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O mundo tentou ruir sobre ela, mas nem ele é páreo para Bianca Cesarin.

Traída pela
família, a rainha da máfia se vê perdida em meio a mentiras que aquele em que ela mais
confiava passou a vida lhe contando. Ao lado de seu antigo inimigo e agora grande amor,
Bianca se vingará de todos que tentaram a derrubar. Afinal o mundo é dela.

Prólogo
Itália, Roma

Presídio Feminino Romano

Eu permanecia sentada em uma cadeira de madeira, encarando a mulher


sorridente a minha frente, meus olhos semicerrados pelo ódio e a raiva
que me corroíam.
Melissa Bitencourt continuava bebericando sua xícara de algum liquido
fumegante, esperando que eu dissesse algo.

Permaneci em silencio.

Desviei meu olhar para o bolo de cabelo castanho que ela tinha a sua
frente, e a tesoura que estava sobre ele, imagino que ela esperava que eu
chorasse quando cortou meu cabelo.

Tão tola.

-O que faremos com você? –Perguntou retóricamente, olhei nos olhos


maliciosos dela e sorri irônica.

-Deveria estar se perguntando o que eu farei com vocês. –Minha voz saiu
estranhamente calma, olhei a janela que dava para um enorme muro de
cimento.

-Não tenho medo de você Bianca.

-Idem.

-Deveria! Eu sou a diretora daqui.

-Foda-se. –A guarda que estava ao meu lado me deu um bofetão no rosto,


trinquei os dentes fechando os olhos com força.

Vadia!

-Não use esse seu palavreado de criminosa aqui.

-Seu pai faz tráfico de pessoas e eu sou a criminosa?


-Ninguém vai acreditar em você... Está sozinha Bianca, até Pietro a
deixou.

Depois de toda a tempestade dos últimos meses na minha vida, esse foi o
único momento em que eu desejei chorar, lambi meus lábios os
umedecendo me lembrando de tudo o que aconteceu para que ele fosse
embora e me abandonasse sozinha naquele julgamento.

Eu não o culpava.

Não depois do que eu omiti sobre os planos de meu pai comigo, no


começo de nosso casamento.

Era tudo culpa minha afinal, minha por não acreditar no que ele me disse
que meu pai havia dito, por não contar a ele o que meu pai iria fazer, por
omitir o tempo todo tudo o que eu sabia.

Eu acabei o destruindo por dentro, e por isso eu jamais me perdoaria.

—Ele me convidou para sair. –Disse sorridente, dei de ombros, sabia que
Violeta jamais permitiria que ela ficasse com ele.

Mas o fato de que eu nem ao menos poderia lutar me machucava, eu


estava fora do jogo, e ele magoado com certeza transaria com uma delas.

—Depois de ter sido torturada ainda quer sair com ele.

—Eu o perdoei.

—Você quer que ele te coma. –Rosnei, e mais uma vez um bofetão. Tentei
erguer a mão para minha bochecha que agora ardia, mas a algema me
parou.
—Já falei para ser educada.

—Me solta, vamos ver se você é tão corajosa assim.

Melissa riu, colocou a xícara no pires e se levantou curvando em cima da


mesa em minha direção.

—Você vai ficar na área das moças presas por trafico, sabia que elas são
mães?

Mordi meu lábio inferior, Deus como eu queria estourar a cara dela!
Maldita!

—Mas nem para isso você serviu não é Cesarin?

—Vadia! –A guarda levantou a mão novamente mas Melissa a segurou.

—Solte-a Lorena. –A mulher a olhou como se ela fosse louca e negou, o


que me fez rir.

Mesmo tendo medo de mim, ainda me desafia. Isso é um tanto quanto


irônico não?

—Eu mandei a soltar.

Então ela o fez, massageei meus pulsos a observando.

—Vamos ver do que você é capaz.

—Não farei nada Melissa. –Murmurei me acomodando na cadeira. –Eu já


perdi tudo não é?
—Ainda bem que você entendeu, não tem volta Bianca, você perdeu. Seu
pai te traiu, sua irmã te traiu, sua própria mãe a traiu.

—Isabel é doente. –Resmunguei a fazendo rir alto, jogando os cabelos


loiros para trás.

—Mesmo assim você a protege! Bem que Sandro me disse, ele te treinou
bem para ser uma trouxa pela família.

Fechei os olhos, e balancei a cabeça negativamente, ainda doía ouvir isso,


saber que tanto tempo na máfia não me fez enxergar quem realmente era
aquele homem.

Primeiro ele me enganou, depois me denunciou e por fim contou toda a


verdade a Pietro.

—Você vai descobrir Bianca... Que um rostinho bonito não dura muito
dentro da cadeia.

—Idem Melissa. –Sorri me levantando, ela se retesou porém me virei em


direção a porta.

—Ainda não terminei com você.

—Mas eu terminei com você.

—Aqui você não é respeitada! Eu sou! Esse é o meu reino Cesarin!

—Chega de fazer escândalo, quero ir para minha cela.

—Então vá... Por que hoje eu vou me esbaldar no seu homem.


Minhas mãos se fecharam em punhos, apoiei a cabeça na porta quando
uma vertigem me dominou.

Será que eu seria morta se batesse nela? Ou ela mataria meu bebê?

Meu bebê.

Coloquei minha mão em meu ventre e respirei fundo, nem pude dizer a ele
que eu estava grávida de novo, e eu sequer fiz o tal tratamento. Agora com
toda essa merda, se eu não conseguir contar para ele, quando a Melissa
perceber ela irá me obrigar a abortar é óbvio.

De novo não!

Quanto mais alto a subida, pior é a queda. Eu com certeza sou um


exemplo disso agora.

Um grande exemplo.

—Faça o que quiser com ele Melissa. –As palavras que lancei de minha
boca para a fora a fizeram arfar.

—Você realmente nunca gostou dele não é?

Fechei os olhos, tentando controlar a umidade que surgiu ali, eu não sabia
se conseguiria mentir para ela, não sentindo tudo isso.

Deus eu não choro a tanto tempo, mas as lágrimas querem explodir por
meus olhos aqui e agora.

O rosto dele em minha mente era o único ponto que me dava força e ao
mesmo tempo fazia meu coração doer tanto.
As frases que ele me disse quando tudo começou a dar errado giravam ao
redor de seu rosto sorrindo para mim.

Sem você eu vou cair Bia.

Vamos superar isso juntos.

Eu te amo, estarei ao seu lado para o que der e vier.

Eu preciso de você ao meu lado! Preciso da força que você me da Bia!


Preciso da minha rainha.

E por fim, a última coisa vez que conversamos, aquele dia na sala onde eu
estava esperando o fim do intervalo do julgamento.

—O seu pai me contou tudo. –Pietro murmurou me olhando nos olhos,


minha respiração sumiu, obviamente a reação me entregou e o fez
suspirar profundamente. –Eu deveria ter desconfiado.

—​Pietro eu...

—​Você o que? De novo não me contou algo sério Bia!

—​Eu achei que você não ia acreditar em mim!

—​Acreditar em você? Eu confiei em você e você me traiu! A mim e minha


família! Tem mesmo o sangue sujo dos Cesarin!

—​Não fale assim...

—​O que você pretendia depois em? –Agora ele gritava e eu continuava
paralisada o encarando, e não era pela algema que me prendia ali
sentada, era por saber que além de eu estar sendo julgada por culpa do
meu pai, ele ainda contou para o Pietro que matou o Mateo com minha
conivência. –Ia me matar? Matar minha mãe?

—​Não... Eu disse para ele que eu tava fora!

—​Mas não me contou! Não me ajudou a impedir aquela merda toda!

—​Pietro por favor! Acredita em mim!

-ACREDITAR EM VOCÊ BIA? EU ESTIVE TODO ESSE TEMPO


ACREDITANDO EM VOCÊ! E AGORA ISSO!

—​Ele ta fazendo isso para nos separar!

—​Pois bem! Ele conseguiu.

Arfei, meus olhos não obedeciam meu cérebro, que implorava para que
ficassem molhados, eu tinha que chorar e pedir perdão.

Mas seria errado com ele, Pietro sempre se convencia ao me ver chorar, e
eu não podia fazer isso com ele.

—​Não... VOCÊ ME DISSE QUE ELE TAVA TENTANDO NOS SEPARAR


E AGORA VAI IR NA DELE?

—​Você não acreditou em mim lembra?

—​É DIFERENTE!

—​O que é diferente Bia?


Nos encaramos, ele furioso com os olhos vermelhos e olheiras roxas e eu
com o coração partido sentindo uma dor estranha ao respirar só de pensar
que naquele momento ele estava próximo a me deixar.

Diga a ele. Diga a ele Bia...

Diga que o ama.

Diz!

—​Eu... –Engoli em seco, as palavras travadas na minha garganta, Eu te


amo Pietro. –Sinto muito.

Ele por fim, depois de alguns segundos sorriu torto. Puxou o terno da
cadeira e se afastou até a porta.

—​É o fim da linha para você. –Murmurou antes de sair e me deixar ali
estática e com o coração ardendo.

—​Eu te amo! –Tentei gritar, mas saiu como um sussurro dolorido.

Melissa ainda aguardava uma resposta atrás de mim, as memórias


daquele dia me abateram fortemente, o que me fez cambalear.

—Acho que está óbvio.

Virei para ela, e pude ver um espelho no canto da sala que agora me
refletia.

Aproximei-me dele, quase que sem coragem nenhuma, tocando o cabelo


agora tão curto que não chegava a minha nuca nem a orelha, macacão
laranja horrível e um tênis branco que estava preto de tão sujo.
Toquei o meu reflexo, e desviei o olhar para minhas unhas, agora curtas e
com esmalte descascado.

—Você definitivamente, está linda. –Ela murmurou, ouvi sua risada ao


fundo, e foi o que me eu forças.

Respirei fundo, e contei mentalmente até dez.

—Eu tenho direito a uma ligação não é?

Melissa olhou para Lorena e as duas me encararam confusas.

—Ele não vai te atender.

—Não vou ligar pra ele Melissa, é todo seu.

Semicerrou os olhos e assentiu.

—Você não me engana Bia, jamais deixaria ele partir.

—Eu não sou você! Não preciso ficar correndo atrás de homem e me
humilhando.

Caminhei novamente até a porta a forçando, ela se abriu e dei de cara


com duas internas. Elas me encaravam sorrindo largo, e não era um
sorriso nada bom.

—Essa é a tal mafiosa? –A loira de cabelo longo perguntou para Melissa,


me virei para a encarar a vendo assentir para a tal mulher. –Uhm, ela dá
um caldo em.

—Com certeza dá. –A ruiva ao lado dela disse rindo os cabelos cacheados
também eram longos.
Aparentemente, não era obrigatório cortar o cabelo, a não ser que você
fosse Bianca Cesarin.

—Acompanhem a nova amiga de vocês meninas. –Escolhi ignorar a ironia


na voz dela e segui porta fora. –E lembrem-se, se conseguirem tirar o
bebe que ela carrega serão recompensadas.

Estaquei me virando minimamente, vendo a porta se fechar, e então


Melissa me mandou um beijo.

—Então novata, seja bem vinda! –A ruiva disse puxando o que restou do
meu cabelo para a encarar, semicerrei os olhos e ela sorriu. –Isso vai ser
divertido.

O sorriso que dei para ela a fez estremecer levemente, e eu soube.

Eu seria a rainha dali, mais cedo ou mais tarde.

Capítulo 1 - A Fazenda
Pietro

Itália, Roma

Fazenda dos Cesarin

Foi aterrorizante, o modo como Alice começou a chorar quando se


deparou com o sangue dentro de um quarto vazio na fazenda. Eu vi a
pequena Bia se jogar no chão tocando o sangue quase seco como se
pudesse o com o toque trazer a vida aquele pequeno ser que jazia ali, em
cima do único móvel naquele quarto.

Uma mesa de madeira.

– Não! –Começou a gritar, arrastava a mão pelo sangue como se o unisse


próximo a ela.

Eu? Bom eu estava em estado de choque.

A cena daquela pequena catástrofe a minha frente, fazia com que algo
gelado tomasse conta de meu corpo.

Eu apenas pude ficar parado, olhando aturdido aquela cena.

Primeiro, havia o sangue de Isabel misturado ao de Afrodite. Depois, tinha


Isabel caída no canto, me encarando com aqueles olhos loucos e por fim o
corpo da cachorra sobre a mesa.

Isabel sorria maliciosa, eu permaneci sem reação alguma.

Para falar a verdade, eu não conseguia pensar. Pensar em como dizer a


ela que a própria irmã matou a tão amada Afrodite.

E também, não conseguia pensar em.

Onde estaria a cabeça?

Ignorando Isabel que tinha as mãos na barriga onde o sangue vazava, do


tiro que acertei nela, caminhei até a mesa, onde alguém havia degolado a
bola de pelos branca.
Como um sádico, eu acariciei os pelos dela. Mas eu apenas conseguia
pensar no quanto ela era especial, e no quanto aquela vadia tinha
destruído a irmã com um ato como esse.

Eu conhecia o treinamento de Afrodite, assim como o de Anúbis, ela não


iria com alguém estranho de maneira nenhuma.

O que me fez estacar. Tirando a mão da penugem branca empapada de


sangue e me virar para a vadia loira.

– Você não fez isso sozinha. –Minha voz saiu ameaçadora, o que a fez
sorrir largamente e negar.

– Fiz sim.

– Onde está o Boreno?

– Não vai me perguntar onde esta seu filho?

Era uma pobre vadia louca.

– Não tivemos nenhum filho! Foi o Geovanne que teve um caso com
você...

Antes de concluir a frase, meu olho correu para Alice, que lentamente
levantou a cabeça para Isabel.

Merda.

– Como é que é?

– Não estou falando daquele filho, estou falando do que a Bia espera.
Rapidamente fiquei alerta, e Alice esquecendo o ciúmes se levantou em
um salto, nos olhamos como dois bobocas.

– Oh meu deus. –A reação foi dela, encarando o corpo atrás de mim.


–Não...

Minhas mãos foram para Isabel, a puxando para cima. A segurei pelo
cabelo, meu rosto quase colado no dela.

– Sua desgraçada! O que fez?

– Mandei a cabeça da cadela para ela. –Minhas mãos se fecharam em


punhos, mas não foi o meu soco que acertou o rosto dela, foi o da
pequena Cesarin. A soltei no chão, dando dois passos para trás, e assisti
Alice dar nela a talvez maior sova de sua vida.

Mas meus olhos viam agora a caixa que eu entreguei a Bia naquela
manhã.

Porra! Que droga! Droga!

Meu celular resolveu não colaborar, e cada ligação para o telefone de casa
dava caixa postal. Resolvi ligar para Bia, e só ouvia o toque da chamada.

Eu estava quase esmagando o celular na mão quando uma voz nada


agradável soou do outro lado.

– Pietro! –Isabella praticamente gritou, e eu fiquei alerta mais uma vez.


–Pietro a Andrea me deixou sozinha com a Bia, o Enzo tinha saído e eu...

– Encurta a conversa Isabella! Cadê ela? Por que não atendeu o telefone?

– Eu... Ela está na ambulância.


– Am...bulancia?

– Pietro... Eu sinto muito...

– O que você fez com ela? –Rosnei, eu realmente não queria encarar a
realidade, naquele momento me senti um covarde.

Eu sabia bem ela não fez nada, mas eu desejei por um instante que elas
tivessem brigado e aquilo fosse só um machucadinho.

Mas não era.

– Eu não fiz nada! –Praticamente gritou. –Porra ela ta grávida lembra? Eu


só... Pietro ela abriu o presentinho da Isabel.

Eu já sabia, mas por que era tão foda encarar?

– O que houve com ela?

– Ela estava desmaiada quando eu entrei no quarto, tentei reanimar ela


mas não consegui, como eu não fiz treinamento com grávidas...
Principalmente com o tipo dela...

– O FBI é bem fraquinho no treinamento.

– Não começa ok? Ela teve uma hemorragia uterina...

Obriguei minhas pernas a se manterem em pé, quando meu coração


fraquejou, desviei o olhar para Alice que ainda batia a cabeça de Isabel no
chão.
– Alice pare. –Minha voz soou baixa e estrangulada, e talvez a
preocupação a tenha feito se virar para mim soltando a vadia. –Não a
mate.

– Pietro...

– Tem alguém que vai desejar isso mais que você. –Foi nítido, a
compreensão dela. As mãos foram aos lábios e ela negou com a cabeça.
–Bella?

– Sim?

– Ela está viva?

– Sim ela vai ficar bem. O paramédico acabou de dizer isso.

– Pode ir com ela pro hospital?

– Eles precisam de uma liberação do membro da família, sabe quando o


caso não é grave...

– Você é da família.

– Hospital Geral. –Foi a última coisa que disse antes de desligar.

Coloquei o celular no bolso, ainda em transe.

– Alice. Pegue Isabel, eu vou levar a... Afrodite.

Ela assentiu, pequenina e poderosa como a irmã, apoiou Isabel em seu


ombro e as duas saíram do quarto.
Antes de pegar o corpo morto dela no colo. Apoiei a cabeça em seu tronco
e chorei.

Chorei por que eu entraria agora em uma guerra maior do que imaginei.

Chorei também, por que eu sabia, que minha rainha não ia encarar isso ao
meu lado.

– Por favor, de onde você estiver, de forças a ela. –Sussurrei, respirando


fundo. –Sem ela eu cairei.

Aquilo já era o começo da queda.

Eu só esperava, que depois da queda, viesse a ascensão.

Capítulo 2 - Ela se Arrepende?

Itália, Roma

Hospital Geral Romano

Bianca
Existem momentos, momentos de terror, em que seu cérebro
simplesmente trava, ele não consegue reagir aquilo, talvez nada consiga
reagir a isso.

Nem eu, para ser sincera.

Eu tinha a mente toda bagunçada, uma presença negra estranha, algo que
me mantinha ali, distante.

Tinha nomes, nomes que flutuavam todos confusos, mas eu me agarrava


aquele nome.

Pietro...

Por que a gravidade me segurava a ele? A única parte de minha mente


que ainda não tinha sucumbido a dor e nem a sonolência que havia me
derrubado em meio aquele cheiro de álcool e limpeza.

Passei algum tempo, o qual não consigo denominar, naquela semi


consciência, até que outro nome me apareceu.
Afrodite.

Deus o que eu fiz? Eu a deixei em casa aquele dia, um único escorregão


me trouxe a maior tristeza da minha vida.

Ver Isabel ser estuprada doeu, mas ver a cabeça da minha fiel
companheira em uma caixa de presente com um bilhete escrito parabéns
pelo bebê, Isabel.

Aquilo doeu mais.

Doeu por que eu vivi a vida para a proteger, mas na primeira oportunidade
minha irmã, minha irmã que eu tanto lutei a favor, me destruiu.

Você só deve confiar na família Bianca, apenas na família.

Meu pai me traia, minha irmã me traiu.


Que família eu tinha agora?

Fui tomada por uma sensação de retorno, tão grande que pude abrir os
olhos.

Arfei quando tentei tapar os olhos do Sol forte que os queimaram, porém
uma intra venenosa me fez parar.

Meu coração deu um salto, e fiquei ali, meu olho já não ardia eu apenas
encarava o cateter da agulha.

-Você está bem? –A voz grossa ao meu lado fez meu coração acelerar
mais e o bipe começou a tocar alto.

Pietro me encarava sério, reparei que ele tinha olheiras, estava vestido de
moletom o que é muito estranho para ele. Um soluço alto rompeu meus
lábios e fez a careta dele séria se desfazer em uma de suas expressões
de carinho.

-Minha linda...
-Pie...

Então, eu comecei a chorar, como ele nunca tinha visto na frente. E por
isso ele se assustou, se levantou em um pulo e me abraçou, quis apertar o
corpo forte dele ao meu mas a merda daquela intra venenosa me parou.

-Eu... A Afrodite...

-Shiu, não chora Bia.

-Ela... Ela...

Ele não me respondeu, abaixou o rosto escondendo ele de mim.

-Sinto muito... Mas eles vão pagar eu juro... –Me olhou arregalando os
olhos. –A não ser que você...

-Mate-os. –Falei antes que o meu instinto tanto cultivado pelo meu pai me
tomasse e eu os defendesse. –Mate todos, por mim e por Afrodite.
-E pelo nosso filho.

Foi ai que lembrei, minha cólica havia sumido, levei minha mão solta a
meu ventre.

-Você abortou.

Eu não o olhei, continuei encarando a coberta do hospital que me cobria,


eu estava viva mas o meu bebe não.

Preferia estar morta.

-Eu mudei de idéia. –Finalmente falei, minha voz sumia aquilo foi
praticamente um murmúrio, mas ele me ouviu, tocou meu rosto.

-Sobre?

-Não os mate.- Ele sorriu, os dentes brancos brilharam sob a luz, e um


olhar de total satisfação seguiu. -Eu os matarei. Cada um deles.
-Foi o Fabrizio que pegou ela em casa.

-Como sabe disso?

-Resolvi algumas coisas, enquanto esteve dormindo.

-Por quanto tempo?

-Você dormiu por dois dias.

-Por que?

-Os médicos me disseram que você tem um problema...

-Não diga nada.


E ele não disse, apenas ficou ali ao meu lado em silencio por um tempo,
eu continuava encarando o cobertor, minha mente lutava uma batalha,
uma batalha em que o lado da vingança ganhava a largo espaço.

-Pietro?

-Sim?

-O que você sabe sobre meu pai?

Silencio.

-Pietro...

-Eu responderei se jurar que vai acreditar em mim.

Olhei para meu marido abismada, ele tinha o olhar sério com que geria os
negócios. Pisquei algumas vezes me acomodando na cama, ignorando por
algum tempo o buraco enorme que se formava em meu peito.
-Eu não to entendendo onde você...

-Bia, o seu pai é um maldito traidor.

Elevei meus olhos para o deles chocada, como ele ousa falar assim do
meu pai?

Pietro percebeu e suspirou.

-Não quero que você descubra isso tarde de mais.

-O que você quer dizer com tarde de mais?

-Que ele pode fazer algo contra nós. Mais do que ele já fez. -O olhar dele
era acusador o que me fez ficar na defensiva. Essa definitivamente não
era uma boa forma de me falar o que ele pretendia.

-O que ele fez?


-Ele fez você estar aqui agora porra.

-Meu pai nunca faria nada para me machucar!

-Bia!

-Pietro! Eu não acredito que está tentando me colocar contra meu pai.

Ele suspirou e levantou, caminhou em volta da minha cama resmungando


baixo, semicerrei os olhos desejando o matar com um olhar de calor.

-Como você pode ser tão ingenua?

-Como é que é?

-Sabe o que ele me disse? Que você nunca acreditaria em mim! Que é
uma tola.
Meu sangue agora borbulhava pelas minhas veias. Tinha certeza que mais
alguma asneira que ele dissesse a manta que me cobria seria
estraçalhada. Mesmo assim, uma pequena parte de mim lá em baixo se
remexia incomodada.

E se for verdade?

-Você é um canalha Pietro Albertini!

-Que?!

-Tinha que ser um Albertini! Na primeira oportunidade tenta me por contra


meu pai!

-Bia...

-Você é detestável Pietro!


-Quer saber Bianca? Acredite nele se quiser! Você que está sendo trouxa.

Semicerrei os olhos me apoiando para levantar, arfei e voltei a cair na


almofada, o que o fez se virar de frente para mim e arregalar os olhos
correndo em minha direção. Comecei a tremer com a dor no fim da minha
coluna.

-Você está bem?

-Eu... vou ficar. -Foi a vez dele semicerrar os olhos.

-Tá sentindo muita dor?

-Não muita... -Arquejei fechando os olhos, porra isso era pior que minha
cólica.

-Merda o que você fez Bia?

Ah não! Ele vai por a culpa em mim?


-Se você não fosse tão grosso e ignorante isso não teria acontecido!

-Mas porra viu, nem com dor você tira essas luvas de boxe!

-Eu não sou você Pietro, não abaixo minha guarda.

-Deveria levantar ela para quem merece!

-Não ouse começar com essa história do meu pai de novo! -Gritei, o que
fez minha lombar doer ainda mais. -Ai... Caramba!

-Calma, você vai ficar bem, vou chamar a enfermeira...

-Não! -Em meio a semi corrida que ele deu para a porta, Pietro parou e se
virou para mim. -Fica... Fica comigo.

Os olhos verdes dele deixaram refletir o assombro que minha frase


causou. Não tentei a retirar, embora meus instintos insistissem para que
eu fizesse isso.
-Eu... Fico sim. -Respondeu caminhando para a poltrona ao lado da cama.
Assim que sentou, pegou em minha mão e eu pude respirar fundo,
tentando me acomodar melhor.

-Então... Foi tudo culpa minha né. -Admiti, dessa vez sem conseguir olhar
nos olhos dele.

-Eu fui desatento...

-Deveria ter te contado Pietro. –Ele me encarou, os olhos com uma


estranha culpa.

-Só se preocupe em se recuperar agora Bia.

Assenti, mesmo sabendo que daquilo eu jamais me recuperaria.

•••
Alguns dias depois eu já estava deitada em minha própria cama, na casa
dos Albertini. Me mantive quase que em silêncio profundo por todo o
tempo no hospital, olhando para o horizonte, tentando talvez descobrir
motivos para aquele vazio obscuro que me engolia.

Pietro demostrava estar preocupado, Andrea tentava me alimentar, Alice


me olhava severamente. Eu continuava pensando em tudo que perdi. E eu
sequer conseguia ter ideia do que ao certo eu havia perdido.

Minha família, minha melhor amiga, meu bebê, eu mesma.

Eram perguntas que continuavam me sufocando. Eu continuava me


sufocando. E a cada dia mais perdendo aquele grito de desespero que me
libertaria das amarras que eu mesma me prendi.

Eram dez horas quando acordei. Olhei ao redor, tudo escuro. Suspirei
algumas vezes fechando os olhos e tentando controlar minha respiração.
Estresse pós traumático, ansiedade, depressão e distúrbio alimentar. Eram
alguns dos motivos pelo qual meu criado mudo havia se tornado uma
Drogaria.

Remédio de ansiedade. Tentei encontrar ele em meio aquele mar de


cápsulas mas parecia ter fugido, ou eu teria tomado três pílulas para
dormir na noite anterior. Agora eu suava, tremia e sentia meu coração
acelerado.

Maldito pesadelo.

-Controle-se Bia. –Pensei tentando secar o líquido frio que escapava por
meus poros. Meu estômago começava a se esfriar e eu corri até o vaso
vomitando nada, já que a dias eu não comia.

Permaneci ali caída no chão do banheiro, o cabelo molhado de suor, a


camisola que agora era enorme em mim. Engraçado como ficar sem
academia faz você emagrecer tão rápido massa magra.

Reage droga. Levanta Bia.


Seria ridículo dizer que eu ainda sentia uma parte de mim querendo lutar?
Ela se agarrava com unhas e dentes a um lampejo de esperança, que
naquele momento eu não queria e não precisava.

-Bia? –A voz do meu marido estava temerosa na porta do banheiro. Gemi


virando de lado, não queria vê-lo.

-Vai embora. –Resmunguei por pensamento.

-Bia...

Dessa vez fiquei em silêncio. Afundei meu rosto em meu braço, fechando
os olhos com tanta força quanto podia, pedindo que ele sumisse como
meus fantasmas.

Mas nenhum deles sumia.

A mão de Pietro acariciou meu cabelo.


-Bia querida...

O topor em que deu me encontrava, ligeiramente sumiu. Tão rápido que eu


soube que era a depressão dando espaço para o estresse. E eu explodi,
uma explosão vergonhosa e ridícula. Mas era uma reação.

-Qual é a sua Pietro? Por que não por que me deixar em paz? –Berrei
sentindo o mesmo temor de quando acordei me tomar.

Então ele me puxou para seus braços.

-Chore Bia.

-Não irei chorar. Não tenho motivos.

-Você está sufocando tudo o que sente, pode piorar o psiquiatra disse...

-Sai daqui! Sai! Não quero ver você! –Porém ele continuou me abraçando,
respirei fundo, fechei os olhos em seus braços.
Por que ele continuava tentando.

-Fale comigo minha linda.

Silêncio, continuei parada sem me mover quase sem respirar.

-Bia diga algo. –Senti beijar meu cabelo e acariciar meu rosto. –Linda eu
trouxe o café.

Abri os olhos, o verde oliva penetrando minha mente.

-Venha comer venha. –Ele tentou me levantar consigo, mas o empurrei e


permaneci no chão. –Bia... Meu amor você estava conseguindo falar...
Volte.

Mas eu não voltei, mergulhei mais uma vez no meu topor e permaneci ali
no azulejo do banheiro. Sentada.
•••

Isabel

Itália , Roma

Casa dos Swan

Eu não sabia como reagir, apenas esperava paralisada, as atitudes


irritadas do ruivo, que entrará pela sala do meu escritório jogando o irmão
mais novo no chão.

O loiro, que antes eu conhecia como Pietro, levantou os olhos azuis


turquesa para meu rosto. Ironia e Desprezo era tudo o que podia ver
naquele mar azul.

O ruivo, o verdadeiro Pietro Albertini me encarava com os olhos


estupidamente verdes, injetados de raiva e rancor.
Tanto sentimentos sentimentos ruins reunidos em meu escritório me
fizeram estremecer, sob o olhar atento de Pietro que sorriu com escárnio.

-Este é o Pietro que você conheceu?

-Perguntou se aproximando da mesa, onde eu permanecia em pé o


encarando.

Usando um terno preto, era tão ameaçador quanto um leão.

Realmente parecia um leão.

-Tarde de mais para me entregá-lo não acha? -O desafiei, naquele


momento, tínhamos uma briga de igual para igual, eu finalmente alcançava
o patamar Bianca Cesarin de mafiosa.

Contra minhas expectativas, ele continuou me encarando, agora a


centímetros de mim. O olhar de rancor dele continuava intacto.

-Não, não acho. Apenas sei, sei Isabel Cesarin que você foi longe de mais.
Gargalhei, minha mão coçando para encontrar o rosto perfeito dele em um
tapa. Um tapa que deixaria minha mão tatuada ali.

-Só Bianca Cesarin pode ir longe de mais?

-Eu falei para não se envolver em minha vida sua doente!

-Eu não sou doente. -Resmunguei, dessa vez realmente ofendida, tudo o
que fiz foi pelo meu filho! Que os Albertini arrancaram tão cedo de mim.
-Isso foi pelo meu filho! O qual vocês arrancaram de mim!

-E o que você fez? Arrancou o filho de sua irmã!

-Ela não sofreu nem metade do que eu sofri! -Dessa vez libertei minha
mão. Que socou o peito dele, o ódio e nojo me dominando. Nojo do que
eles fizeram comigo! Do que pagaram aqueles homens para fazer.

-Claro que sofreu! Ela sofreu com você. Sofreu ao seu lado, todos esses
anos tentou te defender de tudo. Mas quer saber Isabel? Quem precisava
de defesa não era você, era ela! Precisava de alguém que a afastasse de
uma pessoa doente e egoísta como você!

Meus músculos travaram. Egoísta? Ele me acha egoísta? Antes que me


permitisse ser derrotada, levantei meu queixo novamente. Pronta para
virar a outra face.

-Agora ela está destruída no quarto! Eu tirei a grande mafiosa do jogo.

-Sim, você tirou. Mas a que preço? -Com passos elegantes, Pietro Albertini
saiu do escritório, batendo à porta atras de si, não antes de Fabrizio entrar
e encarar o loiro que mantinha a cabeça baixa.

Me aproximei do homem. O suposto Pietro que eu namorei em um verão


tempos atrás.

-Geovanne Albertini. -Não foi uma pergunta, foi uma constatação.

-Sim.
-Por que? -A pergunta que por tantas noites guardei dentro de mim, saiu
arrastada e quase sem som.

Com o silêncio dele, percebi o que de fato já sabia a muito tempo.

Não havia uma resposta.

-Você me fez perder o meu filho! Contratou homens para isso.

-O que? -Notei surpresa o olhar de susto dele. -Do que está falando
Isabel?

Meu coração se acelerou. O rosto realmente surpreso dele. Me dava a


seria impressão de que havia algo muito errado naquela história.

-Dos homens. Os que contratou para tirar me fazer perder o bebê.

-Que bebe?
-Geovanne... Você sabia do bebê, você escreveu para mim! -Rosnei, uma
risada nascendo em meu âmago. Eu sequer sabia o motivo dela estar ali.
A risada de ódio.

-Isabel, desde que você voltou a Rússia nunca mais nos falamos. Você
nunca mais respondeu minhas cartas.

Meu olhar de desespero cruzou com o de Fabrizio de choque. E então


finalmente liberei a risada que crescia em mim.

Cortando a sala. Sob o olhar atento dos dois. Chegando até a lareira.

Puxei o vidro aonde Anthony descansava. E ignorando os arquejos de


choque atrás de mim, o joguei no fogo que ardeu o abraçando de bom
trato.

-Isabel... Isso era... Oh meu deu...

-Fabrizio, tire esse homem daqui. Jogue o na casa dos Albertini. -Me vi
falando com a voz estranhamente tranquila. Uma tranquilidade que não
era espelhada em meu olhar, o qual eu podia ver no reflexo do vidro do
porta retrato. Onde cuidadosamente colocada, havia uma foto minha com
papai.

Ouvindo os protestos de Geovanne e depois a porta se fechar. Continuei a


encarar o reflexo.

Antes de puxar o porta retrato dali e o jogar junto ao fogo também.

-Isabel! -Foi a última coisa que ouvi de Geovanne antes da porta principal
de casa se bater.

Rapidamente sai do escritório, cruzando a casa até o salão de jogos em


tempo recorde. Ao entrar, ele se encontrava fumando um charuto, o terno
era cinza, um taco de sinuca na mão, estava sozinho comigo. E eu
agradecia por isso.

Os olhos castanhos como os meus, de Bia e de Alice me encararam.

Gelados. Um sorriso se formou em meus lábios em resposta.


-Imaginava quanto tempo demoraria, desde que Geovanne entrou com
Pietro aqui em casa, demorou mais do que imaginei.

Meu sorriso aumentou, o olhar dele se escureceu.

-Diga logo.

-Quero que conte a ela. -Ele arqueou a sobrancelha, em um olhar de


superioridade que feriu meu ego. -Ou eu conto.

-Não se atreva!

-Foi você? Esse tempo todo não é? –Em quanto o sorriso tatuado em meu
rosto apenas crescia, lágrimas brotaram em meus olhos, eu não chorava
desde que aqueles homens apareceram na Rússia para me estuprarem
anos atrás.

Sabia que nesse momento, aquela dieta de choros acabaria. E eu não me


preocupei com isso. Mesmo que aquilo acontecesse na frente do causador
de todo o meu sofrimento. Sandro Cesarin sorriu, eu já sabia que não tinha
nada de bom dentro daquele homem, desde o dia que descobri do caso
dele com Andrea Albertini, e descobrir que ele a ameaçava para isso só
piorou meu olhar diante daquela criatura.

O sabor da injustiça que cometi ardeu como veneno em minha língua.

Enquanto permanecemos em silêncio nos olhando, quis pedir desculpas


para minha irmã.

A única ali que me ajudou o tempo todo.

-Por que? -Mais uma vez aquela frase, no mesmo dia, quem poderia
imaginar que ela mudaria tanto de alvo?

-O único fruto de um Albertini que aceito nessa casa é a Bianca.

Meu coração se acelerou e meu estômago afundou em minha barriga, eu


não desejava ouvir aquela confirmação, a dor cresceu ainda mais em mim.
E a primeira lágrima desceu por meu rosto.
-Ela não é fraca como você. Jamais choraria como uma mulherzinha. -O
sorriso finalmente sumiu de meu rosto. Dando lugar a mordida em minha
língua. Tentando ignorar a dor que tomou meu corpo. Minhas unhas
apertavam meu braço, eu já podia sentir a pele se romper sob elas

-Você, é a pessoa mais podre e nojenta que existiu e existirá nesse mundo
Sandro Cesarin! Você pagou pelo estupro da sua filha! Entregou uma filha
para ser escrava sexual como pagamento de uma dívida! -Enfim eu estava
diante dele. Nossos olhos se cortando. -Você estuprou uma mulher e a
obrigou a ter filhos seus mesmo casada com seu maior inimigo. Você a
manipula! Sendo que assim como eu ou Alice, ela é uma vítima sua.

Sem que pudesse me deter, desferi um soco no nariz dele. O sangue


desceu no mesmo momento. Os minutos que seguiram foram silenciosos.
Sandro me encarava. A mão no nariz e a outra na arma que agora ele me
apontava.

-Você não deveria ter feito isso Isabel.

-Seu desgraçado! Isso não é nem metade do que Bianca fará com você.
–Ele riu engatilhando a arma o olhar frio que sempre carregou por aí.
-Bianca está destruída, você a destruiu. Ela nunca vai acreditar em você
Isabel. -Acariciou o cano da pistola me encarando sorridente. -Andrea é
tudo, menos vitima.

O encarei por alguns segundos, assento para mim mesma. Ele me


manipulou direitinho.

-O Pietro vai dizer pra ela isso!

-Isabel... Sua tola, ela nunca vai acreditar nele. Nem em você. Vocês
juntos me ajudaram, eu serei a única pessoa em que ela irá confiar ao final
de tudo. Você a destroçou. Deu para mim a vitória sem saber.

Mantive-me parada o encarando, ele havia ganhado.

Sorrindo, guardou a pistola.

-Agora vá, ligue para Violeta, avise ela da boa nova.


-Qual boa nova?

-Quando Bia estiver bem, eu matarei Mateo Albertini, e terei tudo o que
sempre quis. Andrea e o comando do tráfico de drogas e armas de toda a
Europa.

Dizendo isso. Ele limpou o sangue que escorria com um lenço que tinha
em seu bolso e saiu da sala, antes jogando ele em mim.

-Obrigado pelos seus serviços Isabel.

E então, fui afogada pelo arrependimento. .

Capítulo 3 - Transar com Meu Marido


Itália, Casa dos Albertini

Bianca

Aquilo era o fundo do poço, eu tinha completa certeza disso naquele


momento. Eu estava ali escorada na parede do banheiro branco soluçando
sem lágrimas, como um homem que diz não chorar eu não conseguia ter o
prazer de me livrar daquela dor insuportável que esmagava meu coração.
Pietro vinha tentando me trazer de volta à superfície desse oceano de dor
em que eu me encontrava, mas era em vão, eu continuava em silêncio, a
meses sem dizer uma palavra desde nossa discussão quando acordei,
quando ele finalmente descobriu minha doença. Porém sua paciência
invejável me deixava Ainda pior.

O hospital havia se tornado minha casa, a área psiquiátrica meu quarto.


Definitivamente era o fundo do poço.

-Bianca? -O médico surgiu na porta o olhar inquisitivo sobre a cena que eu


fazia ali. Respirando fundo ele caminhou até mim me estendendo a mão.
-Venha volte pro quarto.

Desviei o olhar para a janela retangular e minúscula que me deixava perto


da realidade em quanto os remédios me afastavam da mesma.

-Bianca, nos dois sabemos que você não está abalada ao ponto de ser
transferida para uma clínica psiquiátrica.

A mão quente do médico sobre a minha me fez trincar os dentes. Eu


precisava explodir, reagir, fazer aquela dor de tornar ódio. Ódio pelo meu
pai e minha irmã, minha família que brincou comigo como se eu fosse um
ratinho de laboratório.

-Você precisa falar. Eu sinto sua presença aí dentro Bianca. -Com um


puxão eu soltei minha mão da dele, suspirando o médico se retirou do meu
banheiro, e finalmente eu escorreguei até o chão.

Preciso chorar, gritar, matar. Preciso explodir.

Puxei meu cabelo com força o bastante para arrancar alguns fios e sentir a
dor que me pareceu tranquilizante por alguns segundos.
E aquela noite foi terrível.

Lorazepam em doses altas já não me tranquilizavam, apenas me deixava


mais ligada.

Pietro apareceu no dia seguinte. O olhar fundo e torturado, em quanto eu


me negava a deixar a enfermeira furar mais uma veia minha, já que eu
arrancava as introvenosas quando estava sozinha.

-Senhora Albertini por favor! -Mordi meu lábio inferior até sentir o sangue
fresco tomar minha boca, e por fim descontei minha raiva nela, com um
empurrão que a fez bater com toda a força contra a parede ao lado da
minha cama. Meu marido correu até ela tentando a segurar antes que ela
desmaiasse no chão.

-Bianca! -Desviei o olhar enfurecido para ele que tremeu no lugar. -Não me
olhe assim! Você que buscou isso!

Por fim ele explodiu, levando minha consciência de volta para meu corpo
entorpecido.

-Busquei? -Gritei com a voz rouca pelos meses em silêncio. A reação dele
em quanto amparava a enfermeira foi prender a respiração e arregalar os
olhos verdes chocados. -Como eu busquei isso? Como eu busquei estar
aqui! Eu! Bianca Cesarin! Busquei uma gravidez com um útero doente!
Traição da minha família! Como eu busquei isso Albertini!

Eu tremia, a respiração não podia me controlar mais. E por fim eu comecei


a arfar me levantando da cama. O encarando frente a frente. Mesmo
sendo mais baixa que ele. A enfermeira saiu correndo, para chamar o
psiquiatra talvez.
-Você é um grande imbecil! Me deixou aqui para ser dopada!

-Você não reagia bia...

-Não me chame de Bia! -Berrei empurrando todo o conteúdo do criado


mudo no chão. -E me tire daqui seu grande idiota!

No segundo seguinte ele me abraçou, tão forte que mal pude respirar, fui
enchida de beijos molhados, e aos poucos minha respiração se acalmou, o
cheiro dele entrou em meu sistema me dando o direito de finalmente
desabar em seus braços, não chorei, mas me senti protegida finalmente.

-Era um menino. -Murmurei finalmente. -Eu matei meu filho.

-Ei! Não diga isso. -Ele nos separou encarando meu rosto, suas mãos
acariciaram minhas bochechas. -Eu não devia ter te deixado sozinha para
procurar a Afrodite...

-Minha irmã matou ela... minha irmã Pietro!

Ele não disse nada. Apenas me abraçou novamente, no exato momento


em que os médicos chegaram no quarto.

-Ela voltou. -O psiquiatra disse, tive a impressão de vê-lo respirar fundo


tranquilamente.

Sim eu tinha voltado, voltado para esmagar um por um, daqueles que me
destruíram.

Ou eu não me chamava.

Bianca Maria Cesarin Albertini.


Naquela tarde meu marido me encheu de atenção, carinho e comida.
Estavámos sozinhos em casa, Isabella e Enzo haviam viajado para a
américa, ela deu uma desculpinha para ir lá, já que o Enzo não sabe que
ela é do FBI e Interpol. Andrea e Mateo haviam viajado para mais uma lua
de mel, a pedido de Pietro que queria ficar sozinho comigo, já que Alice e
Geovanne haviam saído de casa brigados com Pietro depois de alguma
coisa com Isabel, não perguntei, infelizmente tudo para mim parecia sem
graça e desinteressante.

Anúbis estava deitado embaixo de meus pés, e bufafa mal humorado com
algo, em quanto o dono fazia macarrão para mim. Alisei os pelos pretos
com meus pés o fazendo erguer a cabeça e me encarar com aqueles
olhos mel. Só pude suspirar e assentir pra ele.

Também sinto falta dela. Pensei em resposta.

Pietro se aproximou sorrindo com um prato de spaguetti ao sugo, meu


sorriso para ele foi brilhante o que o deixou animado se sentando a minha
frente e me oferecendo uma taça de um vinho tinto.

-Então posso despachar os médicos?

-Já deveria ter feito isso, sabe que odeio médicos.

-Odeia médicos por que estava doente. -Revirei os olhos em resposta


sugando o macarrão.

Deus era tão bom poder comer algo além de sopa enfiada em minha boca.
Ri baixinho enrolando o macarrão no garfo, alisando Anúbis com meu pé e
por fim levantei os olhos para Pietro que me encarava com um sorriso que
fez meu coração acelerar.

-Dio, eu senti tanta falta de ter você.... Sem você eu caio Bianca! Eu
preciso de você do meu lado, você é minha força. -Paralisei, deixando o
garfo no prato.

-Thomas! -Gritei fazendo meu marido franzir o cenho confuso. O homem


entrou correndo na casa, quase que tropeçando e com um olhar de
completa surpresa.

-Bianca?

-Tire os médicos dessa

casa o mais rapido possivel, e vá para minha fazenda. -Resmunguei


segurando a taça de vinho sem olhar para ele.

-Aconteceu algo?

-Sim eu quero transar com meu marido e você ta aqui fazendo perguntas
ainda.

Não precisei olhar de novo para constatar que ele tinha ido fazer o que
mandei, voltei para meu macarrão ignorando a risada divertida de Pietro.

-Transar Bianca? -Sorri para ele, pulando da cadeira e me jogando nos


seus braços. Pietro segurou minha cintura com força beijando minha testa.
-Você não era tão pornográfica antes.

-Eu não sou pornográfica Pietro! -Mais uma de suas risadas gostosas e
outro beijo no topo da cabeça.
Logo Thomas passou acompanhado dos médicos que praticamente
tropeçavam nos próprios pés em quanto corriam, sorri contente,
obviamente Thomas havia usado minhas palavras para que eles se
retirassem. Por fim me virei para Pietro que sorria divertido se apoiando no
balcão.

-Então agora minha esposa irá me agarrar? -Revirei os olhos.

-Precisamos conversar.

-E eu achando que ia me dar bem -Bufou dando a volta e parando a minha


frente com sua postura de mafioso. -Já sei o que quer saber.

-Irá me contar?

-Você acabou de sair de uma depressão de meses Bianca.

-Sim, eu sai logo já acabou. E nesse momento eu quero saber como


andam os negócios. Nunca gostei de deixar nas mãos de homens. -Ele
arqueou a sobrancelha, cruzou os braços me avaliando com os olhos
verdes de repente irritados.

-O que quer dizer com isso Cesarin?

-Quero dizer que homens não são cuidadosos nem atenciosos Pietro.

-Eu sou Pietro Anthony Antonelli Albertini. Não sou o Fabrizio.

Levantei lentamente, digerindo a menção aquele nome em minha


presença. Coloquei meu dedo no nariz dele e rosnei.

-Nunca mais diga o nome daquele patife na minha presença Albertini!


-Fala a pessoa que não perdia a oportunidade para abrir as pernas para
o.... Patife.

-Como ousa?

-É culpa sua Bianca! Você permitiu que ele continuasse ao seu redor
depois de se casar, era óbvio que ele faria algo contra você! E graças a
isso você perdeu sua cachorra e eu meu filho.

-Eu não sei por que ainda dialogo com você!

-Você tem o dom de me tirar do sério! A poucos minutos eu estava feliz


com sua melhora.

-E agora está me acusando de culpada pelo que outra pessoa fez! Seu
machista!

-Ora Bianca, dio mio, que mulher difícil.

-E por que você não vai beijar minha irmã? Seu canalha.

Gritando eu subi as escadas o mais rápido que pude, sendo acompanhada


por Pietro que corria atrás de mim. Entrei no quarto batendo a porta atrás
de mim, que foi aberta segundos depois. Nos encaramos irritados, ele
esperando que eu me rende-se e eu esperando que ele se rende-se.

Parece que ninguém se renderia ali.

-Fugir de mim não vai resolver o problema.

-O problema é que você não me vê como sua parceira.


-Eu acabei de dizer que você é minha parceira! Dio! -Resmungou puxando
o cabelo. Balancei a cabeça me aproximando dele.

-O que houve? Por que essa reação? O que está me escondendo?

-Seu pai mandou a Isabel para um hospício. -Ele disse de uma vez,
esticando a mão para me segurar pela cintura no momento certo que
minhas pernas cederam.

-Ele fez o que?

-Bia...

-Como ele pode?

-Você mesma disse que ela precisava se tratar.

-Com um psiquiatra Pietro! Não em um hospício! Ela não é louca, porra ela
foi estuprada!

-E isso fazem anos, não acha que já passou da hora dela superar?

-Você não entende... Geovane era tudo para ela, o bebê era tudo para ela.
Ela não nasceu para isso sabe? A máfia... Ela é muito doce e...

-Bianca! Essa mulher matou e decapitou a Afrodite! E fez você sofrer um


aborto!

-Ela tava doente!

-O seu pai realmente te criou para ser uma idiota.

-Você perdeu a noção do perigo?


-Me ouça ta legal? A Isabel descobriu algo... Por isso ele a mandou pra
longe.

-O que ela pode ter descoberto?

Meu marido soltou a minha cintura, desviando o olhar para a janela.


Semicerrei os olhos para aquela reação de culpa.

-Você sabe o que é.

-O que? Lógico que não sei!

-Pietro...

-Existem coisas, que eu não digo para te proteger.

-Não preciso que me proteja. Eu sei fazer isso sozinha, sou treinada para
me proteger lembre-se disso.

-Eu sei muito bem disso, você é forte Bia. E eu a amo por isso... Mas o que
quer que eu saiba, você não acreditará em mim.

-É claro que acreditarei.

-Eu sou o seu inimigo, e sempre serei. Você sempre irá confiar no seu pai.

Bufei, o fato de Pietro sempre tentar me fazer acreditar nas coisas que diz
sobre meu pai, inclusive usando de táticas de persuasão tão ridículas
como essa sempre me irritou. Ele como marido deveria respeitar minha
relação com meu pai, assim como eu respeito a relação dele com o Mateo.

Nada me irritava mais do que alguém querendo me colocar contra meu


pai.
Eu sei muito bem como agir com ele.

-Ele é meu pai, e você é meu marido. Existem diferenças.

-Eu não sou seu marido, sou o seu inimigo que ele a obrigou a casar.

-E isso o tornou meu marido, não seja ridículo de tentar me manipular,


você sabe que não sou uma de duas amantes sem cérebro.

-Ex amantes Bianca.

-Que seja! Uma ex amante sua é agente da Interpol, definitivamente você


não escolhe bem.

-Que ótimo Bianca, mas nenhuma ex amante minha é minha irmã.


-Silencio, ele respirou fundo fechando os olhos, e eu arregalei os meus.

-Oh dio mio

-Bia...

-Não... Cale a boca! Meu irmão?

-Bia eu... Não estava falando de você exatamente....

-Pietro! Não tente desfazer o que você disse! É óbvio que você estava
falando de mim. -Meu coração quase estourava meu peito. Respirei fundo
algumas vezes me sentando na cama.

Meu irmão?

-O Fabrizio é meu irmão?


Capítulo 4 - Terror

Itália, Roma

Bianca

Meus passos eram pesados, pelo rancor, ódio e a dúvida. Quando desci
do carro e subi as escadas de entrada daquela que havia sido minha casa,
meu lar. Eu podia enxergar minha infância naqueles jardins da mansão,
podia ver uma Bianca risonha e altruísta correndo ao meu redor atrás de
Fabrizio e Isabel.

Meus saltos prada tocavam o cimento com o mesmo peso de meus


dedos sobre as teclas do piano, que incessantemente meu pai tentava me
fazer aprender por trás daquelas paredes.

Minha respiração pesada, minha mente confusa, meu coração


apertado. Nada daquilo parecia surtir efeito sobre mim, que abri a porta de
madeira com o brasão, que eu pensei que defenderia pelo resto da minha
vida, mas na verdade era uma grande mentira.

A família.

O brasão dourado.
Fabrizio.

E Sandro Cesarin.

Fechei a porta com um baque ensurdecedor, eu definitivamente não


queria passar despercebida.

Até por que, minha presença ali, me fazia notar a falta do arfar suave
e as patas que sempre me seguiam para todos os lados. Respirei fundo.
Contei até dez de olhos fechados. Para então olhar a sala e encarar os
olhos castanhos como os meus, frios como os meus.

Alisei as pontas do meu cabelo, que agora batia em minha cintura. O


encarando friamente.

-Bia...

-Quando você pretendia me contar? –O interrompi, Sandro vacilou


olhando ao redor, procurando talvez um guarda, uma salvação de minhas
mãos. –Eu dispensei todos essa manhã.

-Como eles podem obedecer você? Cazzo!

-Eu sou Bianca Cesarin, treinei eles, é por isso que me obedecem.

-Eu sou seu pai Bia... Não ouse usar essa pose ameaçadora para
mim. Sabe que eu a criei, eu a amei.

-Eu sei de muitas coisas agora Sandro, coisas que antes eu não
sabia.

-Você não é mais a mafiosa que saiu dessa casa com um vestido de
casamento preto, você me decepcionou engravidando do alvo.
Suspiro, minha mão desejando arrancar minha Glock e furar a testa
perfeitamente lisa e corada do Cesarin. Porém passei minha mão pelo
vestido azul marinho que eu usava. O olhar impassível dele estava
começando a fazer meu sangue ferver perigosamente.

-Eu já disse que estou fora do seu plano.

-Isso não quer dizer que o plano será encerrado. Você é minha filha!
Minha parceira! Não se esqueça disso.

-Você se esqueceu de mim! Se esqueceu de me contar que eu era


irmã do Fabrizio.

Arfou, segurando-se em pé com a ajuda da poltrona em que ele


agora se apoiou, no canto da sala Magnus pareceu notar a mudança de
domínio ali, caminhando alegremente para perto de mim, o grande
doberman se sentou ao meu lado, e mais uma vez meu pensamento voltou
a Afrodite.

-Quem lhe disse isso? Andrea é uma maldita vadia...

-Andrea pai? –Seu rosto passou para um vermelho vivido, eu


finalmente tinha tirado o mafioso de seu lugar de conforto. –O que ela tem
a ver com essa história?

-Céus... Pietro lhe contou?

-Sim, Pietro, justo o homem que você tanto tenta me fazer matar, eu
quero saber... Por que deseja tanto que eu o mate? Ele sabe de mais dos
seus podres?

-Bianca, você ser irmã do Fabrizio não muda nada!


-Muda sim! –Berrei, passo ante passo eu comecei a me aproximar
dele, a ira jorrando de mim como o olho de um furacão. –Eu tive um caso
com o meu irmão! E você sempre soube!

-Bianca minha filha eu...

-Comece a rezar Cesarin. –Finalmente diante dele eu coloquei minha


mão em seu ombro. –Comece a rezar para que eu não descubra o que
mais você esconde de mim.

-Você é minha filha.

-Isso não me impede de matar um mentiroso. –Rosnei estapeando a


sua face. A minha criança interior saltou assustada com tal atitude, eu
jamais fui nada além de uma filha exemplar, tanto em minha educação
como em minha devoção. Mas aquilo havia acabado com o começo da
vinda a tona das mentiras, que aquele homem havia me contato a vida
toda.

-Bianca! –Gritou chocado, a mão indo de encontro ao lugar onde eu


bati. O encarei friamente.

-Ouse ter me manipulado Sandro! Ouse! E eu juro, que sua morte


será lenta e calculada minuciosamente, para que você sinta dor o tempo
todo. Afinal eu não estudei medicina a toa.

-Bianca, você nunca agiu assim comigo!

-E você me fez cuspir na bíblia! Para ter controle sobre mim? Era
isso que o Fabrizio era, um maldito controle sobre mim...

-Ele a amava.
-Ele é meu irmão! Óbvio que me amava!

Sandro agora tremia diante de mim. Seus olhos suplicando para que
eu me acalmasse.

-Você me fez perder meu filho.

-O que? Foi a Isabel!

-Você manipulou ela! Não tente mentir para mim. Eu nunca mais
cairei em uma única mentira sua Sandro.

Ali diante de mim, um grande mafioso deixou duas lagrimas


escorrerem por seu rosto me olhando.

-Filha, você é o amor da minha vida. Desde que eu a vi pequena, eu


soube que nunca amaria ninguém como amo você... Minha Afrodite...

Mais um tapa alto, e dessa vez ele mordeu o lábio inferior me


encarando tentando vestir a mascara de impassível.

-Nunca mais me chame assim! Não depois de decepar minha


cachorra e mandar a cabeça para mim.

-Tudo o que fiz... Foi para lhe proteger meu anjo.

-E tudo o que eu farei agora, será para te destruir! Seu monstro.

Sentindo a dor me corroer, virei minhas costas para aquele homem,


que já havia sido o melhor pai do mundo. E sai o mais rápido possível da
residência dos Cesarin.
No volante, minhas lágrimas escorriam abundante, me fazendo crer
que eu definitivamente não era mais aquela garota, que saída de um
internato na Rússia, comandou a máfia com punhos de ferro.

Eu era só a Bianca agora, a mulher que perdeu tudo tão rápido, que
nem pode ver a queda se aproximar para se preparar, mas que caiu de
uma vez.

Pietro estava sendo, finalmente meu apoio. Mesmo depois de tanto


tempo tentando fugir, dessa energia que nos mantém Unidos e forte
juntos. Eu finalmente havia deixado ele se aproximar de mim. O que era
bom e ao mesmo tempo perigoso. Afinal eu não sabia os planos do meu
pai para ele, e temia profundamente que fossem os mesmo.

Parar o carro diante da Casa dos Albertini foi o fim do meu choro dolorido.
Diante do enorme complexo eu coloquei minhas mãos em meu ventre
agora vazio. Fechei os olhos por alguns minutos, tentando imaginar aquele
pequeno garotinho me esperando na porta de vidro da mansão.

Desci do carro mesmo com minhas pernas vacilando, e cruzei o caminho


até Alice que mantinha o olhar sombrio.

-O que houve?

-Seu pai ligou para a Andrea.

-Tipico. –Resmunguei balançando a cabeça. –Então agora eu tenho a


certeza.

-Que somos irmãs?


-Nós já eramos... –Sorri abraçando a minha cópia quase que idêntica. –E
agora eu preciso encontrar o Fabrizio.

-Acha que irá conseguir?

-Eu tenho certeza. –Respondi entrando, acompanhada por Alice, abri a


porta do escritório com força, fazendo todos os homens ali presentes me
encararem chocados. Pietro sequer desviou o olhar dos papéis que lia.

-Saiam. –A voz grave e séria, que ele assumia quando trabalhava, me


deixou arrepiada. Neguei para os homens que agora permaneciam
encarando o chefe e a mim. –São surdos?

-A Senhora Albertini não quer que saiamos. –Thomas murmurou, fazendo


o primo finalmente me encarar. Os olhos verdes brilhando, perigosos e
intensos.

-Eu sou o chefe.

-Mas... Ela é Bianca Cesarin. –Um rapaz sussurrou, os olhos de Pietro


partiram para ele como uma bala. O clima se esquentou ali, me fazendo rir
baixinho.

-Quero que façam um trabalho para mim.

Um murmúrio baixo partiu dos rapazes, em quanto meu marido se


levantava calmamente e me encarava com os olhos semicerrados, uhm
tão sexy.

O terno azul e os olhos verdes eram um combinação que deveria ser


proibida, junto com os cabelos castanhos com aquele brilho ruivo tão
escondido, que só um olhar minucioso perceberia.
-Tem certeza que quer passar por cima da minha autoridade?

-Pietro, não irei passar por cima da sua autoridade, apenas me juntar a
ela.

-Tipico de você Cesarin! Querer ser mais que eu.

Bufei negando veementemente. Que homem mais insuportável!

-Você sabe que somos parceiros.

-O que deseja Bianca? –Thomas interrompeu a discussão, antes que


ficasse realmente perigoso para quem estava ao nosso redor.

-Quero encontrar uma pessoa. Fabrizio Cesarin.

-Cesarin?

-Sim... E eu o quero vivo.

Pelo menos... Por em quanto.

Capítulo 5 - O Silenciador

Roma, Itália

Casa dos Cesarin

Sandro
Se o assoalho de madeira a meu pé pudesse rachar, de fato eu já teria
estragado meu piso, andava de um lado pro outro, desde que Bianca saiu.

Eu não acredito que estou passando por isso.

Minha menininha se voltando contra mim, graças aquele maldito Albertini.


O moleque da Andrea não tinha a mínima ideia de com o que estava
mexendo.

-O que é tão urgente que te faz me ligar quando estou com meu marido?
–Resmungou batendo a porta atrás de si. Olhei Andrea raivoso, um olhar
que definitivamente teria feito minha esposa se curvar e pedir desculpa,
mas definitivamente ela não tinha nada de Antonella. Por outro lado, a
mulher a minha frente sorriu maliciosamente batendo os saltos
irritantemente até minha frente. –Parece que a sua filhinha fez algo.

-O que o seu sobrinho disse para ela?

-Como eu posso saber Sandro? Eu tenho cara de mãe diná? Nem no


complexo eu estava se você quer saber...

-Não quero saber das suas fugas amorosas com o Albertini. Quero saber o
que aquele moleque disse para minha filha.

-Eu não ligo, isso é problema seu meu caro.

-É seu também! Afinal eu não a fiz sozinho.

-Fale com a sua esposa. –Murmurou rindo, o que fez minha mão se
apertar em volta do pulso fino que capturei. Ela gemeu de dor, mas não
puxou a mão, por outro lado me encarou com superioridade, mesmo sendo
um palmo mais baixa que eu. –Me solta Cesarin.
-Continue fingindo ser importante, que verá onde eu te soltarei.

-Suponho que será em uma vala, por que a única coisa que um crápula
como você sabe fazer é ameaçar de morte.

-Você está me testando!

-E você me machucando. –Gritou puxando o pulso. Porém não me movi


um centímetro e nem ela se soltou.

-Você não pode me deixar assim Andrea, ou me ajuda com ela, ou eu


acabo com a sua vida.

-Ela é problema seu! Eu a entreguei para sua esposa logo depois dela
nascer lembra?

-Sim! E me lembro também o quanto você chorou na frente da minha porta


querendo ve-la. Querendo vir nas festas de aniversário...

-E você não permitiu! Mas permitiu que ela transasse com o próprio irmão,
por que tinha medo de perder um controle sobre ela... Que adivinhe você
nunca teve Cesarin.

-Ela é sua filha!

-Ela não é a única filha que eu tenho! Mas a outra você vendeu como
escrava sexual para pagar as suas dividas de jogos lembra?

-Lembro, lembro também do nosso acordo, de você dizendo que me


amava. Eu lembro de tudo, não só das partes em que você é a boazinha
Andrea, eu a conheço.

-Conhece? O que você foi além de um sexo meia boca?


A puxei com toda a força de encontro a mim, ela vacilou e caiu nos meus
braços arfando, os olhos castanhos arregalados me encarando, a boca
semiaberta e alguns fios do cabelo ruivo que agora estavam em seu rosto.

Meus dedos tiraram os fios de seu rosto, depois do choque ela voltou a
puxar o pulso. Ao invés de solta-la, eu fiz a última coisa que deveria fazer,
me inclinei e a beijei.

Céus como sentia saudade daquela boca.

Meu pai sempre me disse que eu nunca conseguiria domar aquela mulher,
da forma que a mulher de um homem como eu deveria ser. De fato eu
nunca consegui, nunca tive sequer um por cento de controle sobre ela.
Nem no curto espaço de temo que ela foi minha, e apenas minha, sem o
Albertini em nosso meio. Ela sempre foi, como meu pai dizia, igualzinha a
mãe, exatamente como anos depois Bianca seria.

O mesmo gênio difícil de controlar em uma mulher.

Andrea por fim usou toda a força para me empurrar, e logo em seguida
senti o ardor que o tapa causou em minha bochecha, junto com seu
barulho alto. Coloquei a mão em meu rosto a olhando sem me mover um
centímetro, sem demonstrar nenhuma reação.

-Eu já te disse para nunca mais tocar em mim!

-Eu gosto quando você luta contra mim.

-Você é um monstro Sandro Cesarin.


-Você diz isso, mas eu posso ver sua bochecha vermelha, posso sentir o
cheiro da sua excitação Andrea, por que eu sou um homem, não aquilo
que você chama de marido, aquele rato.

O rosto dela continuou corado, e o arfar de sua respiração quente batendo


em meus lábios. E eu pude me lembrar da primeira vez que vi aquela
mulher.

Descendo do avião, com o cabelo ruivo escuro voando ao seu redor, um


chapéu verde e aquele vestido decotado de mais? Pequeno de mais?

Talvez a palavra certa seja perfeito.

Perfeito nela, e eu me ouvi arfar, quando aqueles olhos colaram em mim.


Aquele castanho esverdeado brilhante e esperto. Um olhar perigoso para a
mulher de um mafioso.

O Albertini a olhou com um olhar que, na minha vida de mafioso, eu vi


inumeras vezes, e conhecia o cheiro daquele olhar.

Ambição.

Todos ali ignoraram a presença da irmã mais nova, Elizabeth. As duas


filhas de Emilly Elizabeth Antonelli, a mulher que havia deixado o velho
Albertini completamente alucinado. E que teve uma morte terrível
arquitetada por aquele demônio.

Quando Andrea finalmente parou na frente do velho Albertini. Com um


assombro todos nós a vimos cuspir no rosto dele.

Ela tinha tido tudo arrancado dela, e definitivamente ela era como a mãe.
Mesmo sendo a irmã que levava o nome dela.
Naquele momento, eu me apaixonei por ela, naquele momento eu jurei
que Andrea seria minha esposa.

Por fim, a vida me separou dela, me distanciou dela, e hoje eu anos


depois, frente a frente com ela e ainda tem a mesma quimica e força nos
unindo.

Com o olhar irritado, Ela se aproximou de mim e me beijou. Um beijo


rápido e amargo.

-Eu não vou te ajudar a ferir mais um filho nosso Sandro. -Murmurou por
fim antes de se afastar alguns passos. -Para de ser super protetor, você
esta fazendo isso errado, e vai conseguir uma inimiga ao invés do amor da
Bianca.

-Você não pode vir anos depois e querer dizer o que eu devo fazer pela
minha filha.

-Foi por sua culpa que tive que abrir mão dela! Por que você não se impos
por ela nem por mim, eu quase morri na gravidez, eram gêmeos, e meu
útero mal podia suportar um bebê! Eu poderia ter morrido Sandro!

-Mas não morreu! Está viva, e eles são seus filhos, os três.

-É uma boa hora para você voltar para sua esposa, e me deixar em paz.
Peça ajuda dela para controlar a vida da sua filha.

-Você nunca me ouviu Andrea! Se tivesse, me ouvido por um segundo,


agora eu você e eles seriamos felizes.

-Eu sou feliz.


-Não me diga isso, não me diga que aquele idiota te faz mais feliz que eu!

A mulher da minha vida, continuava de costas para mim. E por Deus,


aquilo doia, ter ela tão perto e tão longe por toda a minha vida. Meus filhos
tão longe e tão perto. Minha filha mais nova ser tirada de mim por minha
própria esposa.

Ela andou até a porta, e antes de fechar a porta eu tenho certeza que ela
ouviu as últimas palavas.

-Foi a Antonella que deu Alice pro Bernini, não eu.

***

Esse dia pode ficar pior?

Minha mente gritava em quanto o telefone chamava e mais uma vez caia
na caixa de mensagens.

-​Alô aqui é a Violeta, deixe seu recado após o sinal.

-Violeta, eu não estou brincando, atende esse celular ou eu pego o avião e


vou ai acabar com a sua vida. -Gritei pro fone batendo o telefone no
gancho.

Aquela india fazia questão de me tirar do sério, sempre que eu precisava


de algo dela ela sumia do mapa. Quando o telefone finalmente tocou,
arranquei ele do gancho ouvindo a voz doce dela.

-O que é Cesarin? -Doce e impertinente.


-Quero que você ligue pra Bittencourt, o pai dela é da interpol não é?

-Sim, o pai dela está caçando vocês e os Albertini. Mas para que você
quer ele?

-Eu quero denunciar alguém, e você vai me ajudar a manter ela presa.

-Ela? Ela quem Cesarin?

-A Bianca.

A respiração sumiu por alguns segundos.

-Você quer me sentenciar a morte? Não vou participar da prisão dela, ela
vai acabar com você!

-Ela não vai sair da cadeia até eu calar a boca de todos que sabem.

-Como eu Cesarin?

-Aqueles que ousariam contar a ela.

-Por que tem tanto medo dela saber a verdade? Seria mais facil de lidar
com ela...

-Saber que eu a enganei a vida toda? Que eu permiti que ela fizesse sexo
com o irmão dela? Que eu fui responsavel pelo aborto dela? Pelo estupro
da irmã dela? Ela nunca me perdoaria.

-Você está diminuindo as reações dela Sandro. Ela te mataria.

Assenti para mim mesmo. Sim ela me mataria.


-Promete me proteger?

-Sim Violeta.

-Eu quero ficar com o Pietro no final.

-Ele a ama... Ele não vai deixar ela não se iluda.

-Pois se você quer minha ajuda, faça com que ele a deixe. Por que eu o
quero, e acredite, vai precisar dele como moeda de troca para a
Bittencourt.

-Você continua achando que pode manipular ela, mas não pode Violeta,
ela não é tão boba. -Ela riu alto em resposta.

-Eu não ligo para isso, eu a mato se se meter entre mim e ele.

-Nossa ele deve ter uma rola folheada a ouro, vocês se matam por aquele
moleque.

-Assim como as mulheres se matavam por você Cesarin, todas exceto


Andrea Antonelli.

-Você terá o moleque, de certa forma, você vai me ajudar a resolver dois
problemas, a Bianca tem começado a acreditar nele.

-Então temos um trato Cesarin.

-Com certeza Violeta.


Capítulo 6 - Ela vai a caça
Casa do Albertini

Bianca

Estava lendo a contabilidade, tentando tirar os meus saltos com os pés e


bebericando um copo de whisky quando ela entrou na minha sala correndo
e arfando.

Suspiro, ergui os olhos encarando o cabelo louro e os olhos traidores

-Sabia que tinha voltado à ativa. Dizem que depois de aborto as mulheres
entram em colapso não é mesmo?

-Fale o que quer Isabel, antes que eu enfie uma bala no meio dos seus
olhos. -Puxei a pistola da minha coxa e delicadamente a apoiei na mesa,
no mesmo momento que Pietro entrou na sala.

Sem bater, de novo.

-Você está brincando com a sorte Cesarin? -Resmungou encarando.


Isabel o ignorou encarando minha arma. Tremendo em cima dos saltos
vermelhos.

-Bia, eu preciso que você me ouça.

-Mas nem pagando que você fica sozinha com ela depois de tudo o que
você fez! Sua vadia!
-Pietro sai da minha sala. Agora! -Meu marido me encarou irritado e bateu
à porta com toda a força ao sair.

Calcei meus sapatos calmamente levantando com minha arma na mão.


Isabel engoliu em seco, a mão tremendo para o bolso interno do casaco
preto.

-Nem pense nisso.

-Então guarde essa arma.

-Você está tentando me mandar fazer algo?

-É claro que não... O que eu tenho a dizer vai salvar sua vida.

-A mesma vida que você tentou encerrar fazendo de tudo para eu perder
meu filho?

-Nós somos irmãs!

-E eu te deixei viva! Mesmo depois de me trair. Era o máximo que poderia


desejar de mim Isabel.

-Papai quer prender você. -Soltou, quando eu estava a um palmo de


distância dela. Arregalei os olhos. Apertando a pistola com mais força na
mão.

-O que você disse?

-Você é perigosa pra ele solta... Eu o ouvi no telefone com a Violeta.

-Violeta!? -Agora eu tentava controlar minha respiração em quanto raspava


meus dentes com força. Herança da época que tive bruxismo.
-Bianca você tem que acreditar em mim. Ele forjou tudo isso, me
manipulou para fazer o que fiz e te virar contra mim. Ele é culpado por
tudo! Pelo meu estupro! Ele é o vilão aqui.

-Minha época de gostar de Morro dos ventos uivantes e tramas malucas já


passou Isabel.

-Foi ele. O Pietro mesmo disse...

-Você realmente acreditou no nosso maior inimigo? Claro que o Pietro


disse...

-Eu ouvi! O papai admitiu isso. Bia por favor... Ele vai me matar se você
não me proteger.

-Papai nunca te machucaria.

-A única pessoa que ele nunca machucaria. Que eu pensava que ele
nunca faria nada contra é você Bia. E até contra você ele fez algo.

Minhas mãos suavam frio. E fui obrigada a fechar os olhos, tentar voltar a
respirar.

-Thomas! Alice! -Berrei, Isabel saltou para longe de mim, balançava a


cabeça negativamente e arfava. -Não seja idiota. Não farei nada contra
você.

Quando a porta se abriu. Thomas e Alice entraram correndo. Os olhos


arregalados como pratos.

-Bia... Isabel?
-Eu quero que encontrem o Fabrizio, o que quer que esteja acontecendo
aqui, ele tem envolvimento, e eu o quero aqui ainda hoje. Entenderam?

-Sim Bia... Mas você vai matar ele...

-É da sua conta o que irei fazer Thomas?

-Não senhora... Porém preciso avisar o Pietro sobre isso.

-Você precisa é zelar pela sua vida, e fazer o que eu estou mandando
agora Thomas.

Ele assentiu freneticamente, puxou o celular e começou a discar números.


Alice encarava Isabel como se fosse um demônio.

-Vejo que veio pedir pela sua vida.

-Acredito que não seja da sua conta, Alice, a irmã vendida como prostituta.

-Como ousa! Sua...

-Calem a boca as duas. Alice suma da minha frente e vá fazer o que


mandei. E você Isabel... Deveria estar feliz por ainda estar viva, depois do
que me fez.

-Doi não é? Perder uma parte de você... mesmo quando você pensava que
não queria isso.

Os dois saíram, e eu fiquei em silêncio com isso. Minha dor era silenciosa
para os outros, mas alta e clara para mim.

Ser mulher é isso? Não querer um filho, mas quando ele surge sentir um
amor inexplicável, mesmo sem nunca poder ver ele...
Talvez fosse disso que meu pai tanto falava, quando dizia que uma mulher
nunca poderia gerenciar negócios como os nossos.

Porém de certo modo, ele estava errado. A perda do meu filho e de


Afrodite não me deixaram mais amável, por outro lado, meu sofrimento
atual, havia me tornado mais letal.

Letal contra qualquer suspeita de traição. Mesmo que do meu próprio pai.

Meu silêncio fez Isabel sorrir.

-Você agora entende Bianca? Ou talvez não tenha sido importante...

-O fato de nunca ter visto meu filho, ele ser tão pequeno como era, não me
torna menos mãe que você Isabel. Ele sempre terá sido meu primeiro filho.

-Você tem consciência! E instinto materno agora?

-Isso está tomando muito do meu tempo, tem mais algo?

-Preciso da sua proteção. -Tive que rir alto, Isabel me encarou abismada...
Sério? Depois de tudo ela me diz que precisa de proteção?

Só podia ser brincadeira.

-Saia de baixo das minhas vistas, antes que eu a transforme em uma pilha
de carne em decomposição.

-Bia! Eu te entreguei nosso pai.

-E até onde sei, pode estar mentindo, então suma. Antes que eu me
arrependa de manter você viva.
Voltei para minha mesa, lentamente, prestando atenção em sua
movimentação e ouvindo a porta bater quando ela saiu. Respirando fundo,
sentei acendendo meu charuto e encarando Anúbis que continuava com o
olhar triste e distante.

Somos dois querido.

Puxei minhas folhas e voltei a conferir a contabilidade. Ficar deprimida


deitada na cama, grávida e distante dos negócios para proteger meu filho,
me gerou uma pilha de problemas, óbvio que pelo trabalho duro de Pietro,
tentando inclusive esconder grande parte deles, não passavam de
pequenas perdas de território.

Todos aqueles que queriam me derrubar, usaram minha ausência a seu


favor.

-Vou matar Giuseppe, aquele velho gagá. -Resmunguei a certo ponto


jogando os papéis no chão.

Como ousava me encarar de frente? Ele realmente achou que eu não


voltaria? E que não arrancaria a cabeça dele?

-Bia? -Pisquei algumas vezes, desviando o olhar para a porta. Pietro se


aproximou em silêncio, os olhos me medindo. -O que houve?

-Como você pensou, que seria uma boa ideia, deixar tudo isso aqui em
silêncio?

-Giuseppe e as disputas?

-Sim, aquele velho roubando o que eu levei anos para ter.


-E que seu pai pegou de volta... Bia deixe eles ficarem com esses galpões
e laboratórios...

-Não faço caridade Pietro, matar alguns dos meus homens não dá o direito
deles ficarem com o que é meu! E isso você deveria saber.

-Eu tentei retomar, não pense que sou menor que você.

-Não estou dizendo isso. Por outro lado... Estou dizendo que você podia
ter retomado a muito tempo.

Pietro assentiu, se aproximou da mesa, abrindo os botões do terno me


encarando, mordi meu lábio quando ele finalmente passou para a camisa.

-Eu não quis.

-Por que? Sabe como foi que eu consegui aquilo?

-Sei... Com uma sub-metralhadora e Fabrizio. Eu quero coisas novas,


quero que conquistemos juntos coisas novas.

-E por que tenho que perder o antigo? -Ele sorriu, jogando a camisa na
poltrona ao lado e se apoiando na mesa, em minha frente. -O que
pretende fazer?

-Eu quero, comer a minha esposa.

-Eu não tenho tempo pra isso. -Resmunguei levantando, me curvando na


direção dele. -Tenho que ir a caça.

-A caça do Bernini? Ou do Fabrizio?

-Bernini. -Pietro riu, e em um rompante me puxou para cima da mesa.


Gritei e ele me puxou para mais perto. Tudo o que tinha na mesa foi ao
chão, e minha reação foi lhe dar um tapa no braço. -O que você pensa que
está fazendo?

-Ai linda... Assim você me machuca...

-Pietro! Não pense em fazer isso.

-É rapidinho linda.

-Eu tenho que ir. -Tentei me desvincilhar de novo e ele me puxou para
perto. Nossas bocas a poucos centimetros de distancia. E por fim... Eu só
pude junta-las, e me deliciar com aquela maciez molhada e vermelha.

Capítulo 7 - Retomada
Roma, Itália

Casa dos Albertini

Meus braços não respondiam mais os comandos, minha respiração saia


em arquejos, o barulho estridente das balas, gritos, e a derrota, o
estampido alto me fez girar na terra e afundar o rosto ali, tentando abafar o
grito de dor que soltei ao enfiar os dedos no buraco do tiro.

-Dio mio Bianca! -Pietro agachou na minha frente, levantei o rosto só o


suficiente para encarar os olhos lindos verdes e assustados. -O que vai
fazer? -Perguntou tentando me puxar para trás do carro. Eu neguei cm a
cabeça. O buraco da bala estava bem a baixo da última costela. -Bianca?
A gente tem que ir embora...
-Calado Albertini! -Gritei, a mão dela pegou a minha ensangüentada, o
encarei novamente em quanto ele levava minha mão para seu peito, a
cima do seu coração. -Pietro...

-Dona da minha alma, mulher da minha vida.

Fechei os olhos negando, eu não podia recuar! Não podia! Eu já tinha tido
esse sonho, sabia que se eu aceitasse, alguém atiraria nele e ele morreria.

Ele morreria. Pelas mãos do meu próprio irmão...

Saltei da cama, tateando o colchão no escuro do quarto.

Onde está meu celular?

-Afrodite! -Gritei, logo depois me calei e balancei a cabeça. Maldito


costume que nunca some!

Com um olhar de pena Anúbis se aproximou no escuro. Só seus olhos mel


e a língua vermelha visíveis.

-Onde ele está? -Resmunguei o olhando feio. Ainda sem enxergar muito
bem pelo escuro, estiquei a mão e liguei o abajur. Anúbis pulou na cama
em resposta deitando no lugar vago ao meu lado. Acariciei a orelha dele,
puxando meu celular de baixo da almofada. Eram seis da tarde.

Onde estava o Pietro?

Fechei os olhos lembrando dos últimos acontecimentos antes de eu cair no


sono naquela manhã. Minha irmã tinha vindo me ver, e depois minha
mente se confundiu em um amontoado de beijos e toques.
Gemi baixinho com a lembrança dele me jogando na cama, subindo em
cima de mim, meus dedos enrolando no cabelo, os olhos dele colados nos
meus lábios.

-Você está gemendo sozinha? -Abri os olhos, no exato momento que


Anúbis pulou da cama resmungando, dando espaço para o dono que
sorria abertamente. -Pensava em que?

-Onde você estava? -Arqueei a sobrancelha, fazendo menção de levantar.


Pietro me puxou para cima dele. -Eu tinha coisas a fazer hoje.

-Faça amanhã. -Murmurou, a mão dele subiu pela minha coxa ate minha
bunda, me puxando para cima do pau dele. -Eu acordei agora, mandei a
Alice fazer algo para mim.

Semicerrei os olhos o encarando, Pietro estava com uma mania irritante de


enfiar minha irmã mais nova, em assuntos da máfia.

-​Ela não está pronta pra isso Pietro! -Ele sorriu e negou, puxando minha
pélvis em direção a sua. Gemi sentindo seu pau entrando em mim, quando
ele tinha tirado de dentro da bermuda?

-Ela tem seu sangue, nasceu para isso Bia. -Sussurrou no meu ouvido. O
encarei mordendo o lábio, meu cabelo caindo ao redor do rosto dele, a
iluminação fraca e amarela do abajur se infiltrando pelos fios. -Eu te amo
rainha.

Sorri, sentando com força, ele suspirou em quanto eu erguia o tronco e


ficava reta olhando dentro dos olhos dele, minhas mãos deslizaram pelo
peito dele, até a barriga onde eu enfiei as unhas. Fechou os olhos, eu
rebolei, voltei a levantar e sentar com força. Minha buceta ardeu de novo,
umedecendo preguiçosamente.
As mais fortes dele, apertaram minhas coxas, suspirei em deleite, permiti
que as minhas cobrissem as dele ali, em quanto me movimentava mais
uma vez, agora deslizou com mais facilidade.

-Me cavalgue Cesarin.

Sorri, apertando suas mãos e continuando ali.

{...}

Roma, Itália

Casa dos Cesarin

Sandro

Do que adiantava gritar! Questionei a mim mesmo novamente, encarando


Isabel que tremia assustada.

-Você não tem absolutamente nada da sua irmã! -Berrei. Ela continuava
ondulando, a mãe dela me encarava, alheia a discussão.

-Não fale assim comigo!

-Eu não quero você perto da Bianca!

-Mas por que ela é tão melhor que eu? Por que o senhor prefere ela? Eu
também sou sua filha!

-Ora, ele prefere ela, por que ela é filha da Andrea. -A voz doce veio da
porta do escritório. Todas as cabeças se voltaram para a cópia mais nova
de Bianca que entrava. Alice, vestida igual a irmã, com um tubinho preto,
um chapéu, o cabelo castanho solto e ondulado, entrou com um charuto
na mão. -Não é papai?

Silêncio. Permaneci sentado na cadeira. O olhar frio e calculista, com um


fundo amoroso e dedicado da Bianca estava copiado com exatidão na
garota.

Mas existia algo que ela não tinha da irmã.

A coragem. Ninguém tinha a coragem da Bianca. Sendo assim,


obviamente alguém a mandou ali.

E eu sabia muito bem quem era.

-Então, o Albertini mandou a mais nova funcionária aqui? -Respondi


calmamente, ​o olhar dela não se alterou um centímetro. Tive que dar
credito a ela.

-De que outra forma eu viria ao antro de pedofilia da Itália?

-Pedofilia? Eu vendi você garota, nunca encostei um dedo em você.

Ela sorriu, um sorriso doce, igual o da irmã, porém, se fosse igual o da


irmã, seria seguido de um ataque.

-Mas pagou homens para estuprar uma das filhas. Pelo menos ganhou um
dinheiro me vendendo.

O grito de horror da Antonella, seguido do meu sorriso irônico, fez a garota


se aproximar mais. O olhar ainda impassível seguido do sorriso doce.
-Você escolheu tanto as filhas que ficaria, que não percebeu que escolheu
errado Sandro. Isabel não serve pra máfia. -Pelo canto de olho vi Isabel
ser segurada pelo braço pela mãe.

-Tem a minha atenção Alice. O que quer?

-Eu vim lhe devolver um favor. -Respondeu, agora de frente para minha
mesa. Afundou o charuto no cinzeiro, e só agora eu notei o pacote que ela
trazia em uma sacola.

Por dentro, eu estremeci.

-Que favor?

-Um filho seu, machucou alguém que um Albertini ama, sob seu comando.

-Continue.

-Então, eu e o Pietro, resolvemos devolver o favor.

-O que vocês fizeram? -Me vi grunhindo. Meu olho correu pra a porta,
onde Thomas e Geovanne estavam parados a esperando. Meus pelos de
arrepiaram com o barulho molhado do embrulho que ela depositou na
minha frente.

Encarei Alice com cuidado, só agora percebendo também, a pequena


elevação no seu ventre.

-Você está grávida? -Ela continuou silenciosa, mas na porta Geovanne


arregalou os olhos, tentando entrar, mas sendo parado por Thomas. -De
um Albertini?
-Alice vamos. -Geovanne resmungou lá de trás. Sorri. Ela continuou
parada me encarando.

-Desfrute do nosso presente. É com muito carinho. -Dizendo isso, ela saiu
cuidadosamente rápido da sala, quando a porta fechou, Antonella se
levantou me encarando como o demônio.

-Calada! -Gritei. Ela mordeu o lábio e saiu correndo, sendo seguida pela
filha, me deixando a sós com alguns dos meus homens.

Voltei meu olhar pra a caixa.

-Chefe... Quer que a gente abra? -Luigi perguntou baixinho. Neguei.

Eu sabia o que era.

Só não queria acreditar.

O ódio de formou dentro de mim.

Puxei a tampa da caixa com força. Olhei o conteúdo, o cheiro de sangue


fresco se espalhou pelo escritório. Fechei os olhos negando com a cabeça.

-Liga para a Violeta. Eu quero a Bianca longe dos Albertini o mais breve
possível. -Comecei a falar andando para a saída. -Luigi, encontre o corpo
dele e tire essa cabeça da minha mesa.

-Senhor... Mas o que é?

-Eles mataram o Fabrizio. -Finalmente disse, antes de fechar a porta atrás


de mim.

Permiti finalmente, que a dor de perder meu filho me tomasse.


Capítulo 8 - Positivo
Roma, Itália

Casa dos Albertini

Bianca

Eu não sei por que corria, entre os corredores, completamente


desesperada, encharcada de sangue e com um teste de gravidez na mão.
Sem dúvida alguma, eu ainda ouvia minha mente gritar, ​você escolheu
isso Bia.

Dio, por Dio no.

Quando finalmente, minha correria me trouxe até a porta da frente da


casa, eu vi a moto dele arrancar para longe, em quanto outro carro
chegava pelo outro lado. Um carro prateado que eu conhecia de cor.
Permiti a minhas pernas sairem gritando o nome do homem na moto a
plenos pulmões.

-Fabricio! Desgraciato! -E então por fim, os freios do carro soaram alto, e


ao fundo eu ouvi os primeiros sons de uma sirene.

Ah Dio, no!
-Bia! O que houve? -Ele desceu do carro correndo, seria imbecil dizer que
ele tava lindo? Por que eu pensei nisso, eu pensei em estender o teste e
dizer, estou grávida querido. Mas meu casamento ia acabar ali agora.
-Você está cheia de sangue o que houve? -Agora Pietro começava a
demonstrar o nervosismo. Pensei em passar a mão no rosto dele e dizer
que ia ficar tudo bem... Mas não ia.

-Eu sinto muito. -Murmurei, tremendo, talvez eu estivesse branca e ele


pudesse ler meus olhos, por que ele paralisou, ele soube, ele sabia
naquele instante. -Eu juro que não fui eu...

-O que você fez? -Agora ele estava sério, a barba crescida deixava seu
rosto mais impassível que o normal. -O que você permitiu que fizessem?

Ele sabe...

-Eu disse pra ele que eu estava fora, eu disse pra ele... -Eu começava a
gaguejar, e então veio o grito de dentro da casa, eu não havia notado que
Andrea estava no carro com ele. -Pietro eu juro...

-Cala a boca.

A sirene então chegou, e o carro de policia parou próximo a mim, bem a


tempo de Andrea sair chorando me olhando.

-Pietro não foi ela...

-Ela sabia, não sabia Bianca?

-Eu... -Encarei os dois tremendo, minhas mãos fechadas no teste de


gravidez. -Era o plano. -Andrea me olhou assustada, e depois esticou a
mão também ensanguentada pra mim. -Eu sai, eu disse pro meu pai que
eu tava fora!

-E você não pensou em me dizer! Em me permitir proteger a minha familia


de você? Cesarin são como cobras, a gente cria para nos picar!

-Pietro, eu juro.

-Bianca Maria Cesarin Albertini? -Os dois policiais agora estavam fora do
carro, um papel na mão, me encarando. Oh Dio, o que eu fiz...

-Quem eles mataram Andrea? -Pietro ignorava o fato de que, aquilo na


mão do policial, era um mandado de prisão.

-Seu pai. -Ela murmurou, Pietro estremeceu levemente. -E seus irmãos.


-Os olhos verdes me encararam com ódio, eu pude ver o mais puro ódio
brilhar ali, junto com pequenas lágrimas que se formavam. -Pietro foi o
Sandro. -Ela balbuciou ainda chorando desesperadamente.

-Não importa! Ela sabia!

-Eu não sabia que ele mataria seus irmãos Pie... Acredita em mim!

-Calada! Eu nunca mais quero ver sua cara na minha frente Bianca!

-Bianca Maria? -O policial agora insistiu, encarando o sangue na minha


roupa. -A senhora esta presa por lavagem de dinheiro, trafico de drogas e
desfalque.

-O que? -Gaguejei, meu útero começou a doer, talvez por que um frio
correu pelo meu corpo, e eu tentei respirar fundo. Não posso perder mais
um bebê. -O que disse?
-Uma denúncia anonima senhora.

Levei minha mão vazia a minha boca, e talvez eu tenha sujado de sangue
meu rosto, mas naquele momento, Deus eu sentia que podia desmaiar,
meu estomago chorou e eu soube que poderia vomitar ali, nas botas dos
policiais.

1,2,3 respira Bianca.

-Denúncia anonima? Bom então eu denuncio a Senhora Bianca Albertini


por homicidio.

-Homicidio senhor?

-Sim, ela matou três pessoas la dentro.

Encarei meu marido, tremendo, bem a tempo de sentir um dos policiais


pegar meu pulso, guardei o teste o mais rapido que pude no bolso da
calça, e por fim senti o gelo das algemas no meu pulso.

-Leve a madame pra delegacia, eu vou entrar e averiguar. -O policial disse


entregando meus pulsos pro outro.

Ainda olhei meu marido, em quanto era posta dentro da viatura, mas ele já
não me olhava, estava de costas para mim abraçando Andrea.

Meu pai armou essa pra mim, e agora eu não sabia como sairia dessa
situação. O carro começava a andar e a casa a ficar pra tras.

Naquela manhã, estavamos no escritório, quando os tres tiros estouraram


as janelas e pegaram na cabeça dos tres homens a minha frente.
Quando mexemos com armamento, nós sabemos pelo buraco de bala, o
calibre de arma usado. Quem vive nesse mundo, aprende tudo isso da pior
forma possivel, nesses momentos que alguém que amamos, esta morto na
nossa frente. Foram tres buracos de entrada pequenos, e os de saida
eram do tamanho de laranjas, tinha conteúdo encefálico no chão, e eu
gritei virando pra trás, e vendo meu irmão, ex amante, segurando a pistola,
os nossos olhos se cruzaram assim que levantei do chão, onde eu tentava
reanimar eles.

Eu só neguei com a cabeça, esperando o tiro que ele me daria, mas


Fabricio sorriu, a boca formando uma frase que eu não conseguia acreditar
ler. ​Está feito.

Meu pai faria tudo para matar Matteo, inclusive o tal casamento arranjado.
Desde o dia que isso foi anunciado, ele tinha planejado a morte de Matteo,
e embora eu estivesse conivente por um tempo, eu disse que estava fora,
talvez esperava que isso o parasse. Mas não parou.

Eu disse para Matteo, Geovanne e Enzo que estava grávida, segundos


antes deles cairem mortos na minha frente.

Céus eu estou grávida, e vou ser presa. O Pietro não vai acreditar em
mim, e tudo isso só por que eu quis proteger meu casamento dos planos
do meu pai.

Ficar em silêncio foi a porra da pior escolha, que eu podia ter feito.

Agora eu tremia no banco da viatura. Eu conhecia essas acusações, o


meu dinheiro estava congelado muito provavelmente, então eu teria que
arranjar um advogado público, por que Pietro não pagaria o meu, muito
menos meu pai.
O que foi que eu fiz? Como eu pude cair em um plano tão mal feito!
Inferno!

Quem vazou esses documentos? Minha mente gritava um nome tão alto,
que eu só queria que fosse mentira.

Sandro Cesarin me isolou de todos que podiam me ajudar com aquele


banho de sangue.

Capítulo 9 - O Meu Adeus


Roma, Itália

Delegacia

Bianca

Faziam horas que eu me encontrava em uma sala, como uma de reunião,


sentada em silêncio e sozinha, o policial disse que alguém estava
chegando, eu torcia para ser meu pai, pois eu o mataria com o pé da
cadeira no momento que ele entrasse sob meus olhos.

Desde a manhã atormentada que eu tive, eu tentava controlar minha


cólica, tentando salvar aquele pequeno pontinho de esperança de amaciar
o Pietro, para que ele me ouvisse.

-Bianca Albertini, visita. -Quase pulei nos braços do homem que entrou
pela porta, mas o olhar vazio dele me paralisou.

-Pie...
-Não diga nada.

Observei chocada ele avançar sobre mim, suas mãos quentes pegaram
minha cintura, e senti a mesa embaixo de mim. E sua boca quente
esmagou a minha.

Pietro me beijava com tanto desejo e raiva, que minha cabeça mal
raciocinava o quanto aquilo era errado, então minha reação foi empurrar o
blazer dele para fora, inclusive fui ajudada pelos seus braços ageis que o
jogou no chão, voltando tão rapido para minhas costas, no topo do ziper,
que eu tive que arquejar.

-Pietro... Eu to g... -Antes que eu dissesse algo, ele abriu o ziper, empurrou
para baixo liberando meus seios.

-Eu te amei tanto Bianca... -Murmurou beijando meu colo todo, so


consegui gemer, sentindo o calor umido das lagrimas dele misturado com
a saliva. -Por que fez isso comigo?

-Pietro...

-Não diga nada mais. -Ele finalmente me olhou em quanto puxava minha
calcinha, tive que levantar o quadril para liberar ela. -Por favor, só por
agora...

Assenti me calando.

Passei as mãos pelo ziper da calça dele, ele gemeu baixinho ainda
chorando em silêncio, então eu precisava decidir.

Aquilo era sexo de despedida.


Eu ia em frente, ou tentava conversar?

Eu podia perder ele? Por um erro que definitivamente não foi meu... Eu sei
que me calei sobre os planos, mas eu não podia perder o Albertini.

Respirei fundo puxando sua cabeça chorosa e encostando nossos lábios


de novo. Gememos juntos quando finalmente ele entrou em mim.

-Essa vai ser rapida, eu tenho que ir embora... Preciso organizar o funeral
dos meus irmãos e do meu pai. -Ele murmurou mordendo meu ouvido.
Arfei assustada.

Óh Céus eu o perdi

Dio Mio...

Meu pai destruiu meu casamento.

Deitei na mesa e ele deitou sobre mim, me cobrindo naquela que seria a
última vez que eu o teria.

Eu sabia não é? Sabia que não teria perdão dessa vez.

Nem tinha como ter.

Eu me obriguei a não demonstrar fraqueza, apenas gemer e rebolar


naquele último momento nosso, seus dedos eram ageis em meu clitóris,
ele queria que eu gozasse, queria que eu soubesse que estava entrega a
ele naquele momento. Bianca Cesarin Albertini era dele naquele momento.
E eu queria que não fosse um momento tão dificil.

Eu seria presa.
Não tinha idéia se seria solta em algum momento.

Então eu só... Nunca mais o veria.

-Pietro... Por favor não me abandona. -Eu gemia no final. -A gente pode
superar isso... juntos.

Ele não disse mais nada. Apenas me beijava, e beijava meu corpo. Com
raiva e desejo. E eu, eu gemia com desejo e arrependimento.Céus nunca
senti tanta raiva de mim mesma, por não ter contado, mesmo durante as
brigas em que ele dizia que meu pai estava me manipulando.

Eu tinha sido manipulada.

Quando gozamos juntos, ele ainda chorava no meu peito. E eu só queria


fazer carinho, estar ali para ele.

-Pietro...

-Eu vou embora Bianca, antes do julgamento eu te trago os papéis. -Ele


murmurou finalmente parando de chorar e se levantando.

Meu estomago afundou, o coração acelerou, e a cólica veio tão rapida que
eu quase gemi de dor.

-Que papéis? -Eu sabia quais... Mas precisava ouvir dele, que tinha
acabado.

-Do divórcio.

-Católicos não acreditam em divórcio.


-Católicos não acreditam em traição Bianca! -Ele gritou, meu sangue
ferveu e comecei a me arrumar puxando o vestido ainda ensanguentado
pra cima.

-Não fui eu!

-Não tenho como saber, eles estão mortos! E nenhum deles acordou no
hospital pra dizer quem foi.

-Foi o Fabrizio.

-Ah sim, seu irmão incestuoso. -A essa altura ele já estava vestido, e eu
tremia de raiva. -Meu advogado vai trazer uma pilula do dia seguinte pra
você, não quero um filho Cesarin.

Me calei.

Minha mão foi para meu ventre no momento que a porta bateu atrás dele,
bem a tempo de ouvir um sussurro dolorido dele.

-Eu te amei.

A mesa parou a minha queda. Eu tentava respirar fundo, antes que


aquelas palavras saissem da minha boca.

-Pietro! Por favor, eu te amo. Eu amo você. -Gritei, sentindo assustada,


gotas percorrerem meu rosto. Toquei minha bochecha e vi a pequena
lágrima, uma das muitas que agora desciam pelo meu rosto. -Por favor, eu
to grávida. -Sussurrei pra mim mesma.

Ele não queria nosso filho, por que ele sentia que fora traído.

E meu coração agora doía.


Esse era o adeus dele.

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