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tiveram mais facilidade para fazer suas reivindicações.2 Os jornais eram distribuídos por
vendedores ambulantes "rapazinhos italianos, negros e mulatos, que nos deixam quase surdos com a sua
gritaria", conforme nos informa o prussiano Carl von Koseritz3. Os pontos de venda eram os quiosques que
ofereciam também livros, impressos, flores, doces, charutos, cigarros, café e refrescos. Nesses locais, por
onde circulavam as notícias e as "últimas novidades", era comum a leitura dos textos em voz alta. Numa
sociedade marcada pelo analfabetismo, os periódicos eram mais ouvidos e vistos do que lidos. O aumento
do
cativos. A ação nas vias públicas para convencer os proprietários dos males do cativeiro
também era outro artifício usado pelos militantes. Os abolicionistas da Corte utilizaram
um método que surtia um efeito devastador sobre os senhores. Era o que eles
de algumas ruas do centro, escolhidas previamente, para libertarem os seus cativos, sob
ameaça de publicação de seus nomes nos jornais. Cada propagandista ficava responsável
por uma rua, devendo persuadir os senhores a eliminar a mancha que sujava a cidade. A
exemplo, preparou uma festa, na qual distribuíram dez cartas de alforria após
uma sessão de poesias, com destaque para o Navio Negreiro de Castro Alves, cuja
O Cidade do Rio convidou seus leitores a uma quermesse organizada na Igreja Nossa
Senhora do Rosário, por uma confraria negra, "em prol dos seus irmãos escravos".10
Outras associações ligadas à luta antiescravista, como por exemplo o Clube Dramático
como alvos, além de libertar, "educar o maior número de sócios de condição servil
1882.12
também para atingir os objetivos dos abolicionistas. Os jornais sempre davam grande
Polytheama, no centro da cidade, foi todo decorado por coroas de flores e bandeiras das
ruas centrais, com destaque para a Rua Uruguaiana, onde se encontrava a redação da
Mas nem sempre essas manifestações eram tão pacíficas, principalmente aquelas que faziam denúncias
contra as arbitrariedades dos governantes. As atitudes das autoridades durante o Gabinete do Barão de
Cotegipe contribuíram para o aumento
da tensão entre os abolicionistas e os que desejavam a preservação do cativeiro. A proibição de
"ajuntamentos em praças e ruas" quase provocou um confronto de graves proporções, em agosto de 1887,
quando a Confederação Abolicionista do Rio de Janeiro organizou um debate sobre a escravidão no Teatro
Polytheama. Durante o discurso de Quintino Bocaiúva, explodiram bombas dentro do recinto. Em seguida,
entraram "policiais armados de cacetes", que lutaram com os assistentes. Após a expulsão dos policiais para
o jardim, o recinto foi invadido por "um piquete de cavalaria e outro de infantaria". O embate foi evitado
após entendimentos mantidos entre os líderes e as autoridades policiais. Os espectadores foram para a Rua
do Ouvidor, protestando contra o governo e aclamando a Confederação Abolicionista.14
escravo.
chicote sobre as suas costas. Através desse ponto de vista, percebe-se como os jornais
Patrocínio, por ocasião das festividades pela abolição, assinalava como a “nação” agiu
de uma forma irmanada para eliminar a “mancha” que a impedia de alcançar o patamar
A maior Revolução Social de nossa terra está sendo feita entre bênçãos e
flores. Nada mais extraordinário: bastaram o atrito da imprensa e o calor
da palavra para limar os grilhões de três séculos de cativeiro. O que há de
mais admirável na nova fase de nossa vida civilizada é a uniformidade de
pensamento, desde o governo até o último
liberto.1
5
das celebrações. As ruas da cidade foram ornamentadas com bandeiras e flores. Nas
mobilização dos setores urbanos, com o apoio da imprensa, contribuiu para a derrocada
civilização.16
Mas, para que essa meta fosse alcançada, tornava-se essencial implementar reformas
e uma das formas para sua efetivação seria a repartição das terras para “melhorar a
Nabuco defendia a aplicação de uma lei agrária que permitisse ao Estado se apropriar de
áreas não-produtivas, visto que a propriedade tinha, além de direitos, deveres. No seu
Os abolicionistas destacavam que uma outra forma para “arrancar o negro da ignorância
e da inércia” era a universalização da educação básica. Para que isso fosse alcançado, o
Estado deveria fazer a “propagação da instrução pública, esta sólida argamassa com que
abolicionistas. Para eles, a educação seria um dos mecanismos para retirar o país do
“atraso” e, ao mesmo tempo, permitir que o ex-escravo não fosse simplesmente alvo da
exploração dos antigos senhores. Ou seja, a criação de condições para que os libertos se
Joaquim Nabuco defendia também a imigração européia que teria o mérito de conduzir o
negra” para que se empenhasse na construção do “futuro do nosso país”, apesar das
conforme o seu ponto de vista, para a eliminação do estigma racial e das origens
instintos e abandonariam o trabalho, porque, para eles, liberdade era o meio de exercer
O desafio que se apresentava para essas elites intelectuais era a forma de inserir negros
e mestiços na sociedade, após a abolição. Essa questão foi objeto de estudos e teorias,
no final do século XIX, sobre a própria formação da nação no Brasil, que se vinculava
diretamente à “questão racial” e à busca de uma nova identidade, que seria dada pela
ao que genericamente era denominado de “povo”. Para que isso fosse concretizado
deveria ser eliminada formas pejorativas e excludentes, como “Zé povinho”, utilizadas,
cotidiano brasileiro, seja através dos manuais didáticos ou então pelos valores
para manter os negros no cativeiro: o negro boçal, infantilizado, seria o único capaz de
nação, incorporando os antigos escravos ao mundo dos brancos. Mas, a inserção dos ex-
escravos foi realizada sem propostas concretas de redução das relações excludentes e
entendiam a abolição como uma concessão, uma dádiva dos abolicionistas aos escravos.
Esses eram considerados incapazes de agirem por conta própria, necessitando, portanto,
Nabuco era bastante explícito ao afirmar que o abolicionista era o “advogado gratuito de
duas classes sociais que, de outra forma, não teriam meios de reivindicar os seus
“civilizadas”. No entanto, nem o mais tênue sopro atingiu os libertos, após a extinção
apesar das reformas defendidas pelos abolicionistas. Assim, a análise dos vários
adversas em função de uma estrutura secular que traz conseqüências nefastas até os
nossos dias.