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Ao receber o convite para escrever sobre minha história na Juventude Espírita Nina

Arueira (JENA), um filme passou pela minha cabeça. Vamos contextualizar: sou espírita desde o
berço, ingressando na evangelização infantil aos 3 anos. Assim, é eufemismo dizer que a
Doutrina Espírita faz parte do meu desenvolvimento humano.

Porém, mesmo já sendo “veterano” no Centro Espírita, a JENA é um capítulo especial


em minha vida. Eu tinha 13 anos, era janeiro de 2005, e foi organizada naquele dia uma visita
dos jovens ao Lar Vida. Eu era o único da minha turma de evangelização infantil ali. Então ser
lançado em um ambiente completamente novo (valeu, Mãe!), com pessoas que eu nunca
tinha visto, “caindo de paraquedas”, tinha tudo para ser um tormento para um garoto franzino
com sérios problemas de interação social. Não foi o que aconteceu. (Valeu, Mãe!)

Naquele ano a JENA estava se preparando para o 1º Encontro Fraternal – Encontro


com Jesus, vivendo Francisco de Assis – que ocorreria no dia de Carnaval. Uma peça contando
a vida de Francisco estava em produção e os ensaios já tinham começado. Nem preciso dizer
que participar daquilo não era uma opção. Porém, todo o trabalho de entrosamento grupal e
preparação feito pelo Grupo de Artes da JENA, foi aos poucos ajudando a me desinibir ante o
próximo, a me comunicar melhor com o mundo, e especialmente, a construir em mim um
sentimento de identidade e pertencimento àquela juventude tão forte que não havia como
escolher outra coisa que não fosse participar de corpo e alma do processo.

Lembro-me de todos – o público e o próprio elenco – estarem já aos prantos no


término da peça (a cena da morte de Francisco), até mesmo o céu estrelado. Eu tinha que ir ao
palco para fazer a última cena com a jovem que interpretava a mãe do meu personagem.
Quase não consegui, com tamanha emoção em jogo. No fim, deu tudo mais do que certo, e ao
estar na JENA durante aqueles 4 dias de um carnaval, permeado por uma atmosfera única,
coroado de júbilo, posso dizer que me senti em casa, descobrindo uma nova família. E o medo
da exposição deixou de ser um problema para mim.

Depois daquela vivência do carnaval, começaram propriamente as atividades de


evangelização. Passei a sentir a necessidade de viver naquele espaço tudo o que poderia ser
oportunizado para um jovem como eu. Para isso, busquei primeiramente me engajar nas
dinâmicas propostas dentro de sala pelos evangelizadores. Tive a sorte de a cada ano ser
evangelizado por pessoas que, apesar de suas diferenças individuais, possuíam 1) vasto
conhecimento doutrinário e grande vivência de mundo; e 2) um grande amor e carinho pela
própria juventude espírita, explicitado muitas vezes dentro e fora da sala de aula. Isso me
permitiu me aprofundar no estudo sistematizado, propriamente dito – foram anos de muita
leitura – e aplicar com algum sucesso o que foi aprendido no meu comportamento em outros
ambientes de minha vida, como o colégio, família e amigos.

Também busquei ir além dos “muros da escola”, através das “atividades


extracurriculares”. Explicarei melhor: no ano seguinte à minha entrada na JENA fui convidado –
ou melhor, intimado por Filipe Veloso, meu evangelizador à época – a participar do Grupo de
Ação Comunitária Lygia Banhos (GACLB), aos sábados. Lá eu pude ter contato com a prática
pedagógica da evangelização espírita dentro da comunidade de Pau da Lima, além de entender
toda a complexidade que envolve a ação a nível social, ampliando em muito o meu conceito de
caridade. Mais tarde, ao término de meu período enquanto evangelizando, tive a
oportunidade de atuar na secretaria/bazar da juventude, o qual obtive valiosas lições de
organização, responsabilidade e humildade com os excelentíssimos Tia Helena e Cristiano (não
estou exagerando), e posteriormente na própria evangelização, através da oficina de leitura,
função à qual desempenho no momento com muito gosto.

Em toda esta trajetória, conheci pessoas fantásticas – evangelizadores,


evangelizandos, voluntários da Mansão do Caminho – que me ensinaram até hoje, em suas
vivências, a praticar as virtudes que compõem o “homem de bem”, descrito no Evangelho
Segundo o Espiritismo. Não posso negar que neste processo não houveram momentos de
conflitos, atritos, crises, quebra de expectativas, até um breve e parcial afastamento.
Entretanto, estes são apenas alguns aspectos que envolvem a convivência em família. Assim,
neste mesmo convívio, posso dizer sem medo de parecer piegas, que há acima de tudo amor.
E da mesma forma que “o amor cobre a multidão de pecados”, transforma a ofensa em
perdão, a discórdia em união, a dúvida em fé, a tristeza em alegria e toda sombra em luz.

Em suma, a JENA tornou-se minha segunda casa. Lá eu ri, chorei, cantei, dancei, paguei
(muito) mico, aprontei, levei bronca, “palestrei”, vi gente chegando, gente partindo, explorei
um potencial em mim até então desconhecido, reencontrei aquela com quem quero viver
todos os dias da minha vida, e acima de tudo, aprendi a buscar progressivamente viver como o
ser espiritual que sou, aceitando erros e aprendendo com os acertos, mantendo sempre em
mente a percepção de que sou um ser criado por Deus e destinado a amar segundo o modelo
do Cristo. Desta forma, só tenho a dizer “muito obrigado”.

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