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C376 Ca Dados Internacionais de Cataloga¢ao na Publicagio (CIP) Tuxped Servigos Editoriais (Sio Paulo - SP) alcante, Ménica Magalhies; Brito, Mariza (org,). Texto, Discurso e Argumentagao: tradugdes / Organizadoras: Ménica Magalies Cavalcante ¢ Mariza Brito. 1. ed. Campinas, SP : Pontes Editores, 2020. Inclui bibliog pe il; fotografias: 16x23 cm. ISBN: 978-65-5637-099-6 1, Discurso. 5 . Linguagem. 3. Linguas. 4. Linguistica Aplicada. I. Titulo. Il. Assunto. Magalhies. IV. Brito, Mariza. Bibliotecario Pedro Anizio Gomes CRB-S/S840 Indices para catalogo sistemiatico: 1. Filologia - Linguistica, 400 2. Anilise do discurso, 40141 3. Linguistica Aplicada, 468 4, Literatura, 800 TEXTO, DISCURSO E ARGUMENTACAQ TRADUGOES: A DIMENSAO ARGUMENTATIVA DO DISCURSO: QUESTOES TEORICAS E PRATICAS! Ruth Amossy Tradugdo de Antonio Lailton Moraes Duarte e Patricia Sousa Almeida de Macedo 1. INTRODUCAO: A ARGUMENTACAO ENTRE CONCEPCAO RESTRITA E CONCEPCAO AMPLA. O objetivo deste dossié” é retornar 4 nogao tanto influente quanto controversa de “dimensao argumentativa”, estabelecida na teoria da ar- gumentacdo no discurso (AMOSSY, 2012 [2000], 2005), mas também desenvolvida em outros trabalhos, particularmente por Rabatel (2004, 2014, 2016°), sob o nome de “argumentago indireta”. Trata-se, a um s6 tempo, de testar sua produtividade ¢ de revisitar os problemas teéricos que ela levantou. Se essa nog&o se encontra no centro de um debate, é porque ela envolve questées fundamentais relativas, por um lado, & defi- nigdo (e aos limites) da argumentacao e, por outro Jado, aos instrumentos necessdrios para a sua andlise. De fato, a dimenso argumentativa marca a lacuna que separa uma concepgiio restrita de uma concepgao ampla ou estendida de argumenta- 1 Textooriginals AMOSSY, Ruth, Introduction: In dimension argumentative du discours:enjeux théoriques et pratiques, Argumentation et Analyse du Diseours [Ex ligne}, 202018, mis en ligne le 15 avril 2018, consulté le 16 avril 2018. URL: http://joumnals.openedition. org/aad/2560. DOI: 10.4000/aad.2560. 2 N.T::Este artigo consiste na Introdugio 20.ndimero 20, de 2018, da revista cletrnica Argumen- tation & Analyse du Discours, vinculada ao grupo ADARR (Analyse du ds ‘Argumen- tation, Rhétorique), liderado por Ruth Amossy. O titulo desse numero‘doss ‘epenser la “dimension argumentative’ du discours” (Repensar a “dimensio. ‘argumentativa” do discurso). 3 Estas referéncias so dadas apenas para informagio. Os textos de Rabatel teorizam e exer- plificain repetidamente @ argumentagao indireta, que €sinénimo ‘de dimensio argumentativa. 1 2 ARGUMENTAGAO exo, DISCURSO F ARG a TRADUCOES | gio (6 evidente que, aqui, restrifo nfo tem nenhum sentido Pejorati, Cada uma repousa sobre uma visio diferente da Pritica da tBu 0), eda disciplina quea trata. Ambas sao, obviamente, legitimas, cada Ba delas tem suas vantagens e scus inconvenientes' > como Veremos ot adiante. A concepgio restrita limita a argumentagao ao desenvolving lig de um discurso que usa de argumentos para provar a validade de uma Ty estuda-a em sua singularidade, diferenciando-a de tudo 0 que nig cae estritamente relacionado a ela. Nesse sentido, ela 6, Portanto, °xclusiy, A concep¢ao ampla é inclusiva: engloba a argumentagao compreeni no sentido estrito € a coloca no centro de suas preocupagées; ™as,clag situa no centro de um continuum que inclui, em uma de suas extrem. dades, a polémica como confronto violento de teses antagénicas, & ma outra, uma orientagao dos modos de pensar e de ver, de questionar ede problematizar, que nao se efetua pela via do raciocinio formal, Antes de avangarmos nessa reflexio, especificaremos a natures, dessas duas opedes. As teorias da argumentacao restrita focalizam. logos, vendo nele, antes de tudo, um compartithamento da raziio realizado com base em argumentos logicamente validos, partindo de premissas compar- tilhadas para uma posigdo apresentada como verdadeira, ou pelo menos como razodvel. Embora sejam muito diversas, as teorias da argumentagio que se enquadram nessa abordagem focam (1) 0 raciocinio (2) em situa- 0 de comunicago (3) sobre uma questo controversa (4), conduzindoa uma tese (5), recorrendo a procedimentos argumentativos formaliziveis. Sem diivida, elas podem dar lugar ao pathos — como bem o demonstatt 0s trabalhos de Plantin (2011) ou de Micheli (2010) ~, mas a existéncia da argumentagao depende do Jogos, que constitui sua espinha dorsal. A nogao de dimensio argumentativa foi, ao contrario, proposta pate Pensar em formas alternativas de argumentagao que vao além das formas canénicas. Debrugando-se sobre 0 elogio (e, portanto, o epiditico), ° testemunho, a descrig&o, os chamados textos de informagao, converst familiar, a Carta, a narrativa literdria, dentre outros, ela mostra que eles argumentam sua maneira, Eles o fazem no sentido de tentar compattilat ——___. et . Ap ; eo {tradevo a Christan Plani, pela discuss muito escarecedora que tive come insio, € a Roselyne Koren, por suas observagbes e sugestOes. TENTO, DISCURSO F ARGUMENTAGAG, TRADUGOLS, 5 os de vista, questionamentos, através . opines Pe : 108, através de procedimentos sjscursivos que nao sto argumentos formais, ise Sem dhivida, nfo & initil relembrar, mais uma ver, que a nogio de gimensio argumentativa ou argumentagiio indireta, e a con plinda da argumentago ca qua ela partieipa, Gio am- 0 inspiradas nos trabalhos precursores de Grize, que, no capitulo “A onipresenga da argumentagio” de Lagica ¢ linguagem (1990, p. 40), escreveu: “Argumentar refere-se 4 justificar, explicar, apoiar [...] Mas também possivel conceber a argumentagao de um ponto de vista mais amplo e entendé-la como um processo que visa intervir na opiniao, na atitude, ou mesmo, no comporta- mento de alguém”. O que Plantin resume do seguinte modo: “Argumentar 6, metaforicamente, ‘orientar’ o olhar” (2016, p. 78). Retomaremos aqui, brevemente, os diversos aspectos dessa con- cepgao ampliada, os problemas que dela decorrem e os argumentos que podem jogar a seu favor. 2. AARGUMENTAGAO COMO DIMENSAO CONSTITUTIVA DO DISCURSO Em um primeiro momento, e em sua forma mais extrema, a nogio de dimensio argumentativa situa a argumentatividade no proprio ama- go do discurso. Deste ponto de vista, € a contrapartida discursiva das concepgées oriundas de Ducrot (ANSCOMBRE; DUCROT, 1988) que situam a argumentagao na lingua. Como resultado, desaparece a separa- cdo tradicional entre uma disciplina que lida com o discurso (a Anilise do Discurso ou AD) ¢ outra que lida com a argumentagio (a Teoria da Argumentagio): trata-se de analisar dentro da materialidade discursiva as modalidades de argumentagao tanto direta como indireta. A primeira € baseada em esquemas argumentativos que exigem uma colocagiio em palavras; a segunda se desenvolve na espessura do discurso, fora dos identificaveis (AMOSSY, 2005, 2009). Jo de 2010 (¢ de 2012) de 4 Argu- gem que faz da esquemas argumentative E nessa perspectiva que a dig mentagiio no Discurso acrescenta na introdugao wna pa B ARGU! ex TO, IscURsO E ARC me TRADUGOES racteristica constitutiva do discurs, ag entatividade uma caracter! : 7 omncingo eda subjetividade ee KER} nae el RECCHIONI, 1980), do dialogismo (B K -VOLScuy ior ¢ do ethos como apresentagao discursiva de si mesmo Man’ GUENEAU, 1999; AMOSSY, 2010): Nenhum dscurso ¢ feito Sem o que Poderie se tan, de “argumentatividade”, ou uma orientagao mais oy . marcada ¢ mais ou menos fundamentada do enunciags in convida 0 outro a compatilhar maneras de pensar, eyes sentir. Em sum, todo discursosupde oat de fazer fine alinguagem em um quar figurativo (“eu —tu, tong, 10 fcido ds diseursos que o precedem eo circundam, ogy, uma imagem do orador (quer ele © queira ou no) inflieny as representagSes ou as opinides de um alocutitio, Nesse seas do, o estudo da argumentaglo, e do modo como ela sealaas, Outros componentes na espessura dos textos, é parte integrante da anilise do discurso (AMOSSY, 2010, p. 9). Esse ponto de vista poderia, inicialmente, na medida em que nao corresponde ao Cotidiana como “argumentar”, ou seja, gumentos” »» parecer contraintuitivo, que € entendido na linguagem “desenvolver uma série de ar (TLFi*) ou “justificar, apoiar uma tese, uma exposicao, ete, com base em um niimero suficiente de argumentos” (Larousse). Maso mesmo vale para as outras caracteristicas constituintes do discurso: hi enunciagao em enunciados desengajados nos quais a primeira pesstt std ausente; dialogismo nao Corresponde a dialogar no sentido usual ée Conversar com um interlocutor; a subjetividade como “presenga do sujel? falante em seu discurso” (TLFi) nao significa que uma expressio do! 'mediatamente apreensivel se manifesta; ¢ a apresentacio de si apart a mas m bo identficadaaotho mu, em diseursos nos a suas marcas pi 'oca diretamente em cena. Bo analisie oA . 7 fungBes, sei ro sua Construgao, explora suas modalida les ws emunciativo e ‘Xemplo, o linguista é quem identifica o apagam © 08 tra jetivi - e 'Gos de subjetividade apagados, ou ainda, no cas? 5 NT Verto nity "matizada do dicionéci francés Trésor dela langue francaise (TLE) 4 dialogisma, a forma como a6 heterogenci aspas ou 0 discurso reportado (AUTHIE! ganalista quem identifica os tragos de 2 nao utilizam argumentos formais; ele mostra a muito mais ampla do que o que esta d *, observa, também neste dossié, Rabatel, q de seu pensamento. * discursos preexisten lade no é mostrada por tracos claros, como as tes quando a E também mo, por Raba- pronunciado ‘Tomemos o exemplo de Plantin emprestado, aqui tel: a informagao sobre a hora. O enunciado“E meia por um dos convidados em um jantar que chegou 2o fim, nZo tem traco de enunciacio, subjetividade, dialogismo ou argumentagao. De acordo com a pragmatica e para além das divergéncias terminolégicas, as teorias ampliadas da argumentacZo, como as de Grize, de Amossy e de Rabatel, veem, entretanto, uma dimensao argumentativa na auséncia de qualquer argumento explicito. O enunciado convida a pensar que a hora estd avan- cada, €hora de voltar para casa. Hé enunciacao sem déiticos, subjetividade sem axiolégicos ou afetivos, dialogismo sem heterogeneidade mostrada. Um sujeito que fala se apropria da linguagem para manifestar seu ponto de vista, apoiando-se em uma doxa nao formulada — meia-noite é uma hora tardia, uma hora tardia pede para ir para a cama; ele transmite sua maneira de ver e tenta orientar os modos de ver e fazer — despedir-se. para uma conclusao no formulada é posta em pratica gragas a um. funcionamento da comunicacao fundado sobre o implicito, que nao difere do que as ciéncias da linguagem tém explorado, desde as implicaturas de Grice (1979), até a pressuposigao de Ducrot (1972) ow os topoi, segundo Anscombre (1995), € 0s trabalhos sobre 0 implicito de Kerbrat-Orecchioni (1986). Nao entraremos aqui em uma andlise mais aprofundada — basta enfatizar que os procedimentos de indug&o (ou abdugo, como o mostra Rabatel sobre 0 caso da narragao) so ativados para reconstruir 0 que fica no nao-dito. Esse exemplo, certamente sumario, pretendia ilustrar 0 fato de que ‘argumentatividade do discurso se deixa aprender fora da formulagdo explicita de uma questo, de uma tese © Essa orientagao do enunciado dos argumentos que a susten- 5 tae con camscet ee TEXTO, DISCURSO E ARGUMENTACAg, TRADUGOES, tam. Para ser implicita, nao é necesséri 10 que esteja ausente _ 4 o discurso seja examinado em. situago © em relaggg 20 inte Pd am identificando as marcas linguisticas de sua inscriggo, Entig, alse, — como mostram os estudos que compdem este dossia — apree Possing uma ampla variedade de géneros de discurso, a Maneirg Pela & em, nao apenas orienta os modos de ver uma Parte real oy uma Qual ch também levanta questionamentos, suscita a tefl Situagy Mas 5 CESSariay decidir, manifesta paradoxos ou aporias, Mente lexdo sem ne, Na medida em que argumentar “nac de discurso nem ao uso de técnicas disc: 2016, p. 78), pode-se exprimir a preo infundada — de que a argumentagao se do lado daqueles que se recusam a ack 10 esta ligado a UM tipo Speci ‘ursivas especi; ficas” CLaNty, cupagdo — que Certamente Nig § dissolva na AD, Ais 'SSO responds lerir 4 chamada conc ‘ epcao Testrita, , Tecusando-se a dissocié-la da concordem com a onipresenga da arg Constitutiva do discurso, la em textos que a mobili alisd-la rigorosamente em corpora concretos — voltaremos a isso, 3. ARGUMENTAGAO E SEQUENCIA ARGUMENTATIVA fextes: types et Prototypes Ksecyarce Y sional’? entrea“sequéncia argumentativa”, que é uma “unidade composicion aargum nouagel lentagaio, que ele Sugeriu ver como uma das fungées da linguae! nouisticas Pes G® €€ Jakobson ~ ao lado das funedes ties, metalineus! Poética ete, (1992, p, 103). ne . ido apr” A Sequéncia argumentativa 6 em Adam, objeto de um oe resent? fundado baseado no esquema as Toulmin (2003 [1958]), que?" 76 TEXTO, DISCURSO E ARGUMENTACAO TRADUGOES rho que conduz dos dados até a conelusto, através de regras de o cami abalhos centram-se na construgio discursiva do ra- passage, Outro jo e na sequencialidade dos textos, 0 que leva a uma determinada fora do enquadramento proposto por Adam (sequéncia argu- argumentatividade). Portanto, a abordagem que estuda 0 mentativa 1 nciamento argumentativo do discurso exclui de seu campo qualquer dizer que no esteja organizado de modo a justificar racionalmente uma tese, Para Micheli (2012), o “objetivo justificatério” que, em sua opiniao, &o fundamento da argumentagao (mais do que o objetivo da persuasao), “esta relacionado com a questao fundamental da sequencialidade: a argu- mentagdo é acompanhada, no nivel textual, de uma forma relativamente especifica de agenciar os enunciados [...], que permite distinguir mini- mamente a argumentaciio de outros modos de organizacao do discurso”. A principal critica 4 argumentagao no discurso é, entdo, que ela é muito “acolhedora” e, portanto, nao permitiria “isolar os fendmenos especificamente argumentativos no fluxo do discurso” (ibid). Em suma, a concep¢do ampliada da argumentagdo, que nao se concentra na se- quencialidade, é criticada por nao ser suficientemente discriminatéria. 4. OPOSICAO DE PONTOS DE VISTA E DIALOGISMO Mas, o que dizer de uma condigao que alguns consideram necesséria: a oposigao explicita de pontos de vista a partir da qual o locutor tenta fazer prevalecer o seu aos olhos do auditério? Para Plantin, “a comuni- cacao é totalmente argumentativa quando a diferenga é problematizada em uma questo argumentativa ¢ quando se identificam os trés papéis de Proponente, Oponente e Terceiro” (2016, p. 80). Esta abordagem & contestada aqui mesmo® por Rabatel, que considera que ela “superva- loriza” um “modelo dialogal de argumentagao”, resultante da primazia concedida ao oral em detrimento da palavra escrita, modelo que, alias, niio corresponde as concepgdes de argumentagao desenvolvidas por grandes teorias contemporsincas, como as de Perelman ou de Toulmin. Além disso, 6 NT Ressal Tras qua verso orginal deste artigo cnsste ma itedupdo do um dose sobre dimensio argumentaiva publicada na revista eletranien Argumentation ‘Analyse du discours, onepo: {que pode ser acessado na integra neste ends 71 Je ee PISCURSE . TRADUGOES TEXTO, D o que é mai ena fina ir algumas conclusdes res! : rs cca met ser explicitada, pelo orador pelo menos’ a ate! aerescen is, com o dialogismo ¢ 0 interdiscurso atuando, muitas Vere 6 te, facil para o leitor ou destinatario estabelecer a relagig entre gj ily i 7 ay antagénicas, pontos de vista diferentes”, Boy A questo do dialogismo é levada em conta por Mari ry acompanha a visio de Plantin sobre a argumentagao como “um i" > Que gestdo discursiva do desacordo”, um “confronto entre um qj contradiscurso” (2016, p. 23). Ela observa que ha “ nos quais qualquer referéncia explicitaa uma OPposigao & apagada, Bang textos, no entanto, s6 adquirem sentido em relacdo aum Contradiscurs, 4 luz do qual emerge sua dimensiio argumentativa” (i No entanto, acrescenta: anne Dow isc % ‘textos oy diseury id. P. 23), Dou rer ets80 oposa ndo precisa Ser apresentada com todas letras, na medida em que a palavra sempre uma resposlt Paltvra do outo, uma reagio ao dito anterior, que ela confi=™ Modifica ou refita: oda enunej, © uma respo Stigko proto Polémica ¢ . i ‘4620, mesmo sob a forma imobilizada da eset! mn Sta algo e € construido como tal. ..] Toss 84 aquelas que a precederam, se engaia one ©m clas, espera reagdes ativas de compre! 78 y TEXTO, DISCURSO E ARGUMENTACAO TRADUCOES antecipando-se quanto a elas, etc. (BAKHTIN-VOLOCHI- NOV, 1977, p. 105). Nessa perspectiva dialégica, a argumentacao esta, portanto, @ priori no discurso (...] Sob essa dtica, 0 confronto explicito sobre uma mesma questiio nao éuma condigao sine qua non da argumentagao, mesmo que seja um bom lugar para tal. A posicao restrita cuida de delimitar a argumentacao e de manté-la dentro dos limites de uma definigdo que a torna um fendmeno distintivo facilmente reconhecivel ¢ analisdvel em sua especificidade; ela da uma importancia primordial 4 sua estrutura formal. A posigio estendida concede & argumentagiio as consequéncias de um dialogismo generalizado, que situa qualquer fala na circulagao dos discursos, de modo a apreendé-la em sua relagdo com o que é dito ¢ escrito em um dado espago social; ela manifesta seu cardter sécio-historico. 5, ARGUMENTACAO SEM ARGUMENTOS? Sea argumentagio nao se confunde com a sequéncia argumentativa endo requer um confronto explicito entre posigdes contraditorias, o que acontece com a questao da justificagdo e do argumento, que aparecem em muitas definigdes como condigo sine qua non? Coloca-se aqui a questo dos argumentos com a ajuda dos quais se sustenta uma tese. Podemos imaginar uma argumentaciio sem argumentos? Em outras pa- lavras, existe alguma argumentacéio onde nao ha um processo fundado sobre os argumentos repertoriados e formalmente identificdveis (como 0 entimema, a analogia, o argumento por: consequéncia, etc.), que justificam a posigao apresentada? Neste ponto, gostaria de voltar a um exemplo que analisei em um artigo (2007) sobre a novela que se passa por volta dos anos de 1846, na qual Hortense fala de sua mae Adeline Hulot, casada com um barao, ex-general de Napoledio, cujas escapadas arruinam a familia: “Vocé nao sabe bem, Lisbeth! Eu tenho a terrivel suspeita de que ela trabalha em segredo”. O adjetivo afetivo, mas também axiol6gico, “terrivel” dramatiza eo trabatho, dando-the um sentg so Sem segredo” completa lo fo, Matea q ronda por esses dois qualiticadores njy Tle. 4 abjegay* é A ” € de org, social, Naquela época, trabalhar, para uma 4 pera uma pentiria total, uma degrad, Feta réplica ndo contém nenhum argumento formal explic a eaidieaieeias pean Career ito, ermite inferir, do fato de que a suspeita & terrivel eg trabaip la permite inferir, vs Aba gue este ultimo € vergonhoso para Adeline, © justi ficar essa ® por meto de um retomo as crengas e valores a Partithados na g ‘aso. Particular, a. uma regra, que envolve uma reflexiio mais geral: 9 trabalhy m um declinio para toda mulher de boa Sociedade; a Prodigaj, dade c a irresponsabilidade do pai de familia levam a tal declinio, como ‘mostra a intriga da narrativa em que deve ulhar a observagi de Hortense, E, réplica de uma Perso. Que no & da ordem de apresenta nada menos do que um 0 trabalho (mais Particularmente, das 4 prodigalidade de maridos infidis, Merge ‘emos mergy entio, no discurso Teportado ~ a que se situa a dimensio argumentativa Factocinio légico formal, mas que fo ponto de vista sobre es) € uma ligdo sobre Mas ainda ha mais. Para ser interpretada com g; et situada na interagdo ficcional: Hortense dirige-sea Bette, a prima pobre criada com Adeline, que j stamente para sobreviver. 0 de seus Personagens. Bette, na pigina capitulo (localizagio estratégica da novela), acaba um de seus pensamentos intimos sobre © mesmo assunto: 1 “om0 eu, trabalhar para viver, pensou a prima Bette, Quero cla me deixe a Par do que vai faz ++ Esses dedos bonitos finalmente ‘abalho forgado”, 0 desejo de vingany! “em Oponente malvado, confirma a naturezt : _2 “sbalho para uma pessoa da Posigiio de Adeline, Mas "e878 9 eGualizagio que o trabalho e: * ongem popular e, no ent mbas ( ode-se, entag, qu VE 8 abedoria, essa réplica © no fim do MO OS Meus, 9 que é tr eta pobre, erigid . eas dus abeleceria entre as du : ctentes. p, et aanto, prometidas a de Perguntar se e too 4 Parte do implicito, the & particularmest® ue o resultado seja conto logica natural apela a dimeng quando a indi 88 TEXTO, DISCURSO E ARGUMENTAGAO TRADUGOES flagrante, ou ainda no caso dos textos cuidadosamente elaborados dos quais € preciso examinar a estruturacao, ou a multimodalidade, ou que deve ser decifrado no espago digital, levando em conta suas particulari- dades, como oS hiperlinks. O receptor se baseia nas marcas linguageiras ‘as observaveis, embora algumas possam ser privilegiadas ea detri- mento de outras), combina-as com saber contextual, um interdiscurso (cujo conhecimento varia conforme os alocutarios), ¢ integra-as em uma construgdo de leitura que obedece a coeréncia do texto (mas que pode variar de acordo com os processos de reconstru¢io). fun- ‘Assim, nao se pode negar que, em todos os casos de indire dados sobre o implicito em sentido amplo ¢ sobre a complexificagio do discurso, intervém um calculo interpretativo ¢, portanto, uma construgiio de leitura por definigao variavel, que atribui ao discurso certas significa Isso significa que a dimensio argumentativa que orienta as forn do que oferece uma goes. de pensar e de ver ¢0 resultado de uma interpreta possibilidade entre outras, ¢ que, em altima instancia, a analise da argu- mentatividade se confunde com um processo de construgio de sentidos? mas nao é reservada ao caso A questao é certamente pertinent da dimensfo argumentativa. Nao seria também aplicada ao discurso de visada argumentativa? O trabalho de Doury (2017) sobre a decodificagio de textos argumentativos no sentido clissico, realizada por alunos, mostra bem isso. Ela escreve o seguinte: 0s textos ¢ discursos argumentativos ectos, dados textuais complexos, cujo nso das Nio ha divida de que sio, sob diferentes asp semido pleno no é acessivel apenas pela compres patavras ou mesmo das fases que 0s compoet. Em arranjo ris alobal do texto argumentativo que zea seu sentido pleno, tim arranjo qu, para sercompreenido, exige que 0 intérprete aan eeie no sentido das polvras empregadas, em su0 TES errr dentro dos enunciados, na organiza@io rihecimento da situagio de mais amplamente, em um nizagao sintag! iva do texto, em um cot enunciati 1UrsO &, enunciagao, no interdise conhecimento de mundo. ENTAGAO. TENTO, DISCURSO E ARGUM FRADUGOES Alculo interpretatj Aqui encontramos os elementos do calculo Pretativo en ‘ ‘amos rados por Kerbrat, Doury acrescenta: A interpretagio de um discurso argumentative tam, ¢ talvez em primeiro lugar, que se interrogue sobre gj do locutor—intengdo que, em uma perspectiva argum, é relativa a conclusio que ele procura sustentar: um texto argumentativo ¢ identificar a conclusig como os diferentes enunciados do texto contribu, ou indiretamente, para torné-lo mais resistente & ¢ Men, Menta, ‘interpret, © Mostra, em, di ‘OMtestaciy Nesse excerto, destaca-se a especificidade de uma inter argumenta¢ao, no sentido do raciocinio que leva a uma ci ‘um proceso de justificagio, Exige reconhecer a inten como ele a inscreve no discurso e na tese que ele pro é,na verdade, uma construgao do leitor, efetuada a a que o discurso conduz, Nés podemos ver, nos resi Pesquisadora, que os diferentes leitores ndio chegara © decifram o texto de formas diferentes, Tpretagiig, da ‘Onclusao po; G40 do locutor tal poe. Essa intenggg partir da conclusig ultados obtidos pela im ao mesmo resultady ida a identificar as marcas discursivas que Sem divida, Convém a as%0 no cerne de defi © aqui retomar ag Nogdes de adesio e de pers” INiGd Mentar, e fai sda argumentagao retérica, Podemos argh IME Dor Um objetivo do mee aL eSMO, que & argumentagi0 a Perstasio, mas por seu processo de jus nti ce Posicionamento, As nogdes de visada¢ 4? ‘ativa, Herman enfy ‘atiza bem, apoiam-se, ao conttéti® JEXTO, DISCURSO E ARGUMENTAGA. TRADUGOES, na nogio de uma comunicagio entendida em termos de interagio ¢ de influéncia miitua, Nada garante que os esforgos para fazer 0 outro aderir as visdes possam ser coroados com sucesso; as falhas no dominio sio patentes, & Angenot (2008) mos adversirios nunca conseguem chegar a um acordo, O fato é que nao se pode imaginar interagdes orais ou escritas em que a decifragio exigida do outro nao suponha que ele integre, se apropric ¢ ative as significag que conseguiu identificar. Tornar uma tese mais resistente ao confronto é também garantir que ela pode suscitar a adesdo. Pronunciar um discurso deceriménia é apelar 4 comunhao em torno de valores partilhados que se deve manter vivos ¢ que podem ser mobilizados se necessario. A, genciar um discurso hist6rico sobre a Revolugao de uma forma ¢ nio de outra é fazer 0 leitor adotar uma visao da histéria. rou OS NuMcrosos casos em que os Em suma, a questio da interpretagao refere-se as significagdes cons- truidas pelos discursos tanto de dimenso argumentativa como de visada argumentativa. Ela destaca que ambas so tributdrias de uma construgao de leitura, cuja dificuldade aumenta conforme o grau de importéncia do implicit e da complexificagio do discurso. Ainda é preciso especificar que se trata de um processo interpretativo que privilegia tudo 0 que, no discurso, € da ordem de uma orientagao mais ou menos marcada para uma conclusio, ponto de vista, um questionamento — enfim, uma troca em que uma tentativa de agir sobre o outro é exercida. 10. CONCLUSAO: OS OBSERVAVEIS Os artigos deste dossié mostram claramente que a dimensao argumentativa pode ser analisada a partir de observaveis que sio de ordem diversa. Perelman e Olbrechts-Tyteca falam de “técnicas dis- destio dos espiritos” cursivas que permitem provocar ou aumentar a a nicas discursivas (1970 [1958], p. 5). Eles repertoriaram essas t6c : tanto em relagao aos tipos de argumentos como aescolha do léxico, 4 qualificagdo, a figuratividade. Os avangos em ciéncias da linguagem enriquecem os dados coletados pela nova retorica e permitem fazer um estudo cuidadoso dos textos, 20 utilizar instrumentos analiticos 91 10, DISCURSO E ARGUMEN ‘TRADUGOES Assim, a atengao a0 léxico ¢ 4 escolha de termog 7 . 2a ee + : ie SOS. tos de denominagao & de axiologizagiig que tng va 0S om profundidade. O manuselo de conectores Manifes., . estaindas oP entativas e permite integrar os ganhos da te tia g jentagdes argum' _ y oe estudo do discurso. As nogdes de pressupostos, dy Suh Ducrot dos, de alusdes ¢ as diversas formas do implicito foram Objeto te endidos, dea . . : ¢ pormenorizadas, cujos resultados se revelam indispensing, analise: ra reconstruir uma dimensio argumentativa situada no nao.gity re ee do discurso, como a metéfora ou a ironia, produzem Signific, figuras s 7 se . es analisadas nos trabalhos que examinam seu potencial discyrsi, 6 e argumentativo (BONHOMME; PAILLET; WAHL, 2017), mais precisos: procedime! Vimos, além disso, que os trabalhos sobre 0 dialogismo CO interdis, curso permitem esclarecer sobre a construgao da dimensio argumentativa, mostrando como ela se baseia em uma referéncia mais ou menos tacita auma fala anterior. A reflexio contemporanea sobre a doxa entiquece o estudo do interdiscurso: chama a atencao para os clichés, as formulas, os esteredtipos que o discurso carrega, seja para transmitir e reforcar seu saber de senso comum, seja para retrabalha-los e Propor uma visao nova, Os fenémenos da heterogeneidade enunciativa e discursiva que estiono centro de trabalhos importantes destacam tensdes significativas, Nao se trata aqui de elaborar um catdlogo, todos esses procedimentos discursivos, que inte: na verbalizagio de argumentos, ocupam o centro na auséncia de raciocinios formais, tudo se dese1 mas de enfatizar que rvém, como dissemos, do palco, uma vez que, nrola na trama do texto. E 0 que mostram os artigos deste dossié, que examinam 0 modo como a dit ‘i . jwadros genéricos i ” A » Ros quais a presenga da argumentati dade é mais Ou menos recon! : : er AS nono poeta Ing i lt esperada na fabulaen0 rite 9). Fle deixa um ampie ono °Sett@ profissional de acompanham : 8 argumentagég diners 289° Para os Béneros de discurso n0s Mo GFelmnte sera estudada, a fim de sondar as vias # 92 ‘TEXTO, DISCURSO E ARGUMENTAGAO. TRADUGOES dimensio argumentativa. Ao mesmo tempo, 0s autores tentam exami a produtividade em corpora particulares. Eles mostram como a mensdo argumentativa fecunda se desenrola sob a moralidade da fabula de La Fontaine (Rabatel) e por tras do discurso explicito do narrador de Mongo Béti (Sela), ou como ela esclarece o funcionamento dos tuites de Donald Trump, quando a opiniao se disfarga de escoramento (Herman), ou ainda o que ela permite aprender em um poema lirico, como os de Michaux ou Jaccottet (Monte), em um livro enriquecido sobre Beauvoir ou sobre osasilos (Amadori), em um cademo cientifico on-line (Maycur). Por tiltimo, mas ndo menos importante, quisemos deixar um espao para as escritas digitais (Amadori, Mayeur), cujos procedimentos sao multimodais e que se apoiam sobre as miltiplas possibilidades da internet, para ver em quais modalidades inovadoras elas permitem construir uma dimensiio argumentativa através das novas tecnologias. Este aspecto valorizado pelo artigo de Mayeur, que trata dos blogs cientificos devido a sua natureza jue caracterizam os bem em ciéncias humanas ¢ insiste sobre o fato de que, tal, eles ndio recorrem aos mesmos procedimentos q\ Mayeur evoca, por exemplo, a “des- “plurissemioticidade. do textos escritos os discursos orais. Iinearizagdo do discurso pelos hipertextos”, ou a enunciado que integra imagens, videos ou animagées”. Nesse contexto, a vontade de agir sobre 0 Jeitor assume uma forma muito concreta que exige uma ativagdo (como clicar em um hiperfink). Com base nos trabalhos de Saemmer (2015), 2 autora mostra como 0 discurso cientifico digital dos blogs antecipa os usos em fungio da imagem do auditorio (que é sempre, ‘como bem observou Perelman, uma construgio do orador). Do mesmo modo, Amadori, estud: laume, que trata dos manicémios sem © assunto, mas construindo uma dimensio argumentativa que ori processo de leitura, mostra como a ficgdo digital explora os meios ofe- logias. Eles dao, por exemplo, acesso 40 leitor no apenas aos didrios dos personagens, ras também “as gravagoes de vozes, de ruidos, as pegas de videovigilancia”. Amadori fala & “uma performance experimental” inspirada no cinema de animagao eno ‘drama sonoro”, O exame dos elementos que contribuem para a construgao de ando 0 livro enriquecido de De- propor uma tese explicita sobre jenta 0 ecidos pelas novas tecnol 93 1. ARGUMENTACAO TENTO, DISCURS' ‘rRapucoes mundo digital parece abrir um, Cai 0 Jo argumentativa no oe a uma exploragiio mai ; concretas deste niimero sto enquadradas poy mare oe ‘rien profundada nos dois textos que abrem este dossig_ re Race dd continuidade a importantes trabaos nner) eq Herman, Esta introdueiio espera contribuir com ‘al reflex, com. inventario sucinto que tenta, Justificar a nogiio le di 'guMentas sem evitar as questdes por vezes dificeis que ela suscita e sem Pretend, fornecer respostas definitivas. O dossié que segue eae @ cada tm avaliar os beneficios ou as desvantagens de uma concepgiio ampliag, da argumentagao que pretende ser inclusiva. uma dimen fértil e convi REFERENCIAS ADAM, J-M, [1992]. Les textes: types et prototypes. Paris: Colin, 2011, AMOSSY, R. [2000]. L’argumentation dans le discours. Paris: Colin, 2012, AMOSSY, R. The argumentative dimension of discourse, Jn: VAN EEMEREN, F. Hs HOUTLOSSER, P. (ed. Practices of Argumentation. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 2005, p. 87-98, AMOSSY, R-Lesrécits édiatiques de grande diffusion au prisme de l’argumentaton dans le discours: le cas du roman feuilleton, Belphégor, Idéologie et stratégis xreecMatives dans les récits imprimés de grande consommation. XIXéme- XXleme sigcles 54, 2007 (on-tine), Présentation de soi, Ethos et identité verbale, Paris: PUF, 2010 sumentati mn a Rhétorique et argumentation: approches croisées ANGENOT, myse du Discours, 2009 [on-line], “NOT, M. 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