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Unidade III

Unidade III
7 TOXICOLOGIA DOS ALIMENTOS E DOS METAIS

Nesta unidade, semearemos o conhecimento da toxicologia dos alimentos. Teremos a oportunidade


de conhecer ainda melhor como podemos nos expor a substâncias potencialmente tóxicas que estão
presentes nos alimentos, identificaremos os principais riscos e saberemos como prevenir a intoxicação
causada por essas substâncias presentes nos alimentos.

Para que estejamos preparados para a colheita dos frutos da informação, também teremos a
oportunidade de compreender como os praguicidas, intensamente utilizados na agricultura e na
pecuária, podem trazer riscos de intoxicação a humanos e animais. Teremos, também, a oportunidade
de caracterizar algumas classes de praguicidas e verificaremos como é possível diagnosticar e tratar as
intoxicações causadas por essas substâncias.

7.1 Toxicologia dos alimentos

7.1.1 Classificação dos agentes tóxicos presentes nos alimentos

Vamos iniciar agora a parte da toxicologia que estuda os possíveis danos causados ao organismo
quando se expõe a substâncias químicas presentes nos alimentos: a toxicologia dos alimentos.

Para que tenhamos um visão holística dos contaminantes presentes nos alimentos, alguns autores,
como Mídio e Martins (2000), classificam os agentes tóxicos da seguinte forma, quando presentes nos
alimentos: agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos, contaminantes diretos de alimentos
e contaminantes indiretos de alimentos.

A forma de categorização e denominação que a literatura e as esferas governamentais utilizam para


se referir aos contaminantes de alimentos não é uníssona. Neste material, a classificação e definição
de contaminantes dos alimentos são fundamentadas por Mídio e Martins (2000), que nos parece uma
forma bastante didática de expressar as informações, ainda que seja apenas uma das diferentes formas
de apresentá-las.

Com relação aos agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos, como a própria
nomenclatura propõe, a substância química que pode causar dano no organismo faz parte da
constituição do alimento. Entretanto, quando uma substância química não faz parte do alimento,
mas em algum momento se torna parte dele durante o processamento, armazenamento, transporte,
distribuição ou produção, esse agente tóxico é considerado um contaminante direto do alimento.

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TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

A substância química que não é naturalmente presente e também não é aplicada diretamente no
alimento, mas que é utilizada ou aplicada no vegetal ou animal que dá origem ao alimento e que
consequentemente esteja presente nesse alimento, é denominada de contaminante indireto.

Também são consideradas contaminantes indiretos do alimento as substâncias químicas que a


legislação não permite que sejam usadas nas fontes produtoras de alimentos. Existem situações em
que a utilização de substâncias químicas é permitida, desde que sua presença ou de seus produtos de
biotransformação esteja no alimento na forma de traços ou resíduos e não ultrapasse o limite máximo
permitidido (LMP). São exemplos de contaminantes indiretos de alimentos os promotores do crescimento
animal, os antibióticos e os praguicidas.

Após essa visão geral de uma das maneiras de classificar os agentes tóxicos presentes nos alimentos,
faz-se necessário conversarmos um pouco sobre a segurança dos alimentos.

7.1.2 Segurança dos alimentos

O Codex Alimentarius, ou o Código Alimentar, é uma das principais referências utilizadas pelas
autoridades brasileiras para a aprovação da comercialização de produtos alimentícios. Trata-se de um
conjunto de diretrizes, padrões e códigos criado para que haja a proteção da saúde do consumidor.
Ele auxilia na promoção de práticas adequadas na comercialização de alimentos e compõe o ponto
principal do Programa Conjunto de Normas Alimentares da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO) e da OMS. Sua primeira reunião ocorreu em 1963 e suas diretrizes nos
trazem alguns importantes conceitos, como veremos agora.

7.1.2.1 Aditivos geralmente reconhecidos como seguros (Gras)

Neste tópico, estudaremos os Gras, ou seja, os aditivos geralmente reconhecidos como seguros.

Exemplo de aplicação

Quando se prepara alguma refeição em sua casa, ao adicionar cloreto de sódio (sal de cozinha) na
salada, a pessoa que está cozinhando usa luvas especiais para poder pegar o cloreto de sódio e temperar
a salada? Pesa na balança analítica com quatro casas decimais a quantidade exata de cloreto de sódio
para adicionar ao alimento?

Imaginamos que não! Mas, nessa linha de raciocínio, vamos a mais uma reflexão.

Exemplo de aplicação

Quais são os danos causados a humanos quando se coloca um pouco de canela no arroz doce ou um
pouco de cravo no doce de abóbora?

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Não há dano no organismo humano quando se expõe a esses aditivos alimentares em baixas
quantidades. Existem alimentos que sabemos que não causam danos ao organismo nas condições em
que normalmente as pessoas se expõem.

Assim, quando se adiciona uma substância no alimento (aditivo alimentar) e essa substância é
adequadamente segura nas condições de uso, ela é conhecida como “segura” e se utiliza o acrônimo Gras
(generally recognized as safe) para identificá-la. As condições seguras de exposição são fundamentadas
na experiência do uso comum das substâncias ou caracterizadas por métodos científicos. O sal de
cozinha, o cravo-da-índia e a canela são alguns exemplos de aditivos classificados como Gras, e para
eles não existe ingestão diária aceitável (IDA), ou seja, não há quantidade máxima que possa ser utilizada
no alimento, diferentemente dos edulcorantes artificiais (ABDALLAH, 2002).

7.1.2.2 Ingestão diária aceitável (IDA)

Segundo o programa conjunto FAO/OMS para padrões alimentares, a IDA é uma estimativa da
quantidade de uma substância química na água potável ou nos alimentos que pode ser ingerida
diariamente, ao longo da vida, sem considerável risco de intoxicação, sendo expressa com base no peso
corporal, cujo padrão humano é de 60 kg e é listado em unidades de miligrama (mg) da substância
química por quilo (kg) de peso corpóreo (mg.kg-1) (JOINT FAO/WHO EXPERT COMMITTEE ON FOOD
ADDITIVES, 2016).

7.1.2.3 Limite máximo de resíduos (LMR)

Há outros parâmetros importantes na toxicologia de alimentos que devem ser observados,


como o limite máximo de resíduos (LMR). Segundo a Anvisa (2016), “limite máximo de resíduos é a
quantidade máxima de resíduos de agrotóxicos ou afins – oficialmente permitida no alimento – em
decorrência da aplicação em uma cultura agrícola, expresso em miligramas do agrotóxico por quilo
do alimento (mg.kg-1)”.

Feita a apresentação sobre alguns importantes conceitos utilizados na segurança dos alimentos,
vamos conhecer um pouco mais sobre os riscos da exposição às substâncias químicas naturalmente
presentes neles.

7.1.3 Agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos

7.1.3.1 Introdução

Em vários momentos neste material, tivemos a oportunidade de reconhecer que humanos e


animais se intoxicaram pela exposição aos vegetais. De forma sucinta, recordamos que havia um
imperador que tinha um jardim botânico com plantas tóxicas, que beber suco de plantas tóxicas era
a forma de execução na antiga Grécia, que reis, rainhas e celebridades foram mortos por substâncias
químicas extraídas de plantas e que essas mesmas substâncias também eram colocadas na ponta de
flechas para caçar.

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TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

O significado maior dessas informações se associa ao fato de que pode haver substâncias químicas
presentes nos vegetais que podem causar danos ao referencial biológico, dependendo das condições
de exposição.

Lembrete

Toda substância química pode ser considerada um agente tóxico,


dependendo das condições de exposição.

Você já parou para pensar que grande parte de nosso alimento é de origem vegetal e que alguns
desses alimentos também podem causar intoxicação em humanos ou animais? Sim, é verdade!

Imaginamos que você já tenha ouvido falar que a mandioca brava ou amarga é “venenosa”, não é?
É isso mesmo! Dependendo das condições de exposição (iremos contextualizar posteriormente, neste
tópico), a exposição à mandioca amarga pode, sim, romper a homeostase e causar danos a animais
ou a humanos.

Mas já parou para pensar na composição dos alimentos como um todo? Vamos analisar a seguir, de
forma geral, como pode ser constituído um alimento de origem vegetal.

Ao nos expor a alimentos, esperamos obter nutrientes que sejam fundamentais para o funcionamento
do nosso organismo. Você também parou para pensar que o vegetal, ou seja, o alimento, não é constituído
apenas por nutrientes?

Segundo Mídio e Martins (2000), o alimento de origem vegetal é constituído de substâncias que
apresentam propriedades nutrientes, não nutrientes e até mesmo antinutrientes.

Há substâncias químicas presentes no alimento vegetal que são aproveitadas apenas pelo vegetal,
sem representar alguma funcionalidade para humanos ou animais. São substâncias responsáveis, por
exemplo, pela sustentação ou vascularização do vegetal e não nos apresentam finalidade alguma.
Na verdade, essas substâncias são as prevalentes no vegetal.

Um exemplo de substância antinutriente é a tripsina, encontrada na soja e no feijão. Começamos


assim a observar que, em alimentos, pode haver centenas de diferentes substâncias químicas (veja a
tabela a seguir), com diferentes funções para o vegetal, os humanos e animais.

Tabela 11 – Quantidade de não nutrientes no alimento

Número de substâncias não


Alimento nutrientes no alimento
Queijo cheddar 160
Suco de laranja 250
Banana 325

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Número de substâncias não


Alimento nutrientes no alimento
Tomate 350
Vinho 475
Café 625

Adaptada de: Klaassen et al. (2001).

Também pode haver substâncias presentes nos alimentos que, dependendo das condições de
exposição, podem causar danos ao referencial biológico, e, nesse momento, essas substâncias compõem
o cerne de nosso estudo: os agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos.

7.1.3.2 Glicosídeos cianogênicos

Vamos entender como podemos estar expostos a esse grupo de substâncias tóxicas.

Um produto conhecido por multimistura (MM) é utilizado em algumas regiões do Brasil, estimulado
pela Pastoral da Criança, uma organização não governamental (ONG), para que sejam disponibilizados
nutrientes para crianças carentes. Esse preparado é feito a partir de folhas verdes escuras, como couve,
mandioca, batata-doce e espinafre, e de sementes como a da abóbora, da soja e do girassol, e o preparo
desse suplemento alimentar é transformado em pó (HELBIG; BUCHWEITZ; GIGANTE, 2008).

Sabe aonde queremos chegar ao trazer a você a MM? Essa composição pode ser uma importante
fonte de substâncias antinutricionais, como oxalatos e fitatos, com consequente comprometimento na
absorção de nutrientes, a despeito de ser um preparado com o objetivo de enriquecer a alimentação
de pessoas socialmente desfavorecidas, e ainda pode conter o ácido cianídrico (HCN), proveniente do
processamento incorreto da folha de mandioca-amarga.

Observação

Pessoas que apresentam dieta pobre em vitamina B12 e em aminoácidos


com grande quantidade de enxofre são mais vulneráveis à contaminação
pelo ácido cianídrico.

Animais também são passivos à exposição a alimentos contendo glicosídeos cianogênicos e,


dependendo das condições de exposição, podem se intoxicar. Bovinos podem se intoxicar por Piptadenia
macrocarpa, que contém glicosídeos cianogênicos em suas folhas, com teores mais elevados durante
sua fase de brotação, a qual ocorre em outubro, em comparação com suas folhas maduras, que
ocorre em março.

Assim, a fase de desenvolvimento do vegetal interfere diretamente nas concentrações presentes de


glicosídeos cianogênicos, fato que se observa com outros agentes tóxicos naturalmente presentes nos

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TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

alimentos, como a α-solanina, glicoalcaloide presente em maiores concentrações em partes da batata


com elevada atividade metabólica.

Outras espécies de vegetais também podem concentrar glicosídeo cianogênico e consequentemente


podem intoxicar de forma aguda bovinos, como folhas de Holocalyx glaziovii, Manihot glaziovii,
Piptadenia spp., Piptadenia viridiflora e Piptadenia macrocarpa (TOKARNIA et al., 2012).

Exemplo de aplicação

Gostaríamos que refletisse um pouco e nos trouxesse o que você entende por glicosídeo e glicosídeo
cianogênico e a sua relação com o ácido cianídrico.

Observação

Glicosídeos são substâncias que apresentam em sua estrutura química


um açúcar e uma porção não açúcar, denominado de aglicona ou genina.

A aglicona, nos glicosídeos cianogênicos, pode dar origem ao HCN, caso sejam hidrolisados. Caso
não haja a hidrólise do glicosídeo cianogênico, não há a liberação da aglicona e, consequentemente, não
há a formação do ácido cianídrico.

Cerca de 2.000 espécies vegetais contêm glicosídeos cianogênicos. Um exemplo é o angico preto,
distribuído na região Nordeste do país. Temporais podem derrubar seus galhos, e essas árvores também
podem ser derrubadas pelo homem. Depois disso, o gado ingere as folhas quentes e murchas dessa
planta e se intoxica com o HCN (AMORIM; MEDEIROS; RIET-CORREA, 2006).

Condições de hidrólise dos glicosídeos cianogênicos

Para que haja intoxicação pelos glicosídeos cianogênicos, há a necessidade de hidrólise. Apenas após
a efetiva hidrólise é que ocorre a liberação da aglicona e ela se transforma em HCN.

Observação

Sem a hidrólise do glicosídeo cianogênico, não há intoxicação.

O HCN é popularmente chamado de cianeto ou cianureto. Entretanto, ressalta-se que para que haja
intoxicação o cianeto deve estar na forma molecular. Assim, ainda que não se fale da forma correta,
sobretudo quando há informações trocadas por leigos, deve-se entender que a substância que age no
organismo, inibe a fosforilação oxidativa e causa o dano é o ácido cianídrico em sua forma molecular,
ou seja, o HCN.

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A hidrólise dos glicosídeos cianogênicos pode ocorrer em três diferentes situações, segundo Mídio
e Martins (2000).

• Meio com baixo pH: quando há a exposição pelo trato digestório, em função do baixo pH do suco
gástrico, ocorre a hidrólise do glicosídeo cianogênico, com a liberação da aglicona e consequente
formação do HCN.

Dentro desse contexto, entendemos que, caso não haja a exposição por essa via, não há a interação
entre o glicosídeo cianogênio e o suco gástrico; consequentemente, não ocorre a hidrólise do glicosídeo
cianogênico condicionada ao baixo pH do meio.

• β-glicosidases: essas enzimas são produzidas pela microbiota. Assim, caso o glicosídeo
cianogênico não seja hidrolisado pelo suco gástrico, possivelmente será no intestino.

• Glicosidases específicas: dependendo do alimento, pode haver a presença de enzimas no próprio


vegetal que normalmente não interagem diretamente com os glicosídeos cianogênicos. Entretanto,
caso haja essa interação, são capazes de catalisar a hidrólise dos glicosídeos cianogênicos, liberar
a aglicona e levar à formação do HCN.

Exemplo de aplicação

Gostaríamos que fizesse mais uma reflexão: se as glicosidases específicas estão presentes no
alimento, por que não interagem com os glicosídeos cianogênicos e, consequentemente, não liberam o
ácido cianídrico normalmente?

Como exposto, as glicosidases específicas são enzimas capazes de hidrolisar os glicosídeos


cianogênicos, que podem estar em tecidos diferentes daqueles onde os glicosídeos se localizam,
podem estar em compartimentos diferentes dentro do mesmo tecido ou, ainda, podem estar
presentes na mesma célula e no mesmo compartimento intracelular, mas não atuam por ação de
inibidores endógenos.

Entretanto, caso seja feito um suco de maçã e se triture a polpa do fruto com suas sementes,
provavelmente haverá a interação entre os glicosídeos cianogênicos presentes nas sementes das maçãs
e as glicosidases específicas, que os hidrolisará, e haverá a liberação da cianidrina, como a aglicona, que
formará o HCN.

Observação

A quantidade de HCN liberado pelas sementes de algumas maçãs é


insuficiente para causar efeito agudo em humanos adultos. Ainda assim,
merece cuidado a criança de alguns meses de vida, que eventualmente
se exponha a esse suco preparado dessa forma, ou a exposição
crônica por adultos
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TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observe que há situações em que ocorre a ruptura da estrutura celular da raiz do vegetal, como
da Manihot glaziovii, e ocorre a liberação da linamarase, uma das enzimas capazes de hidrolisar os
glicosídeos cianogênicos. Com isso, ocorre a hidrólise, a liberação do HCN, cuja exposição por via oral,
ou até mesmo pela inalação, pode levar a casos de intoxicação aguda.

Toxicodinâmica do ácido cianídrico

Como visto em detalhe anteriormente, o HCN inibe o processo de fosforilação oxidativa e leva o
organismo ao colapso, por não produzir energia (ATP). A asfixia tissular resultante da anóxia histotóxica
faz com que o sangue apresente uma coloração vermelho-brilhante, uma vez que a oxihemoglobina
(HbO2) não libera o oxigênio para a transferência eletrônica mitocondrial.

Sinais e sintomas de intoxicação pela exposição aos glicosídeos cianogênicos

Os sinais e sintomas de intoxicação se instalam rapidamente em humanos e mesmo em animais de


grande porte (veja a figura a seguir) após a exposição a alimentos ou plantas que contêm glicosídeos
cianogênicos (AMORIM; MEDEIROS; RIET-CORREA, 2005).

Figura 145 – Marcante dificuldade respiratória e membros


abertos de caprino intoxicado pelo HCN

Mesmo durante a ingestão do vegetal, o organismo começa a apresentar sialorreia e dificuldade


respiratória, com respiração rápida e curta, as mucosas tornam-se cianóticas com aumento da frequência
cardíaca e opistótono, e o animal ou humano chega a cair. Em um segundo momento, mas pouco tempo
após a apresentação da sintomatologia da intoxicação, a dispneia acentuada precede o coma. A morte
pode ocorrer minutos após o início da exposição e ocorre pela parada respiratória (AMORIM; MEDEIROS;
RIET-CORREA, 2006).

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Tratamento da intoxicação pelo ácido cianídrico

O tratamento da intoxicação pelo HCN que apresentaremos a seguir é utilizado independentemente


da fonte de exposição desse agente tóxico: alimento, vazamento de um container, inalação acidental do
gás, entre outros.

Há alguns protocolos de tratamento quando ocorre a intoxicação pelo ácido cianídrico.

Observação

Sugerimos que revise a toxicodinâmica do ácido cianídrico em detalhes


para que compreenda com maior facilidade a informação a seguir.

Alguns minutos após a exposição a alimentos contendo glicosídeos cianogênicos já são suficientes
para que haja a manifestação dos sinais e sintomas de intoxicação, e o tratamento precisa ser rápido,
dependendo da quantidade de glicosídeo cianogênico ao qual o organismo se expôs.

Observação

O tratamento da intoxicação pelo ácido cianídrico demonstra uma


incrível dicotomia. Preste atenção na explicação a seguir.

Uma das formas de tratamento é a administração de nitrito de sódio (NaNO2) (EV). Como vimos
anteriormente, essa substância química é um agente metemoglobinizante. Em um primeiro momento,
parece um contrassenso administrar essa substância em uma circunstância como essa, uma vez que
a fosforilação oxidativa está sendo inibida, ou seja, com esse tratamento, chegará uma quantidade
ainda menor de oxigênio às células, já que a metemoglobina (MeHb) é incapaz de carrear oxigênio para
tecidos remotos.

Entretanto, o recorte que se faz nesse momento é que o HCN possui mais afinidade à MeHb que o
HCN em relação à citocromo oxidase que está sendo inibida pelo HCN na mitocôndria. Dessa forma,
quando se metemoglobiniza o paciente, a MeHb retira o cianeto que está inibindo o processo de
fosforilação oxidativa mitocondrial.

Resolve-se um problema e cria-se outro: a inibição enzimática é revertida e restaura-se a


transferência eletrônica mitocondrial, mas a fosforilação oxidativa ainda não é restaurada, por não
haver oxigênio nas células, ou por que seus teores estão baixos, uma vez que o transporte de oxigênio
molecular que seria realizado pela hemoglobina não ocorre, por esta se encontrar metemoglobinizada.

Nesse momento, o sangue do paciente ou do animal apresenta um pigmento denominado


cianometemoglobina (CNMeHb). Esse procedimento, realmente, não é fácil de ser compreendido e

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TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

muito menos de ser realizado. Vamos seguir em frente, ou melhor, vamos dar um passo para trás, para
retomar uma passagem, e já vamos evoluir no raciocínio.

Por que o organismo está metemoglobinizado? Porque se administrou o nitrito de sódio.

Por que se administrou o nitrito de sódio? Para metemoglobinizar.

Para que se metemoglobiniza o organismo?

Volte alguns parágrafos e releia com calma: a MeHb tem afinidade com o cianeto e o retira da
inibição enzimática que está acontecendo na mitocôndria.

Agora, a MeHb interage com o HCN que estava na mitocôndria e forma esse pigmento
denominado de CNMeHb.

Observe a continuidade do tratamento da intoxicação.

Se a MeHb é um problema importante para o organismo, caso a MeHb esteja ligada ao cianeto
(CNMeHb), a situação fica ainda mais crítica, uma vez que o oxigênio precisa ser transportado para
tecidos remotos, distantes do local de absorção do oxigênio, mas não conseguirá dessa forma.

Temos um importante problema toxicológico para equacionar. O que fazer agora?

Para resolver esse problema, administra-se o tiossulfato de sódio (EV). Essa substância doará enxofre
para a CNMeHb e, por consequência, dará origem ao tiocianeto (SCN) e à MeHb.

O SCN possui importância na exposição crônica, como veremos a seguir, mas não na exposição
aguda. Assim, prioriza-se o tratamento da intoxicação pela MeHb.

Vamos fazer uma breve recapitulação antes de prosseguirmos com o tratamento?

Exemplo de aplicação

Problema inicial: o HCN bloqueia a transferência de elétrons na mitocôndria.

Resolução do problema: administra-se NaNO2 (EV), que irá metemoglobinizar o organismo e a MeHb
formada, assim como remover o ácido cianídrico que está bloqueando o sistema enzimático.

Problema gerado: forma-se a CNMeHb (HCN que foi retirado + MeHb formada).

Resolução do problema: administra-se tiossulfato de sódio (EV).

Problema gerado: a CNMeHb se transforma em metemoglobina.

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Acompanhou o raciocínio?

Lembre-se: o paciente precisa de cuidado urgente. O que se faz agora?

Lembrete

Você se recorda da diaforase II? É agora que ela entra em ação.

Administra-se o azul de metileno (EV), que é um carreador exógeno de elétrons. O azul de metileno,
ao doar elétrons, induz redução da MeHb a HbO2, ou seja, o ferro férrico (Fe3+) presente nos anéis
pirrólicos do grupamento heme ganha elétron e é reduzido a ferro ferroso (Fe2+). Assim, a MeHb se
transforma em HbO2, restaurando a fosforilação oxidativa e o aporte de oxigênio aos tecidos remotos.
Uma vez que a citocromo oxidase não mais estará inibida, haverá oxigênio para receber elétrons na
mitocôndria, levando à formação do ATP com subsequente produção de energia para o organismo.

Você percebeu como o tratamento desse tipo de intoxicação é bastante complexo? O cuidado não
para por aí: preste atenção no parágrafo a seguir.

Sabemos que o azul de metileno é um agente redutor para a MeHb. Entretanto, seu excesso atua
como agente metemoglobinizante. Caso o tratamento da intoxicação aguda pelo HCN seja realizado
por profissionais sem a expertise necessária, a dose administrada de azul de metileno pode ser o agente
responsável pela metemoglonização do paciente e levá-lo à morte.

7.1.3.3 Glicosídeos tiocianogênicos

Os glicosídeos tiocianogênicos também são conhecidos como glicosinolatos ou tioglicosídeos.


São compostos que conferem o sabor mais “picante” do alimento, principalmente de condimentos como
a mostarda, e que também estão presentes no nabo, couve-flor, couve, brócolis e repolho. Brassicaceae
é uma das principais famílias de alimentos que contêm os glicosinolatos, os quais podem estar em
praticamente todas as partes da planta, como folhas, caule, sementes e raiz.

A mirosinase ou tioglicosidase são diferentes nomes para a mesma enzima presente no citosol de
células vegetais e no intestino de ratos e humanos, que é capaz de hidrolisar os glicosinolatos.

Os glicosídeos tiocianogênicos estão localizados nos vacúolos. Dessa forma, não há a hidrólise dos
glicosinolatos caso o vegetal esteja íntegro, diferentemente de sementes em estado de germinação,
quando ocorre a pronta hidrólise desse glicosídeo (MÍDIO; MARTINS, 2000).

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TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observação

Sem a hidrólise dos glicosinolatos, não há a manifestação dos


efeitos tóxicos.

Dessa forma, quando o vegetal é submetido à trituração, à maceração ou ao cozimento, há o contato


entre o glicosídeo tiocianogênico e as enzimas, e ocorre a hidrólise enzimática, com consequente
liberação do açúcar e da aglicona, que é instável. Nesse momento, já houve a hidrólise do glicosídeo
tiocianogênio, e o que nos importa agora é a aglicona liberada pela hidrólise.

Observação

Gostaríamos que você se atentasse à origem do tiocianato: essa


substância é responsável pela atividade goitrogênica.

Quando presente em um meio alcalino ou neutro, a aglicona se decompõe a isotiocianato,


e, na presença de ferro ferroso ou em meio ácido, a aglicona formada pela hidrólise do glicosídeo
tiocianogênico dá origem a sulfato inorgânico, enxofre elementar e nitrila.

Observação

Os produtos de hidrólise dos glicosídeos tiocianogênicos, como


o isotiocianato e as nitrilas, são responsáveis pelo sabor e aroma de
algumas Brassicaceae.

Como o isotiocianato é instável em pH alcalino ou neutro, quando se encontra em meios com essa
faixa de pH, origina os tiocianatos orgânicos.

Agora, providos dessas informações, temos condição de compreender que, a partir da hidrólise
dos glicosídeos tiocianogênicos, são liberadas substâncias químicas denominadas goitrogênicas ou
bociogênicas, descritas a seguir.

• Isotiocianato: substâncias químicas como o aliltiocianato, presente em alimentos como o azeite


de mostarda, e o isotiocianato são transformadas em tiocianato e apresentam propriedades
bociogênicas, sobretudo em dietas pobres em iodo (MÍDIO; MARTINS, 2000).

• Tiocianato: o tiocianato, em uma exposição aguda, não apresenta muita importância toxicológica.
Entretanto, na exposição crônica, o tiocianato é relevante, à medida que inibe a incorporação de
iodo pelos hormônios tireoidianos e leva ao bócio, em última instância.

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Para que você tenha dimensão de como essas informações impactam no dia a dia das pessoas e
podem efetivamente causar danos ao organismo humano e de animais, há algumas regiões da Europa,
como na Eslováquia e na República Tcheca, em que há significativa prevalência de bócio pela exposição
crônica a elevados teores de tiocianato presentes em Brassicaceae, popularmente chamadas de vegetais
florais, como brócolis, couve, rabanete, rúcula, agrião, acelga, couve-flor e repolho.

Lembrete

Toda substância pode ser considerada um agente tóxico, dependendo


das condições de exposição.

(s)-5-vinil oxazolidina-2-tiona (S-5-vinil OZT)

A substância química 2-hidroxi-3-butenilglicosinolato, também conhecida por pró-goitrina quando


hidrolisada, dá origem à (s)-5-vinil oxazolidina-2-tiona, denominada de goitrina (MÍDIO; MARTINS, 2000).

Observação

O termo “goitrina” advém de “goiter”, que significa bócio, ou seja, é uma


substância goitrogênica ou bociogênica.

A goitrina impede a incorporação do iodo pelos hormônios tireoidianos e, consequentemente, esses


hormônios não são formados. Nessa perspectiva, por feedback negativo, há a informação para que haja
maior produção e liberação de hormônio tireoestimulante (TSH) pela adenohipófise, para estimular a
produção de tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3). Como esses hormônios não são formados por conta
do iodo não ser incorporado a eles, a tireoide fica sempre sendo estimulada, mas sem efetividade.
Esse fenômeno leva ao bócio.

7.1.3.4 Glicoalcaloides

A batata (Solanun tuberosum L.) contém glicoalcaloides como solanidina, solanidona, espirosolanos,
α-chaconina e α-solanina. Esses dois últimos representam cerca de 95% de todos os glicoalcaloides
presentes nesse tubérculo, possivelmente para conferir ao vegetal proteção contra microrganismos e
insetos. A maior quantidade de α-solanina e α-chaconina é encontrada em locais de elevada atividade
metabólica, como brotos, e imediatamente abaixo da casca (quando ainda verde) do tubérculo. Quando
há um estresse na batata, como um dano por ter batido em alguma superfície, por exemplo, há grande
depósito desses glicoalcaloides (MÍDIO; MARTINS, 2000).

Você já teve a oportunidade de comer casca frita de batata ou batata frita com casca?

Quem teve a oportunidade sabe que tem um sabor mais “picante” ou amargo e que pode gerar uma
sensação de ardor na boca ou garganta: são os glicoalcaloides que dão essa sensação.
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Observação

Viu como a toxicologia também nos auxilia na compreensão de alguns


fenômenos até então incompreensíveis? É a construção do conhecimento.

A quantidade de glicoalcaloides no alimento pode variar significativamente em função da umidade,


do tipo de solo, da variação genética, da forma como é armazenada e dos praguicidas que são utilizados
no cultivo, além da poluição atmosférica.

Ainda que raro de acontecer, mas não impossível, a exposição a teor de 380 mg/kg a 450 mg/kg de
α-solanina na batata pode ser fatal para humanos, e a α-chaconina é teratogênica para hamsters e
camundongos.

Será que submeter a batata a elevadas temperaturas reduz a toxicidade dos glicoalcaloides presentes
nesses tubérculos?

Submeter o alimento a elevadas temperaturas pode, efetivamente, prevenir possíveis danos ao


organismo humano, mas também há situações em que fazer isso parece ser um procedimento sem
efeito, uma vez que o cozimento das batatas não é capaz de reduzir a concentração dos glicoalcaloides
no alimento. Não adianta levar o alimento ao micro-ondas, assá-lo, fervê-lo ou submetê-lo à fritura
porque os teores de glicoalcaloides não serão reduzidos: essas substâncias são termoresistentes.

Há situações em que submeter o alimento a elevadas temperaturas pode, inclusive, aumentar o risco
de intoxicação, como veremos adiante.

7.1.3.5 Oxalatos

O ácido oxálico está presente em raízes como a beterraba, sementes e grãos de cereais, castanhas,
leguminosas como o feijão, alface, cenoura, chá e cacau e atua na proteção desses vegetais. A ingesta
de oxalato é praticamente inevitável, uma vez que está naturalmente presente nos alimentos.

Nos alimentos, o ácido oxálico pode formar oxalatos insolúveis, como o oxalato de cálcio, ou
solúveis, como os de sódio e de potássio, dependendo da interação com íons presentes nos alimentos
(GORDIANO et al., 2014).

Observação

Observe a influência da temperatura na toxicidade das substâncias


químicas presentes nos alimentos novamente.

349
Unidade III

A elevada temperatura elimina os oxalatos solúveis dos alimentos, mas não os insolúveis, que
permanecem no vegetal praticamente íntegros.

A exposição crônica aos oxalatos pode levar a algumas situações importantes do ponto de vista
toxicológico. O pH intestinal parece favorecer a ligação dos oxalatos com o cálcio e, consequentemente,
a absorção do cálcio pode ser comprometida e levar à hipocalcemia, tendo como consequência um
quadro de acentuação da osteoporose, do raquitismo e da hipocalcemia.

A hipocalcemia também pode levar a parestesia de extremidade dos membros, espasmos musculares,
câimbras intensas, náusea, vômito, sudorese, cólicas abdominais, asma, dificuldade de realização de
movimentos pela musculatura esquelética, irritabilidade do SNC, fibrilação e convulsão. Os oxalatos
de cálcio formados podem gerar supressão da urina, hematúria e cálculos renais, caso sejam depositados
na bexiga urinária e ureteres.

A intoxicação aguda ocorre pela exposição de ao menos 1 g de oxalato por dia e é caracterizada por
náusea, vômito, dor, queimação e irritação gástricas.

7.1.3.6 Alcaloides pirrolizidínicos

Os alcaloides pirrolizidínicos podem intoxicar humanos e herbívoros e estão presentes em mais


de 6.000 diferentes espécies vegetais, sendo que espécies dos gêneros Crotalaria, Echium, Senecio e
Heliotropium são as maiores responsáveis por essas intoxicações.

Quadro 23 – Algumas espécies de vegetais comuns no Brasil,


que contêm alcaloides pirrolizidínicos

Espécie Nome popular


Senecio brasiliensis (Spreng.) Less. (Asteraceae) Maria-mole, flor-das-almas
Eupatorium laevigatum Lam. (Asteraceae) Mata-pasto
Heliotropium indicum L. (Boraginaceae) Crista-de-galo
Heliotropium transalpinum Vell. (Boraginaceae) Bico-de-corvo
Symphytum officinale L. (Boraginaceae) Confrei

Adaptado de: Bieski et al. (2015) e Lucena et al. (2010).

Algumas pessoas utilizam espécies de Crotalaria para revestir e proteger o solo contra a erosão, mas
suas sementes podem germinar e competir pelo espaço com plantas ou até mesmo durante a colheita,
quando sementes de Crotalaria spp. podem ser coletadas juntamente a outros grãos e a pessoa ou
animal pode se contaminar ao ingerir esses grãos.

Lucena et al. (2010) demonstraram que a exposição crônica a Senecio sp. e a C. retusa, espécies que
contêm alcaloides pirrolizidínicos, é a principal causa da morte de bovinos e equinos nos estados do Rio
Grande do Sul e no semiárido brasileiro, respectivamente.

350
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Saiba mais

Sugerimos que você leia o artigo:

LUCENA, R. B. et al. Intoxicação por alcaloides pirrolizidínicos em


ruminantes e equinos no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 30, n. 5,
p. 447-452, 2010.

As plantas tóxicas que mais frequentemente produzem agravos à saúde de humanos, do


gado e de animais selvagens são, provavelmente, aquelas que contêm alcaloides pirrolizidínicos.
Segundo Honório Júnior et al. (2010), os alcaloides pirrolizidínicos podem causar danos ao pulmão,
rins e coração e são potencialmente carcinogênicos. A biotransformação da monocrotalina,
principal alcaloide pirrolizidínico, pela ação da oxidase de função mista presente no fígado gera
metabólitos ativos tipo pirrólicos, extremamente reativos e capazes de interagir covalentemente
com macromoléculas nucleofílicas (HONÓRIO JÚNIOR et al., 2010).

Agora que vimos alguns agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos, vamos avançar na
matéria e entrar em um novo assunto: os contaminantes diretos de alimentos.

7.1.3.7 Nitratos e nitritos

No ambiente, o nitrato (NO3-) é formado por meio de uma sequência de reações de oxidação, em
que o amônio (NH4+) é oxidado a nitrito (NO2-) pelas bactérias nitrosomonas e as nitrobactérias oxidam
o NO2- a NO3-, segundo as equações a seguir (MÍDIO; MARTINS, 2000):

2NH4+ + 2OH- + 3O2- ↔ 2NO2- + 2H+ + 4H2O

2NO2- + O2 ↔ 2NO3-

Dependendo de algumas condições como a temperatura, os alimentos de origem vegetal podem


concentrar NO2- e NO3-.

Em uma perspectiva maior, o organismo humano apresenta dois riscos pela exposição aos NO2- e
NO3-. O primeiro associa-se aos riscos de intoxicação aguda em crianças de até seis meses de idade, e o
segundo está associado à exposição crônica de adultos.

Nesse momento, você já possui elementos para compreender por que as crianças de até seis meses
de vida são vulneráveis a agentes metemoglonizantes, não é?

351
Unidade III

Riscos toxicológicos na exposição aguda aos nitratos e nitritos

A exposição a alimentos que tenham significativo teor de NO2- e NO3- naturalmente presentes no
alimento, adicionados intencionalmente ou até mesmo presentes na água, pode metemoglobinizar
crianças nessa faixa etária.

Observação

O raciocínio utilizado para os mecanismos de ação dos nitritos e nitratos


é o mesmo, independentemente de estarem naturalmente presentes nos
alimentos ou se adicionados intencionalmente a eles.

Uma situação que pode acontecer, sobretudo na zona rural das cidades, é que, ao chover, fertilizantes
podem ser lixiviados do solo para a água de poço, e o nitrogênio presente nesses fertilizantes pode ser
oxidado, ficando disponível na água. Ao preparar um chá com água de poço ou mesmo servir água à
criança, pode haver exposição a elevados teores de NO2- e NO3- e, consequentemente, a criança pode
ser metemoglobinizada.

Lembrete

Como vimos anteriormente, as crianças de até seis meses de idade


produzem baixos teores de um dos principais sistemas redutores
humanos, a diaforase I.

Adultos, diferentemente das crianças de zero a seis meses de idade, conseguem produzir quantidade
de diaforase I suficiente para que não sejam metemoglonizados, normalmente.

Um dos maiores cuidados que se deve ter para a metemoglobinização de adultos é na exposição
ocupacional, quando se trabalha com agentes metemoglobinizantes como anilina, dapsona, nitrobenzeno
e trinitrotolueno ou quando o organismo apresenta deficiência hereditária da glicose-6-fosfato
desidrogenase (G6PD).

7.1.4 Contaminantes diretos de alimentos

Vimos até agora que o agente tóxico pode fazer parte do vegetal, ou seja, estar naturalmente
presente. Entretanto, durante o armazenamento de um alimento pode ocorrer uma contaminação
fúngica, e, caso esse fungo produza uma toxina como produto de metabolismo secundário, o fungo e a
toxina são considerados contaminantes diretos dos alimentos. O aditivos intencionais, metais, compostos
N-nitrosos e micotoxinas também podem ser classificados dessa forma.

352
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Lembrete

Além do processo de armazenamento, durante a produção, a


distribuição, o transporte ou o processamento pode haver a contaminação
do alimento.

7.1.4.1 Compostos N-nitrosos

Vimos os aspectos toxicológicos da exposição aguda aos nitritos e nitratos na parte da matéria que
envolvia os agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos. Agora, iremos trabalhar as mesmas
substâncias químicas, mas com abordagem na exposição crônica para adultos, principalmente porque
são substâncias químicas adicionadas nos alimentos intencionalmente. Entretanto, o raciocínio geral
sobre o mecanismo de ação para os NO2- e NO3- na exposição aguda ou crônica independe se estão
presentes naturalmente nos alimentos ou se foram adicionados intencionalmente.

Vamos agora ver quais são os danos que o NO3- e o NO2, naturalmente presentes ou adicionados
intencionalmente nos alimentos, podem causar no organismo humano, na exposição crônica.

Riscos toxicológicos na exposição crônica aos NO2- e NO3-

Adultos se expõem cronicamente aos sais de NO2- e NO3- presentes na água e em alimentos naturais
ou processados: é impossível não nos expormos cronicamente a eles.

Observação

Você se recorda da influência da temperatura na toxicidade


das substâncias químicas presentes nos alimentos? Preste atenção:
teremos novidade!

Meios de baixo pH ou elevadas temperaturas podem oxidar esses sais a anidrido nitroso (N2O3),
considerado um agente nitrosante. Mas em quais momentos pode ocorrer essa oxidação? Vamos ver
uma dessas situações agora.

Observe: quando uma pessoa come um cachorro-quente, por exemplo, pode acontecer de um resíduo
da salsicha ficar retido no espaço interdental e, eventualmente, essa pessoa não conseguir realizar a
higienização oral imediatamente após a refeição. Você normalmente come um cachorro-quente sem
beber nada ou tomando algo, como um suco ou refrigerante?

A indústria de alimentos utiliza amplamente NO3- e NO2- com os objetivos de conservar os alimentos
e realçar suas propriedades organolépticas. A conservação dos alimentos está fundamentada na adição
intencional de sais de potássio (K+) e de Na+ para prevenir a proliferação de microrganismos, sobretudo

353
Unidade III

do Clostridium botulinum, bactéria produtora da toxina botulínica, e de propriedades organolépticas.


Esses sais melhoram o aspecto visual do alimento, realçam o sabor, conferem textura e cores interessantes
aos alimentos e evitam o estufamento de queijos.

Quer pelo refrigerante ou pelo suco, o pH do meio (boca) será reduzido, e os sais de nitrogênio
presentes no alimento que eventualmente ficarem retidos entre os dentes, próximo à gengiva, poderão
dar origem ao anidrido nitroso ou trióxido de dinitrogênio (N2O3). Essa substância é capaz de interagir
com proteínas ou aminoácidos presentes na carne da salsicha, linguiça ou outros alimentos processados,
amidas e aminas secundárias ou terciárias presentes em peixes e formar um grupo de substâncias
químicas denominado de compostos N-nitrosos (MÍDIO; MARTINS, 2000).

Os compostos N-nitrosos são um conjunto de diferentes substâncias químicas, das mais simples às
mais complexas, e têm as nitrosaminas e nitrosamidas como exemplos. As nitrosaminas são mais estáveis
em relação às nitrosamidas, cuja meia vida em pH 7,0 é de minutos. Como o pH do suco gástrico é baixo,
o estômago é um órgão em que as reações químicas que levam à formação do N2O3 são intensas, e os
compostos N-nitrosos nele formados estão associados ao câncer nesse órgão.

O relativo baixo pH natural da urina faz com que também haja a formação de compostos N-nitrosos
nesse órgão, tornando a bexiga urinária mais um dos órgãos-alvo dessas substâncias.

Você se lembra de que falaríamos ainda mais sobre a influência da temperatura no alimento? Vamos lá!

Se por um lado ferver o alimento pode reduzir a contaminação bacteriana, o aquecimento de


alimentos embutidos pode aumentar a produção das nitrosaminas.

Observação

Quanto maiores o tempo e a temperatura de aquecimento a que o


alimento contendo NO2- e NO3- é submetido, maior será a formação do
N2O3 e, consequentemente, dos compostos N-nitrosos.

Toxicodinâmica dos compostos N-nitrosos

A biotransformação dos compostos N-nitrosos ocorre pela oxidase de função mista, isoenzima
CYP2E1, por α-hidroxilação, que ocorre principalmente (mas não apenas) no fígado. Após a
biotransformação, há a formação da hidroximetilmetilnitrosamina, biotransformada em hidróxido
de metildiazônio, que produz o íon carbônio (CH3+). Esse íon formado possui elevada afinidade com
macromoléculas nucleofílicas, atua como agente alquilante do DNA e, consequentemente, induz à
carcinogenicidade (MÍDIO; MARTINS, 2000).

Devido à exposição pelo trato digestório, os compostos N-nitrosos podem levar ao câncer de
bexiga, boca, estômago e fígado. O fígado é bastante afetado por conta do metabolismo: as reações

354
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

de biotransformação ocorrem intensamente nesse órgão, com consequente formação de CH3+, que atua
como agente carcinogênico hepático.

A bexiga e o estômago são órgãos afetados porque possuem meio com baixo pH e,
consequentemente, há formação do N2O3. O câncer de boca pode ocorrer pela precária higienização
oral: na presença do resíduo de alimento contendo sais de NO2- ou de NO3-, forma o N2O3, que
induz a formação dos compostos N-nitrosos nesse local e aumenta o risco de carcinogenicidade
da cavidade oral.

Observação

Faz-se necessário estabelecer correlação entre compostos nitrogenados


no alimento e no ar atmosférico.

Convidamos você a acompanhar o seguinte raciocínio: quando estudamos que os poluentes


atmosféricos são responsáveis por milhares de mortes no mundo e que parte dessas mortes precoces
ocorre por conta do câncer do pulmão, significa que na atmosfera, além da presença de substâncias
químicas carcinogênicas propriamente ditas, pode haver a presença de outras substâncias químicas,
como os óxidos de nitrogênio, que podem ser oxidados a anidrido nitroso e, consequentemente, formar
os compostos N-nitrosos, potencialmente carcinogênicos.

A liberação de óxidos de nitrogênio (NOx) na atmosfera pode ocorrer por fontes móveis ou
estacionárias, como vimos anteriormente. Essas substâncias são oxidadas na atmosfera a N2O3, e as
pessoas e os animais inalam o ar contendo esse agente nitrosante, que poderá interagir com proteínas
ou aminoácidos presentes nos pulmões e formar compostos N-nitrosos.

O pulmão também biotransforma, ou seja, toda reação de biotransformação com consequente


alquilação de macromoléculas nucleofílicas vista anteriormente no trato digestório também pode
ocorrer no trato respiratório. Essa é uma das explicações da elevada prevalência de câncer de pulmão
em grandes centros urbanos. Assim, a mesma toxicodinâmica que ocorre quando o organismo se expõe
ao NO3- e NO2- pelo trato digestório também ocorre pelo trato respiratório.

Está mais clara a relação poluição atmosférica versus câncer pulmonar? Estamos falando apenas
de NOx, sem levar em consideração substâncias químicas carcinogênicas propriamente ditas, como o
benzo[a]pireno.

7.1.4.2 Botulismo

Você já ouviu falar que, quando uma criança está gripada, a melhor coisa a ser feita é dar mel a ela?

Pois bem! Vamos substanciá-lo de informações, e em breve você conseguirá concluir se essa é uma
recomendação plausível ou se deve ser revista.

355
Unidade III

Clostridium botulinum é uma bactéria Gram-positiva formadora de esporos que produzem, por via
anaeróbica, um dos mais potentes xenobióticos: a toxina botulínica (CHERINGTON, 2004).

Muito nos impressionam os contrastes entre toxina botulínica e seu organismo produtor. Se por um
lado a toxina é termolábil, os esporos apresentam relativa resistência ao calor. Temperatura de 85 ºC é
capaz de inativar a toxina, enquanto os esporos toleram temperaturas de até 119 ºC. Quando presente
no solo, essa bactéria se prolifera mais intensamente em meio alcalino e em condição de anaerobiose.

Observação

Para vários autores, a toxina botulínica é a mais poderosa toxina:


em humanos, a morte pode ocorrer com a impressionante dose baixa de
0,05 μg a 0,1 μg.

A exposição a essa toxina leva ao botulismo, uma doença paralisante. O organismo pode se intoxicar
ao ingerir a toxina em alimentos contaminados: é a forma clássica de contaminação, quando o alimento
foi inadequadamente preparado ou conservado.

Os esporos podem se fixar e multiplicar no trato digestório, sobretudo no intestino, onde ocorrerá a
produção da toxina. A alteração da microbiota pela exposição a antibióticos, doença de Crohn e cirurgias
intestinais são condições que favorecem o botulismo intestinal.

Observação

Preste atenção agora para compreender a relação entre as crianças


e o mel.

Crianças também podem se intoxicar ao ingerir os esporos de C. Botulinum, os quais, ao germinar


no trato digestório, podem produzir a toxina. O botulismo infantil é causado pela toxina botulínica
produzida pelo bacilo Clostridium botulinum, que coloniza o trato intestinal de crianças com duas
semanas a seis meses de idade (KOLUMAN et al., 2013) e frequentemente ocorre quando a criança
ingere o mel contendo o bacilo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002). A imatura microbiota intestinal
da criança permite a germinação e multiplicação dos esporos do Clostridium botulinum e a consequente
produção da toxina botulínica no lúmen intestinal (KOLUMAN et al., 2013).

Na criança com botulismo, a constipação é geralmente o primeiro sinal clínico da intoxicação, e o


organismo apresenta fraqueza progressiva simétrica e descendente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002),
redução da capacidade de sucção, choro fraco, redução da resposta motora aos estímulos externos com
subsequente hipotonia, letargia e apatia, perda do controle da força muscular de sustentação da cabeça
(KOLUMAN et al., 2013) e redução da motilidade gastrintestinal. O tratamento pode exigir até seis meses de
internação da criança (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002).

356
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observação

Até 5% dos casos de morte súbita de crianças de até 24 meses de idade


podem ser associados à toxina botulínica.

Você entendeu agora por que lactentes não podem se expor ao mel?

Ainda há o botulismo, em que ferimentos são portas de entrada para a contaminação por C. botulinum.

Há sete diferentes formas de toxina botulínica, que são denominadas por tipos de A a G. As toxinas
botulínicas tipos A, B, E e raramente a F são capazes de causar botulismo em humanos. A doença é
causada em mamíferos, peixes e pássaros pelos tipos C, D e E. A recuperação da intoxicação pela toxina
tipo A é mais lenta em relação à intoxicação pela toxina tipo E, demonstrando que o tempo de remissão
dos efeitos depende do tipo de toxina botulínica à qual o organismo se expôs (CHERRY et al., 2013).

Toxicodinâmica da toxina botulínica

Para que haja a manifestação do efeito tóxico, a toxina botulínica deve ser internalizada na célula.
Para isso, nos terminais pré-sinápticos, ocorre o rompimento da ligação dissulfeto que une as duas
cadeias da toxina botulínica, e a cadeia leve é internalizada na célula por vesículas de endocitose
(CHERINGTON, 2004).

Você se recorda de que, para que haja o potencial de ação, há a necessidade da exocitose da
acetilcolina que está localizada em vesículas de armazenamento? Pois bem: a toxina botulínica cliva
enzimaticamente as proteínas necessárias para a exocitose do neurotransmissor.

Agora, você consegue inferir o que acontece.

O resultado dessas interações químicas é a paralisia da musculatura, uma vez que o


neurotransmissor, ACh, não é liberado, pois as proteínas que atuavam sobre as vesículas de
armazenamento desse neurotransmissor foram inibidas pela toxina botulínica (CHERINGTON, 2004).

Os sinais e sintomas da intoxicação aparecem com mais frequência entre 12 e 36 horas, embora
possa haver uma variação de quatro horas a oito dias após a exposição (CHERRY et al., 2013).

Lembrete

A intoxicação acontece pela toxina botulínica e não pelo Clostridium


botulinum, ou seja, pela toxina e não pela bactéria.

357
Unidade III

Fraqueza, vertigem e acentuda fadiga precedem boca seca, visão turva, dificuldade para falar
e engolir. Também pode ocorrer inchaço abdominal, vômito, diarreia e obstipação, e a redução
da sudorese e a boca seca são consequências do bloqueio da ACh no sistema nervoso autônomo
(CHERINGTON, 2004). Não há perda da consciência, nem febre, mas pode evoluir para fraqueza
no pescoço e braços, e em seguida são afetados os músculos da parte inferior do corpo e as vias
respiratórias, levando a uma insuficiência respiratória (CHERRY et al., 2013).

Se por um lado registram-se poucos casos de intoxicação aguda no Brasil e no mundo; por outro, a
letalidade é alta (5% a 10% dos casos), e o diagnóstico e tratamento devem ser adequados e imediatos,
com a administração de soro antitoxina botulínica e cuidados respiratórios intensivos.

É importante adicionar substâncias químicas nos alimentos para que se previna sua contaminação?
Podemos adicionar qualquer quantidade do aditivo no alimento?

Para evitar contaminação bacteriana, adicionam-se intencionalmente nos alimentos substâncias


químicas que têm uma quantidade máxima no alimento, chamada de limite de tolerância (LT). Assim,
para prevenir a intoxicação, deve-se respeitar o LT e a IDA.

Agora, vamos dedicar parte de nosso material aos adoçantes de alimentos, denominados de
edulcorantes artificiais, adicionados intencionalmente nos alimentos.

7.1.4.3 Edulcorantes artificiais

A guerra contra a obesidade, assim como contra o aspartame, é onipresente. Observamos que cada
vez mais as pessoas clamam por alimentos menos calóricos. Ao recebermos café ou chá em uma padaria,
também nos são disponibilizados edulcorantes como o aspartame, a sacarina ou o ciclamato de sódio, e,
preocupados com a saúde, os utilizamos em substituição ao açúcar refinado (NILL, 2000).

É cada vez mais comum o uso de edulcorantes artificiais nas dietas para os que apresentam sobrepeso
ou obesidade. Entretanto, existe um aspecto paradoxal nesse contexto. Se, por um lado, as pessoas
estão se preocupando mais com sua saúde e aspecto físico, por outro, também há a preocupação
sobre a segurança dos edulcorantes e há, inclusive, os que criticam a Administração de Alimentos e
Medicamentos estadunidense (Food and Drug Administration – FDA) sob a alegação de que não esteja
atenta a possíveis danos à saúde causados pelos edulcorantes artificiais. Dessa forma, está montado um
cenário no qual há um consumidor que anseia por alimentos de baixa caloria, e na outra ponta há a
presença de uma indústria pujante que conduz o roteiro dos edulcorantes.

Para que você tenha uma dimensão temporal, há mais de cem anos despontaram os polos dessa
batalha entre os que enaltecem a descoberta dos substituintes do açúcar refinado e os que questionam
a segurança desses substituintes. Segundo Nill (2000), a FDA como agente reguladora, aparentemente,
permaneceu de forma relativamente neutra dentro de sua esfera de atuação, a despeito de calorosos
protestos a favor e contra a aprovação dos edulcorantes.

358
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

O início da história dos edulcorantes artificiais aconteceu acidentalmente, em 1879, quando dois
pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, na tentativa de sintetizar um medicamento, obtiveram
a sacarina, que é um derivado não nutritivo do alcatrão do carvão, com capacidade adoçante cerca de
300 vezes superior ao do açúcar refinado (NILL, 2000).

Observação

Atente-se às “entradas” e “saídas” dos edulcorantes no mercado


de alimentos.

Em 1907, a sacarina já era amplamente utilizada como edulcorante em alimentos enlatados; cinco
anos depois, foi proibida sua utilização como aditivo alimentar. Entretanto, com a escassez de alimentos,
inclusive do açúcar, durante a Primeira Guerra Mundial, a sacarina voltou a ser comercializada sob o
status de um edulcorante “seguro”, quando foi consumida até a década de 1950.

Observação

Observe que inicialmente utilizam a sacarina, depois seu uso é


proibido por conta de possíveis riscos à saúde e, poucos anos depois,
é comercializada como “segura”!

Os edulcorantes, ao longo do tempo, trouxeram mais preocupação com a segurança de seu uso do
que benefícios para a dieta da população, ainda que se deva considerar que, sob condições de algumas
doenças como diabetes mellitus, deva haver restrição da exposição ao açúcar refinado. Os críticos ao uso
dos edulcorantes artificiais alegam que a indústria de alimentos tenta associar um corpo esguio com a
exposição a adoçantes e que corpos esculturais são cultuados como padrão de beleza.

Na década de 1950, com a comercialização do ciclamato de sódio, produzido a partir de 1937 pelo
laboratório Abbot, a preocupação com os adoçantes tomou fôlego. Em 1951, o ciclamato foi aprovado
pela FDA e, em 1953, foi produzido o primeiro refrigerante diet (NILL, 2000).

O ciclamato, frequentemente utilizado em combinação com a sacarina, foi o adoçante mais popular
dos Estados Unidos em 1963. Para que você tenha dimensão da intensidade de seu uso, na época, foi
utilizado no bacon, creme dental, produtos de panificação, enlatados, batom, cereais, enxaguante bucal,
além das bebidas. Até hoje não se sabe o motivo do fenômeno de vendas/utilização do ciclamato, se
pelo seu potencial adoçante, baixo teor calórico ou pelo preço, pois era comercializado por um décimo
do preço do açúcar refinado.

A partir de 1963, com a comercialização vertiginosa do ciclamato (quintuplicou-se a comercialização


do produto nos vinte anos subsequentes à sua aprovação), o FDA recomendou que os adultos não
ultrapassassem o limite de exposição de 3500 mg de ciclamato por dia (quantidade presente em cerca
de dez latas de refrigerante diet) (NILL, 2000).
359
Unidade III

Observação

Cada refrigerante tem sua característica. Há edulcorantes presentes em


refrigerantes diet que em poucas latas podem ultrapassar a IDA.

Atente-se a como os parâmetros legais são fugazes, ou seja, aparecem, desaparecem e reaparecem
rapidamente. É nesse contexto que alguns pesquisadores expõem que a FDA muda de orientação com
uma incrível fluidez.

Em 1977, houve um caos na indústria de alimentos. Sabe por quê? A FDA obteve a informação de
que pesquisadores canadenses trouxeram à luz a relação direta entre o câncer de bexiga em ratos
de laboratório e a exposição à sacarina.

Opostamente, em Nova York, um estudo realizado no Albany Medical College demonstrou que a
sacarina era inócua quanto ao risco de carcinogenicidade, ou seja, era isenta de riscos para o câncer
em animais. Mas, imaginemos o cenário dos que se expõem cronicamente ao adoçante, como os
diabéticos: como ficaria o “psicológico” dessas pessoas, sabendo que houve um estudo demonstrando a
carcinogenicidade da sacarina em animais, com a exposição crônica ao edulcorante? (NILL, 2000).

A legislação de um país se fundamenta em pesquisas para que seja publicada e aplicada. É a “roda do
conhecimento” girando em benefício da sociedade. Consegue perceber como é tudo muito dinâmico?

Voltando ao histórico dos edulcorantes artificiais, porém com mais um desafio: imaginemos que
você é o(a) presidente da Anvisa. Dentro desse cenário envolvendo a sacarina, após a publicação dos
pesquisadores canadenses sobre o câncer de bexiga causado pelo edulcorante, você liberaria a utilização
da sacarina ou não permitiria sua utilização até que fossem realizados mais estudos que comprovem
sua segurança?

Você teria tomado a medida mais sensata: proibiria a comercialização desse produto. Foi exatamente
isto que a FDA fez: baniu a sacarina. O que entrou em ação nesse momento? O congresso norte‑americano,
que permitiu a venda da sacarina, a despeito do posicionamento da FDA. Mas, nesse momento, a
reputação do edulcorante já não mais podia ser reparada.

Em 1965, o químico James Schlatter estava trabalhando em um medicamento antiúlcera que


utilizava o ácido aspártico e fenilalanina e, durante o processo de produção, colocou o dedo na mistura
(literalmente falando), sentiu o sabor e constatou que o gosto era agradável. Foi assim que nasceu
o aspartame, edulcorante de baixa caloria que também provou muitos obstáculos e controvérsias ao
longo de sua doce trajetória.

360
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observação

Não se faz o que o químico fez: colocar a mão em uma matéria-prima


ou em um produto durante seu preparo!

Em 1973, após terem sido feitos testes e ter-se obtido respostas em termos de pesquisa científica
com maior sucesso em relação à sacarina, a empresa Searle solicitou a petição como aditivo alimentar
para o aspartame. Após alguns anos, houve sua aprovação.

Como exposto, os adoçantes artificiais são amplamente utilizados como aditivos alimentares e
substitutos do açúcar refinado na alimentação, com o objetivo de reduzir a ingesta calórica. Efetivamente,
há estudos que demonstram que a exposição a adoçantes artificiais pode auxiliar na perda de peso
corpóreo e também trazer benefícios aos que têm diabetes mellitus (BIAN et al., 2017).

Outros estudos também sugerem que o consumo de adoçante artificial pode levar à intolerância à
glicose e, inclusive, à síndrome metabólica associada ao ganho de peso corporal. Consequentemente,
poderia aumentar o risco de obesidade, ainda que o mecanismo envolvido nesse desequilíbrio do
organismo ainda seja desconhecido.

Atualmente, tem havido muita atenção da comunidade científica sobre o desequilíbrio da microbiota
intestinal, denominado de disbiose, que pode estar associado a doença inflamatória intestinal, diabetes
e obesidade.

Os efeitos específicos produzidos na microbiota intestinal pela exposição a adoçantes artificiais são
pouco conhecidos. Entretanto, Bian et al. (2017) demonstraram que ratos que se expuseram a sucralose
a 1% apresentaram prejuízo no crescimento de enterobactérias e que ensaios realizados com a mesma
espécie sugerem que a exposição a adoçantes artificiais não calóricos como a sacarina leva à redução
da tolerância à glicose e altera a composição das bactérias intestinais.

Você consegue observar quanta informação está agregada apenas à parte de edulcorantes?

Após essa apresentação dos aspectos históricos, legais e toxicológicos envolvendo os edulcorantes
artificiais, convidamos você a conhecer com mais especificidade os principais adoçantes artificiais
utilizados no Brasil.

Acessulfame de potássio

O acessulfame de potássio (veja a figura a seguir) é um dos adoçantes artificiais atuais mais utilizados
na dieta em todo o mundo. Possui poder adoçante cerca de 200 vezes superior à sacarose e longa vida
útil e apresenta poder adoçante sinérgico quando associado a outros edulcorantes (KLUG; LIPINSKI;
NABORS, 2011).

361
Unidade III

O
H3C O
S O

N-K+

Figura 146 – Propriedades físico-químicas do acessulfame de potássio

Após a exposição oral em cães, ratos e humanos, a absorção do acessulfame de potássio é rápida
e completa, e ele é rapidamente excretado. Em ratos, após a exposição oral, o pico do edulcorante na
circulação sanguínea é de 30 minutos, com meia vida biológica (t½) de 4,8 horas.

Em humanos, a concentração plasmática máxima do acessulfame de potássio é atingida entre


1 e 1,5 hora após exposição de 30 mg do edulcorante, e os teores mais elevados do edulcorante foram
encontrados no trato digestório, bile, rins e bexiga urinária, com t½ de 2,5 horas.

Após a absorção, o edulcorante é rapidamente distribuído e excretado, sem que haja evidência de
que seja bioacumulado em algum órgão ou tecido específico. Sabe-se que 97,5% do acessulfame
de potássio marcado com carbono-14 (C-14) administrado em ratos, por via oral, são excretados em
24 horas, pela urina. Em humanos, esse teor foi de 98,4% na mesma unidade de tempo e amostra
biológica (KLUG; LIPINSKI; NABORS, 2011).

Vamos entender melhor o quão importante é o conhecimento da natureza da substância química?

Quimicamente, o acessulfame de potássio pertence ao grupo das sulfonamidas e, assim como o


ciclamato de sódio e a sacarina, apresenta atividade antimicrobiana (BIAN et al., 2017).

Estudos trazem à luz que, além de inibir a fermentação da glicose pelas enterobactérias, o
acessulfame de potássio também é genotóxico (BIAN et al., 2017). Um estudo recente demonstrou
que há diferenças entre a microbiota intestinal de estadunidenses adultos saudáveis que se expõem e
a dos que não se expõem aos adoçantes artificiais, incluindo o aspartame e o acessulfame de potássio.
Em animais, Bian et al. (2017) investigaram os efeitos do acessulfame de potássio em camundongos
CD-1 e concluíram que após a exposição por quatro semanas há alteração da microbiota intestinal
desses animais e ganho de peso corporal em machos, mas não em fêmeas (BIAN et al., 2017).

Observação

Há marcante diferença nos efeitos sobre o padrão da microbiota


intestinal entre animais fêmeas e machos que se expõem aos
edulcorantes artificiais.

362
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

A explicação para essa diferença de resposta, levando-se em consideração o gênero, é em função


de gênes funcionais associados ao metabolismo energético que são inibidos em fêmeas e ativados
em machos. Também há alterações diferenciais em ambos os gêneros no que se refere ao perfil da
microbiota intestinal.

Experimentos demonstram que, no sangue periférico de camundongos machos e fêmeas


hemizigóticos Tg.AC que se expuseram à ração com 0,3% a 3% de acessulfame de potássio, não
há aumento da frequência de eritrócitos micronucleados; e estudos envolvendo as mesmas
concentrações do edulcorante em rações para camundongos p53 haploinsuficientes apresentaram
significativo aumento de eritrócitos micronucleados em machos, mas não em fêmeas (KLUG; LIPINSKI;
NABORS, 2011).

Observação

Os estudos relatados aqui são mais um achado científico demonstrando


que o gênero influencia nos efeitos de uma substância química.

O que poderímos concluir com esses resultados? Primeiramente, como já vimos, há marcante
alteração de efeitos no organismo dos que se expõem ao acessulfame de potássio em relação ao gênero.
Em seguida, entendemos que, ao avaliar os adoçantes, é possível estabelecer uma estreita correlação
entre a exposição a edulcorantes artificiais, a alteração da microbiota intestinal de animais decorrente
dessa exposição e o aparecimento de processo inflamatório crônico do intestino (BIAN et al., 2017).

Ratas Wistar tiveram maior incidência de fibroadenoma e adenocarcinoma em comparação com


machos de mesma espécie que se expuseram ao acessulfame de potássio.

Observação

Precisamos ser bastante críticos ao interagirmos com esses dados.

A literatura nos mostra que, mesmo que os experimentos sejam realizados com o maior rigor
científico, os resultados podem ser questionados. Não existe uma verdade absoluta sobre os resultados;
por isso, nem sempre a conclusão é facilmente obtida. Continue acompanhando o raciocínio!

O dado anterior sobre fibroadenoma e adenocarcinoma quase nos faz concluir que o acessulfame de
potássio induz o aparecimento de adenocarcinoma em ratas, não é? Mas não!

Sabe por quê? A taxa de controle histórica de adenocarcinomas da glândula mamária é de 5%, e eles
são comuns para a espécie. A incidência dessa doença foi relativamente baixa em comparação aos dados
históricos (KLUG; LIPINSKI; NABORS, 2011).

363
Unidade III

Mesmo quando temos números fidedignos, precisamos de muita cautela para concluirmos um
experimento ou um achado científico. Essa é a visão que precisamos desenvolver ao longo de nossa
trajetória acadêmica para que, no ambiente profissional ou científico, sejamos bastante ponderados
nas colocações e conclusões de resultados. É exatamente este o contexto envolvendo os edulcorantes:
um pesquisador obtém um resultado e outro pesquisador o questiona. É assim que se faz ciência!

Há estudos de casos relatando reação alérgica ao edulcorante, ainda que o acessulfame de potássio
não esteja normalmente associado a esse tipo de reação. Há estudos in vitro que sugerem que a exposição
crônica do edulcorante compromete a estrutura da HDL e apoA-I e, consequentemente, tende a acelerar
o processo de senescência e aterosclerose.

Também não apresenta atividade carcinogênica em ratos ou camundongos em estudos de


genotoxicidade in vivo e in vitro, incluindo o S. typhimurium TA98, que testou negativo para o teste
de Ames e é considerado um contaminante emergente para o ecossistema, em função de sua ampla
ocorrência (uso) e persistência ambiental.

Observação
Tudo é muito dinâmico: o organismo se expõe ao edulcorante, o excreta
e contamina o meio ambiente.

A presença de edulcorante pode trazer algum dado à flora e fauna?

O acessulfame de potássio pode causar danos em peixes, como alteração da frequência cardíaca,
redução das taxas de sobrevivência durante a vida embrionária e de eclosão e descolamento de cauda.

Sugerimos, nesse momento, que façamos juntos uma reflexão. Observe como a literatura nos traz
à luz inúmeras informações, e paulatinamente concluímos que estamos construindo um significativo
repertório de informações e de conhecimento.

Para isso, vamos agora fazer um quiz.

Exemplos de aplicação

Pergunta: o acessulfame de potássio é biotransformado?

Para chegar a essa resposta, você se lembrou de que 97,5% do acessulfame de potássio é excretado
inalterado na urina de ratos? E que em humanos, esse edulcorante é 98,4% excretado inalterado, na
urina? Se é excretado praticamente inalterado na urina, significa que não é biotransformado ou há
uma ínfima biotransformação.

Paraa próxima pergunta, vamos nos reportar aos ensaios de avaliação de toxicidade. Nessa parte
da matéria, vimos que as substâncias químicas podem ser persistentes no ambiente e, também, podem
causar danos à flora e à fauna.
364
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Pergunta: dentro desse contexto, o acessulfame de potássio poderia causar danos à flora e à fauna?

Vimos há pouco possíveis danos que o edulcorante pode causar a peixes. Assim, caso rejeitos
humanos (esgoto) não sejam tratados e sejam lançados diretamente em corpos d’água, o que acontece
muito no Brasil, os peixes podem ser afetados por essa substância.

Parece que o universo toxicológico é mais amplo do que poderíamos imaginar, não é verdade?

Aspartame

Em algum momento alguém já lhe falou (ou você já recebeu uma mensagem no seu celular ou e-mail
sobre o assunto) que o aspartame pode cegar? Você acredita que essas informações fazem sentido sob
a óptica toxicológica ou são mais algumas das fake news?

Vamos estudar um pouco mais e descobrir a veracidade dessas mensagens.

O aspartame é um adoçante artificial (veja a figura a seguir) com poder adoçante 180 a 200 vezes
superior à sacarose e constituído de três componentes: ácido aspártico, fenilalanina e metanol. A população
europeia consome cerca de 2 mil toneladas desse edulcorante por ano.

Fenilalanina

Ácido aspártico O
O OCH3
N
H Metanol
OH NH2 O

Figura 147 – Estrutura química do aspartame

Agências europeias que regulam os alimentos e medicamentos têm como responsabilidade


monitorar as relações envolvendo os alimentos e a saúde e, quando pairar dúvida, proceder
experimentos que as dirimam. À luz do conhecimento atual, o aspartame não está associado à queda
de cabelo, à depressão ou ao câncer, como alguns sites ou redes sociais apresentam (PUBCHEM, s.d.).

Ainda que, em 1988, a EFSA tenha declarado que o aspartame é considerado seguro, por pressão dos
setores públicos foi conduzida uma revisão com mais de 500 relatórios, e no ano de 2002 concluiu-se
que a IDA do aspartame deveria ser de 40 mg/kg/dia, exceto para fenilcetonúricos (PUBCHEM, s.d.).

Lembrete

IDA, ou ingestão diária aceitável, é a máxima quantidade de uma


substância química adicionada ao alimento a que a pessoa pode se expor
diariamente, por toda a vida, sem risco de intoxicação.
365
Unidade III

Observação

Em países ocidentais, cerca de 10% do total de calorias diárias advêm do


açúcar (200 kcal), o que equivale a aproximadamente 50 g de açúcar por dia.

Calcular a quantidade de aspartame a que a pessoa pode se expor diariamente é uma tarefa
inglória aos que não têm muito conhecimento na área da saúde, até porque fabricantes de alimentos
utilizam coquetéis adoçantes, tornando ainda mais difícil o cálculo da exposição diária do edulcorante
(LEAN; HANKEY, 2004).

Para que se ultrapasse a IDA do aspartame, faz-se necessária a exposição a dez latas de refrigerante
por dia, em média.

Observação

Ingestão superior a 1 g de aspartame por dia pode provocar convulsões


em macacos.

O aspartame é biotransformado a ácido aspártico, fenilalanina e metanol. O ácido aspártico, também


conhecido por aspartato, é um aminoácido não essencial de ocorrência natural e um componente das
proteínas, importante na síntese de DNA, da ureia e dos neurotransmissores encefálicos. A fenilalanina,
diferentemente do ácido aspártico, é um aminoácido essencial, ou seja, humanos precisam obtê-lo a
partir da dieta. É um precursor para a síntese de tirosina e outros neurotransmissores (WALTERS, 2001).

Nesse momento, entramos em uma seara das mais relevantes envolvendo os edulcorantes. Você já
ouviu falar do teste do pezinho para recém-nascidos? Um dos objetivos desse teste é identificar se a
criança é fenilcetonúrica.

Você poderia dizer o que significa ser fenilcetonúrico e qual é a importância sob a óptica toxicológica?

Vamos, então, compreender ainda melhor o que significa uma pessoa fenilcetonúrica.

Em condições normais, a fenilalanina em excesso é hidrolisada a acetoacetato e fumarato por meio


da enzima fenilalanina hidroxilase. Entretanto, há pessoas que não produzem quantidades adequadas
dessa enzima e, consequentemente, não conseguem metabolizar a fenilalanina normalmente
(WALTERS, 2001).

Observação

A fenilalanina não hidrolisada é neurotóxica.

366
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

O organismo que não é capaz de hidrolisar a fenilalanina é denominado fenilcetonúrico porque


o excesso de fenilalanina é convertido em fenilcetona, excretada na urina e que confere um odor
característico a ela.

Assim, o teste do pezinho é um exame que identifica essa doença genética, uma vez que, como
exposto, a fenilalanina é neurotóxica para os fenilcetonúricos.

O que aconteceria então a um fenilcetonúrico que se expusesse a um alimento que contenha


esse aminoácido?

Haveria uma grande quantidade de fenilalanina no organismo e possivelmente danos neurológicos.

Saiba mais

Sugerimos que você leia o material a seguir:

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Informe


técnico n. 49, de 11 de abril de 2012. Brasília, 2012. Disponível em:
https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/alimentos/fenilalanina/
arquivos/4712json-file-1/@@download/file/4712json-file-1.pdf.
Acesso em: 15 dez. 2020.

Vimos bastante informação sobre o aspartame, mas ainda está faltando o metanol. Esse álcool pode,
efetivamente, levar à cegueira. Para que tenha dimensão dos possíveis danos que o metanol possa
causar no organismo humano, trazemos um caso que aconteceu em 2016, quando a jovem Hannah
Powell, de 23 anos, tomou uma vodka falsificada, contendo metanol. Sabe qual foi o resultado? Perdeu
a visão e os rins! É por isso que alguns escrevem que o metanol gerado pela biotransformação do
aspartame cega (WILSON, 2019).

Os que não dominam a toxicologia podem, mesmo que sem esse objetivo, causar pânico na população
ou levar a uma informação falsa. E é exatamente isso que acontece nesse contexto. O metanol pode
levar à cegueira? Sim, com certeza (não apenas à cegueira, como à morte).

Para que contextualizemos a informação, no ano de 1999, para aumentar a lucratividade na venda
do etanol, o metanol foi adquirido e acrescentado na aguardente (etanol), uma vez que ele possui
custo inferior ao etanol e, assim, haveria o aumento da lucratividade na venda da aguardente. Esse fato
ocorreu no estado da Bahia (GONZÁLEZ, 1999). Você sabe qual foi a consequência desse ato? Trinta e
cinco pessoas morreram!

367
Unidade III

Exemplo de aplicação

De posse da informação de que o metanol apresenta elevada toxicidade e pode levar à cegueira
(é verdade) e é formado no organismo após a biotransformação do aspartame (é verdade), reflita:
podemos dizer que o aspartame pode levar à cegueira?

Lembrete

Toda substância pode ser considerada tóxica, dependendo das


condições de exposição.

É bastante improvável que a quantidade de metanol formada no organismo a partir da


biotransformação do aspartame seja suficiente para levar à cegueira.

Você entendeu como é importante a colocação adequada das informações para que não se crie
pânico na população ou se divulgue informações inverídicas?

Segundo Walters (2001), a exposição ao aspartame gera radicais livres e há duas consequências
diretas da formação desses compostos instáveis, mas extremamente reativos: aceleram o processo de
envelhecimento do organismo e maximizam a possibilidade do aparecimento de câncer, uma vez que
podem atuar na supressão de genes que nos protegem e maximizar a expressão dos que estimulam o
aparecimento dessa doença. Há estudos que confirmam o aparecimento de leucemias, linfomas e vários
outros tipos de câncer, inclusive os que envolvem o trato urinário, pela exposição ao aspartame, ainda
que em pequena quantidade, segundo o mesmo autor.

Ciclamatos

Os ciclamatos não ocorrem naturalmente e são produzidos a partir da ciclohexilamina, obtida pela
redução da anilina.

O ciclamato de sódio (veja a figura a seguir) é conhecido simplesmente como ciclamato e é o mais
comum dos ciclamatos.
O

NH S O-Na+

Figura 148 – Estrutura química do ciclamato de sódio

368
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

O ciclamato de cálcio (veja a figura a seguir) é mais utilizado em produtos que exijam menor
quantidade de sódio ou até mesmo sejam isentos dessa substância. Os ciclamatos de cálcio e de sódio
são edulcorantes não nutritivos.

NH S O- Ca++

O
2

Figura 149 – Estrutura química do ciclamato de cálcio

Na Austrália, em 1994, consumidores de 12 a 39 anos de idade, 27% homens e 21% mulheres,


apresentaram ingestão média de 23% da IDA do ciclamato. No Brasil, um estudo realizado entre 1990 e
1991 demonstrou que 67% da população consumia ciclamato e a ingestão diária era de aproximadamente
16% o valor da IDA, sendo que os adoçantes de mesa representaram a fonte principal de exposição,
seguida dos refrigerantes (IARC, 1999).

Em 1992, avaliou-se que a média de exposição ao ciclamato para toda a população espanhola foi de
0,44 mg/kg (PC) por dia e de 2,44 mg/kg (PC) por dia para a população que costumeiramente se expunha
ao ciclamato, como os diabéticos. A IDA do ciclamato foi ultrapassada por apenas 0,16% das pessoas
(IARC, 1999).

Segundo a Anvisa (2012), aproximadamente 37% do ciclamato ao qual o organismo se expõe não
são biotransformados pelo fígado, e cerca de 30% do edulcorante inalterado presente no intestino
podem ser biotransformados a ciclohexilamina pela microbiota.

Sugerimos que observe atentamente a diferença de respostas entre diferentes espécies.


Em coelhos, o ciclamato administrado por via oral é prontamente absorvido, mas em humanos, ratos e
porcos-da-índia a absorção é mais lenta. Essas espécies biotransformam o ciclamato a ciclohexilamina
e a biotransformação desse metabólito é diferente entre humanos e outros animais. A maior parte da
ciclohexilamina é rapidamente excretada inalterada na urina (IARC, 1999).

Em coelhos, porcos-da-índia e ratos, a ciclohexilamina é biotransformada a ciclohexanona e,


posterioremtne, a ciclohexanol. Macacos rhesus excretaram 99,5% do ciclamato inalterado quando
expostos por vários anos por via oral, e os principais metabólitos encontrados são ciclohexilamina,
ciclohexanona e ciclohexanol.

Em ratos, a ciclohexilamina é biotransformada sobretudo por hidroxilação do anel ciclohexano; em


humanos, a metabolização ocorre por desaminação. Em coelhos e porcos-da-índia, a metabolização
ocorre pela hidroxilação do anel aromático e desaminação. A administração por gavagem ou injeção
intraperitoneal em porcos-da-índia e ratos demonstra que a maior parte da ciclohexilamina é excretada
inalterada e apenas 4% a 5% são biotransformados, em 24 horas (IARC, 1999).

369
Unidade III

Ainda que a maioria das pessoas converta apenas pequenas quantidades de ciclamato em
ciclohexilamina, existe uma resposta interindividual no perfil de biotransformação que pode trazer
uma grande variação na excreção urinária da ciclohexilamina. Um dos aspectos que se faz necessário
considerar é que a microbiota do trato digestório é uma importante fonte de biotransformação a
ciclohexilamina, derivada do ciclamato, que pode apresentar efeitos adversos à saúde.

Observe a amplitude de variação de resposta para a mesma condição de exposição ao edulcorante,


apenas variando o organismo: a taxa de metabolização da ciclohexilamina apresenta uma variabilidade
individual de < 1% até 60%.

Lembrete

A suscetibilidade individual é uma das condições de exposição.

Uma situação que convém destacar é que o organismo se expõe aos sais de ciclamato, e uma das
palavras que você mais leu nos últimos parágrafos foi ciclohexilamina, não é? Vamos entender por quê?
Acompanhe o raciocínio a seguir.

Há vários estudos que demonstram que o produto de biotransformação do ciclamato,


a ciclohexilamina, é capaz de causar prejuízo nos testículos de ratos. Dose de 400 mg/kg dia de
ciclohexilamina em ratos Wistar produz atrofia testicular, mas a mesma dose não afeta o testículo
de camundongos, e essa toxicidade se deve à ciclohexinalamina propriamente dita, não aos produtos
hidroxilados (IARC, 1999).

Por exemplo: caso fôssemos questionados sobre a toxicidade da ciclohexilamina, estaríamos seguros
em afirmar que essa substância pode causar prejuízo testicular em ratos Wistar. Entretanto, também
precisa ficar bem claro que a dose que causa esse dano no animal é muito superior à IDA em humanos.

Ficou mais claro como se faz a leitura dessas informações científicas? Sempre é importante termos um
parâmetro de avaliação da exposição, e, no caso dos edulcorantes, esse parâmetro é a IDA para humanos.

Você consegue compreender ainda melhor como a mesma substância química, nas mesmas condições
de exposição, pode ter efeitos diferentes, caso haja alteração da espécie exposta?

Na concentração de 12 a 24 mmol.l-1, o ciclamato é capaz de produzir pronunciada hiperplasia e


displasia uretral em bexigas de ratas jovens Fisher, danos confirmados pela histologia.

Segundo a Iarc (1999), camundongos expostos à ciclohexilamina não apresentaram diferenças


siginificativas entre a incidência de tumor com relação ao grupo controle. Assim, em 1999, a Iarc classificou
o ciclamato como substância em que a evidência em animais e humanos para a carcinogenicidade é
inadequada, pertencendo assim ao grupo 3 dessa classificação.

370
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Do ponto de vista da legislação, as referências internacionais como a União Europeia, a GSFA e a


FDA substanciam as normatizações brasileiras quanto aos limites de edulcorantes que são utilizados
nos alimentos.
Sacarina

A sacarina (veja a figura a seguir), um dos edulcorantes mais amplamente utilizados, é o mais antigo
adoçante artificial não nutritivo e não calórico. Ela possui um poder adoçante cerca de 300 vezes superior
ao da sacarose, além de um sabor residual ligeiramente amargo. É estável ao tempo e ao calor, ou seja,
pode ser utilizada em alimentos que venham a ser aquecidos ou que sejam submetidos a processamento
que envolva temperaturas elevadas, como produtos de panificação e alimentos enlatados (IARC, 1999).
O

NH
S
O
O

Figura 150 – Estrutura química da sacarina

Segundo a Iarc (1999), aproximadamente mil, 68 mil e 225 mil trabalhadores estadunidenses
são potencialmente expostos no ambiente de trabalho à sacarina cálcica, sacarina sódica e sacarina,
respectivamente, e essa exposição ocorre durante a produção ou utilização dessas substâncias como
adoçantes nos alimentos, nas bebidas ou nos medicamentos.

Em 1993, foi determinado que a IDA da sacarina e seus sais seriam de 5 mg de sacarina por quilo de
peso corpóreo (mg/kg peso). Anteriormente, a IDA era de 2,5 mg/kg peso (IARC, 1999).

Exemplo de aplicação

Se a IDA para a sacarina era de 2,5 mg/kg (PC) e em 1993 passou a 5 mg/kg (PC), significa que as agências
reguladoras interpretaram que ao longo do tempo os dados epidemiológicos indicaram que a sacarina e
seus sais estavam trazendo mais agravos à saúde ou as informações epidemiológicas indicaram que esse
edulcorante e seus sais apresentavam menos riscos do que se esperava anteriormente? Pare e reflita.

Na prática, é exatamente assim que funciona: se ao longo do tempo não houve o incremento de
casos de câncer de bexiga urinária supostamente associado à exposição à sacarina, significa que a
exposição a ela não está causando esse dano à população de forma significativa. Opostamente, caso se
observe incremento no número de casos de câncer de bexiga urinária, significa que a população precisa
se expor menos intensamente à substância. Se precisa se expor menos, se reduz a IDA. Caso possa haver
mais exposição, aumenta-se a IDA. Assim, observe que alguns parâmetros utilizados na toxicologia
podem mudar, como a IDA, por exemplo, em razão da resposta epidemiológica do momento.

371
Unidade III

Exemplo de aplicação

Para que consolidemos a informação, pegue um lápis e papel e vamos juntos para mais um desafio
matemático-toxicológico.

Dados:

• Sacarina: IDA (5 mg/kg peso).

• Aspartame: IDA (40 mg/kg peso).

Pergunta:

Para uma pessoa de 60 kg de peso corpóreo, qual é a quantidade de sacarina e aspartame a que ela
pode se expor diariamente, por toda a vida, sem risco de se intoxicar?

Sacarina: se a pessoa pode ingerir 5 mg de sacarina por cada quilo de peso e se a pessoa pesa 60 kg,
ela pode se expor a 300 mg de sacarina por dia.

Aspartame: se a pessoa pode ingerir 40 mg de aspartame por cada quilo de peso e se a pessoa pesa
60 kg, ela pode se expor a 2400 mg (2,4 g) de aspartame por dia.

Agora, mais uma pergunta: a qual dessas duas substâncias a pessoa pode se expor em maior
quantidade, ao longo do dia, com o mesmo risco de intoxicação?

É o aspartame.

Observe: caso a pessoa se expusesse a 2,4 g de sacarina por dia, ela teria ultrapassado a IDA da
sacarina? Sim, e muito: oito vezes mais. E, nesse caso, haveria risco de intoxicação em uma exposição
crônica, diariamente, a quantidades que excedem a IDA? Sim, haveria.

Você entendeu como se raciocina em termos de IDA?

Segundo a Iarc (1999), a sacarina pode causar câncer na bexiga urinária em ratos. Ela é classificada
no grupo 2B para carcinogenicidade.

372
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Saiba mais

Recomendamos que você leia o artigo:

SAUNDERS et al. Revisão da literatura sobre recomendações de


utilização de edulcorantes em gestantes portadoras de diabetes
mellitus. Femina, v. 38, n. 4, abr. 2010. Disponível em: http://files.bvs.br/
upload/S/0100-7254/2010/v38n4/a002.pdf. Acesso em: 14 dez. 2020.

Veremos quais danos as toxinas produzidas por fungos, quando presentes nos alimentos, podem
causar ao organismo humano.

7.1.4.4 Micotoxinas

Os fungos são ubíquos, ou seja, estão presentes em todo lugar. A exposição a eles é praticamente
incontrolável. São os principais patógenos para insetos e plantas e possuem menor importância
como agentes de doenças em vertebrados. Para humanos e animais, o maior risco de intoxicação
está associado ao metabolismo secundário do fungo, que pode produzir doenças denominadas
micotoxicoses (OSTRY et al., 2017).

O espectro dos sinais e sintomas da intoxicação causado por micotoxinas depende do tipo da
micotoxina, do tempo de exposição, da quantidade do metabólito secundário e do estado de saúde,
idade e gênero do organismo exposto, assim como o quadro clínico de intoxicação pode ser agravado por
hipovitaminose, doenças infecciosas e exposição excessiva ao etanol, enquanto as micotoxicoses podem
deixar o organismo mais suscetível a doenças microbianas, interagem com outras toxinas sinergicamente
e podem agravar os efeitos da desnutrição em humanos e em animais (OSTRY et al., 2017).

As micotoxinas são produtos do metabolismo secundário de fungos e normalmente possuem baixo


peso molecular. A terminologia micotoxina começou a ser amplamente utilizada quando houve morte
de cerca de 100.000 perus na Inglaterra, em 1962. Inicialmente, como não conheciam a etiologia da
morte das aves, designaram-na Doença X dos Perus (ZAIN, 2011) e identificaram que ela estava associada
ao amendoim utilizado na farinha a que as aves se espunham, a qual continha metabólitos secundários
de Aspergillus flavus, espécie de fungo produtor das aflatoxinas (OSTRY et al., 2017).

Aflatoxinas

Já aconteceu alguma vez de você estar realizando alguma atividade e de repente se lembrar de que
na sua fruteira havia bananas e que em seu armário da cozinha também tinha aveia em flocos, e você
não via a hora de chegar em casa para comer uma banana amassada com aveia?

Pois bem, após ter a banana amassada, ao pegar a aveia, você observa que a caixa de aveia já está
aberta há algumas semanas e, após o uso de parte dela, o restante foi guardado no armário da cozinha.
373
Unidade III

Nunca aconteceu isso com você? Pois bem: será que essa aveia está adequada para o consumo ou
devemos desprezá-la e deixar de comer essa banana com aveia?

Parece uma situação simples, não é? E é simples mesmo, mas também importante!

Você já ouviu falar em aflatoxinas?

Observação

Observe que o termo foi utilizado no plural: aflatoxinas.

O principal fator não ocupacional de exposição humana às aflatoxinas é alimentar (FACCA;


DALZOTO, 2010). O milho e o amendoim, por exemplo, são alimentos básicos para alguns países e
correspondem à ingestão de nanogramas a microgramas de aflatoxinas por dia (OSTRY et al., 2017).

Pela sua percepção, você acha que a exposição a microgramas de uma substância tóxica por dia não
causa dano ao organismo humano?

Acompanhe, então, o raciocínio. Concluiremos em breve se há importante risco de intoxicação,


mesmo se expondo a baixas quantidades da toxina.

Existe uma ampla faixa de variação da quantidade de aflatoxinas presentes no alimento. Dependendo
da origem e tipo do alimento, clima, umidade, teor de água do alimento ou condições de transporte e
armazenamento, pode haver quantidade inferior a 0,1 µg.kg-1 ou até centenas de µg.kg-1 de aflatoxina
no alimento. Em termos percentuais, os teores de aflatoxinas encontrados nos alimentos também
são amplos: de todo o amendoim e o milho importados pelo Japão, aproximadamente 4% e 30%,
respectivamente, estão contaminados com essas toxinas.

Populações de baixa renda que moram na região tropical consomem quantidades consideravelmente
elevadas de alimentos contaminados com aflatoxinas, principalmente amendoim e milho. Para que
você tenha maior dimensão dos riscos inerentes à exposição às aflatoxinas, estima-se que anualmente
morrem por câncer de fígado, por conta da exposição à aflatoxina, cerca de 26 mil africanos que vivem
ao sul do Saara.

Até programas sociais importantes são afetados por essa toxina: a contaminação de alimentos
limitou drasticamente a amplitude do Programa Mundial de Alimentos, uma vez que esse programa
utiliza considerável quantidade de milho (UNNEVEHR; GRACE, 2013).

As aflatoxinas M1 e M2 foram isoladas pela primeira vez do leite de animais lactantes que
se expunham a alimentos contaminados com aflatoxinas. Daí a designação M, milk, do inglês
(BBOSA et al., 2013).

374
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

As aflatoxinas são produtos do metabolismo secundário de fungos. Espere um pouco: você se


recorda desse conceito?

Lembrete

Produto do metabolismo secundário de fungos deve ser interpretado


como toxina.

Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus são espécies de fungos responsáveis pela produção da
maior parte das aflatoxinas encontradas em alimentos no mundo, mas espécies A. ochraceoroseus,
A. nomius, A. australis, A. pseudotamarii e A. Bombycis, entre outras, também podem produzi-las
(OSTRY et al., 2017).

Os teores de A. flavus (veja a figura a seguir) em alimentos presentes em climas temperados, como nos
Estados Unidos e Europa, são normalmente baixos e incomuns, excetuando-se quando há a importação
de alimentos de países tropicais.

Figura 151 – Alimento contaminado com A. flavus

Países de clima temperado têm menos probabilidade de contaminação dos alimentos por
aflatoxinas em comparação aos de clima tropical, por serem localizados próximos da linha do Equador
e possuírem clima mais quente e úmido. Essas características são fundamentais para a proliferação
exacerbada dos fungos.

Você consegue concluir qual é a única variável que falta para que o fungo se desenvolva
intensamente?

375
Unidade III

Para que haja a proliferação intensa dos fungos com consequente produção de toxinas, faz-se
necessária a presença de umidade, calor e substrato (alimento). Agora fechou o ciclo: há todas
as “demandas” necessárias para a proliferação dos fungos, com consequente aumento da
produção de toxinas.

Ficou mais claro agora por que países de clima temperado têm menos casos de contaminação pelas
aflatoxinas? Porque esses países são frios em grande parte do ano, o que minimiza a possibilidade de
proliferação fúngica.

O milho e o amendoim são os mais importantes alimentos que contêm amido como substrato e
que, consequentemente, podem conter os fungos produtores das aflatoxinas. Porém, outros alimentos
também podem estar contaminados por fungos, como nozes, aveia, cevada, trigo, soja, arroz, malte,
sementes de algodão, sorgo, girassol, pimenta, pimenta preta, açafrão, coentro, amêndoas, nozes,
pistache, coco, leite e produtos lácteos (OSTRY et al., 2017; BBOSA et al., 2013).

Pode haver aflatoxina no leite, mas no leite não há amido. Não está havendo incongruência de
informações?

Guarde bem essa observação. Em breve, conseguirá vislumbrar o desfecho dessa dúvida.

As aflatoxinas são compostos presentes na forma de cristais que variam de incolor a amarelo claro.
As letras que dão origem à nomenclatura das aflatoxinas advêm da cor que fluoresce quando a luz
ultravioleta incide sobre elas. A letra B advém da primeira letra da palavra blue, do inglês, e a letra G advém
da palavra green, que começa com a letra G. A letra M não está associada exatamente à fluorescência,
mas ao alimento em que são encontradas, que é o leite (milk, em inglês) (OSTRY et al., 2017).

Aflatoxina B1 (A) Aflatoxina B2 (B) Aflatoxina G1 (C)


O O O O O O

H O H O H O O

O O O
O OCH3 O OCH3 O OCH3
H H H
Aflatoxina G2 (D) Aflatoxina M1 (E)
O O O O

H O O OH O

O O
O OCH3 O OCH3
H H

Figura 152 – Estruturas químicas de algumas aflatoxinas

376
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Mas a nomenclatura das aflatoxinas não para por aí. Ao serem submetidas a um processo de
separação por cromatografia em camada delgada (CCD), as frações das aflatoxinas se separam, dando
origem aos números 1 e 2. Assim, dependendo da taxa de fluxo (RF) na separação das aflatoxinas por
um processo de migração diferencial, as bandas diferentes formadas apresentam a representação 1 e 2;
daí as nomenclaturas AFB1, AFB2, AFG1 e AFG2.

Quimicamente, as aflatoxinas pertencem a um grupo de difuranocumarinas (veja o quadro a seguir)


(BBOSA et al., 2013).

Quadro 24 – Relação entre grupo químico,


tipo de aflatoxina e espécie de Aspergillus

Difuranocumarinas Tipo de aflatoxina Espécie de Aspergillus produtora de aflatoxinas


A. flavus
A. arachidicola
A. bombycis
A. minisclerotigenes
A. nomius
Aflatoxina B1 (AFB1)
A. ochraceoroseus
A. parasiticus
A. pseudotamarii
A. rambellii
Emericella venezuelensis
A. arachidicola

Derivados da A. flavus
difurocumarociclopentenona Aflatoxina B2 (AFB2) A. minisclerotigenes
A. nomius
A. parasiticus
Aflatoxina B2a (AFB2a) A. flavus
A. flavus

Aflatoxina M1 (AFM1) A. parasiticus


Metabólito da aflatoxina B1 em humanos e animais
e que estão presentes no leite materno
Metabólito de aflatoxina B2 presente no leite de
Aflatoxina M2 (AFM2) vaca alimentada com alimentos contaminados
Aflatoxina M2A (AFM2A) Metabólito de AFM2
Aflatoxicol (AFL) A. flavus, metabólito de AFB1
Aflatoxicol M1 (AFL M1) Metabólito de AFM1

377
Unidade III

Difuranocumarinas Tipo de aflatoxina Espécie de Aspergillus produtora de aflatoxinas


A. arachidicola
A. flavus
Aflatoxina G1 (AFG1) A. minisclerotigenes
A. nomius
A. parasiticus
A. arachidicola
A. flavus
Aflatoxina G2 (AFG2) A. minisclerotigenes
A. nomius
A. parasiticus
Derivados da
difurocumarolactona Aflatoxina G2A (AFG2A) Metabólito de AFG2
Aflatoxina GM1 (AFGM1) A. flavus
Aflatoxina GM2 (AFGM2) Metabólito de AFG2
Aflatoxina GM2A (AFGM2A) Metabólito de AFGM2
Aflatoxina B3 (AFB3) Espécies indefinidas de Aspergillus
Parasiticol (P) A. flavus
A. flavus
Aflatrem
A. minisclerotigenes
Aspertoxina A. flavus
Metabólito principal de AFB1 em preparações
Aflatoxina Q1 (AFQ1) hepáticas in vitro de outros vertebrados superiores

Adaptado de: Bbosa et al. (2013).

A ingestão direta de alimentos contaminados com aflatoxinas e a inalação de partículas de poeira


de aflatoxinas em fábricas ou indústrias de alimentos são as principais formas de exposição a essas
micotoxinas. Após absorção, são distribuídas principalmente para o fígado, além de outros tecidos.
No fígado, é biotransformada pelo citocromo P-450 microssomal.

O aflatoxina 8,9-epóxido formado pela reação de fase I de biotransformação catalisada por enzimas
microssomais se liga à albumina do soro e ao DNA de células, sobretudo as hepáticas, e pode levar à
aflatoxicose, ou seja, causa dano no organismo.

Você se recorda de que, ainda que não haja amido no leite, poderia haver aflatoxina nesse alimento?
Vamos entender agora por que isso acontece.

As principais isoenzimas do citocromo P-450 que biotransformam as aflatoxinas são a CYP1A2 e


CYP3A4. A isoenzima CYP1A2 é capaz de catalisar a epoxidação de AFB1 e produzir grandes quantidades
de endo-epóxido e também pode hidroxilar a AFB1 para dar origem à AFM1, menos potente que a AFB1.

Conseguiu fazer a leitura toxicológica da informação? Ainda não? Tudo bem!

378
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observe a explicação: se parte da AFB1 dá origem a uma grande quantidade de endo-epóxido e outra
parte dá origem à AFM1, significa que um dos produtos de biotransformação da AFB1, que é exatamente
a AFM1, é consequentemente excretado pelo leite materno. Ficou mais clara a informação para você?

Além de responsável pela ativação da AFB1 na formação do epóxido, a isoenzima CYP1A2 é


responsável pela formação da AFQ1, com toxicidade inferior a AFB1.

Acreditamos que ao longo da leitura deste material você esteja conseguindo compreender cada vez
mais as informações. No início, demos bastante ênfase a alguns conceitos aparentemente básicos, mas
que na verdade são da mais alta relevância.

Acompanhamos, por exemplo, que pessoas diferentes podem ter reações diferentes e que a raça
é um importante ponto a ser considerado quando se versa sobre as reações de diferentes organismos
quando interagem às mesmas substâncias químicas, nas mesmas condições de exposição.

Lembrete

O gênero e a espécie podem alterar de forma significativa a


biotransformação e, consequentemente, o risco de intoxicação.

Vamos agora ver mais uma aplicação no âmbito prático das informações teóricas.

Estudos recentes sobre polimorfismo demonstram que a maioria dos africanos não expressam
a isoenzima CYP3A5. Também se sabe que as aflatoxinas são capazes de atravessar a placenta e,
consequentemente, pode haver uma contaminação vertical, com prejuízo para o feto ou embrião,
e a isoenzima CYP3A7 é fundamental na metabolização da AFB1 a compostos 8,9-epóxidos, estando
presente no fígado fetal humano (BBOSA et al., 2013).

Vamos a mais uma reflexão, para que possamos compreender melhor como os elementos teóricos
nos dão sustentação para a aplicação das informações na prática.

Exemplo de aplicação

Segundo exposto anteriormente, se a isoenzima CYP3A7 é expressa no fígado fetal humano, há risco
de intoxicação ao embrião ou feto caso a gestante se exponha a aflatoxinas?

Reflita e responda a esse desafio. Se necessário, reporte às informações anteriores, para você se
assegurar da resposta.

Se as aflatoxinas são capazes de atravessar a placenta, significa que são capazes de chegar ao
embrião ou feto. Se o fígado do feto humano é capaz de produzir a isoenzima CYP3A7, ocorre a

379
Unidade III

biotransformação da aflatoxina a compostos epóxidos, e esses metabólitos podem interagir


covalentemente com macromoléculas nucleofílicas e causar danos fetais.

Destaca-se nesse contexto que a taxa de bioativação exposta anteriormente varia muito por conta
de diferenças entre adultos e crianças.

Lembrete

A suscetibilidade individual é um dos fatores que podem alterar as


condições de exposição, e a idade e a espécie são fatores que podem alterar
a biotransformação de um xenobiótico.

Pode haver marcantes diferenças entre humanos e animais em relação à proporção da aflatoxina
biotransformada e, consequentemente, na sua toxicidade (OSTRY et al., 2017).

Observação

Em vários momentos deste material vimos que a temperatura


pode aumentar ou reduzir a toxicidade de uma substância, ou até
mesmo ser inócua.

Após a exposição a esse repertório de informações, possivelmente você está pensando: é por
isso que submeto os alimentos à fervura, principalmente o leite. Não foi isso que você pensou?
Permita-nos acrescentar mais algumas informações e poderemos concluir se ferver o leite elimina a
AFM desse alimento.

As aflatoxinas se decompõem apenas a elevadas temperaturas, e o ponto de fusão é de 237 ºC e


299 ºC para a AFG1 e a AFM, respectivamente.

Essa informação responde à sua pergunta sobre a influência da fervura do leite na eliminação da
AFM? A temperatura de fervura ou cozimento do alimento não é capaz de destruir a aflatoxina M. Caso
submetamos o leite a temperatura superior a 300 ºC, degradaremos o alimento (NATIONAL TOXICOLOGY
PROGRAM, 2016).

A toxicodinâmica das aflatoxinas já foi vista neste material, mas sempre é bom retomarmos
a informação.

Como você está lembrado, a toxicodinâmica das aflatoxinas é condicionada à sua biotransformação,
ou seja, após ser biotransformada pelo citocromo P-450, as aflatoxinas formam compostos
8,9-epóxidos altamente reativos e que apresentam muita afinidade com macromoléculas nucleofílicas;
consequentemente, formam adutos de DNA e induzem a erros de codificação na replicação do DNA e
ao desenvolvimento de mutações que tendem ao processo tumoral (OSTRY et al., 2017).
380
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

A AFB1 apresenta potencial carcinogênico, mutagênico e teratogênico. O risco de câncer hepático


é significantemente aumentado na presença de infecção pelo vírus B da hepatite concomitante
à exposição à toxina. Também é imunossupressora, ou seja, pode reduzir de forma significativa a
resistência do organismo a agentes infecciosos, como tuberculose e HIV. A exposição crônica às
aflatoxinas pode levar ao câncer do fígado e rins (BBOSA et al., 2013).

O termo aflatoxicose é utilizado para designar uma exposição aguda a aflatoxinas, ou seja, quando
o organismo se expõe a “grande” quantidade dessa micotoxina, em curto período. Desde a década de
1960 se identificam os sinais e sintomas da aflatoxicose, normalmente associados a letargia, náusea e
icterícia. Geralmente, leva ao dano hepático e pode ser fatal. Durante o verão de 2016, houve mortes de
humanos por aflatoxicose, na República da Tanzânia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018).

Com base nas análises realizadas nos surtos mais importantes, estima-se que, quando há a exposição
por um período que varia de uma a três semanas, uma dose de 20 µg.kg-1 (PC)/dia a 120 µg.kg-1 (PC)/dia
de AFB1 é suficiente para causar a aflatoxicose e é potencialmente fatal.

Observação

1 µg significa 1 bilhonésima parte de 1 kg.

Por isso, anteriormente expressamos com aspas quando falamos em “grande” quantidade dessa toxina.
Releia esse parágrafo com um olhar crítico e verificará que a “grande” quantidade dessa toxina não é tão
grande assim.

A detecção da intoxicação por aflatoxinas em humanos e animais é complexa pela possível


variação dos sinais clínicos apresentados pelo paciente e outros fatores, principalmente os
associados à supressão do sistema imunológico causada por uma doença infecciosa. Entretanto, as
técnicas utilizadas para a detecção das aflatoxinas em humanos são as que identificam metabólitos
presentes na urina, mas que estão presentes apenas por 24 horas após a exposição. Outra técnica é a
determinação da aflatoxina ligada à albumina, no soro sanguíneo. Ela nos dá informações sobre
a exposição por semanas ou até mesmo meses.

Em termos epidemiológicos, as evidências precoces relacionadas à carcinogenicidade em


humanos causada pelas aflatoxinas apresentam uma relação direta entre a variação geográfica de
maior incidência de carcinoma hepatocelular e a variação geográfica dos alimentos contendo
aflatoxinas. Há congruente correlação entre a incidência de câncer de fígado e a alta ingestão de
aflatoxinas encontradas em alimentos na Suazilândia, Quênia, China, Moçambique, Tailândia e Uganda
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018).

A ordem decrescente de toxicidade que as aflatoxinas expressam quanto à carcinogenicidade e


mutagenicidade é AFB1 > AFG1 > AFB2 > AFG2.

381
Unidade III

Alguns animais são muito sensíveis à exposição aguda de AFB1, como o rato, o cão e os ovinos, e
outras espécies são mais resistentes, como as galinhas e os macacos (BBOSA et al., 2013).

As aflatoxinas são substâncias químicas que compõem o grupo 1 da Iarc (OSTRY et al., 2017).

Há diferentes métodos disponíveis para identificação das aflatoxinas nos alimentos. Dependendo
da demanda, podem ser utilizados desde a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) acoplada à
espectrometria de massa (MS), usadas em laboratórios oficiais, até os kits de teste rápido, utilizados em
fábricas e silos de grãos.

Exemplo de aplicação

Você se lembra daquela caixa de aveia que você abriu há algumas semanas e que ainda sobrou um
pouco no armário da sua cozinha? Ante o exposto, qual é a sua percepção de risco para se expor à
banana amassada com essa aveia? Você está seguro dessa exposição?

Dados:

• Os fungos são ubíquos e podem estar presentes na sua cozinha.

• Ao abrir a embalagem de aveia, os fungos podem se instalar no alimento.

• A aveia é rica em amido, substrato para o fungo.

• O Brasil é um país tropical, quente e úmido.

• Os fungos nem sempre alteram as propriedades organolépticas dos alimentos (dependendo do


fungo, você não consegue vê-lo a olho nu, nem sentir seu cheiro ou gosto, mas ele pode estar lá).

• Caso tenha havido a contaminação, os fungos ficaram por várias semanas em meio quente, úmido
e rico em substratos e podem ter produzido aflatoxinas, como produto do metabolismo secundário.

• O limite de tolerância das aflatoxinas é de “poucos µg/kg”. Isso significa que, caso haja mais
que 20 partes de toxina para um bilhão de partes do alimento, considera-se que o alimento
esteja contaminado.

• As aflatoxinas podem ser excretadas pelo leite materno e intoxicar o lactente.

• Para alguns autores, as aflatoxinas são consideradas as substâncias de maior potencial


carcinogênico hepático que se conhece.

• São classificadas pela Iarc no grupo 1A.

382
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Então, qual é a sua percepção de risco? Você vai utilizar a caixa de aveia que abriu há semanas ou
vai providenciar outra para preparar sua banana amassada com aveia?

Citrinina

Espécies de Penicillium e Aspergillus podem produzir a citrinina como produto de seus respectivos
metabolismos secundários. A citrinina pode ser encontrada em grãos armazenados, como no arroz
fermentado com Monascus spp., em fermento vermelho utilizado em alimentos e na conservação
de carnes (ALI; DEGEN, 2019), e está associada à doença do arroz, no Japão, e como contribuinte na
nefropatia porcina (BENNETT; KLICH, 2014).

A citrinina tem sido encontrada juntamente com a ocratoxina-A (OTA-A) nos alimentos e rações,
com emergente preocupação com a qualidade do alimento para humanos e animais (ALI; DEGEN, 2019).

A citrinina (veja a figura a seguir) possui similaridade estrutural e de propriedades tóxicas com
a OTA-A, com organotropismo para os rins, ainda que a nefrotoxicidade seja menos intensa quando
comparada com o mesmo dano causado pela OTA.
O OH

HO O

Figura 153 – Estrutura físico-química da citrinina

Estudos experimentais em suínos e ratos demonstram que a citrinina exerce efeitos tóxicos sobre
os rins, fígado e coração (CHEN et al., 2019), sendo que, em doses repetidas, o principal órgão afetado
é o rim (ALI; DEGEN, 2019).

Lembrete

Espécies diferentes podem apresentar danos diferentes quando


expostas à mesma substância química, nas mesmas condições
de exposição.

A DL50 da citrinina para coelhos (VO, macho) é de 134 mg.kg-1 (PC), mas respectivamente de
50 mg.kg-1 (PC) e 19 mg.kg-1 (PC) quando a exposição ocorre pelas vias intraperitoneal e intravenosa
para a mesma espécie e sexo. Diferentes suscetibilidades também foram observadas quando espécies
diferentes se expuseram à citrinina (ALI; DEGEN, 2019).

383
Unidade III

A intoxicação aguda pela citrinina é incomum e ocorre apenas quando há rações ou alimentos
altamente contaminados.

O limite permitido de citrinina no corante vermelho e produtos fermentados no Japão é de 200 g/kg,
e de 100 g/kg e 80 g/kg na União Europeia e China, respectivamente (CHEN et al., 2019).

A citricina é classificada no grupo 3 pela Iarc (2016).

Esterigmatocistina

Gêneros de fungos Bipolaris, Emericella, Chaetomium e espécies de Aspergillus incluindo A. Flavipes,


A. Sydowi, A. Rugulosus, A. Nidulans, A. Ustus, A. Flavus e A. Versicolor podem produzir a
esterigmatocistina, que estruturalmente está relacionada às aflatoxinas, sendo que as três últimas
espécies são encontradas em uvas cultivadas para a produção de vinhos (veja a figura a seguir).

O OH

O O OCH3

Figura 154 – Estrutura química da esterigmatocistina

Observe a seguir como as propriedades físico-químicas alteram a toxicidade de uma substância


química. A toxicidade da esterigmatocistina é semelhante à das aflatoxinas, pela sua estrutura cumarínica.
É mutagênica e carcinogênica, mas menos potente que as aflatoxinas (BENNETT; KLICH, 2014). Enquanto
as aflatoxinas podem causam extensas hemorragias, a esterigmatocistina causa pequenas hemorragias
em forma de manchas.

A esterigmatocistina é classificada no grupo 2B pela Iarc (2016).

Ocratoxina A (OTA)

A OTA (veja a figura a seguir) pode estar presente na uva, em seus sucos e frutos secos, mas está
presente sobretudo no vinho tinto (é formada antes da fermentação alcoólica), café processado e
não processado, cacau e cereais. Contamina o alimento no campo, mas também há a possibilidade de ter
seus teores aumentados na pós-colheita, antes ou após tratamentos tecnológicos do alimento.

384
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

OH
O C O OH O
H

N O
H
H

CH3
CI

Figura 155 – Estrutura química da OTA

Foi isolada inicialmente em cepas de Aspergillus ochraceus, mas é produzida principalmente por
Aspergillus. Penicillium ssp. e Aspergillus carbonarius também produzem a toxina como produto de seu
metabolismo secundário, mas esse último é capaz de produzir 100 mg da toxina por quilo de peso do
alimento (BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008).

A latitude está diretamente ligada à produção de OTA: quanto maior a latitude, menores são a
ocorrência e concentração de OTA no alimento. Na Itália, em 56 análises realizadas com vinhos vermelho,
rosé, branco e de sobremesa, foram encontradas elevadas concentrações de OTA, variando de 10 a
7600 ng/L, nas quais o vinho vermelho apresentou maiores teores em comparação com o rosé e o
branco (BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008).

Observação

Ainda que o etanol tenha a densidade de 0,789 g/ml e que o vinho


tenha um teor de álcool aproximado de 5%, vamos assumir a densidade
do vinho como 1 g/ml, para facilitar a comparação dos dados da literatura.
Dessa forma, assumimos que o litro de vinho tenha 1 kg.

Na Espanha, em análise realizada em 267 amostras de diferentes tipos de vinho e 18 diferentes


marcas de sucos de uva, a contaminação existia em 92%, 91% e 64% dos vinhos vermelho, rosé e
branco, respectivamente, com concentração de OTA de 54 ng/L, 21 ng/L e 20 ng/L, respectivamente
(BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008).

Observação

Pode haver toxina no alimento, mas dentro dos limites preconizados.


No parágrafo anterior, nenhuma toxina está com valor acima do
limite de tolerância.

385
Unidade III

Em 47 amostras de vinho de Jeres, 74% estavam contaminadas com OTA, na ordem de grandeza
de 40 ng/L, e, de 16 amostras de vinho de sobremesa, a OTA foi detectada em 94% da amostragem,
em concentração média de 1000 ng/L. De 30 amostras de vinho marroquino, todas estavam com
concentrações de até 3200 ng/L (BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008).

Observação

Nesse caso, 3200 ng/L podem ser lidos como 3,2 µg/kg.

Em 31 amostras de vinho vermelho e 15 amostras de vinagre originário do Mediterrâneo,


72% dos vinhos e 100% dos vinagres continham OTA com concentrações de até 3,4 ng/ml e 0,25
ng/ml, respectivamente. Na região sudeste da França, oito de 11 sucos de uva continham OTA com
concentrações de até 460 ng/L e forte correlação com a presença de A. Carbonarius (BATTILANI;
BARBANO; LOGRIECO, 2008).

Observação

Atente-se às unidades do parágrafo que acabamos de apresentar:


ng/ml é o mesmo que µg/L; para cálculos rápidos, compreendemos que um
litro de suco tem densidade próxima a 1 mg/ml.

Assim, entende-se que 3,4 ng/ml sejam equivalentes a 3,4 µg/kg, ou


seja, o vinho vermelho do Mediterrâneo está contaminado.

Você se recorda de que trabalhamos bastante a influência da temperatura na toxicidade dos


alimentos? Vamos a mais uma informação.

A OTA é apenas parcialmente degradada em condições normais de cozimento e pode resistir até
três horas, a 121 ºC, à esterilização a vapor em alta pressão, e até mesmo temperaturas de 250 ºC são
incapazes de destruí-la completamente (EL KHOURY; ATOUI, 2010).

Ela apresenta organotropismo renal, que afeta a síntese de macromoléculas e leva a danos dos
túbulos renais proximais, por prejuízo do metabolismo de carboidratos presentes nos rins. É considerada
a mais potente micotoxina para aves e responsável por uma doença endêmica nos rins da população dos
Balcãs, que deu origem ao que se chama de nefropatia endêmica dos Balcãs (ROSMANINHO; OLIVEIRA;
BITTENCOURT, 2001), doença que afeta humanos da região sudeste da Europa, como Bósnia, Bulgária,
Croácia e Romênia, e que é considerada a maior causa de nefropatia na Tunísia (EL KHOURY; ATOUI, 2010).

A exposição vertical à OTA pode levar a malformações no SNC. Trata-se de um potente agente
teratogênico para animais de laboratório, que atravessa a barreira placentária, e a natureza e extensão
das lesões dependem da via de administração e do período gestacional (EL KHOURY; ATOUI, 2010).

386
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

A OTA é classificada no grupo 2B pela Iarc (2016).

Patulina

A patulina (veja a figura a seguir) é uma das cerca de 300 micotoxinas produzidas por fungos, ainda
que apenas pequena parte delas desempenhe papel como contaminante alimentar. Essa micotoxina é
produzida por Aspergillus, Byssochlamys e, principalmente, por Penicillium expansum e é, provavelmente,
a toxina com maior prevalência em maçãs, peras e damascos. É considerada um problema pós-colheita
(BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008).
O
O

O OH

Figura 156 – Estrutura química da patulina

Existem processos físico-químicos que podem minimizar a contaminação de um alimento, mas


também há processos inócuos, ou seja, que não reduzem ou aumentam a toxicidade da substância no
alimento. Para contextualizar essa informação, trazemos a você a seguinte situação: será que, quando
se submete o suco de maçã a uma fermentação alcoólica para sua conversão em sidra, é reduzida a
toxicidade da toxina?

Nesse processo, a patulina é destruída (BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008). Segundo


Welke et al. (2009), também é possível reduzir os teores de patulina nos sucos de maçã pela adição de
ácido ascórbico e de sulfito.

Ao longo deste livro-texto você leu várias vezes a expressão dependendo das condições de
exposição. Sim, dependendo das condições de exposição, todo o cenário toxicológico é alterado.

Para contextualizar essa informação, trazemos um levantamento realizado por Battilani, Barbano
e Logrieco (2008), que demonstrou que, em condições laboratoriais, diferentes espécies de fungos
podem contaminar grãos, maçãs e sucos de uva. Entretanto, em condições naturais, a patulina é
essencialmente conhecida como um metabólito produzido por P. expansum na maçã ou no suco
desse fruto.

Observação

O LMP da patulina no suco de maçã e na polpa de maçã, segundo a


Anvisa, é de 50 (µg/kg) (BRASIL, 2011).

387
Unidade III

Gostaríamos que você acompanhasse a seguinte informação: a presença de micotoxinas no alimento


transcende os problemas de saúde, pois também é um problema de ordem econômica.

Permita-nos contextualizar. Foi constatada a ocorrência de patulina em 52% de 104 amostras de


maçãs de origem espanhola com teores de patulina de até 250 mg/kg e em 43% de sucos de maçãs
espanhóis, em concentração de 10 mg/L a 170 mg/L.

Observação

Compare os números impressionantes do parágrafo que acabamos de


apresentar com o LMP preconizado pela Anvisa e conclua se o alimento
está contaminado.

Quanto a produtos de origem italiana, os mesmos autores demonstraram a presença da patulina em


dois de seis sucos de pêssego (3 µg.L-1), cinco de seis sucos de pera (até 25 µg.L-1) e 50% de 20 amostras de
geleia (75 µg.kg-1). De 215 sucos de maçãs produzidos na Turquia, houve 100% da presença de patulina,
em uma faixa de concentração de 7–376 µg.L-1 (BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008). Segundo
Welke et al. (2009), a OMS recomenda que no suco de maçã haja no máximo 50 µg.L -1 de patulina.

Exemplo de aplicação

Identifique, nas informações anteriores, quais amostras ultrapassaram os limites. Preste atenção nas
unidades utilizadas.

Há países com legislação bastante rígida quanto às concentrações de micotoxinas presentes em


alimentos e seus derivados; consequentemente, dependendo das concentrações dessas toxinas
nos alimentos, a importação desses alimentos não é permitida (BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008).

Outra situação que convém citar é que muitas vezes os sucos de maçãs apresentaram concentrações
de patulina inferiores às encontradas no próprio fruto de mesma origem.

Dentro desse contexto, poderíamos perguntar: por que os teores de patulina no suco de maçã
apresentam concentração de micotoxina inferior ao presente no próprio fruto? Seria o processo de
conservação do suco, de preparo ou os conservantes utilizados?

Uma das respostas plausíveis para essa questão está relacionada ao controle de qualidade das maçãs
utilizadas no suco, ou seja, aquelas que aparentemente estão fisicamente inadequadas para o suco são
desprezadas. Possivelmente, quando se identificam sinais de putrefação, os frutos são descartados e,
consequentemente, não utilizados na produção de suco.

O estudo da toxicologia é importante para a magnificação de seu conhecimento, pois oferece uma
base teórica e prática ainda maior e condiciona um empoderamento em sua atividade profissional.

388
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

A seguir, você irá compreender melhor esse contexto.

Em um processo industrial, a remoção da linha de processamento de frutos impróprios para o


consumo deve ser tratada com a maior responsabilidade e comprometimento. Para que você tenha
dimensão da relevância dessas informações, a “simples” lavagem inicial do fruto, com água, pode reduzir
em até 80% da concentração média de patulina nas maçãs.

Quando se retiram os frutos putrefeitos e danificados, a concentração média é reduzida em mais


10%. Opostamente, a pré-concentração do fruto para a preparação do suco eleva, de forma significativa,
os teores de patulina, mas a ação combinada de ultrafiltração e a despectinização combinada com
carvão ativado diminuem substancialmente a concentração média de patulina no suco. Os processos
que envolvem a produção dos sucos de maçã após essas fases não aumentam nem minimizam a
concentração de patulina na produção do suco de maçã.

Você já reparou que algumas vezes, quando vamos comer uma pera ou maçã, o fruto está com parte
da casca com um certo “afundamento” e “amarronzada”? Quando nos deparamos com situações dessa
natureza (e parece que não é uma situação tão incomum), possivelmente o fruto foi submetido a algum
tipo de estresse físico, se desvitalizou parcialmente e perdeu parte da integridade da casca.

Quando o fruto perde essa proteção natural, que é a casca, o parênquima do fruto fica exposto à
ação dos fungos presentes na casca. Quando o fungo tem acesso à polpa do fruto, encontra ainda mais
substratos para seu desenvolvimento e se prolifera mais intensamente; consequentemente, os produtos
do metabolismo secundário aumentam. Estudos demonstram que a patulina foi encontrada na polpa do
fruto, dois centímetros abaixo da casca da maçã.

Nessa condição, o fruto ainda pode ser consumido. Entretanto, deve-se retirar a parte danificada da
maçã com margem mínima de 2 cm, ou seja, 4 cm da polpa do fruto serão “perdidos”. Caso a maçã seja
muito pequena e apresente partes com “afundamento” ou perda da integridade de sua casca, sugere-se
que o fruto seja desprezado.

Entretanto, inicia-se nesse momento uma situação envolvendo a macroeconomia do país: se há


uma crise econômica instalada ou a pessoa se encontra em uma situação socialmente desfavorecida,
orientar essa pessoa a desprezar o fruto nessa situação pode até parecer desrespeitoso, uma vez que ela
não tem com o que se alimentar. Opostamente, ao se expor a alimentos com baixa qualidade, há riscos
inerentes e, possivelmente, o organismo terá seu rompimento de homeostase, com aparecimento de
sinais e sintomas de intoxicação, como veremos a seguir.

Segundo a Iarc (1999), não há evidência de carcinogenicidade da patulina em animais e em humanos;


assim, é classificada no grupo 3. Entretanto, foram realizados levantamentos muito interessantes sobre
a patulina. O primeiro deles relaciona-se à toxicodinâmica dessa toxina. Quando se avalia a toxicidade
de uma substância, você deve sempre ter em mente que, quando se conhece a toxicodinâmica da
substância, é possível propor medidas de prevenção e tratamento da intoxicação.

389
Unidade III

No caso, a patulina é capaz de inativar enzimas por ligações covalentes com grupamentos sulfidrílicos
ou tiois (-SH), e essa ligação com moléculas endógenas é responsável pela toxicidade envolvida em
grande parte dos danos que veremos a partir de agora (BATTILANI; BARBANO; LOGRIECO, 2008).

A patulina impede o afluxo de aminoácidos nas membranas celulares e, por consequência, inibe o
crescimento de culturas de tecido hepático, é inibidora enzimática (sim, já presumíamos isso: não inibe
grupamentos sulfidrílicos proteicos covalentemente?) e inativa polimerases do RNA e DNA, onde atua
diretamente, inibindo a tradução e transcrição.

Também é capaz de romper a membrana celular e inibir a síntese de DNA, é imunossupressora para
camundongos e coelhos, teratogênica para embriões de galinha, mutagênica em células mamárias de
ratas, hepatotóxica e nefrotóxica, prejudica a quantidade e morfologia do esperma e induz a alterações
histopatológicas no epidídimo e na próstata.

Além disso, é genotóxica para pulmões de hamster chinês. Em cultura de células de rins, leva dano
ao DNA, uma vez que inibe a ação da glutationa (observe que a inibição da glutationa possivelmente
está acontecendo pela inibição de grupamentos sulfidrílicos). Também pode levar a náusea e vômito,
caracterizando desconforto gastrintestinal, geração de processo inflamatório e de ulceração de
estômago e intestino por inativação das fosfatases (observe novamente que as ligações covalentes
da micotoxina com grupamentos sulfidrílicos agem sobre as enzimas e macromoléculas nucleofílicas,
causando importantes danos no organismo).

Você consegue concluir com facilidade que, mesmo quando inquestionáveis agências internacionais
afirmam que uma certa substância química não é carcinogênica, não nos deve faltar prudência na
exposição a ela, não é mesmo?

Zearalenona

A zearalenona é produzida por várias espécies de Fusarium, sobretudo F. graminearum e F. culmorum.


Seus principais substratos são aveia, cevada, trigo, milho e sorgo.

Quimicamente (veja a figura a seguir), a zearalenona é uma lactona do ácido fenólico resorcíclico,
conhecida pelas suas propriedades fitoestrogênicas.
HO O CH3

HO O

Figura 157 – Estrutura química da zearalenona

390
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

O que se destaca nessa toxina é que ela apresenta uma potente atividade estrogênica em animais,
como porcos, ovelhas e gado. Alguns produtos do metabolismo da zearalenona, como a-zearalenol e
b-zearalenol, também apresentam essas propriedades.

Seu potencial genotóxico não foi definitivamente estabelecido, mas apresenta potencial
significativamente tóxico para o sistema reprodutivo de animais e tem ação osteógena. Estudos atuais
sugerem que a zearalenona seja uma toxina responsável pela redução da produção de leite e induza
a infertilidade em bovinos, edema e prolapso vulvar (veja a figura a seguir), hipertrofia mamária em
mulheres e aumento das glândulas mamárias, atrofia testicular e feminização de homens em função de
sua atividade hiperestrogênica.

Figura 158 – Prolapso de vulva em leitoa recém-nascida causado pela presença de zearalenona na ração

Em Porto Rico, foi encontrada zearalenona no sangue de crianças que apresentavam desenvolvimento
sexual precoce e haviam sido expostas a alimentos contaminados (DALAGNOL, 2008).

Exemplo de aplicação

Observe a estrutura química da zearalenona que acabamos de apresentar e responda: essa toxina
possui estrutura esteroidal?

Essa é uma informação que nos chama muito a atenção. A zearalenona não é a única substância
química não esteroidal que apresenta atividade estrogênica (SHIER et al., 2001). Você sabe por
quê? Porque os receptores estrogênicos respondem a uma significativa gama de substâncias
químicas em praticamente todas as espécies de mamíferos. Assim, lignanas e isoflavonas como
a genisteína da soja e poluentes antropogênicos como as bifenilas policloradas, bisfenol-A e
2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina são xenobióticos que não apresentam estruturas esteroidais,
mas que exercem efeito estrogênico.

A zearalenona é classificada no grupo 3 pela Iarc (2016).


391
Unidade III

Tricotecenos

Os tricotecenos compreendem um grupo de mais de 100 diferentes metabólitos que compartilham


uma estrutura química básica comum (veja a figura a seguir) (ZAIN, 2011).
H H H
H3C O
10 1 R1
9 11 2 3
13 O
8 6
7 5 12 4
O H
CH2
R4 CH3 R2
R3

Figura 159 – Estrutura química geral dos tricotecenos

Muitas espécies de fungos toxigênicos são capazes de produzir os tricotecenos, como Fusarium
graminearum, Fusarium sporotrichioides e Fusarium poae. Stachybotrys chartarum, Myrothecium roridum e
S. chartarum são capazes de produzir tricotecenos macrocíclicos (SUDAKIN, 2003).

Os tricotecenos têm ocorrência natural na América do Norte, América do Sul, África, Ásia e Europa.
A produção dessas toxinas é mais alta quando as temperaturas variam de 6 ºC a 24 ºC. Trigo, cevada,
aveia, milho, centeio e arroz são os substratos mais comuns para essas espécies de fungos (ZAIN, 2011).

Agora, observe a resistência dessas toxinas: são compostos não voláteis, resistentes à degradação
ambiental, incluindo fatores como luz e temperatura, e apenas condições quase que extremas de pH
são capazes de decompô-las (SUDAKIN, 2003).

Estruturalmente, os tricotecenos apresentam um anel sesquiterpenoide, e todas as variantes


possuem um grupo epóxido no C12 e C13, responsável pela toxicidade. Os tricotecenos tipo A ou
tipo B são distinguíveis pela ausência ou presença do grupamento carbonila em C8. Os tipo C possuem
um grupamento epóxido adicional nos carbonos C7-C8 ou C9-C10. Também há o tricoteceno tipo D,
que possui um anel macrocíclico.

Aparentemente, essas toxinas são capazes de induzir a uma inibição primária da síntese proteica de
eucariontes e também dividem ativamente células que revestem a pele, o trato digestório e os tecidos
linfoides e eritroides (ZAIN, 2011).

A inibição proteica ocorre porque os tricotecenos são capazes de interagir com a enzima
peptidiltransferase pela ligação com a subunidade ribossômica 60S, e essa interação é capaz de induzir
a uma ampla faixa de intensidade de inibição da ligação peptídica.

Você se recorda de que vimos que os tricotecenos apresentam um grupamento epóxido C12-C13
comum? É esse grupo epóxido um dos maiores responsáveis pela síntese proteica (SUDAKIN, 2003).

392
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Na década de 1930, na antiga União Soviética, foi identificada uma epidemia denominada de
aleucia tóxica alimentar (ATA). Ela ocorreu em condições críticas de disponibilidade de alimento, em
que a população foi praticamente forçada a consumir qualquer tipo de grão para sua sobrevivência,
mas não sabia que esses grãos a que estava se expondo estavam contaminados por espécies de
F. poae e F. Sporotrichioides, produtores de elevadas quantidades de toxina tricoteceno T-2. Suas
amostras chegaram a apresentar 4,1 g de toxina.kg-1 de painço (ZAIN, 2011).

A primeira etapa da intoxicação é caracterizada por sintomas gastrintestinais graves, com duração
de três a nove dias. Em um segundo momento, o organismo apresenta um quadro de melhora de
seus sintomas, mas desenvolve concomitantemente trombocitopenia, leucopenia e anemia, por várias
semanas. Caso persista a exposição, o trato digestório e as vias aéreas apresentam quadro de lesão
necrótica, hemorragia e infecções. Caso seja cessada a exposição, ocorre a remissão das anormalidades
sanguíneas e das lesões necróticas.

Os tricotecenos são classificados no grupo 3 pela Iarc (2016).

7.1.5 Contaminantes indiretos de alimentos

7.1.5.1 Praguicidas

A agricultura é praticada há aproximadamente 15 mil anos em regiões da África, Ásia, América


Central, Andes e Europa. Nos últimos 2 a 3 mil anos, houve evolução nas culturas camponesas com
caráter sustentável. Sistemas agrícolas desenvolvidos por agricultores estadunidenses resistiram
a desastres naturais e guerras, para que houvesse a manutenção da capacidade de produção
e fornecimento de alimento, ou seja, a históra mostra que as pessoas se organizam para que se
mantenha, minimamente, a capacidade de disponibilizar alimento para a população.

Além do desenvolvimento de técnicas agrícolas, também houve a evolução histórica dos praguicidas
utilizados para a proteção dos alimentos com o objetivo de repelir, mitigar ou eliminar as pragas
que poderiam destruir os alimentos, sobretudo com o crescimento populacional, e comprometer seu
abastecimento.

Além do desenvolvimento de modernas linhas de pesquisa, houve a síntese de grande quantidade


de novos agrotóxicos que, se por um lado protegem o alimento quanto às pragas, por outro podem
levar à intoxicação milhões de pessoas anualmente. É isso mesmo que você leu: milhões de pessoas se
intoxicam anualmente, em todo o mundo, pela exposição acidental ou intencional aos praguicidas.

Você consegue perceber que se resolve um problema, mas cria-se outro? Além das intoxicações
diretas pelas exposições ocupacionais aos praguicidas, há outra situação: a presença dessas substâncias
como resíduo nos alimentos. Dessa forma, existe um importante problema de segurança alimentar nesse
contexto. Estima-se que 35% dos casos de câncer de cidadãos estadunidenses tenham como origem a
presença de praguicidas nos alimentos (BRASIL, 2013).

Veremos adiante os danos que os praguicidas podem causar.


393
Unidade III

7.1.6 Alimentos transgênicos

Com o objetivo de aumentar o teor nutricional, produzir organismos com maior resistência a pragas (e,
consequemente, reduzir a quantidade de praguicidas utilizados na agricultura) e viabilizar economicamente
a produção agrícola, a biologia molecular passou a ser utilizada. Atualmente, permite-se, por meio da
engenharia genética ou tecnologia do DNA recombinante, a obtenção de um organismo transgênico,
também chamado de organismo geneticamente modificado (OGM) (COSTA et al., 2011).

No início da década de 1980, foram desenvolvidas as plantas transgênicas, como o tabaco; cerca
de dez anos depois, 56 plantas transgênicas estavam sendo testadas em campo, como milho, algodão,
canola, mamão, tomate e soja. Para que você tenha dimensão, no ano de 2005, 21 países e 8,5 milhões
de agricultorres já cultivavam plantações transgênicas.

Mas a pergunta que se faz é: quem garante que esse vegetal que teve alteração genética não pode
causar danos a animais ou humanos? Será que OGMs apresentam riscos toxicológicos para a população ou,
eventualmente, algum efeito antinutriente? Ainda dentro do raciocínio de modificação genética, não haveria
a possibilidade, ainda que distante, de haver algum tipo de tranferência horizontal de genes?

Você consegue visualizar que já vimos esse cenário anteriormente? Observe que a história está se
repetindo, ou seja, se por um lado os alimentos se tornam resistentes a pragas sem a necessidade de
utilização de pesticidas e ganho de rendimento na produção desses alimentos, por outro lado aparece a
incógnita de quais são, efetivamente, os danos que podem causar aos animais ou a humanos.

Uma das principais alterações que pode haver pela exposição aos alimentos transgênicos
são as alterações pleiotrópicas, ou seja, poderiam afetar expressões fenotípicas de duas ou mais
características na própria planta, fazendo com que haja a produção de diferentes metabólitos.
Como exemplo, destaca-se a produção de agmatina e seus derivados, que podem interagir com os
receptores de glutamato, medazolínicos e adrenérgicos.

7.2 Praguicidas

Traremos um pouco da história dos praguicidas, para que você compreenda a evolução da utilização
dessas substâncias químicas.

7.2.1 Uma breve retrospectiva histórica dos praguicidas

Reduzir as perdas agrícolas causadas por ampla variedade de pragas é um dos maiores desafios
para aqueles que estão envolvidos em práticas agrícolas. Aparentemente, é impossível apontar quem
decidiu pela primeira vez que a aplicação de inseticidas minimizaria perdas, mas não é tão difícil
concluirmos que foi a própria natureza que “tomou providência” no sentido de autoproteção e
apontou alguns caminhos para que os humanos pudessem segui-la quando foi notado, por exemplo,
que compostos naturais apresentavam algumas propriedades interessantes para mitigar pragas nos
vegetais (OBEREMOK et al., 2015).

394
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Acredita-se que as preparações extraídas de vegetais foram as primeiras substâncias químicas


utilizadas como inseticidas. Na China antiga e depois, durante a Idade Média, na Pérsia, já se utilizavam
as flores de dalmácia, vendidas com o nome de pó-de-inseto ou pó-da-Pérsia, para exterminar moscas,
mosquitos, percevejos e baratas (OBEREMOK et al., 2015).

Observação

Flores de dalmácia contêm até 1,5% de piretrina, substância


ativa contra insetos.

Outras plantas, ainda hoje, são utilizadas popularmente como inseticidas, como o extrato aquoso de
absinto, flores de sabugueiro e extrato de tabaco, contra gorgulhos, baratas e pulgões, respectivamente
(OBEREMOK et al., 2015).

Desde o ano 1000 a.C., os produtos químicos naturais também são conhecidos pelas suas
propriedades inseticidas. Homero descreveu o ritual da “limpeza divina”, em que o enxofre
inorgânico era utilizado para livrar as pessoas dos piolhos, em suas obras A Ilíada e A Odisseia.
A partir do ano 90 d.C., o arsênio e seus sais, a criolita e o bórax começaram a ser utilizados como
inseticidas (OBEREMOK et al., 2015).

A utilização mais ampla de substâncias químicas para a proteção do agronegócio se intensificou


bastante no século XIX. O acetoarsenito de cobre, também conhecido como verde Paris, foi aplicado
com sucesso em 1871, no Colorado, Estados Unidos, contra o besouro da batata e foi amplamente
utilizado no século XX, inclusive para o controle de vetores de doenças endêmicas, como mosquitos do
gênero Anopheles.

O diclorodifeniltricloroetano (DDT) é, provavelmente, o mais conhecido inseticida. Ele foi


sintetizado em 1874 pelo estudante austríaco Othmar Tseidler. Entretanto, na ocasião de sua
descoberta, suas propriedades inseticidas não eram conhecidas. Apenas em 1939, o químico suíço
Paul Müller identificou essa característica do DDT. Para que você tenha dimensão do feito de Müller,
em 1948, ele ganhou o Prêmio Nobel de Medicina por ter trazido à luz a alta eficiência do DDT como
inseticida de contato. Posteriormente, foi constatado que essa substância organoclorada era eficiente,
mas também perigosa, quando agia sobre outros grupos de organismos, como répteis, pássaros e
mamíferos (OBEREMOK et al., 2015).

A história é fluida e não poderia ser diferente para os inseticidas. A glória das propriedades
inseticidas do DDT perdurou até a segunda metade do século XX, quando cedeu espaço a outras classes
de substâncias químicas utilizadas com a mesma finalidade, como os organofosforados e os carbamatos.
Estes, a despeito de seus possíveis danos ao meio ambiente, desempenham um importante papel no
controle de pragas e ainda representam cerca de 19% de todo o mercado mundial para esse fim.

Neste momento, faz-se necessário trazermos até você, dentro desse breve histórico dos inseticidas,
o desastre que houve em Bhopal, na Índia, na planta de produção do carbaril, um metilcarbamato.
395
Unidade III

Em 3 de dezembro de 1984, houve o vazamento de mais de 40 toneladas do gás isocianato de metila,


substância utilizada na fabricação do carbaril. Imediatamente após a explosão, ao menos 3,8 mil pessoas
morreram e várias outras sofreram danos. Até hoje, esse é considerado o pior acidente industrial da
história. Estimativas indicam que, alguns dias após o acidente, cerca de 10 mil pessoas haviam morrido
e que houve entre 15 mil e 20 mil mortes, nas duas décadas subsequentes ao acidente, decorrentes da
exposição à substância tóxica (BROUGHTON, 2005).

Após o apontamento desse fato histórico que utilizamos para lhe demonstrar os riscos toxicológicos
envolvendo a exposição aos praguicidas, continuemos em nossa breve linha do tempo dos inseticidas
na história mundial.

Os piretroides rapidamente ganharam notoriedade, sobretudo para aqueles que estavam


preocupados com a segurança quanto ao uso dos inseticidas, em uma visão mais ampla. Assim, em
1949, após a síntese da aletrina, as piretrinas se destacaram por sua baixa toxicidade sobre animais
de sangue quente. Chama a nossa atenção como as diferentes perspectivas mudam as conclusões.
Por exemplo: a eficiência da cipermetrina, permetrina e deltametrina foi questionada, uma vez que
em contato com o raio ultravioleta perdem sua atividade e, consequentemente, sua função, que seria
rapidamente minimizada ou perdida. Ao mesmo tempo, esse decaimento de efeito impede a acumulação
dos piretroides no ambiente. Ainda hoje, encontram-se amplas aplicações de piretrinas e piretroides na
proteção de plantas, e eles constituem cerca de 17% do mercado global de inseticidas.

Há algumas formas de classificar os praguicidas. Apresentamos no quadro a seguir algumas das mais
novas classes de inseticidas, exemplos de substância química e seus respectivos mecanismos de ação.

Quadro 25 – Relação entre classes de praguicidas e mecanismo de ação

Classe Subclasse Exemplo(s) Mecanismo de ação

Lactonas Avermectinas Ivermectina, selamectina Potencializa a ação inibitória do ácido


macrocíclicas γ-aminobutírico (GABA)
Milbemicinas ---
Fenilpirazóis Fipronil Bloqueia canais de cloro mediados pelo GABA
Análogos da Cartape, tiosultape, Bloqueia receptores nicotínicos da acetilcolina
nereistoxina tiociclam (nAchR)
Imidacloprido, Agonistas dos receptores nicotínicos de
Neonicotinoides tiametoxan, clitianidina, acetilcolina (nAchR)
acetamiprido tiacloprido
Diamidas de Flubendiamida Agonista de receptor rianodina, libera o cálcio
ácido ftálico
Diamidas do retículo sarcoplasmático e prejudica o
Diamidas controle da contração muscular
Clorantraniliprole
antranílicas
Benzoilureias Diflubenzurom Inibe a biossíntese da quitina
Inibe a acetil-CoA-carboxilase e,
Cetoenois cíclicos Espirodiclofeno consequentemente, a síntese lipídica

Adaptado de: Oberemok et al. (2015) e Moller (2014).

396
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Além dos inseticidas naturais e sintéticos, preparações biológicas também foram utilizadas no
controle de insetos. Na verdade, na década de 1870, Ilya Metchnikov e Louis Pasteur inovaram e foram
os primeiros a utilizar preparações microbiológicas no controle de pragas. Para esse fim e por esse meio,
podem ser utilizados agentes antibacterianos, fúngicos, virais e até mesmo inseticidas produzidos à base
de ácidos nucleicos (OBEREMOK et al., 2015).

7.2.2 Epidemiologia

A produtividade da agropecuária no Brasil passa pela utilização de praguicidas; consequentemente,


dependendo das condições de exposição, há riscos de intoxicação de humanos e animais, pela exposição
a esses produtos.

Para uma perspectiva ainda mais ampla, observamos que, entre 42.309 casos de intoxicação que
houve no país entre 2007 e 2016 (veja a tabela a seguir), os praguicidas foram os responsáveis pelo
maior número de casos.

Tabela 12 – Grupos do agente tóxico causador das intoxicações


exógenas relacionadas ao trabalho no Brasil de 2007 a 2016 (N = 42.309)

Grupo de agente tóxico N %


Agrotóxico/agrícola 15.149 35,81
Produto químico industrial 9.798 23,16
Produto de uso domiciliar 2.954 6,98
Medicamento 2.823 6,67
Alimento e bebida 2.084 4,93
Agrotóxico/doméstico 1.225 2,90
Agrotóxico/saúde pública 925 2,19
Produto veterinário 787 1,86
Planta tóxica 721 1,70
Raticida 674 1,59
Ignorado 585 1,38
Metal 572 1,35
Drogas de abuso 505 1,19
Cosmético/higiene pessoal 204 0,48
Outro 3.303 7,81

Fonte: Brasil (2018a).

Observamos também que, entre os praguicidas, os inseticidas e os herbicidas foram os responsáveis


pelo maior número de casos de intoxicação por agrotóxicos, sobretudo relacionados à pulverização e à
diluição dos produtos, como apresentado na tabela a seguir.

397
Unidade III

Tabela 13 – Percentual de casos de intoxicação no Brasil por praguicida,


segundo sua finalidade de uso e atividade que gerou a exposição, entre 2007 e 2016

Característica do agrotóxico n %
Finalidade de utilização 15.741 100
Inseticida 6.891 43,8
Herbicida 5.692 36,2
Fungicida 999 6,3
Não se aplica 193 1,2
Carrapaticida 144 0,9
Raticida 49 0,3
Preservante/madeira 38 0,2
Outros 921 5,9
Ignorado 814 5,2
Atividade de exposição 15.760 100
Pulverização 7.390 46,9
Diluição 3.599 22,8
Colheita 1.216 7,7
Desinsetização 807 5,1
Tratamento/sementes 749 4,8
Não se aplica 261 1,7
Armazenagem 227 1,4
Transporte 166 1,1
Produção/formulação 75 0,5
Outros 722 4,6
Ignorado 548 3,4

Fonte: Brasil (2018a).

O termo pesticida é utilizado para designar uma substância química ou uma mistura delas
utilizada para impedir ou reduzir os danos causados na agropecuária por repelir, destruir ou mitigar
a praga. São consideradas pragas os insetos, ervas daninhas, pássaros, moluscos, peixes, mamíferos,
nematoides ou microrganismos que competem com humanos por alimentos. Também podem ser
vetores de doenças, são capazes de destruir propriedades e, de uma forma geral, são vistos como
um incômodo para a sociedade. Alguns autores preferem utilizar o termo praguicida no lugar de
pesticida (YADAV; DEVI, 2017).

Os praguicidas mais comumente utilizados são os inseticidas, fungicidas, herbicidas e rodenticidas,


mas os desfolhantes de plantas, desinfetantes de superfícies, reguladores de crescimento e até
mesmo produtos aplicados em piscinas também são utilizados, ainda que em menor escala (YADAV;
DEVI, 2017).

398
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Na área da saúde, os praguicidas são bastante utilizados para eliminar vetores de doenças como
os mosquitos. Em culturas agrícolas, são utilizados quando as pragas podem danificar de forma
significativa a plantação. Um cuidado que se deve ter é que os praguicidas não respeitam fronteiras,
ou seja, são capazes de causar danos como intoxicação aguda ou crônica a organismos que não são
seu alvo, incluindo humanos. Dentro desse contexto, o respeito quanto aos critérios do uso seguro e do
descarte adequado é fundamental (YADAV; DEVI, 2017).

Há diferentes formas de classificar os praguicidas. Podem ser categorizados segundo suas


características físico-químicas, por sua função, se são naturais ou sintéticos, pelo seu modo de ação,
pelo organismo-alvo, entre outros. Assim, a classificação dos praguicidas depende do objeto de estudo
do pesquisador, mas três formas de classificação dos praguicidas se destacam: utilizam-se como base a
composição química, a forma de exposição (modo de entrada) e a função do praguicida.

Saiba mais

Para saber mais sobre o assunto, sugerimos que leia o artigo a seguir:

LOPES, C. V. A.; ALBUQUERQUE, G. S. C. de. Agrotóxicos e seus impactos


na saúde humana e ambiental: uma revisão sistemática. Saúde em Debate,
v. 42, p. 518-534, 2018.

7.2.3 Classificação dos praguicidas

7.2.3.1 Classificação baseada na forma de exposição

Praguicidas sistêmicos

Nas plantas, os praguicidas sistêmicos são transferidos para tecidos não tratados após sua absorção
e podem chegar pelo sistema vascular às folhas, raízes, caules ou outros órgãos que não foram tratados
diretamente pelo praguicida. Ervas daninhas podem ser tratadas dessa forma (YADAV; DEVI, 2017).

O movimento do praguicida nos tecidos dos vegetais pode ocorrer de forma multidirecional ou
unidirecional. Isso significa que, para alguns praguicidas, o sentido de distribuição no vegetal é único,
ou seja, dependendo do órgão do vegetal onde é aplicado o praguicida, o transporte pode ocorrer
apenas em um sentido, para cima ou para baixo. Alguns praguicidas são distribuídos apenas no
sentido de baixo para cima no vegetal. Nesse caso, não adianta aplicá-lo nas folhas, porque não será
distribuído por toda a planta. Entretanto, ressalta-se que a distribuição também pode ocorrer de
forma multidirecional.

Em mamíferos, o praguicida pode ter efeito local ou sistêmico. Uma das formas de eliminar pulgas de
um cachorro é administrar no animal um comprimido contendo um praguicida, o qual será distribuído

399
Unidade III

pelo seu organismo e eliminará as pulgas. Isso caracteriza um efeito sistêmico. O mesmo raciocínio é
válido para o tratamento de larvas e piolhos (YADAV; DEVI, 2017).

Pesticidas não sistêmicos

Como atuam sobre pragas após a interação físico-química, os praguicidas não sistêmicos também são
chamados de praguicidas de contato e agem apenas após penetrar nos tecidos via epiderme; portanto,
não são necessariamente distribuídos pelo sistema vascular do vegetal. O paraquat e o dibrometo de
diquat são exemplos de praguicidas de contato (YADAV; DEVI, 2017).

Exposição pelo trato digestório

A intoxicação por praguicidas pelo estômago ocorre por aqueles que causam a morte do organismo
(praga) por destruição de seu estômago. A praga se expõe a esse tipo de praguicida ao ingerir o praguicida
que foi aplicado sobre as folhas e outras partes do vegetal. O malation, por exemplo, mata mosquitos
por destruição do estômago ou intestino médio de moscas e larvas (YADAV; DEVI, 2017).

Fumigantes

Os fumigantes são praguicidas capazes de matar pragas pela produção de vapor ou gás. Deve-se ter
muita atenção na utilização, armazenamento, transporte, uso e descarte dos praguicidas fumigantes.
Alguns de seus ingredientes são líquidos envasados a alta pressão que se transformam em gases ou são
líquidos voláteis, e seus vapores formam gases tóxicos quando aplicados. Dessa forma, a praga se expõe
aos vapores ou gases do praguicida pelo sistema respiratório.

Os fumigantes são bastante utilizados para eliminar pragas que contaminam grãos, vegetais e frutas,
sobretudo em condições de armazenamento, e também são muito úteis para o controle de pragas no
solo (YADAV; DEVI, 2017).

Repelentes

Os repelentes não matam, mas são desagradáveis o suficiente para manter as pragas afastadas dos
produtos agrícolas ou de áreas específicas.

Em alguns momentos, observa-se que podemos compreender os conceitos, mas nem sempre
conseguimos contextualizar seu significado. No conceito de praguicidas, foi exposto que são substâncias
químicas capazes de mitigar pragas, mas o que significa isso exatamente?

Faz-se necessário compreender que há praguicidas utilizados para o controle de mais de um tipo de
praga, como o aldicarbe, empregado com inseticida, acaricida e nematicida.

400
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observação

Sob a óptica etimológica, cida significa matar, sendo utilizado


comumente como sufixo dos correspondentes nomes das pragas que
eliminam. Entretanto, nem sempre esse sufixo é utilizado na classificação
dos praguicidas.

Alguns praguicidas podem ser classificados segundo sua função. Como exemplo, os desfolhantes
são aqueles que induzem a queda das folhas dos vegetais; os reguladores de crescimento estimulam
ou retardam o crescimento das pragas; os dessecantes são aqueles que secam as plantas, normalmente
utilizados para facilitar a colheira mecânica; os atrativos são utilizados como armadilhas, para atrair
as pragas; os quimioesterilizantes são capazes de esterilizar as pragas e os repelentes promovem a
repelência das pragas (YADAV; DEVI, 2017).

Outra possível classificação para os praguicidas é fundamentada no organismo-alvo (praga) ou


função, e seus respectivos nomes refletem, de certa forma, sua atividade (veja o quadro a seguir).

Quadro 26 – Classificação dos praguicidas segundo o organismo-alvo ou função

Tipo de praga Praga-alvo/função Exemplo(s)


Acaricida Mata ácaros que se alimentam de plantas e animais Aldicarbe, bifenazato
Algicida Mata ou controla o crescimento de algas Sulfato de cobre
Avicida Mata aves Avitrol
Bactericida Mata bactérias ou atua contra bactérias Complexos de cobre
Bolas de mariposa Interrompe o dano em roupas causados por larvas de traça ou bolores Diclorobenzeno
Cupinicida Mata cupins Fipronil
Desfolhante Atua nas plantas secando seus tecidos Ácido bórico
Fungicida Mata fungos e bolores Azoxistrobina
Herbicida Mata ervas daninha e outras plantas de crescimento indesejado Atrazina
Inseticida Mata insetos e outros artrópodes Aldicarb
Lampricida Elimina lampreias Nitrofenol
Larvicida Inibe o crescimento de larvas Metopreno
Moluscicida Mata ou inibe o crescimento de plantas ou a cultura de moluscos (caracol) Metaldeído
Nematicida Mata nematódeos que atuam como parasitas de plantas Aldicarbe
Ovicida Inibe o crescimento de ovos de insetos e ácaros Benzoxazina
Piscicida Atua contra peixes Rotenona
Repelentes Repelem pragas pelo seu sabor ou cheiro Metiocarbe
Rodenticida Controla ratos e outros roedores Varfarina
Silvicida Atua contra vegetação lenhosa Tebuthiuron
Virucida Atua contra vírus Citovirina

Adaptado de: Yadav e Devi (2017).

401
Unidade III

Os praguicidas também podem ser classificados segundo a composição química.

7.2.3.2 Classificação segundo a composição química

A composição química e a natureza das substâncias são muito úteis na classificação dos praguicidas.
Essa classificação nos confere informações importantes sobre as propriedades físicas e químicas e a
eficácia dos praguicidas, sobretudo para subsidiar informações sobre a determinação de precauções,
modo de utilização e concentrações de uso.

Os praguicidas podem ser naturais ou sintéticos. Os praguicidas atuais são produtos químicos
sintéticos orgânicos. Entre eles, constam os organoclorados, organofosforados, carbamatos, piretrinas e
piretroides (veja a figura a seguir), que iremos apresentar agora.

Inseticidas

Naturais Sintéticos

Planta Óleo mineral Inorgânico Orgânico

Piretrum
Azadiractina

Organoclorados Organofosforados Carbamatos Piretroides

Malation Deltametrina
Temefós Propoxur Ciflutrina
DDT Fention Bendiocarbe Bifentrina
BHC Diclorvós Carbaril Lambda-cialotrina
Fenitrotion Permetrina
Pirimifós metílico

Legenda: DDT = diclorodifeniltricloroetano; BHC = hexaclorobenzeno

Figura 160 – Classificação dos praguicidas segundo sua composição química

7.2.4 Inseticidas organoclorados

7.2.4.1 Introdução

A primeira observação que se faz para esse grupo de praguicidas é que os organoclorados estão
proibidos em vários países, sobretudo em fução de sua toxicidade e capacidade de acúmulo no ambiente
(GOEL; AGGARWAL, 2007).

402
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

7.2.4.2 Propriedades físico-químicas

Quimicamente, os inseticidas organoclorados são hidrocarbonetos cíclicos contendo átomos de


cloro, com pesos moleculares que variam de 300 g/mol a 500 g/mol. Esse grupo de inseticidas contém
os ciclodienos, como aldrin, endrin, dieldrin, heptcloro, endosulfan, clordano, dodecacloro, clordecone, o
DDT e seus análogos, o hexacloricloexano e seus isômeros e ainda outros compostos, como o toxafeno.

7.2.4.3 Toxicocinética

Os organoclorados são bastante lipofílicos. Em função da elevada lipossolubidade e também


dependendo dos solventes utilizados no preparo desses compostos, como o tolueno, o querosene e
outros diversos tipos de destilados de petróleo, pode haver maior intensidade de absorção do toxicante
e, consequentemente, intensificação de seus efeitos tóxicos (GOEL; AGGARWAL, 2007).

O estado de vacuidade gástrica influencia na absorção dos inseticidas organoclorados. Caso o


organismo se exponha aos organoclorados com estômago vazio, a manifestação dos efeitos tóxicos
se inicia rapidamente. Dependendo das condições, em cerca de trinta minutos após a exposição em
estado de vacuidade gástrica, o organismo pode apresentar sinais e sintomas associados a tonturas,
náuseas, vômito, confusão mental, convulsão e coma. Um dos destaques desses efeitos é que o status
spilepticus pode não ser responsivo à terapêutica anticonvulsivante. O lindano, particularmente
tóxico para o SNC, pode levar a alterações nas ondas T, com aspecto em tenda ou apiculado, sugestivo
de hipercalemia.

Você se lembra de que os organoclorados podem estar solubilizados em solventes orgânicos? Esses
solventes podem também intoxicar o organismo e produzir pneumonite por aspiração, quando a
exposição ocorrer pelo trato digestório (GOEL; AGGARWAL, 2007).

7.2.4.4 Mecanismo de toxicidade

Uma informação que deve ser relevada neste momento é que não há unanimidade sobre o
mecanismo de ação dos organoclorados. Por serem constituídos de uma ampla gama de diferentes
substâncias, podem apresentar distinção em suas respectivas toxicodinâmicas. Ainda assim, de uma
forma geral, é possível concluirmos que a maneira pela qual os inseticidas organoclorados agem
está associada à despolarização celular, ou seja, os organoclorados levam ao prejuízo da função do
SN, por despolização das membranas nervosas, e, em muitos momentos, animais e humanos podem
apresentar respostas associadas à hiperexcitabilidade.

Ressalta-se ainda que esse grupo de praguicidas parece inibir o canal do complexo ácido gama
aminobutírico-cloro (GABA-Cl), corroborando com os efeitos excitatórios. Infere-se, assim, que são
agonistas da transmissão sináptica, e, consequentemente, pode haver como sinais e sintomas de
intoxicação tremores, distúrbios do equilíbrio e convulsões, dependendo das condições de exposição
(GOEL; AGGARWAL, 2007).

403
Unidade III

7.2.4.5 Efeitos tóxicos

Podem causar sensibilização do miocárdio para catecolaminas exógenas ou endógenas, com


consequente predisposição a arritmias. O lindano pode ainda induzir à distrofia cardiovascular,
sobretudo no ventrículo esquerdo (GOEL; AGGARWAL, 2007).

Ressalta-se a variação dos efeitos tóxicos causados pelos inseticidas organoclorados, dependendo da
espécie exposta (veja o quadro a seguir).

Quadro 27 – Efeitos bioquímicos dos principais praguicidas


organoclorados em função da espécie exposta

Nome químico Organismo Efeitos bioquímicos


Neurotóxico, danos reprodutivos, de desenvolvimento,
Humano imunológico, efeitos genotóxicos, tumerogênicos, náusea,
vômito, contração muscular e anemia aplástica
Aldrin e dieldrin
Convulsões, perda de peso corporal, depressão, aumento
Rato, porquinho-da-índia,
coelho e cachorro da irritabilidade, salivação, hiperexcitabilidade, prostração
e morte
Convulsões, tremores, confusão mental e incoordenação
Humano motora
Clordano Camundongo Fertilidade reduzida e câncer de fígado
Foca Câncer e meningocefalite
Cisto nas mãos, prurido, psoríase, eczema, leucoderma e
BHC/DDE Humano erupções cutâneas
Sensação de formigamento na boca, náusea, tontura,
confusão, cefaleia, letargia, incoordenação motora,
Humano vômito, fadiga, tremores nas extremidades, anorexia,
anemia, fraqueza muscular, hiperexcitabilidade, ansiedade
e tensão nervosa
Tumores hepáticos e alterações hepáticas, incluindo
DDT Camundongo hipertrofia hepatocelular, margem e formação de
liposferas
Aves Afinamento da casca do ovo
Peixes Afeta a função da membrana e enzimas
Salmão Prejuízo do desenvolvimento comportamental
Rato Neurotóxico
Lacrimação, salivação, anorexia, bradicardia, dor
Répteis, peixes e mamíferos abdominal, hiperatividade, ansiedade, depressão e vômito
Espasmos, queda das asas, encurvamento, tenesmo,
Diazinon Pássaros diarreia, ptose palpebral, prostração, opistótono e
convulsões
Visão turva ou escura, ansiedade, inquietação, sintomas
Humano semelhantes à depressão, perda de memória, confusão
mental e pancreatite aguda
Rato Redução do peso corporal e neurotoxicidade aguda
Dicofol
Cachorro Inibição do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH)

404
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Nome químico Organismo Efeitos bioquímicos


Diminuição dos glóbulos brancos, migração de
macrófagos e prejuízo no sistema imunológico humoral e
mediado por células
Afeta a qualidade do sêmen, o número de
Humano espermatozoides, de células espermatogonais e a
Endossulfan morfologia dos espermatozoides e causa outros defeitos
nos hormônios sexuais masculinos
Causa dano e mutação no DNA
Imunossupressão, distúrbios neurológicos, anomalias
Rato cromossômicas, retardo mental, comprometimento da
aprendizagem e memória e glomerulonefrite
Dano no fígado, rim, sistemas neurais e imunológicos,
Humano induz ao câncer, defeitos congênitos, neurotóxicos, danos
Lindano reprodutivos
Rato Altera a expressão gênica do fígado e é hepatotóxico
Prejudica a fertilização e o desenvolvimento inicial dos
Ouriço-do-mar
Metoxicloro ovos
Rato Reduz a fertilidade
Humano Distúrbios neurológicos e de memória de curto prazo
Bifenilas
policloradas (PCBs) Peixes, ratos, macacos e Câncer, linfoma de Hodgkins, diminuição do peso ao
camundongos nascer e diminuição do tamanho do timo
Inflamação do trato respiratório superior, bronquite,
Humano anemia aplástica, danos renais e hepáticos, prejuízo na
Pentaclorofenol resposta imunológica e irritação dos olhos, nariz e pele
Afeta o sistema cardiovascular, sangue, fígado, sistema
Rato e camundongo imunológico e SNC
Legenda: BHC = hexaclorobenzeno; DDE = diclorodifenildicloroetileno; DDT = diclorodifeniltricloroetano

Adaptado de: Jayaraj, Megha e Sreedev (2016).

7.2.4.6 Manejo da intoxicação

O manejo da intoxicação pela exposição aos inseticidas organoclorados envolve um pronunciado


cuidado, sobretudo quanto às convulsões. É importante que se mantenha as vias aéreas patentes e, se
necessário, proceder com o suporte ventilatório. A partir do momento que as vias aéreas, respiração e
circulação sanguínea estiverem patentes e se elimina a possibilidade de absorção do toxicante por essas
vias, deve-se realizar as descontaminações gástrica e dérmica (GOEL; AGGARWAL, 2007).

O tratamento deve ser de suporte e sintomático, e não há antídoto específico.

7.2.5 Inseticidas organofosforados

7.2.5.1 Usos e fontes de exposição

Por nossa perspectiva toxicológica, os praguicidas organofosforados podem ser considerados um


problema de saúde pública, de forma global. Anualmente, ocorrem cerca de 3 milhões de intoxicações
por praguicidas no mundo; destes, cerca de 2 milhões ocorrem intencionalmente. Esses casos resultam

405
Unidade III

em aproximadamente 250 mil mortes, na maior parte dos casos por praguicidas organofosforados
(NARANG; NARANG; GUPTA, 2015).

Mas não pense que é apenas na agricultura que essa classe de substâncias químicas é utilizada.
Há o que se conhece por gases dos nervos, como tabun, soman, sarin e VX, que são substâncias
organofosforadas utilizadas em situações de conflitos bélicos, como gases de guerra. Alguns dos mais
comuns praguicidas organofosforados utilizados na agricultura são clorpirifós, malation, paration,
diclorvos, diazinom, dimetoato, acefato, fentato, monocrotofos e glifosato (NARANG; NARANG;
GUPTA, 2015; GOEL; AGGARWAL, 2007).

7.2.5.2 Propriedades físico-químicas

Neste tópico, trataremos das propriedades físico-químicas dos praguicidas organofosforados de


forma mais direta, correlacionando sua estrutura química com outras informações relevantes, como
a toxicidade.

Os inseticidas organofosforados (veja a figura a seguir) são constituídos de diferentes estruturas,


mas normalmente são amidas, tióis ou ésteres derivados do ácido fosfórico ou fosfônico, e geralmente
R1 e R2 são grupos aril simples ou alquil (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).
O S

P P
R1 X R1 X
R2 R2

Figura 161 – Estrutura química geral dos organofosforados

A letra X representa vários grupos, por alguns chamados de grupos de saída, uma vez que
normalmente são substituídos por uma reação de substituição nucleofílica pelo oxigênio presente na
serina, sítio ativo da enzima-alvo, que é a acetilcolinesterase (AChE) (MANGAS et al., 2016).

Quimicamente, os organofosforados são ésteres de ácido fosfórico e seus derivados com


combinações variadas de carbono, oxigênio e enxofre ou com nitrogênio associado. A estrutura
geral do organofosforado compreende um átomo de fósforo que se localiza de forma central
e que pode realizar duplas ligações com o enxofre ou oxigênio, sendo que os radicais R1 e
R2, nomalmente, são grupamentos arílicos ou alquílicos que se ligam diretamente ao átomo
de fósforo, formando os fosforotioatos, ou indiretamente, através de um enxofre ou oxigênio,
formando os fosfonatos ou fosfinatos (MANGAS et al., 2016).

A ligação entre o fósforo e o oxigênio forma o grupo oxon (P = O) e, normalmente, é um grupo


químico com toxicidade superior ao grupamento tion, ou seja, aquele em que há a ligação entre o
fósforo e o oxigênio (P = S). Esse grupamento é mais estável em comparação com o oxon. Entretanto,
biologicamente, pode haver a biotransformação do grupamento tion em oxon, o que leva ao aumento
da toxicidade do xenobiótico (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

406
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Os organofosforados são relativamente estáveis em pH neutro, mas instáveis em pH inferior a 2, e


a maioria é rapidamente hidrolisada por álcalis. Alguns deles, como os fosforamidatos, são hidrolisados
mesmo em pH entre 4 e 5, e o que se destaca nesse contexto é que como produto formam-se ácidos,
que tendem a catalisar ainda mais sua decomposição (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

Observação

É fundamental conhecermos as propriedades físico-químicas das


substâncias para uma avaliação toxicológica.

Outro detalhe de estabilidade e reatividade desses compostos é que a oxidação do fosforotioatos


em fosfatos (- P = S → - P = O) aumenta o risco de intoxicação por dois motivos: os fosfatos são mais
voláteis e mais tóxicos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

No ambiente, os produtos da degradação por hidrólise dos organofosforados são hidrossolúveis e,


aparentemente, pouco tóxicos. Opostamente aos praguicidas organoclorados, o risco de intoxicação
pela exposição aos organofosforados é restrito ao curto prazo, ainda que possa haver uma significativa
faixa de amplitude de meia-vida dos organofosforados, que pode variar de poucas horas a semanas para
o ciclorvos e o paration, respectivamente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

7.2.5.3 Toxicocinética

Absorção

A primeira informação de que precisamos dispor para compreender a dinâmica de absorção dos
organofosforados é que a maioria das substâncias que pertencem a esse grupo é lipofílica e não ionizada.
Concluimos, assim, que a absorção desse grupo de substâncias atravessa barreiras biológicas facilmente
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986). Veja, a seguir, as possíveis vias de exposição.

• Pele: a principal via de exposição aos organofosforados é pela pele, mas outras vias de exposição
também devem ser consideradas, como a ingestão acidental ou intencional e o trato respiratório,
sobretudo na aplicação das substâncias na agricultura (MANGAS et al., 2016).

Observação

O contato com a pessoa que se expôs ao organofosforado pela pele


também pode contaminar.

Incontáveis casos de intoxicação aguda ocorrem quando há o contato das substâncias pertencentes
a esse grupo de praguicidas com a pele, e a intensidade da absorção está relacionada à extensão da
roupa ou pele que teve contato, à quantidade da substância derramada, à volatilidade do composto,

407
Unidade III

ao critério de lavagem do local afetado e à presença e natureza dos agentes emulsificantes e solventes
utilizados no praguicida (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

• Trato digestório: a absorção dos praguicidas organofosforados pelo trato digestório em ratos
é rápida e eficiente. Existem também algumas considerações que podem ser feitas a respeito
da exposição por essa via. Por exemplo, não se sabe exatamente se organofosforados de baixa
DL50 apresentam baixa toxicidade pela exposição por essa via por serem pouco absorvidos ou se
efetivamente sua toxicidade é superior à das demais substâncias.

• Armazenamento: a meia-vida biológica dos organofosforados é relativamente curta, como


tivemos a oportunidade de ver, diferentemente dos organoclorados.

• Biotransformação: as principais vias metabólicas associadas à biotransformação dos


organofosforados envolvem reações de oxidases de função mista, hidrolases e transferases.

— Oxidases de função mista: oxidases de função mista localizadas no retículo endoplasmático


hepático, mas também presentes no rim, pulmão e intestino, oxidam os praguicidas
organofosforados.

Lembrete

O estado nutricional pode interferir de forma significativa na


biotransformação dos organofosforados.

- Dessulfuração oxidativa: de uma forma bastante simples, podemos expor que desulfuração
é uma reação química em que ocorre a remoção do enxofre da estrutura, e oxidativa significa
que há a oxidação de substâncias químicas que contenham átomos de enxofre. Vimos
anteriormente que compostos organofosforados com grupamentos tions são mais estáveis
e menos reativos em comparação com os que possuem grupamentos oxon, que são mais
reativos. No organismo, por meio das reações de fase I, catalisadas por oxidases de função
mista, está havendo uma biotransformação, com a formação de compostos oxons, bastante
reativos, com várias ordens de toxicidade superior em comparação com os grupamentos
tions (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

A N-desalquilação oxidativa e a O-desalquilação oxidativa são algumas formas de


biotransformação dessa classe de praguicidas. A O-desalquilação oxidativa, por exemplo, catalisa
a conversão de triéster em diéster, por meio de oxidases de função mista. Outras reações de
biotransformação catalisadas por oxidases de função mista são a dearilação oxidativa e a
oxidação da cadeia lateral (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

— Hidrolases: enzimas como fosforilfosfatases e A-esterases são comumente encontradas


em vários tecidos de mamíferos, como fígado, intestino e plasma, ainda que sejam pouco
abundantes em pássaros, e catalisam as reações de biotransformação. O malation, praguicida
408
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

organofosforado que contém dois ésteres carboxílicos, é hidrolisado por carboxilesterases, por
exemplo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

A DL50 do malation para exposição por via oral, em ratos, é reduzida de 10000 mg/kg para
100 mg/kg quando ocorre inibição das carboxilesterases teciduais. Quanto menor é a DL50 de
um xenobiótico, maior é sua toxicidade. Concluímos, assim, que há aumento de 100 vezes
da toxicidade do malation, caso sua biotransformação seja interrompida.

— Transferases: a glutationa-S-transferase (GST) é responsável pela catálise de triésteres


de organofosforados, e as transferases catalisam a conjugação de álcoois, fenóis e ácidos
carboxílicos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

Distribuição

A distribuição do organofosforado ocorre para todo o organismo, com destaque para tecidos
gordurosos, ainda que não apresente tendência de se bioacumular, em função de sua rápida
biodegradação.

Excreção

A excreção dos produtos de biotransformação ocorre principalmente pela urina, mas também
pelo ar exalado e pelas fezes. As ligações covalentes e o depósito em tecidos gordurosos reduzem, em
parte, a excreção da substância. A eliminação dos praguicidas organofosforados apresenta um pico
em aproximadamente dois dias e depois cai rapidamente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

7.2.5.4 Mecanismo de ação

A ACh liberada pelos neurônios pós-ganglionares parassimpáticos e por fibras simpáticas


colinérgicas atua sobre receptores em várias glândulas e músculos. Os sítios pós-sinápticos das fibras
pré-ganglionares e junções neuromusculares têm receptores nicotínicos, enquanto os neurônios
centrais têm receptores muscarínicos e nicotínicos (GOEL; AGGARWAL, 2007).

A AChE tem como função fisiológica hidrolisar a ACh liberada nas terminações nervosas colinérgicas
e, consequentemente, reduzir os efeitos colinérgicos no organismo. Quando a AChE perde sua atividade,
pode haver como desdobramento uma variedade de efeitos oriundos do excesso de estimulação nervosa,
que pode levar o organismo à insuficiência respiratória e até mesmo à morte. O efeito bioquímico
primário dos praguicidas organofosforados está associado à inibição da ação por fosforilação da AChE,
que impede a capacidade de hidrólise da ACh, com consequente acúmulo do neurotransmissor em
vários locais (GOEL; AGGARWAL, 2007).

Envelhecimento é um termo associado à perda do grupamento alquílico da enzima fosforilada, que


leva ao aumento de tempo para que a enzima se recupere e possa hidrolisar novamente a ACh. Durante
esse período, a enzima fica inativa. A taxa de reativação espontânea para os organofosforados dimetílicos

409
Unidade III

é relativamente rápida, opostamente à dos compostos dietílicos do mesmo grupo de praguicidas, que é
bastante lenta (GOEL; AGGARWAL, 2007).

Intoxicação aguda – sinais e sintomas de intoxicação

Os sinais e sintomas referentes à exposição aguda aos praguicidas organofosforados se desenvolvem


dentro de uma a duas horas após a exposição e estão relacionados à estimulação dos receptores
colinérgicos nicotínicos, muscarínicos e do SNC (veja o quadro a seguir) (GOEL; AGGARWAL, 2007).

Quadro 28 – Relação dos efeitos no organismo, causados pela


intoxicação dos praguicidas organofosforados

Efeitos muscarínicos Efeitos nicotínicos Efeitos no SNC


Bradicardia Cãibras musculares Alteração do estado de consciência
Broncoespasmo Debilidade Ansiedade
Broncorreia Fadiga Ataxia
Cãibras gastrointestinais Fasciculações Cefaleia
Cianose Hiperglicemia Coma
Cólica abdominal Hipertensão Confusão mental
Diaforese Midríase (raramente) Convulsões
Diarreia Mialgias Depressão respiratória
Hiperemia conjuntival Paralisia flácida Fraqueza
Hipotensão Taquicardia Inquietação
Incontinência de esfincteres Vasoconstrição periférica Irritabilidade
Lacrimejamento Tremores
Miose
Micção
Náusea
Rinorreia
Sialorreia
Visão borrada
Vômito

Adaptado de: Fernández, Mancipe e Fernández (2010) e Goel e Aggarwal (2007).

No eletrocardiograma (ECG) pode have alterações nas ondas T e prolongamento do intervalo PR, mas
também podem existir outras, que incluem extra-sístoles ventriculares. Alguns casos podem apresentar
quadro de hiperglicemia, pancreatite aguda, hiperamilasemia (possivelmente por conta do quadro de
pancreatite) e hipotermia (GOEL; AGGARWAL, 2007).

410
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Em termos de velocidade dos efeitos tóxicos dos organofosforados, a intoxicação fatal pode ocorrer
em algumas horas. Em uma fazenda, a ingestão acidental de água contaminada por essa classe de
praguicidas, contendo também carbamatos, levou à morte de 40% do gado, poucas horas depois de ter
ingerido a água contaminada (n = 40) (veja as figuras a seguir) (OLIVEIRA-FILHO et al., 2010).

A) B)

C) D)

Figura 162 – Intoxicação bovina por carbamatos e organofosforados: A) Poça d’água contendo organofosforado e carbamato;
B) Bovino que se expôs à água da poça, em decúbito esternal. Esse animal morreu poucas horas após ter tomado essa posição;
C) Sialorreia, característica na intoxicação por organofosforado; D) A morte dos animais que se expuseram ao organofosforado
ocorreu aproximadamente ao mesmo tempo

Síndrome intermediária

Chama-nos muito a atenção este número: 20% a 47% dos pacientes que se intoxicam com os
organosfosforados também podem apresentar a síndrome intermediária. Essa síndrome normalmente
aparece entre o primeiro e o quarto dia após a exposição, mas pode aparecer mesmo após uma semana
do início da exposição. Nela, o paciente acusa uma fraqueza na flexão do pescoço, que pode progredir
para a musculatura respiratória e levar à insuficiência respiratória.

Fundamentalmente, é uma polineuropatia e, provavelmente, relacionada à inibição de esterases,


com consequente morte neuronal por hiperestimulação de neurônios por período prolongado
(GOEL; AGGARWAL, 2007).

411
Unidade III

Efeitos retardados

Outra condição que pode acometer o intoxicado por organosfosforado é uma síndrome caracterizada
por parestesia e fraqueza motora. Essa neuropatia ascendente, tipo luvas e botas, ocorre após 10 a 21 dias
da exposição. Também pode haver alteração da personalidade, depressão e esquizofrenia.

7.2.5.5 Diagnóstico

A confirmação da exposição aos praguicidas organofosforados se faz ao medir a atividade da


butirilcolinesterase (pseudocolinesterase ou colinesterase plasmática, BChE) e a colinesterase eritrocitária
(AchE). A medida da BChE é menos específica que a da AchE, uma vez que seus níveis podem ser baixos
em casos de desnutrição, hepatite crônica, infecção e neoplasia ou até mesmo pelo uso de alguns
medicamentos como a codeína ou a morfina.

O praguicida organofosforado diazinon afeta mais intensamente a BChE do que a AchE, de forma que,
em alguns casos, a determinação das colinesterases plasmáticas pode apresentar uma boa correlação
entre a exposição desse organofosforado. A AchE também pode estar “falsamente” baixa em alguns
casos, como na anemia falciforme (GOEL; AGGARWAL, 2007).

7.2.5.6 Manejo e tratamento

As vias aéreas, respiração e circulação sanguínea devem estar patentes. Deve-se proceder o
monitoramento com o oxímetro de pulso e a oxigenoterapia. Um cuidado que se deve ter nesse momento
é que há a possibilidade de aspiração do praguicida, caso a exposição tenha ocorrido por via oral. Para
reduzir essa possibilidade, posiciona-se o paciente do lado esquerdo, com a cabeça abaixo do nível do
corpo, e o pescoço deve permanecer estendido (EDDLESTON et al., 2008).

Episódios de convulsão são tratados com diazepam (EV) ou midazolam. Uma das formas de monitorar
o paciente é por meio da escala de Glasgow. Há indicação para a administração intravenosa de atropina
pela identificação de qualquer característica de intoxicação colinérgica, hipotensão com pressão arterial
sistólica inferior a 80 mmHg, diaforese, miose ou broncorreia (GOEL; AGGARWAL, 2007).

Caso o oxigênio não esteja disponível, não se deve retardar a administração da atropina. Entre
3 e 5 minutos após a administração, devem aparecer os efeitos da atropinização. Caso contrário,
é necessário dobrar a dose da atropina em relação à anteriormente administrada. Caso não seja
executado esse procedimento, ou seja, caso a mesma dose anterior seja administrada novamente,
a probabilidade de morte decorrente da intoxicação colinérgica antes do efeito da atropina é alta
(GOEL; AGGARWAL, 2007).

Observação

A maioria das mortes decorrentes da exposição aos praguicidas


organofosforados se deve a problemas respiratórios.
412
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Caso o paciente apresente quadro de confusão mental, febre, agitação, bexiga cheia e sem sons
intestinais, seguramente há intoxicação pela atropina e há a necessidade de interrupção da administração
da atropina temporariamente (GOEL; AGGARWAL, 2007).

O glicopirrolato é um agente antimuscarínico com estrutura de amônio quaternário com efeito


bastante parecido com o da atropina, mas com a vantagem de não atravessar a barreira hematoencefálica
e não interferir, assim, no encéfalo. Consequentemente, causa menos taquicardia que a atropina e
também é capaz de bloquear bradiarritmias de forma bastante eficaz. A administração concomitante
do glicopirrolato reduz a dose da atropina e pode reduzir os efeitos tóxicos centrais e a duração dos
cuidados ventilatórios (GOEL; AGGARWAL, 2007).

A pralidoxima (PAM) é uma oxima bastante utilizada para reverter os efeitos nicotínicos. Ainda que
a utilização da PAM seja controversa, uma vez que vários estudos apontam que não há evidências de
benefício clínico na redução da morbidade ou mortalidade pela utilização da substância, outros apontam
que elevadas doses de iodeto de PAM reduzem a morbidade e mortalidade em casos moderadamente
graves, por intoxicação aguda por praguicidas organofosforados. A despeito da controvérsia, autoridades
incluem a PAM no tratamento das intoxicações nesses casos (GOEL; AGGARWAL, 2007).

Deve-se considerar ainda que a eficácia das oximas na reativação da acetilcolinesterase depende
do organofosforado ao qual o organismo se expôs. Os organofosforados dimetílicos geram um
rápido envelhecimento enzimático, limitando bastante a eficácia da PAM. Os dietílicos induzem ao
envelhecimento mais lento da AChE, permitindo, assim, maior eficácia no tratamento da intoxicação
pela PAM, mesmo após vários dias do início do envelhecimento enzimático (GOEL; AGGARWAL, 2007).

7.2.5.7 Níveis de exposição a humanos

A exposição humana também pode ocorrer por meio do consumo de alimento que foi colhido
precocemente, antes mesmo de ter havido o declínio dos níveis do praguicida que foram aplicados sobre
o alimento. A utilização dos praguicidas nos alimentos deve ocorrer mediante as boas práticas agrícolas.
Ainda assim, faz-se necessário o controle dos níveis de exposição por meio do LMR e da IDA (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1986).

Sob a perspectiva de exposição ocupacional, a preparação, distribuição e aplicação das formulações


contendo praguicidas organofosforados podem levar à intensa exposição do trabalhador, que pode ser
por via oral, inalatória ou cutânea, sendo que esta é a mais importante. Alguns hábitos simples geram
grande impacto positivo na redução da exposição ocupacional aos organofosforados, como não se
alimentar, beber água ou fumar na área de trabalho (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1986).

Observação

Observe como novamente as propriedades físico-químicas influenciam


no risco de intoxicação a um xenobiótico.

413
Unidade III

A pressão de vapor dos praguicidas organofosforados é bastante variável. Consequentemente, o


risco da exposição a esses compostos pela inalação de seus gases ou vapores depende muito de cada
composto. Como exemplo, o malation é bem menos volátil em comparação com o ciclorvos (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1986).

7.2.6 Piretrinas e piretroides

Você reparou que o crisântemo é bastante utilizado em velórios ou situações envolvendo o


dia de finados?

Além de ser uma planta bastante resistente, ela também apresenta um simbolismo: para
algumas culturas, significa sinceridade. Acreditamos que a escolha dessa planta para ser utilizada
em velórios ou cemitérios transcenda o simbolismo, mas tenha um valor agregado pela experiência
de nossos antepassados.

Para compreendermos melhor, avançaremos um pouco nas informações específicas e em breve você
compreenderá aonde queremos chegar.

Piretro é a designação dada para o extrato natural presente nas flores de Chrysanthemum
cinerariaefolium e Chrysanthemum cineum, ou seja, do crisântemo. O piretro foi reconhecido pela
primeira vez por suas propriedades inseticidas por volta de 1800 na Ásia e foi usado para matar
carrapatos, pulgas e mosquitos. O extrato de piretro possui produtos químicos com propriedades
ativas inseticidas, e esses compostos são chamados de piretrinas. O piretro, pó de coloração marrom,
é ligeiramente hidrossolúvel, mas se solubiliza bem em solventes orgânicos, como querosene,
hidrocarbonetos clorados e álcool. Quando se expõe à luz natural do sol, decompõe-se rapidamente
no ambiente (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

Os piretroides apresentam algumas diferenças em relação às piretrinas: são sintéticos, mais tóxicos
para mamíferos e insetos e mais estáveis, ou seja, permanecem por mais tempo no ambiente. A maioria
dos piretroides comerciais são substâncias com a mesma fórmula química, ou seja, apresentam a mesma
sequência de átomos, mas o arranjo entre esses átomos é diferente: é o que se chama de estereosinomeria.
Dessa forma, sabemos que não possuem imagens espelhadas uns dos outros e também apresentam
propriedades físicas distintas, como a solubilidade e pontos de fusão e ebulição. Compreendemos, assim,
que essa diferente isomeria espacial leva a diferentes propriedades toxicológicas e inseticidas (AGENCY
FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

Observação

Pode haver piretroides constituídos de até oito diferentes estereoisômeros.

A contaminação do meio ambiente pelas piretrinas e piretroides ocorre em função de seu uso como
inseticidas, quando aplicados diretamente na forma de aerossóis ou por pulverizadores terrestes ou
aéreos. Poucos dias são suficientes para degradar esses compostos no ambiente, mas há exceções.
414
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

A cialotrina e a permetrina são ligeiramente mais estáveis à luz solar em comparação com os demais
piretroides. No solo, não são muito móveis e normalmente não chegam a atingir o lençol freático, a não
ser que haja um significativo vazamento. Condições alcalinas favorecem sua hidrólise, catalisando a
biodegradação desses compostos, e são pouco absorvidos pelas raízes de plantas vasculares, uma vez que
são fortemente adsorvidos pelo solo (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

7.2.6.1 Usos e fontes de exposição

Você tem ideia de como pode se expor às piretrinas e aos piretroides?

A ingestão de alimentos contaminados com essas substâncias é a forma mais provável de exposição,
mas não a única: após a aplicação, como na pulverização, a pessoa pode apresentar a exposição pelo
contato dérmico.

Observação

Esses compostos não são facilmente absorvidos pela pele.

Você poderia dizer, então: “mas eu não trabalho com pulverização de inseticidas”. Não foi isso que
você pensou?

O que se deve considerar é que esses compostos estão presentes em xampus, sprays para animais de
estimação e muitos inseticidas domésticos; ou onde você mora não tem pernilongo?

Há outros importantes usos e fontes de exposição às piretrinas e aos piretroides: para tratar a
escabiose (sarna), aplicam-se substâncias diretamente sobre a pele humana ou animal, podendo também
ser aplicadas nas roupas. Outro uso bastante frequente dessa classe de inseticidas é no tratamento
contra lêndeas e piolhos, sendo aplicados diretamente na cabeça da pessoa; consequentemente, mesmo
o uso terapêutico faz com que haja a exposição a esses compostos.

Para título de referência, estima-se que um adulto estadunidense de 70 kg de peso corpóreo seja
exposto a cerca de 3,2 µg/dia do piretroide mais amplamente utilizado naquele país, a permetrina
(AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

Observação

1 micrograma é igual a 1 / 1000000 de grama.

E isso é pouco ou é muito?

Essa quantidade é aproximadamente 1/1.000 vezes a IDA, ou seja, não há risco de intoxicação nessa
condição de exposição (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).
415
Unidade III

7.2.6.2 Toxicocinética

Absorção

Vimos anteriormente o conceito e a contextualização de um efeito sinérgico. Agora traremos,


mais uma vez, a aplicação desse conceito. Observe: alguns repelentes de insetos que são
aplicados diretamente sobre a pele, como as piretrinas e os piretroides, também podem conter o
N,N-dietil-meta-toluamida (DEET).

Lembrete

Um efeito sinérgico ocorre quando diferentes substâncias atuam ao


mesmo tempo no mesmo organismo e apresentam um efeito final superior
aos seus efeitos isolados.

Exemplo de aplicação

Sugerimos que você interrompa a leitura deste material, vá até o armário onde você guarda os
repelentes de insetos e os inseticidas que você tem em casa e leia sua composição.

Lembre-se de lavar as mãos antes de voltar à leitura deste livro-texto!

O repelente que você tem em casa contém em sua composição o DEET e os inseticidas piretrinas e
piretroides, não é mesmo?

As piretrinas e os piretroides são pouco absorvidos pela pele, mas, quando o organismo se expõe
ao mesmo tempo a essas substâncias e ao DEET, aumenta a absorção das piretrinas e piretroides
por essa via de exposição, em um efeito sinérgico. Assim, o que não tínhamos como preocupação
anteriormente, no que se refere à absorção das piretrinas e piretroides pela pele, agora passamos a ter,
pelas interações químicas.

Observação

Você consegue perceber que muitos conceitos que estavam em um


plano teórico estão efetivamente em nosso cotidiano?

A dinâmica de absorção das piretrinas e piretroides pelo trato respiratório é pouco conhecida.
Não se sabe como reduzir a absorção dessas substâncias após sua inalação (AGENCY FOR TOXIC
SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

416
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Quanto à exposição oral, acredita-se que a rápida absorção das piretrinas e piretroides ocorra na
mucosa intestinal, por difusão. Em humanos, a taxa e a extensão da absorção pela exposição pelo trato
digestório são pouco conhecidas.

Metabolização

São metabolizados rapidamente, mas podem se acumular no organismo, sobretudo no tecido


adiposo, caso a exposição ocorra em níveis altos ou por exposição a longo prazo. Ambos os grupos
são frequentemente preparados com a adição de substâncias como sesamex, piperonil sulfóxido ou
piperonil butóxico, também conhecido por butóxido de piperonila, para aumentar a eficácia por meio
dos efeitos sinérgicos (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003). O butóxido
de piperonila inibe a oxigenase de função mista em mamíferos e em insetos, aumenta a meia-vida
biológica do inseticida e torna o inseto mais suscetível ao inseticida (CAMPOS et al., 2017).

Excreção

A excreção das piretrinas e piretroides é rápida, principalmente pela urina, mas eles também podem
ser eliminados pelo ar exalado e pelas fezes. Alguns deles podem também permanecer na pele e no
cabelo por bastante tempo (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

7.2.6.3 Mecanismo de ação

O tipo de composto da piretrina ou piretroide influencia no perfil de resposta tóxica no organismo.


De uma forma geral, o mecanismo de ação desse grupo de inseticidas está associado ao prolongamento
do tempo de abertura dos canais de sódio, quando o neurônio é excitado.

7.2.6.4 Toxicidade

Algumas características comuns entre as piretrinas e os piretroides são a toxicidade relativamente


baixa em mamíferos, a rápida paralisia provocada em insetos voadores e sua rápida taxa de degradação
no meio ambiente. Eles podem apresentar uso comercial ou doméstico (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES
AND DISEASE REGISTRY, 2003).

Observação

Ingredientes “inertes” presentes na composição dos piretroides podem


ser potencialmente tóxicos, assim como em outros praguicidas.

Esses grupos de inseticidas são eficazes e normalmente apresentam baixo risco de intoxicação
para humanos, mas acidentes acontecem (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE
REGISTRY, 2003).

417
Unidade III

7.2.6.5 Sinais e sintomas de intoxicação

Em função da combinação de suas caracterísiticas físico-químicas e toxicológicas, os piretroides são


divididos em tipo I e II (veja o quadro a seguir). Há uma relação direta entre a estrutura química das
piretrinas e piretroides e seus efeitos tóxicos, que está ligada à presença ou ausência de um grupamento
ciano na posição alfa da substância (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

Quadro 29 – Classificação das piretrinas e dos piretroides

Piretrinas Piretroides tipo I Piretroides tipo II


Derivados das piretrinas que incluem o
Derivados das piretrinas que
Constituintes naturais do grupo ciano e podem provocar movimentos
não incluem o grupo ciano e incontroláveis
extrato de piretro e involuntários (coreoatetose) e
podem provocar tremores salivação
Piretrina I Aletrina Ciflutrina
Piretrina II Bifentrina Cialotrina
Cinerina I Permetrina Cipermetrina
Cinerina II Fenotrina Deltrametrina
Jasmolina I Resmetrina Fenvalerato
Jasmolina II Reflutrin Fenpropanato
Retrametrina Flucitrinato
Flumetrina
Fluvalinato
Tralometrina

Adaptado de: Agency for Toxic Substances and Disease Registry (2003).

Ao classificar os piretroides em grupo I, significa que sua estrutura química é isenta do


grupamento ciano e seus efeitos estão associados a aumento da sensibilidade aos estímulos externos,
comportamento agressivo que se inicia rapidamente, tremor fino que tende a se estender para todo
o corpo, prostração, elevação da temperatura corporal, coma e morte.

Classicamente, esses sinais e sintomas de intoxicação foram designados como síndrome T (tremor),
e os sinais e sintomas da neurotoxicidade expostos às piretrinas são semelhantes aos dos piretroides
tipo I (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

Os piretroides do tipo II apresentam um grupo químico denominado de ciano, e animais expostos a


essas substâncias apresentam um comportamento inicial de “escavação”, seguida de salivação exuberante,
movimentos anormais dos membros e tremores intensos de corpo inteiro, que podem progredir para
torsões sinuosas. Podem ser observadas convulsões clônicas antes da morte do animal. A temperatura
normalmente não se eleva e pode, inclusive, diminuir. Assim, foi atribuído o termo síndrome CS para
a intoxicação causada por essas substâncias, como mnemônico de coreoatetose (C) e salivação (S)
(AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

418
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Normalmente, a distinção de sinais e sintomas entre as respostas do tipo I e II é patente. Todavia,


ressalta-se que a fenpropatrina e a cifenotrina, cianopiretroides, demonstram respostas intermediárias
entre as síndromes T e CS (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

Em mamíferos, a exposição crônica às piretrinas e aos piretroides não induz a manifestação


de sinais e sintomas de intoxicação associados a danos neurológicos, sobretudo pela sua rápida
biotransformação e excreção. Pode haver parestesia na área de contato com a pele associada a
alterações na sensibilidade cutânea, como dormência, prurido, queimação ou formigamento. Estudos
recentes apontam que, em animais, a exposição a esses grupos de substâncias pode resultar em danos
reprodutivos, de neurodesenvolvimento e imunológico, mesmo abaixo dos níveis que evidenciam
neurotoxicidade (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

Observação

Piretrinas e piretroides são extremamente tóxicos para peixes e são


capazes de bioconcentrar em organismos aquáticos.

7.2.6.6 Manejo da intoxicação

Ressalta-se a possível absorção pela boca e pelo estômago. Dessa forma, ainda que modestamente,
o enxágue bucal pode minimizar a absorção por essas vias.

Como sabemos, as piretrinas e os piretroides não são bem absorvidos pela pele, e a lavagem desse
órgão com água e sabão reduz a absorção das substâncias. Procedimentos adequados de lavagem
devem ser seguidos caso os olhos sejam afetados (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE
REGISTRY, 2003).

A lavagem gástrica associada ao carvão ativado parece reduzir a absorção das substâncias quando
há exposição oral às piretrinas e aos piretroides (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE
REGISTRY, 2003).

Agentes anticonvulsivantes apresentam bastante variação na resposta terapêutica, dependendo


da piretrina ou do piretroide a que o organismo se expôs. O metocarbamol e a mefenesina são
relaxantes musculares eficazes para as convulsões geradas por piretroides do tipo II (AGENCY FOR
TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2003).

A atropina, em animais, parece reduzir de forma eficaz a salivação e a coreoatetose. O pentobarbital,


como agonistas de canais de cloro, tende a reduzir a coreoatetose e a salivação em animais. Cremes
anestésicos locais e aplicações dérmicas de vitamina E reduzem de forma efetiva a parestesia, quando
há a exposição dérmica por essas classes de substâncias (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE
REGISTRY, 2003).

419
Unidade III

7.2.7 Carbamatos

7.2.7.1 Introdução

Você já ouviu falar alguma vez que um gato ou cachorro perto da sua casa morreu intoxicado
por “chumbinho”?

Acreditamos que sim, uma vez que esse tipo de intoxicação intencional não nos parece ser incomum.
Vamos compreender melhor os carbamatos.

Aldicarbe, carbaril, carbofurano, oxamil, fenobucarbe, pirimicarb, metomil, trimetacarb e


propoxur são exemplos de substâncias que pertencem ao grupo dos carbamatos. Chumbinho é o
nome popular do aldicarbe (veja a figura a seguir), praguicida altamente tóxico (DL50 = 0,9 mg/kg,
via oral, rato) que faz parte do grupo dos carbamatos e é vendido clandestinamente no Brasil
(DURÃO; MACHADO, 2016).

N N
O
H
S

Figura 163 – A) Estrutura química do aldicarbe; B) Chumbinho em grânulos; C) Venda ilegal do carbamato

7.2.7.2 Usos e fontes de exposição

O aldicarbe é utilizado como nematicida e inseticida na agricultura. Como é inodoro, insípido


e de cor cinza escura, nem sempre é fácil detectar a presença do carbamato. A exposição aos
carbamatos pode ocorrer pelo trato respiratório, via dérmica ou trato digestório. A exposição
pelo trato respiratório pode ocorrer após a pulverização da substância no ambiente de trabalho
(SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Existe uma falta de controle muito grande sobre os carbamatos em países em desenvolvimento e,
consequentemente, o risco de acidentes e exposição intencional a esses praguicidas é elevado. Para
que tenhamos um pálida ideia da frequência de casos de intoxicação, apenas na Ásia rural ocorrem
cerca de 200.000 mortes por ano pela exposição aos carbamatos e organofosforados (SILBERMAN;
TAYLOR, 2020).

420
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

7.2.7.3 Toxicocinética

Absorção

É facilmente absorvido pela pele e pelo trato digestório. O manuseio do aldicarbe, do sulfóxido
de aldicarbe e da sulfona de aldicarbe deve ocorrer com a utilização de luvas e máscara (DURÃO;
MACHADO, 2016).

Caso a exposição ocorra pela pele íntegra, a absorção nos parece ser baixa, cenário que
é modificado quando a pele não está íntegra. Após a exposição oral, o pico de inibição das
colinesterases ocorre após 30 minutos do início da exposição em ratos, mas os sintomas podem
aparecer em cerca de cinco minutos após a exposição maciça da substância, pela mesma via
(SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Biotransformação

A biotransformação hepática ocorre por reação de hidrólise. Em poucos dias, 90% do carbamato
absorvido é excretado (SILBERMAN; TAYLOR, 2020), mas a biotransformação não reduz significativamente
sua toxicidade, uma vez que a sulfona de aldicarbe e o sulfóxido de aldicarbe são metabólitos que
também apresentam elevada toxicidade (DURÃO; MACHADO, 2016).

Distribuição

Carbamatos lipossolúveis são rapidamente distribuídos para o tecido gorduroso, o que faz com que
os efeitos tóxicos decaiam em um momento inicial de intoxicação (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

7.2.7.4 Mecanismo de ação

Os carbamatos são substâncias químicas que se assemelham em mecanismo de ação e estrutura


aos praguicidas organofosforados (SILBERMAN; TAYLOR, 2020). Quimicamente, são derivados do ácido
carbâmico e atuam sobre a AChE, causando carbamilação, ou seja, os carbamatos levam à inativação
reversível da AChE por carbamilação; como consequência, os receptores nicotínicos e muscarínicos
são excessivamente estimulados (DURÃO; MACHADO, 2016).

A diferença básica entre os praguicidas carbamatos e os organofosforados é que os carbamatos atuam


reversivelmente sobre a acetilcolinesterase, ou seja, os carbamatos não induzem ao envelhecimento
enzimático, como acontece com os organofosforados, e a hidrólise da ligação carbamato-colinesterase
ocorre em poucas horas, espontaneamente (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Observação

Há relatos de casos em que a AChE é recuperada apenas após 60 horas


a partir da exposição (XAVIER; RIGHI; SPINOSA, 2007).
421
Unidade III

7.2.7.5 Toxicidade

Os efeitos tóxicos dos carbamatos também são parecidos com os induzidos pela exposição aos
organofosforados, com duração inferior a 24 horas (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Deve-se destacar que a estimulação contínua dos receptores colinégicos nicotínicos dependentes
da ACh nos gânglios simpáticos pode gerar hipertensão, taquicardia e midríase. Os carbamatos,
semelhantemente aos organofosforados, pode levar à síndrome intermediária, mas não à síndrome
retardada, uma vez que raramente os sintomas ultrapassam 48 horas (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

7.2.7.6 Diagnóstico

Um dos cuidados que se deve ter durante a anamnese é que pode haver estimulação mista do
sistema nervoso simpático e parassimpático, que, consequentemente, pode causar a miose ou midríase,
bradicarcia ou taquicardia. Deve-se solicitar exames que determinam a BchE, produzida no fígado e
secretada no sangue, e a colinesterase eritrocitária (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

A confirmação da exposição ao aldicarbe pode ser feita pela cromatografia em fase gasosa acoplada
à espectrometria de massa (DURÃO; MACHADO, 2016).

7.2.7.7 Tratamento

Descontaminação

Um dos maiores cuidados que se deve ter ao tratar um intoxicado por organosfosforado e
carbamato é com o risco de autocontaminação. As luvas de neoprene ou nitrílicas conferem adequada
proteção, mas, além das luvas, o profissional deve utilizar, no mínimo, máscara, proteção facial e
capote (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Observação

Luvas de látex não conferem proteção adequada para a descontaminação


de praguicidas.

A pele do contaminado deve ser lavada por três vezes com água e sabão, após toda a roupa do
intoxicado ter sido removida.

Observação

Como a toxicodinâmica entre os carbamatos e os inseticidas


organofosforados é muito parecida, o tratamento da intoxicação entre eles
também é bastante similar.
422
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Caso o paciente não tenha crises de êmese, a exposição tenha ocorrido há menos de uma hora, as vias
aéreas do paciente estejam protegidas, haja risco de vida e a exposição tenha ocorrido de forma maciça
ao carbamato, deve-se considerar a descontaminação do trato digestório. Como visto no tratamento
da intoxicação pelos organofosforados, não se deve aguardar o resultado dos exames quando o caso é
crítico para iniciar o tratamento (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Observação

As vias aéreas devem estar protegidas antes da descontaminação do


trato digestório.

Há muita controvérsia sobre a utilização do carvão ativado: alguns especialistas recomendam a


administração em dose única de 1 g de carvão ativado por quilo de peso corpóreo, caso a exposição
ao carbamato tenha ocorrido de forma maciça, em até uma hora, e apresente risco de vida (veja a
figura a seguir).

Figura 164 – Detalhes da presença de numerosos grânulos de


chumbinho aderidos na mucosa gástrica de um cadáver

Um dos possíveis problemas associados à utilização do carvão é que o paciente pode aspirá-lo e,
assim, aumentar o risco de lesão ao organismo. Essa é a razão pela qual outros especialistas preferem
não utilizar o carvão ativado na terapia (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Uma vez realizada a descontaminação, sugere-se direcionar a avaliação do paciente para garantir
que haja ventilação e consequente oxigenação adequadas. A exposição a substâncias químicas
inibidoras da AChE leva a um quadro de fraqueza muscular com possibilidade de paralisia flácida,
broncorreia e redução do impulso respiratório. Após esses efeitos, instala-se um quadro clínico
multifatorial caracterizado por insuficiência respiratória e hipoxemia, que são as principais causas de

423
Unidade III

morte após exposição aguda a inibidores da AChE. A exposição a doses elevadas pode levar a paralisia
respiratória, convulsão e coma.

Antídotos

A atropina inibe competitivamente a ação da ACh nos receptores muscarínicos. Recomenda-se a


precoce intubação endotraquel a pacientes com quadro de alteração mental, gravemente deprimidos
ou com fraqueza muscular esquelética (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Observação

Como as colinesterases séricas são inativadas pelos inibidores da


AChE, deve-se evitar a administração de bloqueadores neuromusculares
despolarizantes, como a succinilcolina.

O rocurônio, bloqueador neuromuscular não despolarizante, pode ser utilizado na indução da


paralisia muscular.

Há controvérsia quanto à utilização de oximas no tratamento das intoxicações por carbamatos.


Como visto, a pralidoxima é utilizada no tratamento da intoxicação por organofosforados por impedir
o “envelhecimento” da AChE. Entretanto, os carbamatos não se ligam covalentemente à AChE.
Consequentemente, a ligação com a AChE é reversível e sua dissociação ocorre espontaneamente, entre
24 e 48 horas (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Alguns estudos nos trazem que a administração da pralidoxima pode, inclusive, aumentar a inativação
da AChE. Opostamente, outros autores também referem possíveis benefícios da administração de oximas
no tratamento da intoxicação por carbamatos. Na exposição do organismo apenas ao carbamato, sem
exposição concomitante a organofosforado, sugere-se que não se administre as oximas.

Caso haja a exposição concomitante desses dois grupos de substâncias químicas, a administração
de oximas pode ser realizada, uma vez que o benefício de seus efeitos sobre os organofosforados é
bem descrito e possivelmente não haverá incremento da toxicidade do carbamato. Após a intubação,
os benzodiazepínicos podem ser utilizados no tratamento da agitação por conta da intubação e são
capazes de controlar as convulsões (SILBERMAN; TAYLOR, 2020).

Como você observou, os praguicidas podem ser classificados de diversas formas. Para interagirmos,
faremos uma breve classificação dos principais praguicidas organosintéticos. Um deles, o paraquat, é
um herbicida que nos chama muito a atenção pela sua toxicidade. Vamos então conhecer um pouco
mais sobre ele.

424
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Saiba mais

Para saber mais sobre o assunto, leia o artigo a seguir:

TREMORI, T. M. et al. Achados necroscópicos em cães e gatos vítimas de


intoxicação exógena. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v. 25, n. 1, 2018.

7.2.8 Paraquat

7.2.8.1 Introdução

O paraquat é o segundo herbicida mais vendido no mundo. Ele possui baixo custo, com ação rápida
e não seletiva. Tem a cor verde brilhante e cheiro pungente e é um líquido corrosivo. Ainda que seu uso
seja relativamente seguro na agricultura, é amplamente utilizado nas tentativas de suicídio, sobretudo
em áreas rurais (JHA; KANNAPUR; HIREMATH, 2020).

7.2.8.2 Mecanismo de ação

No interior das células, esse composto bipiridílico sofre reações de óxido-redução; por consequência,
são formadas espécies reativas de oxigênio (EROs) e de nitrogênio (ERN). O ciclo redox gerado pelo
paraquat consome nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato reduzida (NADPH)-citocromo P450
redutase, que representa uma importante forma de defesa antioxidante celular.

Os órgãos com alta demanda de oxigênio são os mais comumente afetados, como rins, coração,
fígado e pulmões (JHA; KANNAPUR; HIREMATH, 2020).

7.2.8.3 Toxicidade

Alguns autores expõem a baixa neurotoxicidade causada por esse herbicida, por pouco atravessar a
barreira hematoencefálica (JHA; KANNAPUR; HIREMATH, 2020).

Entretanto, Martins (2013) afirma que o paraquat pode levar a danos neurológicos, uma vez que,
ainda que apenas pequena quantidade do xenobiótico atravesse a barreira hematoencefálica, o encéfalo
possui baixos teores de enzimas antioxidantes e, consequentemente, é mais vulnerável ao herbicida,
mesmo quando exposto a baixas quantidades.

Observação

Pelas informações dispostas na literatura (JHA; KANNAPUR;


HIREMATH, 2020), concluímos que a exposição oral mínima de 30 ml de
paraquat, entre 20% e 24% (p/v), é fatal para um adulto.
425
Unidade III

7.2.8.4 Tratamento

O tratamento da intoxicação pelo paraquat inclui a administração do carvão ativado ou terra de


Fuller, acetilcisteína, altas doses de glicocorticoides e hemodiálise ou hemoperfusão, dependendo
da quantidade do herbicida a que o organismo se expôs. Não há tratamento específico, e normalmente
o prognóstico é ruim para exposição aguda.

Saiba mais

Para saber mais sobre o assunto, leia o artigo a seguir:

ANVISA. Parecer técnico de reavaliação n. 08/GGTOX/Anvisa, de 13 de


junho de 2016. Brasília, 2016. Disponível em: https://cevs.rs.gov.br/upload/
arquivos/201712/06132134-paraquate-parecer-08-2016-consolidacao-
contribuicoes-cp-94-2015.pdf. Acesso em: 9 dez. 2020.

8 TOXICOLOGIA DOS METAIS

Neste tópico, você irá se surpreender a respeito de como estamos expostos aos metais em nosso
cotidiano e no ambiente de trabalho e como esses toxicantes podem romper a homeostase do organismo.
Também veremos os possíveis efeitos tóxicos decorrentes da exposição aos metais e como realizar o
diagnóstico e o tratamentos das intoxicações.

8.1 Alumínio

8.1.1 Propriedades físico-químicas

O alumínio é um metal maleável e muito reativo. Quando exposto a agentes oxidantes como o
oxigênio ou à própria água, forma-se o óxido de alumínio, que, ao revestir o metal, lhe confere elevada
resistência à corrosão. Algumas espécies de alumínio reagem violentamente em contato com a água,
como os haletos e hidretos de alumínio (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1997).

8.1.2 Usos e fontes de exposição

A liberação do alumínio no ambiente pode ocorrer de forma natural ou antropogênica, mas as


fontes naturais contribuem mais significativamente com a liberação direta do metal. É utilizado com
grande frequência na indústria e na produção de cerâmicas, vidros, impermeabilizantes, medicamentos,
materiais de construção, aeronaves, automóveis, indústria de papel e purificação da água (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1997).

426
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observação

O alumínio é utilizado inclusive na fabricação de cerveja e refino


do açúcar.

O alumínio é um dos principais constituintes do material particulado suspenso presente na


atmosfera. A ingestão de alimento e água é a principal fonte de exposição não ocupacional ao alumínio.

Chamamos sua atenção aos números que vamos lhe trazer. Observe: a ingestão diária do alumínio
presente na água ou alimentos, por adultos, pode variar entre 2,5 mg e 13 mg.

Exemplo de aplicação

Após essa breve introdução sobre usos e fontes de exposição ao alumínio, reflita mais um pouco sobre
o tema e nos responda o seguinte: você se recorda de algum medicamento que contenha alumínio?

Algumas pessoas se expõem ao metal quando são expostas a alguns medicamentos antiácidos.

8.1.3 Toxicocinética

Ainda não foi completamente elucidado o mecanismo de absorção do alumínio pelo trato digestório,
mas sabe-se que algumas situações podem interferir na intensidade de absorção pela exposição por
essa via, como as característica dos sais de alumínio, força iônica, pH do meio, substâncias concorrentes
com sua absorção e presença de agentes quelantes, como silício e citrato.

Entretanto, a despeito do relativo desconhecimento dos mecanismos que envolvem a absorção


do metal pelo trato digestório, a extensão e a taxa de absorção são bem conhecidas. Produtores de
alumínio em pó e soldadores que utilizam o metal em suas soldas apresentam o metal no sangue e na
urina. A urina, assim, é a principal via de excreção do metal. Para você ter dimensão da diferença entre
a excreção urinária e a fecal do metal, em uma condição de exposição de dose única, por via oral, após
13 dias de exposição, apenas 1,8% do metal é excretado nas fezes e cerca de 83%, pela urina.

Observação

A meia-vida biológica do metal em soldadores que se expõem ao metal


por mais de 10 anos é de, no mínimo, seis meses.

427
Unidade III

8.1.4 Efeitos tóxicos em humanos

Na Inglaterra, cerca de 20.000 pessoas se expuseram a níveis aumentados de sulfato de alumínio


acidentalmente colocados na água potável. Foram identificados relatos de casos de pessoas que
apresentaram náusea, vômito, diarreia, ulcerações na pele e na boca e dor artrítica, ou seja, não houve
danos severos ou prolongados, mas houve sinais e sintomas de intoxicação.

Alguns autores associam a exposição ao metal presente na água com a doença de Alzheimer (DA)
e ao déficit cognitivo. Há estudos demonstrando associação direta entre a exposição ao metal e essas
alterações, mas são passíveis de alguma crítica. Assim, levando-se em consideração o atual conhecimento
sobre a patogênese da DA, as evidências epidemiológicas não suportam uma associação direta entre a
exposição ao metal presente na água potável e a DA.

Aumento nos sintomas neuropsiquiátricos, decréscimo da função cognitiva, neuropatia periférica e


disfunção motora foram identificados em trabalhadores que se expuseram aos fumos do metal.

Uma atenção especial deve ser dada aos que fazem hemodiálise: paciente com insuficiência renal
crônica que se exponha a medicamentos contendo alumínio ou ao alumínio presente nos fluidos de
diálise pode apresentar anemia microcítica, osteomalácia resistente à vitamina D e encefalopatia.

Prematuros podem acumular alumínio no tecido ósseo quando expostos a fontes iatrogênicas
de alumínio, mesmo quando não apresentam insuficiência renal grave. Caso o organismo apresente
insuficiência renal severa, a exposição ao alumínio pode levar a convulsões e encefalopatia.

Foi identificado que trabalhadores que se expuseram ao alumínio revestido com óleo mineral na
fabricação de explosivos para fogos de artifício apresentaram fibrose pulmonar. O quadro a seguir
lista os métodos analíticos utilizados na determinação do alumínio e seus compostos, em diferentes
matrizes biológicas.

Quadro 30 – Métodos analíticos que podem ser utilizados na identificação


do alumínio no organismo, em função das matrizes biológicas

Matriz/amostra Preparação da amostra Método analítico Limite de detecção Recuperação


biológica
Centrifugação, diluição 14,3-150 µg/L (faixa
Soro GF-AAS 97-102%
com Mg(NO3)2 analítica)
Centrifugação, diluição
Plasma, soro GF-AAS 4 µg/L 90-102%
com água
1,9 µg/L (soro)
Sangue total, plasma, Diluição com Triton X-100 GF-AAS 1,8 µg/L (plasma) Não disponível
soro
2,3 µg/L (sangue total)
Digestão úmida,
Tecido biológico, complexação com Tiron, 2,1 µg/L (fígado)
NAA Não disponível
urina cromatografia por troca 0,18 µg/ml (urina)
iônica

428
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Matriz/amostra Preparação da amostra Método analítico Limite de detecção Recuperação


biológica
Diluição com água ICP-AES 6 µg/L Não disponível
Urina, sangue
Diluição com água ICP-AES 0,3 µg/L Não disponível
Congelar, moer NAA Não disponível Não disponível
Digestão seca com HNO3, GF-AAS 0,5 µg/g (tecido seco) 80-117%
diluição com água
Digestão seca com HNO3,
Tecidos biológicos cromatografia de troca AMS 106 átomos 26Al Não disponível
catiônica
Digestão, cromatografia
de alta eficiência de troca Espectrofotometria 7 µg/L 87-94%
iônica, reação com Tiron
Lavado com 2-propanol, 0,65 µg/g (peso seco)
Cabelo GF-AAS 84-105%
digestão com HNO3
Fluidos corpóreos Diluição com HNO3/HCl ICP-AES 1-5 µg/L > 57%
Concentrados de Diluição com HNO3 e Triton GF-AAS (corrigido 3 µg/L 93-108%
hemodiálise X-100 por Zeeman)
Legenda: AMS = espectrometria de massa do acelerador; GF-AAS = forno de grafite - espectrofotometria de absorção atômica;
ICP-AES = plasma indutivamente acoplado - espectrofotometria de emissão atômica; NAA = análise de ativação de nêutrons;
Tiron = ácido 4,5-di-hidroxi-1,3-benzenodissulfônico

Adaptado de: World Health Organization (1997).

8.1.4.1 Grupo de risco

O grupo de risco da exposição ao alumínio é constituído de pessoas de qualquer idade que tenham
insuficiência renal, por conta do risco de neurotoxicidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1997).

8.1.5 Carcinogenicidade

A Iarc, da OMS, classifica o alumínio (produção de alumínio) no grupo 1 (IARC, 2016).

8.1.6 Manejo e tratamento da intoxicação

Apresentaremos alguns métodos para reduzir os efeitos tóxicos decorrentes da exposição ao alumínio.
Entretanto, alguns tratamentos podem ser experimentais, sem a comprovação necessária. Portanto, em
casos de intoxicação envolvendo o metal, o aconselhamento médico deve ser realizado por médicos
toxicologistas em centros de controle de intoxicação, e as informações disponibilizadas neste material
não devem ser utilizadas como um guia.

As informações sobre a redução da absorção do alumínio no trato digestório são bastante limitadas.
O que se sabe é que o metal é absorvido por um processo independente de energia, mas dependente de
sódio. Dentro desse contexto, os tratamentos que utilizam procedimentos para o bloqueio de processos
pericelulares podem ser utilizados para minimizar ou até mesmo impedir a absorção intestinal do metal.
A ranitidina pode reduzir a absorção do alumínio no trato digestório (INGERMAN et al., 2008).

429
Unidade III

8.1.6.1 Redução da carga corporal

Uma das formas de reduzir a carga corpórea do alumínio é evitar a exposição concomitante entre
o alumínio e o citrato. A desferroxamina também pode colaborar na redução da absorção do metal.
Como esse agente quelante é capaz de complexar com o citrato, consequentemente haverá redução
na absorção do metal, uma vez que o citrato aumenta a absorção do alumínio no trato digestório.
A desferroxamina reduz significativamente a meia-vida do alumínio no encéfalo de ratos.

Observação

A desferroxamina também pode levar a efeitos tóxicos como erupções


cutâneas, hipotensão e catarata.

A 1,2-dimetil-3-hidroxipirida-4-ona ou deferiprona é um agente quelante que se mostrou eficaz no


aumento da excreção urinária do alumínio em ratos. Derivados da piridina e pirimidina foram eficazes
na minimização dos teores de alumínio no encéfalo de camundongo.

Lembrete

Toxicodinâmica é a forma pela qual o toxicante age no organismo,


bioquímica e molecularmente.

Sabe por que inserimos como lembrete o conceito de toxicodinâmica? Para que você compreenda
ainda melhor por que se faz necessário conhecer a maneira de ação tóxica do xenobiótico, do ponto
de vista bioquímico e molecular. Por exemplo, não há antídotos específicos para o tratamento da
intoxicação pelo alumínio, uma vez que seu mecanismo de ação não é totalmente compreendido. Se o
mecanismo de ação não é conhecido, como tratar especificamente? Compreendeu?

Parece haver alguns outros efeitos do metal no organismo, não muito conhecidos, como a
superexpressão da imunorreatividade no hipocampo, indução da peroxidação lipídica e alterações de
parâmetros bioquímicos. Em ratos, essas alterações são minimizadas ao se administrar fitoterápicos
como extrato de Dipsacus asper Wall e Bacopa monnieri (L.) Wettst., vitaminas C e E, centrofenoxina
(fonte de colina), selênio e, acredite, cerveja!

Sim, é isso mesmo: cerveja! Porque quanto maior a quantidade de cevada maltada e lúpulo na cerveja,
maior é a quantidade de silício, que minimiza os efeitos tóxicos do alumínio (INGERMAN et al., 2008).

8.1.7 Fosfina

Neste momento, faremos um “recorte” nas informações da intoxicação do alumínio para falar um
pouco sobre o fosfeto de alumínio.

430
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Imagine o seguinte cenário: você é o último a sair de um enterro e, no cemitério onde você está, a
noite cai rapidamente. De repente, você começa a ver chamas ao seu redor. Imaginamos que, dentro
desse cenário misterioso, você sairia correndo, não é mesmo? Pois bem: quando você corre, a chama
parece persegui-lo, ou seja, acompanhá-lo! Será que está havendo um episódio de delírio de nossa parte
ou realmente essa é uma situação que pode acontecer?

Ainda que rara em países desenvolvidos, a intoxicação por fosfeto de alumínio é uma situação
relevante por conta de sua elevada mortalidade. O fosfeto de alumínio pode ser encontrado em uma
composição de 43% de carbonato de amônio e 57% de fosfeto de alumínio (GÜMÜS et al., 2017).

O fosfeto de alumínio é utilizado sobretudo em países agrícolas e está presente em inseticidas,


rodenticidas e desinfetantes. A letalidade da substância é elevada: a mortalidade está acima dos 60%,
mesmo quando o tratamento é realizado por profissionais experientes e em centros de atendimento
bem equipados.

A dose tóxica da substância varia de 150 mg a 500 mg e a dose letal varia de 1,0 g a 1,5 g, pela
exposição gastrintestinal. Alguns estudos apontam que 70% dos casos de intoxicação por fosfeto de
alumínio ocorreram em pacientes homens de aproximadamente 20 anos.

Vamos lhe apresentar um caso que aconteceu na Turquia, em que um jovem de 20 anos, que estava
no serviço militar, se intoxicou com a substância, exatamente dentro do contexto epidemiológico
exposto anteriormente. Relatos apontaram que o jovem havia sido exposto à substância “por boca” e
foram encontrados comprimidos da substância em sua blusa (veja a figura a seguir). Em suas mídias
sociais foram identificadas palavras sobre a morte, um pouco antes do evento (GÜMÜS et al., 2017).

Figura 165 – Fotografia de 17 comprimidos completos encontrados em uma caixa escrita


“fosfeto de alumínio a 57%” no bolso da jaqueta de um paciente intoxicado

Preste ainda mais atenção no que acontece com a substância química após a exposição do
organismo: além de rapidamente absorvido pela pele, pelo pulmão e trato digestório, o fosfeto de
alumínio reage com o conteúdo gástrico, água ou ar e libera a fosfina.

431
Unidade III

Esse gás formado tem odor de alho ou de peixe em estado de putrefação, é incolor e inibe a
citocromo c oxidase, com consequente comprometimento na respiração celular, que acarreta em
déficit de energia para órgãos vitais, como o miocárdio, e gera espécies radicalares, por lipoperoxidação.
Todos esses efeitos culminam no prejuízo na geração do potencial de membrana cardíaca e morte.

Observação

Não confunda a fosfina com a arsina, que também tem odor de alho.

A hematemese é caractarística, uma vez que a fosfina é corrosiva para o trato digestório (veja a
figura a seguir). Em alguns casos, pode haver metemoglobinemia e hemólise intravascular.

Figura 166 – Hemorragia da camada submucosa, no estômago

O organismo também pode apresentar petéquias hemorrágicas no fígado e encéfalo, informação


confirmada pela análise toxicológica nesse mesmo jovem (veja a figura a seguir).

Figura 167 – Hemorragias petequiais e equimoses sob o couro cabeludo

432
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

8.1.8 Manejo e tratamento

Não há um antídoto específico para o tratamento da intoxicação pela exposição ao fosfeto de


alumínio. Deve-se realizar a tentativa de neutralização da substância com um lavado de permanganato
de potássio e administração intravenosa de sulfato de magnésio, com a maior brevidade possível.
Recomenda-se a utilização da N-acetilcisteína por sua propriedade antioxidante e regenerativa celular,
além da glutationa. Alguns artigos trazem que a administração da atropina, da pralidoxima e do
magnésio reduz a morbimortalidade da intoxicação desse xenobiótico.

Voltando à história das chamas no cemitério, a decomposição de matéria orgânica pode gerar a
fosfina, que é o mesmo gás formado pela interação entre o fosfeto de alumínio e o conteúdo gástrico
e é um gás inflamável. Caso o ambiente esteja muito quente, a fosfina liberada pode se inflamar
espontaneamente, gerando chamas azuladas que podem chegar a três metros de altura. O movimento
de correr da pessoa ao se deparar com essa situação desloca o ar e, consequentemente, a fosfina presente
no meio, juntamente com as chamas, tende a “acompanhar” o deslocamento da pessoa.

8.2 Arsênio

8.2.1 Introdução

O arsênio é um metal ubíquo presente no solo, ar e água. Quando na forma inorgânica, está associado
ao ferro, níquel ou cobalto, juntamente com minerais de sulfeto (acreditamos que essa informação já
lhe tenha despertado a atenção), e quando na forma orgânica, está associado ao carbono e hidrogênio.
O termo arsênio deriva da palavra grega arsenikon, que significa potente (JANG; SOMANNA; KIM, 2016).

Cerca de mil anos antes do nascimento de Paracelsius, Hipócrates já descrevia a utilização do sulfeto
de arsênio no tratamento de doenças cutâneas (IBRAHIM et al., 2006). Você consegue entender por que
é célebre a frase de Paracelsius “a diferença entre remédio e veneno é a dose”?

Veremos importantes aplicações do metaloide, com fins terapêuticos. Mas nem sempre o arsênio foi
utilizado com o mais nobre objetivo. Para quem não assistiu ao filme Arsênico e renda velha, de Frank
Capra, queira nos desculpar pelo spoiler: nesse filme, duas velhinhas solidárias resolvem “aumentar a
qualidade de vida” de alguns idosos oferecendo abrigo e proteção, para acabar com a solidão deles.
Então, adicionam arsênio ao vinho de sabugueiro oferecido a eles para que haja a intoxicação intencional
desses senhores; assim, as velhinhas acabam com a solidão dos idosos! Boazinhas, não?

Você se recorda de que no início desta obra trouxemos um pouco da história da toxicologia e
apresentamos a madame Toffana, que vendia a acqua Toffana para que as mulheres se “livrassem dos
maridos”? Pois bem: você vai entender melhor, a partir de agora, como esse produto agia no organismo
desses maridos, levando-os à morte. Sabe o que tinha na composição da acqua Toffana? Arsênio!

Ao longo da história, ainda sob a égide das intoxicações fatais de cunho criminal, suspeita-
se que muitas mortes de famosos como Mozart e Napoleão Bonaparte tenham ocorrido pela
exposição ao arsênio.
433
Unidade III

Outra situação que nos chama a atenção é o fato de o arsênio ser classificado como metaloide por
conta de suas propriedades físico-químicas, mas a fisiopatologia desse metaloide remete a características
de toxicidade associada a casos de intoxicação por metais pesados.

Atualmente, a maioria dos casos de intoxicação aguda ao arsênio em seus diferentes estados de
oxidação ocorre pela exposição acidental, sobretudo a praguicidas contendo compostos arsenicais, e,
menos frequentemente, por situações envolvendo homicídio ou autoextermínio.

8.2.2 Propriedades físico-químicas

Quando na forma inorgânica, o arsênio está associado ao ferro, níquel ou cobalto, juntamente com
minerais de sulfeto (acreditamos que essa informação já tenha despertado sua atenção sob a óptica
toxicológica), e o metal está associado ao carbono e ao hidrogênio, quando na forma orgânica (JANG;
SOMANNA; KIM, 2016).

É encontrado em diferentes estados de oxidação, como arsênio elementar (As0), arsenito (As3+),
arsenato (As5+) e arsina (AsH3), na forma de gás e em formas orgânicas e inorgânicas de arsenito e arsenato.

Outra característica que nos chama muito a atenção é que esse metaloide não se degrada, nem é
destruído no meio ambiente. Mais do que isso, é crescente a atenção dos especialistas sobre o arsênio
também por sua “mobilidade” na terra. Para que você tenha dimensão da intensidade de exposição da
população ao arsênio em seus diferentes estados de oxidação, os teores desse metaloide na água potável
excedem os limites preconizados pela OMS (10µg/L) em mais de 42 países, e cerca de 150 milhões
de pessoas já apresentaram algum efeito tóxico pela exposição à água contaminada com o arsênio.
Mas a água não é a única fonte de exposição: humanos e animais podem ter interação com o metal pela
ingestão direta, por inalação e pela pele.

Observação

O arsênio pode causar danos à saúde mesmo em baixas concentrações


na água, como 2 µg/L.

8.2.3 Usos e fontes de exposição

No século XIX, a preparação contendo 1% de trióxido de arsênio foi utilizada para várias aplicações
terapêuticas. Por exemplo, antes da descoberta da penicilina por Alexander Fleming, a sífilis era tratada
com o arsênio (IBRAHIM et al., 2006).

Lembrete

Toda substância química pode ser considerada um agente tóxico,


dependendo das condições de exposição.
434
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

O arsênio pode ser encontrado ligado ao chumbo, hidróxidos e sulfetos de ferro e de cobre.
É encontrado em matrizes aquíferas ou armazenado em rochas sedimentares. A pirita, o dissulfeto de
ferro e a estibinita tendem a acumular arsênio (JANG; SOMANNA; KIM, 2016).

Você se recorda de que utilizamos o termo mobilidade do arsênio? Vamos entender um pouco
melhor essa informação. Esse metaloide pode se deslocar no ambiente por meio de processos naturais,
como a atividade vulcânica, reações geoquímicas ou intempéries. Estima-se que a quantidade do arsênio
na crosta terrestre seja em torno de 4,0 x 1016 kg. Na Austrália, o arsênio encontrado em corpos de água
potável advém da erosão da estibinita encontrada em cidades do interior desse país.

Mas as fontes antropogênicas também não podem ser desconsideradas: são liberadas cerca de
82 mil toneladas de arsênio por ano, em todo o mundo, por conta das atividades humanas.

8.2.4 Toxicidade

Vimos como o arsênio é eclético quanto aos seus possíveis estados de oxidação. Dependendo
da especiação, há alteração da toxicidade do metaloide. A forma inorgânica do arsênio é altamente
tóxica, e o arsenito tem toxicidade 10 vezes superior ao arsenato, nas mesmas condições de exposição.

Observação

Você consegue visualizar agora como o estado de oxidação desse metal


deve ser destacado quando se faz a avaliação de risco ao arsênio?

Mas o estado de oxidação não é o único fator que contribui para sua ação tóxica: a frequência e o
tempo de exposição, a taxa de ingestão, a biodisponibilidade e a via de exposição também devem ser
considerados como fatores que influenciam na toxicidade desse xenobiótico.

Para que compreendamos ainda melhor a toxicidade do metaloide, faz-se necessário conhecer
como o metal se apresenta na natureza. Como tivemos a oportunidade de acompanhar, os compostos
arsenicais podem ocorrer em três diferentes estados de oxidação: arsênio elementar, arsenito trivalente
e arsenato pentavalente; e o estado de oxidação os difere, sob a óptica toxicológica. O metaloide
elementar não é tóxico (IBRAHIM et al., 2006).

Lembrete

A especiação do metal está condicionada à sua natureza física e química.

Assim, faz-se necessário avaliar a especiação do arsênio para que também seja possível caracterizar os
riscos toxicológicos decorrentes de sua exposição, que pode se apresentar na forma orgânica, inorgânica
e gás arsina. Observe um importante aspecto toxicológico desse metaloide: os compostos orgânicos de

435
Unidade III

arsênio possuem baixa capacidade de causar danos agudos ao organismo, opostamente às suas formas
inorgânicas e do gás arsina, que são tóxicos.

A exposição e consequente absorção do arsênio podem ocorrer, principalmente, pelo trato digestório,
ainda que também seja possível a absorção pela pele e pulmão, com consequente dano ao organismo
(IBRAHIM et al., 2006). Veja o quadro a seguir.

Quadro 31 – Caracterização entre tipo de exposição,


via de exposição e efeitos no organismo

Tipo de exposição Via de exposição Toxicidade

Ingestão de água ou ingestão Náusea, vômito, diarreia, cianose, arritmia cardíaca,


acidental de inseticidas ou pesticidas confusão e alucinações

Aguda Dérmico por contaminação por Morte celular associada à ruptura da membrana
arseniato de cobre cromado celular e inibição da síntese de DNA e proteínas

Inalação de gás arsênico Bronquite, respiração curta e tosse

Parestesia, doença vascular e cardiovascular central


e periférica, queratose, hiperpigmentação ou
Ingestão de água hipopigmentação das mãos, pés e dedos, doenças
Crônica malignas como câncer de rim, fígado e de bexiga,
(arsenicose) hemograma baixo

Câncer de pulmão, bronquite crônica, doença


Inalação pulmonar obstrutiva crônica e bronquiectasia

Adaptado de: Jang, Somanna e Kim (2016).

Frutos-do-mar tendem a bioacumular o metaloide, mas na forma de arsenobetaína, que é o arsênio


na forma orgânica e, portanto, com baixa toxicidade. Ainda assim, pode haver elevação dos níveis de
arsênio na urina (IBRAHIM et al., 2006).

8.2.5 Toxicocinética

8.2.5.1 Distribuição

O arsênio inorgânico se liga nos eritrócitos e é redistribuído em 24 horas, ou seja, há uma rápida
redistribuição para os pulmões, rins, coração e fígado e também para o trato digestório e o SN, ainda
que em menor proporção.

8.2.5.2 Biotransformação

No fígado, o arsênio é metilado e dá origem ao monometilarsônico e dimetilarsínico. Ambos


apresentam baixa toxicidade na exposição aguda (IBRAHIM et al., 2006).

436
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Atenção às vias de excreção do metaloide. Nem todo o arsênio é biotransformado: uma


pequena quantidade do metaloide em sua forma inorgânica é excretada inalterada. A urina excreta
aproximadamente 50% do arsênio ingerido entre três e cinco dias, mas este também pode ser encontrado
em tecidos ricos em queratina como pele e cabelos. Quando depositado nas unhas dos pés ou das mãos,
forma a linha de Mees ou Aldrich-Mees, linhas brancas decorrentes da descoloração das unhas (veja a
figura a seguir) (IBRAHIM et al., 2006).

Figura 168 – Depósito de arsênio nas unhas (linha de Aldrich-Mees)

8.2.6 Toxicodinâmica

Há dois diferentes mecanismos de ação tóxica associados à intoxicação pelo arsênio. O arsenito
trivalente tem a propriedade de se ligar aos grupamentos sulfidrílicos do lipoato, responsável pela síntese
de intermediários, no ciclo de Krebs. A consequência dessa inibição é a depleção de ATP por prejuízo
da fosforilação oxidativa, e o arsenato pentavalente, por outro lado, pode levar a uma arseniólise, ou
seja, uma rápida hidrólise da ligação éster fostato, no ATP, capaz de desacoplar a fosforilação oxidativa
e resultar na morte de tecidos que demandem muita energia, pela depleção da energia celular. Assim, o
desacoplamento da fosforilação oxidativa associada à inibição da respiração celular resulta na morte de
tecidos cujas células sejam dependentes de muita energia

8.2.7 Intoxicação aguda

A exposição aguda ao metaloide apresenta como manifestação clínica alterações do trato digestório,
como dor abdominal, náusea, vômito e diarreia. A diarreia causada pela exposição ao arsênio é chamada
de “água de arroz”, por sua colaração característica, e normalmente é acompanhada por perda de sangue.
Quando há significativo dano endotelial, pode ocorrer o choque hipovolêmico. Dentro de quatro dias
após o início da exposição aguda ao arsênio, aparecem as anormalidades hematológicas como depressão
da medula óssea, pancitopenia, anemia, pontilhado basofílico e hemólise (veja a figura a seguir).

437
Unidade III

Figura 169 – Hemólise causada pela exposição à arsina. A bolsa à direita representa o plasma
retirado de um paciente intoxicado com a arsina, comparado com um plasma normal, à esquerda

No aparelho cardiovascular observa-se o prolongamento do intervalo QT e arritmias ventriculares,


como torsade de pointes, mesmo após vários dias da melhora do quadro inicial envolvendo o trato
digestório. Na extremidade dos membros inferiores ou superiores pode haver a manifestação da
neuropatia periférica simétrica, com sensação de dormência e queimação.

Na intoxicação aguda grave pode se desenvolver rapidamente uma síndrome semelhante à de


Guillain-Barré, com fraqueza ascendente, e também pode haver neurotoxicidade, caracterizada por
encefalopatia (IBRAHIM et al., 2006).

8.2.8 Intoxicação crônica

É vasto o repertório das manifestações clínicas decorrentes da exposição crônica ao metaloide,


que inclui queratose palmar e plantar, quando as unhas podem apresentar um sinal bastante
característico de armazenamento do arsênio: as linhas de Aldrich-Mees. Essas faixas brancas
tranversais nas unhas podem não estar presentes em todas as pessoas que se expõem ao arsênio,
não caracterizam se houve exposição aguda ou crônica e não são específicas para o arsênio, mas
podem indicar que houve a exposição ao arsênio e também são uma forma de excreção do metaloide.

Também pode haver alterações cardiovasculares com consequentes quadros de hipertensão e


vasculite periférica que podem chegar à gangrena de membro(s) inferior(es), conhecida como doença
do pé preto, por conta da desvitalização tecidual distal. Isso ocorreu em Taiwan a algumas pessoas, por
exposição a grande quantidade do metaloide presente na água potável (IBRAHIM et al., 2006).

A carcinogenicidade do metaloide é prevalente no rim, pulmão, fígado e bexiga, e os efeitos


não carcinogênicos estão associados a hiperpigmentação, hipopigmentação, queratose, doença
cardiovascular periférica, doença vascular, prejuízo no SNC e SN periférico (SNP) e diabetes mellitus.
Assim, o arsênio pode causar efeitos carcinogênicos (veja o quadro a seguir) e não carcinogênicos.

438
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Quadro 32 – Classificação do arsênio pela Iarc, considerando a especiação do metal

Especiação do metal Grupo (Iarc)


Arsênio e compostos inorgânicos de arsênico 1
Arsenobetaína e outros compostos orgânicos de arsênico que não são metabolizados em 3
seres humanos
Inseticidas não arsênicos (exposições ocupacionais na pulverização e de aplicação) 2A

Fonte: Iarc (2016).

O arsênio inorgânico consegue atravessar a placenta de animais e, dependendo das condições de


exposição, pode ser teratogênico (IBRAHIM et al., 2006).

8.2.9 Diagnóstico

Vamos fazer um exercício para resgatar as informações e também para sugerir o diagnóstico da
intoxicação ao arsênio.

Exemplo de aplicação

Em uma exposição ao metaloide, quais são as alterações clínicas que mais lhe chamaram a atenção?

Temos certeza de que ao menos uma de suas respostas está associada às alterações cardiovasculares
e hematológicas. Pensando também dessa forma é que os especialistas sugerem o diagnóstico da
intoxicação pela exposição ao arsênio.

A história clínica sempre é muito importante e, consequentemente, a anamnese deve ser realizada
com muito critério e perspicácia, uma vez que a história da exposição ocupacional, ambiental ou
acidental ao arsênio pode ser identificada nesse momento.

Os achados físicos são representativos: escurecimento das porções distais de membro(s) inferior(es)
ou superior(es), linha de Aldrich-Mees, hipopigmentação ou hiperpigmentação da pele. Além disso, você
já tinha identificado que poderia haver alterações hematológicas, não é mesmo? Assim, solicita-se um
hemograma completo com esfregaço.

Não há alteração cardiológica? Sim, há! Logo, solicita-se um eletrocardiograma para avaliar se está
havendo o prolongamento do intervalo QT. O clínico deve se atentar para não dar um diagnóstico
falso-positivo para Guillain-Barré, caso haja evidência de axonopatia sensório-motora simétrica distal,
uma vez que a ingestão maciça do arsênio pode alterar significativamente a condução nervosa e induzir
ao erro de diagnóstico.

A solicitação de radiografia abdominal é exigida, uma vez que alguns compostos arsenicais são
radiopacos e podem ser evidenciados por esse exame.

439
Unidade III

A quantificação da excreção urinária de 24 horas do metaloide é uma análise importante e confiável,


ainda que a exposição ao arsênio proveniente da ingestão de frutos-do-mar possa aumentar de forma
significativa a concentração do metaloide na urina. A concentração normal do arsênio na urina não
deve exceder 50 µg/L e sugere-se diferenciar o arsênio orgânico do inorgânico nessa matriz.

No sangue, após exposição aguda, os teores do metaloide tendem a diminuir rapidamente depois
de 24 a 48 horas, opostamente à concentração na urina, que tende a aumentar após 24 a 48 horas do
início da exposição aguda. Assim, 1 µg/dL deve ser a máxima concentração do metaloide no sangue.

Quanto à presença do arsênio nos cabelos e unhas, não convém que seja considerada para fechar
um diagnóstico clínico que caracterize uma exposição aguda, uma vez que a interpretação da linha
de Aldrich-Mees para caracterizar uma exposição aguda ou crônica não é adequada quando se
faz isoladamente.

8.2.10 Manejo e tratamento da intoxicação

O tratamento da intoxicação pelo arsênio se inicia pela remoção do intoxicado do local da exposição
(IBRAHIM et al., 2006).

Observação

A remoção do intoxicado do local da exposição deve ser feita com


muita segurança por aqueles que tenham expertise e é necessário utilizar
aparelho de respiração autônoma.

Quanto mais precoce for o início da terapia de quelação, melhores serão os resultados, devendo ser
iniciada em minutos ou horas após o início da exposição. Assim, caso os exames laboratoriais demorem
para ser liberados, o início da quelação não deve ser adiado em casos graves, mesmo que não haja a
confirmação labaratorial da exposição (KUIVENHOVEN; MASON, 2019).

Caso tenha havido a exposição pela pele, o metaloide é facilmente removido com água. Não se sabe,
ao certo, se a lavagem gástrica e o carvão ativado são efetivos no manejo do intoxicado. Caso haja
grande quantidade de material radiopaco observado na radiografia abdominal, pode-se considerar a
lavagem gástrica.

O fundamento do tratamento está nas medidas de suporte e na terapia de quelação. Deve-se


considerar a vital importância da ressuscitação volêmica em casos graves e a utilização de substâncias
quelantes, como o ácido dimercaptossuccínico (DMSA), também conhecido por succímero, o
2,3-dimercaptopropanol, também conhecido como dimercaprol ou BAL (British anti-lewisite), ou
o ácido 2,3-dimercaptopropanolsulfônico (DMPS), conhecido como unitiol. Caso o paciente apresente
insuficiência renal, deve-se considerar a possibilidade de hemodiálise. Após 24 horas de terapia
quelante, o arsênio urinário deve ser inferior a 50 µg/L.

440
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

8.2.11 Gás arsina

Uma das características físico-químicas mais marcantes na exposição ao gás arsina é o seu odor de
alho. Após essa exposição, o organismo pode apresentar náusea, cefaleia, vômito, diarreia, dor no peito,
taquicardia, perda do equilíbrio, insuficiência renal e febre, que podem aparecer entre uma e 12 horas
após a exposição. Entre quatro e 48 horas após a exposição, a conjuntiva tende a ficar avermelhada,
a urina adquire uma tonalidade de vinho do Porto e ocorre uma alteração denominada de “pele de
ardósia-bronze”, consequência da icterícia. Pode haver assistolia e bloqueio na condução cardíaca e
sensibilidade aumentada no baço e fígado ao exame físico. Após algumas semanas da exposição, podem
aparecer as linhas de Aldrich-Mees (KUIVENHOVEN; MASON, 2019).

Uma das formas de reduzir a possibilidade de insuficiência renal aguda (IRA) é administrar manitol
e proceder com intensa hidratação (EV).

Observação

Caso haja necrose tubular aguda precoce, e se os sinais de insuficiência


renal ou os teores de hemoglobina sérica ou plasmática chegarem a
1,5 g/dL, a transfusão sanguínea deve ser realizada imediatamente.

Os estudos sobre os efeitos dos agentes quelantes sobre a arsina não são conclusivos, mas alguns
protocolos expõem que, quando a exposição aguda à arsina ocorre em até 24 horas, pode ser utilizado o
dimercaprol, e após esse período, sugere-se a administração do succímero por via oral ou do unitiol por
via oral ou parenteral (OLSON, 2014).

Observação

Em casos de exposição aguda aos compostos inorgânicos de arsênio,


o uso do unitiol parece ser mais eficiente que o dimercaprol nas primeiras
24 horas de exposição.

8.3 Cádmio

8.3.1 Usos e fontes

O cádmio está presente na crosta terrestre em teor aproximado de 0,1 parte por milhão e
normalmente é encontrado como subproduto das fundições de chumbo ou zinco. Até a década
de 1960, foi utilizado juntamente com o zinco em soldas de vedações de tubulações de água.
Atualmente, o metal é utilizado em lasers, aço galvanizado, baterias, pigmentos de tintas, inclusive
de cosméticos, e até mesmo na fissão nuclear. A ingestão de vegetais folhosos, arroz de regiões
específicas da China e do Japão, crustáceos e água é uma das principais fontes de exposição ao

441
Unidade III

cádmio, e a exposição ocupacional ocorre principalmente por meio da utilização de soldas, que
pode levar à pneumonia química grave (BERNHOFT, 2013).

8.3.2 Toxicocinética

8.3.2.1 Absorção

A ingestão e inalação são as principais vias de exposição para humanos. Dependendo do diâmetro
aerodinâmico, 10% a 50% do cádmio inalado são absorvidos pelo trato respiratório.

Observação

A mais significativa fonte de exposição humana ao cádmio é


o tabagismo.

Existe uma significativa concentração do metal no sangue e nos rins de tabagistas. Quando a
exposição ocorre pelo trato digestório, indivíduos que apresentam deficiência em zinco, cálcio ou ferro
apresentam uma absorção maior do cádmio, que pode variar de 5% a 10% (BERNHOFT, 2013).

8.3.2.2 Distribuição

Uma vez absorvido, o cádmio é distribuído para todo o organismo, normalmente pela metalotioneína,
proteína de baixo peso molecular que contém grupamentos sulfidrílicos. Cerca de 30% do metal são
depositados nos rins, sendo que o mesmo percentual é depositado no fígado, e cerca de 40% do restante
de cádmio são distribuídos para as demais partes do organismo. A meia-vida biológica do cádmio
presente no sangue varia de 75 a 128 dias, lembrando que ela está associada, sobretudo, à deposição
do metal nos órgãos, e a meia-vida biológica do cádmio no organismo é de 25 anos (BERNHOFT, 2013).

8.3.2.3 Excreção

O cádmio é excretado pela urina em baixas quantidades, e o aumento da exposição ao metal eleva,
paulatinamente, a excreção urinária. A quantidade de metal excretada nas fezes é a somatória da
excreção do cádmio excretado por via biliar, que foi desprendido da mucosa intestinal, mais a fração
que não foi absorvida pelo organismo (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).

8.3.3 Efeitos tóxicos

Dependendo das condições de exposição ao cádmio, pode haver lesão tecidual por meio de
alterações epigenéticas na expressão do DNA, inibição competitiva das ações fisiológicas do magnésio
ou do zinco, indução do estresse oxidativo, indução da apoptose por comprometimento da função
mitocondrial, inibição da síntese do heme e depleção da glutationa. A presença do arsênio e chumbo
pode intensificar o efeito do cádmio no organismo humano, e a presença de selênio e zinco pode
minimizar seus efeitos tóxicos (BERNHOFT, 2013).
442
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Como visto anteriormente, aproximadamente 30% do cádmio são depositados nos rins, tornando-os
o principal órgão-alvo. O segmento proximal do túbulo renal é alvo da deposição do metal, o que
pode levar à síndrome de Fanconi, na qual o processo de reabsorção de fosfato, bicarbonato, glicose,
aminoácido e proteínas é comprometido, e também pode ocorrer o prejuízo no processo de transporte
de proteínas induzido por dano oxidativo, com possível indução à apoptose das células tubulares.

Deve-se atentar que a presença da metalotioneína é de fundamental importância para a amplitude


da intensidade de lesão renal pelo metal: quanto maior é a produção dessa proteína de baixo peso
molecular, menor é a intensidade de lesão tecidual causada pelo cádmio. Isso ocorre pelo fato de se
formar um complexo, cádmio-metalotioneína, inócuo ao organismo humano, ou seja, se o cádmio
permanece por muito tempo nos rins, mas está na forma de complexo ligado à metalotioneína, a
intensidade de lesão renal se reduz significativamente. Entendemos, assim, que conforme se expõe ao
metal, o organismo consegue “identificar” essa exposição e adota um sistema de proteção, para que não
haja o rompimento da homeostase, e produz mais metalotioneína.

Se a metalotioneína protege o organismo humano dos efeitos tóxicos do cádmio, então por que o
organismo se intoxica pelo metal?

A capacidade de produção de metalotioneína pelo organismo é limitada. À medida que se aumenta


a exposição ao cádmio, também há o aumento da produção da proteína, mas há limites. Quando a
quantidade do cádmio no organismo é superior à quantidade de metalotioneína produzida, inicia-se o
rompimento da homeostase.

A osteomalácia ou a osteoporose também podem estar associadas à exposição ao cádmio. Isso


porque o metal pode reduzir a absorção do cálcio e também prejudicar o metabolismo da vitamina D,
no rim, com impacto direto sobre o tecido ósseo. Considera-se ainda que, por mecanismo indefinido,
o cádmio é capaz de exercer sua toxicidade sobre os osteoblastos, de estimular os osteoclastos e
de intensificar no tecido ósseo. Um clássico exemplo dessa manifestação tóxica é a doença que no
Japão é conhecida por Itai-itai, caracterizada por dor intensa nos ossos por conta da osteomalácia
e da osteoporose, além da anemia combinada pela má absorção do cálcio. A diabetes mellitus é a
comorbidade que leva à maior suscetibilidade a doenças renais pela exposição ao cádmio.

Evidências epidemiológicas apontam que o metal pode estar relacionado à morte súbita, à
hipertensão arterial e ao infarto do miocárdio.

Uma proposta de mecanismo de ação que justifique esses danos está associada à inibição da
produção de óxido nítrico e consequente vasoconstrição direta. Os monócitos podem transportar o
metal para a parede vascular e induzir ao acúmulo do metal em vasos importantes, como no endotélio
da aorta, ainda que danos diretos nos miócitos também tenham sido documentados. Pode haver
alterações hematológicas como a supressão acentuada da produção de eritropoietina, hemólise e
anemia (BERNHOFT, 2013).

443
Unidade III

O metal também pode ser considerado um desregulador endócrino, aparentemente, por alterar a
síntese de hormônios hipofisários, em que elevados teores de cádmio no sangue levam a uma supressão
da produção de hormônio tireoestimulante (TSH).

A quantidade de cádmio capaz de levar à morte por exposição aguda de um homem de 70 kg é de


5 g (RAHIMZADEH et al., 2017).

8.3.4 Carcinogenicidade

O cádmio e seus compostos são classificados no grupo 1 pela Iarc (2016). O metal é considerado
carcinogênico pulmonar, apresenta um risco potencial para o câncer de mama e de pâncreas e pode
induzir ao câncer de rim e de próstata, além de induzir à hiperplasia de células testiculares e afetar a
produção de testosterona (RAHIMZADEH et al., 2017).

8.3.5 Diagnóstico

A nefrotoxicidade é a principal manifestação tóxica pela exposição crônica ao cádmio. Alguns autores
sugerem que a exposição ao metal está associada aos danos renais quando a concentração do cádmio é
igual ou superior a 0,5 µg/g de creatinina, na urina, e danos extensos ocorrem quando há concentrações
superiores a 2,0 µg/g de creatinina, na mesma matriz biológica.

Lembrete

O acúmulo do cádmio no organismo aumenta a meia-vida biológica a


30 anos, enquanto a meia-vida biológica de três a quatro meses é resultado
de uma exposição recente.

O cádmio pode ser determinado na saliva, que por sinal é um excelente método para verificar a
contaminação por metais, por exposição a longo prazo, e também pode ser determinado no cabelo
e nas unhas. A espectrometria de massas de plasma indutivamente acoplada e a espectrofotometria
de absorção atômica são duas técnicas analíticas que podem ser utilizadas na quantificação do
cádmio no sangue.

8.3.6 Tratamento

8.3.6.1 Medidas de descontaminação

O carvão vegetal não é muito efetivo na descontaminação do trato digestório, por não absorver o
metal efetivamente, e a avaliação dos possíveis danos hepáticos e no trato digestório, respiratório e
urinário faz-se necessária (RAHIMZADEH et al., 2017).

444
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

8.3.6.2 Agentes quelantes

O ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) aumenta significativamente a excreção urinária


do cádmio.

Observação

O EDTA pode aumentar a concentração do metal no rim e eleva o risco


de nefrotoxicidade.

O dipercaprol, o succímero e o unitiol são agentes quelantes bastante utilizados nessa terapia, e a
penicilamina é insuficiente para reduzir os efeitos do cádmio no organismo.

Observe os detalhes das características dos agentes quelantes. Como o cádmio se liga fortemente à
metalotioneína e é armazenado nos rins e no fígado, e como o succímero não é um quelante intracelular,
para alguns autores, esse agente quelante não é considerado o de escolha para o tratamento da
intoxicação pelo cádmio.

8.4 Chumbo

8.4.1 Usos e fontes

O chumbo metálico é utilizado em munições, soldas, baterias de automóveis, blindagem para


proteção de radiação e raio-X, e seus sais inorgânicos são utilizados na produção de tintas, pigmentos
(dão cor ao esmalte e à tinta de cabelo), soldas e inseticidas (RAHDE, 1991).

Segundo Rahde (1991), a intoxicação pelo chumbo pela exposição ocupacional é bastante comum,
sobretudo quando as empresas não adotam as medidas adequadas de prevenção da intoxicação. Uma
das vias de exposição que devem ser consideradas no ambiente de trabalho é a exposição pelo trato
respiratório, pela inalação de fumaça ou poeira contendo o metal.

Entretanto, além da exposição ocupacional, outras fontes de exposição ao chumbo devem ser
consideradas. Pode haver a ingestão do metal pela exposição a água e alimentos contaminados pelo
metal. A cerâmica vitrificada pode conter chumbo em sua composição e, consequentemente, ao ingerir
água ou alimentos acondicionados nesse recipiente, pode haver exposição ao metal.

O que as crianças veem, colocam na boca. Não é isso o que acontece? No que se refere à exposição
ao chumbo, não é diferente.

Há brinquedos feitos de chumbo, como os soldados de chumbo, ou que contenham chumbo.


As crianças se expõem diretamente ao metal pelo trato digestório, ao colocar na boca o brinquedo
contendo chumbo ou a mão contaminada pelo metal (CAPITANI, 2009).

445
Unidade III

O chumbo orgânico é cada vez menos utilizado. Entretanto, naftenatos e estearatos de chumbo
ainda são utilizados em sabões de chumbo e como estabilizantes em materiais plásticos. Em alguns
países, ainda se utiliza o chumbo tetraetila na gasolina, e durante a produção, a mistura e o transporte
desse combustível, pode haver a intoxicação do trabalhador (GIDLOW, 2004).

8.4.2 Toxicocinética

8.4.2.1 Absorção

Dependendo da concentração do vapor, pó ou névoa do chumbo presente no ar, a taxa de absorção


do metal pelo trato respiratório varia de 50% a 70%, caso as partículas tenham menos que 1 µm,
representando uma das principais vias de exposição ao chumbo (RAHDE, 1991).

De 5% a 15% do chumbo inorgânico a que o organismo se expõe pelo trato digestório são absorvidos.
O restante é excretado pelas fezes, mas, mais uma vez, as condições de exposição podem alterar bastante
o cenário de absorção do xenobiótico.

No início deste material vimos que o estado de plenitude ou de vacuidade gástrica pode interferir na
absorção de uma substância química, não é? Quando uma pessoa está em jejum e se expõe ao chumbo
inorgânico, pode haver um incremento de até 45% da absorção do metal. Um dos motivos pelos quais
as crianças são mais sensíveis ao chumbo decorre do fato de os lactentes e crianças terem uma absorção
do chumbo inorgânico 53% superior a adultos.

O que nos chama muito a atenção é que as informações preliminares que foram transmitidas
neste livro-texto nos substanciam para que possamos compreender, com ainda mais facilidade, as
informações posteriores.

Observe as informações relacionadas às interações químicas: aparentemente, o transporte do


chumbo através da mucosa intestinal ocorre de forma similar ao cálcio. Assim, a redução da exposição
ao cálcio ou zinco leva ao aumento da absorção do chumbo. Ainda nesse contexto, a absorção pelo trato
digestório é favorecida pela solubilização ácida, e a absorção dos compostos inorgânicos de chumbo
pela pele é considerada insignificante.

Destaca-se que há mudança do perfil toxicocinético do chumbo orgânico em comparação com o


inorgânico. O chumbo orgânico é absorvido mais rapidamente em comparação com o chumbo metálico
e sais inorgânicos de chumbo. A absorção pela pele passa a ser importante quando há a exposição por
essa especiação do metal. O chumbo metálico tem uma absorção negligível, pela pele, diferentemente
do chumbo orgânico, que apresenta uma absorção significativa por essa via de exposição.

8.4.2.2 Distribuição

A maior parte do chumbo presente no sangue está ligada aos eritrócitos. Para que você tenha
dimensão, a concentração do metal presente nos eritrócitos é cerca de 16 vezes superior à concentração

446
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

no plasma. O chumbo é distribuído para o fígado e rins e, em seguida, redistribuído para o cabelo, dentes
e ossos, sendo que cerca de 95% da carga corporal do metal concentram-se nos ossos.

A ingesta de fosfato interfere diretamente na distribuição do chumbo no tecido ósseo: a ingestão de


elevada quantidade de fosfato induz o depósito de chumbo no tecido ósseo, enquanto a baixa ingestão
da mesma substância induz a redistribuição do metal para tecidos moles (RAHDE, 1991).

8.4.2.3 Meia-vida biológica

A determinação da meia-vida biológica do chumbo no organismo humano não é uma tarefa fácil
de realizar, mas estima-se que nos eritrócitos seja de 35 dias, de 40 dias quando presente no sistema
nervoso, fígado e rins, que são tecidos moles, e cerca de 25 anos quando presente no tecido ósseo
(RAHDE, 1991).

8.4.2.4 Metabolismo

O chumbo elementar e os compostos inorgânicos de chumbo não são biotransformados pelo organismo
humano (RAHDE, 1991). Entretanto, diferentemente do chumbo metálico e compostos inorgânicos de
chumbo, o chumbo tetraetila, uma forma de chumbo orgânico, sofre biotransformação hepática e dá origem
a compostos alquílicos de chumbo, excretados na urina. Essa é uma situação patognomônica de intoxicação
por chumbo orgânico, quando a concentração do chumbo no sangue é moderamente elevada, enquanto os
níveis do metal na urina são extremamente elevados (GIDLOW, 2004).

8.4.2.5 Excreção

A depuração renal do chumbo inalterado ocorre fundamentalmente pela filtração glomerular.


Entretanto, quando há a exposição a elevada quantidade do metal, pode haver transporte tubular ativo.
O metal é excretado principalmente pela urina e fezes, mas a excreção também pode ocorrer pelo
cabelo, suor, unhas, lágrimas e outras vias de excreção (RAHDE, 1991).

8.4.3 Toxicodinâmica

O chumbo interfere em processos bioquímicos e pode prejudicar sistemas enzimáticos por inibição
dos grupamentos sulfidrílicos proteicos.

8.4.4 Toxicidade

8.4.4.1 Exposição aguda

A exposição fatal ao chumbo é rara, e acidentes fatais demonstram que ocorrem pela exposição
acima de 30 g para acetato de chumbo ou carbonato de chumbo. Na exposição aguda, os sintomas mais
frequentes associados à exposição pelo trato digestório incluem vômitos, anorexia e cólica abdominal.
Com menor frequência, pode ocorrer o aparecimento de parestesia, cãibras e dores nos membros

447
Unidade III

inferiores, e a evolução do quadro clínico pode levar a disfunção renal, anemia hemolítica e choque
(RAHDE, 1991).

Em crianças, a morte ocorre quando o nível de chumbo no sangue (plumbemia) é igual ou superior
a 1250 μg/L.

No ambiente de trabalho, a via de exposição mais importante é o trato respiratório, quando pode
haver a inalação de fumaça, óxidos de chumbo e partículas do chumbo finamente divididas. Entretanto,
a exposição aguda por essa via é bastante incomum.

8.4.4.2 Exposição crônica

Vários são os sintomas decorrentes da exposição crônica pelo trato digestório do chumbo elementar
e seus sais, mas caracterizam-se sobretudo pelo gosto metálico, náusea, vômito, cólicas abdominais,
anorexia, linha de Burton, que consiste em uma linha azulada nas margens da gengiva (veja a figura a
seguir), letargia, encefalopatia, irritabilidade e convulsões (RAHDE, 1991).

Figura 170 – Linha de Burton em paciente com 39 anos com histórico de


constipação e aumento de frequência e intensidade das cólicas intestinais

Dois grandes grupos de pessoas são normalmente afetados pela exposição crônica ao chumbo:
adultos, pela exposição ocupacional, e crianças (RAHDE, 1991).

Os efeitos tóxicos decorrentes da exposição crônica ao chumbo pelo trato respiratório são
bastante parecidos com os da exposição pelo trato digestório, em que se observam cefaleia, distúrbio
do sono, fadiga, náuseas, vômitos, cólica abdominal, constipação, anorexia e ossos e músculos
doloridos. As crianças podem desenvolver encefalopatia, anemia e distúrbios do nervo periférico
(SCHVARTSMAN, 1996).

448
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observação

Deve-se evitar ao máximo a exposição de crianças ao metal, uma vez


que, recentemente, foram observados déficits cognitivos causados pela
exposição ao chumbo, sobretudo em crianças.

A exposição ao metal ainda pode prejudicar a fisiologia das mitocôndrias no SN, produzir lesões
na alça de Henle e nos túbulos proximais renais, reduzir o tempo de vida dos eritrócitos e prejudicar a
síntese do heme (RAHDE, 1991), em que pode haver a inibição de enzimas que participam da biossíntese
do grupo heme, que forma a hemoglobina, como a do ácido Δ-aminolevulínico (Δ-ALA) desidratase,
coproporfibilogênio (CPG) oxidase e ferro quelatase ou heme-sintase, com consequente acúmulo no
organismo de Δ-ALA na urina, coproporfibilogênio na urina (CPU) e protoporfirina IX livre (EP) ou da
protoporfirina zincada (ZPP) (veja a figura a seguir) (SILVA, 2001).

Succinil coenzima A + Glicina δ-ALA sintetase

Ácido δ-aminolevulínico δ-ALA desidratase


O chumbo diminui a atividade da enzima
Pb ácido δ-aminolevulínico desidratase que
cataliza essa passagem
Porfobilinogênio

Uroporfirinogênio III Uroporfirinogênio oxidase

Coproporfirinogênio III Coproporfirinogênio oxidase

Pb

Protoporfirina IX + Ferro Protoporfirinogênio


descarboxilase
Pb O chumbo diminui a atividade da enzima
hemi-sintetase, que catalisa a síntese do
Heme + Globina grupo heme

Hemoglobina

Figura 171 – Biossíntese da hemoglobina e enzimas inibidas pelo chumbo

8.4.5 Sinais e sintomas da intoxicação

O quadro a seguir correlaciona a sintomatologia com o perfil de exposição ao chumbo.

449
Unidade III

Quadro 33 – Relação entre a sintomatologia e o tempo de exposição ao chumbo

Exposição aguda ou subaguda Exposição crônica


Agitação psicomotora Adinamia
Anorexia Alterações de humor
Ataxia Artralgia/mialgia
Cólica abdominal refratária ao tratamento Encefalopatia crônica
Cólica satúrnica ou saturnina Hipertensão arterial
Coma Irritabilidade
Constipação intestinal Linhas de deposição de sulfeto de chumbo nas gengivas (linhas de Burton)
Convulsões Mialgia generalizada (ou mais localizada nas panturrilhas)
Desequilíbrio Neuropatia periférica
Dispepsia Parestesias e perda de força muscular nas extremidades
Dor abdominal de localização variada Perda da libido
Encefalopatia Perda de memória
Estupor Poliúria isostenúrica
Gastroduodenite Queimação epigástrica
Hipertensão arterial Queixa de palidez e fadiga
Insuficiência renal aguda Sinais de insuficiência renal
Icterícia (nos casos com hemólise)
Irritabilidade
Náusea
Obnubilação
Palidez cutânea
Paralisia de nervos periféricos
Vômitos

Adaptado de: Gomes et al. (2015), Capitani (2009) e Brasil (2006).

Observação

O termo saturnismo se refere à intoxicação pelo chumbo.

Nos casos mais graves, podem ser observadas alterações encefalopáticas associadas às cólicas
abdominais, estas últimas resistentes a tratamento antiespasmódico convencional. Hipertensão arterial
sistólica pode também ser detectada nos casos agudos, além de palidez cutânea (devido à vasoconstrição
periférica) e icterícia (devido à hemólise) (CAPITANI, 2009).

Em casos de grave intoxicação, pode acontecer um fato clássico e importante: as cólicas satúrnicas.
São intensas cólicas abdominais que podem ser confundidas com outras doenças, como a apendicite,
e são refratárias ao tratamento com agentes antiespasmóticos tradicionais (CAPITANI; MADUREIRA;
MOREIRA FILHO, 2004).

450
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

8.4.6 Diagnóstico

8.4.6.1 Exames laboratoriais

Após a anamnese, deve-se complementar e confirmar o diagnóstico da intoxicação pelo chumbo


pela determinação da plumbemia, ou seja, concentração do metal no sangue, exame de maior
relevância para identificar a absorção do metal, ou pela determinação dos teores de chumbo na urina
(plumbúria), pela determinação dos níveis de bioindicadores de efeito, como atividade do Δ-ALA, da
determinação dos níveis urinários de Δ-ALA (Δ-ALA-U), CPU, EP ou ZPP (CAPITANI, 2009).

A plumbemia indica principalmente a exposição recente ao metal, e não a carga corpórea total
(WANI; ARA; USMANI, 2015).

As alterações laboratoriais comuns na intoxicação aguda, subaguda ou crônica ao chumbo que


corroboram para a definição do diagnóstico são a hemoglobina inferior a 10 μg/dL, o Δ-ALA-U
elevado, o pontilhado basófilo nas hemácias, e CPU e EP (ou ZPP) elevados. Além dessas alterações,
na intoxicação aguda ou subaguda, a plumbemia em crianças deve estar superior a 25 µg/dL.
A radiografia do abdome da criança pode ser realizada, caso tenha havido uma exposição pelo trato
digestório. Em adultos, é necessário avaliar a história de exposição ocupacional e plumbemia superior
a 60 µg/dL, lembrando que pode haver quadro agudo de intoxicação pelo chumbo com plumbemia
inferior a 60 µg/dL (CAPITANI, 2009).

Observação

A intoxicação pelo chumbo está associada à anemia microcítica e


hipocrômica com deficiência de ferro e de pontilhados basófilos nos
eritrócitos, visíveis ao microscópio óptico.

Ainda que a quantificação da protoporfirina eritrocitária na amostra de sangue possa ser utilizada
no diagnóstico da intoxicação pelo metal, a identificação da protoporfirina eritrocitária aumentada
isolada não é um análise sensível e apresenta um limiar alto de detecção, ou seja, pode não ser suficiente
para identificar os níveis de chumbo abaixo de 35 µg/dL no sangue (WANI; ARA; USMANI, 2015).

Como os níveis de protoporfirina eritrocitária também aumentam a deficiência de ferro, a


avaliação isolada da protoporfirina eritrocitária no sangue tem sido pouco utilizada no diagnóstico da
exposição ao chumbo.

Duas formas bastante utilizadas para o diagnóstico de exposição ao metal por crianças são a
identificação da presença de uma banda radiopaca na região distal das metáfises de ossos longos em
processo de desenvolvimento e a radiografia do abdome da criança, caso tenha havido uma exposição
pelo trato digestório (CAPITANI, 2009). A fluorescência de raio-X é uma técnica não invasiva capaz de
medir o chumbo nos ossos e expressa a exposição da carga corporal total e cumulativa (WANI; ARA;
USMANI, 2015).
451
Unidade III

8.4.7 Tratamento

Agentes quelantes são utilizados no tratamento da intoxicação, como o dimercaprol e o EDTA.


Como o EDTA possui maior afinidade ao chumbo que ao cálcio, forma-se um quelato, ou seja, um
complexo que é excretado na urina. O succímero reduz a plumbemia e é uma das opções para melhorar
o desenvolvimento neuropsicológico de crianças expostas ao metal (WANI; ARA; USMANI, 2015).
Diferentemente do chumbo inorgânico e de seus sais, não há agentes quelantes específicos para o
tratamento da intoxicação pelo chumbo orgânico (GIDLOW, 2004).

8.4.8 Prevenção da exposição

Ainda que a intoxicação pelo chumbo possa causar efeitos graves no organismo, é evitável. Uma das
formas de reduzir a exposição é desencorajar as crianças a colocarem a mão na boca (tarefa inglória!) e
orientá-las a lavar frequentemente as mãos, além de aumentar a ingestão de ferro e cálcio (WANI; ARA;
USMANI, 2015). O chumbo pode ser liberado para a água potável, quando presente nos encanamentos
de metal, que transportam água, ou pode estar presente nas soldas. Com o tempo, o chumbo presente
na solda é levado pela água e pode haver a exposição ao metal pelo trato digestório. Sugere-se, assim,
a substituição dos canos metálicos por canos de plástico (WANI; ARA; USMANI, 2015).

Observação

A água quente pode liberar mais chumbo para água que a água fria.

Os limites máximos de chumbo tolerados em alimentos são definidos pela Portaria n. 685 da Anvisa,
de 27 de agosto de 1998 (BRASIL, 2013). A IDA do chumbo em adultos é de 50 μg/kg peso corpóreo ou
3 mg para adultos e de 25 μg/kg peso corpóreo para crianças (RAHDE, 1991).

O TLV-TWA para poeira ou fumos de chumbo inorgânico é de 150 μg/m3 (RAHDE, 1991). O VR do
chumbo no sangue (PbS) é de 40 mg/dL e o IBMP é de 60 mg/dL (BRASIL, 1994).

Saiba mais

Para saber mais sobre o assunto, leia:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção à saúde dos
trabalhadores expostos ao chumbo metálico. Brasília: Ministério da Saúde,
2006. (Saúde do Trabalhador: Protocolo de Complexidade Diferenciada,
n. 4; Série A. Normas e Manuais Técnicos).

452
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

8.4.9 Carcinogenicidade

O quadro a seguir apresenta a classificação do metal, segundo sua especiação, pela Iarc.

Quadro 34 – Classificação pela Iarc do chumbo,


considerando a especiação do metal

Especiação do metal Grupo (Iarc)


Iarc – Chumbo elementar 2B
Iarc – Chumbo inorgânico 2A
Iarc – Chumbo orgânico 3

Adaptado de: Iarc (2016).

8.5 Mercúrio

Você se recorda de Alice no país das maravilhas e do personagem Chapeleiro Maluco? Não estamos
apresentando um quadro de intoxicação com alucinação a ponto de expor em vão uma obra-prima da
literatura mundial escrita por Lewis Carroll em um capítulo de um livro de toxicologia! Não, isso também
não é um delírio! Mas qual é o sentido desse personagem estar presente em um módulo tão específico
como a toxicologia dos metais? Calma! Você já vai compreender. Você se recorda de que o Chapeleiro
Maluco era muito estressado? Você se lembra também se havia alguma alteração na coloração dos olhos
desse personagem? Ao longo da leitura deste tópico, você terá subsídios para unir os pontos entre o
Chapeleiro Maluco, personagem do livro, com a toxicologia do mercúrio.

8.5.1 Propriedades físico-químicas

O mercúrio é um metal excêntrico, uma vez que é o único metal líquido nas CNTP.

8.5.2 Usos e fontes de exposição

Além de ser um metal excêntrico, o mercúrio é também uma ameaça para o meio ambiente,
animais e humanos. Fontes antropogênicas representam 30% de toda a emissão anual de mercúrio
para a atmosfera, enquanto 10% da emissão do metal advêm de fontes naturais e 60% correspondem
à reemissão, ou seja, de uma redistribuição do mercúrio que foi previamente liberado durante séculos
nos mares e solo. Para que você tenha dimensão, em 2010, foram liberadas cerca de 1.960 toneladas
de mercúrio diretamente para a atmosfera. Nesse mesmo ano, a queima do carvão para a obtenção de
energia para uso industrial e geração de energia liberou 475 toneladas de mercúrio (UNEP, 2013).

Exemplo de aplicação

Você é capaz de dar exemplos de onde o mercúrio metálico pode estar presente no nosso cotidiano?

453
Unidade III

Possivelmente, na sua infância, você viu um termômetro clínico sendo quebrado acidentalmente.
E é fascinante: liberam-se esferas prateadas brilhantes de diversos tamanhos que se “fundem” umas nas
outras com constante mudança de diâmetro dessas esferas. Não foi isso que aconteceu?

Essas esferas são o mercúrio metálico líquido. Recorda-se de que alguns minutos após ter presenciado
essas esferas você as perdeu, ou seja, constatou que elas desapareciam paulatinamente? É exatamente
isso o que acontece: elas se volatilizam. Recorda-se, também, de que foi exposto que o mercúrio é o
único metal nas CNTP? Assim, caso a temperatura esteja superior a 20 ºC, o metal tende a se volatilizar
e vai para o ar, e isso é um grande problema toxicológico.

Você resgatou que há mercúrio em termômetros clínicos e analíticos e em lâmpadas fluorescentes,


sendo também utilizado na catálise de reações químicas em processos industriais, no amálgama dentário
e, entre outros usos, na extração do ouro. Isso mesmo: estima-se que para cada 1 g de ouro extraído
sejam utilizadas 2 g de mercúrio elementar. O principal minério de onde se extrai o mercúrio é o cinábrio,
que está na forma de sulfeto de mercúrio II (HgS).

Observação

Você entendeu agora por que fizemos um trocadilho utilizando os


termos bateia, brilho e preciosidade?

Exemplo de aplicação

Pela forma como o mercúrio está presente no cinábrio, você consegue fazer uma projeção de
sua toxicodinâmica?

Você tem plena condição de fazer esse raciocínio toxicológico.

8.5.3 Toxicocinética

Ao estudar metais, deve-se prestar atenção na especiação do metal, ou seja, nas suas características
físicas e químicas.

8.5.3.1 Absorção

Exposição pelo trato digestório

O mercúrio metálico não apresenta importantes consequências toxicológicas após exposição do


organismo pelo trato digestório, com raras exceções, como a exposição crônica.

Compostos mercuriais inorgânicos solúveis, como o cloreto mercuroso, podem ser rapidamente
absorvidos em até 10% pelo trato digestório. O restante do composto inorgânico mercurial pode

454
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

permanecer conjugado com o conteúdo intestinal ou fixado na mucosa intestinal. Os compostos


mercuriais inorgânicos podem ser oxidados a compostos solúveis, consequentemente, absorvíveis.

O cinábrio é particularmente pouco absorvido por essa via de exposição, uma vez que é insolúvel. Mas
atente-se: a exposição crônica, caracterizada pela exposição a pequenas quantidades, mas por longo
período, também pode levar à intoxicação pelo metal (KOLEV; BATES, 1996). Você consegue visualizar
como é tudo muito dinâmico?

Há uma importante situação envolvendo a exposição ao mercúrio orgânico pelo trato digestório
e gostaríamos que você se apropriasse entusiasticamente da informação quando estudarmos o que
aconteceu em Minamata.

Segundo Mídio e Martins (2000), compostos organomercuriais, sobretudo os de cadeias curtas,


como o metilmercúrio e o dietilmercúrio, além de ser acumulados em peixes, são até 95% absorvidos
pelo trato digestório.

Exposição pelo trato respiratório

Leia atentamente a informação a seguir, uma vez que muito nos impressiona o número que iremos
transmitir a você. Preste atenção: em função de sua rápida difusão através da membrana alveolar, até
80% do vapor do mercúrio metálico podem ser absorvidos pelos alvéolos pulmonares.

E você sabe por que o vapor do mercúrio metálico é absorvido com tanta intensidade? Porque é
lipossolúvel, e como vimos extensamente, substâncias lipossolúveis são absorvidas com facilidade pela
membrana plasmática.

Exposição pela pele

O mercúrio elementar na forma líquida é moderadamente absorvido pela pele, dependendo das
condições de exposição (AZEVEDO, 2003). Estudos em animais apontam que o cloreto de mercúrio
aplicado sobre a pele de animais é até 8% absorvido dentro de cinco horas.

Exposição vaginal

Compostos mercuriais presentes em géis vaginais são prontamente absorvidos pela mucosa vaginal
e armazenados no organismo (KOLEV; BATES, 1996).

8.5.3.2 Distribuição

Cerca de metade do mercúrio absorvido se liga à albumina plasmática, em combinação com os


grupamentos sulfidrílicos (preste atenção nessa informação), e a outra metade se liga aos eritrócitos.
Então, são prontamente distribuídos, e em poucas horas, os rins concentram elevada quantidade do
metal (consegue inferir um possível órgão-alvo do mercúrio?) (KOLEV; BATES, 1996).

455
Unidade III

Quantidades menores do metal são distribuídas para os intestinos delgado e grosso, pele, fígado,
baço, mucosa do trato respiratório, glândulas salivares, encéfalo, músculo esquelético, coração e pulmões.
Há um armazenamento do metal por curto período no fígado, ossos e medula óssea. Uma semana após
a exposição, entre 85% a 95% do mercúrio ao qual o organismo se expôs são armazenados nos rins,
mas também no encéfalo; o metal apresenta especial afinidade às regiões basal e frontal desse órgão.

Acreditamos que com o olhar analítico e toxicológico desenvolvido ao longo da disciplina, você já
consiga estimar quais são os órgãos-alvo do metal, não é mesmo? Encéfalo e rins.

A especiação dos metais nos traz muitas particularidades. O mercúrio orgânico, por exemplo, tem a
capacidade de se concentrar mais nos eritrócitos, diferentemente dos compostos mercuriais inorgânicos.
Assim, a taxa da concentração do mercúrio presente nos eritrócitos e no plasma é um indicativo se o
organismo se expôs ao mercúrio orgânico ou inorgânico. Não é muito interessante quando lemos a
informação e conseguimos realizar conjecturas?

Essa é mais uma informação relevante. Vamos ver a seguir se você compreendeu bem: qual especiação
do mercúrio atravessa membranas com mais facilidade, o metálico na forma de vapor ou os compostos
mercuriais inorgânicos?

O vapor do mercúrio metálico atravessa membranas biológicas muito mais rapidamente em


comparação com os compostos mercuriais divalentes. Grande parte do vapor do mercúrio metálico que
chega no encéfalo é oxidado e essa é uma situação importante envolvendo a exposição ao mercúrio. O
metal entra na célula facilmente, por ser lipossolúvel, e após a oxidação pela catalase, se transforma em
mercúrio inorgânico, hidrossolúvel; consequentemente, sairá da célula com dificuldade e tende a ser
armazenado no tecido encefálico. Esse é um dos grandes riscos toxicológicos ao se expor ao mercúrio.

Você se recorda, quando falamos sobre os que tiveram a oportunidade de interagir com o mercúrio
elementar na forma líquida, de que o metal tende a ficar na forma esférica e que alguns minutos depois
desaparecia porque se volatilizava? Você também se recorda de que até 80% do vapor mercúrio metálico
são facilmente absorvidos pelo trato respiratório? Ótimo! Sabe qual é a consequência disso? O mercúrio
metálico na forma de vapor é amplamente absorvido e há uma tendência de acúmulo do metal no
encéfalo. Assim, o mercúrio metálico exposto a temperaturas superiores a 20 ºC se volatiliza, é bastante
lipossolúvel, é intensamente absorvido e pode causar danos ao organismo, inclusive encefálicos.

Há outros dados sobre a bioacumulação do mercúrio: a concentração do mercúrio no cabelo é cerca


de 300 vezes superior à encontrada no sangue. Na toxicologia, essa informação é relevante, uma vez
que, à medida que se encontre mercúrio no cabelo hoje, significa que houve uma exposição pregressa
ao metal, ou seja, uma exposição mais antiga, para que houvesse tempo de ocorrer o depósito do metal
no cabelo. Todas as formas do mercúrio atravessam a barreira placentária.

456
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observação

Durante a fabricação de cartolas, no século XVIII, nos Estados Unidos,


sais inorgânicos mercuriais eram utilizados para a separação das fibras
que constituíam o tecido utilizado na fabricação de chapéus e cartolas.
Você consegue fazer alguma correlação dessa atividade profissional com o
Chapeleiro Maluco?

8.5.3.3 Biotransformação

Você acredita que a meia-vida biológica do mercúrio seja igual para todos os órgãos?

Muito bem! Você se recordou que o vapor do mercúrio elementar é rapidamente absorvido pelo
trato respiratório, atravessa barreiras biológicas prontamente e atinge o encéfalo. Após sua oxidação,
é oxidado a mercúrio inorgânico e, consequentemente, é eliminado mais lentamente (KOLEV; BATES,
1996). Esse é o raciocínio toxicológico. É possível concluirmos, portanto, que dependendo do órgão no
qual o metal está presente e de sua especiação, o mercúrio pode ter variação do tempo de permanência
nesse órgão e, consequentemente, no organismo. Uma das mais marcantes alterações que ocorre com
o metal, no organismo humano, é sua oxidação pela catalase, quando encontrado no encéfalo, o que
retarda sobremaneira sua excreção desse órgão.

8.5.3.4 Excreção

A urina é a principal via pela qual o metal é expulso do organismo, mas também são encontradas
quantidades consideráveis de mercúrio nas fezes. Suor e lágrimas também excretam o metal, mas em
concentrações baixas, quando se compara com as excreções renal e fecal. Logo após a exposição, o
metal já começa a ser excretado. A maior parte do mercúrio é excretado em uma semana, caso tenha
havido exposição única, mas, ainda que em baixas quantidades, o metal pode ser encontrado por meses
na urina e fezes, sempre lembrando que o encéfalo tende a reter o metal por um longo período (KOLEV;
BATES, 1996).

A meia-vida biológica do mercúrio elementar é de 35 a 90 dias; a do mercúrio inorgânico, 40 dias.

Além do encéfalo, os rins também apresentam uma significativa tendência de acumular o mercúrio.
Após exposição única, entre 60% a 70% do mercúrio estão presentes nesse órgão.

Entre 60% e 70% do mercúrio ao qual o organismo se expôs são excretados na forma da
mercúrio-sulfidrila.

457
Unidade III

8.5.4 Minamata

Na década de 1950, no Japão, a empresa Chisso Co. Ltd. utilizava o mercúrio como catalisador
de processos industriais, mas não tratava seus efluentes, que eram lançados diretamente no mar da
cidade portuária de Minamata. Após algum tempo, observou-se que os gatos da cidade começaram a
apresentar um comportamento estranho: se jogavam no mar. As aves não voavam de forma sincrônica
e muitas se impactavam contra o solo.

Exemplo de aplicação

Faça agora um retrospecto dos principais pontos abordados envolvendo o mercúrio. Preste atenção
na leitura a seguir e veja se você consegue identificar ou relacionar as informações.

As pessoas que moravam na cidade apresentavam elevados teores de mercúrio no cabelo


(705 ppm) por terem sido expostas ao metilmercúrio presente nos peixes e mariscos (5,61 a 35,7 ppm de
mercúrio no alimento). Os principais sinais e sintomas de intoxicação ocasionados pelo mercúrio foram
alterações sensoriais, distúrbios auditivos (lesão no sistema sensorial autidivo), contrição do campo
visual, consequência do acúmulo do metal nos olhos (você lembra que o Chapeleiro Maluco tinha uma
cor dos olhos diferente?), disartria e tremores, podendo haver lesões encefálicas por contaminação
vertical. Oficialmente, foram reconhecidos 2.252 pacientes com o chamado mal de Minamata e
1.043 pessoas morreram em consequência da exposição ao metal (HARADA, 1995).

8.5.5 Mecanismo de ação

Uma das maneiras para que você compreenda como o mercúrio age no organismo humano é
saber que o metal é capaz de precipitar proteínas: ele interage com grupamentos sulfidrílicos e, por
consequência, as proteínas precipitadas perdem suas respectivas funções (KOLEV; BATES, 1996).

A despeito da inespecificidade sobre o mecanismo de ação por inibição dos grupamentos sulfidrílicos,
os compostos mercuriais são potentes toxicantes que comprometem a sobrevivência das células,
prejudicam a função de proteínas de membrana, enzimas e ácidos nucleicos e prejudicam os mecanismos
de transporte através da membrana, além de serem imunotóxicos. O metal também pode causar necrose
por precipitação de proteínas quando em contato direto com o tecido.

8.5.6 Toxicidade

Há algumas particularidades entre os sinais e sintomas de intoxicação causados pelo mercúrio,


dependendo da especiação do metal (veja o quadro a seguir).

458
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Quadro 35 – Características diferenciais das exposições


entre o mercúrio elementar e inorgânico

Mercúrio elementar Mercúrio inorgânico


Principal via de exposição Inalação Oral, dérmica
Distribuição para os principais tecidos SNC, rins Rins
Clearance Renal, trato digestório Renal, trato digestório
Efeitos clínicos
SNC Tremor Tremor, eretismo
Pulmões +++ -
Trato digestório + +++ (corrosivo)
Sistema renal + +++
Acrodinia + ++
Legenda: + (pouco afetado), ++ (afetado) e +++ (intensamente afetado).

Adaptado de: Kolev e Bates (1996).

Intoxicação aguda: via oral

A exposição a soluções concentradas de sais de mercúrio pode induzir a uma intensa precipitação
proteica na membrana das mucosas do trato digestório, com vômito e dor epigástrica, diarreia
sanguinolenta, colapso circulatório e morte. Em 24 horas pode haver a necrose do epitélio do túbulo
proximal renal e pela ativação do sistema angiotensina e pode ocorrer vasoespasmo.

Intoxicação aguda: trato respiratório

Quando se lê “inalação do mercúrio”, isso remete à exposição a qual especiação do metal?

Ao vapor de mercúrio elementar. A exposição aguda a vapores de mercúrio elementar pode


levar a um quadro de bronquiolite com pneumonia intersticial e bronquite erosiva, que tendem à
insuficiência respiratória.

Como o vapor do mercúrio elementar é lipossolúvel e atravessa membranas com facilidade, também
é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica. Ele pode ser neurotóxico e levar a efeitos como
tremores e aumento da excitabilidade.

Exemplo de aplicação

Gostaríamos que você parasse um pouco e identificasse o que há de comum entre o último parágrafo
e os sinais e sintomas apresentados pelos trabalhadores da fábrica de chapéus ou do Chapeleiro Maluco.

Exatamente: os tremores que os trabalhadores apresentaram eram consequência da exposição


excessiva ao metal. Ainda que os trabalhadores na fábrica de chapéus se expusessem a compostos
459
Unidade III

inorgânicos de mercúrio, a exposição era intensa e contínua; consequentemente, também causava


danos encefálicos.

A exposição aguda aos vapores do mercúrio elementar também pode levar à dificuldade respiratória,
tosse, tosse sanguinolenta, dor no peito e pneumonite intersticial (KOLEV; BATES, 1996).

Intoxicação aguda: pele

Em uma macroperspectiva, os compostos mercúricos são mais corrosivos à pele em comparação


com os mercurosos, e os compostos mercuriais inorgânicos solúveis são irritantes para mucosas e pele.
A exposição a esses compostos em concentrações que variem de 1% a 5% pode causar irritação,
formação de vesículas e corrosão do tecido epitelial estratificado. As soluções diluídas em uma pele
mais sensível também podem causar irritação (KOLEV; BATES, 1996).

Intoxicação aguda: olhos

Os compostos mercúricos são mais corrosivos para os olhos em comparação com os mercuriais.

Exposição crônica: trato digestório

Vamos refletir um pouco sobre a exposição ao calomel? Essa substância é o cloreto de mercúrio. Você
teria condição de estimar o órgão-alvo afetado por esse composto?

Você se lembrou que o rim é um dos órgãos-alvo dos compostos mercuriais inorgânicos. É assim que
se faz o raciocínio toxicológico. Além dos possíveis danos renais, o mercúrio também pode apresentar
aumento da salivação e linhas pretas nos dentes por conta da precipitação do mercúrio ligado ao
enxofre (KOLEV; BATES, 1996).

Observação

Não confunda o depósito de sulfeto de mercúrio nos dentes com a


linha de Burton.

Os danos renais estão associados à lesão glomerular que, por consequência, manifestam a
glomerulonefrite e proteinúria e pelo dano tubular, consequência da necrose e dos danos causados nos
túbulos proximais.

O micromercurialismo ou síndrome astênico-vegetativa é um conjunto de sinais precoces e


inespecíficos decorrentes da exposição crônica aos vapores de mercúrio caracterizados por anorexia,
perda de peso, fadiga, esquecimento e fraqueza. Os tremores podem se tornar mais intensos; eles se
iniciam nas pálpebras, lábios e periferia dos dedos e podem generalizar para todo o organismo, inclusive
com espasmos das extremidades do corpo, que podem ser violentos e intermitentes.

460
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Mas os efeitos tóxicos não param por aí. Pode haver o eretismo, ou seja, elevação do estado de
excitabilidade do sistema nervoso, labilidade emocional (você se lembra como o Chapeleiro Maluco
ficava irritado com facilidade?), depressão severa, perda de memória, alteração do comportamento e
personalidade, alucinação e delírio (KOLEV; BATES, 1996).

Exposição crônica: pele

A exposição crônica ao metal pela pele pode levar ao eritema, dermatite de contato, hipersensibilidade
retardada mediada por células e acrodinia, ou doença rosa, também conhecida por pink baby disease.
Essa doença apresenta uma reação idiossincrática causada pela exposição crônica ao mercúrio elementar
ou inorgânico, que ocorre na maioria das vezes em lactentes e crianças, mas também pode ocorrer em
adultos, e é caracterizada por erupção generalizada na pele, hipertensão, sudorese, taquicardia, anorexia,
insônia e erupção cutânea eritematosa e descamativa nas palmas das mãos (veja a figura a seguir) e
plantas dos pés (IBRAHIM et al., 2006), ulceração no couro cabeludo e alopecia (KOLEV; BATES, 1996).

Figura 172 – Acrodinia causada pelo mercúrio elementar

Voltemos ao filme Alice no país das maravilhas. Você reparou que os olhos do Chapeleiro Maluco
tinham uma cor estranha? Agora, observe a informação a seguir para você compreender ainda melhor
por que os olhos do personagem tinham uma cor atípica.

Mercurialentis é um termo associado ao sinal precoce da exposição ao mercúrio. A exposição


crônica ao mercúrio pode levar a uma absorção do metal pela córnea e pode ocorrer o depósito na
cápsula anterior dos olhos, no cristalino, alterando sua cor: eles ganham a cor de marrom claro para
café ou vermelho acinzentado, por conta da descoloração granular (por isso, mercurialentis), ainda que
a atividade visual não seja afetada. O exame de lâmpada de fenda identifica a descoloração granular
bilateral e simétrica.

461
Unidade III

Observação

Você viu quantas características associadas à intoxicação pelo mercúrio


o Chapeleiro Maluco possui?

8.5.7 Carcinogenicidade

O quadro a seguir apresenta a carcinogenicidade do mercúrio.

Quadro 36 – Classificação do mercúrio pela Iarc,


considerando a especiação do metal

Especiação do mercúrio Grupo (Iarc)


Iarc – Mercúrio elementar e sais inorgânicos mercuriais 3
Iarc – Metilmercúrio 2B

Fonte: Iarc (2016).

8.5.8 Diagnóstico

O mercúrio inorgânico e o metálico podem ser determinados no sangue total ou na urina, lembrando
que os níveis de mercúrio no sangue tendem a ser mais elevados em comparação com os da urina em
uma exposição aguda (OLSON, 2014).

Ainda que o metal possa ser determinado na urina, observe como é importante conhecermos a
toxicocinética: apenas 10% do mercúrio orgânico são excretados pela urina e o restante, pelas fezes.
Inferimos, assim, que a determinação do metal na urina não parece ser um bom bioindicador de
exposição ao metal.

Acompanhe conosco outra constatação interessante: a exposição crônica faz com que haja a
deposição do metal no cabelo, de forma que a determinação do mercúrio no cabelo estima a exposição
crônica ao metal. N-acetilglicosaminidase e microalbuminúria podem ser úteis como marcadores
urinários e capazes de estimar efeitos precoces.

Observe como a perspicácia toxicológica deve estar sempre em primeiro plano quando se trata de
sinais e sintomas de intoxicação: existe um tumor que estimula a secreção pelas células cromafins de
catecolaminas, que é o feocromocitoma. Quando o organismo se intoxica pelo mercúrio, pode apresentar
um quadro de tremor, suor e hipertensão, que também são clássicos na feocromocitoma, podendo induzir
a erro de diagnóstico, em que o paciente está intoxicado pelo metal e o clínico associa os sintomas
e sinais com a secreção das catecolaminas liberadas pelo tumor. A quantificação das catecolaminas
na urina e no sangue é uma forma de realizar o diagnóstico diferencial e, consequentemente, dar
prosseguimento ao atendimento de emergência, pela exposição ao mercúrio (FARIA, 2003).

462
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

8.5.9 Manejo da intoxicação

8.5.9.1 Descontaminação

Inalação

A vítima deve ser removida do local da exposição o mais brevemente possível após a inalação do vapor
do mercúrio. Pela iminente pneumonia aguda e edema pulmonar, é necessário monitorar atentamente
por várias horas e administrar oxigênio suplementar.

A limpeza do derramamento do mercúrio metálico deve ser feita preferencialmente por vácuo.

Ingestão

Pequenas quantidades de mercúrio líquido geralmente atravessam o trato digestório sem serem
absorvidas. Assim, pode ser necessária a remoção cirúrgica do metal dependendo da evidência do raio-X,
caso acuse acúmulo de grandes quantidades no trato digestório.

Na ingestão de sais inorgânicos mercuriais, é necessário proceder com a lavagem gástrica, mas
não deve-se induzir o vômito, pelo grave risco de dano tecidual por corrosão, e solicitar exame de
endoscopia. A insuficiência renal, a gastrenterite grave e o choque são iminentes caso o organismo se
exponha a grande quantidade de compostos inorgânicos mercuriais pelo trato digestório.

Há relatos de reações alérgicas pela utilização de amálgama na restauração dentária. Nesse caso,
a administração de anti-histamínicos normalmente é suficiente. Se o caso clínico se intensificar,
sugere-se a remoção do amálgama da restauração.

8.5.9.2 Tratamento

Um dos maiores problemas associados à exposição ao mercúrio pelo trato respiratório é a


possibilidade de edema pulmonar e pneumonite aguda. Deve-se atentar a essas situações e, quando
indicado, disponibilizar suplemento de oxigênio.

A substituição de fluídos deve ser utilizada agressivamente na iminência de choque, que pode ser
ocasionado pela exposição oral por sais de compostos mercuriais. Deve-se considerar hemodiálise por
até duas semanas em caso de insuficiência renal aguda, relativamente comum nesses casos, mas que
também tende a ser reversível (OLSON, 2014).

Um dos cuidados que se deve ter quando se administram antídotos para o tratamento da intoxicação
pelo mercúrio é que a quelação deve ser iniciada apenas após o esvaziamento do conteúdo intestinal
contendo mercúrio, pela possibilidade do aumento da absorção do metal (FARIA, 2003).

Segundo Olson (2014), os antídotos utilizados no tratamento da intoxicação pelo mercúrio


apresentam particularidades. A intoxicação por alguns metais como o cobre, o chumbo e o
463
Unidade III

próprio mercúrio, por exemplo, pode ser tratada pela administração de um derivado da penicilina,
a penicilamina.

Observação

A despeito de ser um derivado da penicilina, a penicilamina não exerce


ação antimicrobiana.

A penicilamina apresenta algumas características importantes que devem ser consideradas no


tratamento da intoxicação pelo mercúrio. A penicilamina forma um complexo, penicilamina-metal, que
é eliminado por via urinária. Como possui um precário perfil de segurança, paulatinamente tem sido
substituída pelo succímero, por via oral. Na intoxicação pelo mercúrio, a penicilamina pode ser utilizada
isoladamente quando o paciente não tolera bem o tratamento com o succímero, que tem a facilidade da
exposição por via oral, pois suas reações adversas no organismo são menos intensas e podem, inclusive,
resultar em maior excreção do mercúrio.

A penicilamina também pode ser utilizada como adjuvante no tratamento da intoxicação pelo
mercúrio quando o tratamento ocorre com o versenato dissódico de cálcio (EDTACaNa2), também
conhecido por ácido etilenodiaminotetracético cálcico dissódico, ou edetato dissódico de cálcio, ou
dimercaprol. O dimercaprol tem uma boa eficácia quando a exposição ocorre pelo trato digestório e deve
ser administrado em até quatro horas após a exposição a sais inorgânicos de mercúrio, para minimizar
os danos renais.

Deve-se atentar que o encéfalo pode ser considerado um órgão-alvo importante para compostos
organomercuriais ou mercúrio elementar, uma vez que esse antídoto pode redistribuir o metal para
esse órgão e causar ou aumentar a neurotoxicidade.

Observação

Normalmente, a administração parenteral do dimercaprol é


bastante dolorosa.

A excreção do mercúrio, assim como também a do chumbo, pela urina pode ser aumentada pela
administração de um análogo hidrossolúvel do dimercaprol, o succímero. Como visto, sais inorgânicos
mercuriais tendem à nefrotoxicidade, e o succímero aumenta a excreção do metal pela urina e,
consequentemente, protege contra os danos renais.

Também análogo hidrossolúvel do dimercaprol, o unitiol é utilizado no tratamento de intoxicação


pelo chumbo, arsênio e mercúrio, como alguns exemplos de metais pesados tóxicos. Reduz a
concentração do metal nos rins, pelo aumento da excreção urinária, e não induz a redistribuição do
metal para o encéfalo.

464
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Observação

A administração do unitiol a pacientes com insuficiência renal grave


deve ser feita com cautela.

8.6 Níquel

8.6.1 Introdução

O níquel é um metal ubíquo cujo percentual na crosta terrestre gira em torno de 0,008%.
Seu depósito de minério está na forma de sulfeto de níquel (HERTEL, 1991).

8.6.2 Propriedades físico-químicas

Na tabela periódica, o níquel se encontra após o ferro e o cobalto, no grupo VIII. Em condições
ambientais normais, seu estado de oxidação mais importante é o Ni2+, ainda que o metal também possa
se encontrar nos estados de oxidação 1, 0, 3+ e 4+ (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

8.6.3 Usos e fontes de exposição

É amplamento utilizado na produção de aço inoxidável e em ligas resistentes a temperaturas e à


corrosão para veículos, ferramentas, armamentos, catalisadores e baterias e também na fabricação de
pigmentos e de moedas (HERTEL, 1991). O níquel forma ligas úteis com muitos metais para aumentar
sua dureza e resistência à corrosão. As mais conhecidas são as ligas de níquel usadas em aço inoxidável
e as ligas de cobre-níquel empregadas na cunhagem de diversos metais (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

Alguns metais como o níquel e o chumbo devem sempre ser considerados na exposição humana e
de animais pela ingestão de água, uma vez que podem ser utilizados em tubulações de água potável
e resultar em contrações na água de até 500 µg de níquel por litro de água potável (HERTEL, 1991).

Outra situação que envolve a exposição ao metal é a quantidade de níquel presente nos alimentos.
Normalmente, os teores do metal não excedem 0,5 mg/kg de alimento fresco, mas alguns alimentos são
capazes de concentrar o metal, como farinha de aveia, nozes, soja, cacau e algumas leguminosas secas.
A intensidade de exposição ao metal presente no alimento também é ampla e depende da alimentação e
da cultura gastronômica, variando de 100 a 800 µg do metal por dia. Dependendo dos utensílios utilizados
para a preparação do alimento, sobretudo nas panelas, pode haver incremento da exposição ao metal.

A exposição pulmonar decorrente da inalação do metal presente no ar não pode ser desconsiderada.
Opostamente, dependendo da quantidade de níquel presente no ar, a absorção pode ser equivalente à
quantidade de níquel absorvido por um tabagista que fuma 40 cigarros por dia. O nível de exposição ao
metal pelo trato respiratório varia bastante, de 5 a 35 ng/m³, o que corresponde a uma taxa média de
absorção de 0,7 µg/dia.

465
Unidade III

Anualmente, milhões de trabalhadores se expõem ao metal na forma de pó e fumos, sobretudo em


processos de galvanização, soldagem, fundições, mineração e refino do metal e em usinas siderúrgicas.
A amplitude de exposição ocupacional ao metal também é significativa: as concentrações do níquel na
atmosfera de trabalho variam de µg/m³ de ar até mg/m³ de ar.

Outra informação que nos remete ao nosso cotidiano é que algumas pessoas apresentam uma reação
de sensibilização ao metal pelo uso de piercings. Um dos motivos dessa reação é que, dependendo do
material utilizado na composição do piercing, o níquel pode estar presente em quantidade suficiente
para gerar uma reação de hipersensibilidade cutânea ou de mucosa, com possível infecção do local.
A qualidade do piercing deve ser avaliada antes de sua aplicação (HERTEL, 1991).

8.6.4 Toxicocinética

8.6.4.1 Absorção

Veja como alguns números nos chamam muito a atenção. Ao menos 50% de vapores de níquel
carbonila podem ser absorvidos pelos alvéolos pulmonares quando produzidos em alguns processos
industriais, sobretudo quando o monóxido de carbono interage com o níquel na forma metálica, sem
contar que a parte do metal que não é absorvida pode ser depositada na parede dos alvéolos e causar
dano ao organismo (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005). Não impressiona a intensidade de absorção do metal
pelo trato respiratório?

Em ratos, apenas 0,1% da quantidade de cloreto de níquel ao qual o animal se expõe pelo trato
respiratório é encontrado nos pulmões, após 21 dias da exposição, uma vez que esse composto é solúvel
e sua depuração é, consequentemente, rápida. Após o jejum noturno, humanos absorvem entre 15% e
50% do níquel presente na água potável e cerca de 15% do metal presente nos alimentos.

8.6.4.2 Carga corporal e distribuição

Em média, um adulto de 70 kg possui uma carga corporal do metal de 0,5 mg. A maioria dos órgãos
apresenta uma concetração de 8 μg/kg a 10 μg/kg de peso úmido, como no encéfalo, fígado e rins. Mas
não é assim para todos os órgãos: a concentração do metal encontrado na adrenal, tireoide e pulmão é
de cerca de 20 μg/kg a 25 μg/kg, em peso úmido.

Em experimentos em animais, invariavelmente, o rim acumula a maior quantidade do metal,


seguido pelas glândulas pulmonares e hipofisárias, após exposição parenteral. O níquel é distribuído
principalmente pela albumina presente no sangue, mas também está ligado à histidina e à
alfa-2-macroglobulina.

A cinética do metal pode ser influenciada por doenças, como no caso de queimaduras térmicas,
acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio e cirrose hepática, mas não parece haver alteração
na concentração do metal em amostras biológicas em função da idade ou gênero (ABADIN; FAY;
WILBUR, 2005).

466
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

8.6.4.3 Metabolismo

No organismo, o níquel pode gerar a forma trivalente por metabolismo redox e formar espécies
reativas de oxigênio, as EROs. Neste material, tivemos a oportunidade de conversar sobre as interações
das substâncias químicas e seus impactos na saúde humana; agora, vamos ter a oportunidade de
contextualizar mais uma vez esses conceitos.

Observe: cátions divalentes podem influenciar o metabolismo do níquel. Ao administrar o metal


por via parenteral, o níquel altera a distribuição tecidual de outros metais e vice-versa. O manganês
pode, assim, inibir a dissolução do disulfeto de níquel presente no soro de animais e também inibir a
fagocitose dessa substância.

8.6.4.4 Excreção

O níquel não abosorvido pelo trato digestório é eliminado pelas fezes, e essa excreção reflete a
quantidade do metal ao qual o organismo está se expondo pela dieta. O organismo humano chega
a excretar 258 μg de níquel pelas fezes, por dia (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

O níquel excretado pelas fezes é o que foi absorvido. Essa frase está correta?

A frase está incorreta: o metal em questão excretado pelas fezes é a fração que não foi absorvida.
Caso tenha sido absorvido, o metal será excretado principalmente pela urina, ainda que também possa
ser encontrado na saliva e no cabelo. O tempo que o organismo leva para excretar o metal pela urina
depende da especiação do metal. Compostos de níquel hidrossolúveis possuem meia-vida biológica que
varia de 11 a 39 horas em humanos. Para compostos particulados, a meia-vida biológica pode variar de
30 a 54 horas.

8.6.5 Biomarcadores de exposição

As concentrações do níquel na urina e no plasma são importantes biomarcadores da exposição ao


metal. Como visto anteriormente, a especiação do metal interfere na toxicidade e também na avaliação
da exposição. A correlação entre exposição e concentração do metal na urina e no sangue não é adequada
quando se monitora compostos de níquel hidrofóbicos. Opostamente, a investigação da exposição ao
metal presente em amostras biológicas passa a ser adequada quando envolve a exposição a espécies
de níquel hidrossolúveis. Assim, inferimos que a quantidade do metal presente na urina ou no sangue do
organismo é altamente dependente da especiação do metal (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

Observe como é interessante e importante a seguinte informação: elevados níveis de níquel oxídico
e níquel sulfídico presentes no ar geram pequenas quantidades do metal no plasma ou na urina, ou seja,
não existe uma relação confiável entre a concentração do metal no ar e na urina ou sangue, dependendo
da especiação do metal. Por outro lado, elevadas quantidades do metal presentes na mucosa nasal
provavelmente também refletem proporcionalmente a exposição nos pulmões, um possível órgão-alvo.

467
Unidade III

Diferentes técnicas analíticas podem ser utilizadas para correlacionar o metal e seus compostos,
dependendo da matriz biológica analisada (veja a tabela a seguir).

Tabela 14 – Métodos analíticos utilizados na determinação


de níquel e seus compostos em matrizes biológicas

Método Limite de Percentual de


Amostra/matriz Método de preparação analítico detecção recuperação
0,2 μg Ni/L
Fluido sanguíneo, Digestão ácida na mistura de ácidos nítrico, AAS fluido; 0,49 98% a 5 μg Ni/L;
tecido e sulfúrico e perclórico eletrotérmico μg Ni/kg de 97% a 8 μg Ni/L
secreções tecido
Extração de resina de poliditiocarbamato; filtro
de cinzas e resinas em um aspirador a plasma de ICP-AES; 0,1 μg /
Urina 80%
oxigênio a baixa temperatura ou digerido com NIOSH 8310 amostra
HNO3: HClO4
Urina Diluído 1:1 em água STPGFAA 0,56 μg/L 100.7%
1 μg / 100 g
Digestão ácida em 3:1:1 (v / v / v) HNO3: HClO4: ICP-AES; de sangue;
Sangue ou tecido H2SO4 NIOSH 8005 0,2 μg / g 86% em sangue
de tecido
Amostra (10 μL) injetada no forno de grafite
com volume igual a 30% de peróxido de 95–97% a
Soro ou urina ETAAS 0,2 μg/L
hidrogênio; pirolisado a 1200 °C; atomizado 1–20 μg/L
entre 2100 °C e 2200 °C
Digestão ácida 4:2:1 (v/v/v) HNO3: HClO4: H2SO4
AAS
Tecido pulmonar Digestão ácida em HNO3: HClO4: H2SO4 4:2:1 eletrotérmico 5 ng/g Sem informação
(v / v / v)
Legenda: AAS = espectrometria de absorção atômica; ETAAS = espectrometria de absorção atômica eletrotérmica; HClO4
= ácido perclórico; HNO3 = ácido nítrico; H2SO4 = ácido sulfúrico; ICP-AES = espectroscopia de emissão atômica com
plasma indutivamente acoplada; Ni = níquel; NIOSH = Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional; STPGFAA =
absorção atômica em forno de grafite com temperatura estabilizada; v = volume

Adaptada de: Abadin, Fay e Wilbur (2005).

8.6.6 Toxicodinâmica

Nesse momento, estamos seguros de que você já conseguiu fazer uma leitura toxicológica da
informação e já é capaz de propor a possível toxicodinâmica desse meta.

Vamos raciocinar juntos: como o níquel está armazenado na crosta terrestre? Está ligado a alguma
substância química?

Isso mesmo, ligado ao sulfeto. Assim, no organismo humano, temos que imaginar que o metal
possivelmente estará ligado aos grupamentos sulfidrílicos e, consequentemente, irá inibir processos
enzimáticos, por exemplo.

468
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

8.6.7 Toxicidade

Pulmão

A exposição pelo trato respiratório é importante também considerando as reações alérgicas. A asma
pode ser desencadeada com prevalência a trabalhadores da indústria de galvanoplastia. A exposição ao
níquel orgânico pode induzir à asma, e a exposição aguda ao níquel carbonila pelo trato respiratório
pode gerar grave dano pulmonar (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

Rim

Pode haver danos renais, normalmente reversíveis, em trabalhadores que se expõem ao metal
(ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

Pele

Além da exposição dérmica, os efeitos associados à dermatite e aos danos renais estão relacionados,
possivelmente, à exposiçao ao metal pelo trato respiratório e digestório. As mucosas também podem ser
afetadas, independentemente da via de exposição (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

Observação

O gênero não interfere no teor do metal em amostras biológicas, mas


os efeitos no organismo podem ser diferentes, dependendo do gênero que
se expôs ao níquel.

Você compreendeu o significado dessa observação? Parece não haver significativa diferença nos
teores do níquel presentes em amostras biológicas entre o homem e a mulher quando se expõem
nas mesmas condições. Entretanto, a dermatite alérgica é prevalente em mulheres.

Para que compreendamos melhor, quando expostos a testes adesivos com sulfato de níquel, a reação
de sensibilização é positiva para 11% das mulheres e apenas 2% dos homens.

O piercing, principalmente na orelha, aumenta significativamente a possibilidade de sensibilização


dérmica pelo metal (veja a figura a seguir) (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

469
Unidade III

Figura 173 – Secreção purulenta causada por piercing

Também deve-se considerar que as mulheres jovens são as que mais usam piercing na orelha, além
de outros tipos de piercings corporais (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

Lembrete

Os fatores genéticos influenciam na toxicidade da substância.

Há evidências de que algumas pessoas sensíveis ao níquel expressam mais intensamente o antígeno
leucocitário humano (HLA) DRw6. Estima-se que o risco de sensibilidade ao níquel aos que expressam o
alelo HLA-DRw6 seja de 3,3.

Observação

Estudos demonstram que o metal aumenta o risco de carcinoma nasal.

Elevados níveis de aberrações cromossômicas associadas a trocas de cromátides irmãs foram


demonstradas em trabalhadores que se expõem em algumas atividades específicas envolvendo o metal,
como em plantas industriais de refino de níquel.

Lembrete

O tempo de exposição e a dose são condições que afetam o risco


de intoxicação.

470
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Veja mais uma consideração a respeito da relação entre as condições de exposição e a toxicidade
do níquel.

Normalmente, para que haja sensibilização pelo níquel, o organismo tem que se expor ao metal
por um tempo prolongado ou em dose elevada. O piercing, assim como algumas bijuterias, prolonga a
exposição do metal no organismo humano. Assim, a resultante dessa exposição pode ser uma dermatite
de contato, ou seja, uma reação inflamatória mediada por hipersensibilidade do tipo IV, que ocorre,
normalmente, abaixo do objeto contendo o metal. Destaca-se que quanto maior o tempo de exposição,
maior é a chance de a sensibilização se espalhar para outros locais, principalmente para as mãos. Após a
sensibilização, baixas doses do metal são suficientes para desencadear a dermatite. Para que você tenha
dimensão, a quantidade de níquel que serve de “gatilho” para a dermatite chega a ser mil vezes menor
em comparação com quem ainda não desenvolveu a sensibilidade.

8.6.8 Efeitos carcinogênicos

Estudos apontam que no passado, trabalhadores de refinarias de níquel apresentavam risco


significantemente superior aos que não se expunham ocupacionalmente ao níquel no que se refere ao
câncer da cavidade nasal e de pulmão, sendo que também foram relatados câncer do tecido ósseo, rim,
laringe e próstata em trabalhadores expostos ao metal (veja o quadro a seguir).

Quadro 37 – Classificação do níquel pela Iarc, considerando a especiação do metal

Especiação do níquel Grupo (Iarc)


Níquel metálico e suas ligas 2B
Compostos de níquel 1
Implantes cirúrgicos: materiais implantados de cobalto metálico, níquel metálico e 2B
liga contendo 66-67% de níquel, 13-16% de cromo e 7% de ferro

Fonte: Iarc (2016).

Será que o tabagismo influencia no risco de câncer, aos que se expõem ao níquel? Vamos
ver isso agora.

Ressalta-se que a exposição ao níquel solúvel seja baixa em relação ao níquel particulado.
Entretanto, exposições concomitantes entre o níquel solúvel e as formas oxidativa ou sulfícida
aumentam o risco de câncer nesses órgãos, e parece haver efeito sinérgico entre a exposição ao
metal e ao tabagismo.

8.6.9 Manejo e tratamento da intoxicação

Apresentaremos alguns métodos para reduzir os efeitos tóxicos decorrentes da exposição ao


níquel. Entretanto, alguns tratamentos podem ser experimentais e não ter a comprovação necessária.
Portanto, em casos de situações de intoxicação envolvendo o metal, o aconselhamento médico deve

471
Unidade III

ser realizado por médicos toxicologistas em centros de controle de intoxicação, e as informações


disponibilizadas neste material não devem ser utilizadas como um guia (ABADIN; FAY; WILBUR, 2005).

Entre 20% e 35% do metal menos solúvel ao qual o organismo se expõe pelo trato respiratório
tendem a ser absorvidos, e a fração não absorvida tende a ser excretada por movimento mucociliar
retrógrado, sendo engolida ou expectorada. No caso de exposição aguda ao níquel por essa via,
recomenda-se remover o intoxicado com a maior brevidade do local de exposição para um lugar onde
haja ar fresco e monitorar as funções respiratórias.

Recomenda-se a reposição de eletrólitos e líquidos apenas em situações de diarreia grave e vômito,


uma vez que a toxicidade do níquel é baixa, quando a exposição ocorre pela via oral. A indução da êmese
é rara. A absorção do metal pode ser reduzida pela adição de EDTA à dieta, quando há a exposição pelo
trato digestório.

Os olhos e a pele devem ser cuidadosamente lavados, e a aplicação de cremes de barreira e de agentes
quelantes pode ser realizada para atenuar a absorção do níquel pela pele. O dietilditiocarbamato (DDC)
é um dos principais agentes quelantes no tratamento da intoxicação pelo níquel, e o dissulfiram é uma
alternativa na ausência do DDC. A penicilamina também pode ser utilizada no tratamento do níquel.
Entretanto, em função de sua toxicidade, não é o antídoto de primeira escolha.

Resumo

A IDA e O LMR são parâmetros toxicológicos importantes utilizados


na prevenção da intoxicação e norteiam a legislação relativa à toxicologia
dos alimentos por agências governamentais, como a Anvisa e a FDA. A Iarc,
como exemplo, avalia substâncias químicas com potencial carcinogênico
e as classifica. Observa-se que as condições de exposição, como dose,
concentração, tempo e frequência de exposição, são fatores importantes
para que haja o rompimento da homeostase do referencial biológico.

Os xenobióticos presentes em alimentos podem ser classificados como


agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos, contaminantes
diretos de alimentos e contaminantes indiretos de alimentos.

Os agentes tóxicos naturalmente presentes nos alimentos são substâncias


químicas que fazem parte deles, mas esse constituinte naturalmente
presente pode causar danos a humanos e animais, dependendo das
condições de exposição.

Muitas vezes, ao se expor ao alimento, a maior parte das pessoas


não tem dimensão de que pode estar sendo exposta a agentes tóxicos
contaminantes diretos de alimentos, como mitoxinas, compostos
N-nitrosos, metais e aditivos de alimentos e que dependendo das
472
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

condições de exposição essas substâncias podem causar significativos


danos agudos ou crônicos ao organismo, muitas vezes irreversíveis.

Os edulcorantes artificiais apresentam toxicidade controversa: alguns


autores são categóricos em suas colocações sobre a toxicidade desses
edulcorantes e outros são mais ponderados, mas o conceito que predomina
é que toda substância química pode causar danos ao organismo humano,
dependendo da forma pela qual ocorre essa exposição.

As micotoxinas são toxinas produzidas por fungos. Dependendo


da toxina, de sua concentração no alimento e de outras condições de
exposição, como a frequência de exposição, pode haver exposição crônica ou
aguda, com importantes consequências para o organismo humano, sob
o ponto de vista toxicológico. A identificação e quantificação de toxinas
presentes nos alimentos nem sempre são de fácil realização; por consequência,
muitos se expõem a alimentos contaminados com micotoxinas.

Para aumentar a hidrossolubilidade das micotoxinas e,


consequentemente, sua excreção, o organismo tende a biotransformar
essas substâncias. Em alguns casos, pode haver a bioativação, com
consequente aumento da toxicidade do xenobiótico.

É amplo o repertório de efeitos tóxicos causados por micotoxinas no


organismo humano, e essas toxinas podem ser produzidas por diferentes
espécies de fungos, em diferentes substratos, e podem causar danos em um
grande número de órgãos-alvo diferentes.

Sabe-se que para produzir alimento para todas as pessoas do planeta,


faz-se necessária a utilização de praguicidas, uma vez que são capazes
de destruir, reduzir ou repelir as pragas e, consequentemente, garantir o
abastecimento de alimento para a população.

Entretanto, a utilização dos praguicidas leva a duas outras consequências


diretas: o risco de contaminação para os trabalhadores que aplicam os
praguicidas e para as pessoas que se expõem a alimentos com resíduos
de praguicidas. Caso as boas práticas de aplicação dos praguicidas não
sejam criteriosamente seguidas, o alimento pode estar contaminado com
o praguicida, com risco de intoxicação a quem se expõe a esse alimento.

Destaca-se também o desvio da aplicação dos praguicidas que, em


alguns momentos, apresente uso bélico.

Uma das forma de prevenir a intoxicação aos praguicidas é pela


determinação do limite de tolerância.
473
Unidade III

No Brasil, os praguicidas são responsáveis pela maioria absoluta dos


casos de intoxicação. Entre eles, os herbicidas e os inseticidas se destacam.

Os inseticidas organoclorados foram bastante utilizados no Brasil, mas


em função de sua persistência no ambiente, sua produção e utilização são
proibidas atualmente. Os organofosforados se destacam pela sua elevada
toxicidade, enquanto as piretrinas e piretroides apresentam toxicidade
inferior aos organofosforados.

O ambiente de trabalho é uma das principais fontes de exposição aos


metais, mas não a única. Os metais também podem estar presentes no ar
ambiente, na água, no solo e nos alimentos. Diversos produtos de interação
contínua com humanos podem ter metais, como lâmpadas fluorescentes,
brinquedos e baterias de veículo automotor ou de eletroeletrônicos.
São responsáveis pela contaminação de milhares de pessoas anualmente
no mundo todo e apresentam importância toxicológica nas exposições
aguda e crônica.

Ao avaliar o risco de intoxicação de um metal, o primeiro procedimento


a realizar é verificar sua especiação, ou seja, a natureza física e química do
metal. Essa informação preliminar é fundamental na avaliação de risco.
Deve-se saber se o metal está na forma sólida, líquida ou gasosa, e o estado
químico é fundamental para que se tenha dimensão dos riscos envolvidos.

Casos clássicos de intoxicação de pessoas por metais, intencionalmente


ou acidentalmente, são descritos desde os primórdios, como o acidente de
Minamata e a síndrome de Itai-Itai.

Dependendo do metal, pode haver mudança do grupo de risco:


o grupo de risco para a exposição ao alumínio é o que apresenta
insuficiência renal. Para o chumbo, as crianças são mais sensíveis ao metal,
em comparação com os adultos.

Dependendo do metal e de sua especiação, podem ser considerados


carcinógenos para humanos e animais. Novamente, a especiação do metal
também é importante na determinação da carcinogenicidade, ou seja,
o mesmo metal, com diferente especiação, pode apresentar diferente
classificação pela Iarc.

474
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

Exercícios

Questão 1. Leia o texto a seguir:

Processamento de aipim ou mandioca-mansa

A mandioca apresenta substâncias que tem cianeto na molécula e que podem liberá-lo após reações.
Quando a célula de qualquer parte da planta se rompe (corte, esmagamento, trituração), uma enzima
presente na mandioca entra em contato com essas substâncias, formando compostos intermediários
que possuem o cianeto ligado. Esses compostos se decompõem espontaneamente ou por meio da ação
de outra enzima, liberando o cianeto, um composto tóxico para os seres humanos e animais.

A mandioca não tem cianeto, mas pode gerar cianeto. Essa confusão ocorre porque o teor das
substâncias que contêm cianeto na molécula é expresso em mg de ácido cianídrico (gerado após a ação
da enzima e decomposição dos compostos intermediários) por kg de raiz, folha ou produto de mandioca.
O ácido cianídrico, que evapora a 26 °C (passa de líquido para gás), é o cianeto na forma ácida.

No Brasil, a concentração de 100 mg de ácido cianídrico por kg de raiz fresca é considerada o limite
superior para o aipim ou a mandioca-mansa, conforme o estudo realizado pelo Instituto Agronômico de
Campinas (IAC) em 1985. O processamento pode diminuir a concentração das substâncias que contêm
cianeto, e alguns métodos de processamento são melhores do que outros para essa redução.

Fonte: DE OLIVEIRA, L. A. et al. Processamento de aipim e mandioca-brava. Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2019.
Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/208034/1/CARTILHA-AIPIM-
Luciana-AINFO.pdf. Acesso em: 27 set. 2020.

No contexto apresentado, analise as afirmativas.

I – Ao ser ingerido, o vegetal sem tratamento prévio entra em contato com o suco gástrico e, nesse meio
de baixo pH, catalisa a hidrólise dos glicosídeos cianogênicos, libera o cianeto (HCN) e gera intoxicação.

II – Ao ser ingerido, o vegetal sem tratamento prévio entra em contato com o suco gástrico e, nesse meio
de elevado pH, catalisa a hidrólise dos glicosídeos cianogênicos, libera o cianeto (HCN) e gera intoxicação.

III – As β-glicosidases agem no intestino. Trata-se de enzimas capazes de hidrolisar os glicosídeos


cianogênicos que não foram hidrolisados no estômago.

Assinale a alternativa correta.

A) Apenas a afirmativa I é correta.

B) Apenas as afirmativas II e III são corretas.

475
Unidade III

C) Apenas as afirmativas I e III são corretas.

D) Todas as afirmativas são corretas.

E) Nenhuma afirmativa é correta.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: o cianeto (HCN) pode causar intoxicação via alimentos in natura e que não passaram
por processamento prévio para anular seus efeitos. Contudo, nos vegetais, esse composto apresenta-se
na forma de glicosídeos cianogênicos que precisam ser hidrolisados para liberarem o cianeto molecular.
Tal processo ocorre em três diferentes situações, sendo uma delas no estômago pelo contato dos
glicosídeos cianogênicos com o suco gástrico (que representa um meio ácido – baixo pH), o que causa
liberação de aglicona e posterior formação do HCN.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: pelo exposto na explicação da afirmativa I, o meio ideal para a hidrólise é de baixo pH.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: em virtude de algumas situações específicas, os glicosídeos cianogênicos podem


não ser totalmente hidrolisados no estômago; nesse caso, a massa vegetal chega ao intestino
ainda não digerida. Quando isso ocorre, as enzimas β-glicosidases que são produzidas pela própria
microbiota local realizam o processo de hidrólise e liberam o cianeto molecular.

Questão 2. Leia o texto a seguir:

Qual a diferença entre cogumelo comestível, venenoso e alucinógeno?

Como existem muitas espécies de cogumelos – fala-se em 1,5 milhão – e nenhuma característica
física denuncia a presença de veneno ou substâncias alucinógenas, é muito difícil (e perigoso)
diferenciá-los no “olhômetro”. Para piorar as coisas, estima-se que nem 5% das espécies estejam
classificadas na literatura biológica. Isso significa que nem um micologista (especialista em fungos)
muito experiente pode enfiar na boca um cogumelo achado no meio da floresta. Mesmo que ele se
pareça muito com uma espécie comestível, é bom desconfiar, afinal, um mesmo gênero pode ter
espécies que matam, deixam doidão ou, simplesmente, enchem a barriga. Em laboratório, há duas
formas de se identificar um cogumelo: análise morfológica e bioquímica. A primeira nada mais é do que
comparar as características da espécie encontrada com as das já identificadas e catalogadas nos livros
científicos. Para isso, leva-se em conta o formato, as medidas e a coloração do cogumelo. Mesmo que
476
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

ele se pareça com alguma espécie conhecida, por precaução é analisado por um bioquímico treinado
para identificar a presença de toxinas (como a alfa-amanitina, encontrada no Amanita phalloides) e
de substâncias alucinógenas (como a psicilobina, do Psilocibe cubensis).

Fonte: LOPES, A. L. Qual a diferença entre cogumelo comestível, venenoso e alucinógeno?


Revista Superinteressante, 2018. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/
qual-a-diferenca-entre-cogumelo-comestivel-venenoso-e-alucinogeno/. Acesso em: 27 set. 2020.

Os fungos são ubíquos e, quando na presença de substratos (por exemplo, amido), umidade e elevadas
temperaturas, podem proliferar e, dependendo da espécie do organismo, são capazes de produzir toxinas.
Sobre esse contexto, analise as afirmativas a seguir.

I – A ingestão de grãos, como milho, aveia e amendoim, pode causar intoxicação por aflatoxinas,
pois essas toxinas se originam da oxidação do amido presente nos alimentos citados.

II – As micotoxinas resultam do metabolismo secundário de fungos: um exemplo bem conhecido são


as aflatoxinas produzidas pelo Aspergillus flavus.

III – As aflatoxinas representam sérias ameaças à saúde humana e animal. Podem ser ingeridas
quando nos alimentamos do próprio fungo produtor ou de alimentos contaminados por essas toxinas.
Riscos adicionais decorrem do fato de que as aflatoxinas são capazes de atravessar a placenta, chegando
ao embrião ou ao feto. Além disso, já foram encontradas no leite materno.

Assinale a alternativa correta.

A) Apenas a afirmativa I é correta.

B) Apenas as afirmativas II e III são corretas.

C) Apenas as afirmativas I e III são corretas.

D) Todas as afirmativas são corretas.

E) Nenhuma afirmativa é correta.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: as aflatoxinas são originadas do metabolismo secundário de fungos do gênero


Aspergillus, e não da oxidação do amido presente em grãos.

477
Unidade III

II – Afirmativa correta.

Justificativa: as aflatoxinas são compostos presentes na forma de cristais que variam de incolor
a amarelo claro e que resultam do metabolismo secundário de fungos como Aspergillus flavus,
A. parasiticus, A. ochraceoroseus, A. nomius, A. australis, A. pseudotamarii e A. bombycis.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: as aflatoxinas são toxinas relacionadas com muitos casos de intoxicação em animais
e nos seres humanos. Além de serem ingeridas diretamente a partir do fungo produtor, elas podem
estar em muitos alimentos contaminados por esse fungo, como nozes, aveia, cevada, trigo, soja, arroz,
malte, sementes de algodão, sorgo, girassol, pimenta, pimenta preta, açafrão, coentro, amêndoas, nozes,
pistache, coco, leite e produtos lácteos. Esses dois últimos alimentos revelam outra característica dessa
micotoxina: a transferência para o leite materno. Aliás, já foi documentada até a transmissão da toxina
pela placenta.

478
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

GRANDJEAN, P. Paracelsus revisited: the dose concept in a complex world. Basic & Clinical
Pharmacology & Toxicology, v. 119, n. 2, p. 126-132, 2016. p. 127.

Figura 2

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Figura 3

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Figura 6

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McGraw-Hill, 2001. p. 163.

Figura 7

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Figura 8

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Figura 11

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B) SUGAR-CANE-276242_960_720.JPG. Disponível em: https://cdn.pixabay.com/


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C) PLANT-FRUIT-FOOD-PRODUCE-YELLOW-BANANA-MATURE-FLOWERING-PLANT-BANANA-DA-
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D) POTATOES-VEGETABLES-RAW-FOOD-POTATO-WALLPAPER-PREVIEW.JPG. https://c1.peakpx.com/
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com camundongos. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 12, n. 1, p. 24-31, 2007. p. 27.

482
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Figura 80

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Figura 81

GROWTH-PLANT-LEAF-BLOOM-FLORAL-ENVIRONMENT-SPRING-HERB-NATURAL-FRESH-BOTANY-
HEALTHY-FLORA-BOTANICAL-ECO-ECOLOGY-ALTERNATIVE-GARDENING-HERBS-ORGANIC-
BIO-HERBAL-MEDICINAL-ECOLOGICAL-HOMEOPATHY-MEDICINAL-HERBS-THERAPEUTIC-REMEDY-
HERBACEOUS-PLANT-VERBASCUM-COMFREY-1413736.JPG. Disponível em: https://get.pxhere.com/
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flora-botanical-eco-ecology-alternative-gardening-herbs-organic-bio-herbal-medicinal-ecological-
homeopathy-medicinal-herbs-therapeutic-remedy-herbaceous-plant-verbascum-comfrey-1413736.
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Figura 82

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485
Figura 84

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Figura 90

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Figura 91

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Figura 111

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Figura 112

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