Você está na página 1de 25

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

Resistência dos Materiais – Engenharia Eléctrica


Resumo da Aula do Tema: 1

1. Generalidades.
1.1 Introdução à ciência de resistência dos materiais. Definições.

1.1.1 Histórico

A Resistência dos materiais, como ciência, remonta ao início do século XVII, época em que
Galileu realizou experiências para estudar os efeitos de cargas em hastes e vigas feitas de vários
materiais. No entanto, para a compreensão adequada dos fenómenos envolvidos, foi necessário
estabelecer descrições experimentais precisas das propriedades mecânicas de materiais. Os
métodos para tais descrições foram consideravelmente melhorados no início do século XVIII.
Na época, estudos foram realizados, principalmente na França, baseados em aplicações da
mecânica aos corpos materiais, denominando-se o estudo de Resistência dos Materiais.
Actualmente, no entanto, refere-se a esses estudos como mecânica dos corpos deformáveis ou
simplesmente mecânica dos materiais (HIBBELER, 2004).
Entre os diversos estudiosos e pesquisadores que colaboraram com a formação da
Resistência dos Materiais, destacam-se: Galileo, Saint Venant, Bernouilli, Navier, Hooke,
Poisson, Cauchy, Euler, Castigliano, Tresca, Von Mises, Lamé, entre outros.

Assim, teoricamente, a Resistência dos Materiais é o ramo da mecânica que estuda as


relações entre cargas externas aplicadas a um corpo deformável e a intensidade das forças
internas que actuam dentro do corpo, abrangendo também o cálculo de engenharia das
deformações do corpo e o estudo da sua resistência, rigidez e estabilidade, quando submetido
a solicitações externas (HIBBELER, 2004).

Tecnicamente a Resistência dos materiais, é a ciência dos métodos de cálculos de engenharia na


resistência, rigidez e estabilidade dos elementos de construção e de máquinas.

Entende-se por:
• Resistência – como sendo a capacidade das construções e seus elementos constituintes em
suportar determinada carga sem se danificar.
• Rigidez – como sendo a capacidade das construções e seus elementos constituintes em
resistir às cargas externas em relação a deformação (mudança de forma e dimensões).
• Estabilidade – como sendo a capacidade das construções e seus elementos constituintes em
conservar a formas iniciais do seu equilíbrio elástico.

Para o estudo da Resistência dos materiais temos que possuir alguns conhecimentos, tais como:

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página1 de 25


• Conceitos de física (forças, equilíbrio de forças, molas, deformações);
• Conceitos de mecânica geral e mecânica teórica (equilíbrio estático, estruturas reticulara,
reacções de apoio);
• Conceitos de matemática (segmentos, áreas e volumes elementares, derivação e integração de
funções).

Os objectivos do estudo da Resistência dos Materiais


• Determinação dos esforços;
• Determinação das tensões e das deformações a que estão sujeitos os corpos sólidos
devido à acção dos esforços actuantes;
• Estudo do equilíbrio de um corpo deformável;
• Verificação da segurança dos corpos e objectos;
• Dimensionamento dos objectos à luz da segurança.

1.1.2 Definição de peça ou elemento resistente – objectos de estudo


Peça ou elemento resistente é todo corpo capaz de receber e transmitir forças. O conjunto de
elementos resistentes de uma construção ou máquina denomina-se estrutura.
Para efeito de estudo, podemos classificar os elementos resistentes em:
a) Barras: aqueles que têm uma das dimensões bem superior às demais. Ex. tirantes, escoras,
pilares e vigas;

Fig. 1.1 – Exemplo de barras


b) Placas e chapas: aqueles que possuem uma dimensão muito pequena em relação às outras
duas. Caso as cargas actuantes sejam aplicadas perpendicularmente ao seu plano,
denomina-se placa. Se as cargas actuarem em seu próprio plano médio, denomina-se chapa.
Ex. laje, viga parede;

Fig. 1.2 – Exemplo de placas ou chapas


c) Cascas: são elementos que possuem pequena espessura em relação à área da superfície
média, que é curva. Ex. cúpula;

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página2 de 25


Fig. 1.3 – Exemplo casca ou involucro

d) Blocos: são elementos em que não há uma dimensão predominante em relação às outras.

Fig. 1.4 – Exemplo de bloco

1.2 Postulados aplicados em resistência dos materiais


Pra compor equações generalizadas e muito simplificadas no cálculo de resistência dos materiais,
são tomados hipóteses e princípios em função das características dos materiais e o caracter da sua
deformação.
1.2.1 Principais Hipóteses simplificadoras no estudo de Resistências dos Materiais

As hipóteses simplificadoras são adoptadas, em um nível inicial, para o fácil entendimento


e simples implementação da teoria referente aos tipos de materiais a elas associados:

a) Hipóteses relativas ao material


Apenas materiais com certas características são estudados nessa faze introdutória da
resistência dos materiais. Esses materiais devem ser:
• Isotrópicos: possuem as mesmas respostas mecânicas quando solicitados em qualquer
direcção;
• Homogéneos: em uma direcção, possuem as mesmas propriedades em qualquer ponto;
• Contínuos: a matéria é distribuída continuamente no volume do corpo;
• Coesos: significa que todas as suas partes estão muito bem unidas, sem a presença de
trincas, separações ou falhas;
• Linearidade: possuem solicitações que apenas façam com que o material trabalhe no
regime elástico linear.

De facto, são poucos os materiais que apresentam todos os requisitos acima (um exemplo é o
aço). No entanto, as hipóteses simplificadoras podem ser utilizadas em materiais que não se
incluem nesses requisitos, utilizando os conceitos definidos na sequência como aproximações
de cálculo (um exemplo é o concreto).

b) Hipóteses relativas ao deslocamento


As equações desenvolvidas são válidas para corpos que sofrem pequenos deslocamentos, se
comparadas com suas dimensões.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página3 de 25


Fig.1.5 - Deslocamentos verticais em uma viga simplesmente apoiada.

No caso da peça mostrada na (figura 1.5), caso os deslocamentos ´´y´´ dos pontos de seu eixo
longitudinal forem grandes, os momentos poderão ser grandes, se comparados com os
momentos da carga transversal. Sendo assim, hipótese de pequenos deslocamentos não é válida.

Considerando a hipótese dos pequenos deslocamentos as equações da Resistência dos


Materiais, poderão ser deduzidas a partir do equilíbrio dos corpos indeformados, ou seja, em
suas dimensões e posição anterior à aplicação das cargas.

1.2.2 Princípio fundamental usados no estudo de Resistências dos Materiais


• Princípio de Saint-Venant:
Sistemas de forças estaticamente equivalentes causam efeitos idênticos em pontos suficientemente
afastados da região de aplicação das cargas.

• Principio da Secções planas


A secção transversal, após a deformação, permanece plana e normal à linha media (eixo
deformado).

• Conservação das áreas transversais:


A secção transversal, após a deformação, conserva as suas dimensões primitivas.

Lei de Hooke:
A força aplicada é proporcional ao deslocamento.
F = kd (1.1)
onde: F é a força aplicada; k é a constante elástica de rigidez e d é o deslocamento.

• Princípio da Superposição de efeitos:


Os efeitos causados por um sistema de forças externas são a soma dos efeitos produzidos por cada
força considerada agindo isoladamente e independente das outras.

• Princípio de Equilíbrio:
“Toda parte de um sólido em equilíbrio, também está em equilíbrio e à qual se aplicam
as equações da estática.”

O método das seções é uma consequência desse princípio. Esse método é utilizado para a
determinação dos esforços internos resultantes que actuam sobre a superfície seccionada do
corpo.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página4 de 25


∑ 𝑭𝒙 = 𝟎; ∑ 𝑭𝒚 = 𝟎; ∑ 𝑭𝒛 = 𝟎; ∑ 𝑴𝒙 = 𝟎; ∑ 𝑴𝒚 = 𝟎; ∑ 𝑴𝒛 = 𝟎 (1.2)

Através das equações de equilíbrio, calculam-se as resultantes dos esforços internos. A


variação dessas acções nessa seção é indeterminada e para se ter uma noção mais precisa,
é necessário estudar as peças deformadas. As equações de equilíbrio devem ser satisfeitas
a fim de impedir que o corpo se translade com movimento acelerado e que tenha rotação,
em outras palavras, para que sofra um movimento de corpo rígido.
O impedimento desse movimento acelerado é feito através de apoios inseridos em certas
posições, conectando o corpo a um elemento externo. Os tipos mais comuns de apoio no
plano, são:
→ Apoios simples, apenas uma incógnita,
→ Apoios rotulados, duas incógnitas, e
→ Engastamento, três incógnitas.
Em um sistema tridimensional, os mesmos tipos de apoio ocorrem, no entanto, em alguns
deles existe o acréscimo de algumas incógnitas. Por exemplo, o engastamento
tridimensional possui seis incógnitas, três forças em x, y e z, e três momentos, em torno do
x, y e z.

1.2.3 Tipos de deformações nos elementos de construção.


O corpo rígido real deforma-se, isto é, muda a sua forma e dimensões. A deformação do corpo corre
como resultado da influência das forças que actuam sobre ele ou então a variação da temperatura
sobre ele. Na deformação do corpo, os pontos que o constituem assim também, de forma imaginária,
as linhas de suas fronteiras e as secções constituintes se deslocam no plano ou no espaço em relação
a sua posição inicial.
Assim em função de como actuam as forças no elemento ou corpo, distinguem-se os seguintes tipos
de deformação.
• Tracção ou Compressão – Deformação longitudinal

• Cisalhamento corte – Deformação transversal

• Torção – Deformação angular

• Flexão – Deformação curvilínea

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página5 de 25


1.3 Classificação dos Esforços mecânicos.
Os esforços são classificados basicamente de acordo com a sua localização no corpo em
analise, podendo ser externos ou internos. Os esforços externos podem ser de dois tipos
distintos, activo que se refere às cargas aplicadas, e reactivos relativo às reacções nos apoios.
Os internos se subdividem em resultoantes e tensões. As tensões são as forças internas no
corpo subdivididas por todo o seu volume e existem apenas quando o corpo está sendo
solicitado por algum esforço externo, seja uma carga ou uma reacção. As resultantes, como o
próprio nome sugere, são representações das tensões internas aplicadas no centro de gravidade
da respectiva área do diagrama de tensões.
Assim, os esforços podem ser classificados segundo o quadro:

1.3.1 Esforços externos activos

Os esforços activos podem ser classificados de acordo com a ilustração do quadro abaixo:

Exemplos gráficos de Forças externas activas:


✓ Forças de superfície: Causadas pêlo contacto directo de um corpo com a superfície de outro
⇒ Força distribuída na área de contacto entre os corpos. Caso particular: Carga concentrada!

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página6 de 25


✓ Forças de Corpo: Um corpo exerce uma força sobre outro, sem contacto físico directo entre
eles. Ex: Efeitos causados péla gravidade da terra…etc.

Fig. 1.6 – Exemplo de um corpo carregado com diversos tipos de forças.

Tipos de forças (esforços) externas mais comuns.


a) Cargas concentradas

Fig. 1.7 – Exemplo de uma viga com cargas concentradas.

b) Carga uniformemente distribuída

Fig. 1.8 – Exemplo de uma viga com carga uniformemente distribuída.


c) Carga distribuída variável

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página7 de 25


a)

b)
Fig. 1.9 – Exemplo de uma viga com carga distribuída variável.

a) Momento concentrado

Onde: W é a carga.
Fig. 1.10 – Exemplo de uma viga com carga distribuída variável.

Forças externas reactivas


Os esforços externos reactivos são classificados em função do tipo de apoio utilizado para
restringir o movimento de corpo rígido, sua classificação pode ser feita, de uma forma básica,
segundo os tipos de Suporte (apoios) que a seguir se destacam:
Classificação dos apoios
1. Apoios móveis
Resiste à uma força em apenas uma direcção)
Representação dos apoios móveis

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página8 de 25


Tipos dos apoios móveis.
• Articulação:

Fig. 1.11 – Exemplo de apoio articulado.

• Rolete:

ou

Fig. 1.12 – Exemplo de apoio de roletes.


2. Apoio fixo
Representação do apoio fixo.

Tipo de apoio fixo


• Pino: (Resiste à uma força que age em qualquer direcção)

ou
Fig. 1.13 – Exemplo de apoio de pinos.
3. Engastamento
Resiste à uma força que age em qualquer direcção e a um momento.
Representação do apoio Engastado

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página9 de 25


Tipo de engastamento

Fig. 1.14 – Exemplo de apoio engastado.

Tabela 1. 1 – Quadro resumo dos tipos de apoio e respectivas reacções

Para a determinação das forças externas que actuam num elemento de construção emprega-se na
maioria das vezes o método de Diagrama de Corpos Livres (DCL). Este método consiste em isolar
o elemento em estudo dos restantes elementos de construção.

Exemplo 1.1 – Construção de um Diagrama de Corpo Livre figura 1.15.

Fig. 1.15

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página10 de 25


Onde:
𝑃 − 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎
𝐴 − 𝐴𝑝𝑜𝑖𝑜 𝑡𝑖𝑝𝑜 𝑝𝑖𝑛𝑜
𝐵 − 𝐴𝑝𝑜𝑖𝑜 𝑡𝑖𝑝𝑜 𝑟𝑜𝑙𝑒𝑡𝑒

Solução:
Diagrama de Corpo Livre (DCL)

Onde:
4𝑡 𝑒 3𝑡 − 𝐷𝑒𝑐𝑜𝑚𝑝𝑜𝑠𝑖çã𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑃 𝑒𝑚 𝑃𝑥 𝑒 𝑃𝑦 𝑟𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐𝑡𝑖𝑣𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒
𝑅𝐴𝑥 − 𝐷𝑒𝑐𝑜𝑚𝑝𝑜𝑠𝑖çã𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑐𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑑𝑜 𝑎𝑝𝑜𝑖𝑜 𝐴 𝑛𝑜 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑜 ℎ𝑜𝑟𝑖𝑧𝑜𝑛𝑡𝑎𝑙
𝑅𝐴𝑦 − 𝐷𝑒𝑐𝑜𝑚𝑝𝑜𝑠𝑖çã𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑐𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑑𝑜 𝑎𝑝𝑜𝑖𝑜 𝐴 𝑛𝑜 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑜 𝑣𝑒𝑟𝑡𝑖𝑐𝑎𝑙
𝑅𝐵 − 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑐𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑑𝑜 𝑎𝑝𝑜𝑖𝑜 𝐵

1.4 O objecto real e esquema de cálculo


Na Resistência dos Materiais o estudo da resistência de um objecto
real começa com a escolha de um esquema de cálculo. Ao começar o
cálculo de uma estrutura deve-se estabelecer em primeiro lugar o que
neste caso é essencial e o que é secundário; é preciso, como se diz,
esquematizar o objecto e desprezar todos os factores que não podem
exercer uma influência considerável sobre o trabalho do sistema em
geral. Esta simplificação do problema ou a escolha do seu esquema é
indispensável em todos os casos, pois, em princípio, solucionar um
problema tendo em conta todas as propriedades de um objecto real é
impossível, porquanto o número destas propriedades é evidentemente
ilimitado.
Se por exemplo, é preciso calcular a resistência do cabo de um
elevador, é preciso, em primeiro lugar, levar em consideração o peso
da carga levantada, a aceleração com que ela se desloca e se a altura
de elevação é grande, provavelmente seja preciso também considerar
o peso do próprio cabo. Ao mesmo tempo deve se desprezar de antemão a influência dos factores
insignificantes como, a resistência aerodinâmica que surge durante a ascensão do elevador, as forças
da pressão barométrica em diversas alturas, a variação das temperaturas em diversas alturas e outros
factores semelhantes cujo número é ilimitado.
Fig. 1.16
A figura 1.16, mostra o exemplo de esquema de cálculo do cabo do elevador.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página11 de 25


Objecto real, isento das particularidades sem importância, denomina-se esquema de cálculo. Para
o mesmo objecto podem ser propostos vários esquemas de cálculo o que depende, em primeiro
lugar, da precisão exigida e do aspecto de fenómeno que interessa neste caso concreto.
Para um determinado objecto pode-se propor vários esquemas de cálculo; ao mesmo tempo a um
esquema de cálculo podem corresponder diversos objectos reais. Isto é deveras importante porque,
mediante o estudo de um esquema de cálculo pode se obter a solução de toda uma série de problemas
concretos, que podem ser reduzidos a este esquema. Em particular, o esquema do cabo (figura 1.16),
com uma força aplicada na sua extremidade, é muito comum e se encontra em muitos casos práticos
de calculo de resistência.

Na resistência dos materiais a escolha do esquema de cálculos começa com a esquematização das
propriedades dos materiais. Nesta escolha, tomam-se em consideração as hipóteses nos cálculos de
resistência dos materiais vistos anteriormente.
Ao escolher o esquema de cálculo, introduzem-se simplificações também na geometria do objecto
real. O principal método de simplificação na resistência dos materiais é a redução da forma
geométrica do corpo ao esquema de barra ou de invólucro.
De um modo geral, a palavra barra vem a designar um corpo qualquer que tem uma dimensão (o
comprimento) bem superior a duas outras. Sob o ponto de vista da geometria pode-se obter uma
barra mediante a deslocação de uma figura plana ao longo de uma linha curva ou recta como mostra
a figura 1.17. A linha chama-se eixo da barra e a figura plana, cujo centro de gravidade encontra-se
no eixo da barra e que é perpendicular a este eixo, denomina-se secção transversal. A secção de uma
barra pode ser constante ou variável. A secção também pode girar em torno do eixo. Neste caso a
barra é qualificada como naturalmente retorcida (exemplo broca de furar espiral). A barra pode ser
recta curva ou encurvada no espaço em conformidade com o seu eixo. Por exemplo o cálculo de
molas reduz-se ao esquema de barra encurvada no espaço.
Muitas estruturas complexas podem ser consideradas como compostas de elementos, que têm a
forma de barra.

Fig. 1.17

O segundo esquema geométrico, utilizado na resistência dos materiais é o esquema de invólucro.


Qualificamos de invólucro um material que tem duas dimensões (a espessura) muito menor do que
outras duas. Os elementos das estruturas tais, como as paredes de recipientes, cúpulas de edifícios,
etc. reduzem-se ao esquema de invólucros cujo estudo mereceu destaque pormenorizado em estudos
de Resistência dos Materiais.
Ao esquematizar os objectos reais, na resistência dos materiais são também simplificados os
sistemas de forças aplicados a um elemento de estrutura, e introduz-se o conceito de forças
concentradas. Por exemplo, ao calcular a barra que esta na figura 1.18, pode-se considerar a carga
P como uma força aplicada em um ponto fig. Esta simplificação é natural, pois as dimensões da
área, em que está aplicada a força transmitida á barra (figura 18 a)), são pequenas em relação com
as dimensões gerais da barra. Evidentemente nas estruturas reais é impossível aplicar os esforços
num só ponto e a força concentrada é uma noção utilizada somente nos esquemas de cálculo.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página12 de 25


Fig. 1.18

A substituição de força distribuídas péla sua resultante concentrada é possível somente quando se
faz uma análise do trabalho da barra em geral, isto é, em volumes muito superiores ao volume da
zona de contacto. Se neste exemplo é preciso calcular o olhal em que esta suspensa a carga, a
introdução do conceito de força concentrada é inadmissível.
Durante o estudo da disciplina de Resistência dos Materiais é importante saber que a escolha do
esquema de cálculo é primeiro passo na realização do cálculo. É preciso compreender bem que o
cálculo não consiste apenas na aplicação de distintas fórmulas. Antes de realizar um problema real
às operações matemáticas, é preciso, às vezes, um estudo longo e sério para separar correctamente
no objecto estudado os factores importantes dos secundários.

1.5 Princípio geral de cálculo dos elementos das estruturas.

O cálculo de uma estrutura tem por objectivo determinar se a mesma satisfaz ou não as exigências
de segurança, que se fazem a ela. Por isso e preciso antes de mais formular os princípios que devem
servir de base para a avaliação das condições de segurança suficiente. Todas as questões são
solucionadas ao escolher o método geral de cálculo. O método mais comum de cálculo de resistência
das peças de máquinas e dos elementos de estruturas é o método baseado no cálculo de tensões.
Este método tem como base a suposição de que o critério de segurança da estrutura é a tensão, ou
mais exactamente o estudo de tensão no ponto. O cálculo, efectuado em conformidade com este
método, realiza-se da seguinte maneira:
Na base da análise da estrutura determina-se o ponto do corpo em que surgem as tensões máximas.
A magnitude determinada da tensão é comparada com a tensão limite para o material dado que se
determina anteriormente por meio de laboratório. Comparando as tensões obtidas por meio de
cálculo, com as tensões limites do material dado, faz-se a conclusão sobre a resistência da estrutura.
Este método utiliza-se na solução da maior parte dos problemas práticos. Em vários casos, outros
métodos são mais eficientes.
Outro método utilizado é o método de cálculo por carga de rotura. Por meio deste método são
determinadas não as tensões, mas a carga limite a que a estrutura pode resistir sem se destruir e sem
alterar radicalmente a sua forma. A carga limite (ou de rotura) é comparada com a carga de trabalho
e na base disso se fazem as conclusões sobre o grau de resistência da estrutura nas condições de
trabalho. O defeito deste método consiste em que a determinação da carga de rotura por meio de
cálculo é possível somente nas estruturas mais simples.
Outro método de cálculo é o método de cálculo de deslocamentos admissíveis ou como se diz
cálculo de rigidez. Naturalmente que este método, não exclui a necessidade de verificar a resistência
do sistema na base das tensões.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página13 de 25


Alem dos métodos acima mencionados existem muitos outros, relacionados com fenómenos de
diversas características qualitativas como por exemplo, a estabilidade, efeitos de cargas repetidas,
efeitos dinâmicos, etc.

1.6 Factores de forças internas ou solicitações


Ao pressionarmos uma régua sentimos a resistência que ela oferece à sua deformação. A resistência
indica a presença das forças (solicitações) internas criadas na sua deformação.
As forças solicitantes internas de um corpo, estão em função da variação das forças externas que
actuam sobre o mesmo corpo (ou elemento de construção). Assim, com o aumento da magnitude
dos esforços externos, aumenta a magnitude das solicitações internas o que se observa a quebra do
material. Concluindo, para o cálculo da resistência dos materiais é necessário saber determinar a
magnitude das solicitações internas em função das forças externas conhecidas.

Para a análise das solicitações internas utiliza-se o método de secções com a seguinte essência:
Separe-se através dum plano perpendicular ao eixo, duma forma imaginária, o corpo em análise
( barra da figura 1.19 a)) e descarta-se uma das barras a fontal ao plano. A parte restante da barra, a
posterior ao plano (barra da figura 1.19 b), está em equilíbrio por causa das forças externas nela
aplicada e as forças aplicadas na secção transversal da barra que substituem todas as forças da parte
descartada. Estas forças para uma barra inteira são solicitações internas dispersas na secção
transversal que para o seu cálculo usando as leis da estática seria quase impossível. Para a parte da
barra que ficou estas forças tornaram-se conhecidas e é possível calcular usando os métodos da
estática.

Fig. 1.19

Em função da distribuição irregular das forças internas péla superfície da secção transversal da barra
seccionadas segundo a figura 1.19 b), pêlo método da estática não é possível compor a equação da
distribuição das solicitações péla secção transversal, mas é possível determinar o principal vector
de forças e principal momento, que são as resultantes das forças internas irregulares.

Se projectarmos o principal vector de forças e o principal momento nas coordenadas com os eixos
𝒙, 𝒚, 𝒛 de modo que 𝒛 seja perpendicular à secção transversal e o eixo 𝑥 𝑒 𝑦 , formam o plano da
secção transversal a partir do centro da secção transversal da barra, obtém-se a seguinte distribuição
de forças internas – Solicitações (figura 19):

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página14 de 25


Fig. 1.20 – distribuição das solicitações pêlos eixos dos planos.

Se a secção tem um ou dois eixos é aconselhável combinar com as respectivas coordenadas 𝒙 𝑒 𝒚.

Em resultado se obtêm seis factores de forças (Solicitações) internas na secção:


1) 𝑭𝒐𝒓ç𝒂 𝒏𝒐𝒓𝒎𝒂𝒍 − 𝑵𝒛 - força que actua perpendicularmente à área. Sempre aparece quando
existam esforços externos que tendem a empurrar ou puxar o corpo e que actuam
paralelo ao eixo (𝒛) longitudinal da barra.

Fig. 1.21 – Convenção do sinal das forças normais na secção do plano.

2) 𝑭𝒐𝒓ç𝒂𝒔 𝒕𝒓𝒂𝒏𝒗𝒆𝒓𝒔𝒂𝒊𝒔 𝒐𝒖 𝑭𝒐𝒓ç𝒂𝒔 𝒄𝒐𝒓𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆𝒔 𝒐𝒖 𝒂𝒊𝒏𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝒄𝒊𝒔𝒂𝒍𝒉𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 − 𝑸𝒙 , 𝑸𝒚 -


localiza-se no plano da área e é criada quando esforços externos tendem a provocar o
deslizamento das duas partes do corpo, uma sobre a outra e que actuam perpendicularmente
ao eixo(𝒛) longitudinal da barra.

Fig. 1.22 – Convenção do sinal das forças cortantes na secção do plano.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página15 de 25


3) 𝑴𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐𝒔 𝒇𝒍𝒆𝒄𝒕𝒐𝒓𝒆𝒔 − 𝑀𝑥 , 𝑀𝑦 – é provocado pêlos esforços externos que tendem a
fletir o corpo em relação ao eixo (𝒛) localizado no plano da área.

Fig. 1.23 – Convenção do sinal dos Momentos flectores na secção do plano.

4) 𝑴𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒕𝒐𝒓ç𝒐𝒓 (𝑔𝑒𝑟𝑎𝑙𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑢𝑠𝑎 𝑀𝑡 )−𝑀𝑧 𝑜𝑢 𝑀𝑡 – esse efeito é criado quando os


esforços externos tendem a torcer uma parte do corpo em relação à outra.

Fig. 1.24 – Convenção do sinal dos Momentos torsores na secção do plano.

Para determinar a magnitude do factor de forças internas são compostas as equações de equilíbrio
da parte cortada corpo. No caso geral, se no corpo actuam sistema de forças tridimensional terá seis
equações de equilíbrio:

∑𝑖 𝐹𝑖𝑥 + 𝑄𝑥 = 0 ; ∑𝑖 𝑀0𝑥 (𝐹𝑖 ) + 𝑀𝑥 = 0 (1.3)

∑𝑖 𝐹𝑖𝑦 + 𝑄𝑦 = 0 ; ∑𝑖 𝑀0𝑦 (𝐹𝑖 ) + 𝑀𝑦 = 0 (1.4)

∑𝑖 𝐹𝑖𝑧 + 𝑁𝑧 = 0; ∑𝑖 𝑀0𝑧 (𝐹𝑖 ) + 𝑀𝑧 = 0 (1.5)

Em cargas complanares os factores de forças internas reduzem-se a solicitações normais 𝑵𝒛 ,


solicitações de cisalhamento 𝑸𝒙 , 𝑸𝒚 emomentos flectores 𝑴𝒙 , 𝑴𝒚 .

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página16 de 25


Esquema do método de secções
Corpo com cargas complanar com o respectivo plano de secção.

Fig. 1.25 – Corpo com cargas complanares não seccionados.

O Respectivo Diagrama de Corpos Livres (DCL)

(b)

Fig. 1.26 – Corpo seccionado com cargas externas e solicitações complanares.

Exemplo 1.2 – Determinação de solicitações


Na figura 24, determinar as cargas internas que agem na seção transversal no ponto C, sabendo que
a carga W = 2.000 N, sobe com uma velocidade constante.

Fig. 1. 27 – Hibbeler, Exemplo 1.3

Resolução:

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página17 de 25


1º Passo – Construção do Diagrama de corpo livre (D.C.L.).

Fig. 1.28 – Diagrama de Corpo livre optado para o cálculo Fig. b).

2º Passo – definir o sistema de planos

Fig.1. 29 – Plano de calculo

2º Passo – composição das Equações de equilíbrio


Equações de equilíbrio:
∑ 𝐹𝑖𝑥 + 𝑁𝑥 = 0
𝑖
∑ 𝐹𝑖𝑦 + 𝑉𝑦 = 0
𝑖
∑ 𝑀0𝑥 (𝐹𝑖 ) + 𝑀𝑥 = 0
𝑖

3º Passo – Cálculos:
∑ 𝐹𝑖𝑥 + 𝑁𝑥 = 0
𝑖
𝑊 + 𝑁𝑐 = 0
200 + 𝑁𝑐 = 0
𝑁𝑐 = −200𝑁

∑ 𝐹𝑖𝑦 + 𝑉𝑦 = 0
𝑖
−𝑊 − 𝑉𝑐 = 0
−200 − 𝑉𝑐 = 0
𝑉𝑐 = −200𝑁

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página18 de 25


∑ 𝑀0𝑥 (𝐹𝑖 ) + 𝑀𝑥 = 0
𝑖
𝑊 . 1,125 + 𝑀𝑐 = 0
2000 . 1,125 + 𝑀𝑐 = 0
𝑀𝑐 = −2250𝑁𝑚

1.7 Tensão
Os esforços internos, como já comentado, actuam em determinados pontos da área de seção
transversal, representando os efeitos resultantes da distribuição da força que actua na área
seccionada. A determinação dessa distribuição de forças é de suma importância na resistência
dos materiais e, para tal, é necessário se estabelecer o conceito de tensão.
Tensão é uma medida das forças internas de um corpo deformável. Quantitativamente, é
a medida da força por unidade de área em uma superfície do corpo onde existam forças
internas.
Considere que a área seccionada seja subdividida em áreas muito pequenas, ∆𝐴 . O factor da
força interna nela aplicada representemos por força de infinitesimais ∆𝐹 como mostra a
figura 1.30.

Fig.1. 30 – Barra seccionada ∆𝐴 e ∆𝐹 são os elementos infinitesimais – área e esforço interno

O valor médio da intensidade da força interna sobre a área, designada por tensão media calcula-se
por:
∆𝑭
𝒑𝒎 = ∆𝑨 . (1.6)
Reduzindo a área ∆𝐴, com tendência a zero encontramos o valor total da tensão no ponto em
análise da secção.
∆𝑭
𝒑 = 𝐥𝐢𝐦 . (1.7)
∆𝑨→𝟎 ∆𝑨

No Sistema Internacional SI, a tensão é medida em pascais – representa a tensão péla qual,
na superfície de 1 𝑚2 actua uma força interna de 1N. Como geralmente esta dimensão é tão
reduzida em relação as quantidades usadas na técnica, usualmente se emprega a unidade em
MPa. 1 MPa=106 Pa.
Na técnica, as tensões são medidas em, normalmente, em quilogramas por centímetro quadrado e
milímetro quadrado.

Decompondo o vector tensão total em duas componentes vectoriais obtemos:

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página19 de 25


Fig.1. 31 – Decomposição do vector tensão

A componente da tensão total dirigida em direcção ao eixo normal, da secção, designa-se por tensão
normal e representa-se por 𝝈, logo:
∆𝑭 𝒅𝑭
𝝈 = 𝐥𝐢𝐦 = 𝒅𝑨 .
∆𝑨→𝟎 ∆𝑨

A Tensão média é dada péla fórmula:

𝑭
𝝈𝒎 = (𝟏. 𝟖)
𝑨
Onde:
𝐹 − 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 𝑎𝑐𝑡𝑢𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑛𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜
𝐴 − Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎 𝑠𝑒𝑐çã𝑜 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑣𝑒𝑟𝑠𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 𝑒𝑚 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜
A componente que actua na secção, perpendicular ao eixo, designa-se por tensão tangencial e
representa-se por 𝝉.
∆𝑭 𝒅𝑭
𝝉 = 𝐥𝐢𝐦 = 𝒅𝑨 .
∆𝑨→𝟎 ∆𝑨

𝑭
𝝉𝒎 = (𝟏. 𝟗)
𝑨
Onde:
𝐹 − 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑡𝑎𝑛𝑔𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 (𝑐𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒) 𝑎𝑐𝑡𝑢𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑛𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜
𝐴 − Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎 𝑠𝑒𝑐çã𝑜 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑣𝑒𝑟𝑠𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 𝑒𝑚 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜

A tensão normal quando diverge da secção transversal é positiva e quando converge negativa.
A tensão tangencial pode se decompor pélas coordenadas dos eixos em duas componentes:
𝝉𝒛𝒙 e 𝝉𝒛𝒚 .

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página20 de 25


Fig.1. 32 – Decomposição da tensão tangencial
Entre a tensão total e as suas componentes existe uma dependência expressa péla fórmula:

𝑝 = √𝜎𝑧2 + 𝜏𝑧𝑥
2 +𝜏 2
𝑧𝑦 (𝟏. 𝟏𝟎)

Ao longo de um corpo pode se marcar inúmeras secções e para cada uma delas tem o seu próprio
valor da tensão. Portanto, no cálculo da tensão é necessário mostrar não somente a posição do ponto
do corpo, mas também, a secção feita através desse ponto. O conjunto de tensões para muitas áreas,
que passam pêlo ponto, forma o estado de tensão do ponto.
A tensão na secção transversal está ligada com os factor de forças internas determinadas por diversas
variáveis.

Se da secção transversal tome-se infinitésimas áreas 𝑑𝐴. Por esta superfície num caso geral
actuam infinitésimas (elementares) forças internas (figura 1.32):

Fig.1. 32 – Representação das forças internas em função das tensões num ponto
𝑑𝑁𝑧 = 𝜎𝑧 𝑑𝐴; – normal
𝑑𝑄𝑥 = 𝜏𝑧𝑥 𝑑𝐴; – cortante em relação ao eixo x (1.11)
𝑑𝑄𝑦 = 𝜏𝑧𝑦 𝑑𝐴. – cortante em relação ao eixo y

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página21 de 25


Os correspondentes momentos elementares em relação às coordenadas dos eixos 𝑥, 𝑦, 𝑧 têm a forma:
𝑑𝑀𝑧 = (𝜏𝑧𝑥 𝑑𝐴)𝑦 − (𝜏𝑧𝑦 𝑑𝐴)𝑥; (1.12)
𝑑𝑀𝑥 = (𝜎𝑧 𝑑𝐴)𝑦;
𝑑𝑀𝑦 = (𝜎𝑧 𝑑𝐴)𝑥.
Resumindo ais infinitésima forças e momentos que actuam na secção obtêm-se as expressões que
relacionam os factores de forças internas (solicitações) com a tensão.

𝑁𝑧 = ∫ 𝜎𝑧 𝑑𝐴 ; 𝑀𝑧 = ∫ (𝜏𝑧𝑥 𝑦 − 𝜏𝑧𝑦 𝑥)𝑑𝐴


𝐴 𝐴

𝑄𝑥 = ∫𝐴 𝜏𝑧𝑥 𝑑𝐴 ; 𝑀𝑥 = ∫𝐴 𝜎𝑧 𝑦𝑑𝐴 (1.13)

𝑄𝑦 = ∫ 𝜏𝑧𝑦 𝑑𝐴 ; 𝑀𝑦 = ∫ 𝜎𝑧 𝑥𝑑𝐴
𝐴 𝐴

Da Mecânica Teórica, e a péla dependência entreténs as tensões 𝝉, 𝝉𝒛𝒙 𝒆 𝝉𝒛𝒚 , a expressão de 𝑴𝒛 pode
se escrever da seguinte forma:

𝑀𝑧 = ∫𝐴 𝜏𝜌𝑑𝐴 (1.14)

Onde 𝜌 = √𝑥 2 + 𝑦 2 (1.15)
As integrais acima definidas podem se utilizar para as calculadas solicitações na condição de se
conhecer a lei da distribuição das tensões péla superfície da secção em análise.

1.8 Deformações e Deslocamentos


Conceitos.
Sempre que uma força é aplicada a um corpo este tende a mudar de forma e/ou tamanho. Essas
mudanças podem ser perceptíveis a olho nu ou não. Um exemplo é a deformação que ocorre em
elementos estruturais de um edifício quando muitas pessoas estão em seu interior. De um modo
geral, a deformação em um corpo varia ao longo de seu volume.

1.8.1 Deformação normal


O alongamento ou contracção de um segmento de recta por unidade de comprimento é
denominado deformação normal, linear ou simplesmente deformação. Observe as figuras 1.33.

a) Corpo antes da deformação b) Corpo depois da deformação


Fig.1. 33 – Corpo à prova, deformação linear.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página22 de 25


Considere o corpo não deformado da figura 1.33 a). O seguimento de recta AB localiza-se ao
longo do eixo n e tem comprimento original de ∆𝒔. Após a deformação, os pontos A e B são
deslocados para as posições A´ e B´, respectivamente, e a recta torna-se curva, tendo um
comprimento de ∆𝒔´. A mudança de comprimento da recta, portanto, é ∆𝜹 = ∆𝒔´ − ∆𝒔.

∆𝒔´ − ∆𝒔 ∆𝜹
𝜺𝒎é𝒅 = = (𝟏. 𝟏𝟔)
∆𝒔 ∆𝒔

À medida que B se aproxima de A, o comprimento de AB diminui, isto é, ∆𝒔 → 𝟎 e B´ se


próxima de A´ de forma que ∆𝑠´ → 0 . Assim, no limite, a deformação normal no ponto A e na
direcção n é:
𝒅𝜹 𝒅𝜹
𝜺= 𝐥𝐢𝐦 = 𝒅𝒔 (1.17)
∆𝒔
𝑩→𝑨 𝒂𝒐 𝒍𝒐𝒏𝒈𝒐 𝒅𝒆 𝒏

Se ε é positivo, a recta inicial alonga-se, quando é negativo, a recta contrai-se.


Se for conhecida a deformação é possível se determinar o comprimento da recta deformada
através da equação 1.17.

∆𝒔´−∆𝒔
𝜺= → 𝜺. ∆𝒔 = ∆𝒔´ − ∆𝒔 (1.18)
∆𝒔

∆𝒔´ ≈ (𝟏 + 𝜺). ∆𝒔 (1.19)

Unidades: observe que a deformação normal é uma razão entre comprimentos e, portanto, à
dimensional. Na prática é comum expressar em termos da razão entre unidades de comprimento.
No SI, m/m. Outra possibilidade é 𝝁m/m. Uma deformação normal média de 400𝝁m/m significa
que cada 1 metro deste material sofre uma deformação de 400𝝁m. Perceba ainda que 400𝝁m/m
equivale a 𝟒𝟎𝟎 . 𝟏𝟎−𝟔 m/m ou ainda a 𝟒𝟎𝟎 . 𝟏𝟎−𝟒 que, em termos percentuais equivale a 0,04%.
Se são examinadas deformações em direcções dos eixos das coordenadas 𝒙, 𝒚 e 𝒛, o 𝜺 vem
acompanhado de índices 𝒙, 𝒚 𝒆 𝒛. Temos então 𝜺𝒙 , 𝜺𝒚 e 𝜺𝒛 ,
O vector cuja origem é um ponto do corpo deformado e o extremo é o mesmo ponto do corpo
deformado, denomina-se vector total de deslocação.
O deslocamento pode ser linear, quando segue a normal ou angular.

1.8.2 Deformação por cisalhamento ou deformação angular

Sejam agora, dois segmentos de recta AB e AC, com origem no mesmo ponto A e comprimento
tendendo a zero, originalmente perpendiculares entre si, direccionados ao longo dos eixos t e n. A
mudança de ângulo ocorrida entre os dois segmentos após a aplicação de um carregamento é
chamada de deformação por cisalhamento ou deformação angular ângulo ou deformação de
cisalhamento 𝜸 , é medido em radianos (rad). Após a deformação, as extremidades das rectas são
deslocadas e as próprias rectas se tornam curvas, de modo que o ângulo entre elas em A é 𝜽´, Figura
1.34.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página23 de 25


a) Corpo sem deformação b) Corpo com deformação

Fig.1. 34 – Corpo à prova, deformação linear

Portanto, define-se a deformação por cisalhamento no ponto A associado aos eixos n e t como:
𝝅
𝜸= − 𝐥𝐢𝐦 𝜽´ (1.20)
𝟐
𝑩→𝑨 𝒂𝒐 𝒍𝒐𝒏𝒈𝒐 𝒅𝒆 𝒏
𝑪→𝑨 𝒂𝒐 𝒍𝒐𝒏𝒈𝒐 𝒅𝒆 𝒕

𝜽~ 𝐬𝐢𝐧 𝜽 ~ 𝐭𝐚𝐧 𝜽
𝝅 𝝅
Note-se que, se 𝜽´ é menor que 𝟐 , a deformação por cisalhamento é positiva, se 𝜽´ é maior que 𝟐 , a
deformação por cisalhamento é negativa.
Da mesma forma que foi utilizada nas definições de tensão, imagine agora o corpo subdividido em
infinitos pequenos pedaços, conforme a Figura 1.35.

Fig.1. 35 – Corpo à prova antes da deformação.


Antes da deformação, esse elemento é rectangular, possuindo dimensões ∆𝒙, ∆𝒚 e ∆𝒛. Como
estamos supondo suas dimensões muito pequenas, após a deformação esse elemento assumirá a
forma de um paralelepípedo, conforme a Figura 1.36, uma vez que segmentos de recta muito
pequenos permanecem aproximadamente rectos após a deformação.

O formato deformado é atingido considerando-se primeiro como a deformação normal muda os


comprimentos dos
lados do elemento rectangular e, depois, como a deformação por cisalhamento muda os ângulos de
cada lado.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página24 de 25


Fig.1. 36 – Corpos a prova depois das deformações.
Portanto, usando a Equação 1.17, em relação aos eixos x, y e z, tem-se que os comprimentos
aproximados dos lados do paralelepípedo após a deformação são:

(1.21)
Os ângulos resultantes aproximados entre os lados são:

(1.22)
Observe que, as deformações normais provocam mudança de volume do elemento rectangular,
enquanto deformações por cisalhamento provocam mudança no seu formato. Naturalmente, ambos
os efeitos ocorrem simultaneamente durante a deformação.

Bibliografia:
• HIBBELER, R. C. - Resistência dos Materiais, 7ª Edição, São Paulo, Prentice Hall., 2004.

REMA – 3º Eléctrica - 2021 MSc. Engº. António Daniel Paturo Página25 de 25

Você também pode gostar