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FUNDAMENTAL
O objetivo deste artigo é apresentar uma análise das relações que as crianças estabelecem com
os números e as operações para a produção de textos algébricos em diferentes anos de
escolaridade. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa. Os dados analisados são
provenientes de um grupo de formação de professores de uma instituição particular de ensino,
no interior da Bahia, composto por 24 profissionais que atuam da Educação Infantil aos anos
iniciais do Ensino Fundamental, na elaboração e discussão colaborativa de tarefas
desenvolvidas com crianças em suas salas de aula. Tais tarefas foram tomadas como
documentos base para a análise. Quanto ao resultado, foi observado como as crianças podem
indicar peculiaridades relativas à natureza dos números representando operações aritméticas por
meio do desenho, além do modo como acionam tais operações em função da atividade de Early
Algebra proposta.
PALAVRAS-CHAVE: Early Algebra. Anos Iniciais. Educação Matemática.
ABSTRACT
The aim of this article is to present an analysis of the relations that children establish with
numbers and operations for the production of algebraic texts in different years of schooling.
This is a qualitative study. The data analyzed were collected from a teacher training group of a
private educational institution in a town, in the State of Bahia, composed of 24 professionals
who work from Early Childhood Education to the Initial Years of Primary Education, in the
collaborative elaboration and discussion of tasks developed with children in their classrooms.
Those tasks were taken as background documents for the analysis. As result, it was observed
how the children can indicate peculiarities related to the nature of the numbers representing
arithmetic operations through drawing, as well as the way in which they trigger such operations
due to the proposed Early Algebra activity.
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aprendizagem são traduzir e generalizar. Ao investigar a aritmética, os estudantes têm
oportunidade de produzir textos considerando as regularidades e estruturas em suas
operações com os números, a partir de situações como: 68 + 41 = 41 + 68; 3 + 5 = 5 +
3, entre outras, que podem ser generalizadas da seguinte forma: a + b = b + a.
No que se refere a um estudo de procedimentos para resolver certos tipos de
problemas – os quais podem ser problemas aritméticos simples (PIRES; CAMPOS,
2006) –, diferente da concepção anterior, as atividades centrais são simplificar e
resolver. É o caso de problemas como: “adicionando 5 ao dobro de um certo número, a
soma é 17, qual é esse número?”, em que os alunos são estimulados a traduzir o
enunciado para a linguagem algébrica: 2x + 5 = 17, em que “x” representa uma
incógnita para a qual se atribui apenas um resultado.
A terceira concepção, que identifica a álgebra como o estudo de relações entre
grandezas, também é denominada de pensamento funcional. Ela corresponde, por
exemplo, à relação funcional A = b x h, a qual representa o cálculo da área de um
retângulo. Nela se expressa uma relação entre as três grandezas. A distinção crucial
entre esta concepção e a anterior é que, neste caso, as incógnitas variam.
Por fim, a quarta concepção é a da álgebra como estudo das estruturas. Nessa
concepção, a álgebra é compreendida como o estudo das estruturas pelas propriedades
que atribuímos às operações com números reais e polinômios (USISKIN, 1995). Trata-
se, por exemplo, de um exercício em que se pede para fatorar: 3x2 + 4ax – 13a2.
De acordo com Kaput (2008), Blaton e Kaput (2005) e Canavarro (2014), há dois
aspectos mais evidenciados na Early Algebra: a concepção da aritmética generalizada e
o pensamento funcional. Em particular, discutiremos a concepção da aritmética
generalizada e enfatizaremos as relações que os estudantes estabelecem com os números
e operações quando comunicam textos algébricos. A partir das quatro possíveis
vertentes dessa concepção, duas delas serão enfatizadas nas produções das crianças.
ARITMÉTICA GENERALIZADA
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As relações com sequências numéricas, pictóricas e com o uso de objetos por
repetição e em ordem crescente, favorecem a busca de regularidades e o
estabelecimento de generalizações (PONTE; BRANCO; MATOS, 2009).
No que se refere às relações entre operações, trata-se da realização de tarefas
envolvendo as operações em situações como: acrescentar um algarismo em uma parcela
e retirar em outra depois da igualdade. Caso as demais sejam iguais, os dois lados ficam
equivalentes, por exemplo: 141 + 48 = 49 + 140.
Já a relação de igualdade envolve três significados: relacional, operacional e
equivalência (PONTE; BRANCO; MATOS, 2009; TRIVILIN; RIBEIRO, 2015). O de
equivalência é considerado o que mais se aborda no decorrer da escolaridade. A
equivalência pode ser iniciada com atividades envolvendo tarefas como análise de
operações: 5 + 3 = 8 e 8 = 4 + 4, então 3 + 5 = 4 + 4. Atividades como essa favorecem a
compreensão de que o sinal de igualdade não indica apenas que há uma operação a ser
realizada em busca de um resultado final, mas, sim, estabelece relação de equivalência
entre sentenças (LUNA; SOUZA; BORTOLOTI, 2017).
Entendemos as problematizações como situações investigativas. Além disso, Lins
e Gimenez (1997) apontam para o desenvolvimento da interpretação e formulação de
textos numéricos, do sentido numérico, bem como do reconhecimento de visualizações,
na prática situada de cada momento, para variadas situações e relações. Esses autores
também sinalizam o papel dos diferentes tipos de cálculos nos processos de resolução,
os quais não se reduzem à obtenção de resultados, mas abrangem contribuir e aprimorar
processos, como planificar, desenvolver estratégias diferentes e selecionar, dentre elas,
as mais adequadas. Esse é o momento em que se verificam as relações entre números e
operações para a produção de textos algébricos (PIRES; CAMPOS, 2006).
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contexto escolar, é por meio do discurso pedagógico que diferentes conteúdos são
transmitidos e adquiridos, a partir da realização de uma comunicação especializada.
Os princípios que regulam a prática pedagógica são os de classificação e
enquadramento (BERNSTEIN, 2000). Entendemos prática pedagógica, em termos
bernsteinianos, como um contexto social por meio do qual se realiza a produção e
reprodução da cultura. Entre as práticas pedagógicas, estão incluídas as relações entre
arquiteto e engenheiro, médico e paciente, engenheiros e mestres de obra; entre outras.
Em nossa pesquisa, foi considerada a prática pedagógica que envolveu a relação social
entre professoras e estudantes, para a seleção dos textos escritos produzidos pelos
estudantes.
Levando em consideração que os princípios de classificação e enquadramento
regulam as práticas pedagógicas, a classificação diz respeito às regras de
reconhecimento do que pode ser dito em um determinado contexto – em nosso caso, no
estudo sobre Early Algebra. O enquadramento diz respeito a como pode ser dito,
relaciona-se à forma de produção do texto legítimo, que regula as regras de realização
para a produção desse texto (BERNSTEIN, 2003). O texto é considerado legítimo
quando as suas significações se adéquam ao contexto em que foi produzido
(BERNSTEIN, 2003).
METODOLOGIA
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Núcleo de Estudos em Educação Matemática de Feira de Santana (NEEMFS),
certificado pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, para a elaboração
dos projetos, acompanhamentos e organização das Feiras Locais de Matemática da
escola, que ocorrem no segundo trimestre do ano letivo. Além disso, desde 2009, temos,
entre o NEEMFS e esse grupo, uma parceria de estudo colaborativo sobre Early
Algebra, com tarefas produzidas, realizadas em salas de aula e socializadas no grupo,
por meio de registros orais ou escritos.
Para este artigo, selecionamos tarefas realizadas pelas crianças e discutidas
colaborativamente no DESPMAT, a partir de seus estudos sobre Early Algebra. Nesta
pesquisa, definimos “tarefa” como um texto impresso, elaborado pela professora, para
registrar as produções textuais escritas das crianças.
ANÁLISE DE DADOS
Figura 2. Tarefas de Early Algebra realizadas no 2º ano (Dados turma do 2º ano, 2014, Grupo
DESPMAT).
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Figura 3: Produção da Criança 1 Figura 4: Produção da Criança 2
Nos textos acima, podemos identificar que a Criança 1 produziu uma relação de
equivalência numérica, no entanto os diferentes fatores dessa relação não foram
indicados no desenho correspondente produzido, no caso, uma sequência de pauzinhos.
Já na produção da Criança 2, Figura 4, tais fatores foram distinguíveis, pela
diferenciação feita pela criança entre as bolinhas correspondentes à relação de
equivalência elaborada (3 + 3 = 6).
O texto da Criança 3 indica a produção de uma relação de equivalência em que a
criança produz não apenas um, mas distintos textos pictóricos correspondentes à relação
numérica indicada.
Na segunda tarefa analisada, uma das professoras do grupo propôs que as crianças
analisassem como estava organizada uma determinada sequência e, em seguida, dessem
continuidade a ela.
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Figura 8: Produção da Criança 6
Fonte: Dados turma do 3º ano, 2014 (Grupo DESPMAT).
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Figura 11: Produção da Criança 8
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, buscamos apresentar uma análise das relações que os estudantes
estabelecem com os números e as operações para produção de textos algébricos, com
foco na comunicação dos textos algébricos ao resolverem questões aritméticas.
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De maneira geral, podemos notar a diversidade de textos produzidos pelas
crianças, a partir de uma tarefa padrão. É na produção desses textos que podemos
identificar suas singulares e fortalecer a prática pedagógica estabelecida, a fim de
suscitar a elaboração de textos legítimos sobre Early Álgebra.
Na Tarefa 1, percebemos a importância de o professor diversificar a
correspondência entre a relação aritmética e o texto pictórico. Apesar de não constar na
atividade preliminar da professora, a Criança 3 apresentou a configuração quantitativa
de diferentes imagens para a correspondência da relação de equivalência criada.
Já na segunda tarefa, foi possivel compreender que as crianças, quando suscitadas
a identificar padrões em uma sequência dada, podem recorrer tanto a procedimentos
matemáticos, quanto a caracteristicas dos números envolvidos.
A terceira tarefa analisada mostra, novamente, a potência do desenho; nesse caso,
para provocar a compreensão da questão em análise e até indicar procedimentos
matemáticos acionados, por meio de traços que representam o agrupamento de fatores
numéricos envolvidos nas operações.
Com isso, entendemos que o trabalho com Early Algebra, tratando-se, em
particular, da busca de relações com os números e as operações para a produção de
textos algébricos, permite que identifiquemos as características que as crianças atribuem
aos números, como acionam diferentes operações numéricas em função de uma
determinada situação e, além disso, como e quando utilizam os desenhos na
comunicação dessas operações. Essas temáticas contribuem para a ampliação do
repertório das crianças, para a elaboração de diretrizes no campo da formação de
professores, bem como para a frente de futuras linhas de pesquisa sobre Early Algebra.
REFERÊNCIAS
BERNSTEIN, B. Class, codes and control: the structuring of pedagogic discourse. New
York: Routledge, 2003.
______. Pedagogy, symbolic control and identity: theory, research, critique. New York:
Rowman & Littlefield, 2000.
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BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de
Currículos e Educação Integral – DICEI. Coordenação Geral do Ensino Fundamental –
COEF. Elementos conceituais e metodológicos para definição dos direitos de
aprendizagem e desenvolvimento do ciclo básico de alfabetização (1º, 2º e 3º anos) do
ensino fundamental. Brasília, DF: MEC, 2012.
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