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Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova

“Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em


importância e gravidade o da educação. Nem mesmo os de caráter
econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução
nacional”.
(Fernando de Azevedo)

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi um documento escrito


por 26 intelectuais no início da década de 1930 que apresentou propostas para
inovação no sistema educacional da época e ainda hoje é lembrado como
referência.

Essa proposta de renovação educacional no início da Segunda


República estava alicerçada nas teorias psicológicas de Lourenço
Filho, na contribuição sociológica de Fernando de Azevedo e no
pensamento filosófico e político de Anísio Teixeira.

Em 1931 acontecia um movimento católico que externava seus


conflitos com os escolanovistas pelo ensino religioso. SAVIANI (2007,
p.195) retrata esse período como o equilíbrio entre a Pedagogia
Tradicional e a Pedagogia Nova datados de 1932 a 1947. Na IV
Conferência Nacional de Educação eclodia a ruptura entre “católicos”
e “liberais” com a publicação do “Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova” (1932)

Nesse contexto o Manifesto tornou-se base política e de modernidade


que alicerçaria a educação e a sociedade brasileira até a atualidade.
Nos primeiros parágrafos do documento “saltam” do papel a primazia
da administração escolar estabelecida como fator fundamental para a
solução dos problemas educacionais agravados no regime
republicano.

Já, naquele momento, se pensava na organização de um sistema


educacional adequado à estrutura moderna que se construía naquele
período no país. Para os escolanovistas era preciso mudar naquele
tempo, ou os fracassos se propagariam posteriormente. Medidas
imediatistas e à curto prazo não fariam mais sentido, era necessário
pensar adiante.

A investigação científica, método muito discutido no Manifesto, eclode


como raiz do movimento industrial. Para os pioneiros este método
modificaria e renovaria os olhares dos educadores e impulsionaria a
evolução necessária à administração dos serviços escolares.

Mais que discussões sobre os esforços para administrar o sistema


educacional, o Manifesto apresenta uma reflexão importante sobre o
pensamento arcaico que segrega a educação das demais articulações
sociais de relevância para o desenvolvimento do país, por exemplo, a
economia. De acordo com os educadores integrantes deste
movimento:

Era preciso, pois, imprimir uma direcção cada vez mais firme a esse
movimento já agora nacional, que arrastou comsigo os educadores
de mais destaque, e leval-o a seu ponto culminante com uma noção
clara e definida de suas aspirações e suas responsabilidades. Aos que
tomaram posição na vanguarda da campanha de renovação
educacional, cabia o dever de formular, em documento público e o
governo, a posição que conquistaram e vêm mantendo desde o início
das hostilidades contra a escola tradicional. (INEP, 1984)

Com a proposta de renovar a escola tradicional, objetivava-se a


aplicação da verdadeira função social da escola, pautadas na
democracia e na hierarquia das capacidades. O documento enaltece o
exercício dos direitos dos cidadãos brasileiros no que se refere à
educação, dentre eles podemos destacar: a educação pública, a
escola única, a laicidade, gratuidade e obrigatoriedade da educação.

A educação pública é compreendida como responsabilidade do


Estado, que consequentemente serviria de pano de fundo para as
perspectivas de uma escola única. Ou seja, se a educação é para
todos, então, as classes populares não beneficiadas pelas escolas
privadas, teriam uma escola comum às instituições privadas e assim
de forma igualitária. A defesa da laicidade está relacionada à uma
luta travada contra o ensino religioso, predominante no Brasil em boa
parte das escolas existentes, pelo respeito à personalidade que se
forma dentro da escola, longe de confrontos religiosos e desrespeito
pela presença ou não de crenças. Segundo o Manifesto, a gratuidade
é dependente da obrigatoriedade, pois, o Estado não pode tornar o
ensino obrigatório e igual para todos se este não for gratuito e
atender a todos os níveis econômicos e sociais presentes na nação.

Para os educadores que levantaram essas questões na falta do


espírito philosophico e scientifico, na resolução dos problemas da
administração escolar é importante antes de tudo pensar em
determinar os fins da educação. O educador, portanto, deve
perceber a necessidade de uma cultura múltipla e bem diversa, as
alturas e as profundidades da vida humana e da vida social não
devem estender-se além do seu raio visual; elle deve ter o
conhecimento dos homens e da sociedade em cada uma de suas
phases.(INEP, 1984)

De acordo com os pioneiros, o domínio da evolução social permitiria


um avanço no poder de organização, ou seja, resolveria o estado em
que a educação se encontrava e tornaria o educador mais consciente
das capacidades administrativas que deveria desempenhar. Os
métodos e técnicas científicas serviriam de base para avaliar a
situação e os resultados após sua aplicação. Surgia uma nova política
educacional, pautada na formação do profissional da educação e nas
influências industriais vigentes na época, como a esperança de
mudança no sistema educacional e o emprego efetivo do pensamento
científico nas ações da escola.

Onde se tem de procurar a causa principal desse estado antes de


inorganização do que de desorganização do aparelho escolar, é na
falta, em quase todos os planos e iniciativas, da determinação dos
fins da educação (aspecto philosophico e social) e da applicação
(aspecto technico) dos methodos scientificos aos problemas da
educação. Ou, em poucas palavras, na falta de espitiro philosophico e
scientifico, na resolução dos problemas da administração escolar.

Neste documento presenciamos uma crítica à segunda fase


republicana. As observações por vezes são tão parecidas com o
momento atual, que as “coincidências” chegam a espantar.

https://www.infoescola.com/educacao/manifesto-dos-pioneiros-da-
educacao-nova/

http://fundacaotelefonica.org.br/noticias/85-anos-do-manifesto-dos-
pioneiros-da-educacao-nova/

Entre suas principais reivindicações, o documento propunha uma nova função


social para a educação como motor para redução de desigualdades. “Pretendia-
se uma ação mais concreta e firme do Estado, e por isso mesmo requeria-se
maior força para a escola pública. Reivindicavam-se ensino público
laico (desvinculado da educação religiosa) a gratuidade,
a obrigatoriedade e a co-educação – meninos e meninas estudando no
mesmo ambiente escolar ”, conta a historiadora Maria Luiza Marcílio em seu
livro “História da Escola em São Paulo e no Brasil”.
O principal alicerce do documento é o conceito de Escola Nova, movimento educacional que
surgiu no fim do século XIX para renovação do ensino. O escolanovismo afirma que a
construção de uma sociedade democrática se faz por meio da educação, respeitando as
individualidades e diversidades. Neste conceito, as escolas são um espaço permanente de
aprendizagem, deixando de ser locais de apenas transmissão de conhecimento, mas pequenas
comunidades. Assim, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova se tornou um dos ícones da
Escola Nova no Brasil.

O Brasil de 1930 e o de hoje


Em 1930, Getúlio Vargas passa a governar o país, marcando o fim da República
Velha no Brasil. Naquele mesmo ano foi criado o Ministério de Educação e
Saúde, para tratar dos respectivos temas. Em 1931, o órgão solicitou uma nova
proposta de modelo de educação nacional.
Diana Gonçalves Vidal, professora de História de Educação na Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo, explica que havia uma disputa política
pela gestão da educação no recém-criado ministério. “Por um lado, os
educadores católicos que vão se aproximar do Estado e passam a compor a
maior parte do órgão. E por outro, os intelectuais, conhecidos mais tarde como
os pioneiros, que acabam ficando de fora”. A reação deles foi, justamente, fazer
o manifesto com propostas que vinham sendo discutidas desde a década de
1920.
Mesmo muito criticado na época, o documento introduziu na Constituição de
1934 alguns dos princípios que defendia. A permanência de seus signatários
mais ilustres – Fernando de Azevedo, M. B. Lourenço Filho e Anísio Teixeira –
na política até meados dos anos 1970, quando os três vieram a falecer,
funcionava como um mecanismo ativador da memória do manifesto.
Mesmo tantos anos após sua publicação, muitos problemas apontados nele
seguem sem solução, e são um convite a uma reflexão sobre o presente e o
futuro da educação brasileira.
Para a professora Diana, o Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova hoje ocupa um lugar de memória porque defendia um modelo de escola
que ainda não conseguimos atingir. “Na década de 20 e 30, 20% das crianças
em idade escolar estavam de fato na escola. Hoje temos 94%. Mas a discussão
ainda é o que é essa prioridade educacional”.
E existem questões abordadas em 1932 que ainda precisamos resolver. “A
missão de criar um sistema de ensino e uma escola democráticos não foi
cumprida”, diz Libânia Xavier, historiadora e vice-presidente da Sociedade
Brasileira de História da Educação.  E completa: “a educação deve ser encarada
como direito de todos e responsabilidade do Estado, em que cada um deve
poder progredir nos estudos de acordo com a sua vontade e as suas
possibilidades”.

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