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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE HUMANIDADES OSMAR DE AQUINO - CAMPUS III


FICHAS DE LEITURAS

THALITA SANTOS FURTADO

O perigo de uma história única.

Escrito pela nigeriana Chimamanda Adichie, feminista engajada, e


apresentado no TEDx, disponível na plataforma de vídeos YouTube, “O perigo de
uma história única”, traz uma importante reflexão acerca das narrativas, criadas por
aqueles que detém o poder, sobre os riscos que os esteriótipos causam, os quais
são reproduzidos e disseminados ao ponto de serem tidos como verdades
absolutas.
A partir das suas vivências, Chimamanda começa a relatar as implicações
que esses discursos provocaram em sua vida. Durante sua infância, a escritora nos
conta que os livros que lia diziam respeito a pessoas brancas, como consequência
disso, quando começou os primeiros esboços da sua escrita passou a reproduzir as
características dessas pessoas pois eram suas 'influências', pessoas essas que
viviam em uma realidade totalmente diferente da sua.
Além disso, Chimamanda também nos traz o relato da história de Fide que
trabalhava na sua família. Ela sempre escutou que a sua família era extremamente
pobre e para ela não existia nenhuma realidade que não fosse essa,
surpreendendo-se quando em uma visita, conhece as os cestos produzidos pela sua
família. Ao longo da sua história isso continuou lhe acompanhando, quando se
mudou para os Estados Unidos para estudar na universidade, sua colega de quarto
ficou chocada com o fato de que ela falava inglês perfeitamente, pois a visão que ela
tinha era de que a África, além de ser um país, só existia pobreza, doenças e
catástrofes justamente devido a história única que conhecia e que são espalhadas
até hoje.
O mesmo aconteceu com os mexicanos, que por vezes eram tidos como
sinônimo de imigração, em uma visita ao México, Chimamanda notou que tinha
absorvido as narrativas difundidas pela mídia, assim como em outros casos que ela
cita. A partir disso, podemos perceber o quanto a difusão de uma única história
estereotipa e rouba a dignidade das pessoas como Adichie coloca, enfatizando
principalmente as diferenças entre os povos.
Percebemos através da sua palestra sobre o quanto criamos em nossa
mente, a partir daquilo que consumimos, sejam filmes, séries, livros e o conteúdo
midiático, é falho. Nós, enquanto historiadores e professores de história, podemos
contribuir para que existam mudanças quanto a isso rompendo com o ciclo de poder
estabelecido pelas classes dominantes. Durante séculos existiu uma exclusão
daqueles que não estavam inseridos no padrão homem branco, hétero e de classe
alta, implicando em construções de narrativas que os privilegiavam em detrimento
dos outros, ao apresentar as diferentes perspectivas e a pluralidade existente
contribuímos para que os (pre)conceitos sejam amenizados.

Sejamos todos feministas.

Também de Chimamanda Adichie, cuja escrita aborda sobre questões


étnicas, de gênero e de pertencimento, “Sejamos todos feministas”, apresentado no
TEDx, trata sobre o feminismo e parte da sua experiência enquanto mulher
nigeriana. A palestra já inicia com ela contando a história de uma conversa que teve
com seu amigo de infância, o qual lhe chamou de feminista em um tom pejorativo,
muito provavelmente reproduzindo tais discursos devido ao que ele já tinha ouvido
falar, implicando justamente no perigo da história única que deturpa a palavra
constantemente.
Falando da importância de todos conhecerem os movimentos, Chimamanda
dá exemplos de algumas situações que já passou em seu país. Quando não foi
escolhida como monitora mesmo tendo a maior nota da prova; sendo ignorada pelo
frentista que agradeceu ao seu amigo quando ela deu gorjeta; pelo garçom em um
restaurante ou tida como uma suposta profissional do sexo quando adentrou em um
hotel que estava hospedada em seu país, percebemos o quanto ela foi inferiorizada
e estereotipada pelo simples fato de ser mulher, que como já sabemos, é uma
construção social.
Vivemos imersos em uma cultura machista e patriarcal que sempre procurou
formas de nos excluir ou limitar enquanto mulheres, inclusive tendo aparatos da
ciência. Quanto mais alto se chega, menos mulheres estão no topo. Conforme
Chimamanda, existe uma distinção entre a criação de um menino e de uma menina
que contribui para manutenção dessa cultura, precisamos mudar isso caso
queiramos uma sociedade menos preconceituosa e ela vê a educação como sendo
uma das possibilidades de mudanças..
Assim como explica na palestra, muitos acham que o feminismo é um
movimento de oposição aos homens, que todas as feministas são infelizes e odeiam
homens, quando na verdade é uma busca por equidade. Não dá para negar, reduzir
ou amenizar o caráter e a abertura que tais lutas propiciaram, isso seria inclusive
desmerecer a vida ceifada das muitas que se impuseram contra os padrões
estabelecidos pela sociedade. Foi através deles que começamos, pouco a pouco, a
conquistar o nosso espaço. Inicialmente, de maneira excludente, devido a
predominância de um feminismo branco eurocêntrico, mas através do feminismo
negro e dos debates de interscções começou a se ter uma maior inclusão no que diz
respeito as diversidades exisentes, por isso é necessário que "Sejamos todos
feministas".

Funes, o memorioso.

O conto “Funes, o memorioso”, publicado em 1944, foi escrito por Jorge Luís
Borges, poeta e escritor argentino e retrata sobre a peculiaridade de Ireneo Funes,
sua memória. A sua história é apresentada por um narrador que foi ao seu encontro
conversar, enquanto morador de um vilarejo, Funes já era conhecido por ali devido
sua singularidade em dar as horas pontualmente sem fazer o uso de qualquer
relógio.
Após cair de um cavalo e tornar-se paralítico, sua vida mudou
completamente. Funes teve como uma "consequência" desse acidente o
aguçamento da sua memória, perdendo a capacidade de esquecer. Tudo o que lia,
via e vivia simplesmente não era apagado da sua memória e a todo tempo estava se
reproduzindo em sua mente, em razão dessa memória enciclopédica, ele conseguiu
apreender sozinho diversas línguas e ler livros em latim.
De acordo com o narrador, Funes não tinha a capacidade de pensar, analisar
ou raciocinar sobre as coisas porque isto requer generalizar e esquecer as
diferenças conforme nos é mostrado no texto. No entanto, tudo que lhe era trazido à
tona dizia respeito a detalhes minuciosos e singulares a cada vez que aquilo ocorria
em sua vida, desse modo, ficando enterrado em suas memórias.
Partindo disso, podemos perceber que, por mais que o lembrar de tudo seja
atrativo num primeiro momento, na verdade seria um fardo. O excesso e o acúmulo
de informações não é benéfico, tornando-se ainda mais prejudicial quando não se
pode escolher o que lembrar, o que esquecer ou construir pensamentos críticos a
respeito de algo, como era o caso de Funes. Precisamos do esquecimento para
viver, ele faz parte da memória, lembrar de tudo seria uma tortura, implicando em
reviver momentos traumáticos das nossas vidas que gostaríamos de apagar.
Portanto, esse conto é de muita importância para pensarmos e também
problematizamos o que diz respeito ao que foi lembrado e o que foi esquecido pelos
que detém o poder da construção das narrativas históricas. Por muito tempo os
"grandes", os "mitos", os "heróis" a todo tempo são reverenciados, enquanto que os
"menores" passam a ser marginalizados pois não são considerados "dignos" de
estarem presentes na historiografia.

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