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1ª edição
Rio de Janeiro - RJ
2017
Neli Castro de Almeida
Ariadna Patricia Alvarez
Carolina Con Andrades Luiz
Angela Pereira Figueiredo
Maria Emyllia Poleshuck
1ª edição
Rio de Janeiro - RJ
Apoio
Dá para fazer!
Guia prático de economia solidária e saúde mental
17-11218 CDD-334
Índices para catálogo sistemático:
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
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o sumário
Agradecimentos
Queremos dirigir nossas palavras de agradecimento a pessoas e instituições que facultaram a
realização deste guia.
Igualmente agradecemos ao professor Valmor Schiochet por suas importantes mediações junto
ao campo das políticas públicas e dos grupos de iniciativas em economia solidária, sempre
disponibilizando a Senaes como uma parceira fundamental para a consolidação do campo das
experiências em economia solidária.
Também ao professor Pedro Gabriel Delgado, pela parceria com o Núcleo de Políticas Públicas
de Saúde Mental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Nuppsam/UFRJ) e por seu perma-
nente incentivo aos projetos de geração de trabalho e renda no campo da saúde. Sua contribui-
ção foi fundamental para a elaboração deste guia.
Apresentação
Dá pra fazer! Guia prático de Economia Solidária e Saúde Mental é uma publica-
ção1 dirigida a usuários e usuárias, familiares, trabalhadoras e trabalhadores que
já desenvolvem, ou pretendem desenvolver, iniciativas em geração de trabalho e
renda junto à Rede de Atenção Psicossocial.
O título escolhido para este guia de economia solidária e saúde mental faz alusão
ao filme italiano Si puo fare, de 20082, traduzido em português para Dá pra fazer!.
O filme conta a história de um grupo de pessoas que estava no hospital psiqui-
átrico levando uma vida monótona e isolada da sociedade. A partir da chegada
de um sindicalista chamado Nello, que compartilha com eles o sonho de montar
uma cooperativa para produzir um trabalho não-subordinado, autogestionário e
que tenha sentido para seus autores, uma série de transformações na vida de
cada participante começa a acontecer. Quando eles(as) saem do lugar de doen-
tes-internos(as) do hospital e passam a ser reconhecidos(as) socialmente como
trabalhadores(as) da cooperativa 180 que produz parquet, novas formas de viver,
de experimentar a amizade, o amor e o dinheiro começam a surgir.
1. Este guia técnico foi elaborado no âmbito do projeto aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e
Científico, Edital MCTI/SECIS/MTE/SENAES/CNPq N° 89/2013.
2. “Si puo fare”, direção de Giulio Manfredonia, 2008, (Si puo fare - Dá pra fazer) - disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=x7rV__SKuL0
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3
o sumário
Todas essas questões só aparecem porque o trabalho ampliou a vida. Arriscar-se é viver, a vida
compreende muitos riscos que fazem parte do caminho. Este guia traz experiências de várias
cidades brasileiras, de grupos que arriscaram, experimentaram, aprenderam e sustentam uma
forma de trabalhar que tem como principal matéria-prima o desejo de tornar-se mais autônomo.
É preciso acreditar que é possível trabalhar de uma maneira mais justa e solidária. É preciso se
contagiar com a alegria que o coletivo gera. É preciso sentir que cada coração é uma célula revo-
lucionária que pulsa a favor de um outro mundo possível.
Este guia foi sonhado junto e hoje é realidade. Desejamos que ele possa alimentar novos sonhos,
e que sejam sonhados juntos e sejam também transformados em realidade.
Raul Seixas
Apresentação
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o sumário
Sobre as autoras:
Neli Maria Castro de Almeida
Psicóloga, formada pelo Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), mestra em Psicologia Social e das Organizações pelo Instituto Superior de Ciências do
Trabalho e da Empresa (ISCTE) de Lisboa, Portugal, e doutora em Serviço Social pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio. Professora efetiva do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Coordenadora da Incubadora Tecno-
lógica de Cooperativas Populares do IFRJ/campus Realengo (ITCP/IFRJ).
Prefácio
A aproximação entre a Política da Economia Solidária com a Política Nacional da Saúde Men-
tal – consolidada no ano de 2005, com implementação do grupo de trabalho conjunto entre
Ministério do Trabalho e Ministério da Saúde –, contribuiu efetivamente para uma agenda de
atividades na implementação de políticas sociais, abrangendo ações de educação/capacitação,
autogestão dos empreendimentos de geração de renda e trabalho, financiamento, atuação em
redes, participação em fóruns e nas estratégias para o desenvolvimento local e comunitário.
Teresa Monnerat
1
Introdução
[...] o poder de sonhar com o que quiser, menos sonhar com o que é da terra.
Fernando Diniz3
Podemos afirmar que cuidar em liberdade também é enfrentar as questões advindas das de-
sigualdades sociais e do aprofundamento da precarização das condições de vida daqueles
que dependem de acolhimento nos serviços de saúde mental.
É assim que, num depoimento expressivo à Nise da Silveira, Fernando Diniz, ao falar de sua
infância pobre, aponta que em uma vida restrita de bens materiais e confinada se pode so-
nhar com muitas coisas, menos com as coisas que são da terra. Ou seja, o sonho aparece em
decorrência de uma real impossibilidade de acessar às materialidades do mundo e de poder
compartilhar dos bens materiais produzidos pela atividade humana. Hannah Arendt parece
concordar com o pensamento lúcido de Fernando Diniz: “...o mundo e as coisas do mundo
constituem a condição na qual esta vida e especificamente humana pode sentir-se à vontade
na terra”.
3. Nise da Silveira, 1981, p. 181, também ver documentário “Em busca de espaços cotidianos”, de Leon Hirszman,disponível em https://www.
youtube.com/watch?v=9-uN1lsWFjM
Esta publicação é uma iniciativa que busca contribuir para que todos e todas interessados(as)
possam encontrar neste guia prático elementos necessários à elaboração de projetos de geração
de trabalho e renda em saúde mental. A ideia final é que, a partir do testemunho de Diniz, e de
muitos outros, eles(as) passem a sonhar com as coisas que são da terra!
Assim, organizamos este guia da seguinte forma: uma primeira seção que trata das interfaces
entre a economia solidária e a saúde mental; uma segunda seção que discute as diretrizes e os
conceitos fundamentais norteadores das práticas solidárias; uma terceira seção voltada para
instrumentalizar a escrita e o desenvolvimento de projetos de geração de trabalho e renda; e, por
último, uma quarta seção que apresenta um conjunto de experiências exitosas no eixo Rio-São
Paulo, no intuito de demonstrar que sim, Dá para fazer!
Sugerimos que a leitura deste guia possa ser feita de forma coletiva junto com os usuários, usu-
árias, familiares, trabalhadores e estudantes. A ideia é que este livro possa se tornar o próprio
material de trabalho das oficinas realizadas nos serviços de saúde, de assistência social e/ou ou-
tros. Este guia foi organizado tendo em vista estimular a reflexão e a incorporação dos conceitos
do campo da geração de trabalho e renda. Assim, a cada final de seção, apresentamos algumas
questões para que possam ser discutidas nos grupos, nas oficinas, nas rodas de conversa ou em
outros espaços, tendo por objetivo final a escrita coletiva de um projeto de geração de trabalho e
renda, conforme previsto na seção 4 deste guia.
Também idealizamos construir pontes de comunicação entre a equipe responsável pelo desen-
volvimento deste guia e as experiências já existentes e/ou que estão se estruturando em suas
redes. Assim, disponibilizamos o e-mail de contato guia.daprafazer@gmail.com.
À guisa de conclusão, fizemos alguns apontamentos e reflexões para indicar os próximos passos
na direção de ampliar e consolidar as políticas de inclusão social pelo trabalho.
2
Economia Solidária
e Saúde Mental
Que relação existe entre saúde mental, trabalho, geração de renda e economia
solidária? O que significa trabalhar? O que queremos dizer quando falamos em saúde?
De acordo com o dicionário de etimologia – ciência que investiga a origem das pala-
vras e sua evolução histórica –, a palavra trabalho se origina em tri-palium, Tri significa
três e palium significa pau, ou seja, tripalium era um instrumento composto de três
paus que era usado para tortura. O sentido inicial associado ao sofrer passou-se ao de
se esforçar, de lutar, até chegar ao sentido de exercer ofício, ocupar-se de algo.
Karl Marx, um dos autores mais renomados nos estudos sobre as relações sociais, nos
deixou uma importante contribuição para compreender o mundo do trabalho ao criticar
a organização capitalista da sociedade. Ao longo de sua obra – sendo a principal delas
O Capital, escrita no fim do século XIX e que repercute até os dias atuais –, Marx afirma
que o humano dispõe da capacidade de criar e recriar através do trabalho sua própria
existência, que vai para além de responder ao meio instintivamente. Podemos projetar,
planejar, criar alternativas, avaliar opções e tomar decisões. Além disso, o trabalho é
uma condição necessária ao ser humano em qualquer tempo histórico nos diferentes
modos de produção da existência humana. Na perspectiva marxista, o trabalho é en-
tendido como processo. É através do trabalho que nós, humanos, transformamos o
mundo ao nosso redor, e também somos transformados por esse processo de traba-
lhar. Marx define trabalho como:
Com o início da Revolução Industrial, em meados do séc. XVIII, o que se enxergava nas fábricas
era a exploração desmedida de seus trabalhadores. Não havia lei que assegurasse a saúde dos
operários, crianças eram empregadas assim que começavam a andar, as jornadas de trabalho
eram tão longas que debilitavam fisicamente os operários. Ao mesmo tempo em que as novas
fábricas se estabeleciam, a miséria dominava a maior parte do cenário social.
É nesse contexto que a economia solidária se apresenta pouco depois ao capitalismo industrial,
aproximadamente no séc. XIX, como resposta ao rápido empobrecimento dos artesãos, pelo es-
tabelecimento da produção nas fábricas. Surge como alternativa na busca por soluções contra
a miséria, a exclusão, o desemprego e a cultura individualista dominante, trazendo a ideia de
igualdade, cooperação e solidariedade.
Ao fim do século XIX, os movimentos operários foram conquistando direitos. As forças sindicais
se mostram cada vez mais potentes e presentes, garantindo a seus trabalhadores melhores con-
dições de serviço, melhores salários, menor carga horária. Esses fatores, contudo, geram uma
espécie de comodismo entre os assalariados e um desinteresse pela economia solidária.
O fortalecimento da economia solidária até então tem se mostrado diretamente relacionado à fa-
lha do capitalismo em relação à sociedade. Sendo assim, seu crescimento poderá se desacelerar
no futuro, ou pior, pode não passar de uma forma complementar da economia capitalista (SIN-
GER, 2002). Para que esse quadro se transforme, fazem-se necessárias ações do governo, com a
criação de normas que assegurem e proporcionem estrutura para que as ações se desenvolvam.
A economia solidária adapta-se aos princípios e valores de quem a aplica. Dessa maneira, é um
modelo socioeconômico que objetiva o desenvolvimento econômico aliado ao bem-estar social.
Busca desenvolver sujeitos de direitos, proporcionando melhor qualidade de vida aos públicos
marginalizados socialmente.
Desde 1948, a declaração universal dos direitos humanos, em seu artigo 23, afirma que todo
ser humano, sem qualquer distinção, tem direito ao trabalho, a condições justas de trabalho e à
proteção contra o desemprego. O trabalho como direito humano proporciona uma mudança de
paradigma, pois passa a ser entendido como um direito de cidadania.
mos tomar o trabalho como princípio educativo. Nesse sentido, o trabalho é ao mesmo tempo
um direito e um dever15. É um direito por ser o ser humano um ser da natureza que necessita es-
tabelecer, por sua ação consciente, um metabolismo que transforma bens para sua produção e
reprodução. E é um dever por ser justo que todos colaborem na produção dos bens materiais,
culturais e simbólicos, fundamentais à produção da vida humana.
No século XXI, observamos um fortalecimento das teorias das chamadas ‘clínicas do trabalho’
– psicodinâmica do trabalho, ergonomia, clínica da atividade, ergologia, psicossociologia –, que
nos fornecem importantes ferramentas para a compreensão do trabalho na atualidade. Existem
muitas variações entre elas, porém alguns pontos em comum nos ajudam a refletir e intervir nas
relações de trabalho. Nesse caso, trabalho não é usado como sinônimo de emprego, o que inte-
ressa primordialmente é a atividade, a ação no trabalho, o poder de agir dos sujeitos no trabalho.
E a atividade pode ser definida como aquilo que se passa entre o sujeito que a realiza, o objeto de
trabalho e o(s) outro(s) para quem ela se dirige.
As clínicas do trabalho buscam, através de suas pesquisas e intervenções, focar nos processos
emancipatórios dos trabalhadores, ocupando-se com as práticas que interferem nos processos
de subjetivação. Parte-se da premissa de que existe uma ligação entre “mundo psíquico” e “mundo
social”, ou seja, em qualquer situação de trabalho há uma relação entre os três: 1)sujeito, 2) trabalho,
3)meio (BENDASSOLI & SOBOLL, 2011).
Outro ponto que merece ser lembrado é que, para as clínicas do trabalho, o trabalho prescrito
(aquele que está previsto, que foi concebido inicialmente) e o trabalho real (aquele que é efetiva-
mente realizado pelos trabalhadores) nunca coincidem totalmente. Isso significa que é possível
criar no trabalho, pois o que se faz efetivamente não se restringe apenas ao cumprimento de
tarefas e normas preestabelecidas.
Nesse sentido, o trabalho pode operar saúde (Osorio Silva & Ramminger, 2014), isto é, quando se
exerce a capacidade criativa no trabalho, ele pode ser fonte de vida, de fortalecimento dos víncu-
los, de expansão das possibilidades de se relacionar e estabelecer trocas materiais e imateriais
(simbólicas) no mundo.
Vale destacar que entendemos saúde não como ausência de doença, nem como completo bem-
-estar físico, mental e social (definição da Organização Mundial de Saúde), mas sim saúde como
a capacidade que temos de criar novas normas (ser normativo) frente às adversidades que o
meio nos apresenta. Desse modo, saúde não é o oposto de doença, pelo contrário. Para a filosofia
vitalista, doença é uma expressão da vida, uma modificação da vida, talvez diminuída, que permi-
te a procura dela. (CLOT, 2010). Por isso, doença e saúde não se opõem, pois “saúde é ser capaz
de ficar doente e reestabelecer-se.” (CANGUILHEM, 2007).
5. Afirmativa extraída do verbete trabalho do Dicionário de Educação profissional em Saúde. EPSJV / Fiocruz. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.
Diferentemente de independência, autonomia não significa não depender, mas pelo contrário,
“somos mais autônomos quanto mais dependentes de tantas mais coisas pudermos ser” (TI-
KANORY, 2001). Nesse manual temos um item que se dedica exclusivamente ao tema da auto-
nomia. Contudo, nos cabe afirmar que para o trabalho produzir saúde é critério fundamental que
ocorra a gestão coletiva dos conflitos inerentes às situações de trabalho. Decisões partilhadas
tornam-se mais leves para todos os envolvidos.
Com isso, o direito ao trabalho foi cerceado aos “loucos” durante mais de um século, pela irrever-
sibilidade da internação no hospital psiquiátrico, garantindo assim o controle sobre os processos
de inclusão e exclusão dessas pessoas do mercado de trabalho, com a justificativa da inabilidade
e cronicidade da doença mental. Os excluídos da organização produtiva de uma sociedade tam-
bém não encontram lugar na ordem racional dessa mesma sociedade (BASAGLIA, 1924).
Essa exclusão das relações de trabalho imposta pelo modelo manicomial excluiu as pessoas
com questões de saúde mental, não só da participação em atividades laborais como também
de todas as relações de trocas que compõem as tramas sociais. Só
após as mudanças de paradigmas trazidas pelas lutas sociais, pela
luta antimanicomial, é que começaram a pensar na questão do di-
reito à cidadania dessas pessoas. A cidadania da qual nos referimos
pode ser entendida como construção de direitos substanciais ligados
ao acesso a trocas afetivas, relacionais, materiais, ao morar (habitar/
casa) e produtivas (produzir mercadorias e valores). A proposta de
reabilitação psicossocial é um dos caminhos possíveis para o
aumento, a partir desses eixos, de recursos dos sujeitos com
questões de saúde mental para realizar trocas sociais e,
como consequência, aquisição da cidadania so-
cial, isto é, da possibilidade de conquista
da contratualidade social dos sujeitos
(SARACENO, 2001).
2 - Economia Solidária e
Saúde Mental 12 Voltar para
o sumário
A ideia de cooperativa surgiu na Europa em meados do século XX, ao longo do contexto de lutas
e resistências dos trabalhadores, devido à pauperização do trabalho e à exploração capitalista
(FUSINATO, 2005). Nessa nova prática econômica, os trabalhadores poderiam experimentar os
princípios de democracia e igualdade, equidade e solidariedade, e serem donos de sua própria
produção.
Empresa Social é sair do mundo da improdutividade. Na Empresa Social produzir não é apenas
trabalhar, mas transformar socialmente.
Produzir é ter status, é estar incluído na grande sociedade do mercado humano, do trabalho, da
produção, da relação entre os homens.
No Brasil, o modelo de cooperativismo social, atrelado à saúde mental, surge na década de 1990,
junto aos debates sobre a lei de reforma psiquiátrica. A Lei 9.867/1999, que institui o cooperati-
6. Reforma Psiquiátrica definida como um processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes proveniências,
e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos
profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais e nos territórios do imaginário social e
da opinião pública. Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das insti-
tuições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios
(BRASIL, 2005, pg.06).
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o sumário
vismo social no Brasil, definia a cooperativa social a partir das especificidades de seus trabalha-
dores (transtorno mental, dependência química, deficiência, egresso do sistema prisional). Para
os sujeitos com experiência em sofrimento psíquico, as cooperativas, baseadas na economia
solidária, são uma forma real de inserção no mercado de trabalho, possibilitando o sujeito de
afirmar os seus direitos e suas possibilidades de vida (NICACIO, KINKER, 1997).
A criação do modelo de cooperativismo representou uma importante resposta para dialogar com
pessoas em desvantagens sociais, como o público de saúde mental. Esses, anteriormente sub-
metidos a tutela asilar, passaram a ter suas relações institucionais e sociais transformadas e
potencializadas.
Existem dispositivos legais que orientam o sistema cooperativo brasileiro. A Lei Federal nº 5.764,
de 1971, nasceu ainda quando as cooperativas brasileiras estavam sob a responsabilidade do
Estado. A lei cooperativista adotou critérios da época associados à legislação cooperativista já
existente no mundo. Trata-se da atual normativa que regula o sistema cooperativo brasileiro.
No Brasil, a economia solidária surgiu com mais força em projetos de governo, a partir de 2001.
Em 2003, no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, foi aprovada a proposta, encaminhada ao
recém-empossado presidente Lula, de criação da Secretária Nacional de Economia Solidária, que
foi implantada ainda naquele ano, sob a liderança de Paul Singer. Assim começa a economia
solidária como política pública (DELGADO, 2014). Entre a economia solidária e a reforma psiqui-
átrica existe uma matriz comum. Ambas nascem da força dos movimentos sociais, na luta para
tornar a sociedade mais inclusiva e solidária, de movimentos de transformações profundas nas
concepções sobre a loucura e sobre a diferença, e na busca de estratégias de enfrentamento das
condições adversas do mercado, que exclui as pessoas em processo de vulnerabilidade social
(DELGADO in BRASIL, 2005).
Sendo assim, essa política demanda ações que articulem instrumentos das várias áreas do go-
verno e do Estado (educação, saúde, meio ambiente, trabalho, habitação, desenvolvimento eco-
nômico, tecnologia, crédito e financiamento, entre outras) para criar um contexto efetivamente
emancipatório e sustentável (PRAXEDES, 2009).
Porém, o que temos até então são pequenos avanços que ainda não colocam a economia soli-
dária no centro das políticas públicas. Em nível federal, temos os desafios da aprovação de uma
lei geral para a economia solidária e a constituição de um fundo de fomento que dê apoio a es-
sas iniciativas. Como parte da estratégia nacional, contamos com a implementação dos Centros
Públicos de Economia Solidária, que foi realizada pela Senaes (Secretaria Nacional de Economia
Solidária) em parceria com municípios e governos estaduais. Esses centros se constituem em
espaço que agregam as mais variadas iniciativas do campo da economia solidária, propiciando a
participação de diversos atores presentes no território.
Já em âmbito municipal e estadual, merece ser comentado o aumento na aprovação de leis insti-
tuindo políticas de apoio e fomento à economia solidária, como a Lei nº 5.435, de 12 de junho de
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2012 , que institui uma política de fomento à economia solidária pelo município do Rio de Janeiro,
ou a Lei nº 7.368, de 14 de julho 2016, que autoriza o poder executivo a criar o fundo estadual de
fomento à economia popular solidária no estado do Rio de Janeiro.
Muitos outros estados também mostram avanços com leis que asseguram o fomento estadual à
economia solidária, como a Lei nº 15.028, de 19 de janeiro de 2004, do estado de Minas Gerais; a
Lei nº 8.798, de 22 de fevereiro de 2006, do estado do Rio Grande do Norte; a Lei nº 12.368, de 13
de dezembro de 2011, do estado da Bahia; a nº 6.057, de 17 de janeiro de 2011, do estado do Piauí;
e a nº 2.493, de 25 de agosto de 2011, do estado de Tocantins. Esses são apenas alguns exemplos.
Incubadoras
As Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs) surgiram do questionamento
sobre o que as universidades poderiam fazer para reverter o quadro de miséria de populações
pobres. Será que toda aquela tecnologia que era pesquisada e gerada nas universidades poderia
se reverter em geração de renda e melhores condições de vida para os trabalhadores?
Hoje as ITCPs são projetos universitários responsáveis por difundir a economia solidária no am-
biente acadêmico. Para a criação de uma incubadora é importante uma conscientização popular,
ou seja, é necessária uma mobilização política, promovida com o objetivo de que a população en-
tenda o seu significado e relevância para a cidade, para a região e para cada cidadão. Sua equipe
de técnicos é multidisciplinar, composta por profissionais de diferentes áreas do conhecimento,
que exercem o papel de mediadores entre os participantes. Na composição das equipes, os ser-
vidores públicos municipais ou estaduais contribuem de forma decisiva para a implantação da
economia solidária (PRAXEDES, 2009).
A primeira ITCP, que se caracterizou com essa sigla, e que impulsionou o surgimento de outras
ITCPs, apareceu na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1996. Instaurou-se com
algumas ideias, como a incubação deveria ser feita no local de funcionamento das cooperativas;
a prioridade para a incubação deveria caber aos grupos de trabalhadores em condições de maior
risco social; a incubação deveria constituir-se como um processo de longo tempo, de 2 a 3 anos;
viabilidade econômica (qualidade e competitividade) e solidariedade interna (autogestão) eram
pressupostos da eficácia da incubação etc.
Contudo, não é possível compor uma metodologia única para realidades diversas, pois cada uni-
versidade busca escolhas metodológicas e estruturas diferenciadas, considerando suas condi-
ções de trabalho, suas histórias institucionais, além das representações sociais das pessoas que
compõem a incubadora.
2 - Economia Solidária e
Saúde Mental 16 Voltar para
o sumário
Desse modo, as cooperativas sociais seriam uma alternativa de organização formal de trabalho
de pessoas em situação de vulnerabilidade social, o que facilitaria a expansão das experiências
de inclusão social pelo trabalho para além dos muros e abrangência das experiências construí-
das dentro da área da saúde. A falta de um marco conceitual do associativismo e cooperativismo
social brasileiro dificultou ao longo desse tempo a constituição de empreendimentos com essa
conformação jurídica e conceitual. Felizmente, recentemente no ano de 2016, no Conselho Na-
cional de Economia Solidária, tivemos a aprovação de termo de referência contendo o novo Mar-
co Conceitual do Associativismo e Cooperativismo Social, o que poderá ajudar na conformação
de novos empreendimentos como alternativa de trabalho das pessoas em situação de desvanta-
gem social (PINHO e RODRIGUES PINHO, 2016). No novo marco conceitual esta é a definição de
cooperativa social:
Em relação à composição das cooperativas sociais, também foi adotada uma nova redação:
[...] as organizações devem incluir entre seus participantes no mínimo cinquenta por cento
mais um de pessoas que se encontram em situações de desigualdade por desvantagem.
Assim, o associativismo e cooperativismo e cooperativismo social devem considerar o
protagonismo das pessoas que se encontram em situações de desigualdade por desvan-
tagem, mas também promover a interação destas com as demais pessoas em condição de
igualdade na gestão das organizações (PINHO e RODRIGUES PINHO, 2016, pg09).
9. Fonte: Relatório Final do Grupo de Trabalho Saúde Mental e Economia Solidária, Brasília, Março 2006.
Apesar da grande potência das oficinas de geração de trabalho e renda, na produção de autono-
mia, protagonismo dos usuários e construção de laços afetivos, é preciso ficar atento aos riscos
de se tornarem espaços de pouca reflexão, assistencialistas e das relações reduzirem-se apenas
à questão do capital, como ilustrado no quadro a seguir.
POTÊNCIAS RISCOS
Produção de autonomia.
Movimentos por outros circuitos além da
Tornar-se espaço pouco reflexivo - “tarefeiro”.
saúde mental.
Um estudo quantitativo, realizado com empresários no Rio Grande do Sul, discute as percepções
dos empresários sobre as pessoas com questões de saúde mental. Os autores Dalnei Delevati
e Lílian Palazzo chegam à conclusão, após as entrevistas, de que os empresários apresentam
ideias protecionistas, de irrecuperabilidade e periculosidade em relação aos usuários da saúde
mental, e são favoráveis à restrição social dos mesmos (DELEVATI, 2008).
Na dissertação de mestrado de Carolina Con Andrades Luiz (2017), realizada com usuários e
usuárias da rede de saúde mental de Campinas (S.P), os usuários e usuárias da saúde mental tra-
zem em suas narrativas experiências de violência, humilhação e submissão no trabalho realizado
dentro dos moldes capitalistas de mercado. As narrativas também apontam que pessoas em
processo de vulnerabilidade social, para garantirem a sua subsistência, não se sentem em con-
dições de escolherem suas atividades de trabalho, se submetem a funções com alto grau de des-
gaste emocional e físico e, nesses casos, experimentam o trabalho como fator desencadeante do
próprio processo de adoecimento. Além de experimentarem mudanças nas relações de confiança
dentro do ambiente de trabalho após um “surto”, pois o sentido atribuído ao adoecimento mental
ainda é de pessoas que tornam-se perigosas para o convívio com os outros, por isso não são
mais dignas de confiança, mesmo após a melhora do quadro. Quando esses usuários e usuárias
comparam essas experiências no mercado capitalista com experiências de geração de trabalho e
renda em oficinas de trabalho ligadas à rede de saúde mental, trazem que são espaços de menos
competição em que experimentam sentimentos de união, solidariedade e cuidado. Relacionam
a valorização do papel deles enquanto trabalhadores nos espaços das oficinas, quanto maior o
domínio da técnica e autonomia na confecção dos produtos, além de aumento da quantidade de
pedidos e do ganho financeiro (LUIZ, 2017).
Desafios atuais:
A questão da geração de renda para a subsistência dos usuários e usuárias da saúde mental nas
oficinas de trabalho ligadas à rede de saúde mental ainda é um desafio para os empreendimen-
tos. Essa dificuldade também é enfrentada por outros empreendimentos econômicos solidários,
ligados à economia solidária, pois ainda encontram barreiras para a introdução e comercializa-
ção de seus produtos no mercado.
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o sumário
Portanto, pretendemos nesse capítulo apontar os principais desafios enfrentados pelas pessoas
com questões de saúde mental no campo do trabalho ao longo da história, e as alternativas pos-
síveis para sua inclusão.
Agora lançamos o desafio de você leitor/leitora desse manual pensar na sua reali-
dade local, com relação às principais potências e dificuldades enfrentadas por seu
grupo, empreendimento/oficina na inclusão social pelo trabalho.
4) Quais as sugestões para melhorar a renda e trabalho nesses espaços? Ou quais suges-
tões vocês dariam para implantar ou ampliar esse tipo de trabalho na sua comunidade?
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o sumário
3
Ferramentas
teórico-conceituais
para a geração de
trabalho e renda
O trabalho na perspectiva dos usuários e das usuárias na reforma psiquiátrica
A partir das homologações da Lei Federal 10.216/2001 (BRASIL, 2001), mais conhe-
cida como a Lei da Reforma Psiquiátrica, e da Portaria GM/MS n°336 (BRASIL, 2002),
as quais, respectivamente, dispõem sobre os direitos das pessoas com questões de
saúde mental e o redirecionamento do modelo assistencial, tornou-se vigente um novo
modelo de atenção de dispositivos comunitários, trazendo à tona uma nova configura-
ção de desafios a serem enfrentados.
Nesses moldes, ele pode contribuir para a organização pessoal de cada um, dada a importância
do trabalho digno e solidário na vida das pessoas, e auxiliar na construção de uma vida mais
funcional, constituindo-se como alternativa ao desemprego e consequente geração de renda.
Subsidia também a diminuição do isolamento e da exclusão das pessoas com questões de saú-
de mental das redes sociais e das relações de trabalho e renda, que podem representar uma das
piores dimensões na vida de quem vivencia o adoecimento.
Assim, o trabalho pode ser entendido dentro das estratégias da reabilitação psicossocial
como importante fator de ampliação do protagonismo e do empoderamento dos usuários e
das usuárias da saúde mental. Por meio do desenvolvimento do senso funcional, da amplia-
ção da autoestima e da autoconfiança, contribui inclusive para a redução do estigma difun-
dido na sociedade a despeito de seus diagnósticos psiquiátricos.
Esta seção do manual visa contribuir para a compreensão do papel que o trabalho pode ter na
vida dos usuários e das usuárias. Vale ressaltar, no entanto, que ele é escrito em tempos de
importantes retrocessos para o país510, de modo geral, e também mais especificamente para a
saúde mental e para a reforma psiquiátrica611.
Pitta et al (2015) chamam a atenção para a dificuldade de garantir a concretização dos direitos
sociais e a inclusão social daqueles com questões de saúde mental em um país de grande ini-
quidade, com baixa magnitude de gastos sociais e de saúde e que passa por um movimento de
minimização da atuação do Estado em relação aos compromissos sociais em favor de um plano
neoliberal. Acentuadas as desigualdades, são prejudicadas a cidadania e a qualidade de vida da
população.
Dentro dessas estratégias, localizamos também o trabalho da escrita deste manual, na defesa da
sustentação de fazeres que subsidiem as práticas na reforma psiquiátrica e para a saúde mental.
Defendemos e buscamos avanços para as políticas públicas que as asseguram, criando resis-
tências a partir de nossos trabalhos cotidianos frente aos retrocessos que se instalam.
10. Aqui, nos referimos ao golpe jurídico-midiático articulado no país em 2016, que resultou no processo de impeachment da presidente eleita Dilma
Rouseff e sucessível instauração de um governo ilegítimo, que ainda vigora atualmente. Consideramos que as lutas pela saúde mental não devem ser
tomadas descoladas de um contexto maior, macropolítico, no qual vemos nossa democracia e conquistas sociais sofrerem graves retrocessos.
11. Especialmente no que diz respeito à reforma psiquiátrica, vemos algumas de suas diretrizes principais serem questionadas pelo ministério que se
instalou a partir da mudança no governo, como por exemplo a defesa do retorno do modelo manicomial, já tão duramente combatido, e o desmantela-
mento das políticas que sustentam a rede substitutiva de serviços, conquistadas a partir do processo da reforma.
3 - Ferramentas teórico-conceituais para
a geração de trabalho e renda 22
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o sumário
Dentro desse contexto, encaramos os desafios de resistir e de mostrar que dá para fazer! É pre-
ciso enfrentar as dificuldades e encarar a luta por avanços na política de saúde mental. Nesse
sentido, buscamos ilustrar aqui como podemos contribuir para os fazeres possíveis no cotidiano,
na contribuição aos processos de protagonismo dos usuários e das usuárias de saúde mental,
que também se relacionam às lutas e resistências mais amplas no contexto brasileiro atual.
Para os fazeres da geração de trabalho e renda, desenvolvemos, aqui nesta seção, algumas fer-
ramentas teórico-conceituais que podem lhes subsidiar. Quando pensamos em práticas de eco-
nomia solidária na saúde mental, lidamos com questões relacionadas à saúde e ao trabalho dos
usuários e das usuárias, que são dimensões de ordens diferentes e exigem o suporte de toda a
rede para que possam ser asseguradas, além da prática da intersetorialidade e da entrada em
cena de diferentes atores.
Para ilustrar, temos como exemplo o caso de um usuário do CAPS que participa de diversas
atividades nesse dispositivo e realiza também atividades de trabalho em uma associação ou
cooperativa. Sua participação nesses dois espaços distintos é importante para que ele atinja a
dimensão tanto da saúde como do trabalho. Quando o usuário-trabalhador vai vender seus pro-
dutos em uma feira em conjunto com outros artesãos, ele tem a oportunidade de romper com os
estigmas que o diagnóstico carrega, como o de pessoa “incapaz” para o trabalho. Para exercer
esse papel, agora de trabalhador, ele precisa de ferramentas que ampliem seus processos de em-
poderamento e de ganho de autonomia, caminhando na direção do protagonismo e da cidadania.
Autonomia
A autonomia, para Onocko-Campos et al (2015), deve ser entendida como a capacidade do sujei-
to de lidar com sua rede de dependências e de agir sobre o mundo, devendo ser tomada de “(...)
uma forma relativa, em gradientes, passíveis de terem seus limites sempre tensionados, muda-
dos” (ONOCKO-CAMPOS, 2015 p.724). O seu exercício, desse modo, deve ser colocado sempre
em situação, não há uma autonomia pronta para todos, mas que se constrói nas relações.
Voltar para
23
o sumário
Ainda para a autora (2015), é preciso buscar também graus maiores de autonomia aos profissio-
nais do cuidado, que devem pautar suas intervenções quanto ao desenvolvimento da autonomia
possível, no reconhecimento da categoria sujeito e não dissociando as ações coletivas e as in-
dividuais.
A autonomia possível do usuário, assim, é um dos pontos principais a serem buscados no mode-
lo de cuidado que se almeja com o advento da reforma. Deve-se tê-la sempre em mente, agindo
em situação e levando em conta cada sujeito em seu contexto.
Dentro desses serviços, é importante que os profissionais do cuidado se atentem a formas mais
autônomas de os usuários e as usuárias se estabelecerem diante das práticas possíveis dentro
dos dispositivos e, mais fundamental ainda, fora deles, na vida social, no contato com o mundo e
com os fazeres com os quais se relacionam.
Quanto às práticas de geração de trabalho e renda, elas se relacionam aos modos mais autô-
nomos de vida dos usuários e das usuárias. É importante, assim, que profissionais do cuidado
se atentem e incentivem práticas que subsidiem o protagonismo. São importantes, quando vis-
lumbramos processos mais autônomos de vida, os acessos a direitos e serviços, oportunidades
educacionais ou moradia para integração na vida social. O trabalho, desse modo, é atividade
fundamental diante do estímulo ao protagonismo e ao empoderamento (VASCONCELOS, 2016).
Empoderamento
No que diz respeito às formas de protagonismo e de ativismo dos usuários, das usuárias e de
seus familiares, o empoderamento (VASCONCELOS 2003; 2008) se relaciona a uma perspectiva
ativa de fortalecimento do poder, da participação e da organização desses sujeitos no próprio
âmbito da produção de cuidado em saúde mental, dentro dos serviços ou em dispositivos autô-
nomos de cuidado e suporte e na sociedade em geral.
Como formulação geral do conceito, Vasconcelos (2003) propõe o “aumento do poder e autono-
mia pessoal e coletiva de indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e institucionais,
principalmente daqueles submetidos a relações de opressão, dominação e discriminação social”
(VASCONCELOS, 2003 p.55).
participação no sistema de saúde e de saúde mental e a militância social e política mais ampla
na sociedade e no Estado (VASCONCELOS, 2013b, 2014).
Por meio do empoderamento daqueles que antes foram delegados ao silêncio e à incapacida-
de, uma nova produção de cuidado e de vida deve ser vislumbrada, na busca de uma militância
política cujo pressuposto e objetivo são a autonomia e a intensificação da potência de vida e da
possibilidade de decisão de cada usuário e usuária (ALMEIDA et al, 2010).
Ainda no que diz respeito à ação política, na defesa do protagonismo enquanto questão pertinen-
te ao tema do controle social e para o enfrentamento das cristalizações institucionais, Costa et al
(2012) atentam para a capacidade de o usuário e a usuária serem os atores principais na criação
de seus próprios caminhos, fazendo com que “o ‘nada mais para nós, sem nós!’ deixe de ser um
pedido isolado de um usuário... e se torne um imperativo ético para toda política pública de nosso
país” (COSTA et al, 2012 p.581).
Esses processos, desse modo, quando levados em consideração para os fazeres de geração
de trabalho e renda, devem ser incluídos em análises contextuais que possam facilitar mais ou
menos cada prática. Para tanto, torna-se importante o levantamento do que pode contribuir a
cada prática, dentro das possibilidades de cada um, nos diferentes contextos em que possam
se inserir.
Recovery (Recuperação)
com essas questões para conduzirem suas próprias vidas de maneira segura e digna na socieda-
de. O conceito diz respeito também a um processo pessoal e único, no qual o usuário e a usuária
se engajam a fim de manejar e de viver sua própria vida apesar do adoecimento. Dentro desse
processo, podem assumir suas próprias tomadas de decisões, esperanças, sonhos, espiritua-
lidades, aspirações, escolhas e participações em atividades nas quais se sintam à vontade ou
atribuam significado a despeito de suas dificuldades (DAVIDSON, 2006).
Para a discussão do que facilita ou não no processo de recuperação de cada usuário ou usuária,
é fundamental que eles próprios definam o que cabe em cada jornada pessoal, que sejam os pro-
tagonistas principais de seus processos, que são únicos.
O processo de recuperação diz respeito à vivência, apesar do adoecimento, e à luta pelo alcance
dos objetivos de vida. Tais objetivos, para Deegan, usuária e pesquisadora norte-americana, “não
são necessariamente associados ao pertencimento de uma sociedade dominante, mas às expe-
riências de cada pessoa, na busca do alcance de objetivos ou aspirações que ele ou ela coloca
para si” (DEEGAN apud DAVIDSON, 2003, p. 44).
Ao relatar sua experiência, Boevink (2012), também usuária, chama a atenção para o fato de a
pessoa que sofre com questões de saúde mental ter a capacidade de liderar sua própria vida, e
que há uma enorme diferença entre sua identidade e o problema em saúde mental que possui.
Em seu relato, a autora defende que “não somos distúrbios psiquiátricos com necessidades de
cuidados, mas sim pessoas com vidas a serem vividas cujos alguns aspectos podem requerer
cuidado profissional ou assistência” (BOEVINK, 2012, p.16).
Assim, no que tange à perspectiva dos sujeitos que vivenciam o processo, essa se associa à res-
tauração da vida, à busca de objetivos na adição de significados, papéis sociais, empoderamento
pessoal e cidadania. Todos são considerados capazes de se recuperar utilizando o suporte ou o
tratamento que julgar necessário (DAVIDSON, 2003).
Nesse sentido, são indicados quatro aspectos básicos do processo de recuperação, envolvendo
a redescoberta e a reconstrução de um funcional senso de si: a descoberta da possibilidade de
possuir um senso de si mais ativo; a percepção das forças e fraquezas e o acesso à possibilidade
de mudanças; colocar em ação algumas características próprias e integrar os resultados dessas
ações como reflexos das capacidades; e, por fim, o combate aos aspectos negativos, tais como o
estigma e a discriminação, com os aspectos positivos (DAVIDSON; STRAUSS, 1992).
12. A tradução “recuperação” para o termo inglês recovery é a proposta de Vasconcelos (2007). Não há consenso, no entanto, para a tradução. Muitos
ainda preferem manter o termo em sua língua de origem para evitar restringi-lo a um significado. Para este manual, optamos pela tradução proposta
pelo autor (2007) por esta ser mais acessível ao público leitor e para facilitar a leitura do termo, apesar de considerarmos o conceito complexo e difícil
de ser traduzido.
3 - Ferramentas teórico-conceituais para
a geração de trabalho e renda 26
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o sumário
São identificadas, desse modo, diversas ênfases que compõem a vida da pessoa com questões
de saúde mental. Os aspectos ligados à ênfase social, tais como o trabalho, a educação ou o la-
zer, podem evoluir independentemente e concomitante aos sintomas apresentados pelo sujeito
(DAVIDSON, 2009).
Torna-se importante, desse modo, que os usuários e as usuárias desenvolvam autonomia peran-
te a participação na comunidade do modo que julgarem apropriado. Assim, são importantíssimas
as questões como busca de cidadania, inclusão social e garantia de direitos – considerados os
aspectos mais difíceis de serem alcançados após o adoecimento (DAVIDSON, 2006).
É extremamente relevante, nesse sentido, a consideração dos problemas sociais que incidem di-
retamente nas questões de saúde mental. Fatores ligados à moradia, ao emprego e às atividades
de lazer estão intrinsecamente relacionados aos processos individuais de recuperação (SHAMIR,
2012; ADENPOLE, 2012).
Esses processos não devem incluir somente o reestabelecimento de senso e papel de valor na
comunidade, mas também a recuperação dos efeitos de ter um diagnóstico psiquiátrico, incluin-
do todos os seus aspectos, tais como a discriminação, o desempoderamento, o desemprego e
os sonhos frustrados, além dos próprios efeitos e sintomas relacionados ao adoecimento (AN-
THONY et al, 1993; 2002; FARKAS, 2007).
O processo de recuperação ocorre por meio da participação social e das relações com os outros.
As redes sociais e os familiares são fontes importantes de suporte e de interdependência. Ter
acesso aos recursos sociais como a habitação, o trabalho e a educação são fundamentais aos
processos, que ocorrem através do fortalecimento pessoal com relação à tomada de decisões
sobre suas próprias vidas e comunidades, e se relacionam à recuperação de dimensões sociais e
políticas, na busca por igualdade de oportunidades e cidadania (DUARTE, 2007).
Após passarmos pelos principais conceitos e ferramentas para ampliação do protagonismo dos
usuários e das usuárias da saúde mental, é importante, dentro dos pressupostos éticos e polí-
ticos da reforma psiquiátrica e da economia solidária, compreendermos os empreendimentos
econômicos solidários como importantes dispositivos, e também revolucionários, de inclusão
social pelo trabalho desses sujeitos.
Os trabalhos realizados por eles nesses empreendimentos, assim como a beleza dos produtos e
a sua competitividade no mercado, são fundamentais para a superação do estigma que acompa-
nha os processos de adoecimento e diagnóstico em saúde mental. O retorno financeiro dado ao
trabalho também ajuda na construção dos papéis de trabalhadores dos usuários e das usuárias
nesses empreendimentos.
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27
o sumário
Os usuários e as usuárias podem agir e mudar a situação por si mesmos, se forem reconhecidos
como sujeitos de direitos, e não vítimas passivas de uma doença, podendo tomar decisões sobre
suas próprias vidas. Com isso, podem conduzir seus processos de recuperação, como nos suge-
re Patrícia Deegan:
“Aqueles de nós que têm sido diagnosticados, não somos objetos para agirem sobre nós.
Nós somos sujeitos humanos completos, que podem agir e, em agindo, mudar nossa situ-
ação. Nós somos seres humanos e podemos falar por nós mesmos. Nós temos uma voz
e podemos aprender a usá-la. Nós temos o direito de sermos ouvidos e de ouvirmos. Nós
podemos nos tornar autodeterminados. Nós podemos nos erguer em direção ao que está
nos afligindo e não precisamos ser vítimas passivas de uma doença. Nós podemos tornar-
-nos “experts” em nossa própria viagem de recuperação” (DEEGAN,1995, p.2).
1) O que vocês entenderam e o que acham que significa então essas palavras: empo-
deramento e protagonismo?
2) Vocês acham que poderiam aumentar o empoderamento de vocês dentro das ofi-
cinas/empreendimentos? O que precisaria ser feito para conseguir?
3 - Ferramentas teórico-conceituais para
a geração de trabalho e renda 28
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o sumário
3) Quais espaços na comunidade, bairro, serviços de saúde, entre outros, vocês partici-
pam e são discutidos direitos e ações coletivas? Quais lugares vocês acham que pode-
riam participar para conversar sobre melhora de trabalho e renda?
4
Oficina de escrita
de projeto: vamos
escrever juntos?
Como vimos ao longo dos capítulos anteriores, um grupo de geração de trabalho e
renda baseado nos princípios da economia solidária se caracteriza por práticas de
autogestão e de cooperativismo entre os seus membros. Essas práticas têm por ob-
jetivo principal estabelecer relações de trabalho capazes de proporcionar bem-estar
emocional e social aos seus praticantes. Assim, a partir desses referenciais, pensa-
mos em organizar uma parte deste Manual destinada, especificamente, à elaboração
de projetos de geração de trabalho e renda, tendo em vista contribuir para ampliação
dessas iniciativas de interface entre a economia solidária e a saúde mental.
13. Este roteiro foi elaborado a partir do Roteiro de Elaboração de Projetos do Programa Desenvolvimento e Cidadania da Petrobras,
e outros.
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31
o sumário
Nossa primeira sugestão, então, é que a escrita do projeto possa ser em grupo, e realizada em
três etapas:
1
-a primeira etapa: reunir todo o grupo para discutir todos os tópicos do roteiro, anotando
as ideias, registrando-se os consensos; essa etapa pode ser dividida em 3 a 4 encontros
de aproximadamente 2 horas cada encontro.
2
-a segunda etapa: o grupo deve indicar uma comissão de 2 a 3 membros no máximo para
fazer a redação final de cada tópico do roteiro; a comissão pode pactuar junto com o grupo
um prazo para fazer a devolutiva; sugerimos que esse prazo não ultrapasse o período de 15
dias, para evitar um distanciamento grande de tempo entre a discussão inicial de ideias e
sua formulação final.
3
-a terceira etapa: a comissão apresenta a redação do projeto para submeter à avaliação
final do grupo. Pode ser necessário mais um encontro para os ajustes finais da redação
do projeto.
1. O nome do projeto
O nome do projeto deve ser curto, no máximo de 11 a 15 palavras, e já deve indicar o propósito
principal do projeto. É interessante quando o título é criativo e o subtítulo indica a natureza da
proposta. Um exemplo: “Alice, prepara o gato! Ponto de Cultura CAPS Ad Alameda”14. Esse nome
foi escolhido em reuniões junto com os usuários dos serviços e se refere às brincadeiras no co-
tidiano do serviço. É um nome especial, que já confere à iniciativa uma característica de criativi-
dade e singularidade. Ponto para o projeto!
O nome do projeto, ou o título do projeto, embora apareça em primeiro lugar, também pode ser
definido por último. É comum o melhor título surgir no grupo após todas as ideias estarem mais
organizadas! Experimente:
14. Projeto apresentado pelo Instituto Franco Basaglia ao Programa Ponto de Cultura do Ministério da Cultura, aprovado em 2008.
32
4 - Oficina de escrita de projeto:
vamos escrever juntos?
Um projeto bem estruturado deve especificar o seu público-alvo. Ou seja, definir o grupo de pes-
soas para o qual o projeto está sendo elaborado e que pretende beneficiar a partir das ações
planejadas. Quem são essas pessoas, quais são suas características principais, quantidade de
homens e mulheres, faixa etária, classe social, raça e escolaridade. Para fundamentar o projeto,
é interessante recorrer às estatísticas disponíveis sobre a população atendida. Como se trata de
um projeto de geração de trabalho e renda, é oportuno especificar a faixa de renda dos partici-
pantes e outros dados relativos à vida laboral/profissional. No caso de um grupo atendido nas
unidades de serviços de saúde mental, pode ser uma ótima oportunidade para os participantes
do projeto discutirem sobre suas principais características socieconômicas.
4. Justificativa do projeto
Neste tópico, a ideia principal é explicar as razões que justificam a realização do projeto em
causa. A pergunta a ser respondida é: por que este projeto deve ser executado? Considerando
o campo da saúde mental, deve se estabelecer uma relação entre a condição socioeconômica
dos participantes e a necessidade de se criar espaços de produção e de geração de renda como
espaços de produção de positividade de valoração dos usuários dos serviços de saúde mental.
É importante também aqui inserir dados estatísticos sobre a condição econômica dos usuá-
rios atendidos, buscando informações sobre os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) das
regiões de moradia dos usuários beneficiários do projeto. São indicados também os dados do
Ministério da Saúde e da Coordenação Nacional de Saúde Mental sobre as iniciativas de geração
de trabalho e renda em território nacional.
Por que o grupo considera que este projeto deve ser executado? Responda aqui:
5. Relevância do projeto
Neste tópico, a pergunta central a ser respondida é: este projeto vai contribuir em que para a
sociedade? E para o campo da saúde mental? Fundamental trazer os temas da desconstrução
de preconceitos, do estigma associado à doença mental, da necessidade de se ressignificar a
loucura e os modos de sofrimento psíquico em sociedade. No item sobre relevância, deve ser de-
monstrada também a importância dos resultados a serem obtidos a partir das ações planejadas
no projeto e o seu alcance para a transformação social.
Responda a pergunta: como este projeto poderá contribuir para a promoção do bem-
-estar social dos seus participantes e para a transformação da sociedade?
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35
o sumário
Por sua vez, os objetivos específicos são as ações necessárias para atingir o objetivo geral. De-
ve-se agrupar o conjunto dessas ações fundamentais para garantir os resultados previstos, defi-
nindo quantidades e os intervalos de tempo para a sua realização. Para os exemplos de objetivo
geral indicados acima, podemos definir como sugestão de objetivos específicos:
Objetivo geral: Ampliar e sistematizar oficinas de geração de trabalho e renda junto aos serviços
de saúde mental, garantindo-se a sustentabilidade do projeto.
Objetivo geral:
7. Metodologia
Na etapa referente à metodologia, deve-se descrever como o projeto será desenvolvido ao
longo de sua execução. Uma sugestão é dividir por etapas, apresentando de forma sequen-
cial o conjunto de atividades previstas. Indique os processos, as rotinas, técnicas, instru-
mentos e procedimentos a serem empregados. Há um plano pedagógico? Quais são os prin-
cípios teóricos de embasamento ao método utilizado? Se houver experiências anteriores
semelhantes também podem ser indicadas como referência à proposta do projeto. Será uti-
lizada alguma tecnologia social15? Como será feito o processo de seleção dos participantes?
8
15. Define-se Tecnologia Social todo produto, método, processo ou técnica criados para solucionar algum tipo de problema social e que atendam
aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social comprovado.
forme o planejamento prévio. Ou seja, esses sível construir uma tabela em que todas essas
indicadores avaliam os processos de trabalho informações sobre a avaliação do projeto po-
e apontam a necessidade de ajuste e/ou rea- dem ser organizadas.
valiação dos procedimentos adotados.
Em que legislação está amparada a formulação do projeto do seu grupo? Nas se-
ções anteriores, é possível identificar elementos fundamentais para responder a
este ponto.
Equipe Técnica
Chegamos na etapa de elaboração do orçamento! Todo projeto ao ser formulado deve apresen-
tar uma planilha de custos, especificando as despesas necessárias para a execução das ações.
É importante relacionar todos os itens de despesas, incluindo os impostos e encargos de paga-
mento de pessoal.
5
Dá para fazer!
Experiências exitosas
Em São Paulo:
Empreendimentos/produtos
Livraria Louca Sabedoria – venda de livros novos e usados
Breve história
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43
o sumário
Vínculos institucionais: Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira em parceria com a Asso-
ciação Cornélia M.E.H Vlieg
Empreendimentos/produtos
Papel artesanal: confecção de folhas de papel Ladrilho hidráulico: confecção de ladrilhos hi-
artesanal, feitas com a reutilização de papéis e dráulicos artesanalmente.
a mistura com elementos, fibra de bananeira,
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45
o sumário
Breve história
O Núcleo de Oficinas e Trabalho (NOT) é uma riais, o pagamento da Bolsa Oficina e a comer-
tecnologia social, desenvolvida no campo da cialização dos produtos. Ao Serviço de Saúde
saúde mental, voltada à promoção de estraté- Dr. Cândido Ferreira cabe a responsabilidade
gias de reabilitação psicossocial e de inclusão pela alimentação, transporte e assistência
social pelo trabalho aos usuários da Rede de prestada aos usuários. E ao Sistema Único
Atenção Psicossocial do município de Campi- de Saúde, o reconhecimento e financiamento
nas (SP). de parte das ações desenvolvidas.
O NOT surgiu em 1991 com o objetivo de res- Essa tríade permite desenvolver um conjun-
ponder uma nova demanda social, produzida a to de estratégias com o objetivo de promover
partir do processo da Reforma Psiquiátrica, em processos de ampliação da contratualidade
que o cuidado, o tratamento e a reabilitação social, de reabilitação psicossocial e de trans-
dos usuários da saúde mental se deslocaram formação de identidades, com o deslocamento
do isolamento e da exclusão social para o cui- de lugar de “usuário de saúde mental” para o
dado em liberdade, nas cidades. de “oficineiro”, de alguém que produz e cria sua
própria história, seu protagonismo, através de
A nova estratégia de cuidado despertou a ne- um ofício.
cessidade de promoção efetiva dos direitos
humanos dos usuários, entre eles o direito ao As ações desenvolvidas no interior das
trabalho e a inclusão produtiva. oficinas, além do processo em si de geração
de trabalho e renda, potencializam proces-
Com 26 anos de história e de dedicação exclu- sos de aprendizado, de ampliação de socia-
siva ao desenvolvimento de atividades de ge- bilidade, além de estimular novas relações
ração de trabalho e renda, atualmente o NOT interpessoais, de expressão da subjetividade,
conta com 13 oficinas de trabalho que ofertam de protagonismo social, político e comunitário
300 vagas distribuídas em atividades artesa- de cada oficineiro.
nais, de prestação de serviços e agricultura or-
gânica, que funcionam de segunda a sexta-fei- Um diferencial do NOT é possuir um ponto co-
ra das 8h às 16h. mercial de comércio justo e solidário chamado
Loja Armazém
das Oficinas
Dá para fazer!
Experiências exitosas 46 Voltar para
o sumário
Armazém das Oficinas, no qual os produtos das oficinas e de outros empreendimentos ligados à
rede de economia solidária e de saúde mental podem expor e vender seus produtos. Isso ajuda na
divulgação e na venda dos produtos e acaba sendo, para a maioria das oficinas, a principal fonte
para manutenção dos grupos e geração de renda dos oficineiros. No local também funciona um
café e um restaurante.
Autoras
Kátia Liane Rodrigues Pinho – Terapeuta ocupacional, mestra em Ciência, Tecnologia e Socieda-
de pela Universidade Federal de São Carlos. Coordenadora da oficina de papel artesanal do NOT.
Carolina Con Andrades Luiz – Terapeuta ocupacional, mestra em Saúde Coletiva, Área de Política,
Planejamento e Gestão pela Universidade Estadual de Campinas. Coordenadora da oficina de
costura do NOT.
Vínculo institucional: Núcleo de Oficinas e Trabalho (NOT) do Serviço de Saúde Dr. Cândi-
do Ferreira, em parceria com a Associação Cornélia M.E.V.H. Vlieg.
Empreendimentos/produtos
Peças artesanais de madeira com marchetaria de cipó, bambu, retalhos de madeira. Móveis
sob encomenda.
Breve história
A oficina de marcenaria iniciou suas atividades são organizadas diariamente pelo grupo, de
em 1998, com maquinários modestos e pouca acordo com a demanda de pedidos (externos e
especialização na mão de obra. Com o tempo, estoque) e planejamento da produção. As ati-
novas máquinas foram adquiridas e um profis- vidades são as seguintes:
sional marceneiro experiente foi contratado.
A) Aparelhar madeiras e mdf (medir, cortar, de-
As atividades são realizadas de segunda a sengrossar, desempenar, esquadrejar, canali-
sexta-feira, das 8h às 16h, por 20 oficineiros, zar, furar etc);
dois monitores e um coordenador. As tarefas
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47
o sumário
B) Montar as peças;
D) Acabamento e lustração;
Produção da oficina
de marcenaria
Dá para fazer!
Experiências exitosas 48 Voltar para
o sumário
vendas, planejamento, limpeza, atividades extras etc). Reflexões sobre temas como economia
solidária, saúde mental e seus cenários atuais e mercado de trabalho também são estimuladas
pela equipe e pelos oficineiros.
As peças são comercializadas em nossa loja (Armazém das Oficinas), em feiras de decoração,
brindes e artesanato (Gift Fair, Craft Design, Mercado Mundo Mix, Brazil Promotion etc) e para
lojistas de todo o Brasil.
Autor
Empreendimentos/produtos
Breve história
Desde 2006, um grupo de pessoas que está em processo de cuidado e tratamento, reabilitação e
promoção de saúde mental se reunia às quintas-feiras nas dependências de uma sala de terapia
ocupacional num CAPS em Santo André para integrar e compor o ofício de xilogravar.
Com o passar dos anos, o grupo conseguiu realizar pequenas exposições em eventos vinculados
à saúde mental no município e em cidades adjacentes. Passou a perceber que seu trabalho tinha
desenvolvido valores estéticos e políticos que auxiliavam na ruptura de preconceitos, construin-
do novas culturas e lugares sociais aos participantes.
Ao longo de quatro anos (2006-2010), o coletivo elegeu diversas obras e inscreveu mais de 20
trabalhos em concursos de arte. Num deles, o VI Prêmio Arthur Bispo do Rosário, desenvolvido
pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP), teve dois trabalhos selecionados, que ficaram ex-
postos na estação Sé do me-
trô, na capital de São Paulo.
Em 2011, no fim do concurso,
o grupo foi contemplado com
o primeiro e o terceiro lugares
em categorias distintas.
Empreendimentos/produtos
Breve história
A Arte e Convívio (ONG) foi fundada na dé-
cada de 1990 com o objetivo de inserção no
mercado de trabalho (formal e informal) dos
usuários dos serviços de saúde mental de
Botucatu (SP). Possui núcleos de trabalho,
que incluem costura, encadernação, mosai-
co, loja e cafés. Será relatada aqui a mais
recente experiência de comercialização e
prestação de serviços na área de alimenta-
ção, a saber, a Arte e Convívio Café e o Café
da Loucura.
Café da Loucura
O segundo ponto é o Café da Loucura, que vem Alessandra de Fátima Sanches Vicençotto –
apostando na aproximação da sociedade com Assistente Social na Arte e Convívio Botucatu/
a loucura, uma vez que está instalado ao lado SP desde 2005. Possui graduação em Estágio
da sede da ONG, em uma casa onde funciona a Curricular pelo Centro de Saúde Escola (1998-
loja e o café. Esse ambiente proporciona essa 1999) e graduação em Bacharelado em Serviço
integração mais visceral com a sociedade, por Social pela Associação de Ensino de Botucatu
meio da realização de eventos culturais, como (1999). Aprimoramento profissional em Servi-
saraus, reuniões, comemorações e afins, além ço Social em Saúde Mental (2000-2001) pela
de proporcionar que o público tenha a oportu- Universidade Estadual Paulista Júlio de Mes-
nidade de um contato mais direto com a ONG. quita Filho (UNESP).
Avaliamos que um ponto exitoso nesse núcleo
de trabalho é vivenciar no dia a dia a desmis- Carolina Corvino dos Santos – Terapeuta
tificação da loucura, em que o diagnóstico de ocupacional na Associação Arte e Convívio.
cada um fica entre parênteses e eles são ali Graduação em Terapia Ocupacional pela Uni-
trabalhadores potentes e eficazes no atendi- versidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
mento ao público. Filho, 2016.
A Rede Estadual de Saúde Mental e Economia Solidária de São Paulo é um dispositivo de articu-
lação da diversidade de formas organizativas, de inclusão produtiva, que tratam o eixo reabilita-
ção psicossocial da RAPS (portaria 3.088/2011 do Ministério da Saúde) e se destina a promover
atividades de formação, de assessoria técnica, de comercialização e de mobilização social e
comunitária.
Feira na Avenida Paulista - promovida e organizada pela Rede Ecosol e Saúde Mental
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55
o sumário
Tanto a Rede quanto as redinhas se encontram em reuniões mensais. As redinhas com pau-
tas mais voltadas às necessidades e dinâmicas territoriais e a Rede com as pautas coletivas,
de interesse comum. Contamos com uma comissão executiva, composta pela livre adesão dos
membros que operacionaliza as decisões tomadas na reunião mensal e uma comissão que faz a
gestão do fundo solidário da Rede.
Atualmente a Rede conta com 160 projetos e aproximadamente 1.500 pessoas envolvidas. Por
meio de parcerias e trocas de experiências, conseguiu replicar sua experiência na formação da
LiberSol, Rede de Saúde Mental e Economia Solidária de Curitiba e Região e na Rede de Saúde
Mental e Economia Solidária no Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
Autores
Isadora Candian dos Santos – Cientista Social, mestra em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela
UFSCar, diretora-tesoureira da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários - UNISOL
Brasil, sócia da COOPERIDEÁRIO - Colaboração, Inovação Social e Design, integrante da Rede
Design Possível, coordenou o “Projeto Redes” da Rede de Saúde Mental e Economia Solidária,
pelo Instituto Integra.
Kátia Liane Rodrigues Pinho – Terapeuta Ocupacional, mestra em Ciência, Tecnologia e Socieda-
de pela UFSCar, coordenadora da oficina de Papel Artesanal do Núcleo de Oficinas e Trabalho do
Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira.
Leonardo Penafiel Pinho – Conselho Nacional de Direitos Humanos, Conselho Nacional de Eco-
nomia Solidária, presidente da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários - UNISOL
Brasil.
No Rio de Janeiro:
Empreendimentos/produtos
Breve história:
O Coletivo Carnavalesco Tá Pirando, Pirado, Pirou! é um bloco formado por usuários e profissio-
nais da rede pública de saúde mental do Rio de Janeiro, familiares dos usuários e simpatizantes
da causa de uma sociedade sem manicômios. Criado no bojo do movimento de revitalização do
carnaval de rua carioca, o coletivo é fruto da percepção de que há afinidades entre a festa popular
e democrática do carnaval de rua e o espírito da Reforma Psiquiátrica Brasileira, pautado pela
lógica da integração social. O nome do bloco foi sugerido por um cliente do Pinel, que argumen-
tou: ”Não vamos fazer carnaval só pra quem já pirou, e está aqui dentro do Pinel. Vamos pra rua
brincar com quem ainda tá pirando... Tá Pirando, Pirado, Pirou! É todo mundo junto!”.
A luta antimanicomial, que se esforça para reverter o processo secular de exclusão social dos
diferentes e promover a cidadania do louco, encontra na folia de rua uma poderosa aliada, por
se tratar de uma festa popular catalisadora de encontros sociais. Só criando redes podemos
combater a exclusão. Ao longo de todo o ano, o coletivo promove oficinas semanais ligadas às
artes carnavalescas, onde desenvolve fantasias, adereços, sambas e batucadas. A cada ano,
um novo enredo é escolhido e uma nova pesquisa é empreendida, resultando em nova safra de
composições, uma delas eleita em concurso para animar o desfile do bloco. Essas atividades
proporcionam um rico espaço de convivência, circulação de afetos, trocas de ideias e experi-
mentações estéticas.
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57
o sumário
Desde 2014, o bloco integra a Rede Carioca de Pontos de Cultura, tornando-se o Ponto de Cultura
Tá Pirando, Pirado, Pirou! Folia, Arte e Cidadania.
Papel Pinel
Fundação: ano 2000, Rio de Janeiro, RJ
Empreendimentos/produtos
Papel artesanal, cadernos, agendas, bolsas,
desenhos, objetos artesanais, outros.
Breve história:
Empreendimentos/produtos
Breve história
O Geração & Harmonia teve início em 2002, com o projeto Cantina, expandindo-se com os pro-
jetos Culinária e Bazarte. O Bazarte, inaugurado em 2011, fez uma importante parceria com a
Ecosol, que abriu portas para a comercialização dos produtos e ofereceu formação através do
Núcleo Estadual de Assistência Técnica aos Empreendimentos Solidários no Estado do Rio de
Janeiro (NEATES). Em 2015, a Oficina Bazarte teve início, produzindo artesanato em tecido, ma-
deira e material reciclado que são comercializados no Quiosque do Bazarte no CPRJ, nas feiras,
em loja e eventos.
Desde 2016, o Bazarte vem participando, com outros Projetos da Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS) do município do Rio de Janeiro, da organização da barraca Loucomotivos, ponto de co-
mercialização a ser inaugurado em breve, próximo à estação Botafogo do metrô. Lá, serão comer-
cializados, entre outros, produtos das Oficinas Bazarte e Bem Arteiras do CPRJ, do projeto Loucos
por você do CAPS de
Quissamã. Em 2017,
o Bazarte partici-
pou do Dia das Boas
Ações, evento inter-
nacional organiza-
do pela ONG Atados
no Parque Garota de
Ipanema e do evento
Loucos pela UERJ,
na defesa da Educa-
ção e da Luta Anti-
manicomial.
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61
o sumário
Desde 2012, o Programa Geração & Harmonia iniciou o Projeto de Inclusão Social pelo Traba-
lho de Usuários de Serviços de Saúde Mental (PISTRAB) do Núcleo de Saúde Mental e Trabalho
(NUSAMT) da Secretaria de Estado de Trabalho e Renda do Rio de Janeiro (SETRAB/RJ), sendo
reconhecido por essa iniciativa com uma menção honrosa no Prêmio Inclusão Social promovido
pelo Conselho Federal de Psicologia em parceria com o Laboratório de Estudos em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial (LAPS/Fiocruz).
Coordenadora: Doris Rangel Diogo, psicóloga, coordenadora técnica do Programa Geração &
Harmonia e do Polo PISTRAB/NUSAMT no Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro.
Dá para fazer!
Experiências exitosas 62
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o sumário
Empreendimentos/produtos
Breve história
A Cooperativa da Praia Vermelha é uma iniciativa pioneira no campo da geração de trabalho e
renda na modalidade de cooperativismo social, voltada para a rede pública e privada de saúde
mental, funcionando desde sua implantação, em 1995, dentro do Instituto Municipal Philippe
Pinel – IMPP. Constituiu-se como um marco histórico na política de inclusão social pelo traba-
lho cooperativado, motivado pelo desejo recorrente dos usuários, que buscavam sua reinserção
social pelo trabalho. A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Coppe/UFRJ, que
ofereceu assessoria técnica à constituição do projeto Cooperativa da Praia Vermelha, desem-
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63
o sumário
Empreendimentos/produtos
Mosaico, costura e bordado, culinária, Bistrô do Bispo, Loja B
Breve história
O Programa de Geração de Trabalho e Renda integra as atividades realizadas pela Escola Livre
de Artes do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea. Direcionado aos usuários da rede de
saúde mental, seus familiares e a comunidade em geral, visa desenvolver ações que estimulem a
reinserção social por meio do trabalho, desenvolvendo possibilidades de criação e produção de
um cotidiano mais digno, empoderando os sujeitos, trabalhando suas singularidades e amplian-
do a autonomia, num espaço de aprendizagem, trocas, convivência e trabalho. O programa de
geração de trabalho e renda baseia-se em noções do cooperativismo e a lógica da economia so-
lidária, estabelecendo assim uma rede de sustentabilidade. Comporta a elaboração de produtos,
a venda e a prestação de serviços, a partir das oficinas de mosaico, culinária, costura e bordado
e dos espaços Bistrô do Bispo, cantinas e Loja B.
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o sumário
Coordenadora do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea: Raquel Pardo Lucas Fernan-
des, graduação em cinema pela Universidade Estácio de Sá (2007) e graduação em Medicina
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991). MBA em Gestão de Museus pela Universi-
dade Cândido Mendes (2016).
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o sumário
6
À guisa de conclusão:
apontamentos para
alcançar o futuro!
O momento em que vivemos no país recoloca para o campo das políticas públicas –
embasadas no modelo de um estado de bem-estar social – novos e importantes desa-
fios para a sustentação de práticas sociais de emancipação e ampliação da cidadania
da população brasileira.
Contudo, a política pública de saúde mental e todos aqueles que militam nesse campo
já conseguiram avanços significativos na estruturação de uma rede de serviços de
saúde, que interage diretamente com os temas da cidadania, da inclusão social e de
acesso equânime aos espaços públicos. Neste guia, a apresentação das experiências
exitosas objetivou mostrar esse caminho já realizado por muitos, comprovando que
“dá para fazer!”.
Outro futuro a ser alcançado por todos aqueles que concebem o campo da saúde
mental, em constante processo de transformação e de reinvenção dos seus “lugares
de partida e de chegada”, refere-se ao projeto de Centros Públicos preconizados pela
política da Economia Solidária. Trata-se de verdadeiros espaços pensados para dar
materialidade às demandas dos movimentos sociais em contar com ambientes estru-
turados para a comercialização, a produção, a formação e a capacitação em coopera-
tivismos e economia solidária.
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67
o sumário
A ideia norteadora foi trazer o futuro para perto de nós, e nessa direção caminharmos juntos
construindo, quase de forma artesanal, esse futuro que já teremos alcançado sob o trabalho cui-
dadoso de nossas mãos!
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o sumário
Bibliografia
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69
o sumário
Bibliografia
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71
o sumário
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da saúde mental e estratégia política no movimento Brasília: Ministério da Saúde. Fundo Nacional de
de usuários. In: VASCONCELOS EM (org). Saúde Saúde, 2014. Disponível em < https://drive.google.
mental e serviço social: o desafio da subjetividade e com/file/d/0B0O0KmIfoMGzV2YxMEFtdUwyUnc/
interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2008a. view?usp=sharing >.
Anexo A:
Modelo de orçamento1
1.Este roteiro foi elaborado a partir do Roteiro de Elaboração de Projetos do Programa Desenvolvimento e Cidadania da Petrobras, e outros.
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73
o sumário
Anexo B:
Decreto N° 8.163, de 20 de dezembro de 2013
IV - linhas de crédito existentes ou a serem cria- Art. 7o O Comitê Gestor do Pronacoop Social
das, nos termos da lei; será composto por um representante, titular e
suplente, dos seguintes órgãos:
V - abertura de canais de comercialização dos
produtos e serviços, que possibilitem o acesso I - Ministério do Trabalho e Emprego;
das cooperativas sociais e empreendimentos
econômicos solidários sociais às compras públi- II - Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
cas; e bate à Fome;
Art. 6o O Pronacoop Social será coordenado por § 1o Serão convidados a compor o Comitê Gestor
um Comitê Gestor, que terá as seguintes atribui- seis representantes de entidades da sociedade
ções: civil, de caráter nacional, a serem selecionadas
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75
o sumário
§ 4o O Comitê Gestor poderá convidar represen- Art. 9o Este Decreto entra em vigor na datada de
tantes de outros órgãos e entidades públicas ou sua publicação.
instituições da sociedade civil para participar das
reuniões.
Anexo C:
Vale a pena visitar!
Unisol Brasil
http://www.unisolbrasil.org.br/quem-somos/
www.belcoronel.com.br
Neli Castro de Almeida Ariadna Patricia Alvarez
Carolina Con Andrades Luiz Angela Pereira Figueiredo
Maria Emyllia Poleshuck
Apoio
ISBN: 978-85-62109-25-6