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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS - DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Atividade do Censo

Rafael Alves Pinto e Rodrigo Ramalho

Belo Horizonte
2021

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A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO IMPÉRIO ATÉ A REPÚBLICA

A imigração de alemães para o Brasil se insere no contexto de crescimento do


capitalismo industrial na Europa, as péssimas condições sociais no continente em
consequência dessa industrialização e a oportunidade de enriquecimento ou de garantia a
alguma porção de terra no continente americano. O governo brasileiro incentivava a
imigração pela justificativa de expansão demográfica do recém emancipado país, a ocupação
do território por meio de povoamento, a necessidade de mão de obra além de ideias da criação
de uma sociedade esbranquiçada pautada na democracia racial, no darwinismo social e na
política de branqueamento. 
A imigração alemã não foi a ideal do ponto de vista dos Governos Imperiais, uma vez
que o Estado priorizava etnias latinas, haja vista que se assimilariam melhor a cultura
brasileira e não formariam “grupos” étnicos fechados. Devido a isso, De acordo com
Lúcio Kreutz(1985), “até 1929, entraram no Brasil 1485000 italianos, 1321000 portugueses,
583000 espanhóis, 223000 alemães, 86000 japoneses.” Os demais se deslocaram para os
Estados Unidos, Uruguai, Argentina, Austrália e para outros destinos. Ou seja, não só durante
o império, mas também durante as duas primeiras décadas do século XX, o Estado brasileiro
priorizava a entrada de portugueses, espanhóis e italianos, devido a capacidade maior de se
adaptar à língua e também à religião católica. 
A intensificação dessa imigração só aconteceu após 1850, quando a colonização
passou a ser responsabilidade dos governos provinciais. A iniciativa privada contribuiu na
fundação de colônias em Santa Catarina destacando-se a Colônia Blumenau (Hermann
Blumenau e Ferdinand Hackradt), em 1850, e a Colônia Dona Francisca,
atual Joinvile (Sociedade Hamburguesa), em 1851. 
Outro ponto importante da imigração teuta foi segundo GREGORY (2013) a
necessidade do Brasil em ocupar as áreas fronteiriças entre o Rio Grande do Sul, a antiga
província da Cisplatina e a Argentina que possuíam os “vazios demográficos”. Diante disso,
as imigrações alemãs passaram a se dirigir, preferencialmente, para as regiões Sudeste e Sul
do país.  A partir do final do século, com a Proclamação da república em 1889, o Estado do
Brasil incentivava o estabelecimento de colônias alemães com a finalidade de prover mão-de-

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obra substituta à escrava para as lavouras de café, fornecer camponeses para núcleos coloniais
que iam sendo criados e povoar as regiões fronteiriças afim de manter sob domínio brasileiro. 
 Além destes grupos de alemães situados na porção meridional do país, foram criados
outros núcleos isolados em outras localidades do território brasileiro, como Nova Friburgo
(RJ), em 1818, Santo Amaro (SP), em 1828, Santa Izabel e Santa Leopoldina (ES), fundadas
respectivamente em 1847 e 1857; Nova Friburgo e Petrópolis (RJ), em 1819 e 1845; Teófilo
Otoni e Juiz de Fora (MG), em 1847 e 1852; e São Jorge dos Ilhéus (BA), em 1818. 
 
AS COLÔNIAS ALEMÃS

A entrada dos alemães no Brasil, aconteceram durante o Primeiro Império, e ocorriam


pelo porto do Rio de Janeiro na qual, a partir dali, eram organizados e encaminhados aos seus
locais de destino, constituindo dessa forma, as colônias. Durante o Segundo Império,
passaram a ser utilizados outros portos, como o de Santos, de Itajaí, de Rio Grande. As
colônias, depois de criadas, iam recebendo colonos de diferentes origens. Desta forma, as
colônias poderiam ser formadas e compostas por falantes do alemão oriundos de diversas
localidades da Europa.  
Outra característica importante dessas colônias era seu objetivo de colonizar o sul do
Brasil, que buscava um povoamento por pequenos agricultores que produzissem alimentos em
lotes de sua propriedade e também a necessidade de solucionar a carência de mão-de-obra nas
propriedades destinadas ao cultivo do café.  
A consequência da formação de colônias alemãs e a concentração desses colonos de
mesma origem contribuiu na formação de grupos relativamente homogêneos e isolados. Os
povoados formados dentro dos núcleos coloniais, denominados de linhas constituíram uma
identidade própria, uma religião protestante luterana, costumes próprios, escolas próprias e até
mesmo uma espécie de “isolacionismo”. 
Do ponto de vista brasileiro, essa situação se encaixa no debate racial e de identidade
do país. De um lado, existia a ideologia do branqueamento que enxergava a melhoria da “raça
brasileira” por meio do mesticismo e da democracia racial. De outro lado, aumentava a
preocupação referente ao perigo da formação de “quistos étnicos” no Brasil que durante os

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anos de 1930, vão enxergar os imigrantes como inimigos do Estado que precisam ser
combatidos em defesa da cultura brasileira.   
O Estado Novo e o governo Vargas vão nortear e colocar em pauta as questões
emigratórias, o que vai repercutir nos gráficos e sensos da época, uma diminuição da
imigração para o Brasil. 
 
AS POLÍTICAS DE IMIGRAÇÃO DURANTE O ESTADO NOVO

Durante o Estado Novo, entre os anos de 1937 e 1945, o Brasil passou por uma
extensa Campanha de Nacionalização, um processo de “abrasileiramento” das colônias de
imigrantes e descendentes alemães, italianos e, em número menor, japoneses. O regime foi
constituído pelo governo de Getúlio Vargas com o intuito de construir uma nacionalidade e
identidade cultural uniforme para o país. 
Para a operação da campanha, a principal ação era eliminar os chamados “quistos
étnicos” do Brasil, ou seja, comunidades e colônias não integradas ou assimiladas a população
brasileira. Esses locais criavam, na visão do Estado, um fator de desagregação para a
emergente ideia de nacionalidade.  
Segundo Gertz (2019), com a revolução de 1930 e com a subida de Getúlio ao poder,
os imigrantes italianos e alemães não sofreram uma nacionalização imediata. Porém, com a
instituição do Estado Novo em 1937, o processo de nacionalização começou a se tornar
institucionalizado.  
Inicialmente, ocorreu o fechamento das escolas privadas de língua não brasileira, no
início do ano letivo de 1938. Em 1939 foram proibidos os cultos e a imprensa em língua
estrangeira. Um exemplo de repressão foi a mudança de nome do Deutsches Volksblatt, um
dos principais jornais teuto-brasileiros da época, para A Nação, em 1941. O português passou
a ser o único idioma permitido em público. Falar alemão ou italiano acarretava em multa ou,
em alguns casos, prisão. 
 
 

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Edição de 1°/02/1942 do jornal A Nação, de Caxias do Sul (Imagem: Arquivo/Câmara Municipal de Caxias do
Sul).  
Porém, é a partir do início da Segunda Guerra Mundial, e com a entrada efetiva do
Brasil no conflito, em 1942, que se iniciam medidas mais severas contra as colônias,
principalmente as de origem alemã. 
De acordo com Gertz(2019), Getúlio passou a prender alguns imigrantes alemães pró-
nazistas em 1942 no chamado “campo de concentração da Colônia Penal Daltro Filho, em
Charqueadas”. A Revista do Globo  apresentou uma matéria em abril de 1942, sobre esse
campo e concluiu: “um campo de concentração modelo, onde espiões nazistas sambam e
plantam batatas”.  
O momento de maior violência física simultânea contra as colônias alemãs ocorreu nos
dias 18 e 19 de agosto de 1942, quando submarinos alemães afundaram o quarto navio
brasileiro. As represálias por parte da população brasileira por meio de manifestações e
depredações as comunidades alemãs e imigrantes teve inclusive apoio do Estado.
Segundo Gertz(2019),  a Polícia Militar gaúcha também não tomou nenhuma medida para
coibir as depredações. “Apenas no final do segundo dia que as manifestações pararam, pois o
Exército interveio para pôr fim às depredações.” 
Outro momento de violência contra os teuto-brasileiros foi a destruição do
Monumento ao Imigrante, na Praça Centenário, em São Leopoldo, instalado durante as
comemorações do centenário da imigração alemã. No dia 12 de março de 1942, a cabeça da

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estátua representando o imigrante foi arrancada por populares e o restante, atirado no Rio dos
Sinos. O motivo da depredação foi o afundamento de diversos navios brasileiros, pelas mãos
dos submarinos alemães. 
Gertz(2019) explica que a violência e a repressão popular e estatal em relação as
colônias principalmente alemãs geraram impactos até a segunda geração desses imigrantes.
Essa questão só começou a ser sanado após quase três décadas. “Após a Segunda Guerra
Mundial e mesmo com o fim da Campanha de Nacionalização, era raro ver alguém falando
alemão. Foi só com a aproximação dos 150 anos da imigração, em 1974, que os festejos
germânicos começaram a ser realizados novamente, como Kerbs e Oktober Fests”. 
 
ANÁLISE DO SENSO (1930 até 1949)
 

Fonte: MAUCH et al., 1994, p 165. 


 

Fonte: MAUCH et al., 1994, p 165. 


 

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Comparando o gráfico com a tabela é possível identificar entre 1930 a 1939, uma
queda abissal de imigrantes alemães se comparada entre o período de 1920 à 1929. Os dados
mostram que no período de 1920 à 1929, o número oficial de imigrantes alemães segundo o
censo é de 75.801, uma variação de quase 300% em relação ao período de 1910 à 1919.
Trazendo para o contexto histórico da época, é importante ressaltar que após o fim da
primeira guerra mundial, a assinatura do Tratado de Versalhes, a criação da República de
Weimar e a crise de 29, esses acontecimentos geraram forte desconfiança do povo alemão em
relação aos rumos que o país germânico tomaria, portanto, é entendido que esse fluxo
migratório de alemães se dá pela crise instaurada na Europa durante as três primeiras décadas
do século XX. 
Os dados referentes aos anos entre 1930 e 1939 contabilizam oficialmente, 27.497, ou
seja, uma queda de aproximadamente 64% dos imigrantes em relação a década anterior.
Trazendo esses dados para o contexto histórico da época é importante ressaltar que durante
esse período no Brasil ocorre a Revolução de 30, na qual Getúlio Vargas por meio de um
golpe assume a presidência do Brasil e em 1937 instaura o Estado Novo. No cenário mundial,
nesse período ocorre a ascensão do partido nazista na Alemanha em 1933. Durante essa
década, vão acontecer diversas ditaduras de orientação fascista como na Espanha e em
Portugal e também vai eclodir a Segunda Guerra Mundial. 
Os dados do senso referentes aos anos de 1940 à 1949 revelam uma queda brusca de
imigrantes alemães em relação a todos os anos computados desde 1824. Isso revela que a
imigração alemã nesse período não foi relevante para os dados imigratórios, porém, revelam o
contexto histórico e geo-político entre Alemanha e Brasil. Nesse contexto, a Alemanha desde
a década anterior vem promovendo a política de Lebensraum, ou o “espaço vital”. Essa
política visava a volta dos alemães imigrantes para a Alemanha, além de desestimular a saída
de Alemães para outras fronteiras. Além disso, com a eclosão da segunda guerra mundial, os
alemães foram submetidos ao serviço militar obrigatório, lutando tanto nas frentes orientais
quanto ocidentais, o que dificultou ainda mais o visto de imigração.  
 

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É possível com essa última tabela perceber a média anual de imigrantes alemães em
determinadas décadas no Brasil. Embora não seja possível ratificar a imigração alemã em
épocas específicas como em 1930 com a Revolução de 30, em 1933 com a ascensão nazista
na Alemanha, em 1937 com a instauração do Estado Novo, em 1939 com o início da Segunda
Guerra Mundial, em 1941 com o início da Solução Final e genocídio de judeus, polacos,
eslavos, deficientes, tchecos, ciganos, testemunhas de jeová, entre outros, nem em 1942 com a
entrada do Brasil na guerra e nem do fim da guerra em 1945, é possível pensar as
consequências e causas de cada acontecimento no fluxo migratório entre Brasil e Alemanha.  
 
OS ALEMÃES E A POLÍTICA DO ESPAÇO VITAL NAZISTA
 
O conceito de Lebensraum se tornou uma ideologia afirmativa após a unificação da
Alemanha, por meio dos trabalhos do Friedrich Ratzel. 
O Século XIX foi marcado pelo imperialismo e pelo neocolonialismo.  As grandes
potências mundiais buscavam anexar e conquistar grandes extensões de terras a fim de
garantir um pleno desenvolvimento de suas capacidades econômicas. Ratzel, a partir desse
contexto geo-político estruturou uma doutrina que mesclava o darwinismo social com a
expansão territorial.  
O discurso ideológico de Ratzel serviu como referência e embasamento teórico para o
movimento nacionalista. Segundo Snyder (2016), o espaço vital era encarado não apenas no
sentido político-econômico, mas também no sentido propriamente ecológico, isto é,
de habitat. 

“A natureza desconhece limites políticos”, escreveu Hitler. “Ela põe forma de vida
neste mundo e os deixa livres no jogo pelo poder”. Como política era natureza, e

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natureza era luta, não havia pensamento político possível. Essa conclusão era uma
formulação extremada de um lugar-comum do século XIX segundo o qual as
atividades humanas podem ser entendidas como manifestações biológicas.”  

Segundo Snyder (2016), para Hitler, a “incessante luta entre as raças não era um
elemento da vida, mas sua essência”.   
Hitler ainda acreditava que doutrinas com pretensões universalistas como a
democracia liberal e o comunismo eliminavam o caráter de nação, de identidade, da política
como natureza e ia contra os valores nacionalistas pregados pelo nazismo. 
O Lebensraum portanto, para o nazismo era a conquista expansiva do território
alemão, garantindo o “espaço vital” além de recursos e bem estar da raça ariana. A partir
disso, o Terceiro Reich implementa uma política de mobilização internacional, de forma que,
os imigrantes alemães pelo mundo, voltariam para a nação de origem. 
Essa política implementada pelo regime nazista a partir de 1933, Segundo Oliveira
(2008) fez com que muitos brasileiros descendentes de alemães lutassem em nome do
Terceiro Reich, “pela legislação nazista, filhos de alemães eram considerados alemães e, em
tempo de guerra, eram obrigados a prestar serviço militar na Wehrmacht (forças armadas
alemãs). Centenas de brasileiros lutaram na Segunda Guerra Mundial sob a bandeira da
Alemanha nazista”. 
 
OS BRASILEIROS “NAZISTAS”
 
“Der Amerikaner” 
 

 
Gingo (ao centro)  
Fonte: OLIVEIRA, Dennison de.Os Soldados Brasileiros de Hitler. Editora Jurua, 2008. 

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Conhecido por seus colegas soldados como “Der Amerikaner” (o Americano), por ter
nascido no Brasil, seu apelido era Gingo (ou Güingo, a pronúncia). Gingo nasceu em São
Paulo, em 1925, filho de alemães que vieram para o Brasil em 1923. Em agosto de 1939,
Gingo é levado para a Alemanha, para se “tratar” de febre amarela. Aos 14 anos, teve se filiar
na Jungvolk, “organização juvenil controlada pelo regime nazista”. A doutrinação ideológica,
segundo o entrevistado, não era fanática nem excessiva. Em 1942, aos 18 anos, foi convocado
para o serviço militar. Alegou que era brasileiro e recebeu como resposta: “Se você tivesse
nascido na África isso faria de você um negro?” 
Enviado para a Tchecoslováquia, Gingo se tornou sargento-canhoneiro. O comando
nazista decidiu enviá-lo para lutar na Itália. “Não me nego a ir ao front, mas não contra meus
patrícios brasileiros”, disse ao capitão de sua unidade. Por se recusar a lutar, deveria ser
fuzilado. “O sargento G. S. suava de escorrer suor pelas costas e nádegas”, mas resistiu. Um
major decidiu protegê-lo, alegando que estava gravemente doente. Mais tarde, transferido
para a infantaria, lutou contra o Exército Vermelho, na atual Eslováquia. Em Budapeste, “no
posto de 3º sargento da infantaria, ele foi colocado no comando de um grupo de combate de
sete homens, equipados com fuzis e uma única metralhadora de origem tcheca capturada
aos partisans. As restrições no que se refere ao remuniciamento também eram pesadas: ele
lembra de só ter disponíveis uns vinte tiros para cada arma, o que explica as limitações
impostas: máximo de um ou dois disparos por arma; acima disso podia-se atirar somente com
ordem superior”. 
Intensamente bombardeado pelos soviéticos, o grupo de Gingo praticamente não
dormia. Ele diz que às vezes dormia andando. Na região do lago Valence, G. S. se destacou
nos combates e recebeu a Cruz de Ferro de Segunda Classe por bravura e foi promovido a 1º
sargento. O militar conta que os húngaros temiam mais os soviéticos do que os alemães. O
soviéticos estupravam meninas, mulheres adultas e idosas. 
Preso pelos soviéticos, Gingo teve o relógio, presente de um padrinho brasileiro,
roubado por um comissário esquerdista. Percebendo que teria um fim trágico nas mãos dos
comunistas, Gingo escapou, junto com outros militares, e encontrou uma garota (os soviéticos
“pregaram o avô dela com um prego pela língua” numa mesa, bateram em sua irmã, criança, e
estupraram a avô e a mãe). Depois, o sargento caiu nas mãos dos americanos. “Para os

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soldados alemães era um alívio, um mal menor, ser prisioneiro dos americanos e não dos
russos. O alemão não tinha medo, mas sim pavor do russo”, conta Gingo. 
Num campo de prisioneiros, Gingo passou a fazer trabalhos braçais para os
americanos. “A obra a qual foi destinado foi o desenterramento do cabo terrestre de
comunicação Berlim-Roma, enterrado a três metros de profundidade, cujos condutores os
americanos ambicionavam para si.” Relata o sargento G. S.: “Os soldados retornados às suas
cidades recebiam as cartelas de racionamento de alimentos pelo prazo de três semanas. Mas
tinham que obrigatoriamente assistir ao filme ‘Moinho do Diabo’ sobre atrocidades cometidas
pelos alemães contra seus prisioneiros. De repente esse filme foi tirado de circulação, pois
muitos soldados se reconheceram nesse filme como sendo eles os prisioneiros, e os Aliados,
os carrascos”, conta Gingo. 
O sargento Gingo, deslocado para trabalhar numa pedreira, disse que era brasileiro e,
por isso, perdeu o cartão de racionamento. Acusado de ser líder proeminente da Juventude
Hitlerista, foi enviado para Hammelburg, um campo de concentração. Ficou três dias sem se
alimentar e foi obrigado a trabalhar. “Com o tempo ele se convenceu de que havia o propósito
da administração do campo em exterminar os detentos através da fome induzida. Para
complementar a dieta ele teve de comer capim e cascas de árvores e lixo da cozinha”. Muitos
prisioneiros morreram. Certa vez, a Cruz Vermelha enviou pacotes de alimentos e os guardas
pró-americanos, supostamente filhos de judeus alemães, “colocaram os prisioneiros em forma
e jogaram gasolina em cima de tudo e colocaram fogo”. 
As pressões só cessaram quando o general americano George Patton visitou o campo.
“Patton considerava o soldado alemão um soldado exemplar, que deveria ser respeitado”,
anota o historiador. “Der Amerikaner atribui a essa visita do general americano o fato de sua
vida e a de seus companheiros terem sido poupadas.” 
Gingo ficou oito meses em Hammelburg e três meses em Darmstadt, “um grande
campo para estrangeiros que serviram ao III Reich”. Em fevereiro de 1948, com o aval da
Junta de Desnazificação e do subchefe da Missão Militar Brasileira, tenente-coronel Aurélio
de Lyra Tavares, o Americano voltou ao Brasil, no navio Santarém. 

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Peter, Martin e Fritz 
 

 
Peter (à esquerda) com uniforme do exército; Martin (ao meio), já como tenente e Fritz, de uniforme e
braçadeira 
Fonte: OLIVEIRA, Dennison de. Os Soldados Brasileiros de Hitler. Editora Juruá, 2008 
 
Fritz nasceu em São Paulo, em 1928. Os pais, que chegaram ao Brasil em 1923,
tiveram cinco filhos, Renate, Karl e Martin, nascidos na Alemanha, e Peter e Fritz, nascidos
no Brasil. Peter lutou como nazista, na frente russa, e sobreviveu, radicando-se em São Paulo. 
Martin contou a história dos irmãos Gerd Emil Brunckhorst e Paul Heinrich. O
primeiro lutou na Itália, ao lado dos brasileiros. O segundo morreu no front russo, lutando
como nazista. 
No início da década de 1940, com 14 anos, Fritz filiou-se à Jungvolk. Em 1942, a
família foi informada da morte de Karl, do Afrika Korps, na África do Norte. Lutou sob o
comando do marechal Erwin Rommel. “Entre 1943 e 1944”, Fritz “entrou para a Marine-
Hitlerjugend, a Juventude Hitlerista Naval.” Em 1944, foi convocado para “prestar serviço
como” auxiliar “da defesa antiaérea”. Em Berlim, presenciou os ataques diurnos dos aviões
Aliados. “Nunca tinha visto tantos aviões juntos de uma só vez.” Os incêndios pareciam
tomar conta de toda a Berlim. Viu pessoas queimadas, desfiguradas e mortas. Na cidade
de Wetzlar, no Estado de Hessen, Fritz foi “incorporado ao serviço ativo no exército alemão”.
Foi enviado para lutar contra os americanos. “Seu grupo foi dizimado. Ele e mais dois colegas
conseguiram ir de carona, sem terem recebido ordens para isso, num caminhão carregado de
munição até a Turíngia.” Os americanos o aprisionaram em março de 1945. Passou fome
durante o transporte para um campo de prisioneiros de Bad Kreuznach. 

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O relato de Dennison a partir dos apontamentos do ex-soldado: “Fritz lembra que ele e
seu grupo foram os primeiros a entrar no campo que consistia de um descampado plano,
cercado de arame farpado. Inexistiam alojamentos ou instalações sanitárias, o que obrigava os
reclusos a dormirem ao relento, sob um clima úmido e extremamente frio, sempre dispondo
de pouca comida. Nesse momento a fala de Fritz se torna mais contida, ao recordar o elenco
de misérias e brutalidades a que foram submetidos os prisioneiros alemães. (…) Ele conta que
as pessoas defecavam e urinavam em grandes fossas a céu aberto. Os mais enfraquecidos pela
fome e pela doença caíam dentro dessas fossas e, sem forças para se safar, morriam afogados
da maneira mais abjeta em excrementos humanos. No desespero de obterem pelo menos
algum conforto, os prisioneiros chegavam a trocar suas alianças de ouro por alguns cigarros
com seus guardas norte-americanos”. A história contada por Fritz raramente aparece nos
livros, porque, teoricamente, muitos acreditam que, como fizeram sofrer, os alemães também
deveriam sofrer. A história da internação dos alemães, no fim da guerra, é um capítulo que
merece resgate mais amplo. A versão dos americanos como captores benevolentes talvez
precise ser refeita, embora não fossem, é claro, tão bárbaros quanto os soviéticos. 
No campo, relata Fritz, “um grupo significativo de alemães morria” todo dia. “Se você
perguntar a qualquer alemão o que foi um campo de extermínio, certamente ele irá te
mencionar algum desses, de prisioneiros de guerra que os americanos improvisaram”. Fritz
pegou tifo no campo e passou muito mal. 
Em 1945, doente, Fritz conseguiu voltar para a casa dos pais. Recebeu informações
sobre os irmãos. Martin havia sido aprisionado pelos russos, na Romênia. Peter estava na zona
de ocupação inglesa. Renate estava em Portugal, na Embaixada Alemã. Recuperado, Fritz
trabalhou na zona de ocupação russa e, mais tarde, fugiu para o lado americano, escapando
para a Holanda. Em 1947, ele e Peter voltam para o Brasil, “no navio Santarém, primeiro
navio brasileiro a fazer a rota até a Alemanha, saindo de Hamburgo com escala em Lisboa”. 
Como saíra jovem do Brasil, Fritz descobriu que não sabia mais falar português e teve
de ser amparado pelo irmão Peter, que não havia esquecido a língua. Fritz trabalhou na fábrica
de fogões Wallig, em São Paulo, e na empresa MacMillan. Foi funcionário e sócio
da Jarosch & Cia, representante da fábrica de armarinhos Ipu, de Nova Friburgo. 
Ao contrário de nazistas que esqueceram o nazismo, Fritz contou que era “entusiasta
do regime”. “Ele se recorda de que, ao contrário do que hoje se imagina, as preleções políticas

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e doutrinárias aos jovens não tinham nada de exagerado. A despeito da inexistência de
qualquer esforço para ‘fanatizar’ os jovens, ele próprio manteve até o fim a fé na vitória da
Alemanha sobre os seus inimigos, mesmo quando já se encontrava em um campo de
prisioneiros norte-americano em março de 1945. Ele lembra que os mais velhos — cita a sua
própria mãe como exemplo — eram consideravelmente mais céticos com relação ao futuro do
país sob regime nacional-socialista”. 
Martin, irmão de Fritz, foi convocado em 1941 e foi enviado para Posen, “no antigo
corredor polonês”. Lutou contra partisans, na Lituânia, e contra tropas soviéticas. Foi
condecorado (com a cruz de ferro) pelas batalhas contra as tropas comunistas. Ferido em
combate, foi levado para a França. Recuperado, voltou para a mortal frente soviética, na
Ucrânia, “sem armas. Toda divisão seria reequipada e armada lá mesmo na frente russa, na
região de Poltava, tendo seguido depois para as margens do Rio Dnieper ao sul de Kharkhov”.
Contraiu malária e foi retirado do front. Retornou à luta em abril de 1944, na artilharia, na
Romênia. Tornou-se comandante de uma bateria. “O dia mais marcante no front, segundo
suas lembranças, foi 22 de agosto de 1944. Naquele dia, intenso fogo de artilharia russa
engolfou as posições alemãs de norte a sul, em apoio de um grande ataque das tropas
soviéticas.” Sob pressão dos soviéticos, as tropas alemãs recuaram e entupiram as estradas,
em fuga. Foi ferido outra vez, pelos soviéticos. 
Capturado pelos soviéticos, Martin foi roubado. “Apesar de estar precariamente
vestido, os seus captores fizeram questão de tirar-lhe os pertences pessoais, as botas, e parte
das calças, estas últimas tiradas a faca pelos” soviéticos, “como resposta a sua alegação de
que esta não sairia facilmente de seu corpo.” No trajeto para um campo de prisioneiros, foi
novamente roubado pelos soviéticos, “que desta vez levaram-lhe as meias, que ele recorda
estarem já empapadas de sangue coagulado. Quando finalmente chegou ao campo, estava
descalço e seminu”. 
Martin passou cinco anos em campos de prisioneiros para militares alemães. Passou
fome e foi intensamente pressionado pelos soviéticos. “Em 1950 ele foi devolvido pela URSS
à recém-fundada República Federal da Alemanha.” De lá, voltou ao Brasil.  
 

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Hans 

Hans (pseudônimo), brasileiro que lutou como nazista, nasceu em São Paulo, em 1926.
Os pais, austríacos, voltaram para a Europa em 1938. Na Alemanha, filiou-se à Jungvolk e,
depois, à Juventude Hitlerista. Lembra-se de Hamburgo bombardeada pelos Aliados. “A fúria
dos ataques aliados promovera incêndios tão extensos (e prolongados — foi em Hamburgo
que se empregou pela primeira vez a tática de revezamento ininterrupto de bombardeios
diurnos norte-americanos com noturnos britânicos — naquilo que era conhecido como o
‘round-o-clock bombing’) que o asfalto das ruas se derretia e neles as pessoas em fuga
acabavam presas.” 
Em 1944, o garoto Hans foi convocado “para prestar o serviço militar no exército”. No
fim desse ano, foi enviado para a Tchecoslováquia. Em busca de alimentos, encontrou grãos
de café e sentiu saudade do Brasil. Em 1945, ainda na Tchecoslováquia, quase perdeu os pés,
por conta do frio. “Os médicos decidiram pela amputação de parte das extremidades dos
dedos dos seus dois pés, irremediavelmente comprometidos pela gangrena. Apesar de
anestesiado, no período pós-operatório delirou intensamente, xingando e praguejando o tempo
todo em português, para assombro do pessoal médico que o assistia.” 
Hans diz ter ficado sabendo do relacionamento entre Hitler e Eva Braun apenas em
1945, quando, prisioneiro dos americanos, leu uma reportagem num jornal do exército dos
Estados Unidos. A imprensa alemã não divulgava a história. 
Repatriado, Hans chegou ao Brasil em 1947 e seus pais, em 1948. “Ele lembra que
foram os primeiros brasileiros a serem repatriados.” 

Max 
 

 
Certificado de reservista do Exército Brasileiro de um dos entrevistados (1948) 

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Fonte: OLIVEIRA, Dennison de. Os Soldados Brasileiros de Hitler. Editora Juruá, 2008 
 
Filho de alemães, Max nasceu no Brasil, em Santa Leopoldina, em 1928. Quando
tinha 7 anos, em 1935, os pais voltaram para a Alemanha. Aos 10 anos, em 1938, entrou para
a Jungvolk. Em 1942, aos 14 anos, ingressou na MarinerHitlerJugend, o ramo da juventude
hitlerista administrado pela Marinha. O irmão Hans (que não é o Hans citado anteriormente)
foi morto na frente soviética. 
Entre 1944 e 1945, Max “ofereceu-se como voluntário para o trabalho de cavar
trincheiras antitanques perto de Bratislava, na Tchecoslováquia. (…) No início de 1945 voltou
a Berlim para se alistar seguindo logo depois para Viena na Áustria. Não chegou a se envolver
em operações de combate”. 
Max diz que o bombardeio de Berlim foi impressionante. “Numa única noite de
bombardeio todo seu bairro foi inteiramente arrasado.” No fim da guerra, ele estava em
Berlim. Sua família entrou em contato com o major Rubens, do Exército brasileiro com o
objetivo de voltar para o Brasil. “Nessa ocasião [Max] presenciou diversas cenas de
atrocidades por parte das tropas” soviéticas “de ocupação. Ele se recorda que o
comportamento e o nível de instrução das tropas sob comando” soviético “era extremamente
rude e primitivo. Ele se lembra de ter visto soldados” soviéticos “arrancarem e levarem
consigo as torneiras das paredes de banheiros e cozinhas, imaginando que assim poderiam ter
água em qualquer lugar… Lembra também de vários casos de violência sexual perpetrada por
russos contra mulheres alemãs de todas as idades que, até onde ele pôde perceber, eram
tolerados senão encorajados pelos próprios escalões superiores da hierarquia militar
soviética.” 
Para livrar-se dos soviéticos, Max fugiu para a zona de ocupação francesa, onde viveu
até 1947. Voltou para o Brasil nesse ano. 
 
Chicco 
 
Chicco (pseudônimo) nasceu em São Paulo, em 1927, e foi enviado pelos pais para a
Áustria em 1939. Ele e um irmão se filiaram à Juventude Hitlerista. Em 1943, tornou-
se auxiliar da Força Aérea Alemã. Participou de treinamentos na Alemanha, na Dinamarca e

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na Holanda. O soldado britânico que o capturou gritou: “… um brasileiro! Pegamos um
brasileiro!” Depois de interrogado, foi jogado “por seus captores num chiqueiro onde havia
alguns porcos grandes e famintos. Ali ele passou o seu primeiro dia como ‘prisioneiro de
guerra’”. 
Como falava inglês fluentemente, Chicco trabalhou para os ingleses. Na Holanda,
contou o soldado, “se passava muito frio e se sofria muita fome”. Ele relata que “presenciou
vários linchamentos de soldados alemães pelos civis locais”. Em maio de 1945, quando a
guerra acabou, Chicco estava na cidade de Neuburg, próximo ao Rio Reno. 
Chicco “convenceu seus captores a libertá-lo, o que possibilitou viajar até Antuérpia,
na Bélgica. Lá ele finalmente conseguiu ser recebido pelo vice-cônsul brasileiro que, na sua
lembrança, se chamava Júlio Diogo. Ele é que providenciou seu retorno ao Brasil de navio”.
O pesquisador optou por não verificar quem é Júlio Diogo. Chicco trabalhou na Volkswagen e
morreu em São Paulo em 2008. 
Depois da guerra, cerca de 5 mil pessoas foram “repatriadas”. O coronel Lyra Tavares
contabilizou “o envio para o Brasil de 2.445 brasileiros e 2.752 estrangeiros”. 
 
OS NAZISTAS “BRASILEIROS”
  
 Após a queda do Terceiro Reich, milhares de nazistas fugiram por meio das ratlines.
A palavra em inglês "ratlines" (linha de rato, em tradução livre) como eram chamadas as rotas
clandestinas usadas por muitos nazistas para escapar da Europa após a 2ª Guerra Mundial
parece se referir a uma fila de roedores em fuga debaixo da terra. Embora esse termo possa
ser apropriado para imaginar a debandada de milhares de fugitivos da justiça, incluindo
alguns dos maiores criminosos de guerra da história, na realidade, "ratline" não tem a ver com
ratos, mas com navios.
No passado, subir no mastro usando essas cordas era o último recurso desesperado que
um marinheiro tinha para evitar o afogamento se seu navio afundasse. Por esta razão, ratline
se tornou sinônimo de a "última rota de fuga". No jargão náutico, esse é o nome dos pequenos
pedaços de corda colocados horizontalmente, que servem como degraus de escada, para que
se possa subir no mastro.

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Para muitos funcionários do alto escalão do regime nazista que tentaram fugir das
mãos dos Aliados após a queda da Alemanha de Adolf Hitler, em 1945, essa "última rota de
fuga" assumiu a forma de uma viagem transatlântica de navio, razão pela qual a origem
náutica se revelou ironicamente adequada.
Mas essas "rotas de ratos" eram viagens planejadas e organizadas por pessoas de
poder, dedicadas a proteger fugitivos não só alemães, mas também croatas, eslovacos e
austríacos.Não se teria sucesso sem a colaboração, por vezes involuntária, de duas das
instituições internacionais mais associadas à ajuda humanitária: a Igreja Católica e a Cruz
Vermelha.
As ratlines mais utilizadas eram rotas que cruzavam diferentes países europeus com o
propósito de chegar a um porto e lá escapar de barco e se resumiam principalmente a três
rotas:
A chamada "rota nórdica", que passava pela Dinamarca até a Suécia, de onde se
embarcava rumo às Américas.
A "rota ibérica" que foi organizada por colaboradores nazistas que viviam na Espanha
e utilizavam portos como os da Galícia, presumivelmente com a aprovação do ditador
espanhol Francisco Franco.
E a terceira, que acredita-se que até 90% dos nazistas que fugiram da Europa
continental o fizeram pela Itália.
Embora alguns tenham escapado para o Reino Unido, Canadá, Estados Unidos,
Austrália e Oriente Médio, a maioria fugiu para a América do Sul.
Os principais países que mais atraiam os fugitivos nazistas eram a Argentina e o
Brasil. Documentos secretos nazistas revelados em 2012 por autoridades alemãs indicaram
que cerca de 9 mil militares e colaboradores do Terceiro Reich fugiram para a América do Sul
após a guerra. Destes, cerca de 5 mil ficaram na Argentina, apelidada de "Cabo da Última
Esperança" pelo famoso "caçador de nazistas" Simon Wiesenthal, cerca de 1,5 a 2 mil no
Brasil, 500 a mil no Chile e outras nações com menor número, como Paraguai, Bolívia e
Equador.
Muitos atribuem a escolha da Argentina como país de destino à franca simpatia que o
ditador Perón tinha com o nacionalismo, militarismo e autoritarismo alemão.

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Entre os que conseguiram escapar para a América do Sul com passaportes da Cruz
Vermelha (sob nomes falsos) estavam alguns dos principais líderes nazistas, como Josef
Mengele, Klaus Barbie, Franz Stangl, Walter Rauff e Adolf Eichmann.
Alguns, como Mengele, que morreu no Brasil, e Rauff, que morreu no Chile,
conseguiram escapar da Justiça por toda a vida.
O caso mais famoso foi o do chamado "arquiteto do Holocausto", Adolf Eichmann,
que foi capturado em Buenos Aires em 1960 pela agência de inteligência israelense, o
Mossad, e transferido para Jerusalém, onde foi julgado, condenado e executado.

Passaportes da Cruz Vermelha, com nomes falsos, usados por Josef Mengele, Klaus Barbie e Adolf
Eichmann.

Entre os principais nazistas que vieram rumo ao brasil como estratégia de fuga estão:
Franz Stangl
Apelidado de “Morte Branca” por sua tendência em usar uniforme branco e carregar
um chicote, Franz trabalhou no programa de eutanásia Aktion T-4, no qual nazistas mataram
centenas de pessoas com deficiências físicas e mentais. Mais tarde, serviu como comandante
dos campos de concentração de Sobibor e Treblinka — acredita-se que mais 100 mil judeus

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tenham sido assassinados durante seu mandato em Sobibor, antes do sanguinário se mudar
para Treblinka, onde foi diretamente responsável pela morte de outros 900 mil judeus.

Depois da derrota da Alemanha, Stangl foi capturado pelos americanos, mas


conseguiu fugir para a Itália em 1947. Com o auxilio do bispo austríaco simpatizante dos
nazistas, Alois Hudal, Franz fugiu para a Síria com um passaporte da Cruz Vermelha. Passado
três anos no país, o nazista se mudou para o Brasil em 1951.

Aqui, foi contratado pela Volkswagen, em São Paulo, onde trabalhou até 1967, quando
foi preso depois de ter sido encontrado por Simon Wiesenthal, um sobrevivente do
Holocausto e conhecido caçador nazista. Extraditado para a Alemanha Ocidental, ele foi
condenado à prisão perpétua. Franz Stangl morreu de insuficiência cardíaca em 1971.

Josef Mengele

Perdendo apenas para Eichmann como alvo de caçadores nazistas, o médico apelidado


de “Anjo da Morte” conduziu experiências macabras com prisioneiros no campo de
extermínio de Auschwitz. Oficial da SS, Mengele foi enviado no início da Segunda Guerra

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para a frente oriental com a função de repelir os soviéticos e recebeu uma Cruz de Ferro por
sua bravura e pelo seu serviço.

Depois de ser ferido, foi declarado inapto no serviço ativo e foi designado para o
campo de Auschwitz. Lá, ele usou os prisioneiros — particularmente gêmeos, mulheres
grávidas e deficientes — como cobaias humanas. Mengele também torturou e matou crianças
com seus experimentos médicos.

Após a derrocada alemã, Mengele passou três anos se escondendo na Alemanha. Em


1949, com a ajuda de um membro do clero católico, fugiu da Itália para a Argentina, onde
possuía uma loja de equipamentos mecânicos. Quase uma década depois, em 1958, o “Anjo
da Morte” se casou no Uruguai. A Alemanha Ocidental chegou a enviar uma solicitação de
extradição do médico, no entanto, o pedido se arrastou e jamais foi concretizado.

No fim da tarde do dia 7 de fevereiro de 1979, o ex-cabo da Polícia Militar do Estado


de São Paulo, Espedito Dias Romão afirmou ter recebido uma ligação informando que um
corpo havia sido encontrado na cidade de Bertioga, localizada no litoral de São Paulo, era
Wolfgang Gerhard. Alguns anos, uma pesquisa mais contundente revelou que a real
identidade de Wolfgang era Josef Mengele.

Embora esses sejam as personalidades mais criminosas que não só compactuaram, mas
também foram diretamente ativos no holocausto judeu que vieram ao Brasil, existem estudos
que supõem que cerca de 2 mil fugitivos oficiais da SS e do partido nazista se abrigaram no
país pós o fim da Segunda Guerra Mundial.

Recentemente, em março de 2020, o atual líder da Igreja, o Papa Francisco, de origem


argentina, autorizou que sejam abertos todos os arquivos de Pio 12, o Papa que é investigado
por autorizar, ajudar e facilitar as rotas de fuga dos oficiais nazistas.

Um dos que revisarão as centenas de milhares de documentos será o historiador


eclesiástico alemão Hubert Wolf.

Wolf disse à uma entrevista que embora possa levar anos, finalmente será revelado se
Pio 12 "deu instruções diretas" para ajudar os fugitivos nazistas a escaparem para "combater o

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perigo comunista", ou se "o Papa não soube da ajuda concreta e algumas pessoas ao seu redor
se aproveitaram disso".

REFERÊNCIAS:

Brasil 500 anos. A imigração alemã. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2021.
Disponível em < https://brasil500anos.ibge.gov.br/en/territorio-brasileiro-e-
povoamento/alemaes.html> acesso dia 30 de abril de 2021.

FERNANDES, Cláudio. "O que foi o “Espaço Vital” Nazista?"; Brasil Escola. Disponível
em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-o-espaco-vital-nazista.htm.
Acesso em 30 de abril de 2021.

GERWARTH, Robert. O carrasco de Hitler: A vida de Reinhard Heydrich. Editora Cultrix, 2ª


edição. São Paulo, 2013

MAUCH, C., Vasconcelos, N.(Org). Os alemães no sul do Brasil: cultura, etnicidade e


história. Canoas: Ed. Ulbra, 1994. p. 165.

OLIVEIRA, Dennison de. Os Soldados Brasileiros de Hitler. Editora Juruá, 2008 

PREVIDELLI, Fabio. De Adolf Eichmann a Walter Rauff: 7 Nazistas que Fugiram Para a América Do
Sul Após o Fim Da Guerra. Aventuras na História. Uol. Dezembro de 2020.

SMINK, Veronica. Como eram as rotas de fuga pelas quais muitos nazistas escaparam para a

América do Sul após a 2ª Guerra. BBC, agosto 2020.

WEBER, Thomas. Tornando-se Hitler. Editora Record, 1ª edição. São Paulo, 2019.

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