Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
César Benjamin
1
real do sistema, o modo como ele se articula em determinado período.
Era assim, aliás, que o próprio Marx trabalhava, estabelecendo todo o
tempo uma relação estreita entre teoria e história (sua crítica a Ricardo,
por exemplo, insistia na importância da forma dos processos, aspecto
que o grande economista inglês subestimava). Para ele, a história nunca
foi um conjunto de fatos a serem selecionados para legitimar uma
teoria. A história constitui organicamente a teoria, de modo que esta
não existe sem aquela. “O modo dialético de exposição só é correto
quando conhece seus próprios limites”, escreveu nos Grundrisse, onde
descreve seguidamente como são insuficientes os raciocínios baseados
apenas em arranjos lógicos de conceitos. Por isso, ele nunca pensou
que pudesse fazer previsões a partir das leis fundamentais que
formulou, às quais, aliás, deu o nome de leis de tendência, o que
pressupõe a existência de contratendências, que freqüentemente
prevalecem (não fosse assim estaríamos diante de leis positivas,
absolutas).
2
trabalho vivo e novos mercados em ascensão, não saturados, tornaram -
se disponíveis para o capital nas últimas décadas, somando- se aos
“estoques” mais antigos. De outro, o desenvolvimento técnico permitiu
encurtar o tempo da acumulação, ou o ciclo do capital, tornando mais
rápido o circuito de produção, circulação e realização de bens e serviços
— o que, como se sabe, também é um mecanismo de sustentação das
taxas de lucro (“Circulação sem tempo de circulação é a tendência do
capital”, dizia Marx).
3
crise iminente não se transforma em crise real — permaneceria sem
solução.
4
Conferência de Bretton Woods (1944) entregou a senhoriagem da
economia capitalista mundial aos Estados Unidos, mas impôs a esse
país duas regras de emissão: a conversibilidade dólar- ouro e a paridade
fixa entre os dois. Ambas as regras foram garantidas em tratado
internacional assinado pelo Estado americano.
5
Como o sistema internacional não tinha – e ainda não tem – substituto
para o dólar, o Estado americano reteve, na prática, o direito de
senhoriagem sobre a economia internacional, agora porém sem as
limitações das regras de emissão. Não foi uma decisão técnica.
Relacionou- se, antes de tudo, com um ambicioso projeto de retomada
(ou reafirmação) da hegemonia norte- americana, àquela altura
ameaçada pelo vigor das economias alemã e japonesa reconstruídas, o
poderio político- militar soviético em aparente ascensão e as veleidades
contestadoras de grande parte do então Terceiro Mundo. Sem
compreender esse projeto, em todas as suas dimensões (econômica,
militar, política, cultural, ideológica), nada se compreende da evolução
da conjuntura internacional nas últimas décadas. (Reiteremos, de
passagem, este aspecto da história: o chamado processo de
globalização deslancha a partir do momento em que é impulsionado
pelo Estado nacional hegemônico, em defesa de seus interesses;
confundir “globalização” e “enfraquecimento [ou fim] da ação dos
Estados” não tem sentido nenhum.)
6
Um primeiro motivo é claro: é muito difícil transitar de um padrão
monetário a outro. O trânsito da libra para o dólar, por exemplo, só se
completou muito depois de a Inglaterra ter perdido, de fato, a
hegemonia mundial, e a fase de transição exigiu duas guerras mundiais.
O segundo motivo nos interessa mais, pois remete à terceira anomalia
do sistema internacional atual, a que me referi antes: a região
ascendente do sistema – o Leste da Ásia – é estruturalmente
superavitária. Não poderia funcionar se não tivesse como formar e para
onde escoar o seu enorme superávit. O déficit americano – ou seja, a
necessidade de financiamento da economia americana – é que abre
espaço para a acumulação acelerada na Ásia e para a reciclagem do
capital sobrante dessa região. Essa afirmação pode ser generalizada,
sem nenhuma perda de rigor: o déficit americano cria aquele que é, de
longe, o mais importante pólo de demanda efetiva para a economia
internacional, pois os dois outros grandes centros – a Europa e o Japão –
vivem períodos prolongados de recessão ou baixo crescimento.
7
que mantém a economia mundial funcionando (a capacidade de
endividamento americana) depende da posição especial do dólar;
porém, enquanto essa posição perdurar, os Estados Unidos manterão
um grau de hegemonia que não é facilmente tolerado pelos demais
participantes do grande jogo de poder mundial.
8
axiomaticamente, que em condições normais esse sistema tende a
algum tipo de multipolaridade. Na economia- mundo contemporânea, a
existência de um só centro, esmagadoramente hegemônico, só pode ser
uma situação excepcional e transitória. A unipolaridade criada no imediato
após-Guerra Fria não é uma configuração estável.
9
Estados nacionais em reféns do sistema financeiro internacional; o
isolamento ideológico e enfraquecimento das forças armadas do
continente; a intervenção direta dos Estados Unidos na região
amazônica, importante depositária de recursos estratégicos para o novo
ciclo econômico de longo prazo que se inicia (pela primeira vez na
história, essa intervenção inclui a montagem de bases militares
americanas dentro da região).
10
impede a adequada coordenação de políticas monetárias e fiscais; sem
essa coordenação (que o Estado norte- americano realiza com grande
competência, graças a uma arquitetura institucional que garante elevada
sintonia entre Banco Central e Tesouro), a Europa perdeu a capacidade
de realizar políticas anticíclicas e deixou - se prender na armadilha do
baixo crescimento; a própria Alemanha já percebeu a necessidade de
alterar essa situação, mas todos os movimentos da União Européia, por
sua própria natureza, são especialmente complexos e lentos; (b) na
esfera política, destaca- se a dificuldade de definir uma política externa
européia unificada, por motivos históricos e geopolíticos, que se
traduzem por exemplo na tendência alemã de olhar para o hinterland do
Leste, de um lado, e na elevada dependência da Inglaterra (que continua
a ser uma praça financeira importante e a deter uma capacidade militar
também importante) em relação aos Estados Unidos, de outro; (c) as
incertezas que cercam o futuro da Rússia e de várias ex- repúblicas
soviéticas, que pesam diretamente sobre o continente.
11
de 28,6 bilhões de barris e um consumo diário de 19,5 milhões de
barris, os Estados Unidos têm petróleo próprio para abastecer- se
durante apenas quatro anos. A evolução do cenário no Oriente Médio foi
favorável à posição americana até recentemente: a principal potência
regional não subordinada, o Iraque, fora destruída na Primeira Guerra
do Golfo e permanecia sob bloqueio, remetida a uma posição passiva e
defensiva, e a maioria dos Estados árabes já reconhecia (ou se dispunha
a reconhecer) Israel. Com o fim da União Soviética, desaparecera o
espectro de uma guerra entre Estados na região, pois os países árabes
ficaram sem retaguarda. O regime iraniano trabalhava para sua própria
consolidação e não parecia capaz de uma ação desestabilizadora. O
conflito reduzira- se a uma escala local na Palestina, de baixa
intensidade, envolvendo helicópteros e grupamentos de soldados, de
um lado, homens- bomba e atiradores de pedra, de outro, em
escaramuças suficientes para alimentar noticiários, mas incapazes de
colocar em risco a oferta de petróleo.
12
tecnológico, experiências de desenvolvimento rápido, empresas e
bancos de grande porte, Estados nacionais vigorosos, poder nuclear
(ainda claramente inferior ao dos Estados Unidos e da Rússia, porém
crescente). Será uma jogadora de grande peso no século que se inicia.
Mas tem limites: está longe de criar uma área econômica integrada e
nem se vislumbra a possibilidade de que algum dia venha a constituir
um megaestado continental, em moldes europeus. Não se vê sequer
como poderia constituir uma área monetária. Mantém- se altamente
dependente do mercado norte- americano e do dólar, moeda em que
estão denominadas suas volumosas reservas. Além disso, abriga
grandes populações em estado de pobreza e é portadora de enormes
tensões internas de natureza nacional, étnica e religiosa. Não consegue
marchar junta. A Índia permanece às voltas com um grave contencioso
com o Paquistão, a China (que ainda não completou seu processo de
reunificação nacional) precisa ganhar tempo, o Japão tem fraquezas
estruturais de grande monta, e assim por diante.
13
prestam- se muito mais à dissuasão do que ao uso efetivo, o controle
simultâneo dos oceanos é, de longe, o elemento central na supremacia
militar em escala mundial. Tendo- o conquistado, os Estados Unidos
detêm o monopólio da capacidade de deslocar e projetar suas forças em
qualquer parte do planeta.
14
poder: (a) os Estados Unidos são capazes de atacar e derrotar países não
portadores de armas nucleares, como o Iraque e o Afeganistão,
independentemente de sua posição geográfica; porém, para
estabilizarem sua dominação, dependem da existência de grupos de
apoio minimamente legítimos nas sociedades locais; se esses pontos de
apoio lhes são negados, sua vitória militar inicial se transforma em um
pesadelo; (b) países portadores de armas nucleares permanecem
invulneráveis à máquina militar norte- americana, por sua capacidade de
causar danos inaceitáveis aos próprios Estados Unidos ou a seus
aliados; é o caso da Coréia do Norte, cujos mísseis podem alcançar as
principais cidades japonesas e as bases militares americanas em toda a
região; por isso, aliás, a agressividade dos Estados Unidos pode
desencadear uma corrida, de conseqüências imprevisíveis, em direção à
posse dessas armas por parte de países que se sintam ameaçados; (c)
ações militares unilaterais têm altos custos políticos, diplomáticos e
financeiros; em princípio têm de ser financiadas inteiramente pelo
atacante; (d) embora, pelo sólido controle dos oceanos, os Estados
Unidos venham a manter por muito tempo o monopólio da capacidade
militar ofensiva em escala planetária, nada impede que outros países
desenvolvam estratégias defensivas eficazes em escala regional;
ninguém poderá competir com a esquadra dos Estados Unidos em alto-
mar, mas alguns poderão capacitar- se, com custos acessíveis, a impedir
que ela se aproxime de seus territórios.
15
Desde sua constituição, nas origens do mundo moderno, o sistema
internacional foi fortemente polarizado por um centro relativamente
pequeno e uma grande periferia. Processos de crescimento rápido, fora
dos países centrais, ocorreram basicamente em regiões que dispunham
de abundantes recursos naturais (potencial agrícola, minérios),
eventualmente valorizados. Quando esses recursos se esgotavam ou
perdiam importância, suas regiões produtoras caminhavam para a
decadência, reafirmando sua condição periférica.
16
momento enfrentam dificuldades insuperáveis para sustentar projetos
emancipatórios próprios.
17
Observemos apenas um aspecto geral, especialmente relevante para
entender a desarticulação do projeto brasileiro.
18
centrais. Mas o problema é que tais atividades perdem essa
característica diferencial justamente quando a periferia em via de
modernização consegue capturá- las, pois aí elas ficam sujeitas a uma
pressão concorrencial que diminui sua importância e sua rentabilidade.
Quando isso acontece, essas atividades são relegadas a segundo plano
pelas economias centrais, que renovam sua posição privilegiada
alterando as combinações produtivas mais eficazes. A desigualdade se
repõe.
19
compreendidas aquelas que têm desdobramentos militares), de outro,
permanecem estreitamente vinculados, pelo forte vínculo entre
megacorporações empresariais e Estados nacionais poderosos. No caso
dos demais, esses âmbitos se dissociam, pela dispersão geográfica das
cadeias produtivas, em escala mundial, feita sob o comando de
corporações empresariais que não têm compromissos com os Estados e
sociedades mais fracos, onde apenas instalam filiais.
20
atual evolui de uma situação de unipolaridade para alguma outra
configuração multipolar. Com o tempo, os espaços de manobra dos
países intermediários tenderá a voltar a crescer. Por isso, é vital que
consigamos impedir que, neste curto intervalo de unipolaridade, o Brasil e a
América Latina sejam tragados pela área regional americana, o que tornaria
“permanente” — ou, pelo menos, muito prolongada e custosa — uma
condição marcada pelo estreitamento de possibilidades.
21
histórico de um novo rearranjo regional de cooperação e
desenvolvimento — latino e americano —, que poderá vir a configurar
um novo bloco, ou um novo megaestado, no futuro. Por isso, em última
análise, as negociações em torno da Alca são negociações entre Brasil e
Estados Unidos sobre o destino do continente.
22
Resta a maioria do nosso povo, que foi, simplesmente, desligado desses
processos. Refiro- me aos grandes contingentes humanos de que o
capitalismo não mais necessita. Sobrevivem no desemprego, no
subemprego, na economia informal, em atividades sazonais, incertas ou
ilegais. Por insistirem em sobreviver e por estarem relativamente
concentrados, ameaçam. E, de alguma forma, se organizam. São
dezenas de milhões. Mas, até aqui, não se tornaram agentes da
transformação. Este é o desafio central colocado para a esquerda, o
ponto cego de qualquer estratégia transformadora.
23
“retomada do crescimento”. Há duas décadas não temos nada parecido
com crescimento sustentado, mas apenas miniciclos de crescimento
dentro de uma economia travada. Nada indica que essa condição tenha
sido alterada. Essa transição estrutural – de uma economia dinâmica
para uma economia de baixo crescimento – é muito importante, pois o
grande dinamismo da economia brasileira até 1980 foi um fator decisivo
para conferir relativa estabilidade a uma sociedade tão desigual como a
nossa.
24
estava em expansão; o Estado aumentava sua oferta de serviços e
contratava mais gente; chegou a existir em muitas regiões uma escola
pública de razoável qualidade, etc. Na década de 1990, porém, todos
esses mecanismos foram quebrados, e o resultado disso é que
represamos a mobilidade social. Os pobres não conseguem mais sair do
lugar. Nem a oferta de trabalho, nem o deslocamento no espaço, nem a
possibilidade de estudo abrem mais alternativas significativas. As
periferias das Regiões Metropolitanas viraram depósitos de gente sem
perspectivas.
(a) A unipolaridade que marca o mundo após- Guerra Fria está dando
lugar, gradativamente, a uma nova configuração multipolar muito
complexa. O trânsito entre as duas situações é lento, pois há
disputa e cooperação no centro do sistema. A solução pela guerra
está afastada, e a conjugação de três anomalias econômicas criou
até hoje uma possibilidade muito elástica de adiamento de uma
grande crise. Isso desaparecerá se o dólar perder sua
centralidade atual, o que só poderá ocorrer em um prazo de pelo
25
menos dez ou quinze anos. Não está clara a configuração exata
da nova ordem multipolar, que dependerá crucialmente dos
acontecimentos na Ásia.
26
não gera empregos; urbanizou maciçamente sua população, que
agora, mais do que nunca, precisa de empregos para sobreviver;
destruiu os caminhos abertos à mobilidade social, nos níveis
(insuficientes) que já tivemos. A crise do modelo neoliberal, que
se projetará pela nova década adentro, terá como pano de fundo
essa crise maior, que questiona as estruturas do capitalismo
dependente brasileiro.
27
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
Juarez Guimarães
Professor de Ciências Políticas da UFMG
Introdução
1
apenas ele), de uma central sindical de trabalhadores (a CUT recém
realizou o maior congresso de sua história) e de um movimento de
trabalhadores rurais (O MST tem ampliado significativamente a sua
atividade nos últimos meses)? Em várias capitais do país, a realização de
orçamentos participativos indica experiências de democracia participativa
sem paralelo nas democracias ocidentais. Movimentos sociais, em
particular, na área da saúde, reforma urbana e assistência, vêm
construindo todo um trabalho de participação institucional. O cálculo de
estudiosos da participação popular animada pela Igreja Católica (Frei Beto,
Helena Salem, Rogério Valle e Marcelo Pitta, Pedro Ribeiro de Oliveira)
estima em cerca de 70 mil Comunidades Eclesiais de Base atuando no
Brasil (agrupando em torno de dois milhões de fiéis). A realização dos
Fóruns Sociais Mundiais tem estimulado o florescimento de ONGs e redes
associativas que percorrem todo um espectro de temas de questionamento
à globalização neoliberal. Em São Paulo, este ano realizou- se uma das
maiores passeatas do Orgulho Gay do mundo. A participação eleitoral no
Brasil vem crescendo e hoje o país é seguramente uma das maiores
democracias eleitorais do planeta. Também o Direito e o sistema judiciário
vem sendo objeto de um processo permanente de reivindicações e
construção de novos direitos, mais claramente após o processo da
Constituição de 1988.
2
clientelismo, sem tradição de verdadeiros partidos, afeitos à corrupção e
ao favoritismo etc etc. Educarmo- nos para a democracia implicaria em
afastarmo- nos de nossas origens e aproximarmo - nos do padrão anglo-
saxão.
3
❧ uma retomada profunda da identidade da experiência da civilização
brasileira consigo mesma, ao mesmo tempo, latina, universalista e
cosmogônica;
❧ uma expansão da identidade feminina, que se alimenta
continuamente da conquista de posições no mercado de trabalho e
na educação;
❧ uma pressão política e cultural cada vez mais intensa no sentido da
democratização racial do país;
❧ a expansão libertária dos Eros, em uma sociedade que nunca foi
marcada pela ascese puritana e nem nunca aceitou a divisão
platônica cristã do corpo /alma, com as suas vertentes sacrificiais,
mas sempre se pautou pelos ritos da festa e do lúdico.
O comunitarismo cristão
4
período do regime militar, esta tradição ganhou vasto enraizamento social
com a experiência das CEBs.
A última conferência da CNBB parece ter sido marcada por uma dinâmica
unitária entre as tradições herdeiras da Teologia da Libertação e as
correntes mais moderadas, inclusive aquelas vinculadas aos carismáticos.
O fundo comum desta dinâmica que desdramatiza as diferenças entre os
compromissos sociais e espirituais da Igreja parece ser exatamente o
comunitarismo cristão quem sempre buscou manter um equilíbrio entre as
duas dimensões.
O nacional-desenvolvimentismo
5
Nenhum outro país da América Latina viveu no pós- guerra um
florescimento da cultura nacional- desenvolvimentista como o Brasil.
Herdeira do primeiro ciclo varguista, ela se conformou e se enraizou no
período que vai de 1945 - 1964, recebendo o impacto da tradição da Cepal
no continente, combinando projetos sistêmicos de nação com uma agenda
de inclusão social e florescimento dos sentimentos e criações de
identidade cultural. A criação da Petrobrás, do BNDE, da Sudene, de
Brasília, entre outros, tornaram - se marcos duradouros da afirmação
brasileira. O período foi marcado também por uma agenda especialmente
criativa no plano das artes, marcando o amadurecimento estético de toda
uma geração formada no Modernismo de 1922 – Cinema Novo, Bossa
Nova, CPC etc.
6
O nacionalismo, em uma certa cultura acadêmica, foi criticado desde
sempre como mistificador dos interesses de classe. A crítica é
simplificadora em dois sentidos. Em primeiro lugar, pelo fato de que o
nacionalismo expressou- se através de muitas vertentes, desde a direita até
à esquerda, passando pelo centro. Em segundo lugar, porque mesmo o
desenvolvimento da consciência das classes trabalhadoras no Brasil não
pode ser pensado por meio de um padrão europeu, separado das
condições nacionais de sua existência e experiência social, isto é, de seu
lugar no mundo do capitalismo, de sua cor, de sua religião etc.
O socialismo democrático
São poucos os países do mundo hoje em que partidos de esquerda têm tal
enraizamento social e força eleitoral. Isso se explica, a nosso ver, por três
razões.
7
Em primeiro lugar, por ser um partido de esquerda tardio, crítico às
tradições do estalinismo e da social- democracia européia. Esta identidade
de origem explica porque este partido conseguiu resistir à crise definitiva
da URSS no final dos anos oitenta e nem se pasteurizou nas chamadas
“Terceiras Vias” dos anos noventa. O seu pluralismo matricial transformou -
se em certas condicionalidades democráticas de sua vida interna e sistema
de decisões que tem permitido até agora a experiência se desenvolver em
um grau alto de pluralismo e de divergências internas.
8
O liberalismo ético
Seria incorreto falar, deste ponto de vista, de uma ordem jurídica fechada,
cristalizada, marcada por um conservadorismo. Se a segunda metade dos
anos oitenta foi profundamente galvanizada pela experiência constituinte,
os anos noventa foram seguidos de um reformismo constitucional, em
geral direcionadas por uma pauta neoliberal. A experiência democrática do
governo Lula dá- se, assim, em meio a uma ordem institucional em
movimento, híbrida, aberta à renovação.
Nos anos recentes, a cultura jurídica brasileira tem sido dinamizada pelas
correntes do direito alternativo, do comunitarismo cristão, da legitimidade
discursiva, enfim, pela criação coletiva e social dos direitos. É este
dinamismo jurídico que pode distensionar conflitos, dar cobertura
institucional a novas práticas associativas e deliberativas, além de exercer
9
uma pressão civilizatória sobre a ordem mercantil excludente e
concentradora.
Cultura popular
Por fim, caberia identificar uma fonte difusa mas vital da civilização
brasileira: a cultura popular. Rousseau nos dizia que as festas populares
são como que o momento lírico de expressão da vontade geral. No Brasil, a
vida associativa e participativa sempre se alimentou de um sentimento
comunitarista que coube a nossos grandes criadores transformar em
expansão de nossa imaginação civilizatória.
10
É mais que provável que no próximo período, em compasso com avanços
democráticos, vivamos uma nova época de ouro da cultura brasileira tão ou
mais rica que a dos anos que precederam o golpe militar de 64.
11
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
Mark Ritchie
Economista
Este fórum social está voltado para três dimensões específicas do mundo
que estamos tentando criar.
1
O que se pode dizer no espaço de um breve paper sobre temas tão amplos
é, obviamente, limitado. Meu objetivo, nestes poucos minutos que tenho
com vocês, é simplesmente o de iniciar um debate, focalizando apenas um
dos elementos- chave da ordem internacional – o comércio e a principal
instituição de elaboração de políticas de comércio, a Organização Mundial
do Comércio (OMC). Usando a OMC como exemplo, investigarei alguns
dos pensamentos que emergiram do seio da sociedade civil sobre as
maneiras de reformular nosso sistema global de forma que tanto os
estados- nação como as agências internacionais possam nos dar um
melhor auxílio na nossa tarefa coletiva de construir um desenvolvimento
humano social, econômica, ecológica e politicamente sustentável.
Ao mesmo tempo, sou viciado em café e vivo num país cujo clima frio e
sem montanhas não é apropriado para se produzir essa droga
maravilhosa. Isto significa que preciso ser muito simpático para com as
pessoas que vivem no Brasil e em outros países produtores de café para
que eu possa suprir minha dose de cafeína diária e a um preço que eu
possa pagar. Ademais, preciso produzir alguma coisa que os produtores e
2
trabalhadores que me fornecem o café queiram em troca – do contrário,
fico na dependência da caridade alheia que pode ser, no caso dos
brasileiros, extremamente generosa mas certamente não sem limites.
Tenho de produzir ou dar como moeda de troca algo que seja econômica,
ecológica e socialmente sustentável para ambos – senão, não vai durar e
as condições serão entendidas como uma forma de exploração das
pessoas e/ou do nosso planeta.
Uma vez que o comércio na sua maioria é realizado por empresas – e não
por governos – a chave para a elaboração de normas consistentes e que
num momento posterior podemos ver o cumprimento delas estaria na
combinação de forças – inclusive de negócios bem instruídos,
consumidores conscientes, governos nacionais e agências/instituições
internacionais progressistas. Dados os atuais desequilíbrios em nível
mundial em termos de poderio econômico e militar, creio que esses
3
acordos têm de ser forjados e buscados em todos os níveis e em
combinações diversas a fim de proteger o nível local e promover a
sustentabilidade econômica, ecológica e social.
Acredito que de fato saibamos como organizar o comércio para que ele
seja sustentável, mas isto não acontecerá por acidente, ou pela magia das
mãos invisíveis ou dos punhos calçados com luvas de veludo. O comércio,
como todos os outros negócios, tem de ser administrado em prol da
sustentabilidade – preços justos, lucros e salários para que cada um possa
estar contribuindo com o produto final. O comércio sustentável inclui o
crescimento contínuo em termos da produção de produtos com maior
qualidade a baixo custo para o meio ambiente e, portanto, para
consumidores e para a sociedade como um todo.
4
negociações com as meras duas dúzias de países industrializados que
compõem a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCED). Como órgão do sistema global das Nações Unidas, as
instituições que elaboram políticas de comércio historicamente têm
produzido parte do mais avançado pensamento e da retórica nessa área.
Infelizmente, na prática, nunca cumpriram sua missão progressista de
pleno emprego, justiça e processo democrático globais.
5
A terceira razão tem a ver com a estrutura da OMC. Nela é necessário
haver consenso em muitas áreas para que as negociações possam
prosseguir e isso a torna uma instituição ideal para a construção de
acordos verdadeiramente globais – aqueles que são bons tanto para o
Norte quanto para ao Sul. A Índia esteve praticamente isolada na sua
posição quanto aos temas de Cingapura durante a reunião ministerial da
OMC realizada anteriormente em Doha, no Qatar. Em Cancún, a Índia
integrou uma enorme coalizão. O ativismo cidadão sobre essas questões
foi crucial para que os governos pudessem perceber o que estava em jogo
e compreender que havia espaço para resistir, porém esta resistência teria
sido inútil caso a Índia não tivesse se posicionado com firmeza em Doha.
Se por um lado a pressão e o desrespeito sofridos pelos países que
exercem seu direito de dizer não aos EUA e a EU ainda sejam
extremamente fortes – insuportáveis para alguns –, por outro lado, a
reunião de Cancún mostrou que alguns governos, em especial quando se
articulam numa ampla coalizão, conseguem exercer seus direitos dentro
desse modelo de consenso.
Considero Cancún um sucesso. Esse ponto de vista tem sido criticado por
alguns amigos que acreditam que Cancún foi um fracasso, uma vez que os
governos perderam a chance de avançar em algumas questões
importantes e de preocupação para o mundo em desenvolvimento. Se
Cancún se constituiu verdadeiramente num novo começo ou meramente
em outra oportunidade que se deixou escapar, somente daqui a cinco ou
dez anos será possível avaliar melhor. O importante, entretanto, é que
nós, que acreditamos no sistema multilateral, devemos tomar esse
caminho que se vê através da janela aberta em Cancún, apropriando - nos
do “momentum” que foi gerado, para avançar no desenvolvimento humano
sustentável. A História nos julgará não pelo que fizemos em Cancún, mas
pelo que fizemos de Cancún.
6
Mas o que isto significa em termos concretos para cidadãos e movimentos
sociais? Creio que existem cinco tarefas importantes à nossa frente.
7
Terceiro, precisamos usar este momento na história da OMC – onde parece
haver uma abertura para um novo pensamento e para a reformulação – e
pressionar por reformas estruturais no modo de operação dessa
instituição. Por exemplo, uma boa maneira de começar seria através de um
processo de revisão, aberto e público, dos potenciais candidatos ao cargo
de Diretor Geral, e do estabelecimento de normas de procedimento de
negociação que fossem monitoradas e cumpridas. A metodologia usada na
realização das sessões de negociação – “informalidade”, participação
limitada de representantes e inexistência de documentação sobre as
posições tomadas pelos negociadores – tornam o processo de negociação
não transparente. Essa situação pode ser revertida executando - se
reformas no procedimento, tais como as que foram propostas por países
membros antes de Cancún.
8
Unidas que poderia formar a base de uma séria reforma de todo o sistema
de Bretton Woods.
9
global. Com o surgimento do Fórum Social Mundial estamos começando a
caminhar em direção a um processo de produção de consenso no âmbito
da sociedade, o que cria a perspectiva real de algum dia irmos em direção
a um verdadeiro processo global.
Dentro dos EUA, existem quatro grandes classificações das visões sobre o
papel do comércio na política externa. Primeiro, há aqueles que estão no
poder e aprovam o unilateralismo como a forma mais eficiente e efetiva de
exercer o poder americano para manter o acesso privilegiado a matérias
primas, mercados e pontos estratégicos para o posicionamento avançado
de forças militares. Há inúmeros congressistas e altos funcionários da
Casa Branca que retirariam os EUA das Nações Unidas e da Organização
Mundial do Comércio imediatamente, se pudessem fazê- lo impunemente.
Num segundo grupo estão aqueles que acreditam que a forma mais
eficiente de manter os EUA no poderio mundial é manifestando este poder
através do multilateralismo e através de instituições globais, como o
sistema das Nações Unidas, que inclui a OMC. Uma vez que acredito que
os recursos mundiais precisam ser compartilhados de forma mais
eqüitativa e que isso requer uma redefinição do atual equilíbrio de forças
no mundo, não aceito essa suposição de que o sistema multilateral deva
ser usado para manter o status quo. No entanto, acredito que possa me
articular com pessoas que vêem nesse pensamento a perspectiva de
formar alianças táticas.
10
Um terceiro e grande grupo de pessoas, e me incluo nele, acredita na
cooperação mundial e no multilateralismo como um meio de alcançar o
desenvolvimento sustentável, os direitos humanos, a justiça e a igualdade.
Isto nos coloca numa posição difícil às vezes, já que nos encontramos
pelejando tanto contra os unilateralistas, que substituiriam o sistema
global seguindo as ordens de Washington, como contra aqueles que
apóiam o multilateralismo, mas que o fazem principalmente para
preservar esse inaceitável status quo.
11
Há um quarto ponto de vista compartilhado por muitos amigos e aliados
que acreditam que as instituições estão tão cooptadas por interesses
especiais e tão comprometidas por manobras da guerra fria há cinqüenta
anos, e outros elementos da luta geopolítica global, que muitas
instituições globais devem simplesmente ser fechadas. Esta visão também
é compartilhada por alguns dos fundadores das principais instituições
globais.
12
Enquanto muitas das normas globais, supervisionadas pela OMC, foram
negociadas numa época onde a agenda neoliberal era preeminente, agora
estamos numa nova era – num tempo onde a agenda neo- conservadora
dos assuntos externos e militares está casada com políticas neo- liberais
para os assuntos de negócios e da economia. Enquanto os efeitos
desastrosos dela podem ser vistos em cada lugarejo do planeta, as
chances de mudança como resultado desse casamento arrasador são
igualmente dramáticas. Eu argumentaria que sem os resultados cruéis da
sinergia entre comércio e o militarismo neo- conservadores, a articulação
entre o governo brasileiro e o G- 20 em Cancún não teria sido possível. A
combinação entre a perpetuação de políticas de comércio mercantilistas
(você tem de comprar conosco, mas nós evitaremos comprar de você, ou
se possível não vamos comprar nada) e “hegemonia global”, através de
uma política externa militarizada, criou uma situação política quase
insustentável para os EUA.
13
Talvez o que vou dizer seja excessivamente otimista, mas meu palpite é
de que temos a chance de desbancar os domínios tanto neoliberal quanto
neo- conservador exatamente porque estão evidentes agora. Até há pouco
tempo, a separação entre essas agendas – por exemplo, na administração
anterior – tornava quase impossível reunir forças tanto dentro quanto fora
dos EUA para se criar um autêntico desafio a qualquer uma dessas duas
forças. Hoje, porém, podemos comemorar o início da verdadeira
negociação do comércio no âmbito da OMC – graças em grande parte aos
esforços empreendidos pelo Brasil e o G- 20 em Cancún – e agora
estaremos nos ocupando de um debate concreto no nível global sobre o
papel das Nações Unidas, da força militar e do unilateralismo.
Talvez, tão importante quanto ter alçado essas questões ao nível global
seja, ao mesmo tempo, ver a projeção delas dento dos Estados Unidos.
Não vou me atrever a fazer uma crítica de todos os pormenores desse
extenso debate hoje, mas permitam - me dizer que em toda a minha vida
nunca vi uma época de maior perigo político nos EUA – e isso inclui o de
Richard Nixon e outros – e nunca houve um momento de maior debate
público sobre o papel do governo nos assuntos internos e externos, e o
papel dos EUA especificamente nas questões globais. Como nação, fomos
partidos ao meio sobre a guerra mantida pela administração Bush contra o
Iraque e continuamos profundamente divididos hoje. O importante,
entretanto, não são os números das pesquisas sobre a política de guerra,
mas o nível, a profundidade e o escopo do debate em que estamos
engajados. Grande parte da sociedade – muito, muito mais do que jamais
possa me lembrar – está engajada na discussão de questões importantes
sobre economia, comércio, direitos humanos, guerra e paz. Esse debate se
intensificará à medida que entrarmos nas próximas eleições.
14
através de procedimentos democráticos e dos direitos humanos, aptos a
participar da criação de leis que nos governarão.
Devemos rechaçar qualquer opção que nos faça rolar ladeira abaixo em
direção à guerra civil. É um futuro demasiado terrível para se imaginar.
Devemos contrapô- la tomando o caminho da democracia, reiteradamente
defendida através da não- violência. Esta tem de ser a nossa agenda pós-
neoliberal e neo- conservadora.
15
desesperada de encontrar um caminho para a Paz Mundial e assegurar a
justiça econômica, social e política. Precisamos retomar esse foco
primordial – este é o momento de maior abertura, mas não vai durar
muito. Esse futuro democrático, porém, não nos será entregue nas mãos.
Teremos de trabalhar dia e noite para superar aqueles que escolheram a
guerra civil mundial ou como forma de defender seus privilégios, ou como
forma de resistência à exploração.
Devemos fazer isso por nós mesmo e por outros que nunca
conheceremos.
Devemos fazer isto pelo hoje e por eras que jamais veremos.
16
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
J. Carlos de Assis
Economista
Vou cometer uma pequena descortesia, de uma forma muito fraterna, aos
que me convidaram para este seminário. Não vou falar das escolhas ou das
alternativas, mesmo porque não sou um especialista no assunto. Vou falar
das condições objetivas para que as escolhas mencionadas, qualquer delas,
possam ser feitas. Não é uma fuga completa do tema, porque outros itens
1
– na realidade, todos os demais itens da ementa que me deram – serão
abordados. Mas é a questão das condições de escolha que me interessa
focar centralmente.
2
desnecessariamente milhões de pessoas do trabalho remunerado, pelo que
a maioria delas não têm escolhas reais a fazer, a não ser a busca
desesperada da sobrevivêncica.
3
liberal nos anos 80. Ela só tem um paralelo na história: a Grande
Depressão dos anos 30. Também na Grande Depressão a prolongação da
crise de desemprego depois do crash da bolsa de Nova Iorque resultou de
políticas liberais, exatamente as mesmas que nos recomendam agora,
baseadas no que chamam de “austeridade” fiscal e “finanças saudáveis”.
Por uma estratégia de marketing, chamam agora o velho liberalismo de
neoliberalismo. É essencialmente a mesma coisa, com os mesmos
resultados.
4
Nos anos 20 e 30, que assinalam a primeira grande crise do capitalismo
numa situação de cidadania ampliada – onde pobres, trabalhadores e
mulheres passaram a participar plenamente do corpo político via direito de
voto e de ser votado - , abriram- se, diante da grave crise social, quatro
alternativas de projeto nacional: o fascismo italiano (o desemprego na Itália
já era excessivamente alto nos anos 20), o nazismo alemão, a social-
democracia sueca e o New Deal norte- americano. Os dois primeiros,
embora bem sucedidos no campo do combate ao desemprego,
degeneraram em guerra; o último, junto com o modelo sueco, definiria o
perfil das sociedades industriais no pós- guerra.
5
lançaram os alicerces de nossa industrialização, mas que ficaram a meio
caminho no campo social, por razões, a meu ver, políticas.
6
pobres, trabalhadores, mulheres, as classes dominantes tiveram que ceder
de alguma forma às demandas da sociedade. Os conservadores,
tradicionais donos do condomínio do poder, burlaram por todas as formas,
inclusive pelo recurso a ditaduras, as demandas sociais crescentes, sendo
que os seus intelectuais orgânicos sempre tentaram desqualificar estas
últimas como populismo.
Foi pelo atraso político – isto é, pela negação da cidadania a uma grande
parte da população não proprietária – que nos marginalizamos, assim
como foi pelo avanço político rumo à cidadania ampliada que os países
industrializados convergiram para uma sociedade do bem estar. É claro
que estávamos todos, industrializados ou não, no contexto da Guerra Fria,
e isso teve influência considerável no processo. Só que, nos países
industrializados avançados, o progresso social foi uma resposta ao perigo
vermelho, enquanto, entre nós, o perigo vermelho foi o pretexto para a
reincidência no atraso político e no autoritarismo.
7
Entretanto, continuamos um país atrasado socialmente. E são nossas
condições sociológicas, mais que as condições econômicas, que nos
diferenciam dos países industrializados avançados. É que, na economia,
construímos alguns espaços de modernidade que se articulam através da
globalização com os espaços mais avançados do Primeiro Mundo.
Constituiu - se assim uma mesma rede de relações de dominação que
mantém estrito controle sobre o sistema econômico interno, levado a se
atrelar, dos anos 80 para cá, às formas mais especulativas do capitalismo
monetário e financeiro, responsável último pelas políticas fiscais e
monetárias que generalizaram o desemprego e o subemprego tanto em
alguns dos países industrializados quanto em quase toda a América Latina.
8
monetária criou o ambiente de cassino nas relações financeiras
internacionais, e os donos do cassino, para atender a sua clientela,
passaram a propor um tipo de estabilidade que preservasse o jogo.
9
porém, ficamos diante desses casos singulares da história em que a
potência hegemônica absorve uma ideologia, pratica uma outra e exporta,
através de seus mecanismos de influência, principalmente o crédito, uma
terceira.
10
E aqui, depois dessa longa volta, regressamos ao ponto inicial: como pode
a sociedade brasileira, que não é uma sociedade de bem estar, e cuja
maioria do corpo político não é formada por afluentes, mas por miseráveis,
acatar uma doutrina econômica e incorporá- la na política cotidiana quando
isso implica tolerar taxas de desemprego de 20% e até 30% em algumas
metrópoles?
Não há uma resposta simples para esta pergunta, sobretudo porque não há
uma classificação simples da sociedade brasileira. A extrema
heterogeneidade, recoberta por um dos mais elevados índices de
concentração de renda e de riqueza do mundo, reflete- se necessariamente
numa grande ambigüidade no corpo político, ideologicamente dominado
pelas classes afluentes. Mesmo assim, é um equívoco supor que os
resultados das quatro últimas eleições presidenciais tenha sido produto de
manipulação. Os candidatos vitoriosos, sem exceção, se apresentaram
como portadores de mudanças que eram objetivamente reclamadas pela
maioria do eleitorado.
11
O que acontecerá com o governo Lula se não conseguir reverter o
desemprego? Escrevi recentemente um ensaio, que está no site do
Movimento Desemprego Zero, sustentando que Lula está entre a alternativa
de manter a estabilidade financeira à custa do agravamento do quadro
social, ou de enfrentar a crise social impondo uma mudança nas regras da
economia financeira. É uma decisão de economia política, não
simplesmente de política econômica. Alguém terá de perder, não em
termos de estoques de riqueza, mas de expectativas de ganhos
especulativos, para que possamos enfrentar a crise social a partir do
revigoramento do sistema produtivo pela retomada do desenvolvimento e
do emprego.
Para confrontar com eficácia essas políticas, não podemos nos limitar a
criticá- las. Temos que apontar alternativas. Foi este o sentido do Manifesto
dos Economistas, que lançamos em junho último. E é este o sentido do
Movimento Desemprego Zero – Por uma Política de Promoção do Pleno
12
Emprego no Brasil, reunindo vários movimentos sociais e com um portal na
Internet (www.desempregozero.org.br) . Para ter êxito, qualquer proposta
alternativa deve estar colada à realidade sociológica. E como a realidade
sociológica que nos caracteriza é a realidade do desemprego generalizado,
inspiramos nossa proposta no New Deal dos anos 30, o grande plano de
Roosevelt que reverteu a Grande Depressão.
13
Os neoliberais contestam a política de pleno emprego sob o argumento de
que gera inflação. É uma falácia técnica. Enquanto houver alto desemprego,
o dispêndio público, mesmo deficitário, não gera inflação de demanda. E
na medida em que a economia se aproximar do pleno emprego, pode- se e
deve- se recorrer a políticas de rendas, no âmbito de um grande pacto
social, para compatibilizar as reivindicações salariais com o aumento da
produtividade, contra a alternativa perversa de usar a política monetária de
juros estratosféricos, como temos feito, para conter a inflação. Aliás, a
relativa estabilidade da Idade do Ouro do capitalismo na Europa Ocidental
se deveu fundamentalmente aos pactos sociais em torno de políticas de
rendas.
Ele não poderá fazer isso a não ser por uma política de promoção do pleno
emprego. Para aplicá- la, terá de romper com o modelo neoliberal. Terá de
ser um Roosevelt brasileiro, um campeão do capitalismo regulado, um
realizador de esperanças.
14
Quero terminar apresentando uma visão concreta das políticas de pleno
emprego, a fim de inspirar uma antevisão do que pode vir a ser no Brasil.
No New Deal, o governo norte- americano criou uma agência, a Works
Progress Administration, para gerenciar todos os programas governamentais
de estímulo à economia e ao emprego. Sob esta agência, foram
construídos ou reconstruídos 820 mil quilômetros de rodovias (temos 54
mil km de rodovias federais!), 124 mil pontes e viadutos, 120 mil prédios
públicos, várias hidrelétricas, projetos de regularização de três cursos de
grandes rios junto projetos de irrigação; milhares de artistas foram
contratados pelo Estado para dar concertos de graça, pintores foram
contratados para ornamentar prédios públicos com obras de arte, milhares
de professores, médicos e enfermeiros foram contratados para os
programas de educação e saúde. Em uma palavra, o New Deal fez dos
Estados Unidos a potência que são hoje.
Nós não podemos nos privar do sonho de também chegar lá, com uma
sociedade mais justa e solidária que a sociedade norte- americana, apenas
por conta dos preconceitos liberais que seus ideólogos tentam nos impor
através da manipulação das nossas necessidades financeiras, que eles
mesmos fizeram escalar com choque dos juros dos anos 80. De fato, o
cordão umbilical que une ao neoliberalismo é a dívida externa. É por causa
da dívida externa que capitulamos às políticas do FMI e do Banco Mundial.
Temos de romper este cordão. A forma de fazer isso não é não pagar, mas
só pagar com o crescimento do produto, da renda e sobretudo do emprego
internos.
15
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
Leonardo Avritzer
Cientista político, Universidade Federal de Minas Gerais
Este debate iniciara- se no século XIX pois até então e por muitos séculos a democracia
tinha sido considerada consensualmente perigosa e, por isso, indesejada. O seu perigo
consistia em atribuir o poder de governar a quem estaria em piores condições para o
fazer:a grande massa da população, iletrada, ignorante e social e politicamente inferior.
(Williams,1976:82;McPherson,1972)
1
de um procedimento eleitoral para a formação de governos
(Schumpeter,1942). Essa foi a forma hegemônica de prática da
democracia no pós- guerra, em particular nos países que se tornaram
democráticos após a segunda onda de democratização.
O segundo debate que permeou a questão no pós- segunda guerra
mundial foi acerca das condições estruturais da democracia (Moore,1966;
O’Donnell,1973; Przeworski,1985), que foi também um debate sobre a
compatibilidade ou incompatibilidade entre a democracia e o capitalismo
2
(Wood,1996) . Nos anos sessenta, Barrington Moore inaugurou esse
debate por meio da introdução de uma tipologia de acordo com a qual se
poderia indicar os países com propensão democrática e os países sem
propensão democrática. Para Moore, um conjunto de características
estruturais explicariam a baixa densidade democrática na segunda
metade do século XX: o papel do estado no processo de modernização e
sua relação com as classes agrárias; a relação entre os setores agrários e
os setores urbanos e o nível de ruptura provocado pelo campesinato ao
longo do processo de modernização. (Moore,1966).
O objetivo de Moore era explicar por que a maior parte dos países não
eram democráticos nem poderiam vir a sê- lo senão pela mudança das
condições estruturais. Entretanto, um segundo debate se articulava ao
dos requisitos estruturais da democracia, o debate sobre as virtualidades
redistributivas da democracia. Tal debate partia do pressuposto que na
medida em que certos países venciam a batalha pela democracia, junto
com a forma de governo, passavam a usufruir de uma certa propensão
distributiva caracterizada pela chegada da social democracia ao poder
(Przeworski,1985). Haveria, portanto, uma tensão entre capitalismo e
2
Este debate, como de resto quase todos os outros sobre a democracia, tinha sido
antecipado por Rousseau quando afirmava no Contrato Social que só poderia ser
democrática a sociedade onde não houvesse ninguém tão pobre que tivesse necessidade
de se vender e ninguém tão rico que pudesse comprar alguém.
2
democracia, tensão essa que, uma vez resolvida a favor da democracia,
colocaria limites à propriedade e implicaria em ganhos distributivos para
os setores sociais desfavorecidos. Por isso, no âmbito desse debate
discutissem- se modelos de democracia alternativos ao modelo liberal: a
democracia popular nos países da Europa de Leste, a democracia
desenvolvimentista dos países recém- chegados à independência.
3
seriam a tão apontada contradição entre mobilização e
institucionalização (Huntington,1968; Germani,1971); a valorização
positiva da apatia política (Downs,1956); a concentração do debate
democrático na questão dos desenhos eleitorais das democracias
(Lijphart,1984); o tratamento da pluralismo como forma de incorporação
partidária e disputa entre as elites(Dahl,1956;1971) e a solução
minimalista ao problema da participação pela via da discussão das
escalas e da complexidade (Bobbio,1986; Dahl,1991).Todos esses
elementos que poderiam ser apontados como constituintes de uma
concepção hegemônica da democracia não conseguem enfrentar
adequadamente o problema da qualidade da democracia que voltou a
tona com a chamada “terceira onda de democratização”. Quanto mais se
insiste na formula clássica da democracia de baixa intensidade, menos se
consegue explicar o paradoxo de a extensão da democracia ter trazido
consigo uma enorme degradação das práticas democráticas. No caso da
América Latina, em pouco mais de uma década de democracia, três
presidentes foram impedidos por corrupção e, no caso da Argentina, dois
em quatro presidentes eleitos não conseguiram completar os seus
mandatos.
4
especialmente o orçamento participativo que, tal como o Fórum, tem sido
reconhecido pela sua marca porto - alegrense. Mas, a contribuição do FSM
pode e deve ir muito mais além: pode colocar em contato as experiências
de países do Sul sem que elas passem pela mediação das experiências do
Norte. E pode, pela primeira vez, tornar as experiências dos países do Sul
referência no debate democrático global.
5
mais que 35% da população era pobre ou muito pobre e, no caso do
Nordeste, mais de 50% da população era pobre ou muito pobre. O
processo de modernização econômica do Brasil gerou enormes
iniqüidades sociais no âmbito local. As maiores cidades brasileiras
cresceram a taxas inacreditáveis entre 1950 e 1980 e se tornaram os
principais locais de concentração da pobreza. No caso da cidade de São
Paulo, a sua população passou de 2.198.000 habitantes para 8.493.000
habitantes nesse período; no caso de Belo Horizonte, sua população
passou de 352.000 habitantes para 1.780.000 e, no caso de Porto
Alegre, a sua população passou de 394.000 habitantes para 1.125.000
nesse mesmo período (IBGE,1983). O aumento da população urbana e a
criação e expansão de uma administração pública racional não foram
seguidas por um aumento proporcional dos serviços públicos. Pelo
contrário, na maior parte das cidades brasileiras as carências de serviços
urbanos eram enormes no início da década de 80. Em 1984, somente
80,2% da população do Sudeste do Brasil – a região mais rica do país – e
59,6% da população da região Sul tinha acesso à água tratada. O acesso à
rede de saneamento era ainda menor: somente 55% da população urbana
tinha acesso à rede de saneamento (Santos, 1985).
6
representantes de associações populares no processo de organização das
cidades. Outros artigos requereram a participação das associações civis
na implementação das políticas de saúde e assistência social. Sendo
assim, a Constituição foi capaz de incorporar novos elementos culturais
surgidos no âmbito da sociedade na institucionalidade emergente. São
esses elementos que estão na origem do orçamento participativo.
7
Participativo, um órgão de conselheiros representantes das prioridades
orçamentárias decidas nas assembléias regionais e locais. A confecção
administrativa do orçamento ocorre no Gaplan (Gabinete de Planejamento
da Prefeitura), órgão ligado ao gabinete do prefeito.
8
01 Humaitá/Ilhas/Navegantes
02 Noroeste
03 Leste
04 Lomba do Pinheiro
05 Norte
06 Nordeste
07 Partenon
08 Restinga
09 Glória
10 Cruzeiro
11 Cristal
12 Centro Sul
13 Extremo Sul
14 Eixo Baltazar
15 Sul
16 Centro
9
As assembléias são realizadas em cada uma das 16 regiões com a
presença do prefeito. O número de participantes constituirá a base para
o cálculo do número de delegados que irão participar na próxima fase
nas assembléias intermediárias e nos fóruns de delegados. Os moradores
se inscrevem nas assembléias individualmente. No entanto, a sua
participação em associações civis é indicada no processo de inscrição nas
assembléias. Critério para retirada dos delegados: até cem presentes na
primeira assembléia regional, 1 delegado para cada dez presentes; entre
101 e 250 presentes, 1 delegado para cada 20 presentes; entre 251 e
400, 1 delegado para cada 30 presentes; mais de 401 presentes, 1
delegado para cada 40 presentes. Todos os presentes têm direito a um
voto.
10
direção de políticas participativas, devido à introdução da forma conselho
e de outras formas de participação durante o processo constituinte
(Raichellis, 1999; Dagnino, 2002), por outro lado, nenhuma cidade
abraçou tão rapidamente e tão amplamente a idéia de participação
quanto Porto Alegre. Alguns dados empíricos podem corroborar essa
afirmação: em primeiro lugar, a baixa participação inicial no orçamento
participativo em algumas regiões de Porto Alegre como a do Cristal,
Navegantes e a Glória com médias entre 10 e 15 participantes mostram a
enorme vontade política por trás da decisão inicial de implantação do OP.
Em segundo lugar, o enfrentamento do conflito político criado pelo OP,
que levou a demissão do primeiro secretário do Planejamento da
administração Olívio Dutra e à criação do Gaplan (Fedozzi,1997), mostra
uma determinação de enfrentar os conflitos políticos em torno da
continuidade e das características do OP. Em terceiro lugar, o enorme
envolvimento das associações civis nos primeiros anos do OP, período no
qual 71,28% dos participantes eram vinculados a associações
comunitárias (Fedozzi et all,1993), mostra o apoio à proposta no interior
da sociedade civil. Todo esses dados quando comparados, por exemplo,
com a experiência limitada do orçamento participativo em São Paulo no
mesmo período, mostram que a introdução da proposta e a vontade
política capaz de forjar o seu sucesso inicial apenas poderiam ter
ocorrido em Porto Alegre devido às condições anteriormente descritas.
11
dessas realidades na cidade de Porto Alegre (Marquetti,2003). Esse
argumento é extremamente importante para a discussão sobre
democracia participativa porque consegue corroborar a idéia de formas
4
de racionalidade associadas às formas ampliadas de participação , isto é,
mostra que os atores sociais quando devidamente munidos da
capacidade de deliberação conseguem identificar lacunas distributivas na
sociedade e agir de forma a corrigi - las. O argumento mostra também
que os atores sociais são capazes de realizarem rankings de prioridades
e, até mesmo, agirem altruisticamente na medida em que o ator médio
que participa do OP de Porto Alegre – caracterizado como um indivíduo
de renda familiar até quatro salários mínimos (Baierle, 1999) – consegue
identificar que existem indivíduos mais carentes do que eles e privilegiá-
los no processo de distribuição de bens públicos.
4
Essa é uma questão polêmica no interior da teoria democrática contemporânea. A
teoria hegemônica a esse respeito, o assim chamado elitismo democrático, supõe que a
participação constitui apenas uma forma de pressão das massas sobre o sistema
político. Apesar de uma série de críticas teóricas a essa perspectiva terem sido
formuladas (Avritzer,1996), o trabalho de Marquetti aponta na direção de uma crítica
empírica.
12
alguns intelectuais brasileiros (Reis,2000). O OP nos fornece elementos
para pensarmos as sinergias entre reforma do Estado e formas ampliadas
de participação ao mostrar que a pressão da população sobre a
administração local melhora a performance da máquina administrativa.
13
ampliação da democracia expresso no caso da experiência porto
alegrense tanto na capacidade de crescimento da participação no OP. O
FSM trabalha com a idéia de uma democracia de alta intensidade, isso é,
uma democracia na qual atores sociais com preferências fortes têm um
papel ampliado no sistema político. OP reforça essa visão ao mostrar a
viabilidade das formas de participação ampliadas. O segundo pilar é o
associativo- deliberativo, expresso no caso porto alegrense por diversos
elementos tais como, a presença constante das associações de
moradores no OP e a capacidade do OP de ter se tornado a forma
dominante de distribuição de recursos públicos na cidade, diminuído
sensivelmente, senão anulando, o papel do clientelismo na distribuição
de bens públicos. Mais uma vez, o Fórum Social Mundial e o OP parecem
ter uma afinidade eletiva.
14
O quarto elemento é a capacidade distributiva do OP abordada acima e
sua vinculação com o processo de reforma do Estado. Nesse caso, o OP
aponta para uma diferente perspectiva de entender o estado, que
poderíamos localizar justamente no eixo do pós- neoliberalismo. Nessa
perspectiva, a eficiência estatal não se dá pela diminuição do tamanho do
estado e sim pela inversão da relação entre funcionários ligados à
máquina e funcionários ligados a atividades fins das políticas sociais.
Mais uma vez, entendemos haver uma afinidade eletiva entre essa visão e
as concepções defendidas pelo FSM.
15
praticado. No ano de 2002, o OP foi praticado nos municípios de São
Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre, cidades com um enorme
peso nacional e regional. No entanto, discutir, a prática do OP é também
reconhecer as enormes variações que existem entre essas cidades ou
entre os 103 municípios que praticaram o OP entre 1997 e 2000. O OP
foi praticado entre 1997 e 2000 em 9 cidades com mais de 500 mil
habitantes (entre elas, 4 cidades com mais de 1 milhão de habitantes).
(Teixeira, 2003, Ribeiro e Grazia, 2003). Por outro lado, o OP tem a
maioria das experiências a ele relacionadas localizadas em cidades entre
20 mil e 100 mil habitantes. Assim vemos dois elementos distintos na
extensão do OP: a sua extensão para pequenas cidades das regiões Sul e
Sudeste e sua extensão para grandes capitais das regiões Sul, Sudeste e
Nordeste (no caso a cidade do Recife).
16
estender o OP, em quais condições ele pode funcionar? Dois tipos de
evidências contraditórias podem ser apresentadas para
problematizarmos essa questão: (1) o desempenho do OP no decorrer
das tentativas de torná- lo uma política social; (2) o desempenho do OP
em relação a integração de setores desfavorecidos, minorias culturais e
problemas de gênero.
17
Tabela 1
Prioridades escolhidas em Porto Alegre em 1999
Região 1ª Prioridade 2ª Prioridade
Nota 5 Nota 4
Humaitá/ Saúde – ampliação e Saneamento básico – Esgoto
Navegantes construção de postos de pluvial –
/Ihas saúde DEP
Noroeste Áreas de lazer Política habitacional –
Reassentamento
18
Extremo- Sul Pavimentação Saneamento básico – Rede de
água –
DMAE
Eixo da Política Habitacional – Saúde – Reforma, ampliação
Baltazar Reassentamento e construção de postos de
saúde
Sul Pavimentação Saneamento básico – Esgoto
pluvial –
DEP
Centro Política habitacional Educação – Programa SEJA
Construção de U.H.
Fonte: Prefeitura de Porto Alegre.
19
que à medida que avança o OP- Cidade encontra mais opositores na
administração pública e entre o pessoal técnico da prefeitura. Tal
oposição parece lógica, tendo em vista que esses são os casos nos quais
o OP redireciona preferências da máquina administrativa ou exige dos
administradores públicos mudanças nas suas preferências em relação a
políticas. No entanto, se o OP não pode ser apenas um programa de
ampliação do acesso a obras públicas, ele tem que envolver ampliação do
acesso a políticas e em alguns casos, mudanças na orientação dessas
políticas.
Tabela 2
Prioridades do “OP Cidade” em Belo Horizonte na área de assistência
social
Criança e 1° 1° 1°
adolescente
Qualificação 2° 2° 2°
profissional
Portadores de 3° 6° 5°
deficiência
Criança 00 a 06 4° 4° 4°
Famílias 5° 3° 3°
População carente 6° 8° 6°
Meninos de rua 7° 9° 9°
Idosos 8° 7° 8°
População de rua 9° 10° 10°
Geração de renda 10° 5° 7°
20
Adolescente 11° 11° 11°
infrator
Dependente 12° 12° 12°
químico
Criterio da Prefeitura. Peso: 0,49 Decisão do “OP Cidade”.
Peso:0,51
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte
5
É necessário mencionar que a margem de erro da pesquisa é de aproximadamente 5%.
No entanto, a margem de erro da pesquisa não invalida o fato de haver uma série
histórica com margem de erro semelhante e nessa série histórica a participação das
mulheres ter aumentado em cada uma das pesquisas realizadas.
21
Os dados da Tabela 3 nos permitem afirmar que a eqüidade entre
gêneros se expressa mais na participação ampliada do que na escolha de
lideranças compatíveis com o perfil dos participantes. Fenômeno
semelhante pode ser identificado no OP- SP, como no caso de Porto
Alegre, a participação das mulheres é alta, mas não se traduz em
presença semelhante nas formas de coordenação do OP. Essa questão se
torna ainda mais grave quando pensamos em setores mais
marginalizados na sociedade brasileira, como, por exemplo, os
indígenas. Na experiência de orçamento participativo estadual no Rio
Grande do Sul, os índios guaranis que somam setecentas pessoas no
estado não foram atendidos em suas reivindicação de demarcação de
terras, entre outros motivos, porque não conseguiram maiorias em
reuniões do OP.
Mais uma vez, esse tipo de questão parece ser extremamente relevante
quando pensamos na extensão da experiência do OP para outros lugares
da América Latina ou do mundo na medida em que minorias étnicas são
mais importantes em países como Peru ou tradição de exclusão das
mulheres são ainda mais fortes em alguns desses países. Por outro lado,
valeria a pena saber quais tentativas de inclusão das mulheres foram
tentadas nessas outras experiências e quais aportes elas poderiam
fornecer ao OP.
Tabela 3
Participação no OP por gênero
Sexo IBGE/POA 1993 1995 1998 Delegados(as) Conselheiros
(as)
Mulhere 53,2% 46,7% 46,8% 51,4% 45,3% 48,7%
s
Homens 46,8% 47,6% 52,2% 48,4% 54,7% 51,3%
Nr – 5,7% – 0,2% – –
22
Fonte: Cidade
23
contribuição ao debate democrático porque esse tendia a identificar o
aumento da participação com a instabilidade institucional ou com o que
ficou conhecido como “pretorianismo das massas”. Hoje e dia o debate
sobre participação se move na direção da melhor distribuição dos gastos
públicos na direção dos setores desprivilegiados, da melhor utilização
dos recursos públicos, da correção em deixar a própria população
apontar suas prioridades. Provavelmente, esses são os fatores que fazem
do OP uma forma de deliberação sobre recursos públicos tão atraente no
Brasil e em outros países da América Latina.
24
Panchayats devem ser apontados: a sua capacidade de integrar a
participação das mulheres, pelo menos no caso da experiência de Bengal
que reservou 40% das posições de coordenação de Panchayats para as
mulheres com resultados extremamente positivos. Vale a pena também
pensar algumas experiências de participação popular mais ampliada que
conseguiram incluir a discussão de um cardápio mais ampliado de
políticas públicas, tal como parece se o caso de Vila Salvador em Lima.
Entendemos que o Fórum Social Mundial pode desempenhar um papel
central na fusão de horizontes participativos.
Bibliografia
Dahl, R. A. (1991). Democracy and its critics . New Haven, Yale University
Press.
25
Fraser, N. (1995). Justice Interruptus . London, Routledge.
26
Isaac, T. and P. Heller (2002). Decentralization, Democracy and
Development:people's campaign for decentralized planning in Kerela.
Deepening Democracy. A. Fung and E. Wright. London, Verso Press.
27
Santos, B. d. S. and L. Avritzer (2002). Para Ampliar o Cânone
Democrático. Democratizar a Democracia. B. d. S. Santos. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira.
28
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
Introducción
1
Esta ponencia fue elaborada gracias a la contribución del Consejo Latinoamericano de
Ciencias Sociales (CLACSO), a través del esfuerzo conjunto del Programa Regional de
Becas y el Programa CLACSO/CROP de estudios sobre pobreza en América Latina y el
Caribe. El trabajo forma parte de los resultados del Proyecto “Políticas de atención a la
pobreza y la desigualdad. Examinando el rol del estado en la experiencia cubana”, que fue
premiado con una beca de investigación en el Concurso para investigadores senior "La
economía política de la pobreza" 2003.. Este texto no puede ser publicado sin la autorización
de CLACSO.
1
Aunque las cifras sobre la dinámica de la pobreza en América Latina son
bastante conocidas no han perdido su fuerza impactante:
América Latina
Evolución de la magnitud de la pobreza y la indigencia
1980-1999
Porcentaje de hogares pobres Porcentaje de hogares
indigentes
Años total urbana rural total urbana rural
1980 37,7 25,3 53,9 15,0 8,8 27,5
1990 41,0 35,0 58,2 17,7 12,0 34,1
1994 37,5 31,8 56,1 15,9 10,6 33,5
1997 35,5 29,7 54,0 14,4 9,5 30,3
1999 35,3 29,8 54,3 13,9 9,1 30,7
Fuente: CEPAL Panorama social de América Latina 2001
Claro que no existe un consenso en las explicaciones que desde las ciencias
sociales o de la práctica de toma de decisiones políticas se dan a esta
evidente persistencia de la pobreza en la región, muy especialmente en lo
que concierne a sus causas y a las fórmulas más eficaces para revertirla, lo
que hace que la cuestión de los roles del Estado o de otras estructuras y de
actores no estatales, en el manejo de las desventajas sociales, así como la
de las políticas sociales, sus contenidos, niveles, coberturas y dimensiones
más adecuados, hayan reforzado su centralidad como temas privilegiados de
debate.
2
Evitando comprometerse con un economicismo reducionista y mecánico,
Franco aclara que si bien la afirmación de que “la mejor política social es una
buena política económica”, “tiene una cuota de verdad”, ella debe matizarse,
y propone otra variante “una buena política económica es condición
necesaria pero no suficiente para la equidad”. Explica la insuficiencia de esta
condición argumentando que altas tasas de crecimiento logradas a partir de
una sobreexplotación de los recursos naturales o de utilización de mano de
obra poco calificada y mal remunerada no pueden mantenerse en la
perspectiva. Propone, por el contrario, “otro estilo de desarrollo” sustentado
en el aprovechamiento del capital humano, lo que hace emerger la necesidad
de políticas sociales, como instrumento de generación de dicho capital. A ello
añade que este matiz debe incluir el énfasis en la importancia del crecimiento
económico, en tanto este genera empleos, con ello remuneración salarial y
formas autónomas de solventar la satisfacción de necesidades básicas y
provoca sensación de optimismo que aumenta la viabilidad de medidas
redistributivas. (Franco, 2003).
Desde esta óptica, las mejores políticas sociales son entonces aquellas que
potencian las cualidades de las personas para funcionar como capital, para
competir en mejores condiciones en el mercado. En concordancia con esta
posición, en su Panorama Social en América Latina y el Caribe (2000/2001)
CEPAL explica que la reducción a la mitad de la indigencia en la región
exigirá un crecimiento del PIB per cápita de al menos un 2,3 % anual hasta el
2015 y que una reducción similar de la pobreza dependerá del crecimiento
entre el 3 % y el 4 % en el período señalado. Teniendo en cuenta la situación
3
económica de nuestros países y las difíciles condiciones para que estos
logren mejorar su inserción en la economía global, estas son noticias muy
desalentadoras.
Probablemente sea este uno de los campos de las ciencias sociales donde
con más fuerza se ha expresado el perfil propositivo de estas y su vocación
de vínculo con la toma de decisiones, de construcción de una articulación
directa entre la investigación y la propuesta de acción, entre el discurso de
diagnóstico y explicación y la transformación.
4
el que las trata como estrategias relativamente autónomas, de acción
selectiva y focalizada hacia poblaciones precarizadas.
5
etapa de desarrollo de sustitución de importaciones, culpabilizándolo de una
interferencia ineficiente en los mecanismos de mercado y haciendo su
propuesta de Estado mínimo, y concibiendo la lucha contra la pobreza
desgajada de empeños mas abarcadores, como rehabilitación y rescate de
poblaciones en situación de pobreza, a través de estrategias focalizadas y
selectivas.
6
programas de combate a la pobreza; el carácter territorializado,
microsocial y comunitario de las políticas; orientación focalizada hacia
públicos específicos. Esta concepción se desgaja en tres variantes: la
neoliberal (aprovechamiento de la capacidad y los activos de los pobres
para insertarlos en el mercado); el discurso afirmativo de la pobreza
(integración de políticas de gasto social para satisfacción de necesidades
básicas, las de apoyo a la economía popular y la autonomía de los pobres
como sujeto capaz de desarrollar procesos de autogestión); perspectiva
tecnocrático-progresivista (incluye las estrategias difundidas por los
organismos internacionales como el BID, la CEPAL y el PNUD, y postula
el apoyo público a la economía popular).
7
nivel de ingresos o de consumo de los pobres, sino a sus capacidades;
prioridad de las estrategias orientadas ayuda a los pobres para que estos
puedan generar establemente condiciones adecuadas de existencia; rol
esencial del Estado que se concreta en la provisión de información, la
generación de un entorno institucional y de la infraestructura que garantice el
acceso de los pobres al bienestar; orientación prioritaria hacia el crecimiento
del trabajo intensivo, hacia un acceso creciente de los pobres a los servicios
sociales y hacia la construcción de un sistema efectivo de transferencias que
aseguren protección ante imprevistos; incorporación del criterio de
sustentabilidad, garantizando el aseguramiento de la satisfacción de las
necesidades de los pobres sin comprometer las de las generaciones futuras.
(Parodi 2001)
8
económico y lo social, a rescatar la pertinencia de una gestión estatal
eficiente y de la participación ciudadana y la igualdad como valor social. Una
variante de esta postura ha surgido dentro del propio Banco Interamericano
de Desarrollo. Desde aquí, Bernardo Klisberg identifica los diez supuestos
mas comunes (“falacias”, les llama por su carácter erróneo y de inversión de
la realidad) que han sustentado las políticas sociales en la América Latina de
las reformas neoliberales:
9
centralidad de los valores y elude el debate sobre los fines;
10) ausencia de caminos alternativos.
10
11) El mercado surge por generación espontánea;
12) El criterio de éxito de la política social es reducir el porcentaje de
población que se encuentra en situación de pobreza.
11
De todo ello desprende que, siendo la pobreza un fenómeno de carácter
heterogéneo, que presenta diversas intensidades y modalidades, las políticas
públicas deben ajustarse a tal heterogeneidad, teniendo en cuanta las
características del estrato al que van dirigidas en lo que el llama “estrategias
diferenciadas de política social, (…), programas y proyectos para cada
situación específica (…) que en su conjunto se constituyen como una política
pública articulada para reducir la pobreza, enfrentar la vulnerabilidad, y
contribuir a mejorar la distribución del ingreso y apuntalar el crecimiento”
(Medina 2002:22).
12
Esta definición apunta hacia la complejidad de las decisiones en materia de
política social y de su implementación práctica, particularmente porque estas
no pueden diseñarse con recetas generales y universales
descontextualizadas, y porque están siempre colocadas, al menos en las
sociedades periféricas, ante el imperativo de establecer prioridades entre
opciones dramáticas, de vida o muerte, con recursos muy limitados. El
imperativo se bifurca en uno de eficiencia económica y en otro de naturaleza
ética que, aunque no son caras fatalmente inarticulables, difícilmente se
conjugan sin contradicción.
13
un supuesto erróneo, al considerar que la pobreza es una parte del sistema
socio-tecno-ambiental que posee una causalidad interna propia y reducida,
sobre la cual es posible actuar. Pero, de hecho, es la sinergia del sistema
como un todo, con sus interacciones y causalidades, la que determina la
dinámica de las partes que lo constituyen... En consecuencia, solo una
estrategia que no se concentre en la pobreza, sino en la estructura y la
dinámica del sistema en su totalidad, incluyendo su componente territorial
global, sería eficiente. Desde esta perspectiva se somete a crítica en su
totalidad la forma global de concebir y gestionar el desarrollo y se coloca la
lucha contra la pobreza dentro de una reconceptualización de este.
14
Primera interrogante: ¿Qué noción de ser humano informa las políticas de
enfrentamiento a la pobreza más extendidas?
15
también por adquirir energía (...), transportarse, vestirse, lavarse la cara y los
dientes, calentar los alimentos, recrearse” Claude, 2002).
Todavía este umbral no supone un sujeto del desarrollo, pero al menos ubica
la problemática de la pobreza y las carencias que ella implica en el contexto
de necesidades típicas de sociedades modernas con lo que ensancha el
horizonte de rasgos de la pobreza.
16
embargo, debates recientes apuntan hacia la exigencia de ampliar este
campo hacia el del consumo de males “ la distribución y el consumo de los
males del progreso económico de una sociedad” (Claude, 2002).
Claude afirma que existe (para Chile, dice él, pero parece obvio que es una
idea aplicable en un margen mucho más amplio) una doble condición de
injusticia (de pobreza, añado) y propone que, a la cuantificación de las
desigualdades y desventajas asociadas a las asimetrías en la distribución de
bienes habría que agregar las referidas a la distribución de males, que es
también asimétrica, e incluye dentro de ellos la acumulación de basura, la
contaminación tóxica, la depredación de los ambientes naturales, las
enfermedades psicológicas.
17
Primera etapa o de generación: abarca desde el siglo XIV hasta la primera
mitad del XIX
Se caracteriza por el tránsito desde una concepción cíclica del cambio social
hacia otra progresivista, universalista y ascencional, con carácter de
inevitabilidad histórica y de ley sociológica.
18
nación queda configurada como el escenario propio del desarrollo y el estado
como su protagonista o agente y garante principal. Es el período del diseño
de modelos de desarrollo y puesta en práctica de políticas concretas para
lograrlo.
19
Tratando de sintetizar el debate crítico en este campo, encontramos rasgos
y cualidades que esa proposición integradora, sintética y crítica del
desarrollo no podría dejar de incluir:
20
condiciones para el despliegue de esa cualidad de actor y de agente de
cambio.
21
persona. Este proceso, por su forma, su contenido y su sentido, tiene que
garantizar la viabilidad para esta generación y las generaciones futuras”
(Trputec 2002).
Este es probablemente uno de los retos mas complejos para las estrategias
de lucha contra la pobreza, porque las maneras en que se ha estructurado la
conexión espacial de la econonía globalizada neoliberal amplifican la
naturaleza explotadora y desigualitaria de las relaciones capitalistas y
generan inevitablemente excluidos que solo podrían insertarse con un golpe
de suerte que los convierta en poseedores de venatjas comparativas y
22
competitivas explotables por las grandes transnacionales, golpe de suerte
que no alcanza para todos y es también excluyente.
Pero no por ello puede pasarse por alto la necesidad de que estas
estrategias aspiren a impulsar un entrelazamiento sinérgico entre la escala
micro local del desarrollo, la economía comunitaria, y otras de mayor
generalidad, regional, nacional, extranacional, global, consecuentemente, la
exigencia de construir actores en todos esos niveles, incluyendo a la
sociedad civil y de comprensión de lo local como ámbito legítimo del
desarrollo, no como el reducto para la economía solidaria de los pobres y
opción menor de los excluidos, sino como espacio de alternativas
proveedoras de inserción social, de acceso al bienestar.
Bibliografía
23
CEPAL 1992. Renovadas orientaciones y tendencias de los programas de
compensación social en la región. Tercera Conferencia Regional sobre la
Pobreza en América Latina, Santiago.
24
Parodi, C. 2001. Perú: Pobreza y políticas sociales en la década de los
noventa. En:
Revista de Ciencias Sociales. Vol. VII, No. 3.
25
IV World Social Forum, Mumbai, 16 -21 January 2004
Project: Ibase
Partners: ActionAid Brasil, Attac Brasil e Rosa Luxemburgo Foundation
Andreas Trunschke
The famous French statesman and cardinal Armand-Jean du Plessis Herzog von
Richelieu (1585-1642) once said: “The budget is a states nerve. Hence, it has to be
taken away from the profane eyes of the subjects.”
This statement seems to be true even today. Of course, skilfully the budget is taken
away the views of the citizens in these modern democracies. It is presented in such a
complicated way that it takes the expert knowledge of the politicians and bureaucrats in
order to read and understand it. Hence, the citizen does not really feel the desire to
deal with it. If he, however, does make the effort to read and understand, than there are
laws, which secure that he has no influence on the formation of the budget.
This traditional politics understanding has been opposed first by the southern Brazilian
city Porto Alegre with its “Orçamento Participativo”, the participatory budget order or
citizen budget. The citizen himself does give the priorities for the budget, he himself
controls that the budget follows these priorities and the administration has to give him
the evidence over how the budget has been used and what has been done. Now, one
can see variations of this new politics understanding in many places of the world.
1
Slowly this new idea even reaches Germany. Slowly, maybe because traditionally it is
very hard for the Germans to learn from others, especially from a country of the third
world.
In the following, I will show where in Germany one can see already hints for
establishing a stronger citizen participation, which obstacles exist, which experiments
are being done in present and how they differ from the participatory budget in Porto
Alegre. At the end I will give a small view onto possible further developments.
First we will have a look at the hints of establishment. A first one we can find in the
small perished state, the GDR. In the former state-socialistic GDR parliamentary
democracy, as is well known, was not very popular, however there where starting points
for a participatory democracy. In every city residential areas housing between 2.000 to
2.500 inhabitants had living area committees from the National Front , which were
consulted regarding important questions for the development of the district. For
instance, they could be involved with matters, such as if and where playgrounds,
shopping facilities or streets were built. Of course this was an ordered participation, but
therefore it covered almost all areas. Of course those living area committees also acted
as a instrument showing of power by the rulers, but at the same time it represented a
democratic element, that in every way could have developed a certain independence.
On the one hand, they should communicate to the ground as unchangeable decisions,
on the other hand, however, they also allowed – within certain limits – the involvement
of the people. This basic idea, citizen participation in the creation of made decisions,
we will meet again later on.
2
authorities. Are there enough signatures, the parliament has to deal with the problem
again. If it rejects it again, however, the people are being asked. It comes to a
plebiscite. Similar procedures exist in most other countries for villages and towns as
well. It is, however, always about single problems, which, according to the initiators,
have been either not at all or wrongly decided by the parliament. Although from the
start, it is not about citizens participating in political decisions, but at least this way the
people got the possibility correcting political decisions. Within limits however. Excluded
are, for instance, decisions to financial questions or with financial consequences. But
which decision would not have to do with money? And a legislative for all of Germany
would not be possible at all, compared to many other European states. That is why we
are one of the few countries, whose constitution has been accepted not by the people
but only by the parliament. In Germany there was no vote neither for the introduction of
the Euro nor the expansion of the European Union towards eastern European
countries.
Now we will have a look at the participatory democracy in Germany. There is an area,
in which for long we in Germany have got considerable opportunities and positive
experiences. I am talking about the building planning. The statute book for the building
society says clearly: “As soon as possible, the citizens need to be told about the
general aims and purposes of the planning, possible differing solutions, which can be
considered regarding the reorganisation or development of an area, as well as the
possible consequences of the planning; they need to be given full opportunity for
expressing and discussing their view… Points can be expressed within a certain period
of time and have to be checked trough; and the result has to be reported.” (statute book
for the building society) Hence, this is a forcing rule. Everybody has got the chance
saying their opinion and the administration has to look through these opinions, prove
and test them against other different opinions and interests and explain their decision in
a written way. Thus, the citizen can participate and influence an important part of life. In
the correct way, however, there are sometimes seen problems. For example, it is not
arranged how those plans are laid out, how easy it is to reach them, where they are laid
out. It can happen of course that the interested citizen sits in front of meter-long piled-
up files without a chance gasping the main importance and the problems of the content.
That is why citizens are often very frustrated, because in comparison the opinion of a
big investor or the administration counts much more than their objection. Hence, here
much improvement is still needed.
3
A further point of establishment for the participation of the citizens on budget-related
questions exists in the so-called social reports. In all areas we find the different reports,
children-and youth reports, health reports, poverty reports, sometimes wealth reports.
Most often it is about big data grave yards, which are being used by the politicians
according to their various arguments. The social reports offer a big advantage. They
deliver important information over the social situation. Only these allow statements if
certain budget means are appropriate or not. With the help of the so-called budget
analysis the consequences of certain budget decisions onto certain living situations
could be documented, for instance for children, for the equality of the sexes or for the
nature. This allowed a better understanding of the budget instead of just a simple
representation of figures for receiving and spending. With this better understanding, the
citizen got more chances getting involved. Unfortunately, as far as I know, the existing
political instrument for the social reports in Germany is until now not being used for the
representation of the budgets.
With this I reached the main point of my report, the participatory or citizen budget in
Germany. As already mentioned, everybody can look into the budget in public. Also, via
the parliamentary parties he can try to take influence into the decisions of the
parliament. Often the parliaments themselves offer discussions to certain parts of the
budget. However, all this is not valid for the participatory or citizen budget. The question
is, how far can the citizen take influence into the creation and arrangement of the
budget.
The furthest development can be seen in the federal state Nordrhein-Westfalen. There,
at the end of the year 2000 the interior ministry in cooperation with the Bertelsmann
Foundation initiated the model event “Communal citizen budget” in which six
communities take part on. “The aim of the project is to inform every citizen better about
the budget of their community and to promote a stronger citizen participation on the
developments and happenings of the budget.” (www.buergerhaushalt.de). The project
is composed of three parts. The first part deals with the information over the budget. “In
this step the towns inform their inhabitants over their budget, but in a form that is
understandable not only for the expert but for everybody. Where does their money
come from? What is it spend on? How is the financial situation like? Which
opportunities for negotiating exist?” (dito). The second part is concerned with the citizen
4
participation on the budget. “The citizen participation is the ‘heart’ of the project. The
cities will offer their inhabitants the opportunity to express their opinion to all their
questions about the budget and to make suggestions and proposals…The decision
over the suggestions and the budget remain with the council” (dito). The third part is
concerned with the proving of what has been done. “After the budget has been agreed,
the towns have to explain to their inhabitants what had happened with their
suggestions, how the council had decided and why it had made this decision” (dito). As
an aim of this model it is given: “Our aim is, to improve the understanding as well as the
engagement of the citizens in order to prepare the foundation for one of the most
important directional changes of their towns” (dito).
Let us have a closer look at the single models in some of the participating communes.
The most interesting procedure is maybe the one in the city of Emsdetten. There the
mayor views the project as his project, which is according to all experiences a very
important assumption. The administration has presented understandably and obviously
the budget as a sort of brochure or in the internet. The citizens have got countless
possibilities taking part on the consultations, for instance via questionnaires, internet or
in a citizen forum. Additionally, around 2000 citizen chosen by chance according to
demographic viewpoints have been invited. 90 citizen registered themselves, 76
actually came.
The debate dealt with six different possibilities to balance the budget:
The largest number of citizens decided for the selling of buildings. The council, the
communal parliament there, mainly followed this proposal.
The city of Hamm in Westfalen with 185.000 inhabitants set up its first citizen budget for
2003/2004. Therefore, 50.000 homes received appropriate brochures. Also, the citizens
5
have been asked for their main concerns, problems, questions etc. This questioning
showed that the streets and cycle ways were most important to most people. A citizen
forum and a questionnaire action also deal with this problem later on. Thus, the people
could point out a problematic topic first and then discuss their suggestions for the
appointed area. Then the council decided a part of the proposed methods and offered
the needed means. However, due to the lack of money, most of the from the citizen
given proposals had to be rejected. Most probably a frustrating event for all of the
participants. In my view, this procedure has to be changed in a way that all interested
people get to know the available amount of money and thus the possible steps at the
first place.
With the help of students, a very visual way explaining people the budget has been
done in the city of Hilden. In February 2003 the citizens were invited to an giant
Monopoly game, HILDOPOLY. The rules for the game where the following: Every field
of HILDOPOLY represented a part or service of the city of Hilden. Staff working in the
departments of the city council had to give answers to every question. The citizens
could ask and give proposals. Also, the city offered a “Budget Tour”, a bus tour, on
which interested people could ask about certain plans and events. So far, the model in
Hilden was limited on a better understanding about what the city spends people’s
money on, and on the collecting of suggestions for changes and amendments.
All of these models differ significantly from the procedure in Porto Alegre, in which the
citizens discuss the entire budget and formulate the priorities for the layout of the
budget, in which the suggestions of the citizens are very obligatory and the method of
the citizen participation is discussed and varied.
Who knows a bit about politics in Germany, is asking anyway, why precisely the interior
ministry of Nordrhein-Westfalen and the Bertelsmann Foundation put so much effort
into the citizen budget. So far both, however, did not really strike through a remarkable
basic democratic engagement. One can get a possible answer by looking at the budget
situation in the German communes. For a long time the revenues do not cover the
necessary expenditures anymore. Even apparently wealthy communes such as Munich
are in sever debt. Poorer communes even have to sell some of their best properties in
order to “survive”. Almost all communes had to take on credits, which they do not know
6
if and how to pay back. Almost none without a budget security concept that at least acts
as if there could be a balanced budget again in ten years time.
Despite the hope of objective, expertise decisions and the bigger acceptance of the
made decisions through the participation of the citizens, the next and most important
question, which the mentioned model trial should explain, is how do I show and explain
the budget situation to a citizen without making him angry or ‘run away’. Almost with
relief one of the first model result analysis says: ”The concern that for a proper citizen
participation on the budget financial play rooms are necessary has not become true.
Some project communes are being watched by a budget security concept. Especially
here it has been proved that the proposals and concerns of the citizens have been
done in a cost conscious way. The understanding for the necessity to safe exists. Also,
there is the willingness of the people to even renounce for their own disadvantage upon
public accomplishments”. The on the project participating 80.000 people housing town
Castrop-Rauxel, whose constant expenditures also could not been covered by the
revenues any longer, asked their citizens for suggestions to safe. The mentioned citizen
forum in the town of Emsdetten offered all “participants the opportunity to take part in
the involvement and discussion regarding the balance of the entire budget.” “The goal
was closing a financial gap of 2.8 Mio Euro. The aim of the citizen forum was to offer a
proposal to the council that would be able to close this financial gap” (2. Middle Report).
In the city of Rheinstetten the question is also about the citizen budget: “Should
Rheinstetten be in favour of the rise of the revenues or the reduction of voluntary
service?”
Hence, the question is not as in Porto Alegre the participation on budget decisions or at
least the consultations regarding the budget, but the acceptance of reductions, it is
about the participation on the administration of the increasingly larger becoming
shortage. At the end of the day the model is not about stopping the appearance of critic
and protest regarding the shortage by giving the citizens the feeling of taking part in the
shortages. That is why it is – in contrast to Porto Alegre – not about actual decisions of
the people but about their questioning. Logically, the middle reports have changed the
phrase “participation of the citizens” correctly into “the consultation of the citizens”. The
model project initiated by the Bertelsmann Foundation is thus a so called conservative
variant of the “Orçamento Participativo” of Porto Alegre. Strangely, it follows completely
the already mentioned model of the GDR, participation yes, but the basic conditions for
the participation remain absolutely untouchable. As seen then in the GDR, the citizen
7
should help managing the shortage and not think about the shortage. Somebody might
recognise that in this country, nevertheless one of the richest countries in this world,
some become wealthier and faster wealthy, and that thus there is no money in the
public tills any longer.
This is not a criticise the honest engagement the participating communal councils and
citizens. I also think the form of participation is a progress, since participation of the
citizen on the shortage management is still better than a shortage management without
their agreement. Within the communal field there does not exist any play room that
could question the basic neoliberal concept. I just want to point out that one should
always remember the involvement of the citizens into neoliberal concepts.
Finally, we will dare a little view into the future. One has to stress the German capital
Berlin, which is federal state and commune at the same time. There initiatives are most
often organised by the citizens of the city. In two groups of initiatives they try to support
the idea. Slowly, politics prepares itself for this. Two factors contributed to this largely.
First of all Berlin is bankrupt as no other federal state and even those are not well. In
Berlin nothing works without the help from outside, thus the federation anymore. It
seems that in such absolute emergency situations politics is willed easier going
different, unusual routes even going in compromises. At least all educational
associations close to the parties have already talked to each other and have organised
a joint event regarding this topic. This is even more remarkable considering I do not
know about a second joint event of the educational associations close to the parties
SPD, CDU, FDP, Gruene and PDS.
The second factor is the government participation of the left wing party PDS in single
city districts and in the federal parliament, the parliament of Berlin. Although it has got
some difficulties with the citizen budget it principally supports this idea. It has included
the citizen budget as a demand in the their new party programme. In Berlin it will make
participation as one of their brands. In some city districts of Berlin the city councils with
influence of the PDS start municipals that deal with this topic. Even in my own federal
state Brandenburg enclosing Berlin, first developments are visible. For instance, as the
first and so far only commune in Brandenburg the federal capital Potsdam has decided
to introduce “elements of a citizen budget” for the budget of the year 2005. In other
8
cities more or less intensive discussions are held about the possibilities of a bigger
citizen participation on the budget. The Rosa Luxemburg Foundation Brandenburg is
supporting this development by their own internet site. Also, we are working on a
budget analysis, which should test what effects the new federal budget has on children
of the age to 12.
However, back to the Berlin initiatives “from below”. These initiatives have defined their
measures for a participation procedure on the budget and presented to the politics.
According to those measures differences and common characteristics of the model
trials between the Bertelsmann Foundation and the interior ministry of Nordrhein-
Westfalen become clear:
– Citizens should take part on political decisions already before the base line of the
decision has been fixed.
– The composition of the citizens should be balanced or in other words for the
population representative (no dominance of the “activists”).
– Low level opportunities for the participation should been offered (no long ways, less
time effort, no commitment to continuous involvement, no “dictatorship of the
sitting”).
– In a dialogue like procedure different suggestions have to be analysed by the
participating people and multiply voted solutions to be looked for.
– The expertise knowledge of the citizens should be used, but further needed
expertise been offered (by experts, administration and interest groups).
– At the beginning of the procedure one should agree under which conditions and in
which degree citizen proposals are given political binding for the final decision (for
example if in case of a rejection an explanation has follow).
– Groups with a weak articulation should be supported by the procedure.
9
All in all I can say: A not even similar ripe and far reaching procedure as in Porto Alegre
does so far exist in Germany. But slowly, very slowly the citizen participation on the
budget develops even in my country. Very certainly the citizen or participatory budget
remains an exiting topic and will most probably not be removed from the agenda.
10
IV Fórum Social Mundial, Mumbai, 16 a 21 de janeiro de 2004
A segunda dimensão do contrato social tem a ver com o que se faz com as
pessoas que não estão empregadas. Esta, é claro, é a parte do contrato
que trata da seguridade social e dos serviços sociais.
1
a criação de infra-estrutura. Alguns designam esta dimensão do contrato
como Bem-estar Social, outros preferem denominá-la de reparação pelo
colonialismo e para uma globalização inclusiva.
Gita Sen destaca que estas três dimensões do contrato social são gravemente
rebaixadas em termos de eqüidade de gênero. No que se refere à relação
empregado-empregador, o contrato com os trabalhadores nunca incluiu todos os
trabalhadores. Foi tipicamente um contrato que esteve dirigido aos trabalhadores
homens e somente àqueles que estivessem na situação principal de receber seu
salário e sustentar uma família, uma esposa “não trabalhadora” e seus filhos. Isto
significa que as mulheres foram colocadas em segundo plano e posição no
mercado de trabalho.
Neste ponto há que se enfrentar o fato de que tudo o que está estabelecido nos
contratos sociais é resultado de muitos esforços e lutas. Nada é dado pelo
Estado, mas sim conquistado. A natureza destes contratos está diretamente
vinculada às relações estabelecidas entre o Estado, o povo e as instituições como
os mercados. Portanto, se as pautas em discussão, se os termos da disputa entre
as partes não conferiram prioridade à reprodução da vida social, não se
orientaram pela eqüidade de gênero, tanto quanto pelo direito a um salário
mínimo decente, aqueles elementos, inevitavelmente, ficaram de fora do contrato,
ou presentes de maneira muito precária.
2
entendimento, será possível levantar questões que nunca puderam ser suscitadas
antes, sob a vigência dos contratos sociais prévios. Questões sobre a justiça de
gênero, sobre os direitos das pessoas que foram marginalizadas e que tiveram
seus direitos negados sob os contratos anteriores têm de ser considerados
direitos fundamentais na nova definição do que seja uma vida decente.
Neste sentido, Gita Sen destaca especialmente dois aspectos: o primeiro deles
trata do papel decisivo das alianças políticas para a redefinição do que seja uma
vida decente, sobre bases mais abrangentes e fundadas no respeito aos direitos
humanos universais. A forma como se constituem e os princípios que orientam as
alianças políticas nesta disputa em torno da resignificação do que seja uma vida
decente são de fundamental importância. O tipo de amálgama político capaz de
promover mudanças paradigmáticas é qualitativamente diferente daquele que se
produz em conjunturas específicas para o apoio a uma ou outra causa. Por
exemplo, os atores políticos envolvidos em determinadas ações de combate à
pobreza ou esforços pelo cancelamento da dívida não necessariamente
reconhecem a eqüidade de gênero ou os direitos das minorias sexuais. Ou seja,
aqueles que em determinadas circunstâncias podem estar do mesmo lado numa
arena política, podem ser incapazes de promover juntos mudanças estruturais,
porque neste ponto se trata de ter mais do que questões em comum: é preciso
comungar dos mesmos princípios.
O segundo aspecto que Gita destaca em torno da definição do que seja uma vida
decente é, em verdade, uma crítica ao marco teórico de atendimento das
necessidades básicas de consumo como elemento definidor do que seja uma vida
decente. O problema da fome na Índia, por exemplo, implica a violação de vários
direitos humanos além do direito à comida. O atendimento desta necessidade
básica não se dará pela simples garantia de uma cesta de alimentos. Há muito
mais envolvido. A fome vem acompanhada de humilhação, muitas vezes de
violência doméstica, de cerceamento do direito à educação, de violação dos
direitos da criança, entre várias outras privações. Visto por outro lado, o simples
direito à comida, a não passar fome, contem inúmeros ingredientes: questões de
subordinação de gênero, hierarquia de castas, de pobreza, entre outros
elementos que são fundamentais e que devem ser compreendidos e
reconhecidos. Não se pode falar de necessidades básicas e serviços básicos que
desconsiderem estas dimensões, como dimensões prioritárias.
Um exemplo final: vários estudos realizados na Índia indicam que uma das causas
de mobilidade social descendente, que leva famílias inteiras a situações
gravíssimas de pobreza, deve-se a enfermidade de algum membro da família. O
3
fenômeno decorre dos elevados custos da saúde, em especial dos
medicamentos. Mais do que a atenção médica, neste caso, a possibilidade de não
empobrecer e de levar uma vida decente vincula-se a uma ordem internacional
mais justa, ou seja, regras justas para o comércio internacional de medicamentos.
4
IV World Social Forum, Mumbai, 16 -21 January 2004
Project: Ibase
Partners: ActionAid Brasil, Attac Brasil e Rosa Luxemburgo Foundation
Public goods
Ulla Lötzer
Last month the European Commission and the European ministerial conference
presented a paper to the WTO council and the European parliament reviving the
negotiations after the breakdown in Cancun. The result: Hardly any alterations to the
positions at Cancun can be found.
Especially they decided: the service negotiations on GATS are key priority for the
European countries. Only one actual point that shows again: the topic “public goods” is
of paramount political importance to be able to intervene in the globalization process.
Therefore the scientific advisory board of Attac Germany, the NGO WEED an the Rosa
Luxemburg foundation started a project on this topic last summer.
One part of this is to set up a mailing list on this topic, to stimulate the exchange
process between scientists, social movements and politicians. As many people as
possible are invited to participate.
Although there are many individual case studies on privatization, there is no systematic
incorporation on it and the international debate on the definition, provision and financing
public goods, especially “global public goods” is in its infancy. This is why second part
of the project is to evaluate the effects of privatization of public goods on the living
1
condition of people.
We started this process with a study on the effects of liberalization and privatization in
the European union. The reasons for this starting point were: firstly, the basis of he role
of the European union in the disputes on liberalization and privatization in the
developing countries is the process of privatization and their effects in the European
countries itself; secondly, to define the united common interests between people in
industrial countries and developing countries in this affairs.
Let me tell you only some of the first results of the evaluation in an overview. Since the
end of the 80s, a wave of liberalization and privatization has overwhelmed the
European states, somewhat later than in the US or Great Britain, where the “neoliberal
counter revolution“ had already begun in the mid of the 80s an in the southern
European countries in the 80s by structural adjustment programs of the IMF and the
world bank.
A driving force of privatization was the European market integration, which established
the framework for market liberalization, which started with telecommunication, railways
and other public transportation systems, the postal system and energy.
At the same time the states lost income for taxes, the state debts greatly increased and
the public budgets had come under strong pressure by continued tax reductions. So
they started to privatize the public enterprises, taking forms of contracting out, public
private partnership models or cross-border-leasing arrangements of great varieties.50%
of the worldwide turnovers in privatization in 1998 were results of sales of European
public assets. The arguments to justify privatization relate to greater internal and
external efficiency, better provision for goods and services at lower prices and with less
bureaucracy as a result of more competition. But experience does not confirm this
claims but mostly displays the opposite.
2
monopolies are replaced by private monopolies with European dimension. The former
public enterprises in the telecommunication sector for example remain the greatest
supplier in the telecommunication market and have a share in other European
companies or joint ventures with other European companies. In the electricity markets
the companies have insisted on vertical integration of generation and distribution with
the result that 6 or 7 companies dominate the market.
This concentration is happening in a number of sectors, not only electricity. There are
now four large companies, each which sales of Euros 30 billion or more, which are
dominating the sectors electricity, waste and water, Suez, Vivendi, RWE and EON.
Liberalization led to price reduction for business customers in the electricity sector,
domestic customers however have not seen such sharp falls in prices, many remained
unchanged or even risen after a short period of transition.
Transparency, public regulation and control has proved to be unable. For example in
the privatized water concessions of France. In a 1997 report they stated: “the lack of
supervision and control of delegated public services, aggravated by the lack of
transparency of this form of management has led to abuses.“ And all forms of
privatization able created formidable windows of opportunities for widespread
corruption.
There is a second wave off privatization: the social security systems, health, culture and
the education sector.
In those sectors the reforms are taken autonomously by the Member States, and the
European ministerial Conferences and the commission lay the ground for coordination
of the national policies.
And at least the privatization of knowledge. The trade in research intensive goods was
1998 51 percent of the exports of the industrialized countries. Patents are the key in the
international competition between the industrialized countries. And so the European
3
union too began in the 80s the process to widen patens on nature, plants, animals and
genes. The European regulations surpass the regulations in Trips in every point.
As a general conclusion we can say: the results are negative in Europe too. It led to
increasing inequality and social polarization, unemployment and deterioration of living
and working conditions.
On the other hand it led to great multinationals in these sectors with undemocratic
power and great profits.
Third part of the project will be to elaborate and concretize the concept of public goods
on a global, regional and national level:
In the traditional economic discourse, defining the Public good has been first and for
most a technical issue decides above all by the criteria of non-rivalry and non-
exclusiveness. However, there are on lay al few goods the nature of which
distinguishes them as pure public goods.
We think it always bears a political and normative component. “A public good is one
that the public decides to treat as a public good.“ (Malkin and Wildavsky, 1998)
What a society deems to be a public good depends on the respective historical context
and may change. So it will be an important part of the concept to look for democratic
regulations to decide on public goods.