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REPERCUSSÃO NO APARELHO LOCOMOTOR DA PRÁTICA DO JUDÔ DE ALTO NÍVEL

Repercussão no aparelho locomotor


da prática do judô de alto nível
Estudo epidemiológico

JOÃO G ILBERTO CARAZZATO1, HENRIQUE CABRITA2, WAGNER CASTROPIL2

RESUMO INTRODUÇÃO
Os autores, analisando os dados constantes em formu- 1) Sobre o judô
lários especialmente elaborados para ser preenchidos por Os primórdios da origem do judô perdem-se na penumbra
129 atletas praticantes de judô de alto nível (estadual, na- dos tempos.
cional e internacional), puderam observar considerável A crônica antiga do Japão (Nihon Shoki), escrita por or-
incidência de lesões no aparelho locomotor. Verificaram dem imperial no ano de 720 de nossa era, menciona a exis-
que houve predominância das lesões articulares nos atle- tência de certos golpes de habilidade e destreza utilizados
tas de maior nível e de maior peso. Notaram ainda inci- nos combates corporais e também como complemento da for-
dência maior de lesões nos atletas que iniciaram seus trei- ça física e mental.
namentos em idade mais precoce e que permaneceram As técnicas de ataque e defesa utilizadas na época guar-
em atividade competitiva por mais tempo. dam semelhança com os golpes contemporâneos do sumô e
do antigo jujutsu. Não havia regras de combate e as lutas
SUMMARY poderiam desenvolver-se até a morte de um dos competi-
dores.
Impact of high level judo practice in the locomotor appara-
Foi em 1882 que o judô teve sua origem oficial com a
tus. Epidemiologic study
padronização de normas com a finalidade de tornar o apren-
Based on information obtained in specially-prepared ques- dizado mais fácil, bem como o estabelecimento de regras
tionnaires, the authors analyzed the answers of 129 competi- para um confronto esportivo.
tive athletes in high level judo (state, national, and interna- O executor dessa proeza foi um verdadeiro estudioso do
tional athletes). They could observe a high incidence of lo- antigo jujutsu, mas que discordava do espírito de “lutar até a
comotor apparatus lesions. Joint lesions predominated in morte” preconizado, achando que uma atividade física deve-
higher level and heavier athletes. They noted a higher inci- ria servir, em primeiro lugar, para a educação global dos pra-
dence in athletes who started their training earlier in life, ticantes. Seu nome era Jigoro Kano, o pai do judô.
and who remained competitive for a longer period. A partir de então o judô, designado “caminho suave”, di-
fundiu-se dentro e fora do Japão e, com modificações, foi
adquirindo novas regras de combate que o modernizaram,
tornando-o mais fácil de ser entendido pelos espectadores.
2) O judô como esporte olímpico
O judô surgiu nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964,
inicialmente com apenas três categorias conforme o peso e
1. Chefe do Grupo de Medicina Esportiva do Hosp. das Clínicas da FMUSP; mais uma categoria aberta (absoluta).
Prof. Dr. do Dep. de Ortop. e Traumatol. da FMUSP. Foi em 1974 que a FIJ (Federação Internacional de Judô)
2. Residente de 4º ano do Dep. de Ortop. e Traumatol. da FMUSP. introduziu as novas regras do judô, com o objetivo de torná-
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lo mais dinâmico, dando mais ação às lutas e tornando mais Gleser & Brown(7) apresentam o judô como uma forma de
fácil a assimilação pelo público leigo. psicoterapia, utilizando os princípios do esporte aplicados
Essas novas regras passaram a vigorar a partir dos Jogos na resolução de conflitos.
Olímpicos de Moscou, em 1980, contribuindo para melhorar Gleser et al.(6) analisaram os benefícios da prática de uma
sobremaneira a imagem do judô como esporte internacional forma modificada de judô em crianças deficientes visuais e
e quando foi introduzida a divisão em sete categorias con- com distúrbios neuropsiquiátricos. Concluíram que é uma
forme o peso, que vigora até hoje. atividade que pode ser usada com objetivo terapêutico, edu-
O judô na Ásia, Europa, América do Norte (EUA e Cana- cacional e recreacional com considerável ganho na forma
dá) e América do Sul (Brasil e Argentina) é hoje amplamente física, controle motor e atitude psicossocial.
difundido nos meios esportivos, sendo quase um esporte pro- Huhnerbein et al.(8) avaliaram a resposta de crianças as-
fissionalizado em alguns países como França, Alemanha, Bél- máticas à prática do judô, concluindo ser um fator de moti-
gica, Itália e outros. vação, desenvolvendo coordenação e autocontrole, com me-
3) O atleta de judô lhor controle das crises.
O judô é uma arte marcial que, por não permitir técnicas Com relação à traumatologia em atletas de judô, vários
de socar e chutar, caracteriza o fator força como de extrema artigos foram encontrados com referência a casos isolados
importância, com inegável sobrecarga do sistema músculo- de patologias não usuais relacionadas com a prática:
esquelético. Orava et al.(12) relataram três casos de osteólise distal da
Apresenta também uma característica singular por aceitar clavícula em praticantes de judô e ressaltam a dificuldade de
ampla variedade de biótipos entre seus competidores; atletas diferenciar esta patologia com a luxação acromioclavicular.
altos e baixos, leves e pesados, brevilíneos e até longilíneos Frey & Muller(5) avaliaram 30 atletas integrantes da sele-
são vistos em treinamento. ção suíça de judô, encontrando nódulos de Heberden em 21
Apesar dessa ampla variedade, o esporte seleciona e de- deles. Ainda observaram, ao RX, que todos apresentavam
senvolve no praticante algumas características comuns, tais maior ou menor grau de osteoartrose das articulações inter-
como equilíbrio, agilidade, força estática de membros supe- falângicas proximais ou distais, com ou sem a presença dos
riores e explosão de membros inferiores, assim como capa- nódulos de Heberden.
cidade aeróbica e anaeróbica. Deleuran(3) relata um caso de degeneração de disco inter-
O Brasil tem tradição nesse esporte, que começou com a vertebral cervical em um praticante de judô.
imigração dos primeiros professores japoneses no início do Nishimura et al.(11) relatam quatro casos de hematoma sub-
século, desenvolvendo um trabalho de ensino nos moldes do dural agudo em atletas de judô.
judô tradicional.Tendo sido praticado inicialmente pelos des- Fujita et al.(4) mostraram um caso de atleta de judô que
cendentes de japoneses que vieram ao Brasil e rapidamente apresentou hematoma perirrenal após um treinamento.
difundido entre os brasileiros, hoje o país tem grande ex- Jerosch et al.(9) descrevem um caso clínico de atleta de
pressão em nível mundial, bem demonstrada pelos resulta- judô com luxação glenoumeral anterior do ombro concomi-
dos obtidos em torneios internacionais, campeonatos mun- tante com lesão dos nervos torácico longo e escapular dorsal
diais e Olimpíadas. que determinou operação estabilizadora da escápula, possi-
O elevado número de praticantes, uma representatividade bilitando seu retorno ao esporte no mesmo nível que antes da
importante de seus atletas em competições regionais, nacio- lesão.
nais e internacionais, e os problemas relacionados às lesões Owens & Ghadiali(13) relatam a ocorrência, em um prati-
que afetam os atletas deste esporte, levaram-nos à execução cante de judô, de sinais de lesão cerebral no lobo temporal
deste trabalho. esquerdo por anóxia crônica devida às técnicas de estrangu-
lamento existentes no esporte. Orientam cautela na utiliza-
REVISÃO DA LITERATURA ção dessas técnicas.
Russo & Maffulli(15) relatam caso de policial de 32 anos
A revisão da literatura não pretendeu esgotar o assunto. que apresentou luxação radioulnar distal durante a prática de
Escolhemos apenas alguns artigos que mostram o judô como judô. A luxação foi reduzida, mas uma instabilidade radioul-
uma forma de terapia esportiva e como coadjuvante no trata- nar distal mostrou-se presente, necessitando reconstrução ci-
mento de algumas patologias: rúrgica.
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Carazzato et al.(1) analisaram 20 anos de atendimento em Em relação às categorias por peso foi obedecido o regula-
departamento de medicina esportiva de um clube poliespor- mento da Federação Internacional de Judô, que admite sete
tivo de alto nível. A articulação mais lesada na prática do categorias, assim distribuídas: até 60kg = peso ligeiro; > 60
judô foi o joelho, seguido pela coluna e coxa. As lesões arti- até 65kg = peso meio-leve; > 65 até 71kg = peso leve; > 71
culares corresponderam a 32 de 51 atendimentos no judô. até 78kg = peso meio-médio; > 78 até 86kg = peso médio; >
Petrolito et al.(14) fizeram um estudo experimental de he- 86 até 95kg = peso meio-pesado e > 95kg = peso pesado.
matomas auriculares de origem traumática em coelhos, refe- O questionário constou dos seguintes quesitos:
rindo-se ao judô como um esporte no qual esta lesão é co- Número de ordem, iniciais, idade atual, idade inicial da
mum. prática do judô e idade inicial do judô competitivo, nível de
Lannuzel et al.(10) relatam um caso de praticante de judô, competição atingido, categoria por peso, dominância, técni-
com 11 anos, que apresentou um episódio isquêmico com cas preferenciais e lesões sofridas.
ataxia, afasia e vertigem. O diagnóstico de lesão da artéria Em relação aos golpes preferenciais, obedeceram à seguinte
vertebral por dissecção foi feito com base em tomografia e ordem numérica: 1) o-soto-gari; 2) tai-otoshi; 3) uti-mata;
angiografia. 4) harai-goshi; 5) seoi-nague; 6) ippon-seoi-nague; 7) de-
Velin et al.(16) avaliam 541 lesões esportivas em crianças e ashi-barai; 8) koushi-gari; 9) outi-gari; 10) o-goshi; 11) sas-
adolescentes durante o ano de 1992, sendo o judô responsá- sae; 12) seoi-otoshi; 13) sode-tsuri-kome-goshi; 14) tani-
vel por 7,2% delas (39 lesões). otoshi e 15) outros.
Carazzato et al.(2) apresentaram o trabalho da equipe de A metodologia empregada no preenchimento destes ques-
Medicina Esportiva nos Jogos Pan-Americanos de Mar del tionários constou de três formas: a) preenchimento total pelo
Plata, em 1995, ressaltando que o judô foi o esporte que apre- judoca, sem qualquer auxílio (54 = 41,86%); b) preenchi-
sentou a maior incidência de lesões do aparelho locomotor mento pelo judoca e conferência com os autores (32 =
em geral e, especificamente, lesões articulares (27 lesões em 24,81%) e c) preenchido conjuntamente com os autores (43
16 atletas). Este esporte ficou em quarto lugar no número de = 33,33%).
atendimentos em geral. Relatam também que as lesões de Todos os questionários obtidos foram revisados e dúvidas
coluna foram as mais freqüentes. foram confirmadas e/ou corrigidas com os atletas.

CASUÍSTICA E MÉTODO RESULTADOS


O trabalho constou da análise do conteúdo de questioná-
rios especialmente elaborados, que foram respondidos por TABELA 1
atletas do sexo masculino praticantes de judô. Análise das idades em anos
Para a elaboração do questionário foi executado um pla-
no-piloto com 20 atletas. Após a análise dos questionários e Idade Idade Idade
mínima máxima média
com as modificações necessárias, resultou o questionário fi-
nal utilizado para este trabalho (anexo 1). Idade de início da prática 3 18 08,85
Foram distribuídos e preenchidos 250 questionários. Des- Idade de início de competição 5 19 11,32
tes, 156 (62,4%) tiveram todos os seus quesitos respondidos, Período de aprendizado 0 10 02,47
excluindo-se os 94 (37,6%) restantes, considerados como in-
formações incompletas. Dos 156 analisamos apenas os refe-
rentes a atletas de considerável nível de competição, totali-
TABELA 2
zando 129 questionários, cujos resultados estão aqui avalia-
Início de prática da atividade esportiva em anos
dos.
Foram inquiridos atletas de três níveis de competição, obe- Idade mínima Idade máxima Idade média
decendo à seguinte distribuição: nível A – 59 judocas de ní-
vel internacional (45,74%); nível B – 33 judocas de nível Nível A 3 17 7,07
nacional (25,58%) e nível C – 37 judocas de nível estadual Nível B 4 15 8,24
Nível C 4 18 8,74
e/ou municipal (28,68%).
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J.G. CARAZZATO, H. CABRITA & W. CASTROPIL

ANEXO 1
Questionário aplicado

QUESTIONÁRIO DE LESÕES DE JUDÔ COM RELAÇÃO ÀS LESÕES ASSINALADAS NA PÁGINA ANTERIOR,


ESPECIFIQUE COM DETALHES COM RELAÇÃO A:
NOME: _____________________________________________________________________________
NASC.: ____/____/____
DATA DA REALIZAÇÃO DESTE QUESTIONÁRIO: ____/____/____ LESÃO (LOCAL E DATA): _____________________ LADO: ____________________
IDADE DE INÍCIO NO JUDÔ: _______________ M TREINO M COMPETIÇÃO M OUTRAS ________________________________________
HÁ QUANTOS ANOS PRATICA: _______________ IDADE NA ÉPOCA DA LESÃO: ____________________________________________________
FAIXA: _______________ COMO OCORREU (SUCINTAMENTE) _____________________________________________
( ) NÃO COMPETIDOR _____________________________________________________________________________________
( ) COMPETIDOR: ( ) ESTADUAL DIAGNÓSTICO: M CONTUSÃO M FRATURA M ENTORSE M LUXAÇÃO
( ) NACIONAL M TENDINITE M LOMBALGIA M CORTE
( ) INTERNACIONAL M LESÃO MUSCULAR M OUTRO _____________________________
IDADE DE INÍCIO DA FASE COMPETITIVA:___________ TRATAMENTO: M IMOBILIZAÇÃO M REPOUSO M FISIOTERAPIA
LADO DOMINANTE: ( ) DIREITO M CIRURGIA M OUTRO: _______________________________________
( ) ESQUERDO TEMPO DE TRAT: ________________________________________________
( ) AMBOS RETORNO AO ESPORTE: M IGUAL M PIOR M MELHOR
GOLPES DE ( ) O-SOTO-GARI
PREFERÊNCIA: ( ) TAI-OTOSHI
LESÃO (LOCAL E DATA): _____________________ LADO: ____________________
( ) UTI-MATA
M TREINO M COMPETIÇÃO M OUTRAS ________________________________________
( ) HARAI-GOSHI
IDADE NA ÉPOCA DA LESÃO: ____________________________________________________
( ) SEOI-NAGUE
COMO OCORREU (SUCINTAMENTE) _____________________________________________
( ) IPPON-SEOI-NAGUE
_____________________________________________________________________________________
( ) DE-ASHI-BARAI
( ) KOUSHI-GARI DIAGNÓSTICO: M CONTUSÃO M FRATURA M ENTORSE M LUXAÇÃO
( ) OUTI-GARI M TENDINITE M LOMBALGIA M CORTE
( ) O-GOSHI M LESÃO MUSCULAR M OUTRO _____________________________
( ) SASSAE TRATAMENTO: M IMOBILIZAÇÃO M REPOUSO M FISIOTERAPIA
( ) M CIRURGIA M OUTRO: _______________________________________
OUTROS ___________________________________________________________________________ TEMPO DE TRAT: ________________________________________________
_____________________________________________________________________________________ RETORNO AO ESPORTE: M IGUAL M PIOR M MELHOR
TREINAMENTO HABITUAL (Nº TREINOS POR SEMANA e QUANTAS HORAS):
_____________________________________________________________________________________ LESÃO (LOCAL E DATA): _____________________ LADO: ____________________
PRATICA ALGUM OUTRO ESPORTE? (QUAL?) __________________________________ M TREINO M COMPETIÇÃO M OUTRAS ________________________________________
IDADE NA ÉPOCA DA LESÃO: ____________________________________________________
COMO OCORREU (SUCINTAMENTE) _____________________________________________
ASSINALAR O LOCAL E DATA DAS LESÕES QUE TEVE DURANTE A PRÁTICA _____________________________________________________________________________________
DO JUDÔ:
DIAGNÓSTICO: M CONTUSÃO M FRATURA M ENTORSE M LUXAÇÃO
( ) CRÂNIO ( ) BRAÇO M TENDINITE M LOMBALGIA M CORTE
( ) OLHOS ( ) COTOVELO M LESÃO MUSCULAR M OUTRO _____________________________
( ) NARIZ ( ) ANTEBRAÇO
TRATAMENTO: M IMOBILIZAÇÃO M REPOUSO M FISIOTERAPIA
( ) ORELHAS ( ) PUNHO (PULSO)
M CIRURGIA M OUTRO: _______________________________________
( ) DENTES ( ) MÃOS E DEDOS TEMPO DE TRAT: ________________________________________________
( ) BOCA ( ) BACIA RETORNO AO ESPORTE: M IGUAL M PIOR M MELHOR
( ) MANDÍBULA (QUEIXO) ( ) COXA
( ) COLUNA CERVICAL (PESCOÇO) ( ) JOELHO
( ) TÓRAX/PEITO/COSTELAS ( ) PERNA LESÃO (LOCAL E DATA): _____________________ LADO: ____________________
( ) COLUNA LOMBAR ( ) TORNOZELO M TREINO M COMPETIÇÃO M OUTRAS ________________________________________
( ) OMBRO ( ) PÉ E DEDOS IDADE NA ÉPOCA DA LESÃO: ____________________________________________________
COMO OCORREU (SUCINTAMENTE) _____________________________________________
_____________________________________________________________________________________
DIAGNÓSTICO: M CONTUSÃO M FRATURA M ENTORSE M LUXAÇÃO
M TENDINITE M LOMBALGIA M CORTE
M LESÃO MUSCULAR M OUTRO _____________________________
TRATAMENTO: M IMOBILIZAÇÃO M REPOUSO M FISIOTERAPIA
M CIRURGIA M OUTRO: _______________________________________
TEMPO DE TRAT: ________________________________________________
RETORNO AO ESPORTE: M IGUAL M PIOR M MELHOR

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REPERCUSSÃO NO APARELHO LOCOMOTOR DA PRÁTICA DO JUDÔ DE ALTO NÍVEL

TABELA 3 DISCUSSÃO
Início da atividade competitiva em anos
Este levantamento iniciou-se com a tentativa de estabele-
cer um questionário utilizando apenas 20 atletas, como pla-
Idade mínima Idade máxima Idade média
no-piloto.
Nível A 5 19 9,59 Além do interesse e entusiasmo, os atletas, técnicos e diri-
Nível B 6 16 10,51 gentes, não acostumados a esse tipo de pesquisa, mostraram
Nível C 7 18 11,31 total colaboração, que continuou existindo quando da distri-
buição do questionário oficial.
O fato de esses 20 atletas serem quase iniciantes na práti-
TABELA 4 ca competitiva e, em conseqüência, com maiores dificulda-
Dominância em relação ao nível do atleta des em responder determinados quesitos, nos proporcionou
correções importantes, que nos levaram a um conteúdo mais
Direito Esquerdo Ambidestro
fidedigno.
Nível A 29 (49,15%) 24 (40,68%) 6 (10,17%) O questionário mostrou-se adequado em relação ao pre-
Nível B 21 (63,64%) 8 (24,24%) 4 (12,12%) tendido. Ao lado de dados facilmente fornecidos e sem mar-
Nível C 28 (59,57%) 14 (29,79%) 5 (10,64%) gem de erro, tais como idade, idade inicial do aprendizado e
Total 68 (52,72%) 46 (35,66%) 15 (11,62%) da competição, dominância, nível de competição, categoria
por peso e localização das lesões, encontramos algumas difi-
culdades quando questionados os diagnósticos e a época de
sua ocorrência. Em especial no que diz respeito à terapêutica
TABELA 5
utilizada, praticamente nos restringimos aos casos operados
Relação de média de lesões com nível competitivo
ou não operados, sem nos preocuparmos com as técnicas uti-
Média de lesões Média de lesões
lizadas para tal mister.
totais por atleta osteoarticulares por atleta Outro fato que merece referência diz respeito a nossa op-
ção apenas pelo sexo masculino. Isso pode ser facilmente
Nível A 6,66 5,64 entendido ao sabermos da grande diferença numérica e de
Nível B 5,33 4,42 nível entre os praticantes de judô no sexo masculino em re-
Nível C 4,35 3,48
lação ao feminino.
Quanto à metodologia empregada, apesar de notarmos al-
gumas importantes diferenças quando os questionários eram
TABELA 6 preenchidos com ou sem auxílio dos investigadores, na aná-
Distribuição dos atletas por nível lise final dos resultados, não foram encontradas diferenças
significativas que pudessem alterar o parecer final.
Internacional 45%
Mesmo sabendo que todos os atletas que responderam ao
Nacional 26%
questionário são brasileiros, houve a heterogeneidade neces-
Estadual ou municipal 29%
sária para uma amostra fiel baseada na participação de atle-
tas de diversos níveis, diversas origens, com tipos e intensi-
dade de treinamentos totalmente diversos. Ao lado de atletas
TABELA 7
com treinamento em academias, foram abordados atletas sub-
Tipos de tratamento empregados
metidos a treinamento intensivo para grandes competições
internacionais.
Cirúrgico 5%
Conservador 95% Assim, dentre os 129 questionários estudados, encontra-
mos maior quantidade de atletas do nível A (59 = 45,74%),
Número total de lesões: 721 sendo que do nível B foram 33 (25,58%) e do nível C, 37
Número total de lesões osteoarticulares: 537
(28,68%) (tabela 6).
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ANEXO 2
Tabelas de análise dos dados

TABELA 1

Nº Atleta Idade Inic. prát. Inic. comp. An. prát. Nível Peso Dom. Golpes Lesões Óst-art.

001 WC 29 7 8 22 A 86 D 1,3,9 12 12
002 RSAL 26 8 11 18 B 86 D 1,3,4,15 14 12
003 LBR 20 4 9 16 A 65 E 2,3,5,6,9,12 7 7
004 GRA 22 12 14 10 A 60 D 2,6 5 4
005 HCSAG 22 6 8 16 A 65 D 1,3,5 5 3
006 SRDP 19 4 11 15 A 71 A 1,3,6,13 9 8
007 LCZ 21 7 14 14 A 78 E 2,3,5,12 9 7
008 JCSL 30 8 9 22 A 86 E 1,2,3,6,8 8 7
009 EQF 23 9 10 14 A >95 E 1,2,3,5,7,9,11 8 8
010 RVS 17 5 8 12 B 60 E 3,8 2 1
011 IBJ 20 6 9 14 C 71 E 5,6,13 5 4
012 MQ 17 7 9 10 B 60 D 2,5,7,8,13,14 7 6
013 RG 18 9 9 9 C >95 D 1,4 3 3
014 FAZJ 17 10 11 7 B 60 E 3,5,6,8,9,13 2 1
015 AAC 21 10 12 11 C 65 D 5,6,8,15 7 5
016 FAGN 15 4 7 11 A 78 E 1,3,4,7,9 4 1
017 EZG 16 4 7 12 C 60 E 2,3,4,6,11 2 2
018 ATK 20 4 10 16 A 71 D 1,2,3,5,6,8,13 8 6
019 RNC 18 8 10 10 B 65 D 1,2,3,5,6,7 9 7
020 AL 18 7 11 11 B 60 E 1,2,6,8 4 4
021 MSJ 23 7 10 16 A 86 E 1,2,3,8 7 6
022 RKM 15 7 8 8 B 60 D 3,6 2 2
023 AKS 15 6 10 9 C 86 E 1,2,3,4,6,10 2 2
024 MAC 24 10 11 14 A 65 E 1,2,3,6,7,9 5 4
025 FSM 17 11 12 6 B 78 E 1,5,6,7,8 3 3
026 ECS 20 10 14 10 B 60 E 1,2,3,5,8,9,15 9 8
027 VGA 18 6 8 12 B 65 D 5,6,7,9 2 2
028 MCB 21 14 18 5 C 78 E 2,8,9,11 6 6
029 MGN 22 8 9 14 B 60 D 5,6,8,9,13 6 6
030 SRSV 28 8 9 20 A 71 A 5,6,15 10 8
031 CGM 20 9 10 11 A 65 E 3,5,6,8,9,10 4 3
032 FKM 18 7 8 11 A 60 D 1,3,6 4 3
033 AM 20 9 10 11 A 95 D 1,2,3,10,11,12 10 10
034 DML 18 11 12 7 A 60 A 1,5,6,7,9 3 3
035 AAL 17 11 11 6 C >95 D 1,4,11 15 12
036 CAC 18 6 13 12 A 71 D 2,3,5,8,15 9 6
037 MFOM 17 10 13 7 C 65 D 1,4,7 7 6
038 MM 17 10 11 7 B 71 E 1,2,4,6,7,8,9 5 4
039 LCF 18 11 14 7 B 71 D 1,2,5,6,9 3 3
040 PGC 21 7 8 14 A 65 D 1,2,3 7 6
041 CAFM 33 4 12 29 A 95 D 1,2,5,6,15 5 5
042 NO 37 11 11 26 A 65 D 6,15 9 7
043 JABB 30 9 9 21 A 71 E 2,5,7,9,11 10 9
044 AFM 31 5 8 26 A 95 E 1,2,3,9 8 7
045 ROR 22 8 9 14 A 95 E 2,3,7 6 6
046 RV 26 15 16 11 C 86 D 6,7,8,9 2 0
047 CAB 25 9 11 16 A 65 D 2,4,7,8 8 7 ©

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REPERCUSSÃO NO APARELHO LOCOMOTOR DA PRÁTICA DO JUDÔ DE ALTO NÍVEL

© Nº Atleta Idade Inic. prát. Inic. comp. An. prát. Nível Peso Dom. Golpes Lesões Óst-art.

048 FR 22 7 9 15 A 78 D 1,3,7,9,11 3 2
049 ST 37 11 12 36 A 60 D 2,3,7,15 3 3
050 HNS 20 10 17 10 C 65 D 5,6,8,9 5 4
051 FSI 21 9 10 12 C 65 D 1,3,5,6,7,9 3 2
052 EM 22 6 8 11 B 78 A 3,5,11 5 3
053 RYS 16 7 13 9 C 65 E 5,6 4 3
054 LACV 23 8 9 15 C 78 D 3,6,11 4 3
055 ELCJ 23 8 10 15 C 78 D 3,6,11 2 2
056 DV 35 4 14 31 A 95 D 3,6,15 5 3
057 CCOF 20 18 18 2 C 71 D 1,4,8,10 6 4
058 MK 19 6 8 13 A 71 D 5,6,7,8,9 4 3
059 DGI 17 11 11 6 C 71 D 5,6,7 4 3
060 JDF 30 3 9 27 A 86 A 2,7,9 8 7
061 JCG 33 3 8 30 A 86 E 2,3 10 9
062 TAS 32 17 19 15 A 95 D 3,4,7,8,9 2 2
063 ATTV 33 12 13 21 B 78 D 4,6,15 9 7
064 MN 31 8 10 20 B 78 D 1,3,6,10 2 1
065 DAH 16 5 8 11 C >95 E 4,10,15 3 3
066 LPMS 16 8 11 8 C 65 D 1,3,5,6 5 5
067 MPP 21 6 13 15 C 60 D 3,6,9 2 2
068 WSS 20 12 15 8 C 86 E 4,5,8 5 5
069 PRPN 15 6 8 9 C 60 A 1,3,4,6 2 2
070 FLS 15 5 8 10 C 60 A 3,8 3 3
071 SAAP 33 7 10 26 A 65 E 3,4,9,11 4 3
072 AI 15 11 13 5 C 60 A 2,3,5,6,7,9 12 8
073 EK 24 4 8 20 A 60 A 3,5,6,9,15 8 8
074 CCSC 18 6 6 12 B 86 D 3,6,11 4 4
075 HAL 44 8 10 36 B 78 D 1,2,3,8,15 9 7
076 JTS 29 6 9 23 C 60 D 5 7 6
077 JRGL 27 6 14 21 B 95 A 4,15 14 11
078 MA 31 6 12 25 B 86 D 1,3,9,11 5 4
079 ETJ 28 12 12 16 B 95 D 1,2,3,8,9 6 6
080 DDA 24 4 5 20 A 95 D 1,3,15 6 5
081 MTC 19 6 8 13 A 78 D 1,3,7,8 3 3
082 BBS 52 18 18 34 C 86 D 4,7 4 4
083 FA 37 7 7 30 A 71 D 1,3,7,9 9 8
084 GLB 23 7 10 17 B 78 D 2,3,5.6 3 3
085 MMS 22 7 13 15 C 60 E 5,7,8 8 7
086 RCT 29 8 9 21 B 71 E 6,8 11 9
087 NAB 27 13 17 14 A 65 E 2,4,5,8,9 9 8
088 CEH 20 8 9 12 A 86 D 5,6,8 2 1
089 SFS 27 10 12 17 A 95 D 1,3,4,7,8,9,11 2 1
090 JGR 25 15 16 10 B 65 D 6,15 3 3
091 RD 26 6 10 20 A 78 E 1,2,3,7,10 3 2
092 RN 21 8 14 13 B 78 A 1,5,6,7,8 11 8
093 GZC 25 7 9 17 C 78 D 1,3,9 3 3
094 FWPC 19 5 8 14 C 95 D 1,3,4,10 13 9
095 HCFS 17 11 11 6 C 65 D 2,3,9 5 4
096 VAE 16 8 10 8 C 60 E 2,4,5,6,9,10 10 7
097 RS 28 4 8 24 A 65 E 1,4,7 11 9
098 RNA 15 4 6 11 B 65 A 1,3,4,6,7,8,11 7 6
099 HFLJ 16 8 12 8 C 78 E 1,2,9,11 2 2
100 ACS 16 6 10 10 C 71 D 5,6,7,9 4 4 ©

Rev Bras Ortop _ Vol. 31, Nº 12 – Dezembro, 1996 963


J.G. CARAZZATO, H. CABRITA & W. CASTROPIL

© Nº Atleta Idade Inic. prát. Inic. comp. An. prát. Nível Peso Dom. Golpes Lesões Óst-art.

101 CS 28 8 11 20 B 71 D 2,9,11 6 4
102 WC 34 5 7 29 A 86 D 1,2,9 6 5
103 JTSM 35 5 8 30 A 95 E 1,2,3,9 9 8
104 CASP 35 5 8 30 A 95 A 3,4,11 8 6
105 WT 24 9 9 15 B 71 D 2,3,8 2 2
106 AL 27 9 11 18 C 86 D 1,4 5 5
107 PS 28 8 9 20 A 86 E 2,3,15 7 5
108 FS 27 7 10 20 B 78 D 6,8 7 7
109 LSS 36 4 6 32 A 60 E 3,8,11 7 6
110 FF 31 7 10 24 A >95 D 3,5,9 10 8
111 CEH 27 8 9 19 A 86 D 5,6,8 4 3
112 MSO 30 7 8 23 A 86 D 4,7,11,15 7 5
113 MJ 40 7 8 33 A 60 D 5,6,8 5 5
114 NDA 26 8 9 18 A 95 E 3,8,15 8 7
115 RC 28 6 7 22 A 86 E 1,3,9,11 3 2
116 JMT 31 10 13 21 A >95 E 3,9,11 7 6
117 EZ 21 5 7 16 A 86 D 1,2,3,8 9 6
118 MD 29 7 8 22 A 86 D 9,11,15 5 4
119 RC 27 10 11 17 B 65 D 2,3,8 4 4
120 RC 29 7 10 22 B 71 E 5,6,8 5 4
121 EK 27 9 10 18 B 71 D 2,6,11 6 4
122 RN 29 7 8 22 A 86 E 3,11 8 7
123 AMN 32 7 8 25 A 78 D 2,3,9,11,15 6 6
124 DMP 33 8 10 25 B 71 D 2,3,8 8 6
125 CAML 34 8 12 26 C 86 D 5,6,9 3 1
126 JAML 29 8 12 21 C 71 E 5,8 6 5
127 MS 28 15 17 13 C 71 A 1,3,7,9,11,15 2 1
128 RML 31 7 9 24 C 65 D 1,2,3 5 2
129 MD 26 6 9 20 A 86 E 1,3,8,15 14 12

CÓDIGOS DA TABELA: AB: ANTEBRAÇO


TCE: TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO OU OCULAR: P: PUNHO: CONTUSÃO
LESÃO OCULAR EM CÓRNEA FRATURA
LESÃO OCULAR COM FCC SUBLUXAÇÃO
LESÃO OCULAR (CONTUSÃO) DED: MÃO E DEDOS: CONTUSÃO
OR: ORELHAS: HEMATOMA/CONTUSÃO/FRATURA LUXAÇÃO
BMF: LESÃO BUCO-MAXILO-FACIAL FRATURA
DENTE FRATURADO B: BACIA: CONTUSÃO
FRATURA DE MANDÍBULA CIRÚRGICA FRATURA-AVULSÃO
DESVIO DE MANDÍBULA COX: COXA: LESÃO MUSCULAR
FCC EM LÁBIO JOELHO: JL: LESÃO LIGAMENTAR
CE: CERVICAL: CONTUSÃO MEN: LESÃO MENISCAL
FRATURA JOC: OUTROS OU CONTUSÃO NÃO ESPECIFICADA
SUBLUXAÇÃO PE: PERNA: CONTUSÃO OU INFECÇÃO
LUXAÇÃO T: TORNOZELO: CONTUSÃO/ENTORSE/FRATURA
CO: COSTELAS: FRATURA/CONTUSÃO PÉ: CONTUSÃO DE DEDO
LO: LOMBAR: CONTUSÃO/LESÃO N. CIÁTICO/FIBROMIALGIA LUXAÇÃO DE DEDO
OMBRO: GU: LESÃO EM ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL FRATURA DE DEDO
CONTUSÃO FASCIÍTE PLANTAR
SUBLUXAÇÃO OU INSTABILIDADE DOR CRÔNICA
LUXAÇÃO O: LESÃO EM SEGMENTO CEFÁLICO
DOR CRÔNICA NÃO ESPECIFICADA A: LESÃO ARTICULAR
AC: LESÃO ACROMIOCLAVICULAR F: FRATURAS
CONTUSÃO LM: LESÃO MUSCULAR
LUXAÇÃO C: CONTUSÃO NÃO ESPECÍFICA
DOR CRÔNICA S: LESÃO CIRÚRGICA
OU: OUTROS
C: COTOVELO: CONTUSÃO
SUBLUXAÇÃO
LUXAÇÃO
FRATURA
EPICONDILITE
DOR CRÔNICA

964 Rev Bras Ortop _ Vol. 31, Nº 12 – Dezembro, 1996


REPERCUSSÃO NO APARELHO LOCOMOTOR DA PRÁTICA DO JUDÔ DE ALTO NÍVEL

25
20
No absoluto

NÍVEL C
15
AMBI
10 NÍVEL B SINISTRO
5 DESTRO

0 NÍVEL A
<60

>95
60 a 65

65 a 71

71 a 78

78 a 86

86 a 95 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

categoria (em kg)


Gráfico 2 – Distribuição, em percentagem, de dominância por nível de com-
Gráfico 1 – Distribuição dos atletas por categoria petição

7
8 6
5
lesões/atleta

6
lesões/atleta

4
4
3
2 2
0 1
<5 6 - 10 11 - 15 16 - 20 21 - 25 26 -30 0
anos de prática esportiva <5 6 - 10 11 - 15 16 - 20 21 - 25 26 -30
anos de competição

Gráfico 3 – Distribuição do número de lesões por atleta, segundo os anos Gráfico 4 – Distribuição do número de lesões por atleta, segundo os anos
de prática de atividade esportiva

Da mesma forma, tivemos distribuição proporcional entre dia de 2,47 anos se nos apresenta insuficiente para um emba-
as categorias por peso, conforme mostra o gráfico 1, com samento físico, técnico e psíquico necessário para o judô de
decréscimo natural nas categorias de maior peso, fato carac- competição.
terístico deste esporte. Em relação às idades em função do nível dos competido-
Em relação às idades de início do aprendizado (tabela 1), res (tabelas 2 e 3), apesar de pequena diferença do nível A
encontramos desde crianças com três anos até adultos de 18 em relação aos níveis B e C, o fato não nos pareceu signifi-
anos, com idade média de 8,85 anos. Isto demonstra a total cativo, não só em relação ao início do aprendizado como
falta de critério em estabelecer a época ideal do início do também quanto ao início da atividade competitiva.
aprendizado, em um esporte em que os fatores força física e No entanto, para o lado da dominância (tabela 4 e gráfico
psíquica são de suma importância. 2), encontramos elevado número de atletas canhotos incluí-
A mesma incoerência ocorre quando encontramos crian- dos no grupo A (40,68%) em relação aos níveis B (24,24%) e
ças com cinco anos já colocadas em competição, ao lado de C (29,79%). Tal fato pode ser explicado pela maior facilida-
adultos que só iniciaram o período competitivo com 19 anos. de de treinamento de luta dos canhotos em relação a prepon-
A média de 11,32 anos como idade inicial de competição derância natural de destros, os quais, em contrapartida, en-
parece-nos também, além de precoce, não se basear em cri- contrariam menor quantidade de canhotos para seu aprendi-
térios bem definidos. zado técnico e tático propício para vencê-los.
Por outro lado, ao verificarmos o período de aprendizado A incidência média de lesões em função do nível dos com-
necessário para que a competição pudesse ser iniciada, veri- petidores (tabela 5) mostrou a preponderância de lesões em
ficamos o irreal de atletas que não completaram sequer um atletas do nível A em relação aos do nível B e destes em
ano desse aprendizado, em relação a outros que exigiram um relação ao nível C, o que caracteriza a conseqüência dos es-
mínimo de dez anos para poder entrar em competição. A mé- forços maiores para alcançar melhores resultados.
Rev Bras Ortop _ Vol. 31, Nº 12 – Dezembro, 1996 965
J.G. CARAZZATO, H. CABRITA & W. CASTROPIL

seg.cefálico
7 16,76%
6 mm.inferiores
34,49%
lesões por atleta

5
4 seg.axial
3 12,47%
2
1
0
>60 a 65

>65 a 71

>71 a 78

>78 a 86

>86 a 95

>95
até 60

mm.superiores
categoria em kg
36,29%

Gráfico 5 – Distribuição de lesões por atleta, segundo a categoria Gráfico 6 – Distribuição topográfica das lesões por segmento corpóreo

80
4,00
70 3,50
60 3,00 Lesões músculo-tendíneas
2,50 Fraturas
50
2,00 Seg.cefálico
40 Outras lesões
1,50
30 1,00 Lesões articulares
0,50
20
0,00
>60 a 65

>65 a 71

>71 a 78

>78 a 86

>86 a 95

>95
até 60

10

0
auricular

BMF

bacia
lombar
TCE

coxa
mão


cervical

ombro

perna
punho

joelho
ante-braço
tórax

tornozelo
cotovelo

peso em Kg

Gráfico 8 – Distribuição de lesões por atleta, segundo a categoria e tipo de


Gráfico 7 – Distribuição das lesões por região anatômica lesão

Notamos também que atletas que permanecem por mais


tempo em competição (gráficos 3 e 4) e que, conseqüente- fraturas
5,96%
mente, atingem idades mais elevadas em atividade, apresen-
segmento cefálico
tam maior número de lesões, o que acompanha a ocorrência 16,92%
comum aos demais esportes de competição pela deterioriza-
ção gradativa do aparelho locomotor, própria da atividade articulares
física intensa e sobremaneira ambiciosa. 48,40%

Notamos ainda que existe proporção direta entre a média


do número de lesões/atleta e categoria por peso (gráfico 5).
Assim, os judocas mais pesados se apresentam mais suscetí-
outras lesões
veis a lesões. Verificamos ligeira discrepância na categoria ósteo-articulares
de 71 até 78kg, o que, dentro dos dados possíveis de serem 25,52% lesões musculares
analisados, não nos deixa possibilidades de explicação lógi- 3,19%

ca. Sabemos, no entanto, que nessa categoria o Brasil não se


vem destacando no cenário internacional da mesma forma Gráfico 9 – Tipos de lesões encontradas
como nas demais.
No que diz respeito à localização topográfica das lesões Entretanto, quando analisadas em pormenor as regiões ana-
(gráfico 6), observamos equivalência quanto a sua distribui- tômicas das lesões (gráfico 7), observamos a predominância
ção nos membros inferiores (34,49%), membros superiores de determinadas localizações, sendo o ombro a articulação
(37,29%) e segmentos axial e cefálico somados (29,22%). mais lesada (72,13%), seguida suscessivamente pelo joelho
966 Rev Bras Ortop _ Vol. 31, Nº 12 – Dezembro, 1996
REPERCUSSÃO NO APARELHO LOCOMOTOR DA PRÁTICA DO JUDÔ DE ALTO NÍVEL

3
3
2,5
2,5
lesões por atleta

2
2
lesões/atleta1,5 Nível A
1,5 Nível B
1
1 Esq.axial Nível C
0,5
0,5 MMSS
0
0 MMII Lesões Fraturas Seg.cefálico Outras Lesões
>60 a 65

>65 a 71

>71 a 78

>78 a 86

>86 a 95

>95
até 60

músculo- lesões articulares


tendíneas

categoria em kg Gráfico 11 – Número e tipo de lesões/atleta por nível de competição

Gráfico 10 – Relação entre categorias e número de lesões por atleta e topo- No entanto, notamos que essa pequena incidência foi e está
grafia das lesões concentrada mais especificamente em atletas do nível A.

(63,59%), mão (62,02%), pé (53,49%), tornozelo (49,62%), CONCLUSÕES


lesões auriculares (46,51%) e cotovelo (41,87%), que carac-
terizam os componentes corpóreos mais utilizados e conse- • É muito precoce o início da prática e da atividade com-
qüentemente mais comprometidos na prática do judô. petitiva nos atletas de judô.
Notamos proporções semelhantes dos tipos de lesões em • O número de canhotos é proporcionalmente maior nos
cada categoria por peso (gráfico 8), havendo apenas aumen- atletas de nível internacional.
to das lesões não especificadas nos atletas de maior peso. • Atletas de maior nível de competição têm maior núme-
A alta incidência de lesões articulares, atingindo cerca de ro de lesões.
metade do número de lesões (48,40%, conforme o gráfico • O número de lesões aumenta com os anos de prática e
9), faz das articulações o ponto nevrálgico do judoca. A pe- de competição.
quena quantidade de fraturas (5,96%) e de lesões musculares
• A incidência de lesões nos membros inferiores, mem-
(3,19%) ao lado de comprometimento no segmento cefálico
bros superiores e esqueleto axial e segmento cefálico é se-
(16,92%), ainda de outras lesões menos explicitadas
melhante.
(25,52%), demonstra que o judô, como esporte de contato
• Nas categorias de menor peso predominam as lesões nos
direto, com cadeias cinéticas fechadas, leva à preservação
membros superiores, o que se inverte em relação às catego-
do motor principal, que é o músculo, do braço de alavanca
rias de maior peso, com maior incidência de lesões nos mem-
principal, que é o osso, em detrimento dos fulcros do movi-
bros inferiores.
mento, que são as articulações.
Em relação à distribuição do número e localização das • Os locais de maior acometimento de lesões são: ombro,
lesões dos atletas por categoria (gráfico 10), notamos certa joelho, mãos e dedos, pés, tornozelos e orelhas, nesta ordem.
predominância das lesões nos membros superiores em rela- • Quanto mais pesado o atleta, maior o número de lesões.
ção aos membros inferiores em atletas de menor peso corpó- • As lesões articulares são as mais comuns.
reo, relação essa que se inverte em atletas de peso maior que • As indicações cirúrgicas são exceção no tratamento das
86kg. lesões do judô, estando concentradas nos atletas de nível in-
Quanto ao número e tipo de lesões por atleta por nível de ternacional.
competição (gráfico 11), a distribuição foi homogênea.
Analisando a terapêutica empregada (tabela 7), notamos REFERÊNCIAS
identidade em relação àquela utilizada para os demais espor- 1. Carazzato, J.G. et al: Incidência de lesões traumáticas em atletas com-
tes, em que as indicações cirúrgicas (5,40%) foram de exce- petitivos de dez tipos de modalidades esportivas – Trabalho individual
ção e só puderam ser empregadas nos casos em que o trata- de duas décadas de especialista em Medicina Esportiva. Rev Bras Or-
top 27: 745-758, 1992.
mento conservador se mostrou insuficiente (94,60%). Esta é
2. Carazzato, J.G. et al: Equipe médica do Comitê Olímpico Brasileiro:
realmente a tônica empregada atualmente, com indicação ci- atendimento médico-esportivo. Jogos Pan-Americanos – Mar del Plata
rúrgica restrita aos casos em que ela se torna indispensável. – 1995. Rev Bras Med Esport 1: 69-79, 1995.

Rev Bras Ortop _ Vol. 31, Nº 12 – Dezembro, 1996 967


J.G. CARAZZATO, H. CABRITA & W. CASTROPIL

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968 Rev Bras Ortop _ Vol. 31, Nº 12 – Dezembro, 1996

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