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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Direito

2º ano - Laboral

Teoria Geral do Direito Civil - I

Os Princípios fundamentais do Direito Civil

Docentes:

Me. Alfiado Pascoal

Me. Abílio Diole

Me. Stayleir Marroquim

Discente:

SITOE, Wilson Moisés

Maputo, Junho de 2021


Índice

Introdução .....................................................................................................1

Princípios fundamentais do Direito Civil.......................................................2

Reconhecimento da personalidade jurídica.................................................2

Reconhecimento dos direitos da personalidade .........................................2

Princípio da autonomia privada.....................................................................3

Princípio da boa fé..........................................................................................3

Princípio da responsabilidade civil................................................................4

Reconhecimento da personalidade jurídica das pessoas colectivas .........5

Princípio da autonomia privada ....................................................................6

O fenômeno sucessório ................................................................................7

Relevância jurídica da família .......................................................................7

Conclusão ......................................................................................................8

Referências Bibliográficas.............................................................................9
Introdução

No presente trabalho abordar-se-á o tema dos Princípios fundamentais ou


institutos fundamentais do Direito Civil. São princípios que se consolidaram ao
longo do tempo e sobre os quais se apoia toda a estrutura do direito, mas nem
sempre estão formulados materialmente, não constam de nenhum diploma lega,
isto é, na sua maioria não constam de textos legais, mas representam conceitos
doutrinários fundamentais.
Princípios Fundamentais do Direito Civil

Os princípios fundamentais do Direito são, Segundo Reale, " enunciações normativas de valor genérico,
que condivionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua interpretação e
aplicação, quer para a elaboração de novas normas". 1

Os preceitos jurídico-Civis não são um conjunto desordenado de preceitos avulsos desprovidos de uma
conexão uns com os outros. Há uma ordenação dessas normas que não é apenas formal, mas
substancial ou material. Esses princípios formam a estrutura do Direito Civil, sustentando as normas que
os desenvolvem e dando-lhes um sentido e uma função.

Faremos, de seguida, o estudo detalhado desses princípios:

1. Princípio do reconhecimento da personalidade jurídica

O Direito só pode ser concebido tendo como destinatários os sérios humanos em convivência.
Juridicamente, ser pessoa, como ensina Mota Pinto, " é ter aptidão para ser sujeito de deveres e
obrigações; é ser centro de imputação de poderes ou deveres jurídicos. Ser centro de uma esfera
jurídica".2

As pessoas no sentido técnico-jurídico não são necessariamente seres humanos: aí estão certas
organizações de pessoas (associações, sociedades) e certos conjuntos de bens (fundações).

O artigo 66 do código civil prenuncia, "a personalidade asquire-se com o nascimento completo e com
vida". A personalidade jurídica, suscetibilidade de direitos e obrigações, corresponde a uma condição
indispensável da realização, por cada ser humano dos seus fins ou interesses na vida com os outros.

2. Reconhecimento de direitos de personalidade

A pessoa é titular de um certo número de direitos absolutos, que se impõem ao respeito de todos os
outros, incluindo sobre vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade. O princípio acha-se
consagrado no artigo 70 do código civil.

Os direitos de personalidade incidem sobre a vida da pessoa, a sua saúde, integridade física, a sua
honra, a sua liberdade física e psicológica, o seu nome, imagem ou reserva sobre a sua intimidade
privada. O Direito Civil protege vários modos de ser físicos ou morais da personalidade.

Os direitos da personalidade são irrenunciáveis, podem, porém, ser objectos de limitação voluntária
que não sejam contrários aos princípios da ordem pública, segundo o artigo 81 do código civil.

3. Princípio da autonomia privada

1
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 25ª ed. 2001. p. 286
2
PINTO, Carlos A. Mota., MONTEIRO, Antônio. (2005). Teoria geral do Direito Civil.
4ª ed. Coimbra: Coimbra editora. p.98
Este princípio tem sua dimensão mais visível na liberdade contractual (art. 405 do código civil). Os actos
jurídicos cujos efeitos são produzidos por força da manifestação de uma intenção e em coincidência com
o teor declarado dessa intenção, designam-se por negócios jurídicos, como ensina Mota Pinto.

A autonomia da vontade ou autonomia privada consiste no poder reconhecido aos particulares de


autoregulamentação dos seus interesses, de auto governo da sua esfera jurídica. Os particulares podem,
no domínio das suas relações com os outros sujeitos jurídico-privados estabelecer a regulação das
respectivas relações jurídicas. Está ordenação manifestar-se, desde logo, na realização de negócios
jurídicos, de actos pelos quais os particulares ditam a regulação das suas relações, constituindo-as,
modificando-as, extinguindo-as e determinando o seu conteúdo.

Autonomia privada também se manifesta no poder de livre exercício dos seus bens ou livre gozo dos
seus bens pelos particulares, ou seja, é a autonomia privada que se manifesta no que Mota pinto chama
de "soberania do querer", isto é, no império da vontade.

4. Princípio da Boa fé

Contribui para uma visão do direito em conformidade com o que subjaz o Estado de direito social dos
nossos dias, intervencionista e preocupado em corrigir desequilíbrios e injustiças, para lá das metas
justificações formais. Na nossa ordem jurídica pode ser visto em duas perspectivas ou sentidos:

No sentido subjectivo - refere-se a situação de quem julgar actuar em conformidade com o Direito, por
desconhecer ou ignorar designadamente qualquer vício da situação ou circunstância anterior. Neste
sentido a lei recorre à boa fé em inúmeras situações. Assim, por exemplo, no art. 243, nº 2 do CC, ao
dizer que "boa fé consiste na ignorância da simulação"; no nº 3 do art. 291, ao considerar de boa fé o
terceiro que, "desconhecia, sem culpa, o vício do negócio nulo ou anulável"; o art. 612, ao entender por
má fé "a consciência do prejuízo que o acto causa ao credor", e vários outros exemplos.

No sentido objectivo - traduz a dimensão da justiça social e materialmente fundada. Neste sentido, a
boa fé, constitui uma regra jurídica, é um princípio normativo transpositivo e extra-legal para qual o
julgador é remetido a partir de cláusulas gerais. Não contém, ele próprio, a solução, antes consagra a
critério da solução, carecendo para efeito da mediação concretizadora do aplicador.

Aplicado aos contratos, este princípio, em sentido objectivo constitui uma regra de conduta segundo a
qual os contratantes devem agir de forma honesta, correta e leal, não só impedindo, assim,
comportamentos desleais, como impondo deveres de colaboração entre eles. É neste sentido que o art.
227, nº 1 fala das "regras de boa fé", o art. 239 apela os ditames da boa fé na integração de negócio
jurídico. O art. 334, menciona "os limites impostos pela boa fé" como critério de aviso do direito, que o
art. 437, nº 1 consagra os 'princípios da boa fé" como exigência a ponderar em caso de alteração
anormal das circunstâncias. E tantos outros exemplos.

Pode dizer-se que o princípio da boa fé em sentido objectivo acompanha a relação contractual desde o
seu início, permanece na sua vida e subsiste mesmo depois de ser extinguido.
Na verdade, logo na formação do contracto a boa fé intervém (art. 227, nº. 1 do código civil); é critério a
ter em conta na interpretação (art. 233); e na integração do negócio (art. 239); e impõe-se quer na fase
de cumprimento das obrigações, quer mesmo após o vínculo contractual se tiver extinguido.

5. Princípio da responsabilidade civil

Na vida social os comportamentos - acção ou omissão - adoptados por uma pessoa causam muitas vezes
prejuízos a outrem.

Quando a lei impõe ao autor de certos factos ou ao beneficiário de certa actividade a obrigação de
reparar certos danos causados a outrem por esse facto ou por esse dano depara-se-nos a figura da
responsabilidade civil - tem em vista tornar indemne, isto é, sem dano o lesado. Visa colocar a vítima na
situação em que estaria sem a ocorrência do facto danoso, nós termos dos arts. 483 e 562 do código
civil.

Esta reconstituição deve em princípio ter lugar mediante uma reconstituição natural (restauração
natural; restituição ou execução específica) é esta a lição do artigo 566 do CC.

Quando a restituição natural for impossível, insuficiente ou excessivamente onerosa, a reposição do


lesado na situação em que estaria sem o facto lesivo terá lugar mediante uma indemnização em
dinheiro (restituição ou execução por equivalente).

A indemnização em dinheiro (restituição ou execução por equivalente) é a hipótese maioritária, pois


raramente o lesado ficará completamente indemnizado com a restituição natural, mesmo sendo
possível.

O direito civil manda atender, na fixação da indemnização, aos danos não patrimoniais que pela sua
gravidade merecem a tutela do direito (nº. 1 do art. 496 do código civil). Estes danos não patrimoniais,
também designados por danos morais (integridade física; saúde; a honra; reputação; etc) a sua
verificação tem lugar quando são causados sofrimentos físicos ou morais, perda de consideração social,
inibições ou complexos de ordem psicológica, etc.

Em consequência duma lesão dos direitos de personalidade, não sendo estes prejuízos avaliáveis em
dinheiro, a atribuição de uma soma pecuniária correspondente legitima-se não pela ideia de
indemnização ou reconstituição, mas pela de compensação.

5.1. pressupostos para a existência de responsabilidade civil:

Além da existência de um dano e de uma ligação causal entre o facto gerador de responsabilidade e o
prejuízo, devem verificar-se outros pressupostos, para o surgimento da responsabilidade civil:

* Que o facto seja ilícito, isto é, violador de direitos subjetivos ou interesses alheios tutelados por uma
norma legal;

Que seja culposo, ou seja, passível de uma censura ético-jurídica ao sujeito actuante.
A culpa pode resultar da existência de uma intenção de causar um dano violando uma proibição (dolo);
ou omissão dos deveres de cuidado, diligências ou perícias exigíveis para evitar o dano (negligência ou
mera culpa).

Embora a responsabilidade deva reconduzir a reconstituição natural (art. 562), a nossa lei admite uma
limitação equitativa de indemnização quando a responsabilidade se funde em mera culpa (art. 493º).
Diversamente, os factos dolosos implicam necessidade de reparar todos os danos.

6. Princípio de reconhecimento da personalidade jurídica as pessoas colectivas

As pessoas colectivas são colectividades de pessoas ou complexos patrimoniais organizados em vista de


um fim comum ou coletivo a que o ordenamento atribui qualidade de sujeitos de Direito.

As pessoas colectivas tornam-se centro de uma esfera jurídica própria, autónoma em relação ao
conjunto de direitos e deveres encabeçados pessoalmente nos seus membros.

Possuem património próprio, separado do das pessoas singulares ligadas a pessoa colectiva. Adquirem
direitos e assumem obrigações realizados em seu nome pelos seus órgão.

Pode distinguir-se três modalidades fundamentais, segundo o art. 157 do CC.

As associações - colectividade de pessoas que não tem por escopo lucro econômico dos associados

As fundações - complexos patrimoniais ou massas de bens afectados por uma liberdade à prossecução
de uma finalidade estabelecida pelo fundador ou em harmonia com a sua vontade.

As sociedades - conjunto de duas ou mais pessoas que contribuem com bens ou serviços para o
exercício de uma actividade económica dirigida a obtenção de lucros e à sua distribuição entre os sócios.

6.1. Natureza da personalidade colectiva

A existência de pessoas colectivas resulta da existência de interesses humanos duradouros e de carácter


comum ou colectivo. A criação de um centro de imputação de relações jurídicas ligadas a realização
jurídica desses interesses permite uma mais fácil prossecução e eficácia do escopo visado.

7. Princípio da autonomia privada

As coisas são meios ao serviço dos fins dos homens. O homem tem necessidade de se servir das coisas
como condição de sua sobrevivência e progresso. O domínio e o uso das coisas permite ao homem
talhar para si um espaço maior ou menor de liberdade, não pode traduzir-se, porém, numa mera
sujeição de facto dos bens ao poder do homem numa Simples relação de posse.

Se o direito de desinteressasse de submeter os poderes dos homens sobre as coisas, o poder de facto
sobre as coisas não se impunha ao respeito doutras pessoas. Tornar-se-ia inseguro, exposto a agressão,
seria defendido com a força própria do seu titular, uma tal situação seria negação a ordenação jurídica
da sociedade.
É missão fundamental do direito organizar os poderes dos homens sobre as coisas e o conteúdo das
relações entre os homens a respeito das coisas.

7.1. Direitos reais limitados

A propriedade é o direito real máximo ou de conteúdo pleno. Em confronto com ele podem ser
considerados os direitos reais limitados. Usa abranger-se dentro desta categoria toda uma série de
direitos reais de conteúdo e estrutura bem diversa e ao serviço de funções e interesses de natureza
diferenciada. A sua nota comum é, em contraposição a propriedade, a de serem direitos reais que não
conferem a plenitude de poderes sobre uma coisa. Conferem só a possibilidade de exercer certos
poderes sobre uma coisa.

Subdividem-se em três, os direitos reais limitados:

Direitos reais de gozo - conferem um poder de utilização, total ou parcial, de uma coisa e, por vezes,
também a apropriação dos frutos que ela produza.

Direitos reais de garantia - confere os poderes, pelo valor duma coisa ou pelos valores do seu
rendimento um credor obter, com preferência sobre outros credores, o pagamento de que é titular
activo. É o exemplo do penhor, da hipoteca, do direito de retenção, etc.

Direitos reais de aquisição - conferem a um determinado indivíduo a possibilidade de se apropriar duma


coisa, de adquirir uma coisa. São exemplos desta subcategoria os arts. 1380, 1409, 1535, e 1555 do
código civil.

8. O fenômeno sucessório

É o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações patrimoniais de uma pessoa
falecida e a consequente devolução de bens que a esta pertenciam. Excluem-se da sucessão as relações
pessoais.

9. Relevância jurídica da família

A família existe na realidade, tem muitas funções importantes na sociedade e por isso projecta-se
também no Direito Civil. As normas reguladoras das relações familiares não são criadas pelo direito,
mas, pelo contrário, a ordem jurídica aceitou as normas desenvolvidas na sociedade. Para o direito da
família são típicas as normas imperativas ou seja as normas que os individuais não podem afastar.

Embora já revogado, todo o livro IV do Código Civil trata dos direitos da família. Segundo o art. 1576.º
do Cód. Civil as fontes das relações jurídicas familiares ou da família são o casamento o parentesco, a
afinidade e a adopção. Pois o Direito Civil reconhece a família no sentido amplo. O casamento é o
contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente, que pretendem constituir família (art. 1577.º
do Cód. Civil). A instituição Família está agora regulada em legislação avulsa, concretamente, pela lei nº.
22/2019 de Dezembro.
Conclusão

No presente trabalho abordou-se o tema dos princípios gerais que são, como
vimos, princípios que se consagraram ao longo do tempo sobre os quais se apoia
toda a estrutura do direito. Os princípios fundamentais do direito civil são os
princípios norteadores, não só deste ramo de direito, como de quase todos os
ramos do direito, pela relevância que este tem ma ordem jurídica dos países de
tradição romano-germânica. É necessário serem todos em contam pois orientam
a interpretação das normas jurídico-civis facilitam a sua compreensão e aplicação.
Referências bibliográficas:

PINTO, Carlos A. Mota., MONTEIRO, Antônio. (2005). Teoria geral do Direito Civil.
4ª ed. Coimbra: Coimbra editora

REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 25ª ed. 2001

Legislação:

Código civil

Lei nº 22/2019 - Lei da família

Lei nº 23/2019 - Lei das sucessões

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