Poder Judiciário

Tribunal de Justiça do Estado do Pará 00014550620138140090

PRAINHA
SECRETARIA DA VARA UNICA DE PRAINHA 20210151011743
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA - DOC: 20210151011743

D E C I S Ã O I N T E R L O C U T Ó R I A.

Vistos os autos.

Trata-se de cumprimento de sentença, o qual se discute o (des)cumprimento da

sentença condenou o Município de Prainha a destinação de um imóvel em condições
satisfatória para a instalação da Casa de Acolhimento Institucional e a organização de
uma equipe técnica multiprofissional formada por psicóloga (o), pedagoga (o) e
assistente social, para atendimento das crianças acolhidas.

Em despacho de fls. 167 este Juízo determinou que a sentença se cumpra no prazo de
60 (sessenta) dias e impôs as astreintes no importe de R$ 500,00 (quinhentos reais)
por dia de descumprimento até o limite de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) com
possibilidade de elevação deste valor.

As fls. 169 o Município de Prainha peticiona informando o cumprimento da

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sentença, encartela fotos da casa destinada para o abrigo, porém, reconhece que não
cumpriu a determinação de organizar uma equipe multiprofissional para atender as
crianças e adolescentes abrigadas. Justifica o descumprimento na carência de recrutar
profissionais para trabalhar no Município.

O Ministério Público, diante da mora do Município, insurge-se pela aplicação da

multa pessoal de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ao Prefeito de Prainha, a contar do 61º
(sexagésimo primeiro) dia da data do trânsito em julgado da sentença.

Em manifestação de fls. 182 o Município de Prainha justifica a dificuldade na

capacitação de profissionais para a formação da equipe multiprofissional que
atenderá ao abrigo, mas se compromete fazê-lo no prazo de 30 (trinta) dias.

Este magistrado procedeu visita pessoal a casa de abrigo no início da manhã do dia
27/07/2021, a qual constatei que a casa que serve ao abrigo possui estrutura boa, mas
padece de alguns ajustes por mim sentidos, sendo eles: alto índice de calor e
inexistência de aparelhos que minimize as altas temperaturas, a inexistência de
sumidouro que forçou as cuidadoras a cavarem um buraco para servir de sumidouro,
o que ocasiona perigo e insalubridade. Quanto ao aspecto de acompanhamento das
crianças e adolescentes, fui informado que não se encontra disponível desde
novembro de 2020, e, após diálogos com algumas crianças, captei o que

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presumo ser vulnerabilidade psicoemocial.

Inquieto com a ausência de acompanhamento das crianças e adolescentes, busquei

informações na Secretaria de Assistência Social e constatei que os PIAs dos
acolhidos se encontram parados.

É o relatório. Decido.

Resta caracterizado o descumprimento parcial da sentença, principalmente no que

tange a ausência de equipe multiprofissional para atender as crianças e adolescente
abrigados.

Entretanto, a questão social que pulsa no presente caso não se resolve com as
astreintes. Não se advoga aqui a tese da desnecessidade de aplicação das astreintes,
mas que este magistrado deve avançar na resolução do problema. A técnica da

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astreintes possui relação direta com eficácia e a respeitabilidade das decisões
judiciais, ou seja, o respeito a jurisdição.

A justificativa do Município em mora, portanto, que age com desrespeito a este

Juízo, não merece prosperar se olharmos para a data da sentença, ou mesmo para a
data do trânsito em julgado. Contudo, no meio de todo aparato e embolo processual
se encontra o mais vulneráveis, as crianças e adolescentes que sofrem com o descaso
não só dos adultos negligentes, mas também pelo Estado negligente, no caso, o
Município que negligencia suas próprias crianças e adolescentes.

A máxima de que o processo não possui fim em si mesmo, sem cair em um

instrumentalismo puro, deve ser observada neste caso. Esta decisão não pode se dá de
forma mecanizada, onde, ao se observar que o munícipio descumpriu a sentença, o
juiz decide pela aplicação da astreinte, seria fácil, porém ineficaz e insensível a
finalidade do processo. A finalidade do processo é o amparo das crianças e
adolescentes em situação de risco, para que sua dignidade seja devolvida, por isso, o
embate processual não pode perder de vista a finalidade para o qual serve, é preciso
construir uma ponte entre o direito material e o direito processual.

Diante do exposto, entendo que deferir a manifestação do município que suplica

prazo para, enfim, cumprir sua obrigação é caminho mais curto para se atingir a
finalidade do processo e devolver a dignidade das crianças e adolescentes praienses.
Porém, a técnica da astreintes não pode ser irresponsavelmente

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ignorada por este Juízo, sob pena de desmoralização e degradação da eficácia das
decisões judiciais.

Deste modo:

1.Defiro o prazo de 30 (trinta) dias para que o Município de Prainha disponibilize a

equipe multiprofissional que atenderá as crianças e adolescentes abrigadas, nos temos
da sentença;

2.No mesmo prazo do item 1, determino que o Município resolva os problemas de

ordem estruturais da casa que serve ao abrigo, notadamente o calor excessivo e a
inexistência de sumidouros, razões que determino a instalações de ar-condicionado
para cada quarto do abrigo e ventiladores para as áreas comuns da casa. No que tange
ao sumidouro, este deve ocorrer de acordo com as prescrições de um técnico da área
de engenharia;

3.Ultrapassado o prazo de 30 (trinta) dias, que contará a partir da intimação desta

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decisão, persistindo o descumprimento, sem necessidade de nova conclusão, aplico
multa pessoal ao Prefeito de Prainha, no importe de R$ 500,00 (quinhentos reais) por
dia de descumprimento até o limite de R$ 100.000,00 (cem mil reais) que contará do
61º (sexagésimo primeiro) dia do trânsito em julgado;

4.Efetivando-se a multa pessoal do item 3, após certificado pela Secretaria Judicial,

autorizo o desconto em folha do subsídio do Prefeito Municipal de Prainha, a cada 30
dias decorridos de descumprimento, limitando-se o desconto a 30% (trinta porcento)
do subsídio mensal;

5.O dinheiro arrecado com a multa pessoal deverá ser revertida em prol do Abrigo
Municipal;

6.Intime-se com urgência e pessoalmente o Prefeito de Prainha desta decisão;

7.Vistas ao Ministério Público.

Prainha/PA, 29 de julho de 2021.

WALLACE CARNEIRO DE SOUSA

Juiz de Direito

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