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SÃO PAULO
2020
GIULIANA TORTORIELLO FAGOTTI
SÃO PAULO
2020
1
FICHA CATALOGRÁFICA
2
GIULIANA TORTORIELLO FAGOTTI
CDD 647.94
Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
3
DEDICATÓRIA
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais pelo apoio e incentivo aos meus estudos desde
sempre, por terem me ensinado o amor pela leitura e me ensinado o amor pelo
direito, pela paciência da minha mãe de sentar e estudar comigo e por me acalmar
nos momentos difíceis, e pelos conselhos e orientações do melhor professor que eu
poderia ter, meu pai.
5
[...]Mas, se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou
desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir
sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e
perseverança. Tal a missão do trabalho (RUY BARBOSA, 1920).
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RESUMO
7
ABSTRACT
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
9
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Art. Artigo
CF. Constituição Federal
CPC Código de Processo Civil
EC. Emenda Constitucional
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
1.3 Assédio 18
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA 39
11
INTRODUÇÃO
12
Além das cargas horárias, muitas profissões possuem uma carga de
cobrança e responsabilidade muito altas que podem levar um trabalhador ao
esgotamento. Também existe a insalubridade emocional no ambiente de trabalho,
no atual cenário do mundo empregatício, a concorrência por bons empregos e
gigante, acarretando uma disputa entre todos trabalhadores pela melhor dedicação e
desempenho para garantir seus empregos.
Mas ainda existem diversos ambientes de empresas que incentivam esse
tipo de comportamento, o qual incentiva a disputa entre funcionários e até expõem
os funcionários a situações vexatória.
Ainda é muito presente nas relações de emprego o assédio moral e sexual,
a legislação trabalhista é pacífica na condenação de indenizações nesses casos,
mas será que todo esse cenário por um tempo significativo na vida de uma pessoa
também não possa acarretar em doenças psicológicas.
13
CAPÍTULO 1 DOENÇAS OCUPACIONAIS
14
1.2 Doenças Psicológicas
Mesmo que esteja previsto que a saúde mental do trabalhador deve ser
protegido igualmente sua saúde física, ainda encontra-se barreiras e preconceitos
em aceitar que as atividades laborais de uma pessoa pode acarretar problemas
psicológicos. Na maior parte das vezes se escuta comentários do tipo: “porque é
fraco”, “isso só tem haver com a vida particular”, “tem problema”, mas nunca é visto
como uma possível doença do trabalho como qualquer outra.
Em nossa Constituição Federal está previsto uma carga horária de 8 horas
diárias ou 44 horas semanais, o cidadão brasileiro passa um terço do seu cotidiano
no ambiente de trabalho, mas mesmo assim se recusam a aceitar a hipótese que
esse ambiente pode ter acarretado problemas emocionais e psicológicos no
trabalhador.
Uma empresa é assim um ambiente social, aquele grupo de pessoas estão
cotidianamente juntas para exercer uma determinada atividades, ou seja, da mesma
maneira que o trabalho ´importante para o sujeito é importante como o indivíduo
percebe do seu trabalho para a sociedade. Sempre se teve a ideia de que a
organização laboral fosse uma equação simples: mais salário, mais satisfação,
melhor produção, mas ao longo de estudos se percebeu que não é bem assim que
funciona.
O trabalhador não é apenas uma mão de obra como era visto na época da
Revolução Industrial, apenas mais uma peça, com o advento dos direitos
fundamentais, assegurados em nossa Carta Magna, todo trabalhador tem direito a
um ambiente de trabalho digno, com segurança e higiene. Ou seja, estamos lidando
com vidas, com seres humanos com sentimentos, deve existir uma dinâmica com a
subjetividade e objetividade do indivíduo.
A ideia da existência da psicopatologia do trabalho é muito antiga, como já
era visto no filme “tempos modernos” de Charlie Chaplin, o qual demonstra como o
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sistema taylorismo e fordismo afetam a vida e mente dos trabalhadores, eram
tratados apenas como uma peça a mais das máquinas.
Mesmo fora do modelo clássico de trabalho mais manuais, na modernidade
com a Revolução Tecnológica a mudança dos jeitos de trabalho modificaram muito
rápido e sem qualquer ajuste para o trabalhador, ainda mais em um país como o
Brasil, onde coexistem relações de trabalho primitiva ao lado de métodos modernos
de gestão.
Essas novas técnicas e organizações que são introduzidas nas relações de
trabalho tem causando grande desgaste nos trabalhadores, sendo de maneira física,
como hipertensão, dores crônicas e digestivas ou doenças psíquicas como
depressão, ansiedade, neuroses e psicoses.
Muito vem se falando sobre Burnout, um termo inglês que em sua tradução
literal seria combustão completa, ou seja, seria o esgotamento completo de um
sujeito. Hoje é muito estudado o burnout no trabalho, sempre tomado como
parâmetro o Japão, o qual tem uma carga horária de trabalho muito extensa, são
jornadas de 10, 15 horas diárias, relatórios de sujeitos que dormem em média de 4 a
5 horas por noite devido a carga horária de trabalho, isso acarreta um dano de
grande escala para a sociedade japonesa, tanto que existe a expressão “Karoshi” 1
que é a morte oriunda do trabalho, literalmente o trabalho leva a pessoa a morte,
devido a carga horária e pressão do cotidiano o corpo e mente dos seres humanos
não suportam e acabam levando a morte.
Tanto que no Japão se a morte for considerada Karoshi, a família da vítima
recebe uma compensação do governo, além de uma indenização da empresa, mas
deve ser comprovado que o empregado trabalhou 100 horas extras no mês anterior
a sua morte ou ainda 24 horas no dia anterior a sua morte ou 16 horas nos 7 últimos
dias. Ou seja, o Japão já está em um nível de estar legislando sobre morte por
excesso de trabalho.
1 Karoshi - traduzido do Japão é “morte por excesso de trabalho”, é a morte súbita ocupacional.
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Ao olhar de fora a situação do Japão é difícil acreditar essa situação na
prática e no cotidiano, porém pode estar mais próximo do que imagina, os casos de
pessoas afastadas pelo INSS devido a problemas psicológicos oriundos do trabalho
vem aumentando a cada dia. A ideia de quanto mais horas de trabalho melhor será
e toda essa construção de uma sociedade baseada apenas em focar no trabalho
sem nenhum respaldo da saúde do trabalhador, pode trazer consequências
negativas e irreparáveis.
Além do artigo 7, XXII da Constituição Federal, que dispõe sobre a segurança
e higiene do trabalhador, também encontra-se no artigo 196 da referida Constituição
o seguinte: “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante
políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco e de outros agravos.”
Ou seja, o Estado também tem o dever de tutelar pela saúde do trabalhador,
inclusive no ambiente de trabalho.
Tendo em vista essa atribuição que coube ao Estado, o principal direito
trabalhista que é trazido na Carta Magna é a limitação da jornada de trabalho, a
mesma veda jornadas superiores a 8 horas diárias, mas hoje houve uma certa
flexibilização no direito trabalhista, pois hoje por meio de acordo coletivo é possível
acordar jornada de trabalho diário superior a 8 horas.
Portanto, existem muitos trabalhadores hoje no Brasil que exercem uma
carga horária de trabalho muito superiores a 8 horas, o maior exemplo clássico é o
de caminhoneiros, que para conseguir agilizar os trajetos que devem percorrer
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dirigem até não conseguir se manter mais acordado, utilizando muitas vezes até de
substâncias para conseguir dirigir por mais horas seguidas.
Nesse caso fica claro, o como a jornada extensa pode afetar o psicológico do
trabalhador, que não tem as horas necessárias de sono e descanso, bem como o
risco de um acidente do trabalho, pois como um funcionário conseguirá manter o
foco no labor após 10 horas consecutivas, não está dentro da capacidade humana
laborar por tantas horas seguidas. Portanto, o controle de jornada também é um
meio de segurança do trabalho para evitar acidentes do trabalho.
Também tem que citar profissões que devido ao local ou a carga de
responsabilidade são afetados emocionalmente, como o caso de trabalhadores de
plataforma de petróleo, o qual ficam laborando em alto-mar por meses seguidos,
sem ver a família e amigos, o sujeito está literalmente preso em seu ambiente de
trabalho, sendo a profissão que mais afasta por doença psicológica no Brasil hoje.
Em segundo lugar, estão os controladores de voo que mais tem afastamento
por doença psicológica, pois suas tarefas exigem que fique 100% do tempo em
alerta e atentos, pois qualquer descuido pode gerar a morte de centenas de
pessoas, assim gera uma pressão psicológica gigante nos trabalhadores.
Logo depois vem profissões como médicos e engenheiros
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e alma a empresa, realize horas extras independente do pagamento, sempre
visando o melhor lucro para a empresa.
Sendo assim, pode-se dizer que temos o assédio moral direto e indireto,
sendo o direto o modelo clássico o qual o funcionário é exposto a situações
constrangedoras, já o indireto é a situação de colocar o funcionário sobre grande
pressão diária, cobranças excessivas. Em ambos os casos são devidos indenização
ao assediado, mas será que é suficiente?
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comprovação do assédio sexual compete à reclamante,
nos termos do artigo 818 da CLT e inciso I, do artigo
333 do CPC. Se a autora não logrou comprovar o
alardeado assédio sexual, o pedido de indenização por
danos moraisnão pode ser acolhido.”
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situações humilhantes econstrangedoras, capazes de
causar-lhe ofensa à personalidade, à dignidadeou à
integridade psíquica e, que pode ser praticado pela
empresa (na figura dopreposto, superior hierárquico)
ou pelos próprios colegas. Contudo, na hipótese,
não há nenhuma evidência da conduta atribuída pela
reclamante à reclamada ou seus prepostos. A
autora não tratou sequer de produzir a
necessária prova oral sobre os fatos articulados, e seu
depoimento, por si só, não constitui meio hábil à
demonstrar o alegado assédio moral.”
O direito a desconexão foi citado pela primeira vez pelo Otávio Calvet, em seu
livro “Direito ao Lazer nas Relações de Trabalho”, que versa sobre a limitação da
jornada de trabalho, a prova de que se trata de um dos tema mais importantes no
direito do trabalho é que foi a primeira conquista dos trabalhadores após a
Revolução Industrial, bem como também é trazido no artigo 7, inciso XIII da
Constituição Federal o limite de 8 horas diárias de labor.
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Deve ser considerado como tempo de trabalho todo o tempo em que o
empregado fica à disposição do empregador ou conectado com suas tarefas e
obrigações do trabalho. As horas laboradas que extrapolam a jornada de 8 horas
diárias terá uma remuneração acrescida de no mínimo 50% sobre o valor da hora
normal.
O avanço tecnológico facilitou diversas facetas do mecanismo de trabalho no
mundo, com máquinas de produção, computadores e celulares, mas também toda
essa tecnologia trouxe maiores barreiras para a desconexão do trabalho, ou seja,
atualmente é complicado estabelecer quando exatamente o sujeito está 100%
desligado das suas tarefas, pois sempre terá um Whatsapp com um grupo da
empresa ou um e-mail profissional logado no celular, que não importa se está no dia
de descanso ou até mesmo de férias o mínimo que o sujeito fará é acompanhar as
notificações e se não tem nada que precise ser resolvido de imediato.
Isso seria descanso? Já é pacificado na Justiça do Trabalho que o
empregado que estiver de sobreaviso deverá receber igualmente como se estiver
laborando, ou seja, exigir que um funcionário mantenha conectado com o seu
emprego também deveria ser considerado hora de trabalho. A dificuldade está
justamente que hoje por mais que acabe o expediente e o sujeito vá para sua
residência, nas palmas de suas mãos tem um aparelho que chegará diversas
notificações referente ao trabalho, seja um chefe questionando algum ocorrido, um
grupo de equipe discutindo sobre as atividades e se programando.
Não precisa apenas se referir a cargos de chefia, seja vendedores de lojas,
que utilizam muitas vezes seus celulares particulares para trabalhar, enfermeiros
que hoje a equipe se organiza apenas por meio do aplicativo Whatsapp, o
questionamento seria que essa conexão, que facilita o dia a dia no trabalho, também
não atrapalha o lazer e descanso. Quantas vezes não se depara em algum
momento de descontração e alguém está no celular e traz algum apontamento sobre
o trabalho, como “meu chefe me perguntou se fiz o relatório”, “um cliente da loja está
me perguntando sobre determinada mercadoria”, “apenas estou olhando minha
escala de trabalho”, “meu chefe está me pedindo um relatório”, e diversas outras
situações.
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Mas muito se pode questionar que o empregado está gozando do descanso,
pode estar em casa com sua família, mas a desconexão do trabalho o sujeito tem de
estar fora do trabalho fisicamente e mentalmente, não apenas por ser um direito seu,
mas o não cumprimento desse direito pode acarretar diversas consequências mais
graves tanto para o empregado como para o empregador.
O direito à desconexão não se trata apenas de horas de horas ou de
sobreaviso, mas também de descanso intrajornada, seja de 15 minutos para quando
a jornada não ultrapassar de 4 horas ou de 1 hora para jornadas superiores, o
sujeito precisa desse momento para relaxar um pouco e dar uma pausa a sua mente
e ao seu corpo, pois seres humanos não são máquinas que laboram horas seguidas
com o mesmo desempenho.
No livro Direito à Desconexão nas Relações Sociais de Trabalho, da Valdete
Souto Severo trata-se justamente da importância da desconexão:
“Trata do período máximo em que o trabalhador pode
permanecer conectado ao trabalho, sem prejuízo demasiado a
sua saúde física e mental. Todos lembramos do filme
ontológico de Charles Chaplin, Tempos Modernos, em que o
trabalhador, sujeito a atividades repetitivas e sem fruir os
descansos necessários, acaba literalmente entrando na
máquina e com ela se confundindo.
Em última medida, o que a previsão de intervalos durante a
jornada visa evitar é justamente essa aniquilação do caráter
humano, confundindo-o com mais um dos objetos de
produção.”
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que na maioria dos casos não é possível o sujeito fazer uma divisão do que é lazer e
o que é trabalho, pois tudo está focado em apenas um ambiente.
Na maior parte dos casos de trabalhadores em sistema de teletrabalho acaba
sendo prejudicial, pois não é possível realizar a desconexão do trabalho, o
trabalhador estará conectado às suas funções quase 24 horas por dia, conforme é
explorado no livro Direito à desconexão da Valdete Souto Severo “...acaba por
“contaminar” seu ambiente doméstico com questões ligadas ao trabalho, perdendo,
muitas vezes de forma definitiva, a possibilidade de desconexão.”
24
CAPÍTULO 2 NEXO DE CAUSALIDADE
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“O assédio moral se configura quando condutas
abusivas, humilhantes e constrangedoras são
reiteradamente perpetradas pelo superior hierárquico ou
por colegas de
trabalho com o fim alvejar a personalidade e a dignidade do
trabalhador, culminando em danos à saúde física e mental
do alvo, que se desestrutura completamente em seu
ambiente de trabalho. Neste ponto, uma vez configurado o
assédio moral, o dano moral consubstancia-se de forma in
, sendo despicienda a aferição concreta do prejuízo sofrido
pelo alvo, porquanto além de re ipsa tais condutas atingirem
seu patrimônio imaterial, a exigência de comprovação do
dano recai em subjetivismo visto que cada indivíduo possui
níveis diferenciados de “tolerância” ao abuso, o que resulta
em consequências distintas advindas deste. Uma vez
configurado, causa manifesto dano moral ao trabalhador,
por ferir bem jurídico extrapatrimonial contido nos seus
direitos da personalidade (art. 5º, V e X, da CF), sendo
que, para haver direito à indenização, faz-se necessário
comprovar a conduta lesiva, o nexo de causalidade e,
em regra, a culpa da reclamada (art. 7º, XXVIII, da CF).
Sendo assim, acaso constatado o assédio moral, nada mais
justo do que a presunção do dano.”2
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verificar no cotidiano da Justiça do Trabalho reclamatórias pleiteando indenização
por doenças psicológicas. A grande discussão está na subjetividade de doenças
psicológicas e na dificuldade de estabelecer o nexo de causalidade nas
psicopatologias do trabalho.
A psiquiatria atual afirma que o trabalho pode ser a fonte de doenças
psicológicas, mas depende de diversos fatores, como também pode ser concausa
para o desenvolvimento da doença. Ou seja, hoje os estudos demonstram que o
trabalho pode ser o causador de psicopatologias, tanto pelo motivo de o trabalhador
está exposto a muita pressão diária e muita responsabilidade como também o
empregado sofre algum tipo de assédio físico, mental ou sexual, como também
qualquer tipo de agressão psicológica durante o seu labor.
Bem como no Anexo II do Decreto n. 3.048, de 06 de maio de 1999 trouxe
psicopatologias como doença profissional também. Mas a grande dificuldade na
prática está em como demonstrar o nexo de causalidade durante uma possível
instrução processual, tendo em vista que é bem jurídico tutelado é tão subjetivo
como é a mente humana.
Mas por mais que seja uma situação de difícil análise, os profissionais da
saúde da área psicológica estão preparados para fazer esse estudo caso a caso, é
claro que diferente de uma patologia comum que através de apenas alguns exames
e uma consulta médica seja possível realizar o laudo médico, com relação a
psicopatologia é um processo mais longe, o profissional levará um tempo e diversas
sessões para analisar o nexo de causalidade da patologia, mas ainda assim é
possível a atribuição causalidade ou concausa do trabalho na psicopatologia.
Para a análise de danos psicológicos ao empregado, os médicos levam em
consideração a causalidade e o fato de origem para o dano, conforme os graus
abaixo:
Grau I - moral afetada restrita ao posto de trabalho - menor valor de reparo - 25%
Grau II - moral afetada restrita ao setor de trabalho - moderado valor de reparo -
50%
Grau III - moral afetada restrita à empresa - intenso valor de reparo - 75%
27
Grau IV - moral afetada além dos limites da empresa - agravado valor de reparo -
100%. 3
Além que a portaria 1339/99 (Ministério da Saúde, 1999) prevê os princípios
norteadores para os diagnósticos de patologias do trabalho como o burn out.
3 Página 136 do Livro Crônicas em Perícia Médica, DORT & Reabilitação Profissional
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Outros solventes orgânicos neurotóxicos (X46.-; X49.-;
Z57.5)
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Além dos EPI`s a empresa é obrigada a fornecer um ambiente saudável e
seguro ao empregado, mas sempre está voltado para a saúde física do empregado,
são raras as medidas que visa assegurar a saúde mental do trabalhador. Apenas na
NR-33 que versa sobre segurança e saúde do trabalho em espaços confinados, que
prevê o risco de problemas psicossociais devido a pressão do trabalho.
Mas não é imposto às empresas obrigação com relação a saúde mental dos
trabalhadores, o empregador deve realizar exames periódicos em seus
trabalhadores para assegurar sua saúde física, mas são raras as empresas que
dispõe também de psicólogos do trabalho a disposição dos empregados.
Apenas se pode observar no ramo de transporte com relação aos
caminhoneiros, pois foi um setor muito afetado devido a cargas horárias de trabalho
que se sujeitaram, o que acarretou muitos acidentes em estradas, como também a
dependência de substâncias prejudiciais a saúde humana.
E tendo em vista essa circunstância, muitas empresas de transporte realizam
testes psicológicos com seus funcionários para a averiguação da capacidade mental
do sujeito de laborar, como também maiores rigores no controle de jornada.
Portanto, observamos essa medida de segurança de os trabalhadores
passarem com profissionais da saúde como psicólogos e psiquiatras são em
exceções. A maior parte dos trabalhadores nunca tiveram contato com um psicólogo
do trabalho.
Mas se a empresa tem obrigação de realizar exames periódicos da empresa,
bem como assegurar que os empregados recebam os EPI`s e os usam, porque não
tem a obrigação de zelar pela saúde mental de seus funcionários dentro da
empresa. Ou seja, que exista um bom relacionamento entre os sujeitos da empresa,
sem assédios. Como também maior rigor em relação ao controle de jornada, não
apenas visando a indenização de 50% das horas extraordinárias, mas que uma
sobrecarga constante pode prejudicar a vida mental do trabalhador.
Com relação às horas extras um caso que gera conflito são os cargos de
confiança que não possuem limite de 8 horas diárias, a jurisprudência brasileira
entende que empregados em cargo de confiança estão em posição de maior
liberdade para exercer sua atividade e assim não tem controle de ponto. Porém é
sabido que sujeito com os devidos cargos trabalham por extensas horas, muitas
30
vezes sem intervalo intrajornada correto, ultrapassam as 8 horas diárias. Mas o
questionamento seria porque esses trabalhadores não estão sujeitos ao artigo 7 da
CF, o qual deixa claro que o trabalhador deve laborar apenas 8 horas por dia ou 44
horas semanais.
Quais serão as consequências de a cada dia o direito estar flexibilizando mais
as jornadas de trabalho, seja as horas extraordinárias, seja para trabalhadores de
cargo de confiança sem controle de jornada. O primeiro contraponto é que essas
pessoas percebem mensalmente valores maiores, tendo em vista a carga do
trabalho, mas está correto a legislação trabalhista autorizar que o labor de uma
pessoa prejudique sua saúde mental apenas porque está recebendo um salário
minimamente decente? Ou apenas está pacificado a retirada da dignidade do
trabalhador.
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CAPÍTULO 3 DOENÇA PSICOLÓGICA NA JUSTIÇA DO TRABALHO
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conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus
profissionais sejam ou não da área da saúde.
No âmbito da psicologia muito se critica as perícias realizadas na Justiça do
Trabalho quando se trata de doença psicológica, primordialmente porque em regra
é tratado superficialmente as situações e em apenas uma sessão com o trabalhador,
sendo que até mesmo seria cabível uma entrevista com o possível agressor,
superior e pessoas que estavam envolvidas para conseguir analisar melhor todo o
contexto social em que a pessoa estava inserida. É notório em todos os estudos é
exposto o grau de dificuldade do trabalho do perito nesses casos, tanto que é
necessários profissionais especializados no tema.
Segundo Dulce Suaya (2010) às perícias deveriam seguir a técnica História
Vital do Trabalho (HVT), que segue as seguintes etapas: (1) apresentação da
proposta e exploração das expectativas a respeito do encontro entre perito(s) e
periciando (trabalhador); (2) e (3) Relato da trajetória laboral; (4) e (5) atualização do
perfil de interesses, habilidades e destrezas implementando estratégias próprias do
processo de orientação vocacional e ocupacional; (6) heteroavaliação, de forma que
a imagem social é avaliada por meio de uma apresentação por escrito do periciando
acerca de suas particularidades, inclinações, habilidades e destrezas. Procede a
leitura e comentários visando o contraste entre a autoimagem e a imagem
transmitida de forma que emerja um novo posicionamento subjetivo: reconhecimento
e apropriação da identidade do sujeito produtivo; (7) auto avaliação escrita e
construção do projeto futuro evidenciando coincidências e discrepâncias entre a
autoimagem e a imagem obtida na heteroavaliação e; (8) avaliação interativa em
entrevista individual-oral entre perito(s) e periciando (trabalhador) seguida de
fechamento do(s) encontro(s).5
Jose Antonio Ribeiro da Silva ainda traz na sua obra “Acidente de trabalho:
responsabilidade objetiva do empregador” que as perícias devem ser realizadas por
uma equipe multiprofissional, não devendo ser realizada por um único médico, deve
ser construindo toda uma técnica de abordagem para conseguir entender se a
patologia psicológica teve conexão ao trabalho.
33
3.2 Análise de decisões
34
entendimento do TST e da maioria das turmas de que é jornadas extensas e
pressão extrema diária são requisitos para a caracterização de uma indenização,
porém na prática jurídica são minoria as decisões que realmente julgam procedente.
Segue abaixo o Acórdão alvo dos embargos supracitados.
35
extensão, sendo presumível em razão do fato danoso. Recurso
de revista não conhecido.
36
durante o período de um ano em que ela ficou; que no
período anterior, a recte ficava numa sala normal com ar
condicionado, com outras pessoas; que conseguia ver a recte
trabalhando quando subia; que Mackley viajava a cada 15 dias
para fazer implantação de outras unidades, ficando cerca
de 15 dias a 1 mês fora.”
37
CONCLUSÃO
38
BIBLIOGRAFIA
39
- LISTA DE ANEXOS
40
ANEXO A
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
13ª Vara do Trabalho de Guarulhos
ATOrd 1001448-49.2019.5.02.0323
RECLAMANTE: ANGELA FRAULO PIRES DA SILVA
RECLAMADO: EXATA CARGO LTDA
SENTENÇA
I - RELATÓRIO:
Trata-se de reclamação trabalhista proposta pelo rito ordinário na qual a reclamante ANGELA
FRAULO PIRES DA SILVA alega, em síntese, que foi admitida pela reclamada EXATA CARGO
LTDA em 27/10/2014, para exercer a função de coordenadora comercial, com remuneração de R$
3.141,88 e jornada de trabalho de segunda a sexta-feira, 8h às 20h, com 30 minutos de intervalo
intrajornada, sendo dispensada sem justa causa em 21/02/2019. Aduz ainda que sofreu de
transtornos de ansiedade, pânico, síndrome de burnout em razão do trabalho, sendo dispensada
mesmo estando incapacitada para o labor e que sofria assédio moral dos gestores ANGELO e
MARCUS SABINO. Sendo assim, postula o pagamento de horas extras e reflexos, intervalo
intrajornada, indenizações por danos morais em razão da doença ocupacional e do assédio moral,
indenização por dano material, reintegração ou indenização do período de estabilidade previsto no
art. 118 da Lei n. 8.213/1991 pensão vitalícia, restabelecimento do plano de saúde, gratuidade judicial
e honorários advocatícios.
Processo instruído com depoimento das partes, testemunhos, perícia médica e documentos,
assegurado o contraditório. Razões finais remissivas. Renovada e recusada a proposta de
conciliação.
Relatado. Decido.
(...)
III - DISPOSITIVO:
a) Indenização por danos morais em razão de assédio moral, no valor ora arbitrado de R$
10.000,00 (dez mil reais);
41
b) Indenização equivalente ao período de estabilidade previsto no art. 118 da Lei n.
8.213/91 (doze remunerações da reclamante e demais vantagens salariais, quais sejam, férias + 1/3,
13º salário e FGTS);
c) Indenização por danos morais em razão da doença profissional que acometeu a autora, que arbitro
em R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
d) Da admissão até 10/11/2017, nos termos do art. 71, § 4º, da CLT (com vigência anterior à Lei n.
13.467/2017), condeno a reclamada ao pagamento de 1 hora diária como hora extra, na forma da
Súmula 437, I, do TST, com integração ao salário da autora e adicional de 50% sobre o valor da hora,
por cada dia de trabalho, com reflexos em aviso prévio, 13º salário, férias com 1/3, repousos
semanais remunerados e FGTS + 40% (súmula 172 e 437, III, do C. TST). A partir de 11/11/2017
(data de entrada em vigor da Lei n. 13.467/2017), na forma do art. 71, § 4º, da CLT, condeno a
reclamada ao pagamento de 30 minutos diários, com o adicional de 50% sobre o valor do minuto,
para os dias em que concedido apenas parcialmente o intervalo intrajornada, o qual possui natureza
indenizatória conforme redação dada pela Lei n. 13.467/2017 ao artigo supramencionado, razão pela
qual não há que se falar em reflexos em qualquer parcela;
O pagamento dos honorários advocatícios em favor do patrono da reclamada, arbitrados em 10% sob
o valor da sucumbência da parte autora (relativa aos pedidos julgados improcedentes), nos termos do
art. 791-A, da CLT, tendo em vista que a reclamante é beneficiária da justiça gratuita e que inexiste
qualquer crédito em seu favor neste e em outros juízos capaz de cessar a sua situação de
miserabilidade, fica com a sua exigibilidade suspensa pelo prazo de 2 anos, conforme §4º do art. 791-
A da CLT, cabendo ao patrono da ré, no aludido interregno, comprovar nos autos que a situação de
hipossuficiência da parte autora deixou de existir. Inexistindo comprovação da mudança da situação
de miserabilidade da reclamante no prazo de 2 anos, extinguir-se-á a exigibilidade da pretensão
advocatícia.
As parcelas ora deferidas têm natureza indenizatória (art. 832, §3º e §3º-A, da CLT), exceto o
intervalo intrajornada até 10/11/2017.
Recolhimentos fiscais e previdenciários nos moldes da Súmula 368 do TST e OJ 363 da SDI-I do
TST, com os parâmetros da fundamentação. O INSS referente à cota parte da Reclamada deverá ser
recolhido de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei n.º 10.035/2000.
Sobre o cálculo do Imposto de Renda, considerando as alterações nas regras para sua apuração,
publicadas pela Lei 12.350/2010 e pela Instrução Normativa da Receita Federal nº 1.500/2014, este
deve ser calculado com observância da nova legislação pertinente e da Instrução Normativa em
referência, esclarecendo ainda que sobre os juros de mora não incide o imposto, em conformidade
com o artigo 46 e parágrafos da Lei 8.541/92 c/c artigo 404, parágrafo único do Código Civil e
Orientação Jurisprudencial nº 400, da SDI-I, C. TST.
42
Expeça-se ofício ao Ministério Público do Trabalho, conforme fundamentação.
Custas pela reclamada no importe de R$ 1.760,00, calculadas sobre o valor atribuído provisoriamente
à condenação de R$ 88.000,00.
Publique-se. Intimem-se.
43