metodologias e instrumentos de intervenção nestes este estudo contribui para a consolidação do conheci-
domínios» (p. 188), um défice que, ainda assim, as ins- mento acerca da acção local em Portugal, suas articula-
tituições vêm, nos últimos tempos, procurando ultra- ções com as políticas sociais e de desenvolvimento e
passar através do investimento na formação. da problemática da pobreza e da exclusão social nas
A obra conclui com uma sistematização dos princi- suas especificidades territoriais, inscrevendo-se consis-
pais eixos destacados pela investigação e com um con- tentemente numa profícua linha de trabalhos que ao
junto de sugestões e recomendações com destinatários longo das últimas duas décadas têm sido (co)pro-
diversos – decisores políticos, instituições e técnicos de duzidos por investigadores do CIIE.
intervenção –, mas que podem igualmente ser lidas
como desafios a aprofundar em futuras investigações João Caramelo
no campo. CIIE – Centro de Investigação e Intervenção Educativas
Vieira, Ricardo (2011). Educação e diversidade cultural: Notas de Antropologia da Educação. Porto:
Edições Afrontamento e CIID/IPL.
Esta obra corresponde ao resultado do trabalho que, além fronteiras, fez com que as preocupações dos
para as provas de obtenção do título de agregado, mas antropólogos com a educação emergissem progressiva-
a sua fecundidade projecta-se no interesse com que mente de uma forma mais definida e consolidada, pas-
pode ser lida e na utilidade de que se pode revestir sando por Tylor, Lévi-Bruhl, Malinowski, Sapir, Ruth
para qualquer pessoa que se preocupe com temas Benedict, Linton, Lévi-Strauss, Bastide, Meyer Fortes e
como identidade cultural, educação intercultural, antro- Jack Goody, num processo que levou a que se fossem
pologia da educação, relações escola-família, comuni- esboçando os contornos, o objecto e as metodologias
cação e educação, globalização e cultura, para citar desta disciplina bem como as suas fronteiras e as pon-
apenas alguns dos núcleos centrais deste livro. tes com outras disciplinas, nomeadamente com a Psico-
Dividido em três partes, a primeira faz uma intro- logia e com a Sociologia, com as quais mantém relações
dução ao conceito e ao contexto da Antropologia da especiais de interdisciplinaridade e colaboração. A esse
Educação, a segunda apresenta as orientações para a registo da emergência da Antropologia da Educação no
exploração de 13 núcleos temáticos que se afiguram panorama epistemológico do século XX, segue-se um
incontornáveis no vasto campo desta disciplina e a ter- rastreio das principais iniciativas que marcam a sua ins-
ceira apresenta as opções pedagógicas, os critérios de titucionalização em Portugal, que passa inevitavelmente
avaliação e a bibliografia geral em que se apoiam e pelo ISCTE, pela Faculdade de Ciências Sociais e Huma-
sustentam as reflexões esboçadas, abertas e percorridas nas da Universidade Nova de Lisboa e por algumas
ao longo da obra. Escolas Superiores de Educação, sendo ainda de referir
Tratando-se de uma disciplina relativamente a importância que teve para o seu desenvolvimento a
recente no panorama epistemológico em Portugal, é revista Educação, Sociedade & Culturas, da Associação
natural que a obra comece por explicitar o percurso de Sociologia e Antropologia da Educação (e, posterior-
205
mente, do CIIE – Centro de Investigação e Intervenção dos, mas também uma dupla bibliografia: por um lado,
Educativas da Universidade do Porto). um conjunto de textos-base que podem ser utilizados
A segunda parte do livro, depois de uma legitima- para introduzir os conceitos em jogo e confrontar as
ção da presença da Antropologia da Educação em diversas perspectivas sobre eles, e, por outro lado,
várias licenciaturas e de uma exposição dos seus prin- uma bibliografia complementar através da qual cada
cipais objectivos, que se desenvolvem como tentativa tema pode ser mais ou menos aprofundado numa ou
de «fornecer um quadro amplo de debate em torno da noutra direcção, consoante o interesse do leitor.
definição dos processos educativos em diversos con- Apesar de os temas serem apresentados fora de
textos culturais» (p. 50), tendo como pontos centrais a qualquer agrupamento interno, penso que é possível
percepção da «construção de saberes e práticas cultu- detectar fundamentalmente três eixos em torno dos
rais» e da «construção da identidade pessoal e social» quais eles se vão constituindo e elaborando nos seus
(p. 50), estrutura-se, fundamentalmente, com o apro- conteúdos específicos e nas suas opções e relações
fundamento de 13 núcleos temáticos que constituem o epistemológicas: um eixo que se prende sobretudo
centro da atenção do antropólogo e do investigador com clarificações de natureza disciplinar e epistemoló-
social em torno das problemáticas da educação, da gica e com metodologias de investigação e de inter-
identidade, da sociedade e da comunicação e que aqui venção na realidade social, um outro eixo em que a
surgem como roteiros de exploração de campos inves- problemática da escola e da educação ocupa um lugar
tigativos que se interseccionam, com uma abertura e central e, finalmente, um terceiro eixo em que passam
uma transdisciplinaridade que transformam esses rotei- para primeiro plano as questões da identidade no con-
ros em fecundos instrumentos de trabalho não só para texto das sociedades multiculturais em que vivemos.
os antropólogos da educação, mas também para todos Ao primeiro eixo pertencem fundamentalmente os
aqueles que se preocupam com a problemática da temas número 1, sobre antropologia, educação, e teo-
educação na sociedade actual. ria social contemporânea, número 10, sobre teoria e
Os 13 temas elencados e desenvolvidos não são metodologia da antropologia da educação, número 11,
apresentados numa organização vertical e hierarqui- sintomaticamente intitulado «como me tornei naquilo
zada uns em relação aos outros, mas constituem nós que sou», mas dedicado à importância dos métodos
plurais de reflexão, interpelação e provocação de inter- narrativos e autobiográficos na constituição da Antro-
rogações, permitindo uma circulação de uns para os pologia da Educação, e número 13, que explora a
outros, na medida em que se cruzam e se vão alimen- mediação sociopedagógica em contextos de diversi-
tando das aberturas epistemológicas e hermenêuticas dade cultural e que, por isso mesmo, aprofunda as
que permanentemente fazem para o vasto campo das metodologias de intervenção social a partir da Antro-
Ciências Sociais. A ordem por que são propostos é, pologia da Educação. Ao segundo eixo, centrado na
assim, uma ordem possível entre muitas outras, realidade escolar e nas práticas educativas, pertencem
cabendo ao professor, no caso de o livro ser utilizado sobretudo os temas número 3, sobre processo educa-
como guia de um percurso em actividades lectivas, ou tivo e contextos culturais, número 6, sobre comunica-
ao leitor, no caso de nos situarmos numa leitura e ção e educação, com especial atenção às diferenças
numa pesquisa fora do contexto escolar ou universitá- entre a escrita e a oralidade nos processos educativos,
rio, escolher a ordem mais adequada para evoluir ao número 7, sobre o papel do lar na aprendizagem e
longo das 13 propostas. sobre os diversos dispositivos que o lar mobiliza na
Refira-se ainda que, como guia ou roteiro aberto, educação da criança, com destaque especial para os
esta obra apresenta não só algumas ideias para o apro- jogos e os brinquedos e a sua dimensão pedagógica e
fundamento de cada um dos 13 temas que são elenca- antropológica e o número 8, sobre o ensino e a apren-
206
dizagem na escola e o papel do professor em todo autor. Em primeiro lugar, uma perspectiva claramente
esse processo. Finalmente, ao terceiro eixo, centrado fenomenológico-hermenêutica, na compreensão do tra-
nas questões da identidade, da multiculturalidade e da balho científico da Antropologia, que o leva natural-
interculturalidade, pertencem os temas número 2, mente a privilegiar métodos qualitativos, de compreen-
sobre cultura e identidade(s), em que depois de uma são narrativa dos contextos culturais em causa, de
exploração do conceito de cultura se propõe uma pri- observação participante no processo de investigação e
meira abordagem da problemática da identidade, ainda métodos de reflexividade e auto-reflexividade
número 4, sobre a multiculturalidade da sociedade que outorgam uma dimensão crítica ao trabalho de
portuguesa, com um interessante contraponto entre a campo, face a métodos quantitativos, estatísticos ou
sociedade portuguesa do Estado Novo e a sociedade meramente descritivos que correm o risco de se movi-
portuguesa do pós-25 de Abril, número 5, sobre a mentar no exterior da realidade antropológica e não
diversidade cultural, sobre a problemática dos direitos promover uma via de acesso aos problemas tais como
humanos na sua tensão entre perspectivas particularis- eles são percepcionados e vividos pelos respectivos
tas e perspectivas universalistas, e com uma explana- sujeitos e pelas comunidades em causa. Isso é muito
ção dos principais modelos de política social e educa- claro quando o autor, logo nas primeiras páginas,
tiva face à diversidade (esclarecendo o modelo integra- afirma que
cionista, o modelo pluralista, o modelo multicultural e
a Antropologia da Educação que aqui se preconiza
o modelo intercultural). Pertencem ainda a este eixo
assenta num paradigma essencialmente interpretativo,
da identidade social em contextos multiculturais o
semiológico e hermenêutico, onde a etnografia, a
tema número 9, dedicado ao aprofundamento das entrevista etnográfica e etnobiográfica, as (auto)bio-
implicações da mundialização da cultura no contexto grafias, a auto-reflexão, os diários e as histórias de
da dialéctica entre o local e o global e de uma socie- vida são vias fundamentais para compreender os pro-
dade marcada pelo primado da visão na definição do cessos educativos, de enculturação, aculturação e
«homo communicans» e do «homo zappiens», e o tema transmissão cultural, bem como a (re)construção
número 12, sobre identidade e metamorfoses culturais, identitária. (p. 16)
destinado a aprofundar mais uma vez, na sequência do
tema número 2, a complexidade das construções iden- Um segundo pressuposto, de natureza epistemoló-
titárias no contexto de sociedades mestiças, plurais e gica evidente, diz respeito à concepção construtivista
em permanente mudança. do saber e do conhecimento científico, que assenta,
Um desenvolvimento maior de cada um destes por sua vez, na interpretação do conhecimento como
eixos e dos temas neles incluídos está fora de questão, construção social da realidade, colocando assim o
no contexto desta recensão. Gostaríamos no entanto, autor nos antípodas de uma concepção estritamente
ainda assim, e em ordem a facilitar a leitura do texto, realista de conhecimento e de uma visão positivista dos
de explicitar alguns dos pressupostos que suportam factos sociológicos e antropológicos. Um terceiro pres-
cada um dos eixos a que fizemos referência e que per- suposto traduz-se na crença de que o objecto da Antro-
mitem fazer luz sobre as opções epistemológicas do pologia e, com maior razão, neste caso concreto, da
seu autor. Antropologia Cultural, não se encontra necessariamente
Assim, no que se refere ao primeiro eixo, que diz fora do espaço das sociedades ocidentais, mas sim tam-
respeito à natureza da própria Antropologia da Educa- bém no seu interior, sendo, por isso, menos importante
ção e às suas articulações interdisciplinares e societais, um distanciamento sócio-geográfico do que um distan-
pensamos que sobressaem fundamentalmente os ciamento cognitivo e intelectual para a realização do
seguintes traços configuradores da abordagem do seu trabalho que implica sempre uma tensão entre dis-
207
tanciamento e participação. Em quarto lugar, sublinha- dade cultural, as crianças e os jovens são confrontados
ria a ideia de que para interpretar os factos sociais é com essa diversidade antes e fora da escola: no lar, nas
necessário inseri-los nos seus contextos simbólicos, comunidades em que se enraíza a sua família, nos
socioculturais e teóricos, sem os quais não há possibili- mundos culturais em que decorre a sua existência quo-
dade de acesso à sua significação mais profunda e à tidiana e, por isso, o processo educativo intercultural é
sua articulação com o mundo da consciência, da intui- um processo que tanto atravessa o mundo da escola
ção e dos valores. Privilegia-se assim uma dimensão quanto o mundo fora da escola. Um segundo pressu-
holística na pesquisa social, que os métodos etnográfi- posto extremamente importante no que à educação diz
cos facilitam e ajudam a promover. Finalmente, um respeito tem a ver com a dinâmica auto-reflexiva que
quinto pressuposto da perspectiva metodológica e deve caracterizar o trabalho do educador que se educa
epistemológica assumida por Ricardo Vieira assenta e forma a si próprio, ao mesmo tempo que educa e
numa visão militante, comprometida e socialmente forma as crianças e os jovens com quem trabalha.
interventiva da ciência, e, neste caso, da Antropologia Como refere Ricardo Vieira, «na educação renasce o
da Educação, recusando uma neutralidade axiológica e sujeito, autónomo, auto-reflexivo, criativo, estratega,
societal face ao objecto de estudo nas suas investiga- dotado de consciência, iniciativa e criatividade», acres-
ções. É neste contexto que se deve ver a inscrição da centando que «o educador torna-se ele próprio pro-
mediação sociopedagógica como uma dimensão incon- jecto e autor de projectos: projectos de vida e projectos
tornável do antropólogo da educação como estas pala- educativos que se vão construindo, reconstruindo, com
vras, no contexto do último núcleo temático, tão bem saber, arte e engenho» (p. 84). Um terceiro pressuposto
evidenciam: «O antropólogo surge, deste forma, como que atravessa toda a reflexão do autor sobre o acto
um mediador entre os grupos sociais e as mais diversas educativo diz respeito à sua incontornável dimensão
instituições públicas e privadas, apoiando-se numa her- comunicativa, com o relevo que nela assume a comu-
menêutica diatópica, com vista à concretização dos nicação silenciosa e a especificidade da comunicação
direitos e dos interesses dos grupos em causa na inte- escrita e da comunicação oral. Um quarto pressuposto
racção» (p. 180). É assim também que, quando passa refere-se ao reconhecimento da carga educativa que
em revista os diversos modelos de educação face à comportam actividades que não são reconhecidas tra-
diversidade cultural, é claramente visível a sua tomada dicionalmente como actividades educativas: é o caso
de posição pelo modelo que designa «pedagogia inter- das actividades lúdicas, em que os jogos e os brinque-
cultural», mesmo reconhecendo a profunda dimensão dos funcionam como instrumento de aprendizagem,
utópica que lhe é inerente. como meio de reconhecimento dos outros na sua alte-
Também podemos detectar alguns pressupostos ridade e na sua diferença e ainda como recursos tera-
permanentemente mobilizados no quadro do segundo pêuticos na construção do equilíbrio pessoal. Final-
eixo dos temas em análise, aquele que se refere à edu- mente, um quinto pressuposto tem a ver com a assun-
cação propriamente dita. Em primeiro lugar, sublinhe- ção do carácter mediador do professor dentro da
-se o esforço permanente em não circunscrever os pro- escola: mediador entre culturas e saberes diferentes,
cessos educativos a que a Antropologia da Educação entre mundos diversificados, entre a escola e o lar e
faz referência à dinâmica estritamente escolar. Educa- entre os diversos contextos de aprendizagem em que
ção não é sinónimo de escola e o trabalho educativo as crianças e os jovens se vêem envolvidos.
que ocorre fora do espaço escolar é tão ou mais Enunciaríamos, finalmente, os pressupostos que
importante quanto o trabalho educativo escolar, sobre- estruturam e dão consistência ao terceiro eixo dos
tudo quando integrado no contexto da diversidade cul- núcleos temáticos, aquele que diz respeito à identi-
tural. Se a escola pode ser um microcosmo de diversi- dade pessoal e social no contexto da multiculturali-
208
dade que caracteriza as sociedades actuais. Entre eles suposto mobilizado ao longo deste eixo temático da
desempenha, naturalmente, um papel principal a con- identidade e da diversidade cultural prende-se com a
cepção de cultura em que assenta todo este trabalho importância reconhecida à dimensão narrativa para a
de Antropologia da Educação: uma concepção dinâ- compreensão dos diversos sujeitos que se vêem envol-
mica, processual, plural, tensional, que, no entanto, vidos nos processos educativos em contextos culturais
não cai num relativismo que poderia conduzir a um marcados pela pluralidade de mundos, de experiên-
relativismo axiológico e ético, mas procura encontrar cias, de saberes e de visões do real. Trata-se de uma
um justo equilíbrio entre o universalismo, por um lado, preocupação que já havia atravessado o texto corres-
e o particularismo por outro, numa orientação em que pondente à sua dissertação de doutoramento e que
a crítica à identificação entre Nação e Cultura una é aqui adquire um carácter paradigmático sobretudo na
uma consequência do interaccionismo simbólico que exploração do tema número 12, intitulado «como me
também atravessa algumas das posições do autor. Em tornei naquilo que sou». Este carácter narrativo da
segundo lugar, há que fazer referência à concepção de compreensão do eu e da compreensão do outro
identidade pessoal e sociocultural perfilhada por remete, naturalmente, para uma concepção, também
Ricardo Vieira. Longe de uma perspectiva estática, ela narrativa, da identidade pessoal e social e inscreve
monolítica e fixista de identidade, é antes uma concep- a rejeição da monoculturalidade no coração do dese-
ção dinâmica, plural, complexa, relativa e tensional de nho do respectivo projecto de vida, tanto quando é
identidade que suporta toda a incursão do autor pelos polarizado pelo passado, pesquisando a memória que
temas que se inscrevem neste terceiro eixo. As identi- faz com que seja aquilo que sou, como quando é pola-
dades não se herdam como se herda o material gené- rizado pelo futuro, através do trabalho da imaginação
tico, não se definem de uma vez por todas, mas são o na abertura de campos de possibilidade para a realiza-
resultado de um processo dialógico permanente, mar- ção de um projecto de vida. Mas este carácter narrativo
cado pela abertura ao mundo de possibilidades múlti- remete também para a dimensão da auto-reflexividade
plas que a convivência com a diversidade de culturas que caracteriza não só o trabalho do antropólogo, e do
possibilita e determina. Esta concepção de identidade antropólogo da educação em particular, mas também o
está sobretudo subjacente aos caminhos abertos para o trabalho do professor, seja qual for o contexto em que
aprofundamento do tema número 12, em que das se movimenta. Nessa auto-reflexividade está incluída a
encruzilhadas da construção identitária se passa à preocupação de investigar permanentemente a prática
abordagem da mestiçagem como processo de constru- realizada, de maneira a adquirir sobre ela uma cons-
ção identitária vivenciada por sujeitos em situação de ciência crítica que é uma componente incontornável
diáspora, inseridos em formas de aculturação em que a da identidade da pessoa vista a partir da perspectiva
escola desempenha também um papel fundamental. É de uma racionalidade prática no quadro da formação
esta noção de identidade, correlativa da noção de cul- de professores. Como diz Ricardo Vieira, «o método
tura antes referida, que está por detrás da concepção biográfico e o método comparativo ao serviço da for-
de educação intercultural, pois, como é referido no mação permitem relativizar as formas de construção
texto, «a noção de intercultural implica o abandono da social das atitudes e uma tomada de consciência sobre
concepção estática e estrutural de cultura», ao mesmo elas, bem como entender ainda a construção do próprio
tempo que se situa «numa perspectiva sistémica e dinâ- entendimento» (p. 170).
mica onde as culturas aparecem como processos Estamos, assim, perante uma obra séria, profunda
sociais não homogéneos, em contínua evolução, e e extremamente útil. Útil para os estudantes que fre-
definindo-se tanto pelas relações mútuas como pelas quentam uma disciplina como Antropologia da Educa-
suas próprias características» (p. 107). Um terceiro pres- ção, na medida em que constitui um bom guião de
209
aprofundamento de temas e de orientação de leituras, desafio à reflexão articulado com uma proposta de
numa perspectiva aberta, crítica e epistemologicamente actuação na sociedade multicultural em que vivemos e
fecunda. Mas útil também para qualquer pessoa que se que continuamente nos interpela como sujeitos, pes-
preocupa com as questões da diversidade cultural, da soas e cidadãos.
identidade e da educação, independentemente de o
fazer ou não num contexto académico, na medida em João Maria André
que cada um destes 13 temas se constitui como um Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
210