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Potencial de extratos naturais de plantas brasileiras na inibição do processo de bioincrustação View project
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REVISTA 22 JAN/MAR
2021
AQUACULTURE BRASIL
aquaculturebrasil.com
PANORAMA DA
QUELONICULTURA
NO BRASIL:
Uma estratégia
para conservação
das espécies e MAR/ABR 2018
geração de renda
ISSN 2525-3379
Artigo: Profissionalização Coluna: A magia dos Entrevista: Cintia Eles fazem a diferença:
em sistema RAS na pigmentos Nakayama - UFMG/ Vinicius Ronzani
Europa Aquabio Cerqueira
1
SUMÁRIO
AQUACULTURE BRASIL - edição 22 jan/mar 2021
08 FOTO DO LEITOR
59 CHARGES
6
»» p.90
62 ATUALIDADES DA CARCINICULTURA
64 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS
68 GREEN TECHNOLOGIES
70 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA
72 VISÃO AQUÍCOLA
76 SANIDADE
80 NAVEGANDO NA AQUICULTURA
82 TECNOLOGIA DO PESCADO
96 DESPESCOU
»» p.84
7
JAN/MAR 2021
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PARCEIROS NA 22° ED:
Uso de plantas Halófitas na
aquicultura: Do tratamento de
efluente à alimentação animal
*Manuel Macedo de Souza e César Serra Bonifácio Costa
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Instituto de Oceanografia (IO)
Laboratório de Biotecnologia de Halófitas (BTH)
Rio Grande, RS
*mcsouza@furg.br
J
á imaginou a possibilidade de tratar o efluente seu ciclo de vida (germinação, crescimento e repro-
de cultivo, alimentar os animais, gerar energia dução) sobre a influência de águas salinas ou salobras.
elétrica e reduzir custos Ou seja, são plantas que podem
com uma cajadada só? As ser cultivadas com água salgada.
plantas halófitas podem tor- Para essas plantas damos o nome
nar isso uma realidade. de plantas halófitas (Grego, halo
Os vegetais mais cultiva- = sal) (Nikalje et al., 2018).
dos e consumidos no Brasil As plantas halófitas são na-
(como a alface, a couve, a O desenvolvimento turalmente encontradas nos
batata, o aipim, entre outros) de carcinicultura em ambientes costeiros que sofrem
precisam de água doce para influência constante ou periódi-
o seu melhor crescimen- águas oligohalinas, ca da água do mar e da mare-
to (< 3,0 dS m-1 ou < 2 g sia (spray marinho), e em locais
NaCl L-1) e consequemen- principalmente oriundas do interior fortemente afeta-
te, seu cultivo. Essas plantas de poços e rios, dos pela seca (Costa; Herrera,
são classificadas como plan- 2016b). No Brasil, os ambientes
tas glicófitas (Grego, glico = forneceu novas fronteiras que se destacam na quantidade
açúcar/doce; fitas/phyton = e biodiversidade de plantas ha-
planta). Por outro lado, ainda para a carcinicultura lófitas são os manguezais (e.g. o
não muito populares e mui- mundial. mangue vermelho, Rhizophora
tas vezes classificadas como mangle), marismas (e.g. Sparti-
plantas alimentícias não con- na alterniflora), dunas costeiras
vencionais (PANCs), existe (e.g. Sporobulus virginicus) e pla-
outro grupo de plantas que nos salinos do semiárido nor-
consegue passar por todo o destino (e.g. Sesuvium portula-
castrum). Embora sejam diferentes, as plantas halófitas
desses ambientes apresentam algumas características Figura 1. Halófitas de diferentes espécies:
semelhantes entre si e com plantas halófitas de outras
regiões salgadas do mundo, como no Oriente Médio Spartina
e França (Albuquerque et al., 2014; Costa; Herrera, alterniflora.
2016a). Mas... © César Costa
Como isso é
possível?
Ao longo da sua evolução as plantas halófitas de-
senvolveram adaptações em suas partes interna e ex-
terna para tolerar o estresse salino (Rozema; Schat,
2013). Embora cada espécie tenha suas singularida-
des, os mecanismos funcionais das plantas são bem
semelhantes. Mas a quantidade de adaptações que
essas plantas obtiveram foi dependente da salinidade
do ambiente onde viviam. Ou seja, quanto mais es-
tresse as plantas sofriam, maior deveria ser o número Sesuvium
de adaptações – características favoráveis para so- portulacastrum.
brevivência e fecundidade. Era adaptação ou morte! © César Costa
O halofitismo, que é o grau de tolerância a sali-
nidade, é bem diversificado e altamente dependen-
te do ambiente de desenvolvimento dessas plantas.
Assim, dependendo do grau de tolerância a salinida-
de, as plantas halófitas podem ser classificadas des-
de plantas halotolerantes, que toleram água com
baixa salinidade, até as halófitas extremas, que tole-
ram condições hipersalinas, isto é, mais salgadas que
a água do mar (Costa, 2006; Duarte et al., 2013).
Falamos até agora como as plantas halófitas evo-
luíram. Mas...
de bom?
terebinthifolius.
© Manuel M. de
Souza
Vários compostos são produzidos pelas plantas ha-
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Se as plantas halófitas são são utilizadas para alimentação humana (como vegetais
tão boas, porque não as frescos, em conserva ou como condimentos), alimen-
conhecemos?
tação animal, na produção de biocombustíveis, como
plantas ornamentais e paisagismo, na produção de me-
dicamentos, na produção de bebidas fermentadas etc
Na realidade, as plantas halófitas são utilizadas pelo (Abdelly et al., 2007).
ser humano a muitos séculos, tendo registro de uso Além de tudo isso, novas características e funcio-
há mais de 5000 anos na medicina indiana (Arya et nalidades das, e para, as plantas halófitas estão sendo
al., 2019). A grande popularização destas plantas co- descobertas a todo o momento. Uma que nos deixou
meçou em países com pouca disponibilidade de água bastante entusiasmados é a descoberta que, embora
doce, como os países do oriente médio. Os Emirados ainda sejam resultados obtidos em experimento com
Árabes Unidos, por exemplo, têm grande investimen- ratos e ovelhas, os aspargos marinho do gênero Salicor-
to no desenvolvimento da agricultura salina e produção nia herbacea e S. neei têm a capacidade de impedir que
de biodiesel a partir das sementes de Aspargo marinho estes animais acumulem gorduras (Pichiah; Cha, 2015;
(plantas dos gêneros Salicornia e Sarcocornia, também Arce et al., 2016). Sim, isso mesmo. Imagine que mes-
consumidas como sal-verde, vegetais frescos ou em mo comendo aquela picanha cheia de gordura no final
conserva), e gramados de campos de golfe e futebol de semana, a ingestão da planta poderia impedir que
com mudas de Paspalum vaginatum. Já a Quinoa (Che- acumulemos parte dessa gordura. Isso não seria sensa-
nopodium quinoa) começou a ser consumida na região cional? Num ramo totalmente diferente, estudos ainda
dos grandes lagos salgados da América Latina (Bolívia, preliminares demostram que é possível gerar energia
Colômbia, Equador e Peru) há mais de 4 mil anos e nas raízes de plantas halófitas cultivadas em hidroponia.
hoje se popularizou em dietas com baixas calorias, Resumidamente, este sistema de geração de energia
utilizadas para o emagrecimento (Centofanti; Bañue- consiste na oxidação de compostos liberados pelas raí-
los, 2019; Panta et al., 2014). Hoje, plantas halófitas zes das plantas por bactérias (Wetser et al., 2015).
Figura 2. a) Cultivo de quinoa com águas salinas em área desértica do International Center for Biosaline
Agriculture (Dubai, Emirados Árabes Unidos). © Kennia Doncato; b) Aspargo marinho (S. neei) produzidos com efluentes
de aquicultura pelo Laboratório de Biotecnologia de Halófitas (BTH, FURG) e embalados para envio à restaurantes em Porto
Alegre (RS). © César Costa
a b
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Figura 3. Cultivo de Aspargo marinho (Salicornia neei) com água subterrânea salina no município de Ocara (CE).
© César Costa
E como as plantas
halófitas são utilizadas na
aquicultura?
Há algum tempo as plantas halófitas já são utiliza-
das na fitorremediação dos efluentes salinos da aqui-
cultura (Fierro-Sañudo et al., 2020), seja em tanques
de decantação ou em wetlands, por exemplo. Sendo
também utilizadas para fixação das paredes dos tan-
ques de cultivo ou canais de irrigação. No entanto,
utilizações mais nobres vêm sendo estudadas! Os aspargos marinhos
Embora ainda à nível acadêmico, o extrato da
grama bermuda (Cynodon dactylon) demonstrou ter
S. bigelovii e S. neei
a capacidade de proteger o camarão marinho Lito- por exemplo, já foram
penaeus vannamei contra o vírus da mancha branca
(WSSV - white spot syndrome vírus). Além de auxiliar utilizados para a
na saúde, as plantas halófitas também podem ser uti- alimentação de tilápias
lizadas na alimentação dos animais cultivados. Os as-
pargos marinhos S. bigelovii e S. neei por exemplo, já e camarões marinhos,
foram utilizados para a alimentação de tilápias do Nilo os quais obtiveram
(Oreochromis niloticus) e camarões marinhos (Litope-
naeus vannamei), respectivamente (De Souza, 2018; desempenho zootécnico
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Figura 4. Aspargo marinho (S. neei) cultivados com efluentes de carcinicultura marinha em sistema de bioflocos
(BFT). © César Costa
Figura 5. Aspargo marinho (S. neei) cultivados em sistema NFT (nutrient film technique) com efluentes de
piscicultura marinha© César Costa
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