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São Paulo
2019
Nathália de Bortole Perosa Ravagnani
São Paulo
2019
INTRODUÇÃO
Figura 1: O Grito
MUNCH, 1893
Edvard Munch sofria de uma grave depressão, teve uma trajetória conturbada,
cresceu num ambiente em que tudo falhou. Menino de saúde frágil, passou por diversas
internações na infância. Sua mãe faleceu, quando tinha 5 anos, seu pai, militar e
extremamente religioso, fora um pai duro e pouco afetivo. Após a morte de sua mãe,
estabeleceu um vínculo importante de carinho e cuidado com a irmã mais velha, que
veio a falecer aos 15 anos de idade. Nos anos seguintes, Munch perdeu o pai e viu a
outra irmã ser internada em um hospital psiquiátrico com diagnóstico de esquizofrenia.
Ele então ficou sob os cuidados da tia, que o matriculou na Escola de Artes e Ofícios de
Kristiania, atual Oslo, aonde começou a pintar, encontrando um meio de lidar com os
fantasmas de seu mundo interno e as perdas que viveu ao longo da vida.
Sua obra é marcada por temas como solidão, melancolia, ansiedade, medo e a
morte, tão presentes em sua trajetória, buscou retratar as mais profundas e dolorosas
expressões humanas. Tornou-se um dos principais representantes da corrente
expressionista do século XX. A arte em sua vida teve um efeito curativo, foi por meio
dela que encontrou uma forma de continuar a ser e ser real no mundo, mesmo tendo
sido marcado por experiências tão traumáticas e momentos de importante
desorganização emocional. “Quando pinto a doença e o vício, isso supõe um saudável
desabafo. É uma reação saudável da qual se pode aprender e segundo a qual se pode
viver”. (MUNCH)
DEPRESSÃO EM WINNICOTT
Figura 2: Melancolia
Apesar disso, ele adverte que a depressão pertence à psicopatologia e pode ser
severa e incapacitante, podendo, até mesmo, durar a vida inteira dependendo de como se
se deu o processo de integração do indivíduo, o que vai interferir nos recursos que ele
dispõe para lidar com seus instintos. Daí a amplitude das possíveis manifestações
clínicas da depressão, que, segundo Winnicott vão do “quase normal ao quase
psicótico”. (WINNICOTT, 1963/2011, p. 199)
Para que esse processo seja possível, é preciso que a mãe-objeto sobreviva à
destruição. Sobreviver aqui significa não retaliar, não mudar de atitude, não sucumbir.
Se o objeto sobrevive é sinal que ele tem uma existência independente, o que dará ao
bebê a possiblidade de usar o objeto. Se o bebê precisar proteger o objeto, é o caso de
uma mãe frágil, ele não fará a experiência necessária de destruição e não chegará a se
relacionar com o objeto externo, não poderá usá-lo, nem amá-lo, nem odiá-lo. (DIAS,
2017)
Falhas ambientais, nesse período, levam aos quadros depressivos associados a
defesas do tipo falso si-mesmo, pois o que está na origem não se trata da culpa que vem
da responsabilidade pela agressividade contida no impulso instintual, típica do
concernimento, trata-se de algo mais primitivo e básico: a incapacidade para
experimentar a destrutividade que cria a externalidade e constitui o si-mesmo como eu
separado. Configurando-se como uma defesa do ser, do continuar a ser e não do ego,
que ainda não se integrou. (DIAS, 2017)
Figura 4: Herança
Uma mãe deprimida e fragilizada que não pode reconhecer e sustentar seu
bebê. Solto, perdido, adoecido, o bebê traz consigo a pesada Herança do não acontecido.
O problema da depressão que contem impurezas está no fato de ela não poder
ser experienciada como um aspecto de fortalecimento da integração e
totalidade da pessoa e do enriquecimento das relações entre o mundo
pessoal/interno e a realidade compartilhada. Isso acontece, pois, mesmo que
essa pessoa seja capaz de conter certa quantidade de culpa, portanto, de
relacionar-se de modo responsável e relativamente construtivo com a
realidade externa, a incapacidade de tolerar (assumir) a destrutividade pessoal
faz com as tensões geradas na realidade interna evoquem o temor de que a
integração do eu e/ou da unidade psicossomática sejam rompidos.
(MORAES, 2005, p 242-243)
CONCLUSÃO