, o mito não se presta exatamente a esse
tipo de análise. Por mais evoluídos que os povos mesopotâmicos o fossem,
detalhes da evolução terrena não lhes seriam interessantes, dado a pouca
importância de tais dados para suas vidas atuais. Prescindiam-lhes entender tão
somente o surgimento de si mesmos e de sua possível vida não terrena. O que dizia
respeito à Terra e seus anteriores habitantes não lhes convinha. O que se lhes
prestavam os estudos, abrangia um campo mais espiritual e elevado do que o apego
a dados materiais menos importantes, concomitados à raça humana em derredor.
Os povos de origem mesopotâmica, viam-se como divinos e originários de um
ponto elevado dentre as estrelas, conquanto amalgamados e entrelaçados
geneticamente com a inferior raça humana desenvolvida na circunvizinhança.

Assim, o texto bíblico faz entender que o mundo necessitava de um administrador.


Mostra também que antes do surgimento da raça humana, o mundo é um grande
laboratório para a vida em termos de energia condensada, projetando-se então a
possibilidade de inserção de raças espirituais mais ligadas à matéria, conforme o
nível que suas vibrações sintonizassem no dispêndio de seu livre arbítrio,
obedecendo as leis de atração inerentes ao próprio universo.

Segundo o texto, a vida experimental existente, brotava espontaneamente, visto


não haver o homem para que dela cuidasse. Ou seja, a criação ocorria por si só,
sem agentes pensantes que lhe fizessem alteração. O que na Terra havia não
passava de sua naturalidade, sem interferências casualistas. O que o texto mostra é
a inexistência de um espírito capaz de assemelhar-se a Deus na potencialidade
criativa. Nada na criação assemelhava-se ao criador.

Essa primeira parte do sistema de criação refere-se evidentemente à pré-existência


do homem na cadeia evolutiva. Segundo Edgar Armond em seu clássico "Os
Exilados da Capela", esse tempo - que vai desde o surgimento da vida à
modificação genética dos primatas por seres “celestiais,” resultante no homo
sapiens sapiens - é o primeiro ciclo da evolução e revolução planetária:

"O primeiro ciclo começa no ponto em que os Prepostos do Cristo, já havendo


determinado  os tipos dos seres dos três reinos inferiores e terminado as
experimentações fundamentais para a criação do até hoje misterioso tipo de
transição entre os reinos animal e humano, apresentaram, como espécime padrão,
adequado às condições de vida no planeta, esta forma corporal crucífera, símbolo
da evolução pelo sofrimento  que, aliás, com ligeiras modificações, se reflete no
sistema sideral de que fazemos parte e até onde se estende a autoridade espiritual
de Jesus Cristo, o sublime arquiteto e divino diretor planetário.

O ciclo prossegue com a evolução, no astral do planeta, dos espíritos que


formaram a Primeira Raça Mãe; depois com a encarnação dos homens primitivos
na Segunda Raça Mãe, suas sucessivas gerações e selecionamentos periódicos
para aperfeiçoamentos etnográficos: na terceira e na quarta, com a migração de
espíritos vindos da Capela; corrupção moral subseqüente e expurgo da Terra com
os cataclismos que a tradição espiritual registra." Os Exilados da Capela P. 16

Sobre a evolução ocorrida no astral e as reencarnações punitivas e evolutivas,


prosseguiremos mais tarde. Em tempo, compreende-se sua menção de forma sutil
na narrativa: "Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra."
Resta crer que tal vapor refira-se às idas e vindas da encarnações dos seres aqui
existentes, antes da evolução controlada do homem.

Os detalhes do texto são também, de igual forma reveladores ao citar que “no dia”
em que Deus criou a Terra, ainda não se havia feito brotar erva no campo, visto
não haver homem para lavrar a terra. Como citado anteriormente, a erva do campo
representa o conhecimento, o entendimento a respeito do mundo e suas
intempéries. Sem o homem para o lavrar, não será compartilhado. Dessa forma,
somente após o surgimento de tal ser é que poderá “existir” e passado adiante.

"E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o


fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente." Gênesis 2:7

Para entendermos melhor essa origem, temos que entender o que seria o "pó."
Então, é mister entender que a Terra é a grande mãe. Originária da vida biológica.

Salomão dá a entender em Eclesiastes que o pó é a brevidade da vida.

"Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó."
Eclesiastes 3:20

De igual forma, sugere também que é a parte biológica.

“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.”


Eclesiastes 12:7

Temos na explicação que o pó corresponde à parte advinda do solo e o espírito à


parte advinda dos céus. Nisso temos então o amálgama entre um ser biológico em
entrelace com uma essência divina. Dissolvendo-se o laço que constitui o homem à
Terra, as partes “casadas” retornam à sua origem.

Entendemos portanto neste caso, que o pó refira-se à temporalidade terrena. O


homem por si só é parte da Terra e sua ligação a ela é como pó, rápida, efêmera.

Estabelecendo-se assim o paralelo entre o espírito que habita o homem advindo-se


da parte divina e a matéria que o constitui originar-se do que é retirado do solo,
entenderemos que a origem do homem não somente refira-se à parte biológica,
quanto também à temporalidade restrita à Terra. Seus anos da vida encarnada
raramente chegam a míseros cem. O que seria tal brevidade temporal senão uma
poeira do tempo quando comparada à quase eternidade do Universo?

Concluímos então que o ser humano possui em si a eternidade do Pai Universal,


porém para abatimento de seu orgulho em função de uma posterior exaltação
verdadeira, a finitude da mãe Terra.

O segundo elemento da criação do homem é o fôlego de vida, soprado em suas


narinas pelo próprio Deus.

Evidentemente que tal esmero para a criação humana não faria contumaz sentido,
visto bastar a ordenança de levantar-se das entranhas da terra e partir direção à
vida. A sutileza do texto nos remete a outra fator, muito diferente do que um mero
soprar de vento. O respirar e a manutenção da consciência estão intimamente
ligados. A ausência de ar reduz o indivíduo ao inconsciente. Portanto, a ausência
do “fôlego” divino nas narinas do homem, o torna inconsciente quanto à própria
existência.

Podemos presumir nesse contexto que o ar é um dos fundamentos da consciência.


E tal consciência não se compreende como tão somente o saber de si, mas de sua
natureza espiritual, divina. Somente da união dos elementos terrestres e divinos, é
possível ao homem torna-se "Alma Vivente."

O fôlego, por sua vez, é a evidente inserção do Espírito divino pela parte de Deus.
Este que fará a animação do indivíduo. Que o fará viver. O retirar do pó fomenta a
natureza biológica e transitória. O soprar do Espírito traz-lhe a natureza divina e
eterna.

Embora os demais animais possuam seu próprio espírito condizente à natureza


terrestre, a narrativa da criação do homem demonstra que este, embora
biologicamente terrestre, possui sua origem em Deus. Seu lugar natural não é este
mundo.

O despertar da consciência divino-humana ,levará o homem de volta a sua natureza


realmente divina.

O Jardim

A partir do verso 7 do segundo capítulo, outro aparte é inserido para explicar onde
o homem recém criado habitará. Diferente da poética narrativa da criação, onde
primeiro é criado o lugar e depois o que lhes preenche, com o homem dá-se o
contrário. O homem primeiro é criado para então preparar-se lhe um lugar.

"E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem
que tinha formado." Gênesis 2:8

Disso temos que o homem é criado fora do Jardim. O texto outra vez deixa
transparecer que o ser humano não tem sua origem espiritual na Terra (se tomado
do ponto de vista de que houve de se lhe preparar lugar). Sua habitação fora
preparada posteriormente, como que em ajuste à sua natureza. Um aparte para seu
conforto, talvez semelhante ao lugar de onde viera.

O Éden não é mencionado somente uma vez na Bíblia e não desapareceu no


decorrer da escrituração do livro sagrado. Os israelitas o conheciam bem. A
palavra hebraica que dá origem ao nome é EDINU, que por sua vez tem raiz na
palavra Suméria EDIN. Considerando que a própria Bíblia narra a saga judaica
como cativos nas terras da Babilônia por setenta anos, os primeiros sinais de que as
fontes sagradas da religião hebraica se concentrava na crença assíria, e por
conseguinte suméria, começa então a tomar forma.

Os assírios, para efeito de esclarecimento, foi a terceira civilização a habitar a


Mesopotâmia após os sumérios, dando sequência aos impérios que floresceram
entre os rios Tigre e Eufrates no transcorrer de milênios com guerras e tomadas
territoriais. A propósito, a própria palavra Mesopotâmia significa "entre rios."
Antes dos Assírios, habitaram essas terras os Sumérios, num período datado de
mais ou menos 2000 a 6000 A.C. Em seguida vieram os Babilônios ou Amoritas,
por volta de 2000 a 1750 A.C. Nesse período aparece outro personagem bem
conhecido na História - o rei Hamurabi - que cria o também o muito conhecido
Código que leva seu nome, cujas semelhanças com as leis de Moisés não deixam
equívocos de que deste fora retirada. Já entre 1350 e 600 A.C, florescem os assírios
nesse mesmo território, onde as correntes desses dois rios, favoreciam a agricultura
e o consequente desenvolvimento da vida. Finalmente e outra vez, reaparecem os
Babilônios com o nome de Caldeus, cuja figura mais conhecida é Nabucodonosor,
o restaurador do império.

Todos esses reinos renasceram sobre as cinzas uns dos outros, numa sequência
infindável de guerras, as quais não é nosso objetivo narrar. Eram povos das regiões
que cresciam e atacavam seus superiores, destituindo-lhes o podes e imperando em
seu lugar. O que nos interessa aqui entretanto, é compreender de onde o autor de
Gênesis bebeu sua água para a criação desse intrigante livro - referência até mesmo
para a fundamentação da pseudo científica de muitas crenças religiosas.

Destarte, temos uma evidência interessante. Embora o Pentateuco tenha sua autoria
atribuída a Moisés, sua escrituração deu-se por volta do ano 600 AC, mais de mil
anos depois da morte desse mítico patriarca. Exatamente nesse tempo da
escrituração que os assírios florescem no entorno do reino de Israel. Sabemos, por
outro lado, que a Bíblia apenas nesse período que o povo deixou para trás as
alegadas tradições orais, palmeando-se então pelo que passou a registrar-se (até
esse tempo, o único livro escrito no qual baseavam seus costumes era a lei. E até ao
tempo de Josias, estivera perdido). Encontrar uma palavra de origem assíria no
início da história da criação, prova que a narrativa do livro não tem sua autoria em
Moisés, visto sua morte ter se dado mais de mil antes do surgimento conhecido
desse povo.

Muito evidente é, que a Bíblia seja uma cópia de histórias pertencentes a outros
povos. E tal afirmativa vai se consolidando cada vez mais fortemente, conforme
adentramos no texto.

Mas voltemos ao Éden.

Em ambas as línguas (hebraico e assírio), o significado da palavra pode ser


traduzido por planície ou retidão. Miticamente falando, entendemos que o
significado remete não somente à lisura do terreno, mas a questões de caráter. O
homem, embora inserido numa terra com feras e evidentes dificuldades, possui seu
lugar de habitação na retidão. O homem reto de coração, terá o mesmo caráter do
criador.

Por outro lado, o local onde o jardim foi inserido tratava-se um lugar literal; e ao se
mencionar no texto, os judeus entendiam geograficamente onde encontra-lo.
"Porventura as livraram os deuses das nações, a quem meus pais destruíram,
como a Gozã, a Harã, a Rezefe, e aos filhos de Éden, que estavam em Telassar?"
II Reis 19:12:

Vale aqui ressaltar que não falamos do Jardim formado, mas do local chamado
Éden, onde tal paraíso se plantou. Portanto, de novo temos uma referência à Assíria
no texto, pois as cidades de Gozã, Harã e Rezefe encontravam-se próximas umas
das outras e as três pertenciam ao território Assíria. E Éden também ali se
localizava.

A questão que fica para o momento é o motivo do jardim não fazer-se plantar nas
sagradas terras de Canaã e sim num lugar paganizado.

Éden também é o nome de uma pessoa. Em II Crônicas 29:12 comenta-se de um


grupo de levitas levantado para purificar o templo, a pedido do rei Ezequias.

A coincidência no texto também é interessante, uma vez que Ezequias viveu num
tempo de aperto com os Assírios, os quais almejavam tomar-lhe o reino. O mesmo
Ezequias (no qual ainda no período de seu reinado se escriturava a Bíblia),
restaurou o templo (outra sutileza bíblica, pois que muito bem pode referir-se não a
um templo físico, mas à restauração dos textos sagrados), e pediu aos sacerdotes
que o purificassem. Um desses sacerdotes chamava-se Éden.

Também é importante salientar que os nomes nas localidades bíblicas obedeciam


uma regra patriarcal, de modo que muitos dos territórios levavam o nome de seus
fundadores. Éden pode ter sido o patriarca, e a referência bíblica ao lugar seja
posterior à origem do lugar. Assim, compreende-se que Moisés não poderia ser o
autor do livro, por uma questão de temporalidade.

A localização específica do jardim na planície do Éden, nos leva a outra reflexão.


O jardim foi plantado do lado oriental do lugar chamado Éden.

Tanto na cultura judaica como em todas as adjacentes, o oriente é portador das


boas novas, pois é nele que nasce o Sol. O sol, em sua simbologia suprema,
representa desde a vida humana biológica até a divindade maior - dependendo da
cultura em que esteja contextualizado. (Sobre tal aspecto e seu sentido mais
profundo, nos ativemos em explicações no relato da criação, comparando o macro
com o micro; o sol interior de cada ser humano; e o sol astral que aquece e dá vida
ao planeta.)
Em se tratando de contextualização cultural, podemos ver que no Egito Antigo,
Atom, o Deus Sol, é supremo nos tempos de Akenathon. Essa importância também
é narrada na Bíblia, quando o Faraó - cujo nome não é mencionado - dá como
esposa a José, a filha do sacerdote de Om, que é o Sol.

Na astrologia babilônica, assíria ou caldaica, o sol é o centro do disco astrológico,


diante do qual se curvam as doze constelações. Esta, por sua vez, tem sua invenção
datada pelo mesmo período em que Deus "criou" a Terra. Os sumérios a
descobriram por volta de 4000 AC, período o qual se dá a criação do mundo na
narrativa bíblica. Desta feita, a referência ao nascimento do Sol em conformidade
com a criação do jardim, retorna à compreensão astrológica do texto bíblico.

A absorção de um costume de uma nação por outro povo próximo, não é nenhuma
novidade ao longo da história. Culturas se aglutinam, se absorvem e renascem
sobre as cinzas de outras. A Bíblia, de igual forma, copia a cultura circunvizinha e
vai evidenciando-se paulatinamente como um livro de astrologia assírio-suméria,
usando terminologias diferentes a respeito dos mesmos assuntos, a fim de criar um
texto particularmente individual para o povo judeu, com visível absorção das
culturas dos povos vizinhos.

"E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para
comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem
e do mal." Gênesis 2:9

A existência de ambas as árvores é formidavelmente mitológica. Impossível é à


mente lógica, crer possibilidade de árvores com potenciais absurdos como de dar a
vida ou conceder conhecimento a respeito do bem de do mal.

Como já vimos, árvores e frutos são simbolismos. O próprio Jesus usou esse tipo
de metáfora ao falar a esse respeito:

"Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas,
mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis.
Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a
árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus." Mat. 7:15-
17

Assim, não somente neste texto, como em inumeráveis outros - os quais não é
mister mencionar no momento – está claro que árvores são símbolos de ideias e
ideais, produtoras de algum tipo de consequência. São conceitos abstratos que
fomentam frutos concretos. Árvores são conhecimentos e frutos do pensamento,
sejam eles filosóficos, empíricos ou científicos. No Éden existia todo o tipo de
árvores boa à vista e isso incluía a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento do
bem e do mal. Portanto a ideia central da inserção do homem no mundo seria
apresentar-lhe a vida e o conhecimento.

Outrossim, na cabala judaica, a Árvore da Vida é representada em um dimensão


mais complexa, revelando caracteres da origem geral do Universo em termos mais
abrangentes.

Por ora, não nos aprofundaremos no assunto, visto que o conceito aqui aplicado,
aprofundar-se mais à frente.

"E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em
quatro braços. O nome do primeiro é Pisom; este é o que rodeia toda a terra de
Havilá, onde há ouro. E o ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio, e a pedra
sardônica. E o nome do segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de
Cuxe. E o nome do terceiro rio é Tigre; este é o que vai para o lado oriental da
Assíria; e o quarto rio é o Eufrates." Gênesis 2:10-14

A importância dessa narrativa é grandiosa. Em primeiro aspecto, devemos observar


que o rio é um só. Entretanto, ao alongar-se pela terra, desdobra-se em quatro
braços. E tais vertentes provocam revelações surpreendentes.

Primeiramente devemos nos ater ao texto, entendendo que o rio surge no lugar
onde o homem é inserido. Assim, compreendemos que o homem vai aparecer
exatamente na nascente dos atuais Tigre e Eufrates. De sua localização, temos a
perspectiva do surgimento do homem em seu sentido intelectual. O escritor bíblico
procura marca-lo na base de sua cultura, e esta primordialmente, não é judaica. As
raízes lançadas estão visivelmente ligadas à Suméria.

Considerando essa civilização de forma primordial, percebemos que no conceito


mitológico, todas as demais adjacentes são ignoradas, visto ser esta a mais
avançada da época. Assim, é visível o sentimentos de superioridade da raça
suméria, visto que é no entorno da nascente desses rios que tal civilização floresce;
e este representa a primordialidade humana.

Já os rios Giom e Pisom, nunca foram encontrados. Embora alguns estudiosos


tenham buscado seus fósseis, nenhum sinal de suas existências em nenhuma
narrativa antiga fala a respeito. Na atualidade, os esforços para encontrá-los
perpassam a ética, quando autores crentes na narrativa literal, oferecem-se ao
despudor de identifica-los com outros rios que nascentes em localidades diferentes
e desembocam no Golfo Pérsico.

Seriam esses rios factuais ou suas menções seriam também mitológicas?

Primeiramente, obrigamo-nos a entender o que é um rio numa simbologia. E nisso,


temos uma interessante interpretação baseada no dicionário de símbolos:

“O rio simboliza a existência humana e o seu curso com a sucessão dos desejos,
dos sentimentos, das intenções e as possibilidades dos seus desvios. Na tradição
judaica, o rio do alto é o rio das graças, das influências celestes. O rio do alto
desce verticalmente e se expande horizontalmente em quatro sentidos a partir do
centro, simbolizando as quatro direções cardeais e os quatro rios do paraíso
celeste." https://www.dicionariodesimbolos.com.br/rio/

Temos em tal conceito um entendimento de que as vertentes partem de um


alinhamento espiritual maior. Assim, os rios Tigre e Eufrates consolidariam o
conceito da humanidade em seu desenvolvimento material e intelectual, enquanto
Giom e Pisom vertam a concepção espiritual do sentido, visto até mesmo, sua
inexistência visível.

As grandes civilizações desenvolveram-se ao longo dos rios. Desnecessário é


discorrer sobre o Egito e sua vida devotada ao Nilo; dos indianos e o Ganges; das
civilizações européias, gregas, romanas e até mesmo a hebréia, que teve sua vida
pautada pelo correr das águas do Jordão. Portanto o rio é uma alusão à própria
vida.

Um rio sair do Éden e dividir-se em quatro braços, torna a narrativa interessante,


pois se o Éden é a consideração de toda a origem da espiritualidade e da
centralidade da inserção do homem na Terra, os rios seriam as vertentes das
concepções espirituais e intelectuais que dessa região original brotaria. Esse
conceito primordial da existência da vida, ganharia formas diferentes ao contactar
outras culturas, simbolizado pelos quatro braços.

Os braços também são uma clara alusão aos quatro ventos da Terra. Disso
compreendemos que as correntes advindas desse conhecimento primordial estariam
presentes no demais os pontos do planeta, ainda que interpretações diferentes a
respeito desse mesmo conhecimento sofresse mutações em contato com outras
culturas. Em sua raiz, o rio seria apenas um - uma vez que os sumérios possuíam
consciência que seu avançado conhecimento de uma forma ou outra, abrangeria
todas as nações – porém nada impediria que outros bebessem de suas margens.
Compreendemos nesta questão, que embora tal conhecimento a respeito da ciência
e espiritualidade seja sentida pela Suméria como uma certa exclusividade, as
revelações a respeito dos assuntos pertinentes ao campo espiritual, contornariam
outras nações que atingissem avanço mental e intelectual.

"O nome do primeiro é Pisom; este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há
ouro. E o ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio, e a pedra sardônica." Gen.
2:11-12

Conforme comentamos, os rios Gion e Pison possuem caráter espiritual e as


terminologias concernentes aos mesmos devem ser interpretadas dentro da mesma
perspectiva.

Portanto, é mister rechaçar a concepção literal do assunto, visto não haver


nenhuma importância a citação da existência de ouro em uma narrativa que se
presta a explicar o surgimento da raça humana. De igual forma, nenhuma
relevância há na citação do Bdélio e Pedra sardônica no contexto. Por óbvio tratar-
se de simbologias, é prudente levarmos a esse lume, a fim de que o
incompreensível no texto venha a tino.

Primeiro consideremos o significado de Pisom. A palavra hebraica que lhe dá


origem, dá entendimento tanto de "espalhado" como de "aumento". Essa primeira
informação, nos remete ao sentido de que o conhecimento da espiritualidade
aumentaria e se espalharia pelo mundo. Parece também um recado aos que
detinham o conhecimento primordial da espiritualidade de como deveriam lidar
com os povos que o acessariam.

A segunda informação é que ele circunda a terra de Havilá.

A única coisa que temos a respeito é que Havilá fora um filho de Cuxe (I Cron.
1:9), neto de Noé. Portanto Havilá teria sido uma terra habitada pelos descendentes
de um bisneto desse importante patriarca. Entretanto, o dado não parece nada
esclarecedor, até compreendermos o significado tanto de uma quanto de outra
nomenclatura. Havilá significa "Círculo", enquanto outras traduções o tem por
"Arenoso." Cuxe entretanto, significa Preto.

Preto, no caso, talvez não seja uma referência à cor da pele, mas à mentalidade
obscurecida pelo domínio dos desejos humanos. Essa referência seria a tais povos
não banhados pelas vertentes sagradas da compreensão espiritual, advinda do
conhecimento primordial do jardim de Deus.

Já em relação ao significado “arenoso” de Havilá, percebemos a infertilidade do


terreno. A areia é infértil por si mesma. Entretanto, a água ao passar em derredor,
pode mudar essa realidade. Assim se constituem os oásis.

Alguns versos atrás, menciona-se que Deus não havia feito chover sobre a Terra.
Assim, tudo o que existe, é fertilizado por esse rio primordial do Éden. Portanto, a
terra de Havilá pode ser compreendida em sendo esses humanos sequiosos do
conhecimento espiritual, desprovidos do conhecimento das correntes divinas.
Embora um terreno arenoso nada produza, o mesmo possui a fertilidade latente,
necessitando tão somente que as águas o toquem.

O outro significado de Havilá é "círculo." Empiricamente falando, todo o universo


possui tal forma como base, visto o conceito da explosão inicial fomentar a
expansão circular. Essa também é a forma mais econômica da energia se
comportar, possibilitando o surgimento dos corpos materiais.

Trazendo-se o conceito universal à esfera micro, compreendemos que nosso corpo


possui as mesmas regras; e o círculo é um princípio energético tanto universal
quanto humano. As energias que rodeiam nosso invólucro carnal, possuem forma
circular, de modo que o ser astral é um potente círculo energético. Assim, o rio
espiritual do Éden, possui a capacidade de banhar nosso circulo energético infértil,
transformando nossa capa arenosa humana, em terra potencialmente fértil.

As outras informações que aparecem a respeito da terra de Havilá também nos são
surpreendentes. Nela “há ouro. E o ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio, e a
pedra sardônica.”

O ouro é o mais nobre dos metais e o mais cobiçado dentre os homens. Símbolo de
nobreza absoluta, os reis demonstravam superioridade, confeccionando armações
coronárias com este precioso metal e empunhando no alto de suas cabeças. Uma
tradição que atravessou séculos e é mantida até hoje.

O ouro significa o máximo de pureza e perfeição. E sobre isso há farta referência


na Bíblia, sendo desnecessário ater-se ao assunto. Em adendo à informação, a
narrativa diz que o ouro dessa terra é bom.
Assim sendo, esse primeiro braço do rio, nos traz à lembrança da importância que
o ser humano possui. Ainda que estejam secos; arenosos e sem vida; dentro de
cada um reluz o ouro, o mais nobre dos metais. Dentro de cada um, mesmo
obscurecido e infértil ao circundar a terra obscurecida de Cuxe, brilha o espírito de
Deus, aquele soprado nas narinas do homem no ato da criação. Deus habita no ser
humano de forma literal. Portanto o ouro dessa terra é bom.

Jesus assim responde ao jovem rico ao chama-lo de bom:

“Não há bom senão um só, que é Deus” Mateus 19:17

Assim, a compreensão nos faz crer que Deus é o ouro em nós. O Espírito sagrado
que em nós habita.

Paulo assim afirma:

"Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?" I Cor. 6:19

A palavra hebraica traduzida por Santo é Kadosh, e tem o sentido inicial de


separação; separar ou consagrar para determinado fim. Portanto, Espírito Santo
poderia ser traduzido - sem perda de sentido - por Espírito Separado.

Considerando-se tal linguagem, podemos perceber que - se o Espírito Santo de


Deus habita em nós - o que Paulo está dizendo é que há uma parte do Espírito de
Deus separada dele, dentro de nós. Em outras palavras, que possuímos do
Arquiteto Universal, uma fagulha de sua luz em nosso interior. E essa fagulha
habita nosso interior, ainda que sejamos rudes, maus e inférteis como a terra de
Havilá.

Outrossim, compreendendo a fragmentação do Espírito Santo em cada ser


existente, entenderemos que o Espírito Santo não seja um ser divino como terceira
pessoa da inexistente trindade, mas a consciência coletiva abrangentemente
universal.

Os gnósticos e rosacruzes representam a manifestação do Espírito interior também


como o ouro dourado. Os budistas de igual forma. Nisto vemos o Espírito humano,
nossa parte sacra, superior, aguardando o momento da passagem das águas do
Éden para que se manifeste toda a sua divindade, revelando sua verdadeira imagem
e semelhança de Deus.
Ali há o bdélio, e a pedra sardônica.

O Bdélio é uma goma aromática, retirada da árvore da Mirra, nativa do nordeste da


África e muito presente no Oriente Médio. Este possui cor marrom-avermelhada, e
embora de agradável perfume, quando levado ao paladar é de excessivo amargor.
A árvore da Mirra também é espinhosa e de difícil acesso e manuseio em seu
estado bruto.

Dois desses materiais nos remetem ao nascimento de Cristo.

"E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns
magos vieram do oriente a Jerusalém. E, entrando na casa, acharam o menino
com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros,
ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra." Mateus 2:1 e 11

Antes da manipulação para tornar-se o aromático bdélio, o composto pertence a


uma árvore espinhosa e amarga. Tal representatividade é correlacionada ao mesmo
simbolismo do terreno arenoso, demonstrando o ser humano no precurso do
conhecimento espiritual.

O vermelho também é símbolo do pecado:

"Vinde então, e argüi-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como
a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos
como o carmesim, se tornarão como a branca lã." Isaías 1:18.

Pecado não é a lista infindável das situações proibitivas que algumas religiões
imputam em culpabilidade a seus fiéis (muitas das vezes sob o pretexto de os
manterem em cabresto arrancando-lhe os bens materiais). Pecado é a ligação
escravista com as paixões deste mundo, impeditivas de alcançar a luz.

E a luz, esta por sua vez, fragmenta-se em nossa percepção em sete cores, sendo o
vermelho a primeira delas. Abaixo - no negro - está o infravermelho. O vermelho é
assim, a cor mais próxima das trevas. O bdélio, por sua vez, é marrom-
avermelhado, estando também próxima destas. Entretanto, manuseando-a
corretamente, produzirá seu aroma, pois em seu interior pulsa seu real valor.

A última informação a respeito do rio Pisom é que a terra de Havilá, circundada


por este, possui também a pedra sardônica.
Tal pedra poucas vezes é mencionada na Bíblia e algumas destas não é possível
perceber diferença entre a pedra Sárdio, salvo em Apocalipse 21:20, onde são
contadas de forma separada. Entretanto, num modo geral, ambas significam o
mesmo.

O assunto relativo às pedras na Bíblia é complexo, e adentrar-se aos seus


significados resultaria em um grande compêndio. As associações portanto, neste
momento, devem cumprir um aspecto superficial; pontual dentro do contexto.

As referências mais importantes relacionadas a esta em específico, encontram-se


em dois trechos distintos: No peitoral do sacerdote, representando as doze tribos de
Israel (Ex. 39:8-14), e nas doze pedras fundamentais da cidade santa (Apoc. 21:18-
20).

Considerando o número em que se encontram dispostas nesses dois aspectos,


compreendemos que tratam das doze constelações do zodíaco e dos doze meses do
ano. Em fator pontual, entretanto, é importante considerar o sentido do
microcosmo individual para que sua parte maior se compreenda.

Nesse foco, a descrição e propriedades dessa pedra revela o que estamos buscando;
e encontramos factual ligação com o Bdélio em relação à sua cor, também
vermelha. Alguns povos a rotularam de pedra de sangue.

Porém, ampliando-se a questão do rio do Éden e a correlação com sua fertilização


espiritual, encontramos em apocalipse 4 a menção de que a cor daquele que está
assentado no trono de Deus é também da pedra Sardônica. Assim, é possível
estabelecer um elo perfeito entre esta e o Bdélio, bem como ao Ouro, que
representa a pureza do Espírito de Deus em nós.

"E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra jaspe e


sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono, e parecia semelhante à
esmeralda." Apocalipse 4:3

O Jaspe - colocado aqui não sem significado – também é uma pedra vermelha,
adicionada de listras pretas. Sobre o trono vibra o Arco Celeste.

O vermelho, como já vimos, é a primeira cor do arco-íris. Além do pecado, este


representa também o sangue, a vida e a ligação com o mundo. E assim como é o
arco-íris, nosso corpo também dota-se de sete chacras (pontos de travessia de
energia), com as mesmas cores. O primeiro – chamado de o telúrico - possui a cor
vermelha e ligado diretamente à Terra, à vida biológica e aos sentimentos mais
primitivos. Assim, a primeira vertente do rio do Éden, trata exatamente dessa
questão, da ligação perpétua do homem com a Terra; porém o ouro da nobreza do
espírito em suas entranhas concede-lhe a possibilidade de libertação de tais
amarras. É necessário que o rio da vida passe para que a fertilidade o desperte deste
estado latente de espiritualidade não alcançada. Assim, tornar-se-á como o próprio
que se assenta no trono divino.

A pedra sardônica - também chamada de Sárdio - possui dentro do misticismo,


definições que muito se assemelham com as colocações aqui explanadas.

"O Sárdio é uma pedra muito especial que é inclusive citada em alguns trechos da
Bíblia sendo usada como pedra principal do peitoral dos sumos sacerdotes e
também usada pelo rei de Tiro."

"O Sárdio é uma poderosíssima pedra de proteção contra todos os tipos de


energias e influências negativas. Ele é muito utilizado para atrair boas energias e
proteção para casas, escritórios e templos, sendo inclusive utilizada na fundação
do estado de Israel com esta finalidade."

"No corpo físico, o Sárdio é uma pedra extremamente ligada a efeitos positivos na
circulação, pressão sanguínea e saúde do coração."

https://cursosextensao.usp.br/pluginfile.php/103645/mod_resource/content/1/Livro
_Cristais_Aquarius.pdf, podemos ler o seguinte a respeito desta pedra:

Podemos compreender por fim, que a menção desta pedra na terra em que circula o
primeiro braço do rio do Éden, é referência evidente ao que se refere ao ser carnal.
Ao mesmo tempo, implica-se que em seu lado purificado, remeta ao divino da
vida.

"E o nome do segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de Cuxe." Gen.
2:13

Partindo para o segundo rio, encontraremos a mesma barreira no literalismo do


texto. Este nunca existiu. Portanto, trata-se de algo simbólico devendo de igual
forma estudar-se sob a ótica da espiritualidade.
O significado da palavra Giom é "irrompendo". Sobre Giom - diferente dos vários
detalhes remetidos a Pisom - poucas informações lhe são acrescidas. Apenas
atravessa a terra de Cuxe.

Conforme mencionado anteriormente, Cuxe significa preto. Assim,


compreendemos que o objetivo do rio do Éden é irromper sobre as trevas, levando
vida aos povos imersos em escuridão espiritual. Trata-se do estado latente da
ignorância, do véu da obscuridade. É o tempo em que o conhecimento ainda não se
despertou; tempo da escuridão da alma; enquanto Pisom, por outro lado, aborda a
superfície da alma. Assim, o ser banhado pelo rio do Éden, ganha vida e irrompe
sobre as trevas que lhe apavora.

"E o nome do terceiro rio é Tigre; este é o que vai para o lado oriental da Assíria;
e o quarto rio é o Eufrates." Gênesis 2:14

Segundo o autor, é importante mencionar apenas que o rio Tigre vai para o lado
oriental da Assíria. Já sobre o Eufrates nada mais é mencionado.

Mencionar a Assíria no segundo capítulo do livro de Gênesis parece-nos estranho.


O povo de Israel nada possuía em relacionamento religioso com esse povo a fim de
que viesse homenageá-lo nas escritas primordiais de seu livro sagrado. Muito pelo
contrário. Os Assírios resultaram em inimigos declarados dos judeus, sendo que as
últimas partes dos livros dos Reis e de Crônicas tratam exatamente dessa inimizade
e posterior subjugo e tomada do território de Israel. Mencionar a Assíria no início
do relato bíblico da criação, além de parecer distante de propósito, evoca uma
patente vergonha para o povo de Israel.

Isto posto, é importante lembrar, que a menção dos rios Tigre e Eufrates num único
verso é uma clara referência à Mesopotâmia, de onde nasceram e declinaram os
mais importantes impérios registrados na história antiga.

Sumério - 4.500 a 2700 AC;

Acádio (Semita) - 2700 a 1900 AC;

Babilônico (Amorita) - 1900 a 1200 AC

Assírio - 1200 a 620 AC

Babilônico (Caldaico) - 620 a 539 AC


Persa - 539 a 332 AC

Estes movimentos sucessivos se deram por povos da região que se levantavam


contra seus exatores. O império decai para um invasor externo apenas em 332 AC -
Alexandre o Grande da Grécia.

Portanto, dado a concepção e menção da Assíria nos primeiros versos do livro,


podemos notar que o registro das escrituras bíblicas se deu entre 1200 a 620 AC.
Assim, as histórias mencionadas no Gênesis mostram-se registradas muito além da
existência do patriarca Moisés, visto que este - segundo a cronologia traçada nas
escrituras - teria nascido em 1571 e morrido em 1491 AC. Portanto Moisés não
poderia escrever tal livro, visto a Assíria simplesmente não existir como nação em
seu período de vida. Isto posto, é factível afirmar que nem o Gênesis e nenhum dos
outros quatro livros do Pentateuco são de autoria mosaica.

O choque com questões históricas nos remete a uma outra área do tempo mais
elucidativa. Conforme visto, a civilização Assíria iniciou seu desenvolvimento por
volta de 1200 AC, sobrevivendo até 620 AC. Moisés teria morrido no mínimo cem
anos antes do surgimento desse povo. E ainda que o fossem contemporâneos,
muito estranho seria que conhecesse a Assíria, visto as limitações geográficas entre
o Egito e a Mesopotâmia. Portanto, é de simplicidade lógica, acreditar que o autor
factual dos textos atribuídos a Moisés, tenha vivido no auge da história Assíria,
quando esta já se tornara um poderoso império. Aliás, é corrente comum entre
teólogos que as histórias contadas até à época do Rei Josias - exatamente por volta
do ano 600 Ac - se fizeram por tradições orais, sem registros anteriores. Este rei de
Israel afirmou encontrar o livro da lei, entregando-o aos escribas para a cópia (II
Cron. 34). O livro da Lei ali mencionado é uma referência evidente ao Pentateuco,
onde se codificaram todas as leis que regeram Israel em sua identidade como povo.
Assim, é cristalino que o que conhecemos a respeito do Antigo Testamento -
atribuído a tantos homens santos e inspirados - não tenha passado de fruto das
mãos de um pequeno grupo de homens contratados por Josias, exatamente para tal
finalidade. E se assim for, toda a história inexistente de Israel e suas milagrosas
vitórias sobre povos (que não as registraram em seus achados arqueológicos),
tenham advindo de toda a mistificação inseridas por estes, com objetivo de criar
uma história que - além de lhes conceder identidade histórica - serviria também
como base mitológica para o encontro espiritual que todas as outras nações
apregoavam. Portanto, ainda que historicamente irreal, a riqueza contida nos
simbolismos desses livros codificados, nos remete à própria história humana, desde
sua queda de um mundo superior, até sua recondução a uma esfera celeste.
O lado oriental da Assíria aqui mencionado é mais uma vez interessante, visto que
de novo, o Oriente é mencionado. O jardim dispunha-se ao oriente da terra de
Éden, e por sua vez um dos braços do rio corria para o oriente da terra da Assíria.
Como já dito, o Oriente é onde o sol nasce, e esta passagem parece demonstrar que
o Rio da Vida margeou a Assíria. Sendo verdade, o autor está dizendo que os
conhecimentos adquiridos sobre a espiritualidade em que se basearam as crenças
judaicas, estiveram residindo na Assíria em seus primórdios de codificação. E uma
vez que o povo de Israel - exatamente no período de escrituração da Bíblia - esteve
cativo por esse povo, é muito provável que de lá tenha extraído a base para suas
crenças.

Tal assertiva pode se verificar diante das coincidências quase lineares e paralelas à
crença judaica com o principal profeta desse povo, Zoroastro, que nascera por volta
de 660 Ac, trazendo a ideia de um Deus único, a vinda de um messias, a
ressurreição dos mortos e o julgamento final - além de um sem fim de doutrinas
conhecidas no bojo judaico-cristão. Na verdade, quando estudado com
profundidade, é possível perceber uma íntima relação entre os ensinos de Zoroastro
e os mosaicos, sugerindo assim que o patriarca Moisés tenha sido um arquétipo
desse profeta.

Retornando-se na História, na mesma região mesopotâmica, entre 1810 e 1750 AC,


Hamurabi teria vencido o império Acádio, e estabelecido o primeiro império
babilônico, com um Código de conduta cuja semelhança com os mandamentos
hebraicos não se pode ter como mera coincidência. Resta-nos assim deduzir que a
Bíblia hebraica em sua primazia, nada mais foi do que um amálgama de costumes,
leis e histórias, cujo escopo nascera factualmente entre os rios Tigre e Eufrates.

Até mesmo a semana de sete dias baseada nos ciclo lunares é uma cópia do
calendário assírio, muito embora o povo hebreu tenha - segundo a Bíblia - vivido
430 anos no Egito, que na verdade possuía uma semana de dez dias e dos quais
deveria absorver os costumes, como foi o caso da língua babilônica - o aramaico -
herdada pelo povo de Israel ao se passar somente 70 anos no cativeiro. A língua
egípcia deveria ser a corrente entre esse, visto que o tempo de absorção da cultura
teria sido maior. Outrossim a história do cativeiro egípcio não encontrou base em
nenhum achado arqueológico e não coincide com nenhum período histórico real.
Ao que se pode ver, a intimidade dos judeus com os assírios é estreita e no mínimo
curiosa - para não se dizer que é de fato uma cópia quase fiel de seu sistema
religioso. Talvez por isso preferiram registrar que o homem criado por Deus, fora
inserido num jardim situado naquelas terras, visto que o conhecimento espiritual -
representado pelo homem - adveio daquele povo, enquanto o proveniente do Egito
lhe pareceu opressor e desvirtuado.

O Sol, remetendo-se à sua importância do Oriente, não só significa vida, como


também é o centro da roda astrológica, na qual se baseia toda a estrutura mística
dos povos espiritualistas da mesopotâmia.

Os rios Tigre e Eufrates representam o conhecimento espiritual alinhado ao


conhecimento humano, iluminado por esse sol oriental.

"E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o
guardar. E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do
jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal,
dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás."
Gênesis 2:15-17

Chegamos à conclusão do estudo a respeito do Éden. Éden significa retidão.


Retidão remete-nos à ausência de desvios, conduzindo a um único caminho. É
facilmente compreensível tratar-se da emanação primordial da espiritualidade na
Terra, o lugar de onde se brotariam as flores e frutos do conhecimento a respeito da
vida.

Ainda que os povos mesopotâmicos tenham crido que os primeiros conhecimentos


a respeito desse assunto tenha advindo destes – e portanto o jardim da retidão
encontra-se em suas terras – devemos compreender também que a espiritualidade
real não é privilégio de nenhuma nação específica, ainda que seja dotada de maior
conhecimento a respeito. O jardim também floresce dentro do homem
individualmente. Nele estão plantados todos os frutos, flores, animais e sementes
para a realização da vida. Cabe ao homem lavrar e guardar.

Ao homem também é dada a faculdade de alimentar-se intelectualmente de todo o


tipo de fruto, à exceção do da árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

Esta parte controversa da mitologia, parece sugerir que a humanidade deveria


submeter-se a uma ignorância eterna a respeito da existência do bem e do mal.

Entretanto o, não é isso que o texto quer mostrar.

Em primeiro aspecto, uma interpretação mais próxima da realidade, permite


entender com profundidade o teor do texto.
Na fase infante da vida, o homem vive a inocência, ouvidando todos os malefícios
inerentes ao, mundo. Em tese, a criança não é boa nem má. E nisso muitas
correntes filosóficas e psicológicas se debruçarão e tecer teorias as mais diversas e
confrontantes - sugerindo que o homem pode tanto nascer bom e corromper-se aos
ditames do meio, bem como predispor-se a tender para qualquer lado. Entretanto,
em essência, a criança nasce neutra.

Tomando-se tal parte da mitologia em escala micro, voltando-se para a questão


humana em sua infantilidade, podemos afirmar que o desejo inicial da divindade é
que o homem não tome conhecimento a respeito do bem ou do mal a fim de não
danificar-lhe a pureza. Portanto, não relaciona-se ao desejo da ignorância, visto que
de todas as árvores o consumo estaria liberado. O desejo seria que o homem não
experimentasse um fruto do que o levaria à dualidade, num contrapeso revezatório
que lhe subtrairia a paz.

Podemos inferir que o bem e o mal não existem factualmente, sendo frutos tão
somente da imaginação e comportamento humanos.

Observemos a natureza. Os animais não sobrepõe-se em bondade ou maldade. Sua


natureza é neutra, ainda que para sobreviver, alimentem-se de outros. Mas onde
residiria o problema, uma vez que a vida é eterna e apenas os corpos transitórios?

De igual forma, a Terra em si, ao dispersar os elementos, gerando a morte de seus


filhos, não veste-se de bondade e maldade. Ela simplesmente se move. Portanto, a
bondade e a maldade são atribuições humanas dentro de sua pontualidade visual. É
de tal comportamento degenerativo que a divindade Elohim deseja poupar a
humanidade.

Assim, ao criar o conceito de bem e mal, o homem entraria numa eterna dança
dualistíca, cuja libertação adviria tão somente por intermédio do amor. Não o amor
erótico ou o que conlui para a possessividade de outrem, mas o amor desprendido,
que flui, que enxerga a todos igualmente, sem a necessidade de contrapor o bem e
o mal - pois que o amor universal se exime de tal prerrogativa.

É ainda importante ressaltar, que a existência do bem e do mal, além de fruto da


mente humana, é também completamente relativo, pois varia pelo ponto de vista. O
bem e o mal é individual. Num vislumbre figurativo citemos o ladrão. No ato da
prática subtrativa do pertence de outrem, este pratica o bem para si e o mal para o
próximo. Portanto é dessa relatividade que a divindade deseja poupar a
humanidade. O amor transcende ao ato. Um ser dotado de amor está isento da
prática de tal. Portanto, as leis regulatórias da humanidade se elaboraram, não
devido à existência do bem e o do mal, mas em virtude da ausência do amor. Onde
há amor não há lei, pois esta faz-se desnecessária. Portanto, entrando na dualidade
do bem e do mal, o homem certamente morrerá.

A Mulher

"E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
ajudadora idônea para ele. Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo
o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como
lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu
nome. E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal
do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea.
Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e
tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar;
E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-
a a Adão." Gênesis 2:18-22

Deste texto compreendemos que primeiramente, para a existência do homem -


compreensível como a parte superior da alma humana - os animais – representando
o corpo emocional em variação do instinto à intuição – uma parte tangível deveria
existir para concluir o equilíbrio. Como vimos, o homem é a parte etérica do ser; a
alma; o conjunto espiritual que se casará mais à frente com a matéria. Enquanto
que os animais representam os sentimentos e características humanas; aquilo que o
liga ao plano terreno. É o intermediário entre o homem e a mulher. Disso, temos as
junções psicológicas e comportamentos relacionados a tais.

Nos primeiros capítulos de Genesis compreendemos tais representações.


Entretanto, algo ainda ausentava-se do homem para a completude da encarnação
terrestre. Existiria a necessidade do surgimento de um laço material; um invólucro
adaptável ao meio terrestre. Algo regesse o corpo encarnado; que lhe preservasse a
vida enquanto na carne neste mundo complexo.

Então é criada a mulher.

Grosso modo, digamos que a mulher é o corpo físico. Porém, não somente a carne
detentora do espírito (os dois são uma só carne), mas a regência instintiva terrestre.
O corpo instintivo, protetor, reprodutor. A mulher é o único modo possível da
encarnação da alma.

A mulher, no sentido literal, explica o motivo do mito transparecer que se trata do


corpo físico instintivo carnal.

Há um gracejo popular de que a criara Deus como derradeiro ato de seu trabalho,
visto que se a fizesse existir em algum momento anterior, não seria possível os
demais afazeres, dado a intromissão a que se prestaria.

Apesar do cunho anedótico, esta inferência nos parece uma verdade pungente. A
mulher é o mais expressivo dos seres, de uma complexidade infinita e uma
percepção absurda a respeito do mundo material, tendo inclusive em si, uma
predisposição a faculdades extra-sensoriais. Sem esta, o mundo careceria de cor.
Não adviriam as indagações, questionamentos, e principalmente o amor,
expressado vividamente pela maternidade a esta inata.

Assim, a mulher é a expressão materializada da mãe terra, que acolhe seus filhos
de forma graciosa, e doa parte de si para a manutenção. E assim como uma mãe,
reage a cada exagero proveniente do mau uso de seus donativos, fustigando os que
lhe desafiam.

O homem é representado pelos elementos de inserção: fogo e ar. A mulher os


receptivos: terra e a água.

Indagativa e questionadora, encontramos a criação da mulher em virtude da


racionalidade difusa, não muito condizente no homem. A dualidade dos sexos
possibilita o equilíbrio, representando o casamento perfeito entre corpo e espírito.

O mundo material é pontuado pela mulher. Ao homem é dada a mente lógica, reta,
objetiva; à mulher, o raciocínio relativo, condizente com a preservação, o
acolhimento. Não possui linearidade obrigatória, fazendo assim, a entrega aos
ditames da preservação da vida, ligados ao instinto materno de amor incondicional.

A narrativa bíblia parece colaborar com ideia da não linearidade feminina do


pensamento, ao alertar a Adão que lhe autorizaria comer de todas as árvores do
Jardim, à exceção do Conhecimento do bem e do mal. O homem compreende a
advertência de morte em consequência de um ato. Mas com a mulher o jogo não
seria assim tão simples.
Aqui falamos do jardim paradisíaco e da famigerada Árvore do Conhecimento do
Bem e do Mal, representando a dualidade da qual o ser humano tornar-se-ia
escravo. Assim, estamos em um contexto dicotômico - ou como diriam os
rosacruzes - dialético. Tratamos do campo humano onde se assentam o Bem e o
Mal, em uma roda de revezamentos infindáveis, enquanto nessa luta, a Árvore da
Vida é esquecida, conforme veremos mais adiante.

A mulher representa o pólo negativo do ser humano; sua parte terrestre. E como
vimos, o negativo não representa maldade por tratar-se de fruto da mente humana
deturpando o significado das forças cósmicas. O pólo negativo é o complemento
do positivo; e um sem outro não frutifica. Portanto, o negativo em si não tem
prerrogativas maléficas. Ao contrário. Tal força é necessária para a existência do
equilíbrio. Sem o negativo não há movimento. Portanto o universo assim se
estabelece.

Porém, quando tal força tende desequilibradamente para um lado da balança,


entrará em espiral e se perderá. Por conta de tal desequilíbrio, a divindade maior,
nos chamará de volta à neutralidade - não para ausência de movimento - mas para
o novo encontro com a essência do amor, o qual não está nos pólos e sim no
núcleo. E neste, por sua vez, se encontra o centro atômico, que em viagem mais
profunda se dividirá em quarks e por fim no mundo quântico, onde as leis se regem
pelas vibrações das cordas.

A separação por sexos entre os animais é sinal da patente evolução ocorrida nos
seres energeticamente criados sobre o globo. Os unicelulares ou assexuados, ao
passo que representantes de uma comodidade letárgica para com a vida, possuem
consciência infinitamente menor e não necessitam explorar o mundo para
sobrevivência. A separação por sexos - dando funções diferentes a ambos -
possibilitou o espalhar-se pela Terra, culminando na existência do homem. E este
por fim, mostrou-se como um amálgama entre o espiritual e o carnal (muito
embora a existência de espírito e consciência pós morte também esteja presente nos
outros seres deste planeta experimental). A separação pelos sexos nos animais,
possibilitou a evolução de suas condições físicas essenciais e posteriormente, da
consciência humana e a compreensão da vida transcendente ao físico.

A mulher, nessa dança dicotômica, nos remete a uma questão mais profunda.

Este espírito humano inserido no jardim projeta-se em duas representações.


A primeira é o desenvolvimento natural evolutivo das espécies. Os animais surgem
primeiro e sua natureza fará parte da essência que identificará o homem moderno.
Porém, este homem no sentido de alma, a qual o mito bíblico se presta a narrar,
não virtua-se de uma origem terrestre..

Essa “criação” nos remete a uma outra e complexa história, de que seres
expurgados de uma longínqua região do universo, tenha batido às portas da Terra.
E tais seres seriam muito mais evoluídos do que a raça símia, que até então
dominava pouco mais que as pedras.

Antes de mais nada, é necessário explicar que a as leis de atração do universo


reorganiza os habitantes dos mundos conforme sua vibração. Assim, aqueles que
não acompanham a evolução de seus habitats, são remetidos a outros que estejam
condizentes com sua mentalidade, ajudando também, a evoluir aqueles que ali
estão estagnados.

É importante salientar, que a história factoide não registrada na Bíblia, versada na


queda do diabo, não possui nenhuma relação com o expurgo tratado no momento,
referente à criação do homem.

Edgard Armond, no clássico espírita “Os Exilados de Capela”, assim explica o


surgimento desse homem adâmico:

“Há muitos milênios, um dos orbes da constelação do Cocheiro, que guarda


muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus
extraordinários ciclos evolutivos. Alguns milhões de espíritos rebeldes lá existiam,
no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas
conquistas daqueles povos cheios de piedades de de virtudes. As grandes
comunidades espirituais, diretoras do Cosmo, deliberaram então, localizar
aquelas entidades pertinazes no crimes, aqui na Terra longínqua.”

Disso temos a parte maior do surgimento desse homem adâmico. Embora inserido
no jardim do conhecimento de Deus, teria de passar novamente pela prova de não
atentar-se ao fruto do bem e do mal, aquele que o fizera cair de seu mundo original.
Para sua missão na Terra em busca da evolução, tais espíritos encarnariam em
corpos semi preparados para sua evolução, tornando ambos uma só carne. Os
corpos seriam dos seres já aqui evoluídos. E estes corpos estariam representados
pela mulher.
Van Rijckenborgh, no livro "Filosofia Elementar da Rosacruz Moderna" assim
expressa a questão:

"A história do gênero humano prova-nos que esta queda realmente aconteceu e foi
seguida de consequências desastrosas. O homem perdeu a sua pré-memória e fez
com que diversas forças e correntes naturais deste campo de vida se tornassem
ímpias. Assim, ele propagou o mal como se fosse um câncer, contaminando com
ele todo o campo de vida, pois, embora separado de Deus, o homem sempre
continuou sendo um mago. O mal se tornou possível pelo desenvolvimento
excessivo que o homem causou por meio da energia conhecida como feminina: daí
veio a lenda de Eva.

O bem, como contra-pólo do mal, se encontrou numa situação cada vez mais
difícil e o resultado disso é uma dialética cada vez mais difícil e absolutamente
deplorável e pecadora. Esse bem aparentemente, complementa e responde à
dialética natural deste campo de vida pelo nascimento e morte, pelo nascer,
crescer e morrer, pelo satanismo avassalador, pela extrema dificuldade de retorno
a estados relativos bons.

O que agora é mal, originalmente era a segunda energia imaculada, a contraparte


da outra energia que hoje denominamos bem. Essa segunda energia é a energia
feminina, porém atualmente limitada e profanada. É por isso que a natureza do
mal é sempre negativa e sua atividade conduz inevitavelmente a resultados
negativos." Filosofia Elementar da Rosacruz, 5ª Edição, P. 93

Podemos inferir que a negatividade representada pela mulher, de fato não possui
nenhuma conexão com o mal. Sim, e é desse campo de logismos infrutíferos que
precisamos nos libertar. Ao fixarmos algo como bom ou mal, endurecemos nossas
mentes e despimo-nos da figura cósmica divina. Nela nada é fixo. E é pela energia
do movimento que o que em nossa visão limitada hoje é mal, tornar-se-á bom no
vai-e-vem dos acontecimentos. Ademias, é prudente lembrarmos que o bem e o
mal está no ponto de vista individual. E esse ponto de vista irracional gera a
divisão na humanidade, culminando em conflitos, guerras, mortes e por fim, um
giro infindável na roda kármica, onde jamais quita-se as dívidas adquiridas por
conta da ignorância.

Entretanto, ao purificar-se dessa ignorância; ao limpar-se desse composto dialético


pouco inteligente e aprisionador; veremos a mulher representada pela virgem
imaculada do Cristo. Enquanto a mulher no sentido desequilibrado torna-se
prostituta, conforme Apocalipse 17. De igual forma o homem limpo é representado
pelo caráter divino, enquanto o corrupto é comutado com Satanás, a Antiga
Serpente.

Para efeito de um minucioso e prático entendimento sobre a questão da polaridade,


resta-nos observar a morfologia física humana. O homem se insere literalmente na
mulher através do falo, possibilitando a reprodução. Desta forma, o homem é o
espírito (Ou alma, o intelecto e emoções superiores) e a mulher o corpo (Ou a
parte inferior composta pelos desejos conscientes de manutenção da espécie e auto-
preservação, representados pelo sexo e o alimento). Assim, o corpo físico, com
todas as suas complicações, questionamentos e complexidades, é a mulher da
mitologia edênica, ao passo que o homem é a natureza espiritual no sentido de
superioridade dos sentimentos; o pólo positivo da dicotomia vital.

Sendo a mulher a natureza carnal em equilíbrio - possibilitando a preservação e


manutenção da vida - temos os pólos positivo e negativo trabalhando em perfeita
harmonia, sem necessariamente a pecha irracional de uma dicotomia entre o bem e
o mal.

Levando-se em consideração a parte mítica do texto, entendemos que todas as


faculdades do espírito (representadas pelos animais), não permitiria ao homem a
sobrevivência terrestre sem os instintos de manutenção da vida, tal como a Terra
comove-se com os seres em seu aspecto maternal. Assim, nenhuma das fêmeas dos
animais poderia se constituir como ajudadora idônea para o homem, visto a
necessidade de adiantamento intelectual para a inserção de um espírito evoluído
advindo de outra região cósmica. O corpo propício para a encarnação humana seria
preparado por uma projeção astral em simbiose com a qualidade espiritual
conveniente a esses seres advindos de outra rede do Universo.

***

Ainda neste contexto, percebemos outras particularidades do mito que acodem para
o melhor entendimento da narrativa.

A primeira é o homem receber um nome: Adão.

Este homem, agora com nome, pode nomear também os animais.

O nome de Adão é sua identidade e sua consciência de si. Tal consciência


possibilita-lhe a identificação dos animais com os quais conviverá dentro de si.
A segunda particularidade é o próprio nome. Adam, que é parte da palavra
Adamah, que significa Terra. O homem é agora parte da terra.

O nome de Adão também possui outras características:

"Na Bíblia, o homem nos é apresentado como A.D.M.: três sons traduzidos por
Adão. Estes três sons, designam respectivamente: o espírito, a alma e o corpo. E
correspondem cabalisticamente ao número 1440 = 9, da seguinte maneira: a letra
A é Aleph, o número 1, o número que indica a gênese, a manifestação, a fonte de
onde tudo provém: o espírito. A letra D é Daleth, o número 4, o regulamentador
ou a porta: a qualificação típica das funções da alma. A letra M é Mem, o número
40. o conduidor, o realizador, o executor: a forma corpórea. Portanto, a palavra
"Adão" nunca indica um indivíduo, mas representa a humanidade considerada
como um todo, isto é, de acordo com sua manifestação de espírito, alma e corpo."
Filosofia Elementar da Rosacruz, P. 104

Entendendo-se que a mulher é constituída a partir da costela de Adão, sendo parte


dele, a concepção desse grupo, em nada conflitua com as já existentes.

Existe ainda outra corrente afirmando que tal nome tenha se originado do
Sânscrito.

O Sânscrito é a base das línguas do oriente maior, e a referência a essa parte do


planeta encontra-se espalhada em toda a Bíblia. São as terras do sol nascente.

Nada impede-nos que - numa visão mais ampla – entender que o jardim do Éden
refira-se não só às terras mesopotâmicas, como ao Oriente da Terra, fazendo crer
que os povos do Oriente levaram em vertentes migratórias, seu conhecimento
religioso aos povos da região onde a Bíblia fora escriturada. A história da Torre de
Babel pode bem explicar essa separação de “línguas religiosas” ocorrida após a
partilha dos segredos espirituais.

Portanto, partindo-se da hipótese de que os povos do Oriente Médio tenham se


encontrado com os do Oriente Maior, alguns sugerem que a palavra Adão tenha
advindo do sânscrito "Adi-Aham", que literalmente significa "Primeiro Ego".

Considerando-se tal significado, o entendimento aprofunda-se um pouco mais.


Na psicologia, o significado para "espírito" está bem mais próximo desta lógica de
ego do que da origem do barro. O primeiro ego é parte da infância, e corrobora
com a questão da maternidade a que aludimos na narrativa da criação.

A terceira sutileza advém exatamente do absurdo biológico em se passar à frente


de Adão as variadas espécies animais, a fim de que este buscasse uma companheira
para si. Um Deus perfeito jamais se daria a tal desplante.

O texto é uma referência ao poder superior do intelecto humano em relação aos


animais em seu arquétipo simbólico, bem como ao domínio que exerce nestes.
Evidentemente, a alusão aos animais em questão de subordinação, é
paulatinamente mais ampla, uma vez que os animais são símbolos de nossos
temperamentos e faculdades instintivas, cabendo a nós o domínio.

Entretanto, a mulher não deveria advir tão somente do fruto dos temperamentos. O
corpo adequado a receber o espírito superior criado por Deus, tendo como matéria
prima a essência da terra, não deveria dispor de meros temperamentos, uma vez
que impossibilitaria o progresso, evolução e manutenção do homem sobre a Terra.
Para tanto, a companheira de Adão deveria ver-se tão superior quanto sua própria
natureza divina.

Como já vimos, o ser humano é composto por sete centros de energia principais ao
qual denominamos chacras. Embora para muitos tal afirmação seja absurda, para
aqueles que experimentaram o recair das escamas do desvendamento dimensional,
é verdade vital.

Assim, os que podem vislumbrar esses centros energéticos, encantam-se à primeira


vista - como é o caso do autor - e por força de compreensão, buscam o
conhecimento a respeito desses "rodamoinhos" energéticos, encontrando farto
material a respeito do assunto.

Mencionamos tal composição corpórea de natureza sutil, a fim de compreendermos


a atuação dos pólos positivos e negativos no homem o qual, em lógica científica,
funciona como todos os mais elementos do universo, girando em torno de um
núcleo. Desta feita, temos três chacras inferiores; um central e três superiores.

No site luzdaserra.com.br encontramos a forma mais didática sobre tais pontos de


energia, do qual reproduzimos alguns trechos.
1º Chacra - Telúrico - É de ligação com a Terra, e rege as glândulas supra renais e
os dispositivos instintivos de sobrevivência, como o disparo da adrenalina em caso
e perigo ou iminente de morte. É responsável também pela circulação do sangue e
pelo estímulo da energia no corpo.

"O chacra básico apresenta a cor vermelha, e, como já vimos, é ligado ao


elemento terra, e rege também os órgãos que dão estrutura ao corpo (ossos,
músculos, coluna vertebral, quadris), às pernas e aos pés. Dessa forma, esse
chacra nos oferece um suporte, uma estrutura para vivermos no plano terrestre,
pois é ele que nos conecta à terra, à existência."

2º Chacra - Sexual - É o chacra responsável pela manutenção da espécie e se


localiza na região dos testículos ou ovários. Sua cor é o Laranja. Rege, além da
sexualidade, o poder de ação, do prazer e da vontade de viver. Perceberemos que
Freud se debruçará exatamente sobre os problemas psíquicos causados pelo
desequilíbrio dessa força orgânica - problema patente em sua época, dado às
tradições desencadeadoras do tolhimento dessa energia.

"O chacra sexual energiza toda a área genital e urinária, também cuida da
filtragem e circulação de líquidos nos rins e por expelir todas as excreções do
corpo. É regido pela Lua (por isso tão vinculado ao feminino, à sexualidade, à
maternidade e à criação) e pelo elemento água (vinculado ao liquido amniótico,
às relações interpessoais, à autoestima, ao amor-próprio)."

3º Chacra - Umbilical - Por sua localização, está associado à auto-manutenção; à


sobrevivência no que diz respeito à preservação do próprio ser. Visto que a isso se
destina, este chacra corresponde ao desejo do alimentar-se e aos prazeres nele
envolvidos.

"O plexo solar controla a região das vísceras, e não é à toa que todas as emoções
densas e viscerais (como paixão e desejo) se acumulam nessa região. Ele é
responsável por absorver a energia dos alimentos e distribui-la para todo o corpo.
É um dos chacras mais suscetíveis a nossa rotina. A maioria das pessoas sofrem
com algum problema físico nesta região, como gastrite, problemas estomacais,
diabetes, ou outros problemas digestivos."

Os três chacras mencionados, estão ligado à parte inferior do ser, porém não no
sentido depreciativo da palavra, mas naquilo que podemos dizer: auxiliador do
homem, mantendo-o vivo sobre a Terra. Esses três pontos sensíveis de energia,
realizam a manutenção do corpo sobre o planeta, com qualidades maternais; de
consciência carnal; manutenção da espécie e da própria vida. Estes chacras
representam a mulher.

Como não é a questão do momento, falaremos mais sobre esses pontos de energia
em outra oportunidade, visto o foco necessário a se manter.

O quarto chacra, o qual já foi mencionado, corresponde ao centro do ser, sendo que
e em seu interior repouse o núcleo da vida, o motor central que nos faz divinos. A
ativação de sua centelha é o foco de todas as religiões do mundo antigo. Esta é o
Espírito Divino no homem e será representado mais tarde por Jesus. Os outros três
chacras superiores, correspondem aos estados evoluídos da alma, representando a
fala, a mente e a consciência espiritual. Este no caso é o homem, a alma, o ser
superior que deve dominar a mulher. O ponto de energia vital – divina – deverá
subir pelos três seguintes e terminar sua jornada no monte caveira, o interior da
mente humana, cumprindo sua missão de salvação.

Isto posto, podemos nos livrar dos conceitos misóginos que pautaram as sociedades
antigas e muitas das modernas na atualidade, entendendo que a mulher no cerne da
questão da inferioridade em relação ao homem, não diz respeito ao ser biológico
gerador da vida, mas à parte da carnalidade a ser vencida, não no sentido
depreciativo, mas na condução à harmonia dos instintos de preservação,
correspondendo à superioridade dos três centros superiores. Assim, o chacra
cardíaco em harmonia com os superiores e inferiores, proporcionarão um equilíbrio
que o fará no céu ainda em terra.

Resumindo-se por final a questão, podemos inferir sem mínima dúvida, que a
mulher em questão, é o corpo físico dos primeiros seres símios, mais próximos do
que nossa espécie é hoje.

Notemos que o texto também afirma que antes de criar a mulher, todos os animais
passaram diante de Adão e nenhum destes se mostrou adequado. Tal passagem, é
claro sinal da evolução das espécies. Como nenhum destes servira-lhe para a
habitação, foi necessário a criação de um invólucro adequado, condizente com a
natureza de seu intelecto. Entretanto, ainda que o corpo tenha se provido de uma
imagem adequada, os instintos inerentes à sua origem e evolução terrestres,
estariam presentes, cabendo ao homem – a parte superior da alma – infringi-lhes
submissão.
Assim, compreendemos Paulo no sentido místico da questão, ao despojarmo-nos
dos conceitos obscuros que criou a divisão insana entre os sexos:

"As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido
falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender
alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é
vergonhoso que as mulheres falem na igreja." 1 Coríntios 14:34,35

Compreendendo que a mulher é uma referência aos instintos inferiores, o conselho


de Paulo é perfeitamente compreensível e, portanto, correto. Pois ao passo que a
isso ordena, também ensina o amor que o homem deve dedicar à mulher:

"Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si
mesmo se entregou por ela." Efésios 5:25

Assim, compreendemos que no aspecto mítico do Gênesis, a mulher - a qual levará


o homem à tentação em provar do fruto do conhecimento do bem e do mal - é a
representatividade do corpo físico humano, que em desarmonia à alma (distante
dela), cria campos de enlaces ao plano terreno, à sexualidade desproporcional e à
glutonaria, fazendo com que os prazeres inerentes à vida na carne, sejam a razão
pelo apego do homem ao plano terrestre, em detrimento de sua origem divina.

***

Prosseguindo ainda na composição desta complexa parte do ser, veremos que a


mulher é criada de uma da costelas do homem, e em seguida cerra-se com carne o
ponto de extração.

Primeiramente devemos ter em mente que a matéria visível aos olhos é tão
somente energia condensada. Em essência, não existe matéria, mas energia
densificada. Porém, para além de tal inquietação, devemos entender que o corpo
físico é tão somente continuidade do etérico, num enlace matrimonial possibilitante
de novas experiência e conhecimentos inerentes tão somente neste campo.
Ademais, as questões que envolvem o conhecimento dos espíritos criados por
Deus, necessitam de exercícios em todos os campos de existência, para que
abranjam uma evolução necessária à sua total lapidação. Assim, temos aqui a
necessidade do corpo físico, para que, além da depuração espiritual,
experimentemos o conhecimento em todos os campos do Universo
multidimensional, do qual fazemos parte um com Deus.
Desta forma, a mulher é parte do espírito e em razão da encarnação, não se
distingue um do outro. Portanto, cerra-se com carne. Isto posto, temos que é o
espírito que escolhe a forma do corpo em que nascerá e não o corpo que depois de
pronto receberá o espírito. Temos então que é do homem que se retira a mulher e
não o contrário.

Em relação à matéria correspondente ao corpo advir de uma das costelas,


entendemos que refere-se tanto a diversos aspectos relativos ao espírito, como das
dimensões do tempo e do espaço.

Possuímos exatamente 24 costelas, o que na Bíblia é outro número chave, visto


referir-se ao tempo, dado as 24 horas no dia.

Ao adentrarmos nesta visão, volveremos à criação do homem do pó da terra.

Perceberemos que o pó, não somente se refere à composição física, quando


observado no campo literal, mas como referência à temporalidade fragmentada do
homem na carne, quando comparado ao tempo de existência do planeta. O tempo
do homem como espírito é superior. Porém se comparado à Terra, comuta-se como
pó. A mulher, por sua vez, é ainda menor que o homem. Um de 24 faz-nos
entender que o corpo é um fragmento do pó, do qual o homem é criado. Sendo o
humano em sua consciência/alma, um fragmento de tempo da Terra, a mulher ou o
corpo, corresponde tão somente uma parte da existência dessa alma. Por outro
lado, percebemos que em cada lado do corpo são 12 costelas, o que também é
referência aos meses do ano, bem como às 12 constelações do Zodíaco. De todas as
formas, a questão da criação da mulher é uma relação direta com o tempo ou a
temporalidade finita do ser.

O espírito é eterno, o corpo é transitório. Assim, o corpo é tão somente uma roupa
provisória para o espírito, que se desfará à retirada deste para sua morada anterior.

Outra bela sutileza do texto é a afirmação de que após a retirada da costela, o local
é coberto com carne. Percebemos aqui, que a mulher é uma estrutura firme (osso),
porém envolta e controlada por Adão.

Voltando-se ao campo micro, percebemos que a referência é também pontual


quanto ao ser individual.
A referência à costela na construção do corpo, sugere que o este se desenvolve em
redor do espírito; que o momento da concepção é quando o espírito encarna e inicia
seu processo de desenvolvimento no corpo.

Existem correntes discordantes de tal percepção, sugerindo que o corpo não possui
espírito até determinado tempo da gestação. Entretanto, o Kardecismo, mais uma
vez, se mostra em conformidade com a mitologia bíblica, sugerindo que o
momento do encontro do espermatozóide com o óvulo é também o encontro do
espírito com o corpo.

Respondendo à questão 344 no livro dos Espíritos, Kardec afirma que: "A união
começa na concepção, mas não se completa senão no momento do nascimento.
Desde o momento da concepção, o Espírito designado para tomar determinado
corpo a ele se liga por um laço fluídico, que se vai encurtando cada vez mais, até
o instante em que a criança vem à luz."

Essa ideia parece encaixar-se no texto bíblico com precisão, já que os termos sutis
continuam após a apresentação da mulher a Adão.

"E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta
será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o
homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma
carne." Gên. 2:23 e 24

A palavra "carne" não deixa dúvida que se trata de encarnação. E essa citação ao
casamento, é uma evidente referência do abandono do espírito de sua morada – do
pai e mão celestiais em referência ao divino masculino e feminino - para unir-se
ao corpo carnal e serem os dois um só ser. O homem como espírito, forma um
casamento perfeito com o corpo material e ambos agora são uno. É impossível ao
espírito não perceber-se como o corpo, muito embora a morte encerre o processo.
A experiência na existência carnal estará para sempre registrada no DNA da alma
humana.

"E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam."


Gênesis 2:25

A nudez, não há dúvidas, relaciona-se à inexistência de conhecimento ou


inocência. Não perceber-se nu é a ignorância provocada pela encarnação,
ouvidando o espírito dos seus conhecimento anteriores, acumulados ao longo das
vidas. Uma nova experiência será vivida, seja de aprendizados e provas como
também de acesso a novos conhecimentos.

A Serpente

"Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o
SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não
comereis de toda a árvore do jardim"? Gênesis 3:1

Ao longo das narrativas bíblicas, não é comum referências à serpente que induziu a
mulher a provar do conhecimento. A serpente não enganou a mulher, embora Eva
utilize esse argumento junto à Deus um pouco mais à frente. Pela história
mitológica, a mulher tomou do fruto por livre vontade, comendo e dando a seu
marido.

Voltando-se às referências bíblicas, a serpente tem um correspondente interessante


no Novo Testamento, que é o Dragão de Apocalipse. E este, na retórica
convalescente, é a própria serpente:

"E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e


Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos
foram lançados com ele." Apoc. 12:9

A Bíblia não monta-se em mistérios para revelar quem é a serpente. De ordem


direta, revela que é o Diabo, aquele que tentou Jesus no deserto – tal como a Eva
-- o grande inimigo de nossas almas.

Para alguns - que volitam por uma explicação mirabolante do texto, inserindo-lhe o
que não está escrito - não fora a serpente que realizara o trabalho da tentação, mas
um ser espiritual incorporado no animal, usando suas articulações vocais a fim de
comunicar-se com a inocente mulher.

Esse absurdo, fruto da interpretação contrária ao próprio texto (uma vez que é dito
que ele É a serpente e não que Estava nela) choca-se com indagações naturais
dentro da contextualização. Por qual motivo não usou um outro animal, com
morfologia mais adequadas à fala, preferindo um ser que, no máximo, poderia
emitir vagos sussurros por sua bifurcação lingual?

O que se pretende mostrar, não é um significado real. A serpente está presente em


quase todas as culturas antigas e seu significado varia de povo para povo, porém
adianta-se na lógica de se tratar da ligação humana com a terra. Refere-se aos
desejos e satisfações seculares e a prisão metafísica a que isso o encerra -
perpetuando as amarras neste mundo, ocasionando situações indissolúveis ou
seduzindo com falsas sensações de prazer. O diabo e satanás, engana todo o
mundo.

Assim, o conhecimento coletivo das diversas culturas, simplesmente adaptou-se à


narrativa bíblia, a fim de contar a história do surgimento da humanidade no cânon
judaico.

A serpente é o único animal com uma forma alongada e que em tese, possui a
capacidade de engolir-se a si mesmo, criando um movimento circular e tocando a
boca na cauda.

Na mitologia budista, a serpente representa o eterno ciclo de nascimento, vida,


morte e renascimento. No hinduísmo o significado também é semelhante.
Simboliza a força da vida na Terra. Para os chineses, é associada aos elementos
água e terra, os quais são associados à constituição do nascimento e da manutenção
da vida terrena. E para os gregos, a serpente associava-se à cura (manutenção da
vida) e à morte.

Podemos perceber que a serpente é a representação da vida terrena; o que liga o ser
humano à Terra, fazendo crer que não exista uma vida melhor, em círculos
superiores.

No eterno recomeço do ciclo de vida e morte, o que parece vida eterna, torna-se
prisão, uma vez que o ciclo não se rompe e não se atinge a possibilidade de
encontrar mundos melhores. Essa representação de círculo sem fim, é lembrada na
doutrina budista na intenção de quebrar esse ciclo. A roda de Dharma representa os
caminhos que se deve seguir para quebrar o eterno movimento circular de vida e
morte, atingindo o Nirvana. Ou, como diria Jesus, adentrar o Reino dos Céus.

Neste mesmo contexto, lembramos a natureza reptiliana da serpente, tanto como o


de todos os demais desse reino. Na ciência moderna, os répteis pertencem à
terceira escala de evolução dos vertebrados (antecedida pelos peixes e anfíbios),
possuindo um comportamento - aos olhos humanos - egoísta e primitivo. Embora
sociais por questões de auto preservação e da espécie, os répteis diferem das
escalas evolutivas seguintes (aves e mamíferos), de forma tangivelmente
estranhável. O tratar uns aos outros e aos próprios filhos, não nos parece um
comportamento compreensível. Não protegem e nem preocupam-se com suas crias
nem com seus semelhantes. Cada qual vive por si, numa clara evidência de
egoísmo e indiferença. Representam o ego em desequilíbrio, quando comparados
ao que a mitologia bíblica explana.

No Apocalipse – como já citado - ela é revelada como o grande inimigo, Diabo e


Satanás.

O dois termos advém do Grego e do Hebraico e possuem significados distintos:

Diabo, do grego diabolos, traduz-se por enganador. Já Satanás - que também


possui a correspondência grega satan, é opositor. Evidentemente que tal oposição é
a Deus e aos desejos concernentes à divindade. Assim, retirando-se a roupagem
monstruosa a que se associaram tais nomes, a serpente sendo o diabo e satanás, é
nossa própria natureza humana, com suas mazelas, maldades e desejos de
perpetuidade terrena, se opondo à evolução espiritual à qual deveríamos preocupar
em nossa estadia no estado encarnatório.

A serpente, indubitavelmente é clara referência ao que chamamos de "Karma" -


nossas dívidas e ligações terrenas, perpetuadoras da existência humana na Terra.

Por outro lado, a manifestação humana terrena possui um agente interno que
regulamenta a prisão ao Karma.

Como já dissemos, não existe bem e mal. Se crermos em tal coisa, estaremos como
Eva, outra vez provando da fatídica árvore à qual a serpente induz-nos a comer.
Não existindo de fato esses agentes a não ser na mentalidade humana, o que em
nós levaria a essa concepção?

A serpente corresponde ao ego. Não à identidade do ser, mas à sua forma


deturpada, egoísta.

Notadamente perceberemos que agente corrompedor, o qual dificulta a


humanidade a uma ascensão tanto moral, como social e espiritual, é o egoísmo.
Assim, saindo da dicotomia do bem e do mal, podemos estabelecer que na verdade
o que existe é o amor e o egoísmo - sendo ambos os verdadeiros opostos um do
outro. O amor é o libertador, enquanto o ego, o eterno escravizador da humanidade
no ciclo sem fim de dívidas kármicas e aprisionamento terrestre.

Dr Deepak Chopra em “O Caminho da Cura” cita o seguinte:


“Na religião, o ego se manifesta como o diabo. Obviamente ninguém percebe
quão esperto o ego é, porque ele criou o diabo para que você tenha a quem
culpar”.

No caso, temos que o ego neste caso é a parte inferior do ser, representado pelas
paixões inferiores (não no sentido pejorativo da palavra, mas aos apegos por elas
representados) em detrimento ao ego superior que são os atributos da alma
representados por Adão.

Com essas explicações, nos é simplificado o entendimento no mito da tentação de


Eva. Citando-se que a serpente seria o mais astuto dentre os animais do campo - o
que não corresponde de forma alguma à realidade em termos literais - o texto
bíblico nos remete à nossa suposta sabedoria ao fazermo-nos pensar que podemos
interpor aos ditames das leis universais, burlando seus mais simples princípios.
Nossa astúcia leva-nos a crer que podemos comer do fruto do conhecimento do
bem e do mal sem que nos prendamos ao mal que nele também está contido.
Viveremos assim como seu escravo. A serpente fala em nós, em Eva, o corpo,
quando longe de seu Eu Superior, Adão.

E sua palavra induz a uma distante mentira:

É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?

Evidentemente que em tal pergunta é patente a deturpação da ordenança de Deus.


Tal estratégia visa estabelecer um debate contra-argumentativo o qual, por meio do
laço, levará a uma derrota pungente àquele que esteja desprovido do conhecimento
real. Também assemelha-se ao ser infante, quando seus genitores impõem-lhe
ordenança direta, e em tentativa de burlar o estabelecido pela hierarquia superior,
cria factóides baseados em trechos da ordenança inicial, retirados do contexto
original.

"E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,


Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis
dele, nem nele tocareis para que não morrais." Gênesis 3:2,3

Em primeiro momento a serpente questiona sobre a proibição divina em se comer


de todas as árvores. Dado o fato de tal não ser verdade, é natural que a inocente
argumente contra o que é mentira. Porém, a argumentação leva ao debate com o
agente do adoecimento do Ego Inferior – a serpente - detentora das condições
desfavoráveis à evolução. Corpo e Alma são livres para experimentar todas as
árvores do jardim, inoculando em si o necessário para a vida e conhecimento.
Porém a conceituação sobre o bem e do mal é proibido, uma vez que os levará à
morte.

E neste tema, o diálogo com a serpente torna-se propício à tentação. Dá-se o


primeiro passo para a queda. A parte inferior do ser, representada por Eva,
encontra-se pela vontade divina, esquecida de seus feitos anteriores. Eva representa
os instintos inerentes ao corpo físico, ligando o humano à terra. Adão está nela,
porém nesse momento, a mulher distancia-se do marido. Deixa de dar ouvido à
consciência de seu ego superior e aproxima-se do adoecimento deste, o egoísmo. O
desejo pelo conhecimento do bem e do mal lhe parece bom. Porém, não trata-se do
conhecimento puro; da ciência de fato. Estamos diante da conceituação sobre o
bem e o mal, o que certamente levaria o humano à ruína.

As duas árvores encontram-se no centro do jardim. A que conduziria à vida e a que


representaria a morte. A escolha é individual.

O centro do jardim humano é o coração. Cabe a este, a escolha da ascensão ao


amor ou decair ao egoísmo, trazendo para si o aprisionamento fustigante do
Karma.

"Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe
que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus,
sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer,
e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu
fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela." Gênesis 3:4-6

A morte ocasionada pelo alimentar-se do fruto do conhecimento não seria


imediata, como bem revela os textos. “No dia em que dele comesse, certamente
morreria," porém isso não ocorre.

Após o diálogo com a serpente e o convencimento da mulher - em sua frágil


astúcia - de que poderia tornar-se tal como Deus, a serpente demonstra um grau de
verdade, visto a mulher permanecer viva após o ato. A serpente não mentiu de
todo. O que isso poderia revelar?

É evidente tratar-se de uma morte conceitual no íntimo da palavra.

Traçando o paralelo dos primeiros anos de vida encarnatória, com os dos


primórdios da inocência do espírito, entendemos que na infância, a morte não
parece real, tanto no conceito racional, quanto no espiritual, uma vez que a
proximidade do ser com a vida anterior, mantém a lembrança inconsciente do
intervalo entre as vidas. De qualquer forma, os pais poupam os pequenos do
conhecimento a respeito da maldade; existindo também leis a proteger os olhos dos
infantes, preservando-lhes a inocência. Entretanto, ao se deparar com o
conhecimento do bem e do mal, percebe-se que como os demais humanos, estão
sujeitos à morte. Esse conhecimento não deveria adentrar os portões da vida,
fazendo-os mortos conceitualmente. Sem um aprofundamento espiritual não
saberão que a vida sobrevive à morte do corpo, portanto a angústia da morte será
patente a todos os seres. Eva ao desejar o conhecimento do bem e do mal, vai
carregar como bagagem, a certeza da morte.

Por outro lado, compreendendo Eva como a própria humanidade em seu pólo
negativo - ou seja - como a mãe de todos os viventes, temos que a divisão de seus
filhos entre bons e maus, fará com que a humanidade também morra. Desse
conceito surgirá o ódio, preconceito, divisões e guerras. Afinal, do ponto de vista
de cada qual, haverá o bom e o mau, sendo necessário a eliminação daquele que o
indivíduo ou grupo étnico classificou como maléfico. Assim, ausente do amor
contido na Árvore da Vida, a humanidade tenderá ao caminho negativo, visto que é
sua natureza em desequilíbrio.

O Arquétipo da árvore do conhecimento do bem e do mal, aplica-se de igual forma,


ao desejo de conhecer os dois pólos sem aprofundar-se de antemão na questão da
vida, simbolizada pela outra árvore. O bem e o mal é a referência ao positivo e
negativo em seus extremos. Ambos, ausentes do equilíbrio da centralidade, são por
si só apenas maus. A bondade ausente do amor é vazia. Já a maldade, por si só faz
perecer o homem, tanto nesta como em outra vida. Portanto, provar do bem e do
mal sem experimentar o amor, é condenar a si mesmo.

E é o pólo negativo da humanidade que suscitará o desejo desse conhecimento. É a


parte carnal, dos desejos abaixo do coração, representados pela mulher tentada pela
serpente.

É interessante também focar, que no texto está claro que Adão não se encontrava
no momento da tentação. Entretanto, ao Eva comer, dá também a seu marido.

Em se tratando de literalidade, somente por uma estupidez Adão cederia ao engano


da serpente. Haveria tempo suficiente para não deixar-se enganar, não atendendo
aos apelos da mulher. Assim, mais uma vez, se evidencia a mitologia do texto.
Adão e Eva são uma só carne. Corpo e Alma estão unidos e é impossível que algo
ocorrido no corpo não atinja a alma. Portanto, ao ingerir Eva do fruto do
conhecimento do bem e do mal, automaticamente Adão também o faz.

É importante ressaltar que as ações humanas enquanto encarnados, ao ceder às


tentações do Ego inferior - representado pela Serpente Kármica - reflete
diretamente no decaimento do indivíduo, trazendo ao corpo e à alma, as
consequências de sua leviandade.

"Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e


coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais." Gênesis 3:7

Ao comer do fruto do conhecimento, a primeira percepção do casal edênico é de


sua nudez. Estar nu, no conceito bíblico é das maiores vergonhas. Logo à frente, o
patriarca Noé amaldiçoa um de seus filhos por atentar à sua nudez. Ao longo dos
textos mosaicos, a repreensão e penas a quem descobrisse a nudez de outrem
punia-se à morte. A nudez é tão vergonhosa, que todas as passagens que a ela se
referem, acompanham-se falas demeritórias.

Como algo natural pode ser vergonhoso? A mesma Bíblia parece contradizer-se ao
exaltar a procriação e envergonhar-se da nudez. Como a região sexual representaria
problemas à humanidade?

É fundamental entender que a nudez em si - de forma natural - jamais deveria se


encarar com estranheza. Ainda que de olhos abertos por meio do fruto do
conhecimento, Eva não teria meios de envergonhar-se de Adão, uma vez que
ninguém mais existia para que adviesse qualquer vergonha. Nenhum casal enfrenta
pudor ao mostrar sua nudez ao cônjuge. Além do mais, como tal vergonha poderia
existir, se versos antes Deus os abençoa com a multiplicação?

É evidente que a nudez refira-se à ausência do conhecimento. Quando o ser infante


prova do conhecimento do bem e do mal, percebe sua nudez, sua ausência de
conhecimento de fato. E quanto mais conhecimento, maior a percepção da
ignorância, o que leva a uma vergonha ainda maior, caso não esteja consciente do
dever da humildade. Essa percepção é dada pelo senso cármico, que requer o
pagamento das dívidas contraídas pelos desejos carnais e ao mesmo tempo,
imputar a vergonha pela ignorância diante do mundo.

Por outro lado, é mister inferir que a percepção de nudez aqui mencionada, condiz
com o conceito do bem e do mal, agora inseridos no casal. Até então, ausentes de
tal julgamento, a humanidade não envergonhava-se de o ignorar, permitindo sua
pureza e contato divino. Ao decair-se em tal concepção errônea, ocasionou suas
misérias. Os seres humanos agora envergonham-se ao praticar o que entendem por
mal e orgulham-se ao entender-se bons. Vemos assim, que ambos os conceitos
degradam a humanidade, uma vez que tanto o leva a atos desprezíveis, quanto à
exaltação do próprio ego. O remédio, para tal – repetimos – será o amor, que
flutuará altaneiro sobre essas águas turbulentas e vergonhosas.

Prosseguindo-se no texto, vemos que o primeiro ato visivelmente infantil em


resolução ao problema é a busca daquilo que cubra suas vergonhas. E para tanto, o
casal busca folhas de figueiras e confeccionam aventais para cobrir seus órgãos
sexuais (O avental cobre somente a parte inferior do corpo).

Estando nus, quem lhes atribuiu a ideia de cobrir exatamente aquela área corpórea
e não sua totalidade. Afinal, a nudez não pode ser compreendida tão somente como
a ausência da cobertura de uma parte.

Ao longo das escrituras o sentido de cobrir-se, agarra-se também ao conceito de


proteção; além de desvio de foco. O que está coberto deve se ignorar; não deve se
procurar.

O ocultismo – neste ensejo - não é bem visto no conceito religioso, uma vez que
desenterra conhecimentos não passíveis de compreensão, podendo gerar confusão
aos que não estão preparados a receber o conhecimento. A nudez - assim como
determinados aspectos do conhecimento ainda não passíveis de compreensão para
uma casta menos evoluída - deve se manter sob cobertura, a fim de não gerar
desconforto ou julgamentos precipitados a quem a porta.

Esconder o ventre e os órgão sexuais é uma atitude representativa do desvio dos


olhos para os elementos que ligam o ser humano a este mundo. O sexo e o ventre
são os principais adversários na luta contra a prisão terrena.

O sexo, embora o princípio da vida fundamental e objetivo maior para a geração de


outras vidas, pode atravancar a evolução espiritual se sucumbir ao mero prazer. E a
humanidade tem trabalhado arduamente no sentido de ampliá-lo ao extremo,
tornando o impulso de preservação da espécie, uma prisão temporal para os
sentidos. O prazer existe para que o ato de procriação se torne agradável e não
simplesmente como fonte de nirvana terrestre.
De igual modo, no ventre - diga-se nesse caso, o estômago e os órgãos associados à
digestão - reside um dos maiores entraves para a evolução da humanidade. O
instinto de auto-preservação também exerce prazer, e com ele os exageros tornam
os indivíduos escravos da glutonaria. Sabiamente o catolicismo cita a gula como
um dos sete pecados capitais. O sabor do alimento que nutre, torna-se também
quando se busca tão somente a satisfação dos instintos. Embora contem no rol dos
mais básicos da vida; ao mesmo tempo são os mais explorados pela mente. Assim,
anula-se os prazeres elevados, de gozo mental e espiritual verdadeiro, revezando-se
em preencher o vazio interior por meio do sexo e do sabor.

Aquém desta questão, o desejo incomensurável pelo exagero alimentar, tenderá a


desequilibrar a humanidade, fazendo com que a fartura e desperdício ocupem as
mesas dos opulentos, ignorando os milhões de semelhantes em cuja porta a miséria
e a fome bateram severas.

A estratégia do casal é tentar cobrir tais partes do corpo a fim de - com seu
conhecimento limitado - evitar que olhos os humilhem naquilo que mais lhes
envergonha. Para tanto, tomam folhas de figueira e tecem suas vestimentas
rudimentares. Desta forma, cobririam a parte carnal do ser. A região onde
encontram-se os três centros de energia inferiores, que os caracterizariam como
humanos e cabalmente, presos ao mundo terreno.

Na Bíblia, a figueira possui belo significado. O fruto da figueira, além de agradável


ao paladar, possui potencialidade de cura (II Reis 20:7; Isaías 38:21). E é também o
símbolo da própria humanidade.

Tal como a humanidade nos dois polos de bem e mal, as figueiras se dividem em
boas e as más. Estas últimas são denominadas sicômoros ou simplesmente
figueiras bravas.

Numa figueira brava o pequeno Zaqueu subiu para ver Jesus. Porém uma figueira
boa, porém sem frutos, Jesus a amaldiçoou.

A lógica é óbvia. A compreensão do bem e do mal encontram-se expressados pelas


figueiras. As más podem mostrar-se pontes para o encontro com o divino, bem
como as aparentemente boas, não possuíres serventia alguma. Nisto temos o
reforço de que o conhecimento do bem e do mal sem o amor, podem conter em si,
valores inversos.
E assim como uma figueira; enquanto a maturidade não se atingir; não existirão
frutos. O que se poderá aproveitar serão tão somente as folhas, como no caso do
casal do Éden.

Entretanto, quanto tempo pode durar a folha de uma figueira?

Nesse símbolo, percebemos que o casal cujos olhos se abriram pelo conhecimento
do bem e do mal, buscam em si mesmos, a proteção para encobrir ou justificar suas
vergonhas. Porém é mister entender que folha de figueira não é duradoura. Com
dois ou três dias torna-se inútil e logo deve ser substituída.

Essa é a duração do conhecimento humano. Volátil, de pouca duração e deve


constantemente se atualizar para não se perder no tempo. Perceba que tais questões
relacionam-se com o bem e o mal. Tal conceituação a respeito da natureza,
preceitua uma vaidade; uma temporalidade relativa; criando entraves e limitações à
evolução, visto que o “bom”, com o passar do tempo torna-se mal e vice versa;
ainda que estejam fixos no tempo. O bem e o mal dificultam a neutralidade do
Espírito, que deve ansiar por sua completa libertação da esfera física.

"E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e
esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores
do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?
E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-
me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que
te ordenei que não comesses? Então disse Adão: A mulher que me deste por
companheira, ela me deu da árvore, e comi. E disse o Senhor Deus à mulher: Por
que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi." Gênesis
3:8-13

Após o episódio, a voz de Deus é ouvida no jardim pela viração do dia. Ou seja,
Deus manifesta-se no jardim no qual o homem habita, quando as trevas encontram
caminho. Adão e Eva conviviam com Deus à luz do dia; porém esse dia chegava ao
fim. E o anoitecer tornou-se mais tenebroso; a presença divina tornou-se motivo de
temor. O casal se escondeu, como possível fora, fugir do conhecimento divino.

Entretanto, ainda no aguardo de uma justificativa autêntica do casal, Deus dá a


chance a que Adão se explique. E então o temor pela desobediência em
consequência da morte os faz trabalhar o sentimento da culpa. Adão não deseja a
responsabilidade por seu ato, e para tanto, devolve-o à mulher. Eva, por sua vez,
também não deseja tal fardo e repassa a culpa a quem a enganou.

Porém, é interessante notar que a serpente não a enganou como descreve o livro.
Ao contrário, exatamente como a serpente afirmou, ocorreu. Ninguém morreu. E
seus olhos tornaram-se como os de Deus, sabedores do bem e do mal, tal qual a
serpente também revelou.

Entretanto, cumpre inferir que o conhecimento divino a respeito do bem e do mal,


difere do humano. A consciência superior compreende a dicotomia, porém resvala-
se pelo equilíbrio do amor. Conhecer o bem e o mal não é suficiente para tornar o
humano como Deus. Os dois polos sem o ponto central, tornar-se-á um imbróglio
completamente maldoso, ainda que com aparência de bondade.

E é esse conhecimento que a divindade tentou poupar do casal.

Entretanto fica a pergunta: como seriam suas vida (se a história pautasse pelo lado
literal), caso não tivessem provado do conhecimento do bem e do mal? Talvez se
fizessem maravilhosas; porém não passaria de mera ilusão. Talvez a ilusão a que
tantos estão presos pela literalidade da religião - que prega um conforto quase
ausente de obrigações - bastando-se tão somente que acredite numa divindade e
cumpra determinadas regras. Entretanto, como dissemos, não possuir ciência do
bem e do mal, não significa ignorância, mas uma conceituação errônea a respeito
da natureza divina e humana.

É comum usar-se a expressão de que "a carne é fraca"; que a suscetibilidade por
encontrar-se neste mundo torna os humanos frágeis diante das tentações advindas
do instinto. Tal desculpa não é nova e possui base sólida na própria mitologia da
criação. Adão, o ego superior (A alma), culpa o corpo – Eva - pelas viscitudes a
que está submetido quando ligado ao invólucro carnal. Entretanto, o próprio corpo;
a personalidade consciente; entra em estado de negação, não desejando levar aos
ombros, o fardo de culpar-se pelo fato que operou. Envergonha-se diante da luz de
Deus. Assim, a culpa é repassada para a serpente; a existência cármica; o diabo e
satanás; o qual será a vítima final das culpas.

E por fim, este estará presente no ser humano, ora induzindo-lhe ao erro, ora
culpando-se pelo erro a que fora induzido. Tanto a indução quanto o sentimento de
culpa, são estratégias satânicas no sentido de prisão. O homem sente-se culpado
pelas falhas e torna-se prisioneiro delas, tal como o homem que as comete por
liberalidade. Tanto exercer o egoísmo, como sentir-se culpado por tal, são duas
faces da mesma moeda. Não será na culpa que haverá libertação; é o exercício do
amor; a correspondência do Espírito Divino em nós. Assim, sentir-se culpado,
quanto errar correspondem de igual forma ao não aceitar o próprio ato, transferindo
a culpa a outrem.

O homem, em sua eterna negação, vestido de figueira, há enfim, procurar um


eterno culpado por seus erros. Evitará a culpa, imputando-a a outrem, quando na
verdade a aceitação do próprio erro e a consciência por tal é que lhe fará liberto.
Para Deus - o Senhor da Eternidade, do Tempo e das existências - a desculpa que
exime de si o erro sem um contraponto substitutivo, é inválida.

E a aquisição do conhecimento do bem e do mal, arrasta consigo as maldições


inerentes à própria condição de obter-lhe. Para a libertação, é necessário não
somente compreender o erro, como também assumir tais falhas, a fim de
transformá-la por meio do exercício da vontade divina.

"Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais
que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre
andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a
mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar." Gênesis 3:14,15

A primeira maldição recai sobre a própria serpente, o carma. Este, para manter
prisioneiros os filhos de Deus na Terra, possui a inerência de incitar-lhes ao
conhecimento do bem e o mal.

Sem sua incitação, não existiria maldade. Porém inexistiria de igual forma, a
evolução espiritual, no conhecimento do bem. Temos neste caso, o entendimento
de que sem o conhecimento do mal, o homem não entenderia de fato o amor; e
nem mesmo dedicar-se ao bem; visto que também não o conheceria. Então, de
certa forma, a serpente é a precursora que imbui o ser humano a sair da caverna em
busca da luz. A serpente fustiga aqueles que não comeram do fruto da Árvore da
Vida.

Ao passo que esta incita para o conhecimento que trará sofrimento, sem sua
influência não se pode conhecer o verdadeiro amor - visto que o mal e o bem,
dentro do espectro do conceito divino – são as duas faces da mesma moeda. Assim,
temos que - entendendo que tudo o que existe possui caráter divino por advir da
mesma fonte - a conceituação do mal é tão somente uma ferramenta divina para
lapidação e evolução da humanidade.

Por certo, o profeta Isaías concordava com tal ideia ao escrever:

"Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço
todas estas coisas." Isaías 45:7

Compreendemos que a existência do mal (ou a conceituação deste) é a manutenção


da prisão a este mundo.

Na maldição da serpente, sua condenação é tornar-se pior que todas as feras do


campo. Ora, as feras alimentam-se de carne. Evidentemente que se trata de uma
referência à carnalidade humana; sua parte física. O ciclo infinito de vida e morte
seria seu alimento.

Além de tal, é condenada a rastejar sobre o ventre e comer pó para o resto da vida.

Não é necessário usar de inteligência para compreender que serpente não come pó.

E também, o rastejar sobre o ventre é manter-se agarrado à terra, preso às


influências do mundo e à servidão ao próprio ventre, sucumbindo aos desejos do
instinto.

O pó é a composição do homem. O homem, originário deste, torna-se o alimento


da serpente quando retorna à sua origem. A serpente é seu aprisionador em seu
estado terreno, alimentando-se do que lhe resta após o ciclo vital. De igual forma, o
pó é uma referência ao tempo. A serpente cármica, em sua incansável luta pela
existência eterna, fará com que o homem se mantenha preso ao mundo por
existências indetermináveis, impedindo que manifeste desejo em dissipar-se das
influências negativas que lhe distanciam da divindade. O diabo é seu ferrenho
adversário. E está dentro de cada um.

Para o reforço da ideia, é mencionado que Deus colocará inimizade entre a


serpente e a mulher; e sua descendência. Em tese, entre a dívida cármica e a
existência no corpo terreno. Da mulher descenderia a própria mulher, no sentido
reencarnatório, físico corporal. E a cada nascimento, a inimizade estaria patente,
visto que o carma, diabo e satanás, seria o eterno acusador e opositor daqueles que
insistissem no erro de conhecer o bem e o mal. Seria o conflito eterno entre o
homem e suas dívidas; entre as leis que regem este mundo; mantendo-lhe atraído
ao pólo negativo; sem a percepção de que a vida na carne seja uma prisão - uma
vez que distanciado do divino, o pólo negativo é desequilibrado e sem propósito.

Dicotomicamente, a mulher ferirá a cabeça da serpente e a serpente lhe ferirá o


calcanhar.

Percebe-se nessa maldição, a circularidade que a serpente produz no processo


encarnatório. A cada nascimento da mulher, seria ferida no calcanhar pelo carma.
Ao passo que quando dele tentasse se livrar, feriria sua cabeça, até que por fim se
libertasse, num processo longo e penoso. A inimizade entre ambos, entretanto, é
simbiótica, pois a existência de um depende do outro. E a cada tentativa de
distanciamento, mais dolorosa se tornaria a vida da mulher. Livrar-se da serpente
não seria de modo algum, uma tarefa fácil.

O calcanhar, está ligado ao caminhar do homem. A culpa que o carma provoca,


quando o indivíduo está submetido ao processo do pecado, impedindo-lhe o
caminhar. O medo, a insegurança e o próprio sentimento de culpa, são
incompatíveis com o progresso espiritual. Tal situação é muito presente em
sociedades religiosas que utilizam tais mecanismos como forma de domínio.
Qualquer grupo dominado por esses fatores não evolui. Os líderes “espirituais”
utilizadores de tais subtefúrgios maliciosos, entendem bem os processos cármicos e
como o conhecimento a esse respeito pode manter o domínio sobre a sociedade; e a
consequente ausência do progresso espiritual - com a conseguinte impossibilidade
de desprendimento da prisão. Na história antiga e atual, os processos de submissão
estiveram e permanecem em franco desenvolvimento. Assim como os grandes
impérios, a Igreja Católica manteve seu domínio sobre os povos por mais de mil
anos, impedindo o progresso; alimentando-se dos benefícios que a ignorância
alheia proporcionava. Na atualidade, as sociedades islâmicas controlam as massas,
impondo-lhes o Corão, bem como os que acreditam na literalidade da Bíblia. E de
forma inconsciente (ou não), o protestantismo cristão atua de forma semelhante. A
serpente domina a sociedade.

Na suposta história grega, Aquiles - o grande herói, filho da ninfa Tétis; neta do
Titã Oceano - tem sua vulnerabilidade permeada no calcanhar.

É perceptível que as mitologias convergem nas culturas, especialmente quando


suas proximidades geográficas são mais evidentes; neste caso em específico há
semelhança contundente com a Bíblia.
Pelo calcanhar, uma flechada impede o grande herói de prosseguir; levando-o
consequentemente à morte. A ferida em seu calcanhar é a mesma da Mulher em
Gênesis. É o impedimento do carma, impondo as limitações da humanidade; como
também o resultado de colocar-se submisso a ele. Esta é a inimizade entre a
serpente e a mulher.

Segundo o texto a serpente produziria filhos, tal como a mulher, visto que também
fala da descendência da serpente. Entretanto, não há registros na Bíblia de que tal
tenha se multiplicado. Assim, como em toda boa alegoria, a semente da serpente
refere-se ao grupo de pessoas que trabalharia ocultamente em prol da continuidade
da dívida cármica; como também àqueles que fizessem da maldade seu espelho de
vida. Eis a guerra travada entre o bem e o mal.

Tal vislumbre pode ser entendido sob a égide das potestades espirituais em virtude
de seu convencimento à estadia no mundo carnal, influenciando a mente dos
homens à contínua busca desequilibrada do prazer, tanto quanto dos que buscam o
malefício coletivo, presentes no estado encarnatório. Daí o conceito dos demônios.

Assim, estes podem trabalhar tanto encarnados quanto desencarnados, pois a


energia emitida pelo homem serve de alimento às hostes invisíveis absortas na
carnalidade e de igual forma aos que vivem entre nós. A força do amor, por outro
lado, aumenta a bondade fluídica do universo; bem como o ódio e a deificação do
ego, multiplicam a maldade dos seres que se encontram nessas vibrações
inferiores, alimentando suas existências.

A semente da mulher, por sua vez, é referência aos que - embora aprisionados à
viscidez do mundo - buscam a libertação da carne por meio do espírito. Em
consequência, fomentará inimizade entre os que desejam manter-lhes distantes da
ascensão às esferas divinas. A semente da mulher será mitologicamente descrita na
Bíblia como Abel, Noé, Abraão, Isaque, Israel, Moisés, Josué, Sansão, Davi; que
por final, atingem a perfeição na figura incorruptível de Jesus.

"E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com
dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará."
Gênesis 3:16

A segunda maldição recai sobre a mulher. Já não bastaria o calcanhar ferido pela
serpente. Sua dor seria multiplicada.
O sofrimento é a vida neste mundo, abundante em dor, tanto física, quanto psíquica
e emocional. Entretanto, algo novo aparece, e um termo de fato estranho surge no
meio da maldição: "Com dor darás à luz a filhos".

Ora, apesar de corriqueiro o uso da palavra "dar à luz," como se referindo ao


nascimento, o ato de conceber nada tem a ver com a chegada da luz. Afinal, trazer
uma criança ao mundo não é dar-lhe luz.

Esse termo compreende-se melhor com o sentido de que - para proporcionar a luz a
seus filhos – advirá doloroso esforço à humanidade decaída. O conhecimento do
bem e do mal, apaga os frutos da Árvore da Vida, e consequentemente da luz.

Nesse aspecto toda a Bíblia se harmoniza. Nenhuma luz é dada aos grandes
personagens bíblicos, antes que adentrem por caminhos condutores a fustigante
dor.

Sem dor não existe iluminação. Sem dor não existe - para um nascido da carne - a
luz do espírito.

É também determinado que o desejo da mulher seja para seu marido e que este a
domine.

Ao passo que a mulher terá o calcanhar ferido do ponto de vista negativo; pelo lado
positivo, seu Eu Superior a controlará, ditando como deve guiar seus passos. A
mulher estará submetida à voz da consciência, ainda que tenha desviado de seu
propósito ao dar ouvidos à serpente. Essa submissão com efeito, é imposta pelo
inconsciente mental, desejoso da luz, que impulsionará a mulher à ascensão. Sua
batalha para dominá-la, dar-se-á por meio do destino, o qual guiará a vontade do
instinto carnal para as conformidades do espírito.

E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da


árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa
de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos
também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás
o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e
em pó te tornarás." Gênesis 3:17-19

A terceira maldição recai sobre o homem - o Eu superior ou a Consciência.


Entretanto, a terra também lhe é amaldiçoada. Porém, ao analisar-se
minuciosamente, percebe-se que a terra não recebe nenhum mal. Esta na verdade,
será o agente ocasionador do mal a Adão.

Por outro lado, uma minúcia do texto, deixa transparecer que a árvore do
conhecimento do bem e do mal, será o alimento do homem nos dias de sua
existência. Observemos:

“Comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a


terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida.”

Comerás da terra ou da Árvore? O texto, em todas as versões bíblicas, possui duplo


sentido. Assim, compreendemos que o conhecimento do bem e do mal seria a
tortura incessante na maldição do homem.

Deus também ordena que a terra produza espinhos e cardos e que a erva do campo
seja o alimento do homem.

A Terra é a mãe. É dela que o homem é retirado e é para ela que deve retornar.
Evidentemente, neste caso, o retorno refere-se ao tempo, conforme estudado
anteriormente sobre o pó da terra. Entretanto, é interessante que a maldição indica
que é da terra, ou seja, do fruto que ela lhe der, que Adão deve se alimentar.

Alimentar-se no sentido simbólico da palavra, é adquirir conhecimento. Portanto,


ao provar do fruto, o Eu superior (ou a consciência da alma) é aprisionado também
na própria Terra; vendo-se obrigado a nela buscar, o conhecimento propulsor de
sua sobrevivência; até para ela retornar, num ciclo que lhe parecerá eterno. O Eu
Superior está aprisionado à mulher (ambos são uma só carne) e responde, por sua
vez, à ferida no calcanhar que a serpente lhe imputa. Portanto, enquanto o casal
não ferir a cabeça da serpente, não haverá libertação.

A erva do campo indica conhecimento básico.

Retornando ao entendimento de que o homem em seu conceito espiritual,


represente neste mito os espíritos decaídos de Capela, encarnados como humanos
amalgados no ser carnal precursor da raça humana moderna; sua memória apagada
obrigará a buscar o mais trivial do mundo para que dele possa suster seu corpo
físico. Além do mínimo, há de adquirir sabedoria terrena, a fim de distinguir os
espinhos e cardos – as dificuldades relativas ao conhecimento da Terra – impostos
a seu caminho.
"E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os
viventes." Gênesis 3:20

Após as maldições, Adão inicia seu processo de domínio sobre a mulher, dando-lhe
nome. A ela não, permitiu-se ao menos tal escolha, pois desde então submeteu-se
ao homem.

O nome escolhido - Eva - está relacionado ao verbo hebraico haya, que significa
viver. Assim a mulher é "A vivente" ou "Que vive". Designa a vivência corpórea
humana, uma vez que a mulher é o envoltório vivo, tanto de Adão - o Eu superior -
como do Espírito, latente em ambos.

O Espírito (O Sopro de Deus; a Centelha Divina; O Cristo Interior) - deve nascer


da união do corpo e da alma quando futuramente entender a carga cármica e dela
se livrar. Este, cedo ou tarde poderá se manifestar na simbologia do filho que lhes
salvará da prisão que se colocaram pelo conhecimento do bem e do mal, imbuídos
pela sugestão da serpente.

Interessante também é notar, que Eva é mãe de todos os viventes e não de todos os
humanos. Ela representa a própria natureza da Terra e é perfeitamente sincretizada
com Gaia, filha direta do deus primordial Caos, auto criado e iniciador do universo
dentro da mitologia grega.

Indica também a evolução tanto da espécie humana, quanto dos demais animais.

Ao se conceituar Eva como a mãe de todos os viventes, compreende-se que seja a


feminilidade natural, concebedora dos corpos físicos, humanos e animais. Portanto,
a biologia nesta representação, manifesta-se de forma livre, concedendo o direito à
mulher, de adaptar todos os filhos aos meios climáticos e geográficos a que
estiverem submetidos. Os corpos humanos resultam portanto, do final dessa
adaptação - dos antigos símios - ajuntados aos espíritos provenientes das estrelas.

"E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu."
Gênesis 3:21

Após as sentenças - prestes a expulsar do paraíso o casal que criara - Deus lhes
retira a cobertura provisória de folhas de figueira e faz-lhes túnica de peles, em
substituição ao precário material a cobrir sua nudez.
Entretanto não é mencionado que pele seria. Deus teria matado um animal para
cobrir o corpo desnudo dos desobedientes?

No segundo livro - em êxodo - temos um vislumbre do que pode significar. O


santuário, construído no deserto a caminho da Terra Prometida, compunha-se de
semelhança considerável com a mitologia edênica. Dentre elas, citamos sua
cobertura principal, a pele de texugo.

"Fez também, para a tenda, uma coberta de peles de carneiros, tintas de


vermelho; e por cima uma coberta de peles de texugos." Êxodo 36:19

Nosso desejo no momento não é aprofundar-se no assunto do santuário. Porém,


estudiosos concordam que este seja uma analogia ao ser humano. Mais à frente, o
próprio Paulo afirma que o corpo é o templo do Espírito Santo e que este habita
literalmente nos corpos. Portanto, este é o fôlego de vida, inserido em Adão;
protegido pela cobertura carnal de Eva.

A primeira cobertura da tenda do santuário é a representação da condição humana.


O texugo é um animal de coloração branca e preta. A pele do animal representa o
estado de dualidade entre o bem e o mal, concernentes à natureza humana ao
provar de sua árvore. A pele é a proteção contra o enfrentamento do deserto no
caminho de volta à inocência perdida. Com as folhas de figueira não se
sobreviveria muito longe. A túnica de peles, dada por Deus, possibilitaria uma vida
suportável diante das agruras que mostrar-se-iam devastadoras, por conta da dores
a enfrentar. Representam o conhecimento humano mesclado com o divino.

Tão somente por sua própria filosofia, o homem não suportaria a vida na Terra, em
virtude da angústia ameaçadora da morte. A coberta de peles neste contexto,
representa a proteção contra o bem e o mal; bem como é a mescla do conhecimento
humano com o divino.

A Árvore da Vida

"Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem
e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida,
e coma e viva eternamente. O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do
Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem,
pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava
ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida." Gênesis 3:22-24
Outra vez postamo-nos diante da verdade observada pela serpente. O próprio Deus
dialoga com alguém, afirmando que o homem tornara-se como um deles.

Em primeiro lugar, é indiscutível considerar que Deus se reconhece entre outros


deuses, confirmando sua múltipla personalidade. A existência de outras formas
divinas do mesmo ser, conflui para a crença de que sua manifestação pode tornar-
se diferente conforme a circunstância. A inferência aos deuses astrológicos,
refletidos nos sete dias da criação, torna-se mais clara neste verso. Em sua primeira
manifestação, Deus se apresenta com a natureza de Saturno. Nesta, este mesmo ser,
reconhece a existência de outros.

Entretanto, desse preceito criou-se a crença numa trindade, não corroborada pela
Bíblia. O "Nós,” refere-se a outros seres divinos. Assim, sua onipresença é
compreendida, pois por meio dos astros e suas influências, estende seus braços,
constituindo-se no todo.

Deus por fim confirma o que a serpente dissera: Com o conhecimento do bem e do
mal, o homem torna-se semelhante a Ele.

Até este ponto, não há mentira por parte do mitológico réptil.

Uma contradição com o restante da Bíblia surge neste trecho. Por todo o livro, há
uma exigência contundente de que o ser humano torne-se semelhante a Deus. A
Bíblia resume-se em ordenanças infinitas de santidade, como aspecto fundamental
para a salvação da Alma. Qual motivo da indignação divina pelo homem tornar-se
tal qual Este?

Temos neste texto, uma inversão dos pólos; respondendo à pergunta acima; uma
passagem da carroça na frente dos bois, obliterando a evolução natural rumo à
divinização.

A concepção do bem e do mal sem a anuência do Amor Universal - portanto


concreto e absoluto - gera no homem uma degradação fraternal, conflitando com a
essência da vida. Tornar-se como Deus em convergência com os ditames do Ego
inferior - representado pela serpente - é o caminho inverso à santidade. Portanto,
para o perfeito alinhamento, o homem deveria primeiro provar da Árvore da Vida.
Tal fruto seria preventivo a conceitos errôneos ao que poderia pensar-se como bem
ou mal.
Nesta inversão, o homem não pôde mais apossar-se do fruto da Árvore da Vida,
visto que deturpou seus conhecimentos. Dessa forma, deveria perpassar um longo
caminho de volta à pureza espiritual; para então tornar-se apto a provar da Árvore
do verdadeiro amor universal. Para tanto, é imperioso sua expulsão do jardim e o
lavrar a Terra, para que do suor de seu rosto coma seu pão. Somente por meio
desse esforço, poderá novamente incorrer nos fluídos do Rio da vida.

Com dores, a mulher daria luz aos filhos.

Por outro lado e, inevitavelmente natural - ainda que indutivo a uma questão com
consequências desagradáveis - o carma ocasionado pela desobediência, leva ao
caminho necessário à evolução, uma vez que todos os rios confluem para o mar. A
partir da perda da inocência, inicia-se o processo de autoconhecimento e busca
pelo aprimoramento do caráter para aqueles que se identificam com o bem; assim
como a degeneração da vida, naqueles que encontram no mal uma forma de auto
reconhecimento. Portanto, além de conceitual, a existência do bem e do mal é um
posicionamento individual para com a própria vida.

A permanência no Éden é então questionada, pelo fato de no mesmo paraíso


encontrar-se a Árvore da Vida, a qual o homem poderia com fácil acesso, provar de
seu fruto e viver eternamente.

A Vida Eterna nestes termos seria um desastre do ponto de vista da divindade.


Uma vez conhecedor da eternidade, o homem pouco importaria com as
consequências de seus atos. Vivendo eternamente - ou seja - podendo lembrar-se
de suas existências predecessoras em relação ao atual invólucro carnal, esbanjaria-
se dissolutamente em prazeres animalescos intrínsecos ao ser, perecendo em seu
desenvolvimento como espírito. Assim, a morte da alma por meio do
esquecimento, tornou-se necessária, a fim de impedir maior decaimento da raça
humana; interrompendo temporariamente a queda a que se submetera. Com um
novo nascimento e interposto um véu, o homem teria a chance de recobrar a
consciência do erro e buscar novos caminhos à razão da melhoria. Portanto, a
Árvore da Vida neste contexto, é a proeminência do conhecimento humano frente
às questões espirituais concernentes à sua eternidade como espírito.

A Lei, entremeada em equilíbrio contra as obliterações sucumbentes da raça


humana – entretanto - carece de interpor-se como aio para a concessão da luz.
Porém, até o momento, encontra-se em germinação. O meio de sua efetivação,
requer que antes, codifique-se em normas já transgredidas. Diante das primeiras
comorbidades humanas, principia sua prescrita, fomentando um freio e regência
aos equívocos, acompanhando a odisseia humana na Terra. Deus à frente,
estabelecerá outros critérios, conforme os passos em falso do ser humano,
cerceando sua consciência a impossibilitando piores deslindes. Entretanto, a
humanidade decairá a mais abismos, rompendo com a paciência da divindade
superior, que lhe enviará o dilúvio.

Isto posto, aprofundemo-nos um pouco mais nas correlações da Árvore da Vida.

Até então mantivemos em foco de que esta, seja a representação suprema do Amor
Universal. Porém não detalhamos seus aspectos.

Primeiramente, é mister inferir que as referências a respeito de tal Árvore não é


exclusivo da mitologia judaica, uma vez que se encontram fartamente catalogadas
em múltiplas culturas, especialmente as mesopotâmicas.

A concepção assíria da Árvore da Vida, por exemplo, é bastante semelhante à da


Cabala judaica.

Segundo a Cabala, as emanações divinas recebidas na Terra, são em número de


dez. Tais fluxos energéticos são chamados de Sefirót. O homem é receptor das
emanações, porém, imerso nas questões terrestres, possui acesso extremamente
limitado à condição divina do fluxo, em razão do próprio desconhecimento de tais
origens. Expulso do paraíso, o homem perdeu o acesso à Árvore da Vida.

"As dez Sefirót formam a Árvore da Vida, que é uma representação da natureza
divina e dos atributos de Deus." (Sêfer Yetsirá p. 63)

Reforçando esse argumento, a Cabala ensina que "O homem é reflexo da natureza
divina, pois há um preceito que diz 'assim em cima como embaixo, e assim
embaixo como em cima'. Isso significa que as partes mantêm uma relação de
similaridade com o todo. O reflexo de algo sempre é uma pálida sombra do
original. Logo, podemos dizer que o que está acima é semelhante ao que está
abaixo, porém em um estado de maior perfeição, e o que está abaixo é semelhante
ao que está acima, porém em um estado mais imperfeito." (Sêfer Yetsirá p. 63 e
64)

Portanto, criado à imagem e semelhança de Deus, o homem (Eu Superior) é uma


cópia do divino. Possui intrínseco no ser os conhecimentos inerentes à vida.
Entretanto, maculado pelo desejo de conhecer o mal, perdeu o acesso direto ao
divino; expulso do paraíso onde florescia a Árvore da Vida. A Árvore da Vida
assim é, o conhecimento inato, porém esquecido, dos caminhos que levariam o
homem à eternidade, confluentes ao Amor Universal.

Embora o processo de reencarnação revele-se como uma continuidade eterna da


vida, não é desta vida eterna o direito de herdade humana antes de mácula do mal.
Os caminhos das Sefiróts, conduzem a uma plenitude de vida, não interrompida
pelos ciclos cármicos - a serpente - e nem moldada pelos sofrimentos em virtude
do endividamento gerado pelo conhecimento do mal e a consequente prisão a ele.
O ciclo encarnatório, embora console no sentido de explicar que a vida não cessa,
por outro lado é uma maldição eterna, em cuja prisão o homem permanecerá até
que de si tome consciência.

A fim de que o homem não mais acesse a Árvore da Vida e coma de seu fruto - a
Vida Eterna em sua mais singela essência - homem e a mulher são expulsos do
paraísos e condenados a sobreviver com seus próprios recursos, comendo do suor
do seu rosto.

A saga bíblica da eterna busca pelo caminho de volta ao paraíso perdido aí se inicia
e há em todo o livro um mapa para a recondução a esse caminho. As histórias se
repetem de forma cíclica, com diferentes narrativas, porém contextos semelhantes,
onde os autores revelam sutilmente o caminho de retorno. O mesmo procedimento
coincide com a outras mitologias das diversas culturas e religiões. As narrativas
comentam sobre um estado inicial de pureza, de cuja beleza o ser humano decai;
em seguida, surge um libertador cuja finalidade é o restauro do caminho. Na
história bíblica, o libertador prometido é o Cristo, embora sua figura não se veja
aceita pela ortodoxia judaica. Entretanto, a história aponta para algo ou alguém que
deve nascer pela interação do homem com a mulher e libertar o ser humano.

As mitologias ao redor do mundo, e mesmo o gnosticismo cristão – o qual aponta


os textos sagrados como simbólicos - entendem que a semente libertadora, embora
em estado latente, fora soprada por Deus no ato da criação do homem, tornando-o
alma vivente. O encontro e o entendimento dessa semente, dará ao homem
decaído, a condição de libertação das amarras lançadas pela serpente. Algo deverá
nascer do homem, para que o encontro com a Árvore da Vida seja ressignificado.

***
Para o entendimento das sefirót, reproduzimos aqui uma explicação resumida,
encontrada no site morasha.com.br:

As Dez Emanações Divinas


“Apesar de Deus ter-Se "ocultado", continua intimamente conectado à Sua
Criação, pois sem Ele nada existe. Como vimos, agindo como um canal de ligação
entre Deus e Sua Criação, as sefirot permitem a Deus , Infinito e Ilimitado,
interagir com Sua Criação, finita e limitada. É através destas que o Ser Absoluto
se revela e se conecta com Sua Criação. A simples relação de seus nomes não vai
transmitir adequadamente sua essência. Além disso, temos que ter em mente que
as imagens e símbolos são usados apenas para nossa compreensão, pois não
expressam o mistério da Criação e tem que ter cuidado ao abstrair os conceitos.”
“A configuração gráfica das sefirot, em textos cabalísticos, é uma composição
vertical ao longo de três eixos paralelos. Textos cabalísticos usam vários nomes
quando referem-se à mesma: uma árvore (etz), uma escada (sulam) ou a "imagem
celestial de Deus" - (tzelem Elokim).
“Neste caso a configuração lembra um corpo humano. Segue-se a ordem de
emanação das sefirot:
Keter, coroa – “representa a onipotência e onipresença de Deus; a Vontade
Divina Absoluta; a Soberania e Autoridade de Deus sobre todas as forças da
Criação. É a primeira e mais elevada das sefirot e está além de qualquer
compreensão. De tão inexprimível, às vezes nem é incluída entre as dez sefirot. É
a mais próxima da Fonte Divina, é a base de toda a Criação. Keter transcende as
leis que governam o universo, pois estas só passam a existir após a emanação das
sefirot de Chochmá e Biná. A Cabala refere-se a esta sefirá como o "mundo da
Misericórdia".
Chochmá, sabedoria – “é o pensamento puro que Deus utiliza para o
funcionamento do universo. É o poder da Luz Original, a força primordial usada
para criar os céus e a terra. Chochmá é a inspiração inicial da qual o Cosmo
evoluiu. É vista como "a planta" usada para a criação do universo físico e
espiritual, pois contém - potencialmente - todas as leis que vão reger a Criação e
os axiomas que determinam como estas leis funcionam. É a raiz dos elementos
espirituais: fogo, água, terra e ar. Sua essência é também incompreensível para
nós.”
Biná, entendimento, a compreensão, a lógica. “Com sua emanação, é criado o
sistema lógico pelo qual os axiomas de Chochmá são delineados e definidos. É
através da Biná que podemos começar a entender os axiomas tanto da Criação
quanto do nosso próprio ser. D’aat, conhecimento; a "lógica aplicada" de modo
diferente das duas anteriores. Não é apenas o acúmulo, mas também a soma de
tudo o que é conhecido. É a capacidade de juntar as informações básicas e fazê-
las funcionar logicamente.
Quando Keter se manifesta, D'aat se oculta, já que são manifestações interna e
externa, respectivamente, da mesma força.”
Chessed, graça, amor e bondade que nos beneficiam; a grandeza (Guedulá) do
amor. “Esta sefirá representa o dar incondicional, o altruísmo, o impulso
incontrolável de expansão. É Deus dando-se às Suas criaturas de forma irrestrita,
abrindo todas as portas da Sua Abundância. Deus usou este atributo como o
instrumento supremo no processo da Criação.”
Guevurá - poder, justiça, o julgamento severo (Din); as forças para disciplinar a
criação. “Guevurá representa a contração, a restrição, a criação de barreiras. A
"auto-limitação" Divina foi indispensável para a criação do Cosmo. A Cabala se
refere a esta como midat hadin, a medida ou atributo do julgamento, do rigor.
Esta sefirá direciona a energia espiritual para atingir uma meta específica. É a
força que permite o controle para podermos vencer tanto nossos inimigos internos
quanto os externos.”
Tiferet, beleza, no sentido da harmonia. “É a combinação da harmonia e da
verdade, dando espaço para a compaixão. Esta sefirá está associada com o poder
de conciliar as inclinações conflitantes de Chessed e Guevurá, para que haja
compaixão. Na Cabala é designada como midat harachamim, "o atributo da
misericórdia". A alma do homem emana desta sefirá pela união desta qualidade
com Malchut, o corpo.”
Netzach, vitória, eternidade, resistência. “Esta sefirá representa a imposição
Divina. É o domínio, a conquista ou a capacidade de vencer. Representa o motivo
primeiro da Criação: a capacidade de vencer o mal.”
Hod, esplendor, empatia. “Esta sefirá permite que o poder e energia repassados
sejam apropriados e aceitáveis a quem os recebe. É responsável pela criação
dentro de uma relação do espaço deixado para o outro. A qualidade espiritual de
Hod salienta o atributo da humildade e reconhecimento. Hod representa também a
submissão que permite a existência do mal.”
Yesod, fundação; alicerce “representa a reciprocidade ideal numa relação. É o
meio de comunicação, o veículo de transporte de uma condição para outra.
Representa o lugar do prazer espiritual e físico; o vínculo mais poderoso que pode
existir entre dois indivíduos, assim como entre o homem e Deus: a aliança entre
Deus e Israel: o Brit Milá.”
Malchut, reinado. “É a Schechiná, o aspecto imanente de Deus neste mundo. É o
mundo revelado onde o potencial latente é concretizado. É o poder que D'us nos
deu de receber Dele. Como símbolo do receber, esta sefirá é caracterizada como
aquela que não tem nada próprio. É um keli, um mero recipiente. Malchut é o
último elemento de uma corrente que se inicia na Vontade Divina e encontra sua
realização neste mundo. Aquele que recebe pode dar de volta, tornando-se além
de receptor, um doador.”
“As sefirot são refletidas no homem e desta forma o homem compartilha o Divino.
A pessoa que somos é determinada pelas sefirot no mundo da ação, pois são as
bases de nossa personalidade individual. O "cabo condutor" ou o canal através do
qual estas se manifestam, é a nossa alma.”
***

Entretanto, para que o homem e sua mulher não mais retorne ao jardim, Deus posta
querubins ao Oriente e uma espada inflamada girando, com a finalidade de guardar
o caminho para a Árvore da Vida.

O Oriente, como já estudado, é o lugar onde nasce o Sol. E na simbologia bíblica, o


sol é o condutor da luz. É o resplandecer da manhã. Não só na Bíblia. O disco solar
é fartamente mencionado e adorado em todas as culturas antigas em derredor de
Israel. Os querubins são igualmente citados na Bíblia como seres guardiões e,
assim como no jardim, encontram-se sobre a Arca da Aliança, a qual localiza-se no
lugar santíssimo do santuário, guardando o conteúdo sagrado que nela repousa.
Convertendo-se o santuário para o corpo humano, conforme já citado, e alinhando
à analogia com o jardim do Éden, é perceptível que os querubins representam o
cérebro com suas duas metades. A Árvore da Vida correspondente ao homem
dentro da visão microcósmica na singularidade da repetição fractal, por certo é a
Glândula Pineal, onde encontra-se entre os dois, e que desde a antiguidade é
compreendida como a sede do Espírito humano, representada pelos egípcios como
o olho de Hórus. O Cérebro - os querubins - devido à racionalidade do mundo
material, impede o acesso ao conhecimento nele contido, protegendo-o assim, das
mazelas e impetuosidades humanas decorrentes de seu estado de decaimento
espiritual.

Em relação à espada flamejante andando em redor, protegendo o caminho para a


Árvore da Vida, devemos enxergar pela ótica de que uma espada - na Bíblia -
sempre tem dois gumes, representando mais uma vez a dualidade. Por outro lado,
não é difícil perceber também que esse simbolismo corresponde todas as vezes
com a língua:
"Há alguns que falam como que espada penetrante, mas a língua dos sábios é
saúde." Provérbios 12:18

"Que afiaram as suas línguas como espadas; e armaram por suas flechas palavras
amargas." Salmos 64:3

Podemos usar toda a Bíblia e perceber que em todos os lugares, cada vez que fala-
se em espada, o significado remete para a língua. Portanto, levando-se em
consideração que uma espada tem dois gumes, entenderemos que a língua também
o possui, representando a dualidade do bem e do mal.

"De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que
isto se faça assim." Tiago 3:10

Portanto, o fato da boca proceder palavras boas e más; o certo e o errado; ocorre
assim que o caminho para a Árvore da Vida não é encontrado, pois, segundo
Salomão "Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os
caminhos da morte." Provérbios 14:12

Assim sendo, a espada que guarda o caminho para a Árvore da Vida é justamente
essa incerteza humana de como chegar a ela novamente, visto que aqueles que
ensinam o caminho de retorno, muitas vezes estão enganados, com palavras
inflamadas e que não conduzem à vida. A espada inflamada é a confusão de
informações, pelas quais a humanidade passou desde essa queda ao se conhecer o
bem e o mal, fazendo com que cada cultura criasse uma mitologia diferente para
restringir ainda mais o retorno a essa Árvore - a qual vai possuir vários nomes no
decorrer dos séculos, como a Fonte da Juventude, o continente perdido de
Atlântida, o vale do El Dorado, dentre diversos lugares mitológicos - lugares não
encontrados mas que fizeram com que, ao longo dos séculos, o homem se
aventurarem em busca de algo externo, que na verdade, sempre esteve dentro de si
e seria a única saída de libertação do espírito.

Enquanto não encontrar a verdade dentro de si, o homem nunca poderá encontrar
coisa alguma do lado de fora e sua vida será o eterno tormento da perdição num
mundo cada vez mais confuso.

Caim e Abel

"E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse:
Alcancei do SENHOR um homem." Gênesis 4:1
Na dinâmica narrativa bíblica, após a saída do Éden, Adão conhece sua mulher
Eva, e com ela tem um filho, chamando-o pelo nome de Caim.

Conhecer, na terminologia bíblica literal - para um pré esclarecimento - possui o


sentido categórico de exercer o ato sexual. Entretanto, o verbo Yada possui um
significado ainda mais amplo, que é o de obter conhecimento através de uma
interação íntima, o que literalmente culminaria em sexo.

Outrossim, é interessante notar, que a palavra conhecer possui forte ligação com
provar da árvore que culminou na queda do homem. Talvez tenha-se criado
também o conceito de que o sexo tenha sido o fruto do pecado, visto que as
palavras são deveras semelhantes.

Embora não seja necessariamente essa a questão, veremos num ponto em comum,
que o conhecimento é sempre gerador de algo. Portanto agora, a cada vez que o
homem conhece sua mulher, um fruto há de lhe nascer como filho. Essa lógica será
explorada largamente em todo o livro sagrado.

O primeiro fruto do conhecimento entre Adão e Eva, longe do Éden e sob a


maldição divina, é Caim.

Na conceituação bíblica, o primeiro filho é o mais importante, e portanto herdeiro


da melhor parte que couber dos pais. É por ele também que será chamada a
descendência do pai, por onde se contará a genealogia deste.

Esse costume ainda é passado em sociedades patriarcais e entre judeus e islâmicos


a prática é preservada.

Entretanto, veremos aqui, que embora Caim seja o primogênito, não é dele a
herança e também por onde se chamará a descendência de Adão. Isso ocorre pela
mácula que cabe a esse primeiro filho, no crime praticado posteriormente.

por outro lado, Caim é a personificação do fruto do mal, colhido por Adão e sua
mulher. Assim, como já dito, ao se provar do fruto do bem e do mal, a dualidade
estará sempre presente, corrompendo o que o ser humano construir.

Caim representa com firmeza a situação do ser humano após a queda. É de fato a
primogenitura, ou seja, a herança da humanidade. É a alegoria da carnalidade em
batalha contra a espiritualidade. Por isso Eva exclama: "Alcancei do Senhor um
Homem!"
O nome Caim tem duas possíveis origens, cujos significados tem a ver com a
situação da queda humana. A primeira especulação é que seja da palavra Qayin,
que significa Lança; e outra da palavra Qanah, que significa obter, possessão, algo
alcançado.

Dentro dessa metáfora bíblica, é perceptível que a primeira tentativa de se produzir


algo longe do conhecimento sobre a vida e amor universal, gera algo condizente
com a natureza carnal. A lança fere e mata. Numa segunda interpretação, significa
lançar-se sobre algo, lançar mão, o que pode coadunar com o significado de
obtenção, posse, alcançar algo. Isto posto, é notável que a natureza humana está
agora voltada ao alcance das coisas materiais e terrenas, visto que, conforme
predito por Deus, Adão teria que obter o seu pão através do próprio suor. Em assim
sendo, o desejo pela obtenção da materialidade surge no primeiro momento em
resultado do conhecer o homem sua mulher. Ou seja, o conhecimento do próprio
corpo, com suas necessidades básicas, leva o ser humano à busca pela própria
sobrevivência, obstando-se assim sua natureza divina em prol de si mesmo.

"E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi
lavrador da terra." Gênesis 4:2

No segundo ato de conhecer sua mulher, Adão consegue a proeza de trazer um


outro filho, um outro sentimento. Abel, que advém da palavra Hébhel significa
Fôlego, vapor, névoa, algo que é efêmero e logo passa.

Se volvermos à narrativa da criação, veremos que Deus soprou no homem o fôlego


de vida, o que o fez alma vivente. É esse fôlego que o mantém vivo, que o faz
existir. Porém o homem não parece obter controle sobre ele, uma vez que não
possui acesso à Arvore da Vida, a qual lhe faria alcançar o conhecimento para a
vida eterna. É esse mesmo fôlego que Adão consegue gerar como filho, e que tem
a potencialidade de os salvar.

Abel é a representatividade do bem. O outro pólo da dualidade humana. Porém a


Terra não é seu meio de vivência. Neste mundo, com as necessidades de
manutenção da existência muito mais em voga do que a pureza do espírito, Abel é
frágil e passageiro.

Este fato é corroborado e aquecido dado à circunstância da primeira natureza ter


advindo na figura do impetuoso Caim. E essa dualidade de naturezas - a carnal e a
espiritual - entrarão em conflito no interior do ser humano decaído, e a mais forte
vencerá.

A Bíblia relata que Abel foi pastor de ovelhas e Caim lavrador da terra. A terra é a
origem do homem e a lavrar para obter alimento é ser consoante à maldição divina
imposta a Adão. Sendo assim, Caim é o resultado da interação com a terra e suas
dificuldades. Caim busca frutos da terra, ou seja, a materialidade que o impulso
humano produz.

Por outro lado, o dócil Abel, torna-se pastor de ovelhas.

Enquanto Caim não possuía um espírito em si, preferindo a praticidade do plantar e


colher sem que necessitasse colocar amor na técnica de agricultura que
desenvolvera - uma vez que plantas não falam, não sofrem e nem reclamam - Abel
prefere doar seu amor aos animais, numa interação diferente, a qual exigia mais
compreensão sobre o estado dos seres que lhe seguiam.

A analogia de Abel com Jesus é evidente.

Jesus denomina-se o bom pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas.

Outro personagem bem conhecido como pastor e com as mesmas características, é


Davi, o qual também luta contra animais selvagens para a defesa de seu rebanho.
Moisés, antes do chamado para libertar Israel, também é pastor. Ou seja, todos os
libertadores mencionados na Bíblia, são pastores. Isso leva a crer que o pastoreado
esteja ligado primeiramente ao amor e não simplesmente à necessidade da
manutenção de si mesmo, do eu, no sentido egoísta do termo. Enquanto Caim
preocupava-se com a própria sobrevivência, Abel vivia por suas ovelhas, ou seja,
por outros. Abel e esses grandes homens são a representação pálida do que
ocorreria ao aproximarmo-nos da Árvore da Vida. O amor iniciará seu processo de
envolvimento com a docilidade dos sentimentos. Percebemos também nestas
analogias, que as histórias bíblicas são num geral as mesmas, com mudanças de
contextos e personagens, porém todas a indicar um mesmo lugar.

Ovelhas também são uma analogia muito farta e significativa na Bíblia. Como já
explicado, os animais representam os temperamentos humanos, dentro das quatro
personalidades conhecidas pela psicologia da Grécia Antiga. As ovelhas, neste
contexto da sagracidade bíblica, são aquelas pessoas dóceis, amáveis, obedientes e
que por conseguinte, reconhecem seu verdadeiro pastor. Portanto, Abel - esse
fôlego divino inserido no homem pelo amor de Deus à vida - encontra seus
seguidores nas pessoas dóceis, humildes e obedientes.

"E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao
Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua
gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta.
Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e
descaiu-lhe o semblante." Gênesis 4:3-5

A oferta de Caim é apresentada sem solicitação, como bem se pode notar no texto.
Deus não lhe pedira nada, visto que a carnalidade não possui frutos a apresentar
que sejam aceitáveis diante da divindade. E Caim, para sua complicação, apresenta
a Deus o resultado de seu trabalho, o fruto da Terra.

Porém esse tipo de esforço não é o que agrada à divindade, uma vez que a
materialidade humana, produto de sua avareza e mesquinhez - e o que o faz cada
vez mais preso à roda da serpente - demonstra-na que este se perdeu de fato do
caminho. A oferta de Caim foi então desprezada por Deus, o que por certo, gerou
demasiada angústia no jovem rapaz.

Por outro lado, Abel apresentou também o resultado de seu trabalho. É válido notar
que Abel também não foi solicitado. E se analisado de forma profunda, Abel
parece imitar a tentativa de agrado que seu irmão fizera a Deus.

Esse tipo de imitação - colocando-se de forma literalizada o texto bíblico - parece


mais uma provocação e uma competitividade do que uma oferta. Evidentemente
que não é disso que trata-se. O homem, em sua natureza avarenta e materialista,
tenta agradar a Deus com presentes, advindos da materialidade, de sua própria
criação e, portanto, sem méritos diante do que Deus busca. Enquanto a natureza
espiritual, movida pelo amor, oferece a Deus aquilo que teve como resultado, que
foi sua docilidade, calma, obediência e humilde, aqui representada pela
personalidade da ovelha, a carnalidade entra na frente com o resultado de seus
frutos materiais.

A primeira lição mais importante dessa história é que para Deus bens materiais não
possuem valor algum como oferta. O que lhe causa atenção é a natureza que
cultivamos no interior de nosso ser. É nossa personalidade dócil, limpa, ausente de
avareza, egoísmos e arrogâncias que vai agradar a divindade guardadora da Árvore
da Vida.
É de igual forma importante salientar que a oferta de Abel não pareceu um
sacrifício. Não é dito que Abel imolou uma ovelha, mas que tão somente
apresentou um primogênito, ou seja, a primeira e portanto melhor, dentre as que
cuidara. Muito embora diga-se no texto que apresentou sua gordura, não diz nada
sobre seu sangue, o que leva a crer que - pelo menos a princípio - o livro sagrado
não quer passar a ideia de derramamento de sangue. Tal conclusão nos advém por
uma questão de lógica. Afinal de onde viria a necessidade de matar um animal,
uma vez que só existiam até então quatro pessoas sobre a Terra e Deus não exigira
nada dessa natureza de sua parte?

Portanto, a oferta de Abel é o próprio resultado de sua índole. É o fruto do espírito.


E essa oferta é aceita, despertando ira em seu irmão.

Deus percebe a ira de Caim e o questiona: "Por que te iraste? E por que descaiu o
teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem,
o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar."
Gênesis 4:6 e 7

Esse texto revela o simbolismo da narrativa e a clara evidência de que Caim não é
uma pessoa, mas a nossa natureza carnal. A rejeição causou ira em Caim. E essa
ira, ao invés de dominada, como o próprio Deus lhe adverte, vai refletir depois em
atos. E o conselho divino é de que se ele fizer o bem, o pecado há de morrer antes
que entre. Mas se não for, o desejo inerente à natureza carnal, nos dominará e nos
perderemos ainda mais pelo caminho.

Da mesma forma também, percebemos o convite divino à prática do bem, o qual


também é um dos lados da Árvore do conhecimento. Assim temos no bem um
antídoto para o outro lado. Porém, a natureza carnal não o conhece. Nela o bem é
distorcido, fazendo-se semelhante ao mal. Por isso a mulher jamais deveria comer
de tal fruto, visto que em sua infantilidade espiritual, não saberia nunca a distinção
entre uma e outra coisa, sendo fadada sempre a ingressar pelo caminho correto.

"E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se
levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou." Gênesis 4:8

O campo somos nós, dentro de nossa vastidão de sentimentos, ideais e valores.


Caim se levanta, fala algo a Abel e simplesmente o mata.

É interessante que o ser humano no estágio de Caim vai dando passos cada vez
mais largos, que acabam por culminar na morte da natureza espiritual, a qual
desejava despertar. O primeiro passo foi tentar agradar a divindade. Esse passo é
altruísta, desde que os demais não sejam em falso. O segundo foi tentar agradar
com bens materiais, com o fruto de suas próprias mãos e não de seu interior. A
partir do segundo passo dado em falso, o resultado do erro é iminente e irretratável.
O terceiro passo é a inveja, dado o fato de a oferta da natureza espiritual ser melhor
do que a da natureza carnal. Junto com a inveja apresenta-se também o ciúme. O
quarto passo é resultado da falta de freio do complexo de sentimentos que então
invade o coração humano. Desponta-se a ira. Com ela, dificilmente o estado
espiritual terá algum êxito dentro da vida humana. E a consequência disso é o
derradeiro passo, que é a morte, o assassinato da natureza espiritual - da centelha
divina - que como uma delicada flor, tentava florescer no interior do homem
decaído.

O homem agora, perdido em meio à materialidade de suas ações, não sabe mais o
que fazer. Perdeu-se nele a escada que poderia ascender aos céus, fazendo-lhe fugir
da presença divina em sua vida.

Essa condição humana não é incomum entre os homens atuais. Comunidades ditas
cristãs utilizam-se desse subterfúgio para angariar membros, utilizando-se de seus
recursos materiais para oferecer uma possível ascensão à escada divina. Ao longo
da história, tal comportamento foi largamente registrado, revelando que a
humanidade em toda a sua trajetória sobre o Globo, ainda não aprendeu que o
acesso aos espaços superiores da consciência divina não pode ser atingido com
sacrifícios sem vida, fruto de suas mãos decaídas. O homem acredita que tem a
capacidade - mesmo com sua finitude e pequenez - agradar à divindade com seus
recursos materiais, retirados da terra, maldita pela própria presença humana. Ou
seja, apresenta a Deus o fruto daquilo amaldiçoado por sua existência fútil.

A voz de Deus, ainda que não mais desejada pelo homicida Caim, advém aos seus
ouvidos, inquirindo sobre seu irmão.

"E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou
eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9

E a resposta também é de igual maneira sensata, se analisada pela lógica que aqui
se estabelece: "Não sei; sou eu guardador do meu irmão"?

De fato a natureza carnal nada tem a ver com a espiritual e de forma alguma
poderia ser sua guardadora. A verdade é que, embora as duas tenham sido geradas
pelo mesmo corpo (Eva em simbiose com Adão), a duas estão em uma luta
constante, procurando uma aniquilar a outra. Evidentemente a Espiritual o queira
fazer pelo amor, enquanto a carnal pela violência e prepotência humana.

Diante da resposta de Caim, Deus afirma que a voz do sangue de Abel clama desde
a Terra até Ele.

"E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a
terra. Gênesis 4:10

Esse trecho mostra que embora a natureza espiritual aparentemente tenha sido
morta pela carnal em virtude da importância que damos a ela - nosso lado divino
ainda está vivo na terra e clama para que esse dano seja reparado. Isso muito se
alinha com a doutrina espírita, que prega que todos, sem exceção, um dia
retornarão à perfeição de espírito, ainda que estejam imersos durante muitas eras
nas trevas da perdição.

"E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua
mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua
força; fugitivo e vagabundo serás na terra." Gênesis 4:11,12

Devido a esse delito, assim como Adão, Eva e a Serpente, Caim também recebe
uma maldição. E mais uma vez a Terra é palco de uma odisséia. Caim agora - que
antes retirava o fruto da terra para sobreviver - não recebe mais da grande mãe a
sua força. Além disso, torna-se fugitivo e vagabundo sobre ela. Ou seja, o resultado
de se entregar aos ditames dos desejos terrestres e negar a natureza espiritual é a
prisão neste mundo, sem consciência da superioridade que a centelha divina
"morta" com Abel, poderia proporcionar-lhe, concedendo assim a possibilidade de
romper com a prisão reencarnatória.

O resultado da negação da natureza espiritual é uma vida de virtual insucesso.


Ainda que sobrevivente, Caim não possui abundância na vida. Ora, a abundância
que a Terra deve conceder, proporciona o descanso necessário à elevação, se o ser
assim desejar. Entretanto, absorto tão somente à busca pela sobrevivência,
dificilmente encontrar-se-á tempo para pensar em elevados elementos espirituais,
os quais possibilitariam ascensão ao perdido estado elevado de outrora. Portanto, a
Terra, não concedendo sua força, mantém ao homem prisioneiro dos ditames
baixos e da própria sobrevivência. Assim, com baixa consciência de si, o homem
mantém em si a natureza animal, cujo pensamentos não ultrapassa os limiares da
superioridade mental a qual nele está encerrada.

"Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha maldade que a que possa ser
perdoada. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e
serei fugitivo e vagabundo na terra, e será que todo aquele que me achar, me
matará." Gênesis 4:13,14

Entretanto, visto que o sangue de Abel clama, Caim ainda consegue perceber seu
erro e a consequência que criou para si. Entretanto é tarde para não receber a
punição que é o aprisionamento terrestre, na infinita roda cármica de morte e
reencarnação. Será fugitivo e vagabundo, ou seja, estará morrendo e reencarnando
em todas as partes do planeta, sem no entanto, livrar-se das amarras que prendes a
ele.

Assim, o filho mais velho de Adão, compreende que o resultado de seu crime
resultará em prisão sobre a terra e insegurança em relação à própria vida:

"e será que todo aquele que me achar, me matará." Gên. 4:14.

Esse texto mostra que nossa parte carnal teme ser morta por completo, uma vez
que sua existência é necessária para a sobrevivência sobre o mundo. Ainda que a
materialidade e todas as tendências humanas sejam negativas quando em excesso,
tais são necessárias para a completude da viagem que há de empenhar o espírito
encarnado em busca de evolução.

Diante da dicotômica necessidade do ser humano caído em retornar à sua


originalidade divina, Deus mostra misericórdia a Caim:

"O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto qualquer que matar a Caim, sete vezes será
castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que o não ferisse qualquer que
o achasse." Gên. 4:15

A ignorância a respeito do simbolismo bíblico, levou muita gente a identificar essa


marca como a mudança da cor da pele. Até hoje existem grupos que creem
encontrar na pele negra a marca que identifica o "mal" de Caim.

Além de uma crença imensuravelmente estúpida, é amalgamada de uma jutificativa


asquerosa para se abonar o preconceito de cor. Mesmo que alguma credibilidade
pudesse preconizar tal crendice, esta viria a esfacelar diante da própria narrativa
bíblica seguinte, que não contabilizou descendentes de Caim na Arca de Noé.

Para uma perfeita compreensão do que seria essa marca, é necessário entendermos
que Caim é fruto da primeira relação entre Adão (Consciência superior) com Eva
(O corpo ou consciência inferior) após a queda pela abertura de olhos provocada
pelo fruto do conhecimento do bem e do mal. Então, estamos aqui falando sobre o
resultado que o conhecimento do bem e do mal gerou. E o primeiro resultado foi o
revoltado Caim.

Ora, Caim, ainda que fruto do "pecado", possuía em si qualidades que Deus julgou
dignas de preservar. Não fosse assim, o condenaria à morte para expurgar o sangue
do inocente Abel. Então Caim, ainda que absorto pela tendência maligna humana,
tem em si algo que é digno de preservação. Ou seja, nele é inserida uma marca para
que ninguém o mate, visto a necessidade de sua preservação para a completude da
viagem terrestre.

Considerando-se que a discussão aqui ainda gira em torno do conhecimento do


bem e do mal, a narrativa indica que a marca de Caim seja exatamente o
conhecimento, ou seja, seu intelecto privilegiado, que entende a graça divina de o
poupar. Não somente é perdoado da culpa, como também lhe é concedido um
indicativo para que quem o encontrar não lhe destrua.

Era muito comum na história antiga - em casos de guerras - os gênios ou pessoas


de vasto conhecimento se virem poupadas da morte e tratadas com respeito e total
dignidade, quando na tomada de alguma cidade. Isso se devia ao fato de que o
conhecimento por eles adquirido, serviria aos reis que subjugassem suas nações.

Isto posto, é perceptível que o conhecimento sempre foi o bem mais venerado na
humanidade, pelo menos dentre aqueles que desejavam algum progresso. A
supressão do conhecimento acumulado pela humanidade no período posterior ao
Império Romano ficou conhecido como a Idade das Trevas. Portanto, desde todas
as épocas, por mais que as insurgências humanas não fossem veneradas, o
conhecimento por estes adquiridos sempre fora respeitado. Assim, podemos
pressupor que a marca de Caim é sem dúvida sua natureza intelectual, revelando
em si a latência do divino, aparentemente morto por dentro, porém com o sangue
de Abel ainda a clamar desde a Terra.
O castigo para quem matasse Caim após a inserção da marca seria sete vezes
maior. O sete, na numerologia bíblia possui o sentido de completude. Além de
perfeição, possui também o sentido de que algo é concluído. Portanto, dizer que
alguém seria castigado sete vezes, implica dizer que o castigo seria irreversível,
pois estaria completo. Ou seja, se junto com a natureza carnal morresse consigo o
conhecimento, nada mais restaria a essa pessoa, uma vez que Abel também estaria
morto. É razoável então dizer que, embora a natureza de Caim seja algo
indesejável em nós, após a marca divina em seu ser, ele ainda produzirá bons
frutos, como veremos à frente.

"E saiu Caim de diante da face do Senhor, e habitou na terra de Node, do lado
oriental do Éden." Gênesis 4:16

Em sua condenação pela morte de Abel, Caim cumpre a má sorte de se tornar


vagabundo pela perra, ou seja, vagar por ela. E com sua mulher (um dos pontos
mais controversos da Bíblia e para os defensores da literalidade), vai habitar o lado
oriental do Éden, na terra de Node.

É interessante que esse lugar é mencionado uma única vez na Bíblia e não refere-se
a nenhum nome conhecido para a época da escrituração, por não tratar-se de
território de nenhum descendente judeu. Node, em hebraico significa tão somente
Peregrinação. Portanto, a condenação de Caim é tão somente ver a luz (o lado para
onde a luz do sol nasce é o lado oriental), porém peregrinar sem jamais alcançar o
sol, embora o veja todas as manhãs. Esta é de fato a condição humana que deixou a
natureza espiritual morta dentro de si. Embora o conhecimento desta Terra lhe faça
sobreviver aos ditames das leis naturais, não passará de um peregrino que ainda
que seja capaz de ver a luz, nunca a alcança.

"E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz a Enoque; e ele
edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho
Enoque;" Gênesis 4:17

Na terra da peregrinação, Caim começa então a sua geração de filhos. Gerar filhos
é a capacidade de um conceito - de uma faculdade humana ou divina - gerar outro
conceito ou circunstância.

E o primeiro filho de Caim é Enoque. Este em hebraico significa "Dedicado". Ou


seja, com a marca divina do conhecimento, o primeiro resultado é a dedicação. E
Caim, para abrigar seu filho, constrói uma cidade e a chama pelo nome do rapaz.
Entendemos nisso a fragilidade e insegurança em que vive a natureza carnal. Para
proteger o conhecimento, é necessário edificar uma cidade para abrigar a
dedicação, da qual nascerá outros filhos, ou seja, teme que em exposição ao
mundo, tal resultado pereça, e então levanta paredes para lhe proteger.

E assim, segue a geração de Caim:

"E a Enoque nasceu Irade, e Irade gerou a Meujael, e Meujael gerou a Metusael e
Metusael gerou a Lameque." Gên. 4:18

Irade significa "Fugaz". Meujael, "Ferido por Deus;" Metusael "Aquele que é de
Deus" e Lameque: "Poderoso."

Se analisadas em sequência, percebe-se uma lógica após a geração de Enoque (a


dedicação). Depois da fuga (Irade) empreendida em razão da morte de Abel, o
homem é ferido por Deus (Meujael) para abater-se em sua soberba. Entretanto,
visto que sua ligação terrena é forte, lhe é gerado o poder (Lameque), que no caso
pode ser usado tanto para elevar-se quanto para decair ainda mais. Isso vai
depender dos filhos que este poder gerar, ou seja, dos conceitos e atitudes tomadas
a partir de então.

"E tomou Lameque para si duas mulheres; o nome de uma era Ada, e o nome da
outra, Zilá." Gênesis 4:19

Lameque, o homem empoderado pelo controle das coisas terrenas, toma para si
duas mulheres: Ou seja, dois tipos de personalidades humanas. A mulher na bíblia
será sempre retratada como a natureza humana intrínseca à condição de encarnado.
E conforme dito anteriormente, os animais num geral tratarão da personalidade.

As duas mulheres de Lameque são Ada e Zilá.

Ada é a Beleza e Zilá é a Sombra. Ou seja, a consciência humana desejosa de


poder, há de alinhar-se a esses dois tipos de concepções neste momento do
conceito bíblico. A beleza lhe trará encantos, enquanto as sombras lhe serão por
tropeço, visto que a luz nunca lhe será completa.

"E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado.
E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e
órgão." Gênesis 4:20,21
Ada - a Beleza - dá a luz a dois filhos: Jabal e Jubal. Jabal representava os homens
que possuíam gado e habitavam em tendas, ou seja, os nômades ou peregrinos,
enquanto Jubal representava os que tocavam harpa e órgão.

Jabal significa "Ribeiro de Água," enquanto Jubal significa tão somente "Ribeiro."
Ou seja, os dois nomes fazem referência ao refrigério que o conhecimento aliado à
beleza, pode conceder à humanidade.

É importante ainda ressaltar que, se levados ao ponto de vista literal, o texto bíblico
entraria em contradição, pois é dito que Jabal é pai dos que possuíam gado e
habitavam em tenda e Jubal seria pai dos que tocam harpa e órgão.

Para se considerar pai de um determinado grupo de pessoas, é necessário que este


perpetue sua descendência. Neste exemplo podemos citar Jesus, que é chamado
filho de Davi. Isso ocorre porque Jesus é da descendência desse rei e não filho
direto deste. Pelo nome do importante Davi, é chamada sua descendência. E tal
lógica percorre todo o livro sagrado. Entretanto, nem Jabal e nem Jubal, no período
em que a Bíblia fora escrita, possuíam descendentes. A razão é bem simples e está
narrada nos capítulos seguintes de Gênesis. Os descendentes de Caim foram todos
- sem exceção - mortos no dilúvio. Assim, nem um e nem outro filho de Lameque
são pais de ninguém. Aliás, a menção da genealogia é inútil do ponto de vista
literal, visto que não deixaram nenhuma descendência e importância alguma
possuíam para os registros sagrados. Portanto, é irracional acreditar que este texto
esteja pautado em literalidades.

A ideia é bem clara e compreensível. As consciências posteriores que encarnassem


e se alinhassem com aqueles tipos de comportamento (habitar em tendas, possuir
gado, tocar harpa e órgão), seriam filhos (espíritos semelhantes) a esses dois
descendentes de Caim. Esse tipo de associação é muito abundante na mitologia
grega e é bem provável que pitadas desses conceitos tenham sido inseridos no
decorrer da escrituração bíblica.

Por outro lado, percebemos nesse texto, uma informação importante sobre a
História humana. Conforme a arqueologia, a Idade da Pedra, que corresponde a um
período desde os primeiros homens até à Idade dos Metais, foi dividida em três
partes.

A primeira é o Paleolítico que se dá até por volta de 10000 Ac. eé quando o ser
humano possui hábitos nômades, o que corresponde à menção de Jabal no texto.
O Mesolítico é a segunda parte, transitando rapidamente para o Neolítico. Neste
período a humanidade deixa de ser essencialmente nômade e parte para a
construção das vilas onde começa-se a estabelecer a agricultura. A menção do pai
Jabal como músico é de igual modo significativo, pois é nesse período - com a
humanidade menos preocupada com a própria sobrevivência - é que os seres
humanos voltam-se para as artes.

"E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro; e
a irmã de Tubalcaim foi Noema." Gênesis 4:22

É interessante que os filhos de Ada acompanharam a mãe na obra de beleza,


enquanto Zilá - a sombra - gerou também dois filhos. Na verdade um filho e uma
filha, conforme o texto. O filho de Zilá foi Tubalcaim e a filha Noema.

O próprio nome Tubalcaim já faz referência a Caim. E de fato significa: "Tu serás
trazido de Caim." Ou mais a miúdos, "Tu serás trazido da lança, da possessão ou
de algo que foi adquirido."

O nome do jovem já evoca a queda de Lameque. Dá a entender que a união com a


sombra há de gerar-lhe algo que fará voltar à posição mais baixa, a fim de que olhe
para o divino.

O texto complementa dizendo que este é mestre de toda obra de cobre e ferro.

O contexto bíblico entra numa questão agora um tanto maior e um tanto quanto
reveladora a respeito da história humana. É por volta do ano 5000 Ac. que o
homem sai da Idade da Pedra e adentra os portais do que chamamos História de
fato. E esse período é chamado de Idade dos Metais, visto que o homem agora
passa a criar artefatos em cobre, bronze e ferro. É quando começam a surgir os
primeiros artefatos dessa natureza nos achados arqueológicos.

A Idade dos metais é dividida em três partes. A Idade do Cobre é conhecida entre
5000 a 3300 Ac. Já a Idade do Bronze é identificada aproximadamente entre 3300
a 1200 Ac. Por fim, a do Ferro é datada de 1200 Ac. até à queda do Império
Romano em 476 Dc. (Lembrando que essas datas não são necessariamente fixas)
Coincidentemente, no início desse período, a Bíblia situa o mestre Tubalcaim na
genealogia de Adão. Muito embora esteja ausente no texto um período cronológico
enfático - a fim de que o possamos cronometra-lo com exatidão - é compreensível
que esse tipo de consciência humana tenha vivido por volta de 4000 Ac. (contando-
se pelos anos da vida de Adão e do dilúvio). Ou seja, a Bíblia está procurando
narrar - mesmo que de forma velada - o surgimento das ciências. O bronze não é
mencionado no texto, visto que este é a mistura de cobre e estanho. Ou seja, citar o
cobre e o ferro nesse texto é por demais significativo e mostra que o desejo do
escritor bíblico é fazer um apanhado místico dentro daquilo que conhecemos como
caminhada humana pela face da Terra. Tudo isso se alinha com perfeição ao
conhecimento que nunca poderia ser morto, visto ser esse a marca de Deus em
Caim.

Resumindo-se a conversa, podemos então compreender que de alguma forma Caim


e sua descendência representa os saltos dado pela humanidade em sua forma de
interagir com o mundo no qual foram aprisionados. Ao passo que o fruto de
Lameque com a beleza são os povos nômades (portanto de certa forma, livres) e os
músicos (também livres no sentido de alma), seu filho com a sombra é a
construção de artefatos que num geral estavam ligados às guerras. Pois da mesma
forma que esses produtos podiam ser usados para fins domésticos - como na
agricultura - o eram muito mais para a confecção de armas, que num geral
possuíam a finalidade de aumentar mais e mais o território em que o homem
habitava, suprimindo-o evidentemente de seus inimigos. Sendo assim, a sombra há
de gerar tanto a facilidade para a vida doméstica, quanto armamento para aumento
de território e sobrevivência no mundo, e a consequente prisão nele.

O significado do nome de Tubalcaim, portanto, evoca a confecção tanto de


instrumentos agrícolas para a vida na terra, quanto de armas, cuja finalidade seria a
morte de seus semelhantes. Ou seja, o assassinato cometido por Caim no passado,
retorna de forma elaborada na forma de Tubalcaim.

A filha de Lameque com Zilá, é Noema. Noema significa Percepção mental,


pensamento, propósitos.

Seguindo-se na linhagem do conhecimento de Caim, encontramos novamente a


conexão com as ciências. Na filha de Lameque resume-se toda a lógica do texto,
pois somente com pensamentos e propósitos definidos é que o homem poderia
assenhorar-se do manuseio correto do que criaria com os metais.

Portanto, entendemos no texto que Tubalcaim é a utilização do conhecimento para


a guerra e o lançar-se sobre a Terra, enquanto Noema seja a adaptação doméstica
ao local a que a humanidade se estabelece.
"E disse Lameque a suas mulheres Ada e Zilá: Ouvi a minha voz; vós, mulheres de
Lameque, escutai as minhas palavras; porque eu matei um homem por me ferir, e
um jovem por me pisar. Porque sete vezes Caim será castigado; mas Lameque
setenta vezes sete." Gên. 4:23 e 24

Essa parte final da história dos descendentes de Caim é bastante controversa e


necessário é entender o texto por partes. Diferente de seu antepassado Caim,
Lameque não matou seu irmão, mas simplesmente um homem. A motivação foi
por lhe ferir. Não contente, matou também um jovem, por lhe pisar. E cita que
quem matasse Caim seria castigado sete vezes, entretanto a este - Lameque - o
castigo seria setenta vezes sete.

Considerando que Caim é Possessão no sentido de se ter posse, e a marca de Deus


sobre ele é o conhecimento (o que gera o castigo se alguém o matar), Lameque é o
Poderoso. Ora, não é necessário muitas explicações para entender que o poder
abate os homens tanto em sua maturidade quanto em sua idade jovem. Em
qualquer condição que este se encaixe, o homem acaba morrendo para que se
submeta aos ditames que o poder lhe convém. E o castigo para quem o tentar
destruir é sim, imensuravelmente maior em comparação ao que mata o
conhecimento.

O entendimento perceptível nesse texto é que quando se mata o conhecimento, o


castigo é de forma completa, pois é nele que reside nossa sobrevivência como
espécie. Porém quando se mata o poder, o efeito é consequentemente dominó, pois
implica na perda de muitos outros valores que lhe foram utilizados para os
alcançar. Dificilmente um homem sem conhecimento chega ao poder. Junto com o
conhecimento há necessidade de estratégias, liderança, sabedoria, auto controle e
uma dezena de outros atributos impossíveis a um homem simples. Quando homens
sem altruísmo conseguem o topo, a nação que a eles está submetida sofre
grandemente. Ou seja, quem mata o conhecimento sofre muito, mas quem destrói o
poderoso, sofre muito mais.

A menção do castigo sobre quem matasse Lameque em setenta vezes sete, é a


mesma sobre o perdão perfeito que Jesus ensinou a Pedro, porém de forma
contrária:

"Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu
irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que
até sete; mas, até setenta vezes sete." Mateus 18:21 e 22
O ensinamento crístico é que ao invés de se castigar, é necessário perdoar na
mesma intensidade. Se quisermos encontrar o caminho do retorno para a vida,
devemos perdoar, tanto a si, quanto aos demais. E de forma mais que perfeita.

A ligação desse texto de Gênesis com o Evangelho é tão íntima, que em seguida
Jesus fala também de alguém poderoso, um rei:

"Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas
com os seus servos..." Mateus 18:23

E no final da parábola ele diz que se não acertarmos as contas entre os irmãos, o rei
não há de se compadecer de nós, e nos lançará na prisão até que paguemos toda a
dívida.

Portanto, quem matar (ou tentar matar) a Lameque será castigado setenta vezes
sete.

E que castigo maior poderia existir que não fosse nesta prisão terrena? Portanto,
percebe-se que trata-se da morte do conhecimento e consequentemente do poder. O
homem sem conhecimento no poder, certamente seria um castigo imensurável à
sua nação e os que a ele estivessem submetidos.

Sete

"E tornou Adão a conhecer a sua mulher; e ela deu à luz um filho, e chamou o
seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outro filho em lugar de Abel;
porquanto Caim o matou. E a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu
nome Enos; então se começou a invocar o nome do Senhor." Gênesis 4:25, 26

Após a tentativa frustrada de inserir neste mundo pela raiz adâmica uma raça
humana mesclada entre o carnal e o espiritual, Adão traz ao mundo um outro ser.
Sete, o terceiro filho do casal primordial, que em hebraico é Sheth, possui em seu
nome o sentido de "o que foi definido", "nomeado" "ponte" e "compensação".

Seria esta uma correção do problema ocorrido em experimentar a ascensão da raça


humana sem um auxílio divino externo. A Terra, como um mundo de provas e
expiações, ao longo de seus milênios, deveria experimentar a inserção de diversos
seres advindos de outros mundos, que coincidissem com a vibração emitidas em
suas essências em relação a este mundo.
Assim, é prudente dizer que a "compensação", ou Sete, seria uma nova tentativa de
resgate da humanidade por meio da encarnação de seres de outros mundos, que
estariam tanto aprendendo com os erros cometidos em seus mundos dos quais
foram exilados, como também auxiliariam a raça de Caim a evoluir no resgate do
sangue de Abel, que clamava diante de Deus.

É crença espírita difundida amplamente que este mundo - nos primórdios da


evolução humana como espécie - recebeu em seu seio, uma categoria de espíritos
exilados, da distante constelação do Cocheiro. Advindos de uma estrela chamada
Capela, tais habitantes espirituais não mais se alinhavam com o desenvolvimento
moral que em tal mundo existia, sendo absorvidos por este planeta, conforme as
leis de atração inerentes ao próprio universo. Não mais podendo habitar
conjuntamente a seus irmãos que atingiram elevado estado moral, tais seres foram
designados a experimentar o estado carnal humano, num mundo em
desenvolvimento e aprisionado pela raça de Caim, cuja animalidade matara Abel, a
natureza espiritual.

Embora seu estado de vida não tenha atingido patamares elevados para seu mundo,
a raça de Sheth, em equiparação à humana nascida na mãe Terra, mostrava-se
incomparavelmente elevada diante do atraso advindos da carnalidade. Assim, o
exílio possuiu caráter punitivo para estes, porém de auxílio imensurável para a
humanidade, que experimentou grande desenvolvimento intelectual e moral dentre
os rebaixados seres humanos que se debatiam no Ego, esquecidos do Espírito,
morto na mitologia de Abel.

Essa nova raça, seria a base para um novo mundo que aqui se tentaria estabelecer.
Assim, a Sete nasceu Enos, cujo significado é simplesmente Homem, e a partir
dele se começa a invocar o nome do Senhor.

Este seria, evidentemente um novo significado para a palavra Homem, que serviria
agora, não para designar a raça humana, mas uma nova categoria de seres,
dispostos a um retorno ao Éden perdido, tanto na mitologia bíblica de um mundo
idealizado, como de seu próprio mundo na distante estrela, para onde desejariam
retornar um dia, após atravessar pelos alinhamentos de caráter que este mundo
inferior lhes proporcionaria.

É importante lembrar que o Cristo, quando refere-se à sua pessoa, não denomina-se
como filho de Deus, mas sim filho do Homem, numa clara referência à evolução
dessa raça que por providência divina, veio encontrar neste mundo, a depuração
necessária à sua existência.

Somente na descendência de Sete é que se começa a invocar o nome do Senhor. Ao


contrário de Adão, que após desobedecer evitava a presença do criador, a raça
representada por Sheth possui um desejo imenso de arrependimento e retorno ao
paraíso que por negligência fora perdido. Assim, a narrativa bíblica parece contar a
história tanto da criação humana numa odisséia em busca da sobrevivência, como
de um outro povo que busca um retorno a um lar que lhe fora retirado.

"Isso quer dizer que a geração de Sheth é a de espíritos não oriundos da Terra -
os das raças primitivas, bárbaros, selvagens, ignorantes, virgens ainda de
sentimentos e conhecimentos religiosos - mas outros, diferentes, mais evoluídos,
que já conheciam seus deveres espirituais, suas ligações com o céu; espíritos já
conscientes de sua filiação divina, que já sabiam estabelecer comunhão espiritual
com o Senhor". Os Exilados de Capela P. 90

A Genealogia até Noé

"Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à
semelhança de Deus o fez. Homem e mulher os criou; e os abençoou e chamou o
seu nome Adão, no dia em que foram criados. E Adão viveu cento e trinta anos, e
gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de
Sete. E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos, e gerou
filhos e filhas. E foram todos os dias que Adão viveu, novecentos e trinta anos, e
morreu. E viveu Sete cento e cinco anos, e gerou a Enos. E viveu Sete, depois que
gerou a Enos, oitocentos e sete anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os
dias de Sete novecentos e doze anos, e morreu. E viveu Enos noventa anos, e
gerou a Cainã. E viveu Enos, depois que gerou a Cainã, oitocentos e quinze anos,
e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Enos novecentos e cinco anos, e
morreu. E viveu Cainã setenta anos, e gerou a Maalaleel. E viveu Cainã, depois
que gerou a Maalaleel, oitocentos e quarenta anos, e gerou filhos e filhas. E
foram todos os dias de Cainã novecentos e dez anos, e morreu. E viveu Maalaleel
sessenta e cinco anos, e gerou a Jerede. E viveu Maalaleel, depois que gerou a
Jerede, itocentos e trinta anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de
Maalaleel oitocentos e noventa e cinco anos, e morreu. E viveu Jerede cento e
sessenta e dois anos, e gerou a Enoque. E viveu Jerede, depois que gerou a
Enoque, oitocentos anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Jerede
novecentos e sessenta e dois anos, e morreu. E viveu Enoque sessenta e cinco
anos, e gerou a Matusalém. E andou Enoque com Deus, depois que gerou a
Matusalém, trezentos anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de
Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não
apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou. E viveu Matusalém cento e
oitenta e sete anos, e gerou a Lameque. E viveu Matusalém, depois que gerou a
Lameque, setecentos e oitenta e dois anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos
os dias de Matusalém novecentos e sessenta e nove anos, e morreu. E viveu
Lameque cento e oitenta e dois anos, e gerou um filho, A quem chamou Noé,
dizendo: Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas
mãos, por causa da terra que o Senhor amaldiçoou. E viveu Lameque, depois que
gerou a Noé, quinhentos e noventa e cinco anos, e gerou filhos e filhas. E foram
todos os dias de Lameque setecentos e setenta e sete anos, e morreu. E era Noé
da idade de quinhentos anos, e gerou Noé a Sem, Cão e Jafé." Gênesis 5:1-32

A descendência de Sete possui uma intrigante informação, que até hoje desbaratina
teólogos e estudiosos dos textos canônicos. Seja quem for, os descendentes da raça
capelina de Sete, gozava de uma longevidade completamente fora dos padrões da
biologia humana, não lhes sendo oportuno quaisquer registros arqueológico nas
datações da humanidade. Muito pelo contrário da lógica - expostos aos perigos de
uma vida majoritariamente selvagem - impossível seria aos primeiros humanos a
ultrapassagem de pouco mais dos 40 anos de idade, como até bem pouco
resgistrava-se entre os romanos.

Entretanto, na genealogia de Sete, os viventes mais jovens morrem com mais de


oitocentos anos de idade.

Algumas explicações literalizadas explicaram o fato inferindo que a diferença na


atmosfera terrestre antes do Dilúvio, proporcionavaa essa surreal longevidade.
Entretanto, cronologicamente, se tal evento cataclísmico de fato ocorreu, além de
impossível em escala universal, o teria sido há apenas quatro mil anos segundo a
narrativa bíblica e nesse curto período as escalas de variação climáticas medidas na
Antártida e em outros meio ambientes isolados, foram pouco significativas para
que tais discrepâncias ocorressem.

Adeptos da mesma corrente acreditam que a alimentação humana antes do dilúvio


também contribuíra para a longevidade, visto que na Bíblia não há a menção de
alimentos cárneos antes da grande inundação. Entretanto seria mera ingenuidade
acreditar que uma sociedade depravada, cujo antepassado matara o próprio irmão,
absteria de alimentos cárneos em sua dieta. Isso, claro, levando em consideração
uma possível realidade para o mito bíblico, pois a ciência arqueológica demonstra
a alimentação animal por parte do ser humano em mais de uma centena de milhares
de anos, com provas incontestáveis de suas caçadas eternizadas nos desenhos
rupestres.

Portanto, o que poderia significar a longevidade absurda do texto mítico da


genealogia de Sete?

Para desvendar tal enigma, é mister atermo-nos à nomenclatura dos patriarcas, bem
como de seus anos de peregrinação terrena, dentro de uma tabela comparativa, a
fim de que entendamos a realidade sobreposta nas camadas desses registros.

Nome Idade em que gerou o Idade limite da geração Idade da morte


primeiro descendente de filhos

Adão 130 800 930

Sete 105 807 912

Enos 90 815 905

Cainã 70 840 910

Maalaleel 65 830 895

Jerede 162 800 962

Enoque 65 300 365

Matusalé 187 782 969


m

Lameque 182 595 777


Noé 500

Para uma compreensão factual do que esse conjunto mítico de nomes pode
significar, devemos nos ater ao que a inspiração revelada a grandes mestres ao
longo da história trouxe para nosso conhecimento.

Neste texto, partimos da premissa de que Sete seria a representação humana do


início do processo de encarnação como humanos, da raça advinda das estrelas.
Especificamente da estrela Capela, da constelação do Cocheiro.

Embora tal concepção pareça estranha, inúmeras corroborações se sustentam


dentre as diversas fraternidades buscadoras do entendimento das origens humanas,
bem como dos estudos da interação possível entre os seres humanos primitivos e
uma espécie estelar.

Em diversas épocas, em todos os pontos Terra, homens que viveram para a


compreensão do universo, escreveram em linguagem oculta, manuais de retorno ao
lar do qual se viram expulsos em algum momento de suas existências. Esses
homens, em graus diferentes de maestria, entregaram aos demais, o que se poderia
compreender quando o tempo da maturidade espiritual adviesse a cada encarnado.
Assim sendo, compreendemos que a humanidade atual não só descende dessa raça,
como também é a própria raça, encarnada reiteradas vezes, procurando o caminho
da saída, do retorno ao seu antigo lar.

Outrossim, essa antiga raça expurgada de seu lar inicial, consubstanciou-se à raça
humana, gerando um amálgama inter-humano primitivo, concedendo-lhe a
capacidade de um pensamento mais elaborado, impulsionando a evolução da raça
humana desprovida de maior capacidade intelectual.

O Universo possui uma lei fundamental, a qual a física reconhece como Gravidade,
dividindo-se por gravitacional forte e gravitacional fraca. Em linguagem simplista,
infere que tudo no universo possui gravidade. Entretanto, a força dá-se pelo campo
de massa do objeto, havendo maior atração do maior para com o menor. Assim,
quando um objeto menor desprende-se de sua parte original por alguma
eventualidade cósmica, poderá se ajuntar a outro de maior gravidade.

É inerente à lógica que as leis cósmicas básicas, aplicam-se também ao mundo


invisível, contidos em dimensões aquém da perceptibilidade da visão humana. O
Universo, quase em sua totalidade, é composto por duas “massas”
incompreensíveis e impossíveis de aferir-lhes qualquer medida - a matéria e
energia escuras. Tais compostos incompreensíveis totalizam 95% do que existe.
Assim, é confortável dizer que este mundo absolutamente imensurável e
incompreensível, retenha o que chamamos de espiritual. Sobre tal base, podemos
afirmar que os mundos – todos - possuem vida, conforme já formulado por Kardec,
porém de forma menos substancial e mais energética, o que este chama de matéria
sutil.

Assim, a lei básica da atração, entra em corroboração à interpretação do texto


sagrado. Seres compostos por matéria sutil, podem se expelir de seus mundos e
alcançarem mundos condizentes com seus estados de evolução, em anuência com a
Lei da Atração. E é nesta compreensão que se desenvolve a interação de seres
advindos da estrela Capela para o nosso Planeta, melhor condizente em sua
primitividade em relação à evolução espiritual que a antiga casa desenvolveu, não
podendo mais comportar seus desregramentos. Assim, a humanidade ainda em
desenvolvimento intelectual, passa a receber em seus novos corpos, espíritos mais
evoluídos mentalmente, porém de caráter mais animalesco, condizentes com as
experimentações que por aqui ocorriam.

A humanidade dentro da concepção de Sheth, representa uma terceira raça


evoluída dentro da humanidade.

Tal mistura, além de punitiva do ponto de vista capelino, possui caráter


regeneratório para os incorrigíveis habitantes dessa estrela, bem como para auxílio
do homem primitivo que aqui evoluía. Até hoje a arqueologia não encontrou um
Elo entre o Homo Sapiens e o Homo Sapiens Sapiens, visto essa evolução ocorrer
de forma abrupta e em curto período de tempo.

“A respeito dessa miscigenação, a narrativa de Emmanuel, se bem que de um


ponto de vista mais geral não deixa, contudo, de ser esclarecedora. Diz ele:
‘Aquelas almas aflitas e atormentadas, encarnaram-se proporcionalmente nas
regiões mais importantes, onde se haviam localizado as tribos e famílias
primitivas, descendentes dos primatas. E com a sua reencarnação no mundo
terreno, estabeleciam-se fatores definitivos na história etnológica dos seres.’” Os
Exilados de Capela P. 66

Adão, a semente da criação humana, provando do fruto do conhecimento, trouxe


ao mundo duas gerações. Os representados primeiramente por Caim e os segundos,
por Abel. Abel - os dóceis que viviam pelo Espírito - sucumbiram pelas mãos
sangrentas de Caim. Ou seja, os seres humanos perderam seu último resquício de
divindade, e na geração dominante de Caim, passaram a viver para a satisfação do
próprio ego, com uma vida rudimentar e difícil, se vendo obrigados a construir
cidades para a defesa do conhecimento que o tempo e a experiência lhes outorgava.
Entretanto, por mais que tentassem salvar-se pelo conhecimento, estariam para
sempre condenados a vagar pela Terra, sem a esperança de uma salvação tangível
contra os males deste mundo, visto que não se lembravam mais da natureza
espiritual que lhe fora tirada. Com Sheth - traduzido na escala bíblica por
compensação - a humanidade poderia lembrar-se novamente do que perdera, pois
estes novos seres encarnados no seio humano, o fariam recordar de sua natureza
divina, visto que possuíam o interesse desse despertar coletivo para concretizar seu
retorno ao lar.

Assim sendo, podemos inferir que Adão representa a raça humana em seu todo
sendo que Caim é a representação primitiva da espécie humana, afoita pelos
cuidados terrestres, vivendo tão somente para a sobrevivência. Isso é especificado
diante da fala de Caim, que dizia que se tornaria um vagabundo pela Terra. Ou
seja, rodaria infinitamente sem um objetivo maior, até sucumbir diante da morte.
Viveria preso à Terra. Abel, por sua vez, é a representatividade dos que
experimentaram o pulsar do Espírito Santo dentro de si. Aqueles que por pouco
tempo viveram para a natureza espiritual, porém ao confrontarem-se com a
natureza de Caim, sucumbiram à morte e esquecimento. Desta feita, a terceira
linhagem de humanos é uma tríplice amálgama da espécie. São carnais como
Caim, espirituais como Abel, porém as duas naturezas estão em relativo equilíbrio,
camufladas em seu ser. São carnais na concepção generalizada da espécie, porém
no íntimo, recordam-se de um lar nas estrelas lhe fora perdido num passado
remoto.

"Isso quer dizer que a geração de Seth é a de espíritos não oriundos da Terra - os
das raças primitivas, bárbaros, selvagens, ignorantes, virgens ainda de
sentimentos e conhecimentos religiosos - mas outros, diferentes, mais evoluídos,
que já conheciam seus deveres espirituais, suas ligações com o céu; espíritos já
conscientes de sua filiação divina, que já sabiam estabelecer comunhão espiritual
com o Senhor." Os Exilados de Capela P. 90

Seguindo-se no raciocínio de que os exilados da estrela Capela seriam os


representados pelo terceiro filho de Adão, entendemos agora que todo o livro
sagrado dos judeus vai girar em torno desse povo. Ou seja, tudo o que é narrado na
Bíblia, advém de tal povo estelar que, expulsos de seu antigo lar, entenderam que
este mundo lhe serviria tão somente como escola para recomeço da caminhada, na
humildade, dificuldade, e pelo sofrimento na carne a fim de, pela transmutação do
ser, recobrassem o lar perdido em virtude da negligência moral. Estes, em busca do
auto resgate, confeririam também aos humanos em desenvolvimento, a
possibilidade do alcance de um mundo melhor, se em seu íntimo demonstrassem o
amor verdadeiro, seguindo os despertados também na missão de resgate da raça
humana inteiramente decaída. Em seu corpo estaria a marca de Caim. Porém em
seu coração - no íntimo do ser e escondido como um tesouro - a partícula divina de
Abel. Com ela, poderiam irromper e transmutar a vida. Seria como a geração de
um filho. Assim, a transformação poderia existir tão somente pelo acesso à
natureza divina, infundida pela consciência superior em seus corações, no qual
nasceria um dia, como filho do homem. Um novo Abel. Um novo Espírito.

Isto posto, podemos agora começar a compreender o que poderia significar a


descendência de Sheth.

Em primeiro plano é necessário perceber que existe um anagrama implícito dentro


do significado judaico dos nomes mencionados. Portanto, vamos primeiro aos
significados da geração:

Sete Compensado / Apontado / Mostrado

Enos Homem / Mortal

Cainã Possessão / Seu Ferreiro / Aflição

Maalaleel Louvor de Deus / O Santo Deus

Jerede Descida / Descerá

Enoque Dedicado / Ensinado

Matusalé Quando ele morrer, haverá um derramamento


m
Lameque Poderoso / Porquê assim contigo? Para fazer cair de posição.

Alguns autores de origem protestante consideram que a mensagem contida nesse


jogo de significados contenha a seguinte mensagem:

"(Ao) Homem (Adão) (está) mostrada mortal aflição; (mas) o Santo Deus descerá
ensinando (que) quando ele morrer, haverá um derramamento poderoso, trazendo
(o) descanso." https://www.estudosgospel.com.br/estudo-biblico-bibliologia/o-
evangelho-em-genesis.html

Descanso, neste caso, é o significado do nome Noé - o filho de Lameque - o


construtor da grande Arca, a qual será objeto de estudo no tópico vindouro.

Portanto, é razoável que o jogo de nomes possua tal significado. Porém, como
explicar a longevidade e idades tão avançadas que alcançaram somente esses
homens especiais descritos na genealogia de Sheth?

Existem duas explicações de ordem literal para tal fenômeno. A primeira é um


conceito pouco lembrado a respeito dos costumes dos povos antigos, especialmente
dos judeus: a Misandria. Esse tipo de prática, reforçada por Calvino em uma de
suas obras, pode ter dado origem aos filhos de homens não como descendentes
diretos, mas originários de uma família, como no conceito tribal israelita.

Ora, nesse tipo de conceito, todos se viam chamados de filhos de um mesmo


ancestral e não pelo pai biológico direto. Esse tipo de situação está descrita em
toda a Bíblia, de modo que na maioria das narrativas, ao referir-se a um povo cujo
ancestral lhe concedeu o nome, a Bíblia os chama pelo nome do patriarca e não
como povo descendente. Portanto, é razoável crer que o livro da genealogia de
Sheth - se levado para o conceito literal - não se refere a pessoas específicas, mas
às gerações que estes perpetuaram, chegando-se a centenas de anos.

Baseando-se nesse conceito e nessa longa genealogia, entendemos que ela origine
uma estranha lei israelita:

"Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a
mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado
estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado para com
ela. E o primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido,
para que o seu nome não se apague em Israel." Deuteronômio 25:5,6
A Rosacruz assim declara a respeito desse assunto:

"A explicação esotérica é que naqueles tempos havia a endogamia, ou seja, o


casamento em família. Através dessas uniões tão íntimas, no mesmo sangue, as
imagens das experiências dos ascendentes passavam, pelo sangue, aos
descendentes. Estes viviam na memória estas experiências e se “sentiam” como
uma continuação da vida deles. Eis porque os patriarcas aparecem na “cabeça”
de uma linhagem: eles absorviam seus descendentes, que eram simples
continuadores de memória sanguínea." http://fraternidaderosacruz.com/site/a-
genealogia-do-ser-humano-jesus/

Assim entendendo, é razoável crer que as longas gerações dos homens


mencionados após Sete, sejam concepções patriarcais e não de gerações diretas.
Dessa forma, cada patriarca representaria uma geração de grandes homens da
antiguidade, em cuja raiz se fundamentou os conceitos culturais da humanidade
espalhada pela Terra.

Considerando que claramente a Bíblia judaica é fundamentada em conceitos


sumérios e babilônios, não podemos deixar de observar o esboçado por Cycle
Francisco, que "cita a Lista de Reis Sumérios que chegou até nós através de
Berossus, um historiador grego. Nessa lista encontram-se 10 dignitários do
período anti-diluviano e um dentre eles, à semelhança de Enoque, não morre. De
modo interessante, esse mesmo documento demonstra que a longevidade desses
homens era ainda maior que as apresentada por Moisés. Para Clyde, existe
alguma relação entre o relato de Moisés e tal documento, embora não possa
determinar qual, ou quão grande teria sido tal influência."
Https://marceloberti.wordpress.com/2010/04/09/o-papel-e-significado-das-
genealogias-em-genesis/

Ora, os Sumérios – povo que floresceu na Crescente Fértil da Mesoponâmia entre


os anos 3300 e 1200 Ac – representam até hoje na atualidade, o que de mais
sofisticado poderia se conceber em termos de civilização. Somente os egípcios –
povo contemporâneo ao seu – gozava de conhecimento equiparável. As histórias
paralelas a esse povo tecnologicamente misterioso transcorrem de teorias
alienígenas a mistérios até agora incompreensíveis diante dos achados
arqueológicos.

Entretanto, parece-se que teorias extraterrestres não são de todo uma inverdade.
Pelo menos assim encontraram-se seus registros, codificados em pedra e argila.
Segundo a mitologia, os deuses sumérios desceram em grandes discos e
dominaram a região, erigindo as primeiras cidades.

“Os sumérios os conheciam como Anunnakis (aqueles que vieram do céu),


enquanto entre os hebreus eram os Nephlins e para os egípcios eram chamados
Nets. . .  Em determinado momento da missão, isso após 400 mil anos na Terra, os
alienígenas se rebelaram contra Anu. Os anunnakis se negaram ao trabalho nas
minas e exigiram que fosse criada uma raça híbrida para servir de escravos nas
minas.”https://www.agoravale.com.br/colunas/esoterico/Somos_frutos_de_insemi
nao_artificial_na_antiguidade

Evidentemente que os registros devem contar outra história por trás da fantasia e
da história escravagista, porém é salutar deduzir que a tal raça híbrida seja a
representada por Sheth, o capelino. Híbrida entre filhos do céu com os filhos da
Terra.

Ao examinarmos a tabela inserida nas páginas anteriores, perceberemos que os


anos totais desses patriarcas são a soma da idade em que teve o filho até à idade em
que gerou filhos e filhas. Ou seja, o texto bíblico mostra que esses homens geraram
descendentes até à sua morte, o que é algo um tanto estranho.

Outrossim, considerando a existência de Adão e de Noé, chegaremos ao número de


dez, a mesma quantidade de reis longevos que dominaram sobre a suméria num
período de quando a realeza desceu dos céus, até à grande inundação. Podemos
perceber sem esforço sobrenatural, que a Bíblia judaica copiou a tradição suméria
em seus mínimos detalhes, criando assim, um novo texto.

Retornando à história do Jardim do Éden - o paraíso citado do qual o homem foi


expulso – um de seus rios possuía um braço que passava pela Assíria. Pois bem,
este rio simbólico - representatividade da fluição das tradições religiosas - mostra
claramente de onde os judeus beberam suas águas para a composição do livro de
Gênesis.

No registro cuneiforme encontrado na região, pode-se ler o seguinte:

“Após a realeza descer do céu, o reino estava em Eridu. Em Eridu, Alulim tornou-
se rei; ele governou por 28.800 anos. Alaljar governou por 36.000 anos. Foram 2
reis; que governaram por  64.800 anos”.
Eridu e Éden são palavras bem próximas. Éden é originário do sumério Edinu, que
pode ser traduzido por retidão. Pois bem, Eridu significa lugar poderoso ou do
príncipe. Que lugar poderia ser de um príncipe senão a planície da retidão? O Éden
é a Realeza.

Entretanto, vamos correlacionar a tabela dos patriarcas antediluvianos com os reis


sumérios com tempo de vida e reinado:

Nome Idade em Idade da Nome Tempo de


que gerou o morte reinado
descendente

Adão 130 930 Alulim 28.800

Sete 105 912 Alalgar 36.000

Enos 90 905 En-Men-Lu-Ana 43.200

Cainã 70 910 En-Men-Gal-Ana 28.800

Maalaleel 65 895 Dumuzi 36.000

Jerede 162 962 En-Sipad-Zid-Ana 28.800

Enoque 65 365* En-Men-Dur-Ana 21.000

Matusalém 187 969 Ubara-Tutukin 18.600

Lameque 182 777 Sukurlan 28.800

Noé 500 Zin-Sudu 36.000

Enoque e seu correspondente sumério não experimentaram a morte.


Como visto, o tempo de reinado dos reis sumérios é incomparável com o tempo de
vida dos patriarcas bíblicos. Isso se deve a uma contagem de tempo especial que os
sumérios possuíam, equivalentes a 3600 anos ou Shars. É literalmente a
multiplicação de 60x60.

Ora, esse exagero no tempo de reinado destes reis fez com que a descoberta dos
escritos fosse tratada como mera mitologia. Entretanto, em se tratando da
longevidade dos patriarcas bíblicos, qualquer pessoa racional também rejeitaria a
literalidade de tal longevidade.

Portanto, encontramos uma explicação plausível para o entendimento dessa


questão, elucidando o problema dos dois lados das narrativas:

"Entre os dois extremos está a hipótese de que os números representam o poder


relativo, triunfo ou importância. Por exemplo, no antigo Egito, a frase “ele
morreu com 110” se refere a alguém que viveu a vida ao máximo, e que ofereceu
uma importante contribuição para a sociedade. Da mesma forma, os longos
períodos de reinado dos primeiros reis podem representar quão incrivelmente
importante eles foram percebidos como sendo aos olhos do povo."
https://thoth3126.com.br/lista-de-reis-sumerios-um-misterio-para-os-historiadores/

Por outro lado, caso queiramos, perceberemos que - ainda que de fato a
longevidade exarcebada dos reis sumérios e dos patriarcas antediluvianos tenha
sido real - seu tempo de vida não fere a temporalidade lógica de um reino. Muito
embora seja comum na história que os reis governem até o dia de sua morte, nada
impede que estes passassem o comando para os filhos ainda em vida, ou, como
preferimos nesta interpretação, que tais filhos passassem a exercer influência sobre
o reino em determinada idade em que o pai estivesse reinando, algo como que
ocorre na abdicação do reino em favor de um filho.

Porém, podemos realizar uma redução na idade dos reis sumérios com a finalidade
de equivaler ao tempo dos patriarcas, fazendo a equação inversa, dividindo o
tempo por 60.

Sendo assim, na mesma correlação com os reis sumérios, teremos a tabela da


seguinte forma:

Nome Idade em Idade Idade Tempo Nome Tempo


que gerou o da que de vida de
descendente morte transferiu restante reinado
o reino

Adão 130 930 600 330 Alulim 480

Sete 105 912 720 192 Alalgar 600

Enos 90 905 480 425 En-Men- 720


Lu-Ana

Cainã 70 910 600 310 En-Men- 480


Gal-Ana

Maalaleel 65 895 480 415 Dumuzi 600

Jerede 162 962 350 612 En- 480


Sipad-
Zid-Ana

Enoque 65 365* 310 45 En-Men- 350


Dur-Ana

Matusalém 187 969 480 489 Ubara- 310


Tutukin

Lameque 182 777 600 177 Sukurlan 480

Noé 500 Zin-Sudu 600

Em nenhum desses casos houve choque com a lógica do tempo de vida, sugerido
para os patriarcas, em correlação com o reinado dos sumérios. Muito embora seja
quase impossível estabelecer uma fórmula exata - que faça corresponder com
exatidão o tempo de uma narrativa como de outra – podemos perceber que a
relação é próxima. Assim, conseguimos supor que a contagem do tempo para
judeus e sumérios não se dava da mesma forma, pois que judeus utilizavam o
calendário lunar, enquanto os sumérios utilizavam diversas outras formas de
perceber a passagem do tempo, uma vez que tecnologicamente falando, distavam
do grupo que formou a chamada raça semita em centenas de anos, não dividindo
todo o conhecimento que detinham.

A explicação mítica e, portanto, a que adentraremos cada vez mais profundamente


neste estudo - embora cultuemos a linguagem mais simplista possível - é de que
essa linhagem patriarcal marcadas por vidas aparentemente longas, venha a tratar-
se de etapas evolutivas que a humanidade atravessou, desde a queda representada
pelo capelino Seth, até alcançar a revolução final pela libertação do corpo crístico,
inserido em seu interior no ato da criação do quarto dia cósmico, pelo qual se
revelaria finalmente a natureza divina por ocasião da completa purificação
espiritual da raça caída. Assim sendo, a genealogia dos patriarcas antediluvianos,
refere-se a um período de várias etapas de revolução em busca do retorno ao lar.

A evolução da raça humana não ocorreu de forma linear, conforme alguns


confundem os menos conhecedores do assunto. Nenhuma evolução é linear. Todos
os animais transitaram em espécies; e as mais resistentes deixaram suas pegadas e
registros por mais tempo; enquanto outras dissolveram-se rapidamente nas brumas
do tempo, em função da seleção natural. Sendo assim, a evolução da raça humana
também seguiu pelos mesmos percalços e - para efeito de melhor esclarecimento -
associaremos agora essas revoluções anteriores com fins de chegarmos ao tempo
bíblico dos ditos patriarcas longevos.

O homem moderno – segundo relatos de inspiração espiritual em consonância com


volumosas descobertas arqueológicas - transitou por três ciclos de vida diferentes.

O primeiro, base de todo o sistema biológico, nasceu por meio dos unicelulares,
passou pelos vegetais, bactérias e todo o reino monera, seguiu-se pelos insetos,
peixes, anfíbios, répteis e aves, culminando finalmente nos mamíferos.

O segundo foi o do desenvolvimento das raças humanas que caminhariam no


planeta, como os primeiros primatas, os quais de um mesmo ancestral comum, deu
origem tanto à multiplicidade dos símios como também a outra linhagem que
culminou no Homo Sapiens.
O terceiro ciclo é o desenvolvimento de consciência superior dessa raça pré-
humana, entrando em escala evolutiva agora não mais física e sim mental e
espiritual.

Assim, abstraindo-se de explicações pormenorizadas no que tange ao primeiro


ciclo; trabalharemos o raciocínio aos destraves do entendimento em relação à
revolução do segundo ciclo, acercando-se do homem moderno. Neste caminho, é
mister explicar como que tais raças que habitaram o planeta nessa pré-história se
comportaram em sua evolução, para que cheguemos aos patriarcas longevos
remetidos no texto; prosseguindo assim para os meandros da recriação na
mitologia bíblica, mitigada pelo grande dilúvio “universal”, contido no sexto
capítulo de Gênesis.

Repetindo: O que trabalhamos aqui serão as três raças contidas no segundo ciclo da
evolução humana, já pré-concebida em seus antecedentes mamíferos e outros filos.

A Primeira raça:

"Segundo a ciência oficial, quando o clima da Terra se amenizou, em princípios


do Mioceno (uma das quatro grandes divisões da Era Terciária, isto é, o  período
geológico que antecedeu o atual) e os antigos bosques tropicais começaram a
ceder lugar aos prados verdes, os antigos seres vivos que moravam nas árvores
foram descendo para o chão, e aqueles que aprenderam a caminhar erguidos
formaram a estirpe da qual descende o homem atual. Entre estes últimos (que
conseguiram erguer-se)  prevaleceu  um tipo, que foi chamado PROCONSUL,
mais ou  menos há 25  milhões de anos, o que era positivamente um símio. E os
tipos foram evoluindo até que, mais ou menos há um milhão e meio de anos,
surgiram as espécies mais aproximadas do tipo humano. " Os exilados de Capela
P. 34

”Primeiramente surgiram criaturas do tamanho de um homem, que andavam de


pé, tinham cérebro pouco desenvolvido as quais foram chamadas Pitecantropo,
ou Homem de Java, que viveram entre 550 e 200 mil anos atrás. Em seguida
surgiu  o Sinantropos, ou  Homem de Pequim, de cérebro também muito precário.
Mais tarde surgiram tipos de cérebro mais evoluídos que viveram de 150 a 35 mil
anos atrás e foram chamados de Homens de Solo (na Polinésia); de Florisbad (na
África do Sul); da Rodésia (na África) e o mais generalizado de todos, chamado
Homem de Neanderthal (no centro da Europa), cujos restos, em seguida, foram
também encontrados nos outros continentes.
Como possuíam cérebro bem maior foram chamados “Homo Sapiens”,
conquanto  tivessem ainda muitos sinais de deficiências em relação à fala, à
associação de idéias e à memória.

O Neanderthal foi descoberto em camadas do Pleistoceno médio mas, logo 


depois, no Pleistoceno superior surgiram esqueletos de corpo inteiro e de atitude
vertical, como, por exemplo, o tipo negróide de Grimaldi, o tipo branco do Cro 
Magnon (pertencente à Quarta Raça, Atlante) e o tipo Chancelade. E por fim
foram descobertos os tipos já bem desenvolvidos chamados Homens de
Swanscombe (na Inglaterra), o de Kanjera (na África) o de Fontchevade (na
França), todos classificados como  “Homo Sapiens sapiens”, isto é, “homens
verdadeiros”." Os exilados de Capela P. 35

A Segunda Raça:

"Quando cessou  o trabalho de integração de espíritos animalizados nesses


corpos fluídicos e terminaram sua evolução, aliás muito rápida, nessa raça -
padrão, o  planeta se encontrava nos fins de seu  terceiro período geológico e já
oferecia condições de vida favoráveis para seres humanos encarnados; já de há
muito seus elementos materiais estavam estabilizados e o cenário foi julgado apto
a receber o  “rei da criação”.

"Iniciou-se, então, essa encarnação nos homens primitivos formadores da


Segunda Raça Mãe, que a tradição esotérica também registrou  com as seguintes
características: "

“Espíritos habitando formas mais consistentes, já possuidores de mais lucidez e


personalidade”, porém ainda não fisicamente humanos. Iniciou-se com estes
espíritos um estágio de adaptação na crosta planetária tendo  como teatro o 
grande continente da Lemúria. Esta segunda raça deve ser  considerada como
pré-adâmica." Os Exilados de Capela P. 43

Segundo a tradição espiritual, na qual baseamos estes escritos, o mundo pré-


humano (homo sapiens sapiens), à deriva das placas tectônicas após a eclosão do
grande continente Pangeia, dividiu-se em seis grandes continentes. Ao ocidente
solidificou-se o que é hoje parte dos Estados Unidos e Canadá, e a parte sul
sibililava solitária, permeando-se da parte abaixo dos Estados Unidos até ao sul da
atual Argentina. Já ao norte, em lugar da pequena Groenlândia e do círculo polar
Ártico, um imenso continente formava-se - o hiperbóreo. Este tornou-se palco do
desenvolvimento da Terceira raça humana, que habitou em conjunto, porém
isolados geograficamente da distante Ásia, em função do imenso oceano Atlântico
que os dividia. Em seu centro florescia a até hoje procurada Atlântida. Já ao sul da
Ásia, onde hoje encontra-se a Austrália e escalpos dos fragmentos polinésios,
indonésio, tailandês dentre outros Estados menores, estendia-se um corredor
continental, englobando todo o sistema de ilhas da atualidade, até Madagascar. A
África de hoje, resumia-se tão somente a seu centro-sul.

Os habitantes do Hiperbóreo - que mais tarde se tornou parte da conhecida Europa


- possuíam pele mais clara devido ao isolamento continental do frio ártico -
enquanto os lemurianos, dotavam-se de pigmentação mais adaptada às
temperaturas elevadas da região centro-sul da Terra.

Neste período se dá o surgimento da Terceira raça humana.

Espíritos exilados de outra constelação são atraídos por sua vibração, aos círculos
terrestres em desenvolvimento:

"Ia em meio o ciclo evolutivo da Terceira Raça, cujo  núcleo mais importante e
numeroso se situava na Lemúria, quando, nas esferas espirituais, foi considerada
a situação da Terra e resolvida a imigração para ela de populações de outros
orbes mais adiantados, para que o homem planetário pudesse receber um
poderoso estímulo e uma ajuda direta na sua árdua luta pela conquista da própria
espiritualidade. A escolha, como já dissemos, recaiu nos habitantes da Capela. Eis
como Emmanuel, o espírito de superior hierarquia, tão estreitamente vinculado,
agora, ao movimento espiritual da Pátria do Evangelho, inicia a narrativa desse
impressionante acontecimento:

Há muitos  milênios, um dos  orbes  do  Cocheiro, que guarda muitas  afinidades 
com o  globo  terrestre, atingira a culminância de um dos
seus extraordinários ciclos evolutivos... Alguns milhões de espíritos rebeldes lá
existiam, no caminho da evolução  geral, dificultando a consolidação das
penosas conquistas daqueles povos cheios de  piedade e de virtudes... E, após
outras considerações, acrescenta: "

"As Grandes Comunidades Espirituais, diretoras do Cosmo, deliberaram, então,


localizar aquelas entidades pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua."

"Os escolhidos, neste caso, foram os habitantes da Capela que, como já foi dito,
deviam dali ser expurgados por terem se tornado incompatíveis com os altos
padrões de vida moral já atingidos pela evoluída humanidade daquele orbe." Os
Exilados de Capela P 59 a 61

Na narrativa bíblica que nos situamos, entramos no momento do exílio dos orbes
capelinos para os círculos terrestres. É na singularidade dessa descida de espíritos
“estrangeiros” na singularidade da evolução humana, que aparece Seth e seus
descendentes longevos, que são os mesmos dez reis assírios. A narrativa bíblica
não se propõe neste momento a contar a história do mundo todo, porém só e tão
somente, daqueles que vieram a habitar a região onde se concentra a história dos
povos mesopotâmios e adjacentes.

Portanto, o prosseguimento para o próximo capítulo de Gênesis, exige o


entendimento de que neste momento, o foco direciona-se a um determinado povo,
dentro da terceira raça humana, agora mesclada com os exilados do mundo
capelino, os quais deverão inserir em toda a humanidade, um conhecimento
avançado do espiritual, dado sua evolução anterior, promovendo com sua queda
uma revolução astronômica na forma de vida dos primitivos humanos.

Por seu avançado conhecimento, tais seres aqui encarnados junto à primitiva
humanidade - porém carentes de decência moral - trabalharam conforme o ajuste
de suas consciências.

Alguns entenderam sua condição de vibração decadente, elevaram-se e, dividindo


seus conhecimentos com a humanidade em ascensão - ajudando os homens a
entenderem-se como irmãos cósmicos dentre o propósito universal – progrediram
em sua restauração. Outros, entretanto insuflados pelo ego, decaíram ainda mais,
chegando a considerar-se deuses, exigindo suma adoração.

Portanto, os reis assírios longevos - que nada mais são do que o paralelo bíblico da
descendência de Sheth - são aqueles que buscaram ajudar a humanidade com seu
conhecimento superior; enquanto os demais - por sua corrupção desmedida -
afundaram a raça humana numa situação de devassidão perniciosa, havendo para
tanto, a necessidade de uma interferência divina com fins de limpeza do planeta,
completando o devido ajuste à ordem e evolução da raça humana.

A Corrupção Humana

Estamos em um cenário agora caótico da humanidade. Pela tradição


suméria/assíria e seus longevos reis, passaram-se mais de duzentos mil anos desde
a descida dos reis que vieram dos céus. Pelo paralelo bíblico encontramos a
humanidade numa jovialidade de pouco mais de 1500 anos, porém suficientemente
corrupta.

"E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da


terra, e lhes nasceram filhas, Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens
eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.
Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem;
porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.
Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus
entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que
houve na antiguidade, os homens de fama. E viu o Senhor que a maldade do
homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de
seu coração era só má continuamente.” Gênesis 6:1-5

Em princípio, é importante observar que existiam duas gerações habitando a Terra.


A geração de Caim - a qual se tornara vagueante a partir da Terra de Node - e a de
Sete, cuja descendência estudaremos neste último capítulo.

Para efeito de melhor entendimento, podemos agora classificar a geração de Caim


como os homens (espíritos) nascidos na Terra antes do exílio dos capelinos, e a
descendência de Sete por estes exilados.

O embasamento bíblico para tal inferência, mostra-se pela distinção de Paulo aos
“filhos de Deus’ e os “filhos dos homens.” Na promessa da salvação do Cristo, por
meio dos “herdeiros de Deus,” pelo trablho do Cristo os “filhos dos homens”
passam a co-herdeiros de Deus.

“Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de


Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como
agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas; A
saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da
promessa em Cristo pelo evangelho.” Efésios 3:4-6

Em outras palavras: Após a junção dos capelinos ao círculo humano, por meio de
seu avançado conhecimento tecnológico, como especialmente espiritual, salvam a
humanidade por meio da transformação que devem ensejar na jornada de retorno
ao lar perdido. Tornam-a co-herdeira.

Assim, podemos então entender aqui no Gênesis, uma distinção latidudinal entre
filhos dos homens e filhos de Deus.
Os filhos de Caim, representando a humanidade primitiva sem os conhecimentos
divinos (muito embora nestes também habitasse a centelha divina do Espírito de
Deus esquecida em Abel) e os advindos de Capela - com o profundo conhecimento
da divindade e da consciência de que seria possível a transcedência para a
imortalidade – coabitavam o círculo terrestre.

Entretanto, o exílio dos capelinos não se deu por sua evolução, como já dissemos.
Seu conhecimento divino não impediu sua decadência moral, que os atraiu a este
mundo condizente com sua vibração, por consequência da dissociação de seu
antigo mundo.

Vejamos um trecho de um respeitável site, narrado por Weber Malccher, membro


da Rosacruz Amorc:

"Há dez mil anos, pesquisas espirituais revelam que milhões de espíritos de um
planeta distante (Capela) migraram para a Terra para promover a evolução da
humanidade."

"A maioria desses espíritos reencarnou, não de uma forma automática, mas de
uma forma progressiva e cuidadosa - num grupo humano da região da Pérsia/Irã,
até as fronteiras do sul da Rússia. Esses espíritos ampliam a cultura de grãos, a
construção de casas, criação de animais e difundiram a escrita e cultos
religiosos."

"Além de todos esses legados, os capelinos trouxeram suas paixões, e usaram seus
conhecimentos para dominar os povos da época, pois haviam sido expulsos de
Capela por seu orgulho e egoísmo."
https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos/autoconhecimento/os-exilados-
de-capela-18085.html

Assim, entendemos que, embora os habitantes de Capela permearem um estágio


evolutivo superior no que tange ao desenvolvimento mental, sua condição moral
não se fez das melhores, o que acometeu seu exílio para a Terra - um planeta
melhor condizente com sua estacionária questão moral.

Estes "filhos de Deus" mencionados no texto, são tais seres exilados, encarnados
como humanos, deixando de realizar o trabalho de auto correção no propósito para
o qual ocorreu seu exílio, entregando-se assim aos prazeres e viscitudes da carne.
Na simbologia bíblica já estudada, o feminino representa o corpo físico carnal, em
sucumbência aos instintos de sobrevivência. Assim, ao perceber-se encarnados
nestes corpos, os seres exilados – ao contrário de trabalharem o desenvolvimento
da humanidade, aumentaram seu declínio moral ao explorar o prazer oportunizado
pelos setores de recompensa do cérebro, em razão das pulsões de auto-preservação
e preservação da espécie. Isso, além do fato de se verem reconhecidos como deuses
diante da primitiva raça humana.

Note o texto:

"e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram"

Ou seja, encarnaram em corpos - entre as raças aqui já desenvolvidas - conforme o


desejo de seus corações e não de forma condizente às sua moralidade. Sua
oportunidade foi desperdiçada. Não controlados então pela divindade superior nos
quesitos que deveriam se adequar, houve o aparecimento dos tais gigantes,
descritos no texto.

Na mitologia dentre todos os povos, é comum a menção de gigantes. Num geral,


são como semi-deuses, e resultam da amálgama entre um ser celestial e um
humano. Desmistificando o conceito, entendemos que se trata de pessoas com
evoluída condição mental que torno-se grande diante dos outros à sua volta e, pelo
uso da força bruta e intelecto avançado, lhes subjugam. Não há em nenhuma
história extra ou intra bíblica, a menção da existência de bons gigantes, bem como
não há na arqueologia, o achado de nenhum esqueleto ou fóssil desses seres
excepcionais. Portanto, é prudente crer que ao se falar de gigantes, a mitologia
bíblica refira a pessoas de destaque na sociedade, que se impunham pela força, e
não pelo reconhecimento de suas habilidades.

Diante de tal cenário, a condenação de Deus ao homem é o encurtamento da vida.


O tempo será de cento e vinte anos.

Há neste texto um problema teológico, que ainda arranca os cabelos dos exegetas.

Ao se dizer que os dias do homem seriam de 120 anos, a ambiguidade do texto não
permite entender se o homem não passaria de 120 anos em sua idade máxima
(dado a longevidade antes mencionada a respeito dos patriarcas primordiais), ou se
a partir de determinado período, a humanidade teria o prazo de vida de 120 anos.
Entretanto, tudo se esclarece quando teólogos de boa vontade procuram
compreender o texto, dando-nos munição correta para o deslinde místico no qual
de fato o texto se fulcra:

"Alguns têm conjecturado que Deus, com essa expressão, estaria dizendo que
nenhum ser humano viveria mais de 120 anos. Mas como conciliar isso com a
idade dos pós-diluvianos que viveram muito mais de 200 anos"

"Por exemplo: Noé viveu 350 anos depois do dilúvio; Eber viveu 430 anos;
Arfaxade e Salá viveram 403 anos e Pelegue 203 anos, etc."

"A explicação a esta dificuldade não está explícita no texto, mas, no entanto, é
possível, pelo contexto, deduzirmos que Deus, ao dizer que “os dias do homem
seria de 120 anos”, não estava, em hipótese alguma, estabelecendo a quantidade
de anos que o homem viveria após o dilúvio; mas sim aos anos que o homem (a
humanidade, exceto Noé e sua família) viveria a partir do pronunciamento do
juízo até a sua execução (o dilúvio)."

"Alguns historiadores são da opinião que, pelo contexto, é possível deduzir que
Noé estivesse com 480 anos quando Deus pronunciou o juízo contra os
antediluvianos. E de acordo com Gn 7:6 “Era Noé da idade de seiscentos anos,
quando o dilúvio das águas veio sobre a terra”. A luz dessas explicações podemos
chegar à soma exata de 120 anos, desde o pronunciamento do juízo até a sua
execução."

"São da mesma opinião homens do porte de Keil e Delitzsch que, fazendo


referência ao tema em apreço, dizem: “Isto não significa que a vida humana
nunca chegará a viver mais de cento e vinte anos, mas que, certamente será dado
um prazo de cento e vinte anos à raça humana”." Pr. Elias Soares de Moraes em
http://www.teologaroficial.com.br/seus-dias-serao-120-anos

Deste ponto, poderemos agora alinharmo-nos à numerologia bíblica em sua rica


simbologia.

Perceba que o número 120 possui inefável importância judaica, visto sua vasta
utilização nos meios escriturais judaicos e sua fácil decomposição em 3x40 - o
fabuloso número cabalístico representante da provação, castigo, espera, preparação
e transformação. Inclusive deste número, deriva a terminologia quarentena, que
significa em termos gerais, “por em observação”.
Foquemos, entretanto e de forma superficial, na singularidade no número 40, o
qual é uma fórmula mágica na vasta literatura bíblica. O 40 estará presente em
quase tudo que se refere a ciclos. 40 são os anos que Moisés passa adquirindo
conhecimento no Egito; 40 são os anos em que se isola no deserto com uma vida
simples como pastor após fugir de um assassinato; e 40 também são os mesmos
anos que passa em peregrinação no deserto com o povo que libertou.

Evidentemente nosso foco neste estudo não é demorar-se na vida deste patriarca.
Porém, podemos notar que sua vida divide-se em três ciclos de 40, totalizando 120
anos. De igual forma, são 40 dias que passa no Monte Sinai recebendo as tábuas da
Lei.

O paralelo entre Moisés e o dilúvio é coincidente. E esse mesmo paralelo pode-se


traçar em relação a Jesus, outra grande expressão mítica da Bíblia, embora sua
existência histórica não tenha sido contestada.

A Arca move-se sobre as águas do dilúvio; Moisés move-se num cesto sobre as
águas do Nilo; Jesus é batizado no Jordão e mais à frente caminha por sobre as
águas do Mar da Galiléia. Moisés passa 40 anos no deserto sofrendo com seu povo
e Jesus passa 40 dias no deserto tentado pelo diabo. Na passagem da morte para a
ascensão aos céus, Jesus ainda caminha 40 dias sobre a Terra, o que corresponde
aos 40 anos de Moisés no deserto, na condução do povo à Terra Prometida.

Enfim, não é nosso objetivo neste curto espaço, promover um debate profundo a
respeito do que tais histórias trazem em oculto, mas aclarar a mente dos estudiosos
para o significado cíclico profundo que o número 40 representa. Quando o texto
bíblico infere que o homem terá 120 anos até ser julgado, ele está dizendo na
verdade que o homem em sua vida terá a oportunidade de passar por três estágios
reflexivos, a fim de corrigir-se de seu mau caminho, enveredando-se pela senda
que conduz à vida Eterna em sua plenitude.

Assim nos referindo, podemos voltar a Moisés, a fim de compreendermos melhor


essa menção magnífica aos 120 anos, apresentadas neste trecho do Gênesis.

O primeiro ciclo da vida deste homem iniciou-se com a ameaça da morte já ao


nascimento (tanto quanto Jesus) e o encontro e acolhimento pela corte egípcia
(também como Jesus) - a qual mais tarde entenderemos que se refere ao
conhecimento teórico da vida, da espiritualidade e do mundo em si.
O segundo ciclo vais dos 40 aos 80 anos. Neste período Moisés, dá conta da
efemeridade de sua vida e abandona o conforto da suntuosidade da corte, e vai
viver sem um objetivo real na vida, tão somente sobrevivendo com escassos
recursos e vivendo para si, conhecendo a realidade da dureza que o breve encontro
com a morte poderia significar.

Por fim no terceiro e último ciclo - dos 80 aos 120 - se dá conta da existência de
uma terra além do deserto, uma terra que "mana leite e mel." Entretanto, para o
alcance dessa terra, teria que enfrentar a fúria do rei do mundo que o acolheu para -
depois de infâmia dificuldade - peregrinar o restante de sua vida, em um deserto
congelante e abrasador.

Em resumo mitológico, os 120 anos é um indicativo da dificuldade que o retorno


para a terra de origem custaria aos exilados na carne humana. Por isso, os dias
destes deveriam projetar-se em 120 anos, ou seja, em três ciclos de transformações
para a purificação do caráter e do espírito.

"Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe


em seu coração. E disse o Senhor: Destruirei o homem que criei de sobre a face
da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque
me arrependo de os haver feito. Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor."
Gênesis 6:6-8

Podemos observar mais uma vez a contradição a que a literalidade nos atira. Deus
arrependeu-se de haver criado o homem.

Ora, tal afirmação põe em cheque a onisciência divina. Sabendo este de antemão
que o homem se corromperia, não poderia dar-se ao luxo de arrepender-se de sua
criação. De igual forma, estabelece um caráter ausente de amor por parte do pai,
cuja figura punitiva e destrutiva é contrária àquela apresentada por Jesus no
Evangelho - o qual a si mesmo não se julga bom mas somente a Deus - embora o
proprio Cristo o fosse irrepreensível em atos e palavras:

"Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é
Deus." Lucas 18:19

De igual forma, a própria Bíblia dá testemunho da impossibilidade do


arrependimento divino:
"Aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é
um homem para que se arrependa."1 Samuel 15:29

"Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se
arrependa." Números 23:19

Visto a impossibilidade de arrependimento divino, o que podemos entender desse


texto?

Cremos - com as devidas ressalvas - que até este momento da narrativa - o homem,
ainda que com uma condição rebaixada e tendo sua vida interrompida pela morte,
reencarnava com as lembranças de sua existência anterior, sendo-lhe possível
ampliar seus potenciais para o bem, como também para o mal, o que é mais
condizente com o que o texto nos mostra ao dizer por exemplo, que os filhos de
Deus podiam escolher as mulheres dos homens.

A inferência sobre os três ciclos da vida nos faz crer que antes, tais perspectivas de
esquecimento reencarnatório não existiam, e que em algum período tal tipo de
necessidade se fez presente na raça humana. Afinal, é dito no texto que seria
destruído o homem e o animal. Ou seja, tanto a energia vital do espírito, até sua
natureza rebaixada. É nítida tal situação, visto que o texto complementa dizendo
que destruirá desde o réptil até à ave do céu. Isso quer dizer que, para evitar
exceções, todas as lembranças seriam apagadas, das mais rastejantes às mais
altruístas. Assim, pela corrupção dos capelinos em amálgama terrestre, todos
seriam punidos com o esquecimento reencarnatório.

Ao passo que a sentença é sobre a humanidade, um homem alcança graça diante da


divindade e seu nome é Noé.

Conforme já estudado anteriormente na genealogia dos patriarcas antediluvianos, a


palavra Noé significa descanso.

E o que isso revela a respeito do texto?

Ora, em um mundo regido agora pelo conhecimento do fruto do mal, pela


corrupção e degradação moral, somente aqueles que possuíam o descanso da pré-
memória da neutralidade espiritual, é que alcançariam o descanso. Portanto a
história do arrependimento de Deus e destruição da raça humana concede a
possibilidade de retorno ao Éden interior somente àqueles que conseguissem
provar do descanso de que a vida de fato era eterna, em virtude de sua retidão de
caráter, representada pelo jardim do paraíso.

Em outras palavras: Ao retirar-se a possibilidade de lembrança de existências


passadas no escopo espiritual do ser humano, existiria a necessidade de elevação
altruístra para o acesso a essas lembranças ocultas pelo véu do esquecimento.
Somente então por elevação e inconformidade com a crueldade da humanidade,
existiria a possibilidade de lembrança de suas existências anteriores e o acesso aos
poderes e conhecimentos acumulados ao longo das existências. A essa lembrança e
acesso aos arquivos memoriais perdidos, a tradição espiritual moderna denomina
de despertar espiritual.

"Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas
gerações; Noé andava com Deus. E gerou Noé três filhos: Sem, Cão e Jafé."
Gênesis 6:9,10

Mais uma vez o texto corrobora com nossa interpretação.

Aqueles cujo caráter se tornara reto, era justo e perfeito e andava com Deus. A
estes, a concepção bíblica agracia com a tríplice descendência moral, representada
pelos três filhos de Noé.

Aqui conseguimos entender os nomes e seus respectivos significados:

Sem (Shem) - Fama ou renome;

Jafé (Japheth) - Que ele tenha espaço;

Cão (Ham) - Quente ou queimado;

Essa nova geração não é referência espiritual, mas descendente daqueles que
alcançaram purificação de Espírito. Isso não significa que jamais cairiam
novamente, mas que na trilha do conhecimento, poderiam de forma lenta e
escalonar, reaver seus poderes e dons perdidos por ocasião da queda.

Temos então que os três filhos de Noé são a representação dos povos que
derivaram dessa renovação a que passou o Planeta após a purificação pelas
mitológicas águas do dilúvio. Portanto, é de conhecimento corrente que Sem é o
filho principal, aquele do qual irá descender toda a raça judaica. Por este fato, os
judeus na atualidade são chamados de semitas.
Jafé seria a representação dos povos não judaicos, provavelmente ligados à região
mesopotâmica. Percebe-se uma reverência no significado do nome, dando-se a
entender que este povo merece um respeito maior. De igual modo, veremos à
frente, que seus filhos possuem correlação com Caim.

Por fim Cão (ou Cam) se refere ao povo do deserto como os egípcios, norte
africanos e aos periféricos da mesopotâmia. Inclusive um dos descendentes é
Ninrode, o fundador da renomada cidade de Nínive, onde se dá a famosa odisseia
de Jonas no interior do grande peixe. Também refere-se ao povo que antecedeu os
israelitas na ocupação da Terra Prometida, visto que dele descendem os cananitas.

A nova humanidade decorente da divisão do mundo - que se dará por meio da


destruição das águas - descende de Noé, partindo dessas três vertentes de povos
que - embora de origem conhecida dos judeus - se margeia no entorno das terras
medio asiáticas, não demonstrando conhecimentos além da vizinhança. Mais uma
vez é perceptível que o livro de Gênesis possui um foco local, com tentativa
evidente de não se propagar em explicações mirabolantes a respeito de outras terras
não exploradas ou sem contato, reunindo conhecimentos espirituais apenas os
necessários para o povo a que pretende reunir em ascensão.

" A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra
de violência. E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a
carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra. Então disse Deus a Noé: O
fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de
violência; e eis que os desfarei com a terra." Gênesis 6:11-13

Os dois versos anteriores parecem entremear a exceção do corrompimento, visto


que após dizer que o homem se corrompera, Noé e seus filhos são citados como
exemplo de conduta. E então, o livro retorna à afirmação de que o homem não
poderia mais ser como dantes. O verso inclusive reforça que a terra estaria cheia de
violência.

Ora, pelas análises dos textos anteriores, percebe-se que essa violência pareceu
fruto da lembrança das encarnações anteriores que até então todos os homens
podiam desfrutar. Assim, ao invés de tal possibilidade tornar-se um bem -
fomentando a fé e a esperança - tornou-se malévola à humanidade, uma vez que
lembravam também de sua eternidade e portanto, não temiam matar ou morrer.
Notemos que, conforme já mencionamos diversas vezes, os texto mitológicos são
sutis, e palavras que nos passam despercebidas, podem conter revelador
significado. E aqui temos a palavra Carne.

"O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de
violência; e eis que os desfarei com a terra."

Por certo não se trataria de um fim literal da carne, mas do império da carnalidade,
que pela ausência do altruísmo contido no espírito (ou pelo menos do cultivo de
suas faculdades com a morte do Abel interior), a humanidade não poderia mais
desfrutar do acesso às vertentes mais elaboradas da concepção divina. Assim, a
carne aqui representada é uma referência à natureza terrestre que se apegou à
humanidade, na amálgama entre os filhos de Deus e os filhos dos homens - na
representatividade da queda dos capelinos a este mundo.

De igual forma é prestimoso atentar à palavra terra neste texto, visto que a causa da
corrupção do gênero humano é sua ligação com a Terra. Ao que se vê, algo deveria
se revisar na dinâmica universal, visto que a pré-memória existente na humanidade
decaída, a fizera vinculada aos ditames da baixeza que a carne provocara, no
desequilíbrio provocado com o vínculo às questões terrenas. O que deveria
despertar no homem o desejo pelo altruísmo espiritual, o fizera escravo de suas
próprias paixões.

Em "Os exilados de Capela", extraímos o seguinte texto:

"Assim, pois, a experiência punitiva dos capelinos, do ponto de vista moral,


malograra, porque eles, ao invés de sanear o ambiente planetário, elevando-se a
níveis mais altos, de acordo com o maior entendimento espiritual que possuíam,
ao contrário, concorreram para generalizar as paixões inferiores, saturando o
mundo de maldade e com a agravante de arrastarem na corrupção os infelizes
habitantes primitivos, ingênuos e ignorantes, cuja tutela e aperfeiçoamento lhes
couberam como tarefa redentora.

E, então, havendo se esgotado a tolerância divina, segundo as leis universais da


justiça, sobrevieram as medidas reparadoras, para que a Terra fosse purificada e
os espíritos culposos recolhessem, em suas próprias consciências, os dolorosos
frutos de seus desvarios." Os Exilados de Capela p. 97

A Arca de Noé
"Faze para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a
betumarás por dentro e por fora com betume. E desta maneira a farás: De
trezentos côvados o comprimento da arca, e de cinqüenta côvados a sua largura,
e de trinta côvados a sua altura. Farás na arca uma janela, e de um côvado a
acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares,
baixo, segundo e terceiro." Gênesis 6:14-16

Chegamos então à construção do famoso barco que salvou Noé e sua família do
dilúvio. Entretanto, há algo errado em nossa afirmação. Não, não foi um barco.
Não foi um navio. Foi uma arca.

Desde já fica a pergunta do motivo de não se questionar o fato da famosa


embarcação não ter sido um navio. Pelas leis marítimas, o formato de arca não
poderia conceder navegabilidade. Afinal, uma arca é uma construção retangular,
não podendo manter-se firme frente à violência das ondas, vindo facilmente a
pique. E pelas medidas mencionadas, essa confirmação é corroborada. Não se trata
de um barco. A descrição inteira - a qual veremos a seguir - não permite pensar
tratar-se de um barco. Então porque ao invés de um barco, ordenou-se a construção
de uma arca?

Ora, a arca não é um barco, mas um depositório. Essa premissa já nos leva a outras
correspondências na Bíblia do que seria uma arca e é inevitável a correlação que
faremos a seguir com a Arca da Aliança e o próprio templo de Salomão, o qual
também fora criado no mesmo formato.

"E me farão um santuário, e habitarei no meio deles. Conforme a tudo o que eu te


mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus pertences,
assim mesmo o fareis. Também farão uma arca de madeira de acácia; o seu
comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura de um côvado e meio,
e de um côvado e meio a sua altura." Êxodo 25:8-10

Podemos notar aqui que antes de ordenar a construção da Arca da Aliança, Deus
ordena a Moisés que construa um tabernáculo, cuja finalidade é sua moradia no
meio do povo.

Não é difícil entender que esse tabernáculo é um modelo pautado no próprio ser
humano. Mais à frente veremos que tal construção possuía seus utensílios dispostos
em formato crucífero, o que o leva à mesma similaridade com o Cristo, que é
morto no meio da cruz. Ora, despojando-se os conceitos literais, entendemos sem
esforço que o tanto o tabernáculo quanto a cruz de Cristo é nosso próprio corpo.

Paulo assim endossa essa questão:

"Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em
vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos"?
1 Coríntios 6:19

A evidente similaridade da Arca de Noé com a Arca da Aliança e o Templo de


Salomão, serão correlacionadas nesta parte do estudo, para uma eficaz
compreensão.

Comecemos então da primeira parte, sobre a madeira escolhida, o Gofer. Segundo


o Dicionário Bíblico Strong do Seminário de Teologia Online, Gofer significa
"Enviado Especial". Tal madeira na realidade não existe e o que se pode especular
a seu respeito é que se refira ao cipreste. Entretanto, dado a essa única menção no
livro bíblico e o total desconhecimento a respeito da mesma, entendemos que o
autor não se preocupou com literalidade e sim com significado.

Partindo então do pressuposto de que daqui temos tão somente o valor do


significado da palavra, entendemos que a Arca é construída de algo Enviado de
forma Especial, ou específica para determinada finalidade.

Na similaridade com a Arca da aliança, encontramos a Acácia.

No caso desta, temos um excedente de informações. A Acácia é considerada


sagrada em Israel dado a seus simbolismos. É uma árvore de folhas macias, porém
de espinhos pontiagudos. Suas flores amarelas se abrem diante da luz solar. Temos
aí algo que nos remete a um simbolismo mais profundo, o qual exploraremos mais
adiante.

Já em relação ao Templo de Salomão, as madeiras usadas fora da alvenaria - como


nas portas e umbrais - foram a Oliveira e o Cipreste, cujos significado remete à
vida e renovação.

"Farás compartimentos na arca e a betumarás por dentro e por fora com


betume"
Isso posto, temos que a Arca é algo particionado, com câmaras. Eis aqui mais uma
pista do que pode ser essa Arca. Mas juntaremos os pontos somente ao final deste
capítulo.

E o betume, o que significa?

Ora, é o nosso conhecido petróleo em estado bruto. Na antiguidade este precioso


líquido já o era conhecido, de modo que poderia se utilizar das mais diversas
formas. Naquelas áreas do Oriente Médio, onde hoje a exploração é massiva, tal
óleo extremamente viscoso brotava da terra em determinados pontos, e ficaram
conhecidos como poços de betume. O emprego desse material para calafetagem
tornou-se comum dentre os povos locais e portanto, plausível para a construção de
um objeto flutuável.

Entretanto, sua menção nos leva a outro aspecto do simbolismo. O betume é preto.
E preto nos remete ao rio Giom, sobre o qual falamos anteriormente. Aquele rio
que circula a terra de Havilá, cujo pai é Cuxe, neto de Noé, que significa Preto.
Quando nesta questão nos detivemos, compreendemos que o preto seria o próprio
ser humano, envolto em sua ignorância e paixões terrenas. Sendo assim,
compreendemos neste mito, que o betumar a Arca, significa que a proteção deste
grande barco se daria em primeira mão pela humanização daquilo que abrigaria.

Dentro da mesma alegoria, encontramos a composição do santuário:

"Fez também, para a tenda, uma coberta de peles de carneiros, tintas de


vermelho; e por cima uma coberta de peles de texugos." Êxodo 36:19

O texugo é um animal conhecido no Oriente Médio pela sua cor malhada em


branco e preto. Ou seja, a primeira cobertura do santuário era uma mescla entre os
conceitos de luz e trevas, bem e mal. Assim, entendemos que a Arca possui a
mesma lógica, uma vez que a nobreza da madeira pela qual é feita, é juntada por
algo que é preto, representando a humanidade.

E desta maneira a farás: De trezentos côvados o comprimento da arca, e de


cinqüenta côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua altura.

Neste ponto encontramos a primeira menção de medidas contida no livro. E nos


deparamos com algo também significativo que é o côvado. Esse tipo de medida
não se podia compreender em exato, visto corresponder a uma medida humana. O
côvado correspondia ao espaço contido entre o início do punho, ao cotovelo de
um homem importante para determinado povo e correspondia de forma inexata a
45 cm nos dias de hoje. Sendo que na antiguidade, dado a variação das estaturas
de cada povo, tal medida se contava em correspondência ao líder local ou Rei.

Mais uma vez, entretanto, compreendemos que a Arca possuiria tanto medidas
quanto junção humanas.

Vamos nos agora ater aos números, traçando seus paralelos como fizemos até
aqui:

Comprimento - 300

Largura - 50

Altura - 30

Em síntese, podemos verificar que a altura é um décimo do comprimento. De


modo que por mais comprimento houvesse, a altura seria tão somente um décimo
do comprimento. Isso nos leva a outro tipo de correspondência muito conhecida e
batida nos dias atuais que é o dízimo, o qual seria a décima parte dos frutos da
terra. Assim - não pormenorizando a questão - já podemos identificar que a altura
significaria o sagrado, enquanto o comprimento, o humano.

A identificação dos números também o são de forma símplice.

O que vemos aqui é a composição do 3 multiplicado por cem e por dez. Ora, o
três, em sua singularidade mística, possui significados esplêndidos. Sua menção é
farta na Bíblia, sendo os mais comuns o tempo em que Jonas teria ficado no
ventre do peixe, bem como o que Jesus encontrou-se no ventre da terra. Também
corresponde aos três aspectos humanos de sua composição como corpo, alma e
espírito. No santuário veremos essa mesma divisão, como pátio, santo e
santíssimo.

Segundo os Rosacruzes, essa composição do ser humano se divide de três em três,


chegando à sagrada escala de doze, que pelo óbvio, estudaremos em pontos mais
avançados. Por hora, reproduzimos este texto do mesmo livro elementar de sua
filosofia:

"Em resumo, distinguimos no homem, segundo sua manifestação na forma, uma


forma espiritual, uma forma psíquica e uma forma corpórea. Distinguimos
também o espírito central, a força divina que emprega a forma corpórea. As
formas do espírito, da alma e do corpo constituem um sistema veicular, um
tabernáculo. O espírito central ou mônada é o Senhor desse tabernáculo." P. 106

Assim, entendemos que tanto o comprimento quanto a altura correspondem ao


aspecto humano do ser.

Temos então dentro da Arca Noé representando o Espírito; seus três filhos
representando a alma humana; e suas respectivas mulheres representando os
aspectos biológicos e instintivos do corpo humano em seu estado bruto.

Em relação à largura, perceberemos uma questão ainda mais humanística do


significado da Arca. O número 5 aqui multiplicado por dez, quando mencionado
na bíblia, traz consigo o significado de morte. Vejamos:

Dr. Peter Ruckman no Blog teolovida.blogspot.com/2016/12/os-misterios-do-


numero-cinco.html cita o seguinte:

"Depois do número treze, o número 5 é o menos apreciado  porque tem relação


com a morte.  Contudo, alguns estudiosos de numerologia bíblica acham que ele
se refere à graça.  Este número tem relação com as cinco chagas de Cristo,
conforme um hino composto por Charles Wesley, irmão de John Wesley, e também
com as cinco peças do vestuário de nosso Senhor, na hora da morte.  Desse modo,
este número está ligado à morte, a qual resultou em graça para todos que aceitam
pela fé o sacrifício vicário do Senhor Jesus Cristo.  Ao mesmo tempo, ele significa
morte eterna para todos os que o desprezam."

"O “5” tem muitos significados, todos estreitamente relacionados. 5 É um número


incompleto, e é o número da responsabilidade do homem diante de Deus. Devido
ao fato de não ser completo, ele sugere responsabilidade. 5 é 4+1. 4 representa o
homem criado, enquanto 1 representa o Deus independente. Sendo assim, 5 é o
homem perante Deus. Conseqüentemente, por um lado, representa a graça de
Deus para com o homem; por outro lado, representa a responsabilidade do
homem diante de Deus. "

Não somente entre teólogos o número cinco tem associação negativa.


Numerólogos de todo o mundo concordam que esteja ligado a forças
problemáticas nas mãos de seres humanos não evoluídos em seu entendimento.

Na Árvore da Vida cabalística, o número cinco está associado à severidade. Já na


interpretação geral de outras mitologias se refere - dentre diversos aspectos - à
irritação e a conformação do corpo mortal à disciplina imposta pelo corpo
espiritual.

Na concepção grega antiga, segundo Aristóteles, o cinco representava os quatro


elementos adicionados ao éter – ao espírito de vida. Em suma, representava a
composição química do corpo com suas alma divina.

Não nos atendo tão mais profundamente à numerologia, podemos concluir que a
largura da Arca representava o fim do corpo material.

Assim, entendemos que as dimensões da Arca estão ligadas ao aspecto humano e


divino do ser, representando a possibilidade de renascimento do espírito diante do
juízo da morte imposta a todos os seres.

Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em cima. E a porta da


arca porás ao seu lado.

Esta parte do texto nos remete a um outro trecho da Bíblia, numa referência direta
ao Templo de Salomão:

"Então me fez voltar para o caminho da porta exterior do santuário, que olha
para o oriente, a qual estava fechada. E disse-me o Senhor: Esta porta
permanecerá fechada, não se abrirá; ninguém entrará por ela, porque o Senhor,
o Deus de Israel entrou por ela; por isso permanecerá fechada." Ezequiel 44:1,2

A Arca, assim como o Templo, possuía suas portas, porém cada qual com seu
devido significado. Não queremos ainda aprofundarmo-nos neste assunto das
portas. A quantidade destas no templo é bem maior que na da Arca, pois trata-se de
uma repetição ampliada desse primeiro modelo descrito da concepção humana do
divino. As duas portas da Arca são a representação do humano e do divino.

A entrada por onde penetrariam a família de Noé e os animais, localizava-se na


parte inferior da embarcação, enquanto a janela para vislumbrar o céu após a
tempestade que passaria, estaria em cima. Ou seja, o que é humano deve entrar
pela parte inferior, e o que é divino pela parte superior. Esta janela é uma
referência à parte superior da cabeça, onde localiza-se o chacra coronário,
responsável pela recepção da energia cósmica divina. Ninguém pode tocá-lo sem
permissão do próprio criador, pois que ainda em dilúvio, acarretará inundação
energética ao corpo físico. Por outro lado, a porta da inserção dos conceitos
humanos é colocada ao lado. Este trecho refere-se à mulher, que fora tirada de um
dos lados do homem, representando o pólo negativo da concepção da alma.

Far-lhe-ás andares, baixo, segundo e terceiro.

Conforme já dissemos, existe nas medidas da Arca a repetição reiterada do


número três, cujas explicações já detivemos em trechos anteriores. A altura da
Arca seria de trinta côvados, estando dividida em três andares. Em termos literais,
cada andar teria aproximadamente 4,5 metros, o que é uma medida bastante
razoável. Entretanto, o que nos importa na construção deste receptáculo, é seu
significado e não suas especificações literais.

Considerando-se o três como algo completo, podemos entender que o


comprimento de 300 côvados representa a composição humana, enquanto a altura,
o divino. E como já dissemos, dessa medida superior de um décimo do
comprimento, criou-se a concepção de Dízimo, hoje largamente deturpada pelos
exatores da fé.

A representação dos três andares não é de difícil compreensão, após a larga


divulgação dos conhecimentos científicos a respeito da mente humana dentro da
psicologia freudiana.

A divisão do cérebro é sempre tríplice. Na parte física encontramos o reptiliano na


parte posterior; o mamífero na parte central e o primata no lobo frontal.

De igual forma, a ciência estabelece um paralelo substancial no que diz respeito


aos níveis de Estado do Cérebro – iniciando-se na a antiguidade - que corrobora
com os estudos recentes de Sigmund Freud, dentre os demais especialistas da
psicanálise clínica.

Em sua atuação, o cérebro divide-se nas seguintes camadas:

"Consciente

O nível consciente nada mais é do que tudo aquilo do que estamos conscientes no
momento, no agora. Ele corresponderia à menor parte da mente humana. Nele
está tudo aquilo que podemos perceber e acessar de forma intencional. Outro
aspecto importante é que o consciente funciona de acordo com as regras sociais,
respeitando tempo e espaço. Isso significa que é por meio dele que se dá a nossa
relação com o mundo externo.
O consciente seria, portanto, a nossa capacidade de perceber e controlar o nosso
conteúdo mental. Apenas aquela parte de nosso conteúdo mental presente no nível
consciente é que pode ser percebida e controlada por nós.

Pré-consciente

O pré-consciente é muitas vezes chamado de “subconsciente”, mas é importante


destacar que Freud não utilizava esse termo. O pré-consciente se refere àqueles
conteúdos que podem facilmente chegar ao consciente, mas que lá não
permanecem. São, principalmente, informações sobre as quais não pensamos
constantemente, mas que são necessárias para que o consciente realize suas
funções.

Nosso endereço, o segundo nome, nome dos amigos, telefones, algumas coisas das
quais gostamos – como a nossa comida preferida –, acontecimentos recentes e
assim por diante. É importante lembrar ainda que, apesar de se chamar Pré-
consciente, esse nível mental pertence ao inconsciente. Podemos pensar no pré-
consciente como uma peneira que fica entre o inconsciente e o consciente,
filtrando as informações que passarão de um nível ao outro.

Inconsciente

No último texto publicado aqui nos dedicamos a definir o conceito psicanalítico de


inconsciente. Vamos tentar, no entanto, aprofundar nossa compreensão de seu
significado. Inconsciente se refere a todo aquele conteúdo mental que não se
encontra disponível ao indivíduo em determinado momento.

Ele representa não só a maior fatia de nossa mente, mas também, para Freud, a
mais importante. Quase todas as memórias que acreditamos estarem perdidas
para sempre, todos os nomes esquecidos, os sentimentos e medos que
conseguimos, de alguma forma, ignorar… todos esses elementos se encontram em
nosso inconsciente. Isso mesmo: desde a mais tenra infância, os primeiros amigos,
as primeiras compreensões: tudo está guardado." psicanaliseclinica.com

Esses três níveis de acessos à mente humana, conectam com os estágios evolutivos
necessários à auto compreensão e, consequentemente, à visão que passamos a
exercer de nós mesmos em comparação com a superioridade frente aos outros
animais, os quais não adquiriram muitas informações a respeito de si.
O primeiro andar, a propósito, é por onde irão entrar tanto Noé como sua família,
como os animais. Entretanto, os animais devem se acomodar em seus
compartimentos, enquanto tão somente Noé possui acesso a todos os demais
setores da Arca, pois este, além de administrador, é também o construtor e
conhecedor de cada local da embarcação. O primeiro andar é o Estado consciente
no paralelo psicanalítico. Não os níveis mais grosseiros do ser. É onde habitam os
sentimentos básicos de sobrevivência carnal.

O segundo andar é onde se registram os ditames da alma. Os sentimentos, as


virtudes e defeitos do ser, porém de forma mais sublimada, contida. É a alma
humana em pulsão vital para com o corpo. É o Adão em comando de Eva.

O terceiro, o mais elevado, é onde o homem tem acesso a Deus. É onde dorme seu
espírito, quando em estado consciente (embora o espírito humano nunca durma
pois é constante e eterno como Deus). Esta parte do ser é sua conexão com a mente
central do Universo, o tornando um com Deus. Dificilmente o homem terá acesso
às informações de seu incosciente, pois nele estão registradas todas as suas
passagens pela vida, tanto terrena quanto em outros mundo desde a sua separação
da centralidade divina. Por esta janela somente Noé pode olhar.

Temos aqui assim em Noé, outro tipo para Deus. Dentro dessa embarcação quem
manda é o descanso, a mônada divina. Portanto, podemos entender que o trânsito
entre todos os setores da mente humana é efetuado pelo Espírito - a centelha divina
em nós - que por sua centralidade, possui livre acesso aos andares inferiores e
superiores da Arca.

Os rosacruzes separam os andares de forma um tanto diferente, porém não


contradizente à psicanálise moderna:

"Em resumo, distinguimos no homem, segundo sua manifestação na forma, uma


forma espiritual, uma forma psíquica e uma forma corpórea. Distinguimos
também o espírito central, a força divina que emprega a forma corpórea. As
formas do espírito, da alma e do corpo constituem um sistema veicular, um
tabernáculo. O espírito central ou mônada é o Senhor desse tabernáculo. Filosofia
Elementar da Rosacruz Moderna, P. 106

Portanto, podemos sincretizar sem dificuldades essas mesmas formas, em


elementos correspondentes:

Corpo Físico - Eva - Pólo Negativo - Estado consciente


Alma - Adão - Pólo Positivo - Subconsciente

Espírito - Noé (Neste caso) - Estado central e superior - Inconsciente

Destacamos neste caso, a questão do inconsciente como se tratando do Espírito,


visto que no estado evolutivo quando em conexão com as esferas celestes, o
espírito de Deus no homem possui controle sobre todos os elementos do corpo,
tanto físico, como mental e espiritual.

Os níveis de consciência estão também sublimados em outros textos bíblicos, como


na construção do Templo, conforme destacamos neste trecho:

"A porta da câmara do meio estava ao lado direito da casa, e por caracóis se
subia à do meio, e da do meio à terceira." 1 Reis 6:8

A semelhança com a Arca é inquestionável. Vemos a porta à direita, ou seja, ao


lado, e por meio dela se subiria às câmaras segunda e terceira. Também é notável
neste trecho a referência aos ouvidos, cujo formato interno de caracóis
demonstrava-se conhecido desde a antiguidade.

Concebemos, por fim, que a famosa embarcação mítica a que se refere o livro do
Gênesis, é uma clara referência ao veículo corpóreo do homem, por meio do qual
haverá a travessia das águas da turbulência terrena até seu lugar de repouso, tendo
em seu interior o domínio dos animais sob a regência de Noé, o descanso do
Espírito. A Arca é por fim, o instrumento divino para a passagem da morte carnal
para a vida espiritual.

Entretanto, abordaremos tal entendimento de forma mais profunda no capítulo


seguinte.

O Dilúvio

"Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a
carne em que há espírito de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra
expirará." Gênesis 6:17

Aqui temos a mais memorável e controversa história da antiguidade. O famoso


dilúvio.

Tal evento pode de fato perfazer-se a realidade histórica a que foram submetidos os
povos do Oriente Médio num passado remoto. Tal inundação pode muito bem não
ter registro tão somente mítico, como também literal, servido-se de base para a
confecção da história de Noé. Aliás. Compreendida em sua forma correta, mostra-
se um alívio para os justos temerosos pela morte do corpo físico e ainda
desprovidos da certeza da eternidade da vida.

Antes de determo-nos na decodificação da mensagem por trás da narrativa, teremos


então que admitir que essa grande inundação ocorreu de fato, pois abundam
registros geológicos e históricos de tal evento. Entretanto, é importante ressalvar a
impossibilidade da ocorrência global, a ponto de extinguir toda a vida terrestre.
Assim, nada que justifique a construção de uma embarcação para levar consigo
todas as amostras de animais terrestres em virtude de posterior repovoamento
repusa em base lógica. Esse óbvio é perceptível diante das espécies únicas de
isolamento geográfico intransponíveis como da Austrália e Madagascar. Conceber
que tais espécies desenvolveram-se após o dilúvio, suposto há cerca de quatro mil
anos, debruça-se em mera estupidez, frente aos conhecimentos científicos
comprobatórios da necessidade de muitos milhares de anos para o surgimento de
espécies diferentes. Qualquer conjectura que negue a experiência científica não
pode ser digna de crédito.

Em primeiro plano, iremos volver-mo-nos para a admissão do evento cataclísmico


de forma honesta dentro de sua literalidade:

"O dilúvio na mitologia greco-romana

A mitologia greco-romana nos conta a história de Deucalião e Pirra, os


sobreviventes do dilúvio imposto por Zeus com o propósito de exterminar a raça
humana.

Segundo esta tradição, Deucalião reinava sobre a Tessália na Idade do Bronze,


época em que o homem estava muito degenerado, entregando-se a vícios e
maldades. Zeus, para castigá-los, decidiu destruir a raça humana através de uma
dilúvio. Deucalião, porém recebe orientação de seu pai, conhecedor das
pretensões de Zeus, e constrói uma embarcação onde fica com a mulher Pirra
durante a inundação. Segundo esta história, a Terra inteira é submergida e seus
habitantes mortos. Deucalião e Pirra ficam nove dias e nove noites encerrados na
embarcação, no décimo dia desembarcam no monte Parnaso. Zeus perdoa os dois
sobreviventes lhes concedendo a realização de um pedido, os dois pedem pelo
repovoamento da Terra, Zeus ordena-os que joguem por atrás de si os ossos de
suas mães, os dois jogaram, então, para de atrás de si pedras, que representam os
ossos da mãe Terra, das pedras lançadas por Decalião nascem homens e das
pedras lançadas por Pirra nascem mulheres, estes repovoaram a Terra.

O dilúvio na mitologia Suméria

O mito sumério de Gilgamesh nos conta os feitos do rei da cidade de Uruk,


Gilgamesh, que parte em uma jornada de aventuras em busca da imortalidade,
nesta busca encontra as duas únicas pessoas imortais: Utanapistim e sua esposa,
estes contam à Gilgamesh como conquistaram tal sorte. Esta é a história do
dilúvio. O casal recebeu o dom da imortalidade ao sobreviver ao dilúvio que
consumiu com a raça humana.

"Tudo começou na antiga cidade de Shurupak às margens do rio Eufrates nessa


cidade viviam os deuses: Anu, deus do céu, Enlil, seu conselheiro, e também o
supremo deus Ea. Naqueles dias, a Terra fervilhava, o povo se multiplicava e o
mundo a mugir como touro selvagem (...) os deuses irritaram-se com este barulho.
Enlil foi logo reclamar na Assembléia dos deuses: 'É um tumulto intolerável.
Ninguém mais consegue dormir com essa balbúrdia dos homens'. E foi assim que
eles, os deuses, decidiram exterminar a raça humana."(TAMEN, Pedro.
Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)

Na tradição suméria, o homem foi dizimado por incomodar aos deuses Mas
segundo este mito, o deus Ea, por meio de um sonho, apareceu a Utanapistim e lhe
revelou as pretensões dos deuses de exterminar com os humanos através de um
dilúvio.

"Homem de Shurupak, derruba tua casa e constrói um barco. Abandona tuas


posses e salva tua vida. Renuncia aos bens terrenos e conserva coração puro."
(TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)

Dos mitos sobre o dilúvio, sem dúvida, a história do encontro entre Utanapistim e
Gilgamesh é o que mais se assemelha a história bíblica de Noé e o dilúvio. Até
mesmo a questão moral está presente, quando o deus Ea pede a Utanapistim que
renuncie aos bens materiais e conserve o coração puro. Mas as semelhanças não
param por ai.

"O barco que deves construir deve ter a mesma largura e comprimento, o convés
coberto, tal como uma abóbora, e leva então para dentro do barco sementes de
todas as coisas vivas." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed.
Ars Poetica, 1992.)
É muito semelhante a questão da preservação das espécies, citada na história
bíblica, onde Utanapistim deve levar no barco sementes de todas as coisas vivas.

Utanapistim reúne sua família e constrói a embarcação que lhe foi ordenada por
Ea, estes ficam por sete dias debaixo do dilúvio que consome com os humanos.

"Eu percebi que havia grande silêncio, não havia um só ser humano vivo além de
nós, no barco. Ao barro, ao lodo haviam retornado. A água se estendia plana
como um telhado, então eu da janela chorei, pois as águas haviam encoberto o
mundo todo. Em vão procurei por terra, somente consegui descobrir um
montanha, o Monte Nisir, onde encalhamos e ali ficamos por sete dias, retidos.
Resolvi soltar uma POMBA, que voou para longe, não encontrando local para
pouso retornou (...) Então soltei um corvo, este voou para longe encontrou
alimento e não retornou." (TAMEN, Pedro. Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo:
ed. Ars Poetica, 1992.)

A história contada por Utanapistim é muito semelhante a descrita na Bíblia. O


descontentamento divino frente as maldades e perversões humanas levando a
divindade ao arrependimento pela criação dos homens e automaticamente a
destruição destes através de um dilúvio.

Os assírios e o dilúvio

O Dicionário da Bíblia John D. Davis, afirma que nos registros assírios que
enumeram os antigos reis da Assíria, apontam que estes governavam "após o
dilúvio", também afirma que em registros do rei Assurbanipal, este refere-se a
inscrições anteriores ao dilúvio.

O dilúvio na mitologia Maia

A América também possui seu mito sobre o dilúvio, a mitologia Maia descreve na
história do Popol Vuh onde é narrada a história de um dilúvio que dizimou a raça
humana.

"Segundo o Popol Vuh, o mundo era um angustiante nada, até que os deuses - o
Grande Pai e a Grande Mãe, um criador, a outra fazedora de formas - resolveram
gerar a vida. A intenção de ambos era serem adorados pela própria criação.
Primeiro, fizeram a Terra, depois, os animais e, finalmente, os homens. Estes,
inicialmente, foram criados de barro. Como não deu certo, o Grande Pai decidiu
retirá-los da madeira. Porém, os novos homens, apesar de ativos, eram vaidosos e
frívolos, obrigando o Grande Pai a destruí-los em um dilúvio." (Enciclopédia
Encarta, Microsoft Corporation, 2001)

A versão científica do dilúvio

Segundo a geologia moderna, o dilúvio realmente ocorreu na região do Crescente


Fértil, porém não há comprovação de sua extensão global. Geólogos afirmam com
base em estudos da erosão e das marcas geológicas que o dilúvio teria ocorrido
em escala local, porém abrangendo todo mundo conhecido da época. Onde
haviam civilizações, houve o dilúvio. Mas como explicar que uma cultura tão
distante como a Maia tenha incorporado tal história em sua carta de mitos. Teria
sido o dilúvio mundial?

"Há evidência muito forte, fora do livro de Gênesis, com respeito à destruição da
raça humana, cuja única exceção é uma família. Inúmeras tribos selvagens,
espalhadas pelo mundo, conservam a tradição de um dilúvio. Existem possíveis
registros arqueológicos, como tantas evidências diretas de um dilúvio." (Bíblia
Shedd).

A revista Super Interessante em sua edição de maio de 1995, afirma que não
existem dúvidas sobre a ocorrência do dilúvio, porém não se pode definir a
extensão precisa deste ocorrido, o que se pode afirmar é que ele abrangeu todo
mundo conhecido da época.

Mas sobre histórias mitológicas como a dos Maias, não há estudo que aponte sua
relação como o dilúvio dos povos do antigo Fértil Crescente, o que se pode
afirmar é que pode ser uma coincidência ou então uma tradição trazida com os
primeiros a chegarem a América. Esta última é a versão mais aceita no meio
científico.

Sobre o dilúvio, não restam dúvidas, ele ocorreu realmente, porém, quanto a sua
extensão, não se pode afirmar nada de concreto, mas segundo a arqueologia e a
geologia contemporâneas, este ocorreu somente na região do Fértil Crescente, o
que era, então, o mundo conhecido da época."
www.historialivre.com/univerzo/diluvio.htm

Portanto, com base nestes e em outros abundantes estudos a respeito da inundação,


não será questão de contraponto a negação de tal evento. No mundo todo há
registros de tal evento, bem como perpetuam-se mitologias semelhantes em todo o
globo; em civilizações de diferentes épocas; uma vez que as histórias narradas
passaram boca a boca nas tradições seculares.

Por outro lado, a última Era do Gelo, ocorrida há cerca de 12 mil anos, congelou
partes do mundo e o descongelou cerca de cinco mil anos depois, dando aporte a
inundações dessa natureza. Tal fenômeno é natural e ocorre ciclamente no planeta,
estando nós caminhando em direção a uma nova Era como essa dentro de poucos
milênios. Assim, a grande inundação esteve intimamente ligada a esse período de
expurgo no qual passou todo o Planeta.

Corroborando com a informação referente à Era do Gelo recente, a Revista Super


Interessante assim resume a origem do mito:

"A história do Dilúvio está narrada na Bíblia em quatro capítulos do Gênesis.


Mas será que ele aconteceu de fato? Aos olhos da ciência, provavelmente sim.
Pelo menos é o que dizem William Ryan e Walter Pitman, dois oceanógrafos
americanos da Universidade Columbia. Para eles, a partir da análise de fósseis e
sedimentos marinhos, o dilúvio foi uma invasão colossal do Mar Negro pelas
águas do Mediterrâneo. O fato teria ocorrido cerca de 7 500 anos atrás, como
consequência do degelo das calotas polares do último período glacial (há cerca de
12 mil anos).

O gelo derretido elevou o nível dos oceanos e rompeu uma barreira natural que
impedia a passagem da água do Mediterrâneo para o Mar Negro (que era de água
doce). O nível deste subiu 15 centímetros por dia e, em três anos, ficou 150 metros
mais profundo." https://super.abril.com.br/historia/o-diluvio-aconteceu/

Isto posto, é importante salientar que, à luz da ciência e das descobertas


arqueológicas, podemos inferir sem medo, que o dilúvio:

1 - Não foi universal no sentido geral, mas pontual, conforme o derretimento se


dava em cada região;

2 - Não destruiu os animais de outras regiões, visto as espécies únicas de


Madagascar, Austrália e América se preservarem em seus milhões de anos de
evolução;

3 - Não ocorreu há quatro mil anos, como sugere a Bíblia, mas há pelo menos sete;
4 - O mito bíblico foi uma cópia quase fiel da Epopéia de Gilgamesh, conforme
veremos mais tarde.

Colocando honestamente essas questões sobre a mesa, podemos então passar para
o entendimento do código inserido na narrativa.

"Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a
carne em que há espírito de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra
expirará." Genesis 6:17

Neste verso percebemos que a corrupção da Terra se dá em face da natureza de


Caim haver abraçado o mundo. Ou seja, a carnalidade dominou o espírito e o
sucumbiu. Vem à tona a questão do tempo do homem, o qual já não poderia mais
contrapor-se a Deus. Neste julgamento percebemos a questão do pó da Terra, o
qual é o destino do homem. Ou seja, ligando-se à Terra em sua perspicácia carnal,
o homem então deve retornar a ela. A purificação da Terra deve se dar por meio
da Água.

"Mas contigo estabelecerei a minha aliança; e entrarás na arca, tu e os teus


filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos contigo." Gênesis 6:18

Noé é o descanso do Espírito e ele é o cabeça da Arca, o centro para o qual se


voltam todas as atenções. Percebemos que são quatro mulheres - sem importância
para o texto bíblico, visto que sequer seus nomes são mencionados - e quatro
homens, formando um perfeito equilíbrio. Na contraposição com os chacras,
poderemos colocar Noé e sua mulher no centro, enquanto as três esposas dos
filhos representam os três chacras inferiores e os três filhos os chacras superiores.
Temos aqui mais uma vez a representatividade do corpo humano em seu sistema
energético.

Noé e sua esposa encontram-se no centro, pois o chacra cardíaco é o centro dos
chacras, mas não o espírito. O Espírito em seu estado primordial, requer
acionamento por meio dos desejos enobrecidos do coração. Encontra-se “dentro”
dele, não de forma literal, mas como semente. No coração se aciona a chave para
o comando consciente do Espírito. A ativação da chave depende do que sente o
coração. Enquanto os chacras possuem as cores do arco íris - que irá aparecer
mais tarde após o cessar das águas - o espírito ou o Cristo interior, é dourado.
Portanto, na Arca não entram sete, mas oito pessoas. A mulher de Noé é o chacra
cardíaco, no qual em seu interior, vibra a semente comandante da Arca.
"E de tudo o que vive, de toda a carne, dois de cada espécie, farás entrar na
arca, para os conservar vivos contigo; macho e fêmea serão. Das aves conforme
a sua espécie, e dos animais conforme a sua espécie, de todo o réptil da terra
conforme a sua espécie, dois de cada espécie virão a ti, para os conservar em
vida." Gênesis 6:19-20

Conforme já repetido, os animais representam aspectos da personalidade, e


intrínseco a nós, em nossa matéria carbonada, encontram-se as diversas nuances
que assumem o comportamento final. Portanto, não há distinção do que se deve
entrar na Arca, pois nossa personalidade se salvará. Entretanto, não significa que
será a mesma a cada encarnação, visto que apenas as partes mais cultivadas se
reproduzirão com abundância. A reprodução está garantida na inserção dos pólos
positivo e negativo representados pelo macho e fêmea. De igual forma, os animais
representam o ar (as aves) e a terra (répteis). Sobre a arca estará Deus como o
fogo e embaixo dela estará a água, completando a singularidade dos quatro
elementos.

"E leva contigo de toda a comida que se come e ajunta-a para ti; e te será para
mantimento, a ti e a eles. Assim fez Noé; conforme a tudo o que Deus lhe
mandou, assim o fez." Gênesis 6:21,22

Aqui percebemos que mais uma vez tratar-se do conhecimento adquirido ao longo
das vidas. O alimento referido ao conhecimento a respeito da vida como a respeito
de si, guardar-se-á nestes registros.

Resumidamente, podemos dizer que a Arca de Noé é nosso corpo em seus três
níveis de consciência. Ao atravessar as águas da morte o corpo é inutilizado (a
arca é abandonada após o dilúvio), dando origem a uma nova vida. Assim, Noé
obedece ao Senhor.

"Depois disse o SENHOR a Noé: Entra tu e toda a tua casa na arca, porque
tenho visto que és justo diante de mim nesta geração." Gênesis 7:1

Num mundo repleto de seres humanos, é estranhável que somente Noé seja justo.
Por ocasião do anúncio do dilúvio, alguns dos patriarcas ainda estão vivos. Por
conseguinte, a parentela de Noé deve ser extensa. Porém ninguém encontra a Graça
aos olhos de Deus. Considerando-se isso em termos literais, a justificativa torna-se
longe da razoabilidade.
Note que a intenção de Deus é destruir a carne. Não houve alerta para que se
arrependessem. Não houve pregação, não houve advertência. Tudo foi executado
em silêncio. Somente Noé e seus descendentes possuíam o direito de entrar no
barco da salvação.

É imprescindível dizer por fim, que toda a narrativa é contrária á lógica divina.
Matar de surpresa é mera covardia. Não nos resta dúvida que seja um mito. E pelo
lado mitológico, encontramos sentido. A impossibilidade de convite às pessoas em
derredor, se dá ao fato de cada corpo possuir apenas seus componentes próprios de
subsistência, com seus centros energéticos exclusivos. Assim, é mister que se
destrua "toda a carne" na passagem pelas águas da morte, para que o espírito se
depure. Que se destrua cada carne individualmente.

"De todos os animais limpos tomarás para ti sete e sete, o macho e sua fêmea;
mas dos animais que não são limpos, dois, o macho e sua fêmea.
Também das aves dos céus sete e sete, macho e fêmea, para conservar em vida
sua espécie sobre a face de toda a terra. Porque, passados ainda sete dias, farei
chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites; e desfarei de sobre a face
da terra toda a substância que fiz. E fez Noé conforme a tudo o que o Senhor lhe
ordenara" Gênesis 7:2-5

Neste trecho temos a ampliação da ordenança anterior, de se inserir o macho e sua


fêmea na arca. Nos versos anteriores temos somente a ordenança de todos os
animais. Neste há uma distinção fundamental entre os animais limpos e imundos.

Aqui encontramos dois problemas da literalidade. A primeira da ordenança de


tomar para si os animais. Nisto vemos que Noé foi em busca dos animais e não que
estes foram até à Arca. A clássica imagem dos filmes, em que animais de todo o
Globo se dirigem ao grande barco, não condiz com a narrativa bíblica. Fomos tão
somente condicionados a algo não contido nos textos.

O segundo problema é o choque temporal com as leis. A ordenança de se distinguir


animais limpos dos imundos é contraditória dentro do próprio livro. As leis de
distinção ainda não haviam sido criadas e tais só se observam no deserto da
peregrinação, quando finalmente são codificadas pelo próprio Deus e ordenadas a
Moisés. Assim sendo, não há como Noé saber quais são os limpos e imundos,
diante da ordenança divina.
O que se percebe aqui é uma alusão à manutenção dos sete centros energéticos em
limpeza temperamental evidente. A maior quantidade de animais limpos, sendo os
mesmos aos pares, revela uma referência aos dois lados dos campos energéticos. A
ordem para a entrada também de animais imundos, porém de somente um par,
ocorre para que não esqueçamos nossa natureza pecaminosa e que nada possuímos
de melhor dentre os demais seres desta Terra, estando todos submetidos à mesma
Lei, e portanto, dignos conforme o esforço, de desfrutar uma vida melhor a cada
encarnação. A entrada dos animais imundos, possui finalidade probatória. Embora
a limpeza se fizesse em número sete vezes maior, a humanidade deveria ainda
conviver com seus outros sentimentos inferiores. Caberia a cada qual decidir qual
se reproduziria mais.

Ao observarmos os números neste trecho, somos também induzidos a entender a


mesma questão já estudada nos dias da criação.

Aliás, a correlação com os dias da criação é sobremaneira interessante, pois corre


tangencialmente de forma inversa.

Enquanto a criação do mundo dura sete dias, a contagem regressiva para sua
destruição também é de sete dias. Portanto nisso, encontramos o encerramento de
um ciclo.

Os quarenta dias também aqui mencionados são uma inversão da criação, uma vez
que se relaciona às quarenta semanas da gestação humana, conforme visto no
início deste estudo. Assim, temos que o dilúvio tenha sido o fechamento de um
ciclo da história da vida terrestre.

Por outro lado, importante é salientar a citação da Cabala logo no início. A


escrituração bíblica possui quatro níveis, aos quais pelo menos dois ou três
conseguimos decifrar no entorno deste estudo. Portanto, um pouco além da
interpretação pessoal, o dilúvio abrange também a sincronia de temporalidade da
própria Terra. Vimos que tanto a criação macro como a micro possuem correlação
com a gestação humana e que ambas perpetuam-se em sincronicidade. Assim,
devemos agora nos ater à revelação de identidade maior, no que diz respeito à
própria Terra em seu mecanismo cósmico. Enquanto o dilúvio em sua forma
pessoal - representada pela passagem da morte carnal para a vida espiritual - entra-
também nesta dança, a necessidade da mudança do ser humano em seu aspecto
moral pela mudança do posicionamento do Planeta em sua movimentação em torno
do Sol, torna-se objeto de necessária compreensão para prosseguimento.
Sobre tal assunto portanto, devemos agora aprofundar um pouco mais a questão,
visto que na antiguidade conhecia-se bem o movimento dos astros e de sua dança
em torno da Terra (para estes, fixa e plana no Universo).

Considerando que o mito do dilúvio foi uma cópia quase que exata da epopéia de
Gilgamesh - rei sumério que viveu 2700 Ac - teremos que voltar nossos olhos para
esta cultura, a fim de entender o conhecimento astrológico envolvido na questão.

Para efeito de informação, reproduzimos aqui um trecho sobre o assunto, retirado


do site mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/a-epopeia-gilgamesh-
diluvio.htm:

"A trajetória de Gilgamesh o mostra como um grande conhecedor das coisas do


mundo, inclusive de sua origem e de coisas existentes nas profundezas dos mares.
Mas o rei Gilgamesh era despótico e dentre as várias obrigações que impunha a
seu povo encontrava-se a construção de uma gigantesca muralha fortificada ao
longo da cidade de Uruk. O povo amedrontado com o trabalho imensamente
fatigante clamou pela ajuda da deusa Ishtar, que os ouviu e enviou Enkidu. Este,
que era protegido da deusa e vivia nas florestas de cedros, deveria desafiar e
vencer Gilgamesh em um duelo, matando-o em seguida. Ao chegar ao palácio do
rei, iniciou o combate. Entretanto, não houve vitoriosos, sendo que Gilgamesh e
Enkidu se tornaram amigos. A amizade os levou a diversas aventuras, destruindo
monstros e harmonizando o mundo.

Porém, Ishtar sentiu ciúmes da amizade e tentou seduzir Gilgamesh que, sabendo
que aquele que amasse a deusa morreria, não aceitou ser seu amante. A deusa
com muita ira pela recusa decidiu matar o amigo de Gilgamesh, Enkidu, infligindo
a ele uma doença que o deixou agonizando por doze dias antes de morrer. Com a
perda do amigo, Gilgamesh resolveu ir atrás de novas aventuras, o que o levou a
encontrar Utnapishtim, um homem imortal que revelou um triste mistério dos
deuses: em tempos remotos os deuses haviam decidido submergir a terra de
Shuruppak, mas que ele, pela sua devoção, havia recebido ordens de construir
uma arca no meio do deserto e abrigar seus familiares, amigos e os quadrúpedes
e aves de sua escolha. Utnapishtim assim o fez e, depois de seis dias e seis noites,
salvou as pessoas e os animais, conseguindo em troca a imortalidade."

Percebendo-se que o dilúvio é uma mitologia primordialmente suméria, devemos


agora nos voltar para esse povo a fim de entender o que queriam de fato dizer ao
narrar este episódio.
Os sumérios foram os pais da astrologia.

Muita embora todas as culturas ao redor do mundo possuíssem seus calendários, os


sumérios foram os primeiros a perceber a influência dos astros não somente na
passagem do tempo, como também sobre a humanidade e a vida na Terra como um
todo.

"A Astrologia se desenvolveu de forma mais criteriosa na Mesopotâmia, com um


conjunto de elementos classificados e organizados entre si com os povos
da Babilônia, Pérsia, Suméria e Assíria, além dos Caldeus (povos semitas do sul
da Mesopotâmia que habitavam na margem oriental do rio Eufrates). Para se ter
uma ideia da importância da Caldeia na astrologia, basta dizer que por séculos os
Caldeus eram chamados apenas de astrólogos." astrolink.com.br/artigo/a-
historia-da-astrologia

Assim, temos esse povo como os primeiros elaboradores do que conhecemos hoje
como astrologia moderna. E a Bíblia bebe primeiro de sua fonte para depois criar
os conceitos próprios dos judeus, que irão habitar as terras próximas, séculos mais
tarde.

Sinais óbvios da Astrologia nos escritos judaicos é a contundente e explícita


referência ao número doze, longe evidentemente de mero acaso. Doze são os filhos
de Jacó que formarão as doze tribos de Israel, doze são os profetas que conclamam
Israel ao arrependimento e doze são os apóstolos de Cristo. Tais números não
podem e é impossível que sejam meras coincidências, afinal, doze são as
constelações consideradas na Astrologia, que pelo conhecimento antigo, definem
as personalidades humanas.

Assim considerando, os sumérios descobriram que não somente em torno de um


ano a terra passava pelas doze constelações, como também a mecânica possuía
uma teia mais complexa. Ao passo que a cada ano, o mecanismo astrológico
atravessava as constelações em uma dança conhecida até os dias atuais, existia algo
maior - um tempo maior - em que o planeta esticava-se sobre a influência de uma
determinada constelação. Perceberam que a Terra, a cada 26 mil anos completava
um ciclo no entorno de todas elas, vivendo sob a influência de cada signo por mais
ou menos 2150 anos. A esse movimento - que se dava ao contrário da sequência
conhecida de então - denominaram Eras Astrológicas.

E de que se trata essa questão?


Para nos atermos ao fato, é importante salientar que o estudo a que nos prestamos
neste texto, amplia-se conforme a necessidade da explicação advinda a cada trecho.
Assim, compreendemos a necessidade do aprofundamento da questão ao tempo em
que advém. Assim sendo, podemos doravante inferir que a Bíblia é de fato um
livro baseado na astrologia e, para tanto, é necessário uma explicação detalhada
destes indicativos em seu devido contexto, pormenorizado pelos sinais
demonstrados nas camadas ocultas nas inferências sutis.

Excluindo-se o fato de que os escritores da antiguidade percebiam a Terra como


uma superfície plana diante da qual dançavam os astros, devemos explicar que a
passagem do planeta pelas constelações à visão dos absortos à sensação de inércia
do corpo terrestre, não se dava apenas à passagem às estrelas fixas e errantes
(planetas), as quais regiam os nascituros frente ao domínio mensal de cada
constelação.

Temos nos fenômenos naturais da Terra, quatro movimentos distintos, sendo dois
bastante conhecidos, enquanto outros dois demandam conhecimento maior.

O primeiro movimento, percebido facilmente, é o de rotação, o que cria a sensação


de dia e noite, durando aproximadamente 24 horas.

O segundo é o que translação. É o tempo em que a Terra se põe a rodar


inteiramente em torno do sol, completando o que chamamos de Ano. Por
consequência da inclinação de aproximadamente 27 graus do eixo terrestre em
relação ao Sol, temos a cada quarto do ano, as mudanças de estações.

As mudanças de primavera para verão e de outono para inverno – tanto nos


hemisférios norte e sul – são chamados de equinócios. Neste dia a Terra recebe a
mesma quantidade de luz solar nos dois lados, tendo o dia e a noite iguais em todo
o Globo. Já as mudanças de verão para outono e de inverno para primavera são os
solstícios. Tais mudanças determinam o início de, igualmente, um quarto de
mudança no zodíaco, correspondendo à sequencia em Áries, Câncer, Libra e
Capricórnio a cada mudança de estação. Daí as linhas imaginárias delimitantes dos
hemisférios Câncer e Capricórnio, pois que representam a entrada no outono e
primavera em cada hemisfério. Assim, o ano astrológico inicia-se em Áries – o
primeiro signo ou constelação – no dia 21 de março do nosso calendário –
finalizando em peixes – o último signo. Portanto, quando se fala em ano
astrológico, é importante salientar que a passagem de um ano para outro dá-se no
dia 20 para 21 de março, quando ocorre o fim do verão no hemisfério sul e a
primavera no Norte.

O terceiro movimento dá-se por conta da já mencionada inclinação do eixo


terrestre em relação ao sol. É a precessão dos equinócios quando, do ponto de vista
terrestre, as constelações recuam em seu movimento, ao longo dos milhares de
anos.

Isso posto, os antigos entenderam que cada signo correspondia a 30 graus no


zodíaco, visto que um círculo completo representa 360 graus (30x12). Nesse
espectro de funcionalidade, temos também que o Ano primitivo contado na Bíblia
estendia-se por 360 dias e não por 365 (ou 366) como concebemos hoje. Maior
escala aproximada dos dias atuais encontra-se tão somente no livro apócrifo de
Enoque, o qual afirmava 364.

Os antigos num geral, entendiam que os círculos tanto do Ano quanto das horas,
perpetravam-se exatos, observando o movimento rotineiro dos astros. Por meio
dessas observações, criaram seus calendários.

Na macroesfera do zodíaco, percebeu-se também que a cada 72 anos nossos (um


pouco mais de 73 anos bíblicos), a Terra (na verdade os astros, da perspectiva
terrena), recuavam um grau em relação à sua constelação “fixa”. Assim, em 2190
anos bíblicos (2160 nossos), o planeta mudava inteiramente de um signo para outro
no sentido inverso.

O dilúvio Bíblico ocorre 1656 anos após a “criação,” e portanto, difere do tempo
da representatividade de intercâmbio entre uma Era e outra. Entretanto o texto
bíblico não busca exatidão nas passagens das Eras.

Entretanto, tal número pode conter alguma pista ainda não desvendada pela
exegese mítica. 1656 é divisível em exato por 12, resultando em 138. De igual
forma, também é divisível por 360, resultando em 4,6. Os 2190 menos 1656, dá o
resultado de 534. Tal número também possui uma correspondência interessante
quando dividido por 12, pois é 44,5.

Cremos que a Era astrológica findante com o dilúvio, seja a de Leão.

À frente explicaremos de forma retrocedente para facilitar a compreensão.


Assim, esse número pode indicar que a passagem por Leão tenha sido em 138
precessões, completando um círculo menor que a exatidão proposta. Se tal fato se
comprovar, será necessário somar os 534 com os 2190 anos da próxima Era (de
Câncer), para que se tenha um ajuste. Porém, o indicativo de que os 2190 anos
sejam exatos, ainda é uma incognita a ser resolvida. Afinal, as constelações não se
encontram em espaços exatos do ponto de vista terrestre, não ocupando o mesmo
espectro.

Dentro da roda do zodíaco, cada signo possui um oposto. Um que lhe confere
equilíbrio como se lhe complementando a ação. Entendendo-se a Era de Leão com
seu oposto complementar Aquário, é compreensível o dilúvio. Leão é signo de
fogo (a criação, “haja luz”). Portanto, seu ciclo termina com a interferência do
signo complementar. O homem do cântaro de barro derrama suas águas sobre a
Terra, a inundando por completo.

Por outro lado, os períodos de transição sempre terminam com águas. Noé
atravessa o dilúvio, Jacó atravessa o vau de Jaboque, Moisés atravessa o mar
Vermelho, Jesus é batizado por João Batista. Cada passagem, do ponto de vista
mitológico é na verdade, o trânsito de uma Era Astrológica para outra. E as
referências sutis a esses casos, pode-se compreender nos elementos construídos por
trás das histórias narradas.

Entretanto, ao que se parece nos registros, a passagem pelas águas não é


necessariamente o fim, porém o começo da transição. Ela se deve completar num
momento marcante mais à frente. Disso temos que a sobra dos 534 anos para a
completa finalização da Era de Leão, se dará em um tempo posterior. E isso
veremos à frente, ao tempo do surgimento do patriarca Abrão, o fiel representante
da Era seguinte.

Retrocedendo enfim, conforme citado anteriormente, é uníssono dentre os


espiritualistas que nos encontramos no fim de uma Era. Fala-se muito neste início
de século na Nova Era vindoura.

Mas do que trata essa questão?

Ora, dentre todas as religiões, anuncia-se algo catastrófico a ocorrer muito em


breve. No Brasil em especial, as igrejas evangélicas estã a apregoar um breve fim
do mundo, cujo ápice levará os justos para o céu e os indignos para o inferno. Nem
mesmo a Igreja Católica – detentora de vasto conhecimento mitológico pertecente
ao cristianismo – deixa esse “fim do mundo” para trás. Assim temos que, a todo
canto do mundo cristão, é apregoada a volta de Jesus como interferência aos atos
humanos na Terra.

Espiritualistas não colocam este evento na mesma perspectiva, compreendendo


melhor a questão mitológica contida nos evangelhos, embora também concordando
que haverá uma iminente interferência divina para com os atos humanos. No
Kardecismo em especial, fala-se da mutação do Planeta de provas e expiação para
regeneração.

Então vamos lá:

Por ocasião da Páscoa, Jesus ordena aos discípulos que procurem um lugar para a
ceia. Indagado sobre como encontrar, a resposta de Jesus é por demais explícita:

“Ide à cidade, e um homem, que leva um cântaro de água, vos encontrará;


segui-o. Marcos 14:13

O homem do cântaro de água, mencionado há poucas páginas como sendo a


representação da constelação de Aquário, aparece aqui como referência para a
Páscoa. Temos então a indicação da passagem de uma Era para a outra.

Entendemos todos que o fim da Era Cristã é a passagem para a Era de Aquário. O
mundo é “criado” em Leão, cujo oposto complementar é Aquário. Na iminência
dos dias atuais, estamos prestes a passar para esta. Aquário, evidentemente, tem
por seu oposto complementar a Leão. Portanto, é fácil compreender que o Leão da
Criação volta a reinar nesse período. Cristo, o cordeiro (explicaremos tal
simbolismo nos parágrafos seguintes), retorna agora como Rei. O Sol, a luz do
mundo. Não raro são os versículos denominando Jesus de “Leão de Judá.” A
referência é clara que este “filho do homem” retornará como rei. A passagem da
Era Cristã para a de Aquário é a comentada volta de Jesus.

A Era Cristã, portanto, é a Era antecessora à que adentraremos. Ou seja, a de


Peixes. Nas inferências refinadas do cristianismo, podemos perceber que o peixe é
o próprio símbolo do cristianismo primitivo (Não a cruz). Jesus chama pescadores
para seu trabalho, multiplica pães e peixes e ao ressuscitar, come do peixe que
alguns lhe preparam. Por outro lado, no zodíaco, cada signo possui um oposto na
roda, o qual é chamado de complementar. Assim, temos que o oposto de Peixes é
Virgem. Portanto, a virginal concepção do Grande Mestre é uma alegoria do
complementar da Era Pisciana.
“Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome
Emanuel.” Isaías 7:14

“E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor,
dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o
que nela está gerado é do Espírito Santo; E dará à luz um filho e chamarás o
seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isto
aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta,
que diz; Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo
nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco.” Mateus 1:20-23

Evidentemente que não nos deteremos sobre tal questão neste momento. O
significado oculto dos Evangelhos é por demais profundo para que se trate em
minúsculos parágrafos.

Prosseguindo pelos meandros do ocultismo bíblico, devemos perceber a Era


anterior. Sabemos que é a de Áries, uma vez que seguimos a inversão da roda
astrológica. Qual seria?

Nada difícil de perceber. Áries é representado por um carneiro. Portanto o fim da


Era ariana dá-se na simbólica morte de Jesus. O oposto complementar de Áries é
Libra, o signo das duas balanças, representados pela Lei nas tábuas de Pedra. Para
que essa Era se finde, o carneiro tem que ser morto. Cristo encarna esse carneiro,
realizando o sacrifício final, possibilitando a passagem de uma Era para outra.

É aí chamado chamado por João Batista de Cordeiro de Deus que tira o pecado (A
Lei) do mundo.

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo.” João 1:29

Assim, percebemos sem dificuldades que a Era Ariana é, na verdade, a Era


mosaica. O cordeiro tanto falado nos rituais do Antigo Testamento, não passa de
referências repetidas sobre o tempo em que os judeus passaram no tempo netsa
Era, que durou como as demais, 2150 anos.

Não nos deteremos neste momento, por óbvio, nas minúcias contidas na fabulosa
construção narrativa que se presta os escritos bíblicos tanto na interação cristã,
quanto na mosaica. Neste contexto momentâneo, buscamos tão somente retroceder
para compreender a Era astrológica a que dilúvio representou.
Continuemos o retrocesso. A Era anterior à Ariana é a de Touro. A roda do zodíaco
não permite intrepretação diferente.

Pois bem. Onde ela se encontra na Bíblia?

Lá pela libertação do povo Hebreu do Egito temos a pista mais contundente: A


travessia do Mar Vermelho.

O povo vê o mar se abrir, passa por ele e o vê desabar sobre os carros de Faraó,
matando toda a elite daquela civilização (vale lembrar que tal história nunca
aconteceu, pois nada na arqueologia foi encontrado, nem mesmo qualquer
referência a que os egípcios tenham possuído escravos hebreus). A semelhança
com o Dilúvio é intrigante, visto que este também desce sobre os infiéis. Chegando
ao deserto, no qual peregrinariam por 40 anos (esse número não pára de se repetir
na Bíblia), Moisés sobe ao famoso Monte Sinai, no qual lhe é dada a Lei.

A Lei, como não poderíamos deixar de mencionar, é a referência ao oposto


complentar de Áries, Libra. Essa constelação é representada pelas duas balanças da
justiça. Assim, as tábuas da Lei são o equilíbrio da lei da justiça. Duas tábuas, duas
balanças. A Lei, entretanto é dura, pois Áries de fogo (o deserto abrasador), é
alimentado pelo ar de Libra, que proporciona maior combustão.

Pois bem. Ao demorar-se no monte por 40 dias, o povo sente-se ausente de líder e
ausente de Deus, conluindo-se numa estranha e controversa atitude. O povo recém
liberto, que viu uma infinidade de milagres acontecendo, chama a atenção por sua
irracionalidade. Arão (irmão de Moisés), para o tranquilizar, é obrigado a
confeccionar um bezerro de ouro e o mandar adorar em lugar de Deus.

Que lógica pode existir em tal coisa tão absurda?

Simples, bem simples. O bezerro é uma clara referência à Era de Touro, à qual
havia se findado com a passagem do Mar Vermelho. Assim, querer voltar à Era
taurina é obsceno. Moisés ao descer do monte ordena que tais adoradores sejam
mortos ao fio da espada. Considerando que a Espada é a língua, tal morte não é
literal. É morte conceitual por meio do convencimento de que tal Era havia
terminado.

Colaborando com essa narrativa, temos ao longo da peregrinação do deserto,


muitos ais de saudade do povo pela escravidão egípcia. O povo prefere o castigo
dos açoites do que viver por conta própria, enfrentando a vida dura do deserto.
Portanto, o povo deseja retorno à antiga Era do que enfrentar as transformações
que a nova Era ensejava.

Touro tem por seu oposto complementar Escorpião. Assim, o cativeiro egípcio do
povo de Israel é que concebe a Era de Touro. É a picada do escorpião, das dores
representadas pelo cativeiro.

Anterior à Era taurina, encontramos na Bíblia a de Gêmeos. Esta é fácil perceber,


pois sua referência é bem clara com o nascimento dos Gêmeos Esaú e Jacó, netos
de Abraão. Gêmeos tem como oposto complementar Sagitário, a representação da
animalidade humana e sua consubstanciação ao divino. Sagitário é um homem
metade cavalo. Esaú é peludo e caçador, representando a parte animal, enquanto
Jacó é liso e doméstico, representando a parte humana. Ambos tornam-se inimigos
pelo roubo da primogenitura. Esse roubo é novamente uma referência a Caim e
Abel, as duas naturezas. Dessa vez a natureza humana, de aspecto divino, vence a
animalidade. Entretanto, sua transformação total só se dará mais tarde, pois a
natureza humana está em queda. Jacó precisa transformar-se, pois o significado de
seu nome é enganador. E o patriarca se liberta de tal peso somente ao transpor o
vau de Jaboque após lutar com Deus e vencer, tendo seu nome mudado para Israel,
que é “Aquele que luta com Deus e vence”. Essa transposição do Vau representa o
início da transição de Gêmeos para Touro.

Concebendo-se então esses entendimentos, podemos compreender que a Era


correspondende ao pós Dilúvio, é a de Câncer. Nela, temos o surgimento do
prodigioso pai da Fé, Abraão.

Câncer é representado por um caranguejo. Tal animal anda de lado, vagando na


areia. Assim o nômade Abraão vaga pelas areias do deserto. Temos então como
oposto complementar de Câncer o signo de Capricórnio, representado por um bode
ou cabrito. O famoso sacrifício de Isaque em teste à fé do grande patriarca tem por
substituto o cabrito, o qual Abraão imola em oferta a Deus em lugar de seu filho.

Assim, temos em toda a Bíblia a representação das Eras Astrológicas em clareza


sutil, disponível somente para quem detinha os conhecimentos relativos à
compreensão da escrita, a qual girava tão somente aos altos escalões políticos e
sacerdotais. Tais escritos permaneceram ocultos até que a revelação divina se fez
valer a todos os que, por não se contentar com a mentira do mundo, tiveram seus
olhos abertos, caindo-lhes as escamas que impediam ver o além.
“Porque, passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e
quarenta noites; e desfarei de sobre a face da terra toda a substância que fiz.”

Os sete dias retroativos são uma referência aos sete Planetas conhecidos
astrologicamente falando: Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. A
retroação dos dias, indo de Saturno ao Sol, indica a destruição dos sete dias da
Criação, apagando-se desde Saturno até ao Sol, planeta regido pelo Sol.

Enfim, após a longa dissertação a respeito do que de fato representou o diluvio em


termos astrológicos, volvemos outra vez ao mágico número quarenta. Nele temos
a representação da morte e renascimento; da passagem da morte para a vida; de
um tempo para outro.

Assim, temos neste texto, a finalização da Era de Leão, o Rei regido pelo Sol (A
representação da criação original), cujo oposto complementar é Aquário. Este
signo, por sua vez é representado por um homem com um cântaro de água. Então,
por uma representação lógica, tal homem derrama suas águas sobre a Terra,
encerrando o ciclo astrológico correspondente ao tempo da criação da Era de
Leão. A luz do primeiro dia da criação se apaga pelas águas.

“E era Noé da idade de seiscentos anos, quando o dilúvio das águas veio sobre
a terra. Noé entrou na arca, e com ele seus filhos, sua mulher e as mulheres de
seus filhos, por causa das águas do dilúvio. Dos animais limpos e dos animais
que não são limpos, e das aves, e de todo o réptil sobre a terra. Entraram de
dois em dois para junto de Noé na arca, macho e fêmea, como Deus ordenara a
Noé.” Gênesis 7:6-9

Novamente encontramos o número 6 multiplicado por 100. Tal número,


associado aos dias da criação, percebe-se incompleto. Seis é o número humano,
visto que é no sexto dia que se dá a criação dos animais terrestres e do homem. E
são estes mesmos seres que adentram na construção flutuante. E novamente
temos a repetição de que todos os seres existentes abrigaram-se no grande barco.

Do ponto de vista pessoal, percebemos a contínua infusão dos elementos


constituintes do ser humano em registro no Espírito, por ocasião da passagem
pelas águas da morte. Por meio desses registros é possível – em estado induzido
– obter acesso a informações acerca de existências anteriores. Porém em sua
normalidade, tal coisa não será mais possível aos descendentes de Noé.
A Nova raça humana, purificada, não poderá mais lembrar-se de suas existências
anteriores, dado o risco de nova corrupção. Assim, a partir deste momento, se
criarão leis para que nada de cunho espiritual pudesse ser lembrado. Daí a
proibição posterior da necromancia, bem como de outros meios de obtenção de
conhecimento de nível espiritual por meios humanos, senão o registrado nos
livros de adoração.

Numa visão mais abrangente, podemos perceber também os dois filetes da


estrutura do DNA, entrelaçando-se na visão dos animais adentrando em pares. Os
registros da natureza e da obediência às leis biológicas também não se apagam.

Do nível macro, entretanto, questões de ordem lógica na literalidade suscitam


perguntas. Qual a necessidade de salvar-se animais nocivos ao homem? Explicar-
se ia tal lógica somente para não confrontar com a realidade da época em que o
mito escrevia-se? Assim temos outra contradição lógica do texto literal, no qual
Deus livra-se dos homens maus, mas não da “maldade” animal.

Por conseguinte, entendemos a alusão aos animais, a representatividade dos


signos. A entrada dos animais terrestres inclui o Leão, Era finalizante do tempo
que se seguia; o Caranguejo de Cãncer; O Touro e o Carneiro de Áries. Na Arca
astral, repousariam todos os animais.

“E aconteceu que passados sete dias, vieram sobre a terra as águas do dilúvio.
No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês,
naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas
dos céus se abriram. E houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta
noites. E no mesmo dia entraram na arca Noé, seus filhos Sem, Cão e Jafé, sua
mulher e as mulheres de seus filhos. Eles, e todo o animal conforme a sua
espécie, e todo o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil que se arrasta
sobre a terra conforme a sua espécie, e toda a ave conforme a sua espécie,
pássaros de toda qualidade. E de toda a carne, em que havia espírito de vida,
entraram de dois em dois para junto de Noé na arca. E os que entraram eram
macho e fêmea de toda a carne, como Deus lhe tinha ordenado; e o Senhor o
fechou dentro. E durou o dilúvio quarenta dias sobre a terra, e cresceram as
águas e levantaram a arca, e ela se elevou sobre a terra. E prevaleceram as
águas e cresceram grandemente sobre a terra; e a arca andava sobre as águas.”

Gênesis 7:10-18
Dentre toda essa repetição de informações – comum no texto bíblico – a única
pormenorização de fato em acréscimo é a data do dilúvio; 17 do segundo mês.

Temos agora um novo dado, passível de estudo para compreensão de tal data na
importância judaica a fim de se compreender o que representa. Para tanto, é
necessário compreender o calendário desse povo. De igual forma, necessário é
também, fazer compreender a complexidade e diferença do Antigo calendário para
o atual:

“O calendário judaico é lunissolar: os meses seguem as fases da lua – começam a


cada lua nova –, porém são feitos ajustes de acordo com as estações do ano,
regidas pelo sol. Isso acontece para que as festividades judaicas, que devem ser
realizadas em determinadas fases do ano (como a Páscoa, na primavera do
hemisfério ocidental) não caiam em estações trocadas. No total, são 12 meses que
têm entre 29 e 30 dias. Portanto, cada ano judaico é 11 dias mais curto do que o
ano do calendário gregoriano (solar). Para ajustar essa diferença, foram criados
anos bissextos, quando ocorre a adição de um mês . No calendário judaico,
existem sete anos bissextos a cada 19 anos. Eles são formados, invariavelmente,
no 3º, 6º, 8º, 11º, 14º, 17º e 19º anos desse ciclo.”
https://www.conib.org.br/glossario/calendario-judaico/

Deste, temos as bases das comemorações católicas da páscoa e Corpus Christ. A


Igreja segue o calendário judaico e não o gregoriano. Por tradição, temos o
Carnaval 40 dias antes da Páscoa – a festa da carne no sentido literal, visto que é o
último dia em que se poderia comer carne em virtude da quaresma; e em sentido
espiritual o último dia em que a carne deveria se saciar, voltando-se o discípulo
para as questões celestiais. Assim, 40 dias após a Páscoa, vem a festividade do
Corpo de Cristo, quando este sobe aos céus. Mais uma vez encontramos o número
40 nas tradições eclesiásticas.

Porém, para efeito de compreensão do texto, devemos nos ater ao calendário


Antigo, pelo qual não seria conhecido o ano solar de 365 dias. Ou seria? Os povos
antigos são surpreendentes e é isso que veremos logo adiante.

Sobre o início dos meses, temos a claríssima lei mosaica:

“E nos princípios dos vossos meses oferecereis, em holocausto ao Senhor, dois


novilhos e um carneiro, sete cordeiros de um ano, sem defeito.... Este é o
holocausto da lua nova de cada mês, segundo os meses do ano.”
Números 28:11 e 14

Nesta tradição, fomentada em lei, o mês iniciava a cada Lua Nova. Assim,
precisamos volver nossos olhos ao calendário judaico antigo, a fim de compreender
melhor a data do dilúvio e seu significado.

Nesse calendário (diferente do citado nos parágrafos anteriores), o mês iniciava-se


em Nissan, não correspondendo ao Ano Solar utilizado hoje.

Vejamos como funcionaria o calendário judaico para ajuste dos 11 dias perdidos
por conta dos meses lunares:

Normal Norma Normal Embolísmico Embolísmico Embolísmico


incompleto lrregular completo incompleto regular completo

Mês Dias Dias Dias Dias Dias Dias


Nissan 30 30 30 30 30 30
Iyar 29 29 29 29 29 29
Sivan 30 30 30 30 30 30
Tamuz 29 29 29 29 29 29
Av 30 30 30 30 30 30
Elul 29 29 29 29 29 29
Tishrei 30 30 30 30 30 30
Cheshv
29 29 30 29 29 30
an
Kislev 29 30 30 29 30 30
Tevet 29 29 29 29 29 29
Shevat 30 30 30 30 30 30
Adar I - - - 30 30 30
Adar
29 29 29 29 29 29
II*
  353 354 dias 355 dias 383 dias 384 dias 385
dias dias

Fonte: http://www.chazit.com/cybersio/artigos/calendario.htm

Dado as diferenças entre os calendários, estudiosos judeus retrocederam nos


cálculos para corresponder ao calendário atual. Os números e datas são
surpreendentes:

Segue uma cronologia do Dilúvio, como indicado pelas datas e períodos dados na
Torá e calculados pelo rabino Rashi:

 17 de Cheshvan (metade do outono): Noach entra na arca; a chuva começa.


 27 de Kislev (início do inverno): Quarenta dias de chuva terminam: começo
dos 150 dias de água subindo e inundando. (Há contradições nesta afirmação,
no entanto a manteremos por conta da fidelidade à fonte)
 1 de Sivan (início do verão): A água diminui e começa a baixar alguns
centímetros a cada quatro dias.
 17 de Sivan: O fundo da arca, submerso 11 cúbitos abaixo da superfície,
chega ao topo das montanhas de Ararat.
 1 de Av (verão): Os cumes da montanha aparecem na superfície da água.
 10 de Elul (final do verão): Quarenta dias após o pico da montanha ficar
visível, Noach abre a janela da arca e despacha um corvo.
 17 de Elul: Noach envia uma pomba pela primeira vez.
 23 de Elul: A pomba é enviada pela segunda vez, e retorna com uma folha de
oliveira no bico.
 1 de Tishrei: (começo do outono): Terceira missão da pomba. A água baixou
completamente. A pomba não retornou à arca.
 27 de Cheshvan: O solo ficou totalmente seco. Noach com todos saem da
arca.

(Esta cronologia segue a opinião do sábio talmúdico Rabi Eliezer. Segundo a


interpretação de Rabi Yehoshua, o Dilúvio começou em 17 de Iyar, e todas as datas
acima deveriam ser adiantadas seis meses)

Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/4161143/jewish/O-Dilvio.htm

Volveremos a cada data conforme as citações bíblicas posteriores. Porém é


evidente que a mitologia do Dilúvio referia-se à celebração das estações. O tempo
que Noé passa na arca são surpreendentes 365 dias. Temos então nesta mitologia,
um calendário inteiro de celebrações de estações, ciclos lunares e observações
astronômicas, utilizados desde os primóridos das civilizações em todo o Globo -
com isolamentos geográficos impeditivos de tais comunicações. Ao que se parece,
o conhecimento vultoso da humanidade se deu de uma só vez, desenvolvendo-se
depois em cada povo. Desta sorte, nos resta crer que tal conhecimento não poderia
advir senão de seres extraterrenos, conforme reza a tradição espiritual sobre os
exilados de Capela.

Temos então a entrada de Noé na Arca no 40º dia anterior ao início do Inverno, que
se dá no Hemisfério Norte no dia 22 de dezembro, três dias antes do suposto
nascimento de Jesus para a cristandade atual. A entrada na Arca corresponde
assim, ao início da purificação para a chegada desta estação peculiar.

Ora, o calendário litúrgio da Igreja Católica também observa essa data. Nela, a data
é chamada de Advento. Vejamos:

“Um documento antigo em que o tempo e as práticas do Advento já estão


especificados, embora ainda não esteja claro, é uma passagem de São Gregório
de Tours, no segundo livro de sua História dos Francos, em que ele diz que São
Perpétuo, um de seus antecessores, que ocupou seu cargo em 480, determinou que
os fiéis jejuassem três vezes por semana, desde a festa de São Martinho até o
Natal. São Perpétuo estabeleceu, por essa ordenação, uma nova observância ou
simplesmente sancionou uma lei já estabelecida? Impossível determiná-lo hoje
exatamente. Observe apenas que há um período de quarenta dias ou mais de
quarenta e três dias expressamente indicado e consagrado à penitência como
outra Quaresma, embora menos rigoroso.
https://www.apostoladoferr.com/post/hist%C3%B3ria-do-advento

Qual o interesse da Igreja Católica em instituir essa festividade?

Note que ela ocorre como uma “quaresma” pré nascimento de Cristo, da mesma
forma que existe a quaresma pré morte. Mais interessante ainda é notar que estes
40 dias se encerram três dias antes do suposto nascimento de Jesus, sendo
necessário um acréscimo de mais três para a totalização. Em outras palavras, a
quarentena do advento termina na verdade no solstício de Inverno.

Qual a necessidade de se instituir datas com coincidências astronômicas? Ou ainda:


Porquê a Bíblia trabalha com riqueza de detalhes em cima da astrologia e de
eventos astronômicos?
Tais eventos, ao que tudo indica nos registros aos milhares de anos das nações ao
redor do mundo, influenciam não só a agricultura, a pesca e agropecuária. A
influência dos astros e das estações mexem com todos os seres, determinando seus
comportamentos, possibilidades de melhoria ou de problemas. Até hoje, embora a
ciência tenha procurado explorar os campos além do céu visível, a astrologia
permanece fulgurante, não dando sinais de definhamento. Ao contrário, tem bebido
das descobertas científicas e ampliando seus estudos quanto à atuação dos novos
astros descobertos. Assim, ao invés de decrecer, a astrologia torna-se cada vez
mais confiável e, por mais cético que se possa ser, não é tão fácil comprovar que
uma pessoa por exemplo, não possua correspondências comportamentais definidas
em seu signo solar.

Os astros são a expressão de Deus. É sua fala para com o mundo e a humanidade.

“Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas
mãos.” Salmos 19:1

Longe está de ser uma expressão metafórica tal poesia salmodiana. Os astros
definem a manifestação divina sobre a Terra, pela simples razão de irradiarem
energias diversas no decorrer do giro planetário em sua órbita solar. A cada
momento, em diferentes ângulos, a Terra recebe irradiações cósmicas, que entram
em maior ou menor grau em sua atmosfera, definindo, alimentando e
possibilitando a vida sobre o Globo. A criação é a expressão viva da “voz” do
criador, que ecoa de entre as estrelas e chega a nós por meio das ondas dançantes
no universo.

Assim sendo, retirando-se o aspecto secreto que define a palavra “sagrado”,


compreendemos facilmente que todos os rituais possuíam a utilidade de receber da
melhor maneira, as energias “divinas” advindas do espaço cósmico. E tais energias
se mostravam melhores para absorção em determinadas datas.

Então, porquê as águas cessam de cair no exato dia do solstício de Inverno?

Ora, como dito algumas páginas atrás, nos dias de solstícios e equinócios, a Terra
fica “em pé” diante do Sol. Sua inclinação de 27,3 graus é “desligada” nesses dias,
possibilitando horas iguais no dia e na noite. Nesses dias há uma infusão maior da
energia solar sobre o Globo.

Outro evento de igual forma importante nessa questão é o periélio terrestre, quando
a Terra fica mais próxima do sol, recebendo ainda mais energia do Astro Rei. O
periélio ocorre 14 dias após o solstício de Inverno (Hemisfério Norte), data esta em
que se celebra a festa dos Santos Reis.

Assim temos que a entrada na Arca é uma ritualística preparação para o


recebimento das energias proveninetes do dia em que se dará o solstício de Inverno
e o posterior periélio.

“O solstício de Inverno está ligado aos sentimentos de vida da humanidade.


Quando é corretamente entendido, ele aprofunda o sentimento de vida que existe
em cada um de nós, fazendo-o transbordar de energias astrais. O solstício de
inverno é uma época que pode trazer grande paz para a alma. Nos Mistérios de
Cristo é uma época em que as energias que afetam a humanidade são perfeitas
para o despertar do Divino Feminio interior.”

“Essa é a estação mais relacionada com o cristianismo moderno; no entanto, seu


significado foi celebrado de várias formas no mundo inteiro. No solstício, o Sol se
volta para o norte. No hemisfério norte, ele marca mais tempo a cada dia, durante
todo o inverno. No Egito e na Ásia, o sostício de inverno era uma época de
celebração, um festival ligado à vitória do Sol sobre as trevas – uma época em que
a luz triunfava sobre a escuridão na Terra. É a luz do potencial interior – o
Feminino Divino. O Hanukkah, o Festival Judeu das Luzes, e o Natal, que celebra
o nascimento de Jesus, são duas festas modernas que correspondem a antigas
celebrações ligadas a essa época. Muitos ainda apreciam a iluminação da árvore
de Natal nessa época do ano. Esse é o antigo ritual do renascimento do Divino
dentro dos fogos da deus mãe.” O Cristo Oculto P. 159 e 160

Em se falando do Natal, o que o dilúvio tem a ver com isso?

No dia 22 de dezembro ocorre o menor dia do ano. O Sol termina seu ciclo de vida.
No dia 25, na visão terrena de quem habita as regiões ao Norte, o sol renasce,
fazendo com que os dias se tornem cada vez maiores. Assim a luz vence as trevas.
Daí se concebe o Festival Judeu das Luzes, e o igual correspondente cristão,
chamado Natal.

Note que a quaresma do Advento possui até 43 dias, pois necessita estender-se até
à data em que a luz volta a nascer. Tempo de recolhimento, de reflexão, de
compreensão do sagrado. Noé recolhe-se para dentro da Arca.

“E as águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes


que havia debaixo de todo o céu, foram cobertos. Quinze côvados acima
prevaleceram as águas; e os montes foram cobertos. E expirou toda a carne que
se movia sobre a terra, tanto de ave como de gado e de feras, e de todo o réptil
que se arrasta sobre a terra, e todo o homem. Tudo o que tinha fôlego de
espírito de vida em suas narinas, tudo o que havia em terra seca, morreu. Assim
foi destruído todo o ser vivente que havia sobre a face da terra, desde o homem
até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; e foram extintos da terra; e
ficou somente Noé, e os que com ele estavam na arca. E prevaleceram as águas
sobre a terra cento e cinqüenta dias. Gênesis 7:19-24

Neste estágio de recolhimento interior, onde a reflexão para com a vida se torna
necessária dado a iminência do Inverno, a inversão da criação se é manifesta. Os
montes representam o conhecimento elevado do ser humano. Nessa passagem
das águas por sobre a Terra, tudo que é altivo, tudo o que é grandioso na
concepção humana deve ser submergido. Isso ocorre na forma pontual dessa
preparação para as luzes do inverno, bem como pela transição da morte. De igual
forma, a passagem de uma Era astrológica para outra, exige a ressignificação dos
conceitos humanos adquiridos numa vida. O humano deve aprender os rituais de
morte e renascimento para melhor preparar-se tanto para a morte, quanto para a
nova Era que se inicia.

Os 15 côvados aqui mencionados, traz consigo outra referência ao ser humano.


Neste temos a multiplicação de 3x5. O número três é a referência ao divino, como
vimos em páginas anteriores. Já o cinco, é a representação da materialidade
humana, seus problemas e defeitos. Além disso, temos que a medida é em côvados,
que também é uma medida relacionada ao braço de um homem. Temos nesta
lógica, a representatividade do divino e do humano sendo encobertos pelas águas.
Tudo perecerá.

O texto, conforme a literatura bíblica, repete a afirmativa de que tudo o que possuía
vida deixaria de existir. Nele, novamente, encontramos as referências aos
elementos presente no homem, na figura dos animais em seus aspectos também
sentimentais. O homem, em sua parte carnal, deixa de existir para dele restar
somente o espírito.

“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.”


Eclesiastes 12:7

Por fim, a narrativa do capítulo sete afirma que as águas prevaleceram sobra a terra
por 150 dias. Até aqui não conseguimos distinguir se esse período inclui os 40 dias
de chuva, ou se ampliam mais 150, totalizando 190. Sobre tais números,
detalharemos após as explicações do capítulo oito de Gênesis.

“E lembrou-se Deus de Noé, e de todos os seres viventes, e de todo o gado que


estavam com ele na arca; e Deus fez passar um vento sobre a terra, e
aquietaram-se as águas. Cerraram-se também as fontes do abismo e as janelas
dos céus, e a chuva dos céus deteve-se. E as águas iam-se escoando
continuamente de sobre a terra, e ao fim de cento e cinqüenta dias minguaram.
E a arca repousou no sétimo mês, no dia dezessete do mês, sobre os montes de
Ararate.” Gênesis 8:1-4

As minúcias do texto iniciam-se interessantes: Deus se lembra de Noé, dos seres


viventes e do gado.

Que importância teria o gado para se distinguir no texto? Outrossim, porquê não
mencionar a lembrança também de seus filhos e mulheres. Que importância teria
estes animas para se referirem à parte?

Em páginas anteriores, explicamos que os animais representam os temperamentos


humanos. Dentro da literalidade, questionamos o motivo de salvarem-se animais
selvagens e nocivos ao homem. Pois bem. O gado, conforme já relatados
anteriormente, é a clara alusão ao temperamento dócil, a sua parte boa, sua
primeira chama do divino em si. Isso é lembrado. Tal chama é reconstruída na
passagem pela morte.

O vento, de igual forma, rememora o fôlego de vida. Após a morte, o fôlego é


novamente entregue ao ser humano. A passagem é de esperança no pós vida. O
vento acalma as águas da morte. Jesus acalma a tempestade.

Nesse mesmo texto também é mencionado que as fontes do abismo cessaram. O


abismo, como sabemos na visualização da terra plana, é a borda do mar, para onde
as águas caem. As fontes do abismo, por óbvio, são as águas do mar que avançam
sobre a terra. Assim temos, na literalidade originária do mito, a inundação pelo
mar, conforme relatado em páginas anteriores, quando a ponte de terra entre o Mar
Mediterrâneo e a Mesopotâmia se rompem, causando a inundação decorrente da
última Era do Gelo.

Por outro lado, o mar na mitologia bíblica, representa a dificuldade da transição. O


encerramento das águas do abismo são a primeira parte da renovação, cessando
assim as complicações decorrentes da passagem.
Em relação aos 150 dias, o período é explicado nos versos seguintes. O texto
parece complicar-se a partir daqui, quando trata do minguar das águas. Do dia 17
do segundo mês ao 17 do sétimo mês, passaram-se cinco meses de 30 dias, o que
corresponde em exato os 150 dias. Porém nesse texto, parece existir a inserção dos
40 dias, dando-se a entender que após o cessar das chuvas, até a arca repousar,
passaram-se 110 dias. Sobre isso, explicaremos a seguir.

As montanhas em que a arca repousa é a cadeia de Ararate, lugar literal na


Turquia. A respeito desse assunto, muitas buscas já se efetuaram na região e relatos
os mais diversos a respeito da embarcação já se tiveram notícias. Porém, como
tudo que se refere a esse assunto perde-se com o tempo, nada até o momento foi
comprovado, preservando a característica de que tal história não tenha passado de
um mito. Com as águas diluvianas vindo sem sobreaviso, que é o que de fato
ocorreu, ninguém teria a capacidade de criar uma embarcação salvadora a tempo.
O mito em sua literalidade, certamente foi criado para relatar a heroica
sobrevivência dos que obtiveram êxito na passagem pela inundação.

Ararate significa literalmente “A maldição invertida” ou “Precipitação da


maldição.” O significado nos remete à quebra da maldição da morte. À esperança
da vida vencendo a morte. Na queda de Adão, a maldição divina sobre o casal é de
que certamente morreriam. Na sobrevivência de Noé ao dilúvio, a maldição cai por
terra. Ela é invertida; anulada. Em ambos significados de Ararate, a lógica é a
mesma. A maldição da serpente é precipitada por terra.

“E foram as águas indo e minguando até ao décimo mês; no décimo mês, no


primeiro dia do mês, apareceram os cumes dos montes.” Gênesis 8:5

Considerando-se ainda a computação dos meses de trinta dias, conforme


transparece o texto, desde o fim dos 150 dias, passam-se 73 dias, totalizando 223
dias. Assim, temos que de fato, os 150 dias incluem os 40 do dilúvio. Portanto,
podemos inferir que do fim do dilúvio até o pouso sobre Ararate, passaram-se 110
dias.

Assim, a arca repousa exatamente na metade da primavera no Norte. Neste período


temos também, a exata data da Páscoa tanto cristã quanto judaica. A arca está firme
sobre as montanhas. O pior já passou. A travessia se completou.
A data do primeiro dia do 10º mês não parece remeter a nada especial, senão para
ajudar a computar as afirmações seguintes, a respeito da soltura do corvo e da
pomba.

‘E aconteceu que ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela da arca que
tinha feito. E soltou um corvo, que saiu, indo e voltando, até que as águas se
secaram de sobre a terra.” Gênesis 8:6,7

O corvo, como bem se pode perceber, é um pássaro negro. Sua pelagem representa
a morte. Representa também, a obscuridade humana.

A precursão do corvo por sobre as águas, indica o intuito humano na condução da


vida pós morte. É a sensação de continuidade do corpo físico, com suas mazelas e
defeitos, frente à inerência do espírito. O corvo, neste caso, alude a Caim, a
natureza humana. Alude à terra de Cuxe, preta, negra, de ondem vertem as águas
humanas. Se refere ao betume da arca. A parte humana é preservada. O homem,
embora transporto a maldição da morte, terá em seu DNA e espírito encarnado, a
continuidade da morte. Somente o nascimento do Cristo interior, o filho do
homem, o Abel renascido, que poderá lhe salvar da roda encarnatória, sua prisão
terrena.

A dispensa do corvo se dá no final do verão, que deve ocorrer no hemisfério Norte


por volta do dia 23 de setembro. Neste período os judeus comemoram o Rosh
Hashaná, o seu ano novo. Se dá no mesmo período em que Noé também solta a
pomba, conforme veremos a seguir.

“Depois soltou uma pomba, para ver se as águas tinham minguado de sobre a
face da terra. A pomba, porém, não achou repouso para a planta do seu pé, e
voltou a ele para a arca; porque as águas estavam sobre a face de toda a terra;
ele estendeu a sua mão, e tomou-a, e recolheu-a consigo na arca.” Gênesis
8:8,9

A pomba, por outro lado, é a parte masculina do ser. É a parte adâmica. Assim,
primeiro há de se reconstituir o corpo carnal representado pelo corvo, em seguida
nele será colocado a parte mais limpa, a parte branca representada pela pomba. A
pomba representa a alma ou espírito humano.

Vemos também no texto, que a pomba não encontra pouso para seus pés. Numa
singularidade similar à gestação, enquanto o feto não está formado, a alma ainda
não lhe é inserida. Enquanto as águas não minguam – da mesma forma que ocorre
quando no desenvolvimento fetal – a alma não encontra pouso para seus pés.
Assim, ela é recolhida aos braços protetores de Noé.

Por ocasião do tempo indicado para a soltura da pomba, os judeus celebram o Yon
Kipur, o dia da expiação. É quando Deus perdoa todos os pecados do seu povo.

“E esperou ainda outros sete dias, e tornou a enviar a pomba fora da arca. E a
pomba voltou a ele à tarde; e eis, arrancada, uma folha de oliveira no seu bico;
e conheceu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra.” Gênesis
8:10,11

Pela narrativa, percebemos que a Oliveira é a primeira árvore a brotar após a


destruição das águas. É bem simples a percepção mitológica na questão, visto que
a pomba poderia voltar com o ramo de qualquer árvore.

No texto bíblico, a referência à oliveira é farta. Dela se extrai o azeite, cuja


finalidade é infinita. Com ele se faz toda a sorte de alimentos, principalmente o
pão, e com ele também se ilumina.

O fascinante e mais famosos sermão de Cristo se dá no monte das Oliveiras. E por


ocasião de sua morte, após a celebração da ceia pascoal, é para o mesmo Monte
que se retira.

A analogia da pomba com a Oliveira é peculiar, pois essa árvore é de profundo


significado espiritual.

“As oliveiras impressionam especialmente por sua perenidade. Elas prosperam e


vivem em qualquer solo, mesmo que seja seco e pobre, praticamente sob qualquer
condição, na terra fértil ou nas pedras, contanto que suas raízes possam atingir
profundidades. Elas crescem bem no calor intenso, com pouca água e são
praticamente indestrutíveis, resistindo a todas as estações. Seu desenvolvimento é
lento, mas contínuo. Quando recebe bons cuidados, pode chegar até 7 metros de
altura. A sua copa não costuma ser alta, mas possui grande poder de regeneração.
Quando a copa é cortada, o brotamento acontece rapidamente. Mesmo nas
oliveiras doentes, crescem novos ramos. A partir de suas características, podemos
perceber que a Oliveira simboliza principalmente a perseverança e a fidelidade.
Essas características também são os frutos de nosso relacionamento com Deus. O
Senhor é fiel a nós, independente do que aconteça. Ele não se deixa levar por
nossas recaídas e instabilidades. Isso nos mostra que precisamos ser restaurados
para nos relacionar plenamente com nossos semelhantes e com o Senhor. Por isso,
o Espírito Santo nos ajuda a ser fiéis, para sermos como Ele é.”
https://www.wemystic.com.br/conheca-a-importancia-da-oliveira-a-arvore-
sagrada-do-mediterraneo/

Basicamente, podemos inferir que a oliveira tem o significado do renascimento.


Portanto, sua menção no texto é clara alusão à força da vida. A passagem da arca
por sobre as águas não a destrói, uma vez que a capacidade intrínseca de renovação
é preservada em cada ser. De igual forma, a morte não finaliza a existência. Torna-
se tão somente uma interrupção temporal para o renascimento de um novo ciclo.

“Então esperou ainda outros sete dias, e enviou fora a pomba; mas não tornou
mais a ele.” Gênesis 8:12

A pomba, em contraponto com o corvo, representa o Espírito de Deus. No


momento antecedente à criação, vemos esse Espírito movendo-se por sobre a face
das águas. Após o dilúvio a analogia é a mesma, sendo que seu primeiro retorno à
arca é com a esperança da vida. É também a pomba que desce sobre Jesus em sua
passagem pelas águas do batismo. Assim, Noé representa o Espírito de Deus no
homem, e a pomba a liberdade que este possui em transcender.

Assim, após o anúncio da vida, a pomba não retorna mais ao homem. Sua missão
está cumprida. Nisto há o aviso de que o homem deve seguir pelo mesmo caminho.
Conquistar a liberdade do Espírito e recomeçar o ciclo da passagem.

Os sete dias, da mesma forma em que ocorreu na contagem regressiva para o


dilúvio, remontam aos dias da criação, quando a chegada da vida recomeça.

Neste período do ano, dentro da sincronicidade com as estações à qual o dilúvio se


alinha, inicia-se o outono no Norte.

Os judeus comemoram nesse período o Sucot. É a festa da alegria. Um


agradecimento a Deus pela proteção e pela sobrevivência aos quarenta anos no
deserto.

“E aconteceu que no ano seiscentos e um, no mês primeiro, no primeiro dia do


mês, as águas se secaram de sobre a terra. Então Noé tirou a cobertura da arca,
e olhou, e eis que a face da terra estava enxuta.” Gênesis 8:13

Passaram-se 60 dias desde o pouso da arca por sobre as montanhas de Ararate. É o


primeiro momento após a longa chuva em que Noé pode olhar pelo lado de cima
da Arca. A janela para o céu se abre. Dali também, pode comprovar que houve
separação nas águas, aparecendo a porção seca, tal como é narrado a respeito do
terceiro dia da criação. Faltam 47 dias para se completar um ano dentro da Arca e
57 para a saída.

Este período é significativo para os judeus, visto que no tempo anual


correspondente, entre oito a dez dias, comemoram o Chanucá. Essa festa é em
honra à reinauguração do templo, por ocasião da vitória dos Macabeus. A
reinauguração do templo é por óbvio, uma alusão ao templo carnal, detentor do
espírito. Neste período o outono está por encerrar, dando lugar ao inverno. Dá-se
então o festival das luzes, que coincide com o Natal cristão.

A retirada da cobertura é também uma referência ao receber do Espírito de Deus. É


do céu que este desce por sobre as cabeças. É pelo alto que entra a energia dos
céus, acendendo as luzes do Ser. O chacra coronário reflete essa luz em fração
violeta. A frequência mais alta da refração.

É também significativa a referência sobre tal assunto na Bíblia. No Antigo


Testamento a parte de cima do templo é sagrada. Nela não se pode tocar, pois é a
porta dos céus.

“Então me fez voltar para o caminho da porta exterior do santuário, que olha
para o oriente, a qual estava fechada. E disse-me o Senhor: Esta porta
permanecerá fechada, não se abrirá; ninguém entrará por ela, porque o Senhor,
o Deus de Israel entrou por ela; por isso permanecerá fechada.” Ezequiel
44:1,2

Já no Novo Testamento a referência é a mesma:

“E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e


encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas
repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos
foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme
o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” Atos 2:2-4

A parte superior da Arca é a parte superior do homem, sua cabeça. No período da


primeira infância, o crânio da criança permanece amolecido por um longo período.
Muito além de fatores biológicos, entendemos que isso evidencia a entrega da
energia divina em sua completude, aplicando ao ser a inserção de seu espírito
humano e divino. Ao se fechar, o processo de reencarnação chega ao fim,
solidificando o ser sobre a Terra.

Na mesma correspondência ao ciclo anual – na perspectiva do hemisfério Norte -


ocorre o renascimento do Sol, o qual esteve em dormência por três dias, retornando
à vida no dia 25 de dezembro.

“E no segundo mês, aos vinte e sete dias do mês, a terra estava seca.
Então falou Deus a Noé dizendo: Sai da arca, tu com tua mulher, e teus filhos e
as mulheres de teus filhos. Todo o animal que está contigo, de toda a carne, de
ave, e de gado, e de todo o réptil que se arrasta sobre a terra, traze fora
contigo; e povoem abundantemente a terra e frutifiquem, e se multipliquem
sobre a terra.” Gênesis 8:14-17

O tempo de confinamento terminou. Um ano e dez dias foi a permanência de


Noé, sua família e os animais dentro da Arca.

Enveredando para a compreensão do ciclo anual, o período correspondente


coincide com outra significativa festa judaica, o Tu Bishvat. Nesta festividade,
comemora-se o ano novo das árvores, quando as primeiras árvores de Israel
começam a despertar de seu longo sono invernal.

“Legalmente, o "Ano Novo das Árvores" se relaciona aos vários dízimos que são
separados da produção cultivada na Terra Santa. Esses dízimos diferem de ano
para ano no ciclo Shemitá de sete anos; 15 de Shevat é o ponto no qual um fruto
em botão é considerado como pertencendo ao ano seguinte do ciclo. Celebramos o
dia de Tu B'Shevat comendo frutas, especialmente as espécies que são destacadas
na Torá em seus louvores à fartura da Terra Santa: uvas, figos, romãs, azeitonas e
tâmaras. Nesse dia lembramos que "o homem é uma árvore do campo" (Devarim
20:19) e refletimos sobre as lições que podemos extrair de nossa analogia
botânica.” https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/603062/jewish/Tu-
Bishvat-15-de-Shevat.htm

Tal como o ciclo anual no alto simbolismo judaico, a referência a essa nova vida
alude ao renascimento do espírito. A vida floresce. Uma nova criação é composta,
tal como ocorre nos dias da criação. As árvores emergem do seio da Terra.

“Então saiu Noé, e seus filhos, e sua mulher, e as mulheres de seus filhos com
ele. Todo o animal, todo o réptil, e toda a ave, e tudo o que se move sobre a
terra, conforme as suas famílias, saiu para fora da arca. E edificou Noé um
altar ao Senhor; e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa, e
ofereceu holocausto sobre o altar.” Gênesis 8:18-20

O renascimento por sobre a Terra não implica a ausência de nossa natureza


pecaminosa. Os instintos animais encontram-se arraigados em nosso DNA
biológico e espiritual, e por ocasião da saída da Arca, embarcam conosco nessa
nova aventura. Caberá a nós o domínio do tais seres, representados pelos animais
que desembarcam conosco.

Esta é a primeira vez que se alude a um altar na Bíblia. O primeiro possível


sacrifício fora oferecido por Abel, porém não há informação de que tal tenha sido
efetuado sobre um altar. Entretanto o de Noé está explícito.

Os altares serão abundantes no texto bíblico daqui para frente. Sua finalidade é
estabelecer um canal de comunicação entre o humano e o divino. Os altares, em
sua concepção lógica, são os lugares de lembrança da ligação entre o homem e
Deus. É o ponto físico entre o material e o transcendental.

Conquanto a simbologia do altar - o qual evidentemente refere-se à nossa cabeça –


contenha linearidade lógica com as construções tangíveis objeto de posicionamento
de sacrifícios físicos, o texto peca mais uma vez quando levado à luz da razão.

Um período de chuvas infinitas passou-se sobre a Terra, inundando todo o mundo.


Despovoou-se de todos os seres. Com cuidado e dificuldade, as oito pessoas
cuidaram de si e de toda a infinidade de animais em balbúrdia na Arca. Tudo isso
para no final, sacrificar um de cada, dentre todos os animais considerados limpos.
Por certo tal sacrifício seria por demais absurdo tanto para agradar a Deus quanto
pela importância que deveria se dar ao salvar-se as espécies ao invés de mata-las.

O sacrifício neste momento retorna à lógica de Abel. O espírito purificado entrega


a Deus o seu melhor. Seus sentimentos puros, representados pelos animais limpos;
seu temperamento comedido; seu desejo da prática do bem. Assim, Noé como a
mesma correspondência espiritual de Abel, repete a lógica da entrega. O espírito
reencarnado, após o longo período de reflexão representado pela passagem do Ano
Solar, deve regressar ao corpo em seu estado purificado a fim de recomeçar a
trajetória de ascensão.

“E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não


tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação
do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo
o vivente, como fiz. Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e
verão e inverno, e dia e noite, não cessarão.” Gênesis 8:21,22

Após o sacrifício, o cheiro ascende aos céus. Por óbvio, cheiros estão relacionados
ao pensamento proveniente da oração. São as boas intenções adentrando os portais
divinos.

E outra vez percebemos a finalização de um ciclo. Assim como houve uma


contagem regressiva para o fechamento da porta da Arca e um prazo regressivo de
120 anos para arrependimento (além de referências abundantes sobre quarentenas
de chuva e estiagem), neste trecho rememoramos a maldição de Deus a Adão, sua
mulher e à serpente. “Não tornarei mais a amaldiçoar...”

De igual forma, percebemos que o dilúvio e concomitantemente a saída de Noé da


Arca, encerrou um período. Decerto, já vimos que o tempo decorrido da criação até
o dilúvio foram 1658 anos, o que se dividindo por 12, tendo por base a passagem
da Terra pelas 12 constelações, teremos um número exato: 138. Tal número na
interpretação da numerologia é tido como o mais poderoso dentre todos.

A completude exata da conta, nos força a dizer que restam 534 anos para a
completa finalização da Era Leonina. Assim, veremos à frente um evento que de
fato corrobora para a compreensão de que tal Era tenha se findado, passando-se
para Câncer.

A saída de Noé da Arca não necessariamente implica assim no encerramento da


Era. Ainda existem fatores à frente que mostrarão o não encerramento. A saída
demonstra a passagem pelo pior, pela fase mais complexa do trânsito. Tais
trânsitos serão representados pela passagem pelas águas em todos os demais por
vir. Jacó ao rompe o vau de Jaboque, Moisés atravessa o Mar Vermelho, Jesus
batiza-se... Toda a transição prescinde algo probatório da fé mais adiante. Dessa
forma, o que se percebe em escala micro, no sentido de que o homem ao
reencarnar, passará por provas que lhe farão ascender. A passagem pelas águas da
renovação astral, implica em provas de caráter coletivo para a humanidade.

A maldição citada neste trecho também é peculiar. Lá atrás, ao comer Adão do


fruto da árvore da vida, Deus amaldiçoa a Terra pelo erro do homem. Neste texto
também vemos um fechamento de maldição. A partir daqui Terra e Homem são
separados e cada qual paga pelo seu próprio erro. Portanto, o erro particular de um
indivíduo não terá mais consequência coletiva.
“Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada um morrerá
pelo seu pecado.” Deuteronômio 24:16

Assim, percebemos que leis diferentes começam a circunscrever ao aportar-se a


entrada de uma nova Era. Temos nisso a percepção de que após a passagem das
águas, as Leis Universais ganham nova interpretação, mais evoluídas, portanto, de
acordo com o grau de consciência adquirido pela humanidade.

Entretanto, ao citar a palavra meninice no texto, referindo-se à maldade humana,


percebe-se claramente que Deus afirma existir herança cármica circunscrita à
compilação de existências anteriores do homem recém recriado. Esse tipo de
maldade hereditária, será o fio central de luta entre a luz e as trevas até que o
homem volte a tornar-se um com Deus.

O texto por fim faz menção a quatro tipos de ciclos binários, com o fim de mostrar
que o dilúvio representou quatro tipos de ciclos diferentes, porém absolutamente
correlacionados entre si.

Sementeira e Sega – Dois períodos anuais compreendidos entre o frio e o calor, o


verão e o inverno;

Frio e Calor – Verão e inverno, sementeira e sega, dia e noite;

Verão e Inverno – Frio e calor, sementeira e sega;

Dia e Noite – Frio e calor.

Disso temos, dentro da correlação que estes representam, o jogo binário polarizado,
entre as lutas que o próprio ciclo vital determina para a humanidade. Embora Noé
represente o espírito divino no ser humano neste contexto, ao reencarne o homem
volta à sua natureza dualística, levando de volta o espírito soprado em suas narinas,
a um estágio de esquecimento e reinício dos mesmos processos que o fizeram
presos a este mundo.

Após o dilúvio, conforme vimos anteriormente, o homem não mais se lembrará de


suas existências passadas, tornando-se agora totalmente dependente da guia divina.
Esta é a forma encontrada por Deus para que o ser humano o busque para a retidão
e não se perca nos caminhos tortuosos que traçar para si.

A Aliança
“E abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-lhes: Frutificai e multiplicai-
vos e enchei a terra. E o temor de vós e o pavor de vós virão sobre todo o
animal da terra, e sobre toda a ave dos céus; tudo o que se move sobre a terra, e
todos os peixes do mar, nas vossas mãos são entregues.” Gênesis 9:1,2

Neste novo contexto, vemos outra vez o restauro da criação. Não resta nenhuma
dúvida de que o dilúvio tratou de uma nova criação. Assim, por óbvio ele
prenunciou a chegada de uma nova Era. As ordens de frutificar e encher a terra são
tais como as mesmas da semana da criação. Por outro lado, um acréscimo em
relação ao comportamento para com os animais é digno de atenção. Não mais
estariam somente sujeitos à vontade humana, como também teriam pavor de sua
presença. Tal informação faz entender que o ser humano passaria a um novo
estágio, podendo agora agir por si só, com maior independência e controle sobre
seus instintos, podendo domar espontaneamente todos os seus temperamentos.

“Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos
tenho dado como a erva verde.” Gênesis 9:3

Este trecho também é singular. Outro acréscimo é feito em relação à criação. No


segundo capítulo de Gênesis ao homem é permitido alimentar-se tão somente da
erva verde e das árvores que dão fruto e semente. Em seu estado mais inocente e
purificado, o homem não se alimentaria dos animais. A partir desse estágio, a carne
estaria também permitida. Na verdade tudo o que se movesse poderia se usar para
mantimento.

Retirado o teor alimentício do texto, vemos que a partir de então estaria permitido
o alimentar-se de conhecimentos advindos dos animais. Mais precisamente, o
conhecimento correspondente à compreensão da personalidade humana. O
alimento animal seria semelhante ao mesmo referente à erva verde.

Embora alguns aleguem que a permissão para o alimento cárneo advenha da


escassez de vegetação terrena, devemos compreender que, para o pequeno grupo
recém saído da Arca, existia alimento suficiente até que dominassem novamente a
agricultura. A prova simples fora de que havia para todos os demais animais.

Portanto, o que se entende no texto é que a partir de então, o conhecimento


acumulado dentre as gerações (carnais) serviria também para alimentar o espírito
humano. Antes, é perceptível pelas inferências diretas de Deus na comunicação
com o homem, que o único conhecimento permitido era o advindo de sua
sabedoria.

“A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.
Certamente requererei o vosso sangue, o sangue das vossas vidas; da mão de
todo o animal o requererei; como também da mão do homem, e da mão do irmão
de cada um requererei a vida do homem. Quem derramar o sangue do homem,
pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme
a sua imagem. Mas vós frutificai e multiplicai-vos; povoai abundantemente a
terra, e multiplicai-vos nela.” Gênesis 9:4-7

Este trecho é o primeiro que trata do sangue de forma mais abrangente. A primeira
referência a sangue derramado, temos no ato homicida de Caim. Sabemos
entretanto, que Caim representava a natureza carnal em luta contra a espiritual.
Caim derramar o sangue de Abel e o vencer retrata a vitória da carne sobre o
espírito e esse sangue é derramado quase que impunimente.

Partindo-se desse pressuposto, podemos em primeira mão compreender, que o


derramar o sangue simbolize o vencer pela força e não pela conquista do
convencimento. É palpável no texto tal ideia, quando a permissão advinda do
alimentar-se da carne é permitido, enquanto do sangue não.

Bastante interessante é também, a permissão para o alimentar-se da carne, porém


requerendo do homem, o sangue que derramar do animal. Mais ainda, os animais
que alimentarem-se de outros, também seria passível de juízo em caso de
alimentar-se do sangue.

Subentende-se no texto, que embora a carne – os conhecimentos provindos da


natureza de Caim – sejam passíveis de incorporados ao conhecimento espiritual,
tais não poderiam advir do uso da força. Sem a animalidade de Caim. Sem a
apropriação demeritória, mas pela própria conquista. Assim, tais animais doariam
seu conhecimento natural, porém roubá-los seria passível de punição.

Neste trecho também encontramos a Lei do Talião, a famosa olho por olho e dente
por dente. A pena de morte é aqui instituída em intolerância ao homicídio. Caim é
rechaçado e sob esse novo código, em caso de crime da mesma natureza, não seria
mais perdoado. O sangue de um, compensaria o sangue de outro. Neste contexto,
também percebemos a clara associação do homem com Deus, realicerçando a
afirmação de que o homem é imagem de Deus. Compreendemos aqui que o matar
um homem corresponde a matar o próprio Deus. Assim, o derramar do sangue
pede punição com a mesma severidade.

O texto está dizendo, na verdade, que nenhum conhecimento deve ser adquirido
fora da permissão e que o conhecimento adquirido de cada povo é dado por Deus, e
portanto, quem o roubar, estará ofendendo o próprio Deus. Nisto temos o princípio
do respeito tanto das culturas quanto das religiões adjacentes. O desrespeito não
seria tolerado. Tal respeito visava a proteção do caminho daqueles que estivessem
mais atrasados em sua evolução do conhecimento tanto carnal quanto espiritual.

Entretanto, para aqueles que detiveram o conhecimento do livro, deve haver


multiplicação e povoamento da Terra para que esse saber se multiplique de forma
natural, sem imposição e sem desrespeito ao próximo.

“E falou Deus a Noé e a seus filhos com ele, dizendo: E eu, eis que estabeleço a
minha aliança convosco e com a vossa descendência depois de vós. E com toda
a alma vivente, que convosco está, de aves, de gado, e de todo o animal da terra
convosco;com todos que saíram da arca, até todo o animal da terra. E eu
convosco estabeleço a minha aliança, que não será mais destruída toda a carne
pelas águas do dilúvio, e que não haverá mais dilúvio, para destruir a terra.”
Gênesis 9:8-11

Aliança é um acordo. Tais acordos sempre foram comuns na antiguidade


estendendo-se até aos dias atuais.

As alianças sempre foram bilaterais e nos contextos históricos provinham da


necessidade de proteção de duas ou mais nações contra guerras inimigas.

Neste caso do Gênesis, Deus é impositivo para com Noé e sua família, embora seu
acordo seja benéfico. Quando levado ao campo literal, encontramos um Deus que
faz do homem um marionete. Decide tudo, até mesmo o que vai ou não fazer com
o homem, sem pedir-lhe a opinião.

A aliança de Deus com Noé, consistia em não mais lavar a Terra com água. Essa
aliança se estende ao todos os seres viventes; a todos os animais. A purificação não
mais se daria por este meio, pelo menos em escala global. A carne fora destruída e
o propósito da nova Era que se aproximava, cumprira-se ainda que parcialmente.
A menção de que não mais haveria dilúvio, é a suma da retirada da maldição
imposta a esta pelo pecado de Adão. Vagarosamente o Deus implacável muda
conforme percebe a evolução de seus filhos.

“E disse Deus: Este é o sinal da aliança que ponho entre mim e vós, e entre toda
a alma vivente, que está convosco, por gerações eternas.
O meu arco tenho posto nas nuvens; este será por sinal da aliança entre mim e a
terra.” Gênesis 9:12,13

Embora possua um caráter mitológico intrínseco, os antigos necessitavam explicar


a existência do arco-íris. Este jamais adviera anteriormente a uma chuva, o que
caracterizaria um lembrete eterno aos que conhecem estes escritos.

Por outro lado, veremos que aliança e o arco estão intrinsecamente ligados. O
símbolo da aliança é circular. Portanto, o arco-íris aparecer como metade no céu,
implica dizer que Deus cumpria sua promessa e cabia à Terra completar sua outra
metade.

O Arco também fraciona-se em sete cores, numero o qual já provou sua


sagracidade em todo o relato anterior. Representa completude e caráter divino em
sua aparição, visto não existir uma explicação inata a que tal fenômeno ocorresse.

O Arco também é mencionado em diversos trechos na Bíblia e representa o trono


de Deus.

“E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra jaspe e


sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono, e parecia semelhante à
esmeralda.” Apocalipse 4:3

Do ponto de vista terrestre, em sentido literal, a aparição do Arco nas nuvens


lembra a presença de Deus de modo invisível. O arco é visível, enquanto
provavelmente sob ele esteja Deus assentado em seu trono. Essa aparição fará com
que o povo relembre que Deus está por perto e que sua aliança continua em vigor.

O Arco também assemelha-se a uma ponte entre a Terra e o céu, sendo imaginável
que por ele se estabeleça uma conexão entre Deus e os homens. Portanto, a aliança
está completa, podendo o homem após o dilúvio, garantir livre acesso ao trono de
Deus, desde que cumpra com sua parte na aliança estabelecida.
“E acontecerá que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, aparecerá o arco
nas nuvens. Então me lembrarei da minha aliança, que está entre mim e vós, e
entre toda a alma vivente de toda a carne; e as águas não se tornarão mais em
dilúvio para destruir toda a carne. E estará o arco nas nuvens, e eu o verei, para
me lembrar da aliança eterna entre Deus e toda a alma vivente de toda a carne,
que está sobre a terra. E disse Deus a Noé: Este é o sinal da aliança que tenho
estabelecido entre mim e entre toda a carne, que está sobre a terra.” Gênesis
9:14-17

O texto é longamente repetitivo, relembrando a aliança que o homem deve cumprir


para manter-se diante de Deus. Por outro lado, a menção das nuvens no texto,
remonta à questão do pensamento obscurecido. Nuvens simbolizam
obscurecimento, inquietação. Embora tragam chuvas, que regarão a terra e
produzirá alimento, a nuvem também traz em si a sombra, o impedimento de
vislumbrar o sol.

A aliança consistirá em não mais haver sombra definitiva, nem ainda que as chuvas
trazidas pelas nuvens se tornem maléficas. As águas devem manter seu equilíbrio
na manutenção da vida, não mais tornando-se em morte. Com a retirada da
maldição, a água volta a seu estado anterior, geradora da vida.

Por fim, neste texto, o entendimento é claro. A maldição é substituída pelo acordo.
O homem, representado a partir de agora por Noé e não mais Adão, deve cumprir
sua parte em conjunto com a própria Terra, para que o projetado pelo pecado
inicial não mais corrompa a humanidade. Nesse novo estágio de renovação, nesta
finalização da passagem da Era Leonina para Câncer, novas leis serão projetadas
por sobre a humanidade. E, parcialmente, a misericórdia divina remonta para o
paraíso edênico antes da queda.

A Vinha

“E os filhos de Noé, que da arca saíram, foram Sem, Cão e Jafé; e Cão é o pai
de Canaã. Estes três foram os filhos de Noé; e destes se povoou toda a terra.”
Gênesis 9:18,19

Noé, o décimo depois de Adão, é agora o representante da nova humanidade a


transitar para a Era de Câncer. E tal como Adão, Noé é pai de três filhos.

Da raça de Caim, aparecem os decaídos; algo semelhante ocorrerá aos


descendentes de Cão.
Ao passo que Caim significa Possesão e Lança, Cão significa Quente e Queimado.
Ambos representa impetuosidade e carnalidade.

Cão, assim como Caim, terá sua descendência amaldiçoada logo à frente. Canaã
será sua maior vítima, pois os descendentes de Sem é que irão habitar as terras
dantes a este pertencente.

Jafé representa a linhagem não deixada por Abel. Não por acaso, o significado de
seu nome é Beleza e Engrandecido. O que Abel não pôde se tornar por
interferência de seu irmão, Jafé agora será.

Por fim, Sem é de onde surgirá o povo judeu, os escolhidos para representar Deus.
O nome de Sem significa Rocha, tal como Pedro, de onde se edificaria a igreja de
Cristo. Sem é a correlação de Sete, do qual despontará os judeus, séculos mais
tarde. Os judeus, dada a essa suposta ancestralidade, são também chamados de
semitas.

Diferente da diáspora adâmica onde a raça de Caim foi eliminada da terra -


sobrevivendo portanto a descendência de Sete - a descendência de Sem há de
conviver com as raças provenientes de Cão e Jafé.

Sobre os povos por estes originados – mitologicamente falando – estudaremos em


linhas posteriores.

Fato é, que estamos no limiar de uma Nova Era astrológica, que deverá entrever
sua chegada em um importante evento que será narrado no capítulo posterior de
Gênesis.

“E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha. E bebeu do


vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda.” Gênesis 9:20,21

Tal como Adão, Noé inscreve-se no mesmo caminho de cultivar a terra para
comer o seu pão. A finalização das Eras possuem elementos indicativos
perceptíveis de suas aberturas e fechamentos. Neste caso, parte das maldições
registradas no Éden não são retiradas. O lavrar a terra, no sentido espiritual do
conhecimento para a sobrevivência, permanece em evidência.

Porém, no caso de Noé, este lavra uma vinha.

Postando-se pro questionamentos óbvios, após a saída da arca, Noé cultivaria


alimentos. O mundo escasseava de suprimentos devido ao longo período de chuvas
destrutivas. Entretanto, o patriarca prefere o cultivo das uvas. Ademais, dá-se ao
trabalho de construir lagar para fermentação e destilação do fruto. Um homem de
tamanha intimidade com Deus, preteriu o alimento para enviesar-se no álcool.

Evidentemente, tal comportamento é no mínimo irracional; outra vez percebemos a


não literalidade da Bíblia.

O vinho é abundantemente mencionado na Bíblia. Sua utilização, entretanto,


recomenda-se comedida. Deve se beber, porém em dosagens equilibradas a fim de
não gerar escândalo. O vinho em excesso, ocasionará a embriaguez e levará o
homem à ruína.

Assim, temos o vinho utilizado por Jesus na ceia no sentido de santidade; e ao


mesmo tempo a prostituta em Apocalipse se embriagando dele.

Temos então dois tipos de situações relativas vinho, as quais necessitam distinção:

O vinho em excesso causa embriaguez, enquanto o comedido é santificado.


Entretanto, ambos são o mesmo.

No Evangelho, o Cristo inicia seu ministério transformando água em vinho;


posteriormente enumera algumas parábolas em que as vinhas estão presentes e por
fim, no ato derradeiro anterior à sua morte, ceia com seus apóstolos, e com estes
come pão e bebe vinho.

Considerando que a água é a vida; o pão o alimento espiritual; e ambos são


manipulados por Cristo, é factível inferir que o vinho seja a compreensão dos
significados dessas simbologias. Em outras palavras, o vinho é a abertura dos olhos
para a compreensão dos enigmas ocultos na palavra mitológica.

O vinho, dado a sua cor, é referência direta à abertura do sétimo chacra – coronário
– receptáculo direto das energias divinas provenientes das sefiróts da Árvore da
Vida. Desta feita, é possível compreender que, quando na parábola dos odres e do
vinho, Jesus esteja falando claramente que o ser humano é o reptáculo, enquanto o
vinho, a energia divina descendente. É a compreensão a respeito de Deus.

Temos em Noé o tipo de Adão. Adão, para esconder sua nudez, cose folhas de
figueiras para cobri-las. Noé, por influência do vinho, as descobre.

Nos dois aspectos paralelos, entendemos que está havendo uma abertura e
fechamento de ciclos.
Percebamos que, para não envergonhar-se de sua nudez, necessário seria a Adão,
comer do fruto da Árvore da Vida. Esta, fora plantada por Deus. A vinha de Noé, é
plantada por ele mesmo. Portanto, é uma compreensão distorcida a respeito da
divindade. Então, apossando-se de um conhecimento não factível a respeito da
natureza divina, encontramos um Noé embriagado e desnudo. O seu vinho surtiu o
mesmo efeito que na prostituta apocalíptica, que por natureza de sua pecaminosa
ocupação, desnuda-se para o sustento.

O vinho cultivado pelo espírito humano mesclado com seus próprios conceitos,
resulta em ortodoxia religiosa, fragmentando e cristalizando o conhecimento a
respeito da divindade. Resulta também em orgulho e soberba, por criar um falso
alicerce de sabedoria e compreensão advinda dos próprios conceitos. A humildade,
quando alimentada pelo vinho humano, é aniquilada em detrimento da altivez e
arrogância.

“E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a ambos seus
irmãos no lado de fora. Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na
sobre ambos os seus ombros, e indo virados para trás, cobriram a nudez do seu
pai, e os seus rostos estavam virados, de maneira que não viram a nudez do seu
pai.” Gênesis 9:22,23

Cão, na analogia de Caim, é o que primeiro conflui para que Adão veja sua nudez.
A natureza carnal aqui representada, abate o orgulho e a altivez, proporcionada
pelo embriagar-se do vinho. Por outro lado, Noé mostra-se absorto em sua
arrogância e insensatez, visto que o ato de Cão não é por si só, um demérito a este.
A prepotência de Noé neste sentido, demonstra a vergonha por ver-se em nudez
diante de seu filho em um momento de inconsciência, sendo o filho, o agente que
lhe concede a visão. É a vergonha por não ter visto por si só. É a altivez em
evidência.

Entretanto, por não reconhecer a própria limitação em virtude da embriaguez pelo


vinho, Noé amaldiçoa não o filho, mas o neto. Por evidência, nenhum dos dois
mereciam qualquer advertência. Noé embriagado resume o espírito divino em nós,
dominado pelos ditames do Ego inferior.

Canaã, significa “baixada.” Por se tratar de um filho de Cão, Canaã é também


referência à natureza humana decaída. Porém, à frente, as terras que a este
couberam como espólio, tornar-se-á a Terra Prometida para a qual deverá singrar o
escravizado povo de Israel.
Compreendendo-se a prerrogativa que no nome se encerra, a maldição de Noé
possui um efeito efêmero. A parte baixa do ser humano de fato encontra-se em
maldição. Porém, advinda de um espírito embriagado, sua validade não é de fato
duradoura.

Por conseguinte, os espólios das terras da herança deste, torna-se o caminho para o
qual o povo deve seguir. A natureza humana restaurada, proporcionará descanso
para os que se vivificarem em bênçãos.

Com postura contrária a Cão que emxerga a nudez de seu pai, Sem e Jafé a
cobrem. A analogia com a túnica de peles elaborada por Deus para Adão e Eva
também é clara. O cobrir representa a proteção de Deus a este, na pessoa de seus
filhos. Neste momento Jafé: Abel; e Sem: Sete, demonstram que o caminho de Noé
deve se estabelecer pela compreensão de sua nudez e a necessária cobertura desta.

Da mesma forma que no Éden, onde Deus não vê a nudez de Adão, os filhos de
Noé se postam de costas e não a veem. Ambos os filhos sabem que Noé está nu.
Porém não é seu prazer o vê-la. Estes filhos representam a humildade, o
reconhecimento do erro alheio, da ignorância, porém em sua forma singela de
compreensão, atentam para o cobrimento do que ao simples julgamento. Ambos
representam a parte divina do ser. Jafé é o correspondente de Abel, o puro; e Sem,
ao que vai gerar o descendente libertador. Ambos fazem o papel do Espírito.

Dentro da mesma analogia edênica, ambos estão virados quando a nudez é coberta.
Deus se manifesta para Adão na viração do dia. Neste ponto, percebemos que o
termo convém ao término do ciclo. Há uma viração de Era.

“E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe fizera. E
disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. E disse:
Bendito seja o Senhor Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a
Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.” Gênesis 9:24-27

O despertar do vinho é a percepção da embriaguez pelo excesso do pensar


compreender. Noé representa por final, o Sol da Era de Leão que se põe. Esta era
primitiva necessita acordar, despertar, para perceber a necessidade de findar.

Assim, após retiradas as maldições de largas proporções como iniciara no Éden,


neste momento outra maldição é necessária para adentrar na Nova Era que deve
iniciar com a morte do simbólico Noé. E esta recai sobre o filho de Cão.
Diferente do que ocorrera a Caim, é a descendência de Cão que sofre com o
declarado por Noé. Canaã, seu neto, é representante da natureza carnal e humana.
Seu pai viu a nudez do espírito. Viu a nudez, as falhas necessárias a corrigir na Era
Antiga. Assim, torna-se maldito por conta de perceber as imundícies do mundo.
Canaã agora é o mundo. A Terra amaldiçoada por Deus. O sentido abrangente de
um mundo todo, agora resume-se a um único território. Portanto, a herdade desse
homem, deverá ser dominada e subjugada por aqueles que se mostrarem detentores
da divindade interior. Canaã deverá servir seus irmãos. Até que um dia, o povo
remanescente destes, domine tudo o que lhe pertenceu. “Os mansos herdarão a
terra.”

Você também pode gostar