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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

GIULIANA TORTORIELLO FAGOTTI

DIGNIDADE MENTAL NO TRABALHO

SÃO PAULO
2020
GIULIANA TORTORIELLO FAGOTTI

DIGNIDADE MENTAL NO TRABALHO


Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
exigência parcial para a obtenção de título de Graduação
do Curso de Direito da Universidade São judas Tadeu..

Orientador: Prof. Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho

SÃO PAULO
2020

1
FICHA CATALOGRÁFICA

2
GIULIANA TORTORIELLO FAGOTTI

A642i Fagotti, Giuliana


DIGNIDADE MENTAL DO TRABALHO / Giuliana
DIGNIDADE MENTAL DO TRABALHO
Tortoriello Fagotti. – 2020.
96f.: il.; 30cm. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
exigência parcial para a obtenção de título de
Orientador: Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho.
Graduação do Curso de Direito da Universidade São
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
Judas Tadeu.
em
Direito – Universidade São Judas Tadeu,
São Paulo, 2020.
Bibliografia: f.xx-xx.
1. Direito do trabalho. 2.
Cidadania.
Aprovado em: 3. Saúde Mental. I.

CDD 647.94

Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Prof Me.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

3
DEDICATÓRIA

Dedico este estudo a todos os trabalhadores que lutaram tão arduamente


para a legalização de seus direitos trabalhistas, brigaram para ter limite de jornada,
um ambiente de trabalho seguro e com higiene, com salários adequados e verbas
condizentes.

Dedico também a gerações futuras de trabalhadores que poderão ter


dignidades ao exercer suas profissões, situação que muitos ancestrais não
conseguiram ter.

4
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais pelo apoio e incentivo aos meus estudos desde
sempre, por terem me ensinado o amor pela leitura e me ensinado o amor pelo
direito, pela paciência da minha mãe de sentar e estudar comigo e por me acalmar
nos momentos difíceis, e pelos conselhos e orientações do melhor professor que eu
poderia ter, meu pai.

Agradeço ainda aos meus colegas que me ajudaram durante as pesquisas e


pelo apoio durante todo o curso.

5
[...]Mas, se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou
desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir
sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e
perseverança. Tal a missão do trabalho (RUY BARBOSA, 1920).

6
RESUMO

O presente estudo tem como finalidade analisar as constantes mudanças no


ambiente laboral e suas consequências, principalmente quanto ao aumento
significativo nas doenças psicológicas oriundas das atividades laborais. Realizando
um estudo do nexo de causalidade entre o trabalho e as doenças psicológicas, o
como é tratada essa categoria de doença pelas empresas e por fim um debate sobre
o pleito desses direitos na Justiça do Trabalho, desde se as perícias como são
realizadas hoje são eficientes e como e caracterizado o direito, se há direito de dano
moral ou estabilidade.
Palavras-Chave: Direito do Trabalho. Ambiente laboral. Direito à desconexão.
Direitos fundamentais.

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ABSTRACT

The objective of this research is to analyze the ever-evolving work


environment and how it is associated with the increase in psychology disorders
caused by labour activities.
It will be conducted through the correlation between the workplace and the
psycologic disorders, how this kind of illness is seen by companies and finally, the
discussion of the claimed of this right In the labour justice, questioning how effective
the investigations are, and if the compensations for moral damage and job-stability
are secured when the responsibility is proved

Palavras-Chave: Direito Fundamental. Direito à moradia. Direito ao meio ambiente.


Antinomia. Prevalecer.

8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Notícia Karoshi. Fonte: Revista Veja. 19

9
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Art. Artigo
CF. Constituição Federal
CPC Código de Processo Civil
EC. Emenda Constitucional

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO 1 DOENÇAS LABORAIS 14

1.1 Breve análise quanto doenças laborais 14

1.2 Doenças psicológicas 15

1.3 Assédio 18

1.4 Direito à desconexão 21

CAPÍTULO 2 NEXO DE CAUSALIDADE 24

2.1 Requisitos do dano moral 24

2.2Nexo de causalidade doenças psicológicas e trabalho 26

2.3 Medidas de segurança pela empresa 29

CAPÍTULO 3 DOENÇA PSICOLÓGICA NA JUSTIÇA DO TRABALHO 32

3.1 Perícias Médicas 32

3.2 Análise de decisões 34

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA 39

11
INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 assegura diversos direitos ao trabalhador,


entre ele, o direito a um ambiente digno e bem como o direito ao lazer, tendo em
vista que em nossa história deparamos em diversos momentos que não foram
estabelecidos um limite, a mão de obra dos trabalhadores foram exploradas até sua
completa exaustão e sem nenhum tipo de preocupação com sua saúde. Por essas
razões a Carta Magna traz em seu texto o direito dos trabalhadores.
Mas mesmo com todo o respaldo das legislações trabalhista em proteger a
segurança e saúde dos trabalhadores, não consegue atingir o 100% de eficácia e
assim é preciso sempre estudar a abordagem e as consequências do mundo
laboral.
Acidentes e doenças laborais sempre existiram, porque muitas vezes
mesmo respeitando todas as normas, o empregado não está escusável de sofrer um
dano, porém existe um ponto delicado na atualidade, está aumentando
exponencialmente os casos de doenças psicológicas no ambiente do trabalho, mas
tendo em vista que o diagnóstico, como o tratamento de doenças psicológicas é
recente, ainda está muito instável na justiça do trabalho, como lidar e como analisar
o nexo de causalidade entre a patologia e o labor.
É notório que tanto o ambiente de trabalho como o estilo de trabalho está se
modificando a cada dia, tendo em vista que a tecnologia invade e altera todos os
mecanismos de todos os setores da vida, inclusive o ambiente do trabalho. Além dos
meios de trabalho, também tem uma alteração subjetiva em como as pessoas estão
lidando com o trabalho.
Seja por diversos motivos, mas a cada dia as pessoas sentem necessidade
de dedicar a maior parte de sua vida ao trabalho, não importando a que custo, trata-
se de uma valorização a longas jornadas de trabalho, como a expressão da língua
inglesa “workaholic”, que em uma tradução seria a pessoa viciada a trabalhar e
passou a ser utilizada como adjetivo positivo.

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Além das cargas horárias, muitas profissões possuem uma carga de
cobrança e responsabilidade muito altas que podem levar um trabalhador ao
esgotamento. Também existe a insalubridade emocional no ambiente de trabalho,
no atual cenário do mundo empregatício, a concorrência por bons empregos e
gigante, acarretando uma disputa entre todos trabalhadores pela melhor dedicação e
desempenho para garantir seus empregos.
Mas ainda existem diversos ambientes de empresas que incentivam esse
tipo de comportamento, o qual incentiva a disputa entre funcionários e até expõem
os funcionários a situações vexatória.
Ainda é muito presente nas relações de emprego o assédio moral e sexual,
a legislação trabalhista é pacífica na condenação de indenizações nesses casos,
mas será que todo esse cenário por um tempo significativo na vida de uma pessoa
também não possa acarretar em doenças psicológicas.

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CAPÍTULO 1 DOENÇAS OCUPACIONAIS

1.1 Breve análise das doenças ocupacionais

Conforme está previsto no artigo 154 e seguintes da Consolidação das Leis


Trabalhistas que versam sobre a segurança e medicina do trabalho, a importância
de as empresas assegurar um ambiente adequado a seus funcionário, preservando
assim a dignidade de todos seu funcionários a fim de evitar acidentes do trabalho e
doenças ocupacionais, como está garantido na Constituição Federal em seu artigo
7, inciso XXII, o qual assegurou “redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio
de normas de saúde, higiene e segurança”.
Apenas com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004, trouxe a
competência material para a Justiça do Trabalho em julgar Ações de Indenização
por doenças e acidentes do trabalho.
Qualquer acidente que aconteça durante o labor ou dentro da empregadora
é considerado de responsabilidade objetiva da empresa, bem como as doenças
acarretadas pelo serviço realizado também são de responsabilidade da empresa,
pois ela que acarretou esse dano a vida do empregado, tendo então que resguardar
os direitos do trabalhador, com indenização e estabilidade.
Tanto que em nossa legislação traz que o empregado que ficar afastado por
mais de 15 dias de seu trabalho por acidente ou doença terá estabilidade por 1 ano,
tendo em vista que seu labor causou um dano em sua saúde e em sua vida e como
forma de compensar esse dano é dado um ano de estabilidade a esse empregado.
Esse é um assunto já pacificado no mundo jurídico, acidentes de fraturas ou
doenças físicas já existe um procedimento, mas e quanto às doenças que crescem a
cada dia e mesmo assim ainda são negligenciadas por todos os setores na Justiça
do Trabalho, as doenças psicológicas decorrentes do labor.
Conforme Anexo II do Decreto n. 3.048, de 06 de maio de 1999, elenca
como doenças do trabalho as psicológicas também, como depressão, ou seja,
também são consideradas como doença do trabalho, mesmo que seja difícil a
caracterização do nexo de causalidade.

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1.2 Doenças Psicológicas

Mesmo que esteja previsto que a saúde mental do trabalhador deve ser
protegido igualmente sua saúde física, ainda encontra-se barreiras e preconceitos
em aceitar que as atividades laborais de uma pessoa pode acarretar problemas
psicológicos. Na maior parte das vezes se escuta comentários do tipo: “porque é
fraco”, “isso só tem haver com a vida particular”, “tem problema”, mas nunca é visto
como uma possível doença do trabalho como qualquer outra.
Em nossa Constituição Federal está previsto uma carga horária de 8 horas
diárias ou 44 horas semanais, o cidadão brasileiro passa um terço do seu cotidiano
no ambiente de trabalho, mas mesmo assim se recusam a aceitar a hipótese que
esse ambiente pode ter acarretado problemas emocionais e psicológicos no
trabalhador.
Uma empresa é assim um ambiente social, aquele grupo de pessoas estão
cotidianamente juntas para exercer uma determinada atividades, ou seja, da mesma
maneira que o trabalho ´importante para o sujeito é importante como o indivíduo
percebe do seu trabalho para a sociedade. Sempre se teve a ideia de que a
organização laboral fosse uma equação simples: mais salário, mais satisfação,
melhor produção, mas ao longo de estudos se percebeu que não é bem assim que
funciona.
O trabalhador não é apenas uma mão de obra como era visto na época da
Revolução Industrial, apenas mais uma peça, com o advento dos direitos
fundamentais, assegurados em nossa Carta Magna, todo trabalhador tem direito a
um ambiente de trabalho digno, com segurança e higiene. Ou seja, estamos lidando
com vidas, com seres humanos com sentimentos, deve existir uma dinâmica com a
subjetividade e objetividade do indivíduo.
A ideia da existência da psicopatologia do trabalho é muito antiga, como já
era visto no filme “tempos modernos” de Charlie Chaplin, o qual demonstra como o

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sistema taylorismo e fordismo afetam a vida e mente dos trabalhadores, eram
tratados apenas como uma peça a mais das máquinas.
Mesmo fora do modelo clássico de trabalho mais manuais, na modernidade
com a Revolução Tecnológica a mudança dos jeitos de trabalho modificaram muito
rápido e sem qualquer ajuste para o trabalhador, ainda mais em um país como o
Brasil, onde coexistem relações de trabalho primitiva ao lado de métodos modernos
de gestão.
Essas novas técnicas e organizações que são introduzidas nas relações de
trabalho tem causando grande desgaste nos trabalhadores, sendo de maneira física,
como hipertensão, dores crônicas e digestivas ou doenças psíquicas como
depressão, ansiedade, neuroses e psicoses.
Muito vem se falando sobre Burnout, um termo inglês que em sua tradução
literal seria combustão completa, ou seja, seria o esgotamento completo de um
sujeito. Hoje é muito estudado o burnout no trabalho, sempre tomado como
parâmetro o Japão, o qual tem uma carga horária de trabalho muito extensa, são
jornadas de 10, 15 horas diárias, relatórios de sujeitos que dormem em média de 4 a
5 horas por noite devido a carga horária de trabalho, isso acarreta um dano de
grande escala para a sociedade japonesa, tanto que existe a expressão “Karoshi” 1
que é a morte oriunda do trabalho, literalmente o trabalho leva a pessoa a morte,
devido a carga horária e pressão do cotidiano o corpo e mente dos seres humanos
não suportam e acabam levando a morte.
Tanto que no Japão se a morte for considerada Karoshi, a família da vítima
recebe uma compensação do governo, além de uma indenização da empresa, mas
deve ser comprovado que o empregado trabalhou 100 horas extras no mês anterior
a sua morte ou ainda 24 horas no dia anterior a sua morte ou 16 horas nos 7 últimos
dias. Ou seja, o Japão já está em um nível de estar legislando sobre morte por
excesso de trabalho.

1 Karoshi - traduzido do Japão é “morte por excesso de trabalho”, é a morte súbita ocupacional.

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Ao olhar de fora a situação do Japão é difícil acreditar essa situação na
prática e no cotidiano, porém pode estar mais próximo do que imagina, os casos de
pessoas afastadas pelo INSS devido a problemas psicológicos oriundos do trabalho
vem aumentando a cada dia. A ideia de quanto mais horas de trabalho melhor será
e toda essa construção de uma sociedade baseada apenas em focar no trabalho
sem nenhum respaldo da saúde do trabalhador, pode trazer consequências
negativas e irreparáveis.
Além do artigo 7, XXII da Constituição Federal, que dispõe sobre a segurança
e higiene do trabalhador, também encontra-se no artigo 196 da referida Constituição
o seguinte: “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante
políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco e de outros agravos.”
Ou seja, o Estado também tem o dever de tutelar pela saúde do trabalhador,
inclusive no ambiente de trabalho.
Tendo em vista essa atribuição que coube ao Estado, o principal direito
trabalhista que é trazido na Carta Magna é a limitação da jornada de trabalho, a
mesma veda jornadas superiores a 8 horas diárias, mas hoje houve uma certa
flexibilização no direito trabalhista, pois hoje por meio de acordo coletivo é possível
acordar jornada de trabalho diário superior a 8 horas.
Portanto, existem muitos trabalhadores hoje no Brasil que exercem uma
carga horária de trabalho muito superiores a 8 horas, o maior exemplo clássico é o
de caminhoneiros, que para conseguir agilizar os trajetos que devem percorrer

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dirigem até não conseguir se manter mais acordado, utilizando muitas vezes até de
substâncias para conseguir dirigir por mais horas seguidas.
Nesse caso fica claro, o como a jornada extensa pode afetar o psicológico do
trabalhador, que não tem as horas necessárias de sono e descanso, bem como o
risco de um acidente do trabalho, pois como um funcionário conseguirá manter o
foco no labor após 10 horas consecutivas, não está dentro da capacidade humana
laborar por tantas horas seguidas. Portanto, o controle de jornada também é um
meio de segurança do trabalho para evitar acidentes do trabalho.
Também tem que citar profissões que devido ao local ou a carga de
responsabilidade são afetados emocionalmente, como o caso de trabalhadores de
plataforma de petróleo, o qual ficam laborando em alto-mar por meses seguidos,
sem ver a família e amigos, o sujeito está literalmente preso em seu ambiente de
trabalho, sendo a profissão que mais afasta por doença psicológica no Brasil hoje.
Em segundo lugar, estão os controladores de voo que mais tem afastamento
por doença psicológica, pois suas tarefas exigem que fique 100% do tempo em
alerta e atentos, pois qualquer descuido pode gerar a morte de centenas de
pessoas, assim gera uma pressão psicológica gigante nos trabalhadores.
Logo depois vem profissões como médicos e engenheiros

1.3 Assédio Moral

O assédio moral é caracterizado pela lesão do direito a personalidade, que


independe de qualquer desequilíbrio emocional ou alteração na personalidade. O
assédio moral direto é aquele que expõe o trabalhador a situações humilhantes e
constrangedoras durante o seu labor.
Com as modificações de gestão de trabalho devido às novas tecnologias, hoje
se busca obter mais lucros com menor custo, empresários implementam em suas
empresas mais máquinas, sistemas ou até mão de obra mais barata para baratear o
custo e assim gerar maior lucro. E por consequência se acaba criando uma violência
psíquica travestida, o que origina o assédio moral indireto, pois no atual modelo de
trabalho, todos os funcionários são colocados em posições que devem “vestir a
camisa da empresa”, criado uma expectativa em que o empregado se doe de corpo

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e alma a empresa, realize horas extras independente do pagamento, sempre
visando o melhor lucro para a empresa.

Sendo assim, pode-se dizer que temos o assédio moral direto e indireto,
sendo o direto o modelo clássico o qual o funcionário é exposto a situações
constrangedoras, já o indireto é a situação de colocar o funcionário sobre grande
pressão diária, cobranças excessivas. Em ambos os casos são devidos indenização
ao assediado, mas será que é suficiente?

Quando o sujeito é exposto a uma perversidade crescimento no ambiente de


trabalho, é notório todas as consequências em sua saúde física e mental, porém o
mesmo não pode pedir o desligamento do local, pois compromete muitas vezes o
sustento de sua família e assim o sujeito se vê obrigado a continuar nesse ambiente
tóxico, que poderá acarretar traumas emocionais gravíssimos, podendo até mesmo
incapacita-lo ao trabalho, tendo em vista, que o sujeito pode desenvolver fobia ao
trabalho, sempre com o receio de ser tratado da mesma maneira anterior.

Os assédios morais podem acarretar danos emocionais e desequilíbrio


psicológico, uma pessoa que é submetida por muito tempo em um ambiente de
trabalho insalubre mentalmente pode acarretar doenças como: aumento da pressão
arterial, distúrbios alimentares, pânico e depressão. Nesses casos, o empregado,
visando a manutenção do seu emprego, suporta toda essa situação, apenas quando
vier a se desligar da empresa que talvez ajuizar uma reclamatória trabalhista, que
visará um dano moral por essa situação, sendo que não é algo garantido, pois se
trata de um direito subjetivo, sendo difícil de realizar provas suficientes que
comprovem os fatos.

“PROCESSO TRT Nº 000158834.2010.5.02.0059


RECURSO ORDINÁRIO DA 59ª V.T. DE SÃO
PAULORECORRENTE: JULIANA IGNÁCIO
BALDUINORECORRIDO: CPTM – COMPANHIA
PAULISTA DE TRENS METROPOLITANOSDANOS
MORAIS. ASSÉDIO SEXUAL. AUSÊNCIA
DECOMPROVAÇÃO. O ônus da prova quanto à

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comprovação do assédio sexual compete à reclamante,
nos termos do artigo 818 da CLT e inciso I, do artigo
333 do CPC. Se a autora não logrou comprovar o
alardeado assédio sexual, o pedido de indenização por
danos moraisnão pode ser acolhido.”

“PROCESSO TRT/SP nº 0002527-75.2015.502.0079


RECURSO ORDINÁRIO DA 79ª VARA DO TRABALHO
DE SÃO PAULO RECORRENTE : ARIANA TEIXEIRA
SOUZA RECORRIDO : SANTA CASA DA
MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO EMENTA: RECURSO
ORDINÁRIO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
ASSÉDIO MORAL NÃO CARACTERIZADO. MEROS
DESENTENDIMENTOS E ORIENTAÇÕES E
CORREÇÕES DO TRABALHO NÃO CONFIGURA
ILÍCITO CIVIL. Em muitos casos o que alguns autores
rotulam como ofensas correspondem a meros
desentendimentos inerentes às relações de trabalho.
Tais situações geram apenas dissabores e
aborrecimentos, os quais são incapazes e insuficientes
de gerar dano a ser reparado na ordem civil.”

“PROCESSO TRT/SP nº 0001849-82.2015.5.02.0007 -


4ª Turma RECURSO ORDINÁRIO
RECORRENTE:NATALIA VERAS DE SOUZA
RECORRIDOS: ZANC SERVIÇOS DE COBRANÇAS
LTDA. E OUTRO (1)ORIGEM: 07ª VARA DO
TRABALHO DE SÃO PAULOASSÉDIO MORAL.
AUSÊNCIA DE PROVA. É sabido que o assédio
moral, ou, ainda, manipulação perversa, terrorismo
psicológico, caracteriza-se por ser uma conduta
abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra
adignidade psíquica do trabalhador, expondo-o a

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situações humilhantes econstrangedoras, capazes de
causar-lhe ofensa à personalidade, à dignidadeou à
integridade psíquica e, que pode ser praticado pela
empresa (na figura dopreposto, superior hierárquico)
ou pelos próprios colegas. Contudo, na hipótese,
não há nenhuma evidência da conduta atribuída pela
reclamante à reclamada ou seus prepostos. A
autora não tratou sequer de produzir a
necessária prova oral sobre os fatos articulados, e seu
depoimento, por si só, não constitui meio hábil à
demonstrar o alegado assédio moral.”

Para ser enquadrado a pressão psíquica em assédio moral deve ser


demonstrados diversos requisitos, como a prolongação no tempo, mesmo que
muitos tribunais vem decidindo diverso, o qual já considera assédio em casos que
perduram por um pouco mais de um mês, como o julgado do RO-126/02, julgado
pela 2 Turma da 3 Região, também se deve demonstrar o objetivo de tal ação e a
sua efetivação. Ou seja, são muitos aspectos que devem ser comprovados para ser
declarado o assédio moral, o que acarreta uma grande impunidades nas empresas
que aceitam esse tipo de situações nas dependências de sua sede.

Portanto, fica o questionamento, é justo apenas a incerteza de uma possível


indenização em casos que o sujeito passou anos sendo alvo de pressão psíquica e
que pode até mesmo ter tido danos graves em sua saúde mental.

1.3 DIREITO À DESCONEXÃO

O direito a desconexão foi citado pela primeira vez pelo Otávio Calvet, em seu
livro “Direito ao Lazer nas Relações de Trabalho”, que versa sobre a limitação da
jornada de trabalho, a prova de que se trata de um dos tema mais importantes no
direito do trabalho é que foi a primeira conquista dos trabalhadores após a
Revolução Industrial, bem como também é trazido no artigo 7, inciso XIII da
Constituição Federal o limite de 8 horas diárias de labor.

21
Deve ser considerado como tempo de trabalho todo o tempo em que o
empregado fica à disposição do empregador ou conectado com suas tarefas e
obrigações do trabalho. As horas laboradas que extrapolam a jornada de 8 horas
diárias terá uma remuneração acrescida de no mínimo 50% sobre o valor da hora
normal.
O avanço tecnológico facilitou diversas facetas do mecanismo de trabalho no
mundo, com máquinas de produção, computadores e celulares, mas também toda
essa tecnologia trouxe maiores barreiras para a desconexão do trabalho, ou seja,
atualmente é complicado estabelecer quando exatamente o sujeito está 100%
desligado das suas tarefas, pois sempre terá um Whatsapp com um grupo da
empresa ou um e-mail profissional logado no celular, que não importa se está no dia
de descanso ou até mesmo de férias o mínimo que o sujeito fará é acompanhar as
notificações e se não tem nada que precise ser resolvido de imediato.
Isso seria descanso? Já é pacificado na Justiça do Trabalho que o
empregado que estiver de sobreaviso deverá receber igualmente como se estiver
laborando, ou seja, exigir que um funcionário mantenha conectado com o seu
emprego também deveria ser considerado hora de trabalho. A dificuldade está
justamente que hoje por mais que acabe o expediente e o sujeito vá para sua
residência, nas palmas de suas mãos tem um aparelho que chegará diversas
notificações referente ao trabalho, seja um chefe questionando algum ocorrido, um
grupo de equipe discutindo sobre as atividades e se programando.
Não precisa apenas se referir a cargos de chefia, seja vendedores de lojas,
que utilizam muitas vezes seus celulares particulares para trabalhar, enfermeiros
que hoje a equipe se organiza apenas por meio do aplicativo Whatsapp, o
questionamento seria que essa conexão, que facilita o dia a dia no trabalho, também
não atrapalha o lazer e descanso. Quantas vezes não se depara em algum
momento de descontração e alguém está no celular e traz algum apontamento sobre
o trabalho, como “meu chefe me perguntou se fiz o relatório”, “um cliente da loja está
me perguntando sobre determinada mercadoria”, “apenas estou olhando minha
escala de trabalho”, “meu chefe está me pedindo um relatório”, e diversas outras
situações.

22
Mas muito se pode questionar que o empregado está gozando do descanso,
pode estar em casa com sua família, mas a desconexão do trabalho o sujeito tem de
estar fora do trabalho fisicamente e mentalmente, não apenas por ser um direito seu,
mas o não cumprimento desse direito pode acarretar diversas consequências mais
graves tanto para o empregado como para o empregador.
O direito à desconexão não se trata apenas de horas de horas ou de
sobreaviso, mas também de descanso intrajornada, seja de 15 minutos para quando
a jornada não ultrapassar de 4 horas ou de 1 hora para jornadas superiores, o
sujeito precisa desse momento para relaxar um pouco e dar uma pausa a sua mente
e ao seu corpo, pois seres humanos não são máquinas que laboram horas seguidas
com o mesmo desempenho.
No livro Direito à Desconexão nas Relações Sociais de Trabalho, da Valdete
Souto Severo trata-se justamente da importância da desconexão:
“Trata do período máximo em que o trabalhador pode
permanecer conectado ao trabalho, sem prejuízo demasiado a
sua saúde física e mental. Todos lembramos do filme
ontológico de Charles Chaplin, Tempos Modernos, em que o
trabalhador, sujeito a atividades repetitivas e sem fruir os
descansos necessários, acaba literalmente entrando na
máquina e com ela se confundindo.
Em última medida, o que a previsão de intervalos durante a
jornada visa evitar é justamente essa aniquilação do caráter
humano, confundindo-o com mais um dos objetos de
produção.”

Portanto, qualquer tipo de supressão de horas de lazer do trabalhador em


excesso pode ser considerado em uma escala de desconexão do trabalho. Porém
em uma determinada classe de trabalhadores é difícil ter o controle, que são os
profissionais que laboram em home office ou teletrabalho, pois esse nao tem o
controle de jornada, laboral dentro de sua residência.
Primeiramente é visto como algo benéfico tanto ao trabalhador como para o
empregador, pois ao empregador possibilita uma redução de custos e ao empregado
possibilita maior flexibilidade de horário, maior contato com a família, menos tempo
de deslocamento. Mas ao aprofundar a análise, o ser humano é um animal social, ou
seja, por instinto quer estar inserido em uma sociedade, com o teletrabalho é
retirado toda a pessoalidade entre os funcionários e para com a empresa. Além de

23
que na maioria dos casos não é possível o sujeito fazer uma divisão do que é lazer e
o que é trabalho, pois tudo está focado em apenas um ambiente.
Na maior parte dos casos de trabalhadores em sistema de teletrabalho acaba
sendo prejudicial, pois não é possível realizar a desconexão do trabalho, o
trabalhador estará conectado às suas funções quase 24 horas por dia, conforme é
explorado no livro Direito à desconexão da Valdete Souto Severo “...acaba por
“contaminar” seu ambiente doméstico com questões ligadas ao trabalho, perdendo,
muitas vezes de forma definitiva, a possibilidade de desconexão.”

24
CAPÍTULO 2 NEXO DE CAUSALIDADE

2.1 Requisitos do dano moral

O empregador é o responsável pelas indenizações decorrentes de acidentes


ou doenças profissionais, que resultem da sua conduta ilícita, para maior facilidade a
doutrina divide em 3 esferas os requisitos para atribuição de responsabilidade.
Primeiro deve existir o dano, é necessário a evidenciação da existência do
dano, no âmbito trabalhista em situações de acidente ou doença profissional o dano
é presumido.
O segundo requisito é o nexo de causalidade, ou seja, a relação do fato com
a conduta do empregador, ou seja, se o meio ambiente do trabalho é poluído e isso
poderá acarretar doenças em seus funcionários. A empresa não precisa
necessariamente ser a única fonte da doença, mas pode ser concausa para o
surgimento da doença ou o seu agravamento.
E por fim, o último requisito é a culpa empresarial, pois é necessário a culpa
do empregador, a partir da vigência da Constituição Federal de 1988 a simples culpa
do empregador já caracteriza o nexo, não se faz necessário o dolo da empresa para
atribuição da responsabilidade.
A responsabilidade tem como fundamento tentar retirar o dano que foi
causado, e o meio utilizado é a indenização, portanto, em casos de patologias do
trabalho, o empregador deverá indenizar esse trabalhador pois durante a exploração
de sua mão de obra, ele veio a sofrer um dano a sua saúde física ou mental..
Na Justiça do Trabalho é preciso ressaltar que houve uma banalização em
relação ao pleito do dano moral, entretanto, não se pode apenas ignorar esse direito
do trabalhador, pois em diversos caso o trabalhador tem sua dignidade física ou
mental infringida e o melhor modo de tentar retirar ou amenizar os danos é por meio
da indenização.
Segue abaixo trecho de fundamentação do Juiz ABNER CAIUBI VIANA DE
BRITO, o qual proferiu sentença reconhecendo distúrbios psicológicos como
patologia do trabalho.

25
“O assédio moral se configura quando condutas
abusivas, humilhantes e constrangedoras são
reiteradamente perpetradas pelo superior hierárquico ou
por colegas de
trabalho com o fim alvejar a personalidade e a dignidade do
trabalhador, culminando em danos à saúde física e mental
do alvo, que se desestrutura completamente em seu
ambiente de trabalho. Neste ponto, uma vez configurado o
assédio moral, o dano moral consubstancia-se de forma in
, sendo despicienda a aferição concreta do prejuízo sofrido
pelo alvo, porquanto além de re ipsa tais condutas atingirem
seu patrimônio imaterial, a exigência de comprovação do
dano recai em subjetivismo visto que cada indivíduo possui
níveis diferenciados de “tolerância” ao abuso, o que resulta
em consequências distintas advindas deste. Uma vez
configurado, causa manifesto dano moral ao trabalhador,
por ferir bem jurídico extrapatrimonial contido nos seus
direitos da personalidade (art. 5º, V e X, da CF), sendo
que, para haver direito à indenização, faz-se necessário
comprovar a conduta lesiva, o nexo de causalidade e,
em regra, a culpa da reclamada (art. 7º, XXVIII, da CF).
Sendo assim, acaso constatado o assédio moral, nada mais
justo do que a presunção do dano.”2

2.2 Nexo de causalidade de doenças psicológicas

Quando se fala em doença do trabalho, o que logo se pensa é tendinite, LER,


DORT, hérnia de disco ou outros problemas comuns decorrentes de trabalhos
repetitivos, mas a maioria são problemas físicos.
Quando se passa ao lado subjetivo do trabalhador, apenas é visto o dano
moral por alguma situação específica em que o empregado fora exposto, mas é raro

2 * Trecho de sentença prolatada nos autos n ATOrd 1001448-49.2019.5.02.0323

26
verificar no cotidiano da Justiça do Trabalho reclamatórias pleiteando indenização
por doenças psicológicas. A grande discussão está na subjetividade de doenças
psicológicas e na dificuldade de estabelecer o nexo de causalidade nas
psicopatologias do trabalho.
A psiquiatria atual afirma que o trabalho pode ser a fonte de doenças
psicológicas, mas depende de diversos fatores, como também pode ser concausa
para o desenvolvimento da doença. Ou seja, hoje os estudos demonstram que o
trabalho pode ser o causador de psicopatologias, tanto pelo motivo de o trabalhador
está exposto a muita pressão diária e muita responsabilidade como também o
empregado sofre algum tipo de assédio físico, mental ou sexual, como também
qualquer tipo de agressão psicológica durante o seu labor.
Bem como no Anexo II do Decreto n. 3.048, de 06 de maio de 1999 trouxe
psicopatologias como doença profissional também. Mas a grande dificuldade na
prática está em como demonstrar o nexo de causalidade durante uma possível
instrução processual, tendo em vista que é bem jurídico tutelado é tão subjetivo
como é a mente humana.
Mas por mais que seja uma situação de difícil análise, os profissionais da
saúde da área psicológica estão preparados para fazer esse estudo caso a caso, é
claro que diferente de uma patologia comum que através de apenas alguns exames
e uma consulta médica seja possível realizar o laudo médico, com relação a
psicopatologia é um processo mais longe, o profissional levará um tempo e diversas
sessões para analisar o nexo de causalidade da patologia, mas ainda assim é
possível a atribuição causalidade ou concausa do trabalho na psicopatologia.
Para a análise de danos psicológicos ao empregado, os médicos levam em
consideração a causalidade e o fato de origem para o dano, conforme os graus
abaixo:

Grau I - moral afetada restrita ao posto de trabalho - menor valor de reparo - 25%
Grau II - moral afetada restrita ao setor de trabalho - moderado valor de reparo -
50%
Grau III - moral afetada restrita à empresa - intenso valor de reparo - 75%

27
Grau IV - moral afetada além dos limites da empresa - agravado valor de reparo -
100%. 3
Além que a portaria 1339/99 (Ministério da Saúde, 1999) prevê os princípios
norteadores para os diagnósticos de patologias do trabalho como o burn out.

Episódios Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos


Depressivos (X46.-; Z57.5) (Quadro 3)
(F32.-)
Tricloroetileno, Tetracloroetileno, Tricloroetano e outros
solventes orgânicos halogenados neurotóxicos (X46.-;
Z57.5) (Quadro 13)

Brometo de Metila (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro 13)

Manganês e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5)


(Quadro 15)

Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e


Z57.5) (Quadro 16)

Sulfeto de Carbono (X49.-; Z57.5)(Quadro 19)

Outros solventes orgânicos neurotóxicos (X46.-; X49.-;


Z57.5)

Reações ao ● Outras dificuldades físicas e mentais


"Stress" Grave e relacionadas com o trabalho : reação
Transtornos de após acidente do trabalho grave ou
Adaptação (F43.-): catastrófico, ou após assalto no trabalho
Estado de "Stress" (Z56.6)
Pós-Traumático ● Circunstância relativa às condições de
(F43.1) trabalho (Y96)

Neurastenia (Inclui Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos


"Síndrome de (X46.-; Z57.5) (Quadro 3)
Fadiga") (F48.0)
Tricloroetileno, Tetracloroetileno, Tricloroetano e outros
solventes orgânicos halogenados (X46.-; Z57.5)
(Quadro 13)

Brometo de Metila (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro 13)

Manganês e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5)


(Quadro 15)

Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e


Z57.5) (Quadro 16)

Sulfeto de Carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro 19)

3 Página 136 do Livro Crônicas em Perícia Médica, DORT & Reabilitação Profissional

28
Outros solventes orgânicos neurotóxicos (X46.-; X49.-;
Z57.5)

Outros transtornos Problemas relacionados com o emprego e com o


neuróticos desemprego (Z56.-): Desemprego (Z56.0); Mudança
especificados de emprego (Z56.1); Ameaça de perda de emprego
(Inclui "Neurose (Z56.2); Ritmo de trabalho penoso (Z56.3); Desacordo
Profissional") com patrão e colegas de trabalho (Condições difíceis
(F48.8) de trabalho) (Z56.5); Outras dificuldades físicas e
mentais relacionadas com o trabalho (Z56.6)

Transtorno do ● Problemas relacionados com o emprego


Ciclo Vigília-Sono e com o desemprego: Má adaptação à
Devido a Fatores organização do horário de trabalho
Não-Orgânicos (Trabalho em Trunos ou Trabalho
(F51.2) Noturno) (Z56.6)
● Circunstância relativa às condições de
trabalho (Y96)

Sensação de Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)


Estar Acabado
("Síndrome de Outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com
Burn-Out", o trabalho (Z56.6)
"Síndrome do
Esgotamento
Profissional")
(Z73.0)

Sendo assim é possível estabelecer um nexo de causalidade do labor com a


psicopatologia do trabalho.

2.3 Medidas de Segurança

A empresa é obrigada por zelar a segurança física e mental do empregado no


meio ambiente do trabalho, sendo assim, da mesma maneira que a empresa é
obrigada a fornecer os EPI`s adequados para resguardar a saúde do empregado de
substância tóxicas, temperatura, ruídos e outros. E nas situações que os EPI`s não
são suficientes o trabalhador terá direito ao adicional de insalubridade, pois o
objetivo é indenizar o sujeito pelo dano que o seu labor está causando na sua
saúde.

4 Portaria 1339/99 (Ministério da Saúde, 1999)

29
Além dos EPI`s a empresa é obrigada a fornecer um ambiente saudável e
seguro ao empregado, mas sempre está voltado para a saúde física do empregado,
são raras as medidas que visa assegurar a saúde mental do trabalhador. Apenas na
NR-33 que versa sobre segurança e saúde do trabalho em espaços confinados, que
prevê o risco de problemas psicossociais devido a pressão do trabalho.
Mas não é imposto às empresas obrigação com relação a saúde mental dos
trabalhadores, o empregador deve realizar exames periódicos em seus
trabalhadores para assegurar sua saúde física, mas são raras as empresas que
dispõe também de psicólogos do trabalho a disposição dos empregados.
Apenas se pode observar no ramo de transporte com relação aos
caminhoneiros, pois foi um setor muito afetado devido a cargas horárias de trabalho
que se sujeitaram, o que acarretou muitos acidentes em estradas, como também a
dependência de substâncias prejudiciais a saúde humana.
E tendo em vista essa circunstância, muitas empresas de transporte realizam
testes psicológicos com seus funcionários para a averiguação da capacidade mental
do sujeito de laborar, como também maiores rigores no controle de jornada.
Portanto, observamos essa medida de segurança de os trabalhadores
passarem com profissionais da saúde como psicólogos e psiquiatras são em
exceções. A maior parte dos trabalhadores nunca tiveram contato com um psicólogo
do trabalho.
Mas se a empresa tem obrigação de realizar exames periódicos da empresa,
bem como assegurar que os empregados recebam os EPI`s e os usam, porque não
tem a obrigação de zelar pela saúde mental de seus funcionários dentro da
empresa. Ou seja, que exista um bom relacionamento entre os sujeitos da empresa,
sem assédios. Como também maior rigor em relação ao controle de jornada, não
apenas visando a indenização de 50% das horas extraordinárias, mas que uma
sobrecarga constante pode prejudicar a vida mental do trabalhador.
Com relação às horas extras um caso que gera conflito são os cargos de
confiança que não possuem limite de 8 horas diárias, a jurisprudência brasileira
entende que empregados em cargo de confiança estão em posição de maior
liberdade para exercer sua atividade e assim não tem controle de ponto. Porém é
sabido que sujeito com os devidos cargos trabalham por extensas horas, muitas

30
vezes sem intervalo intrajornada correto, ultrapassam as 8 horas diárias. Mas o
questionamento seria porque esses trabalhadores não estão sujeitos ao artigo 7 da
CF, o qual deixa claro que o trabalhador deve laborar apenas 8 horas por dia ou 44
horas semanais.
Quais serão as consequências de a cada dia o direito estar flexibilizando mais
as jornadas de trabalho, seja as horas extraordinárias, seja para trabalhadores de
cargo de confiança sem controle de jornada. O primeiro contraponto é que essas
pessoas percebem mensalmente valores maiores, tendo em vista a carga do
trabalho, mas está correto a legislação trabalhista autorizar que o labor de uma
pessoa prejudique sua saúde mental apenas porque está recebendo um salário
minimamente decente? Ou apenas está pacificado a retirada da dignidade do
trabalhador.

31
CAPÍTULO 3 DOENÇA PSICOLÓGICA NA JUSTIÇA DO TRABALHO

3.1 Perícias Médicas

Em casos de doença ocupacionais, o Juízo não tem a capacidade técnica de


verificar a origem realmente da patologia, sendo assim, nesses casos são
designadas perícias técnicas, as quais um especialista da área, em regra de
confiança do Juízo, irá examinar o reclamante e por fim elaborar um laudo.
Porém em casos de psicopatologias muitos médicos da área criticam o
método de perícia adotado hoje no Brasil, pois a perícia é realizada em apenas uma
sessão com o trabalhador, o qual é abordado os assuntos essenciais, os estudos
demonstram que para a realização de um laudo psiquiátrico levaria mais que apenas
uma sessão, ou seja, estaria as perícias que versam sobre psicopatologia do
trabalho frágeis, não tendo uma segurança médica adequada e por consequência
gerando uma instabilidade jurídica, tendo em vista que no momento de prolatar uma
sentença o laudo médico tem grande grau na valoração das provas.
Para regulamentar em quais parâmetros o nexo causal deve ser estabelecido,
o Conselho Federal de Medicina (CFM) editou a Resolução no 1.488/98, a qual
estabelece:
Art. 2º - Para o estabelecimento do nexo causal entre os
transtornos de saúde e as atividades do trabalhador, além do
exame clínico (físico e mental) e os exames complementares,
quando necessários, deve o médico considerar: I - a história
clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico e/ou
investigação de nexo causal; II - o estudo do local de trabalho;
III - o estudo da organização do trabalho; IV - os dados
epidemiológicos; V - a literatura atualizada; VI - a ocorrência de
quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a
condições agressivas; VII - a identificação de riscos físicos,
químicos, biológicos, mecânicos, estressantes e outros; VIII - o
depoimento e a experiência dos trabalhadores; IX - os

32
conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus
profissionais sejam ou não da área da saúde.
No âmbito da psicologia muito se critica as perícias realizadas na Justiça do
Trabalho quando se trata de doença psicológica, primordialmente porque em regra
é tratado superficialmente as situações e em apenas uma sessão com o trabalhador,
sendo que até mesmo seria cabível uma entrevista com o possível agressor,
superior e pessoas que estavam envolvidas para conseguir analisar melhor todo o
contexto social em que a pessoa estava inserida. É notório em todos os estudos é
exposto o grau de dificuldade do trabalho do perito nesses casos, tanto que é
necessários profissionais especializados no tema.
Segundo Dulce Suaya (2010) às perícias deveriam seguir a técnica História
Vital do Trabalho (HVT), que segue as seguintes etapas: (1) apresentação da
proposta e exploração das expectativas a respeito do encontro entre perito(s) e
periciando (trabalhador); (2) e (3) Relato da trajetória laboral; (4) e (5) atualização do
perfil de interesses, habilidades e destrezas implementando estratégias próprias do
processo de orientação vocacional e ocupacional; (6) heteroavaliação, de forma que
a imagem social é avaliada por meio de uma apresentação por escrito do periciando
acerca de suas particularidades, inclinações, habilidades e destrezas. Procede a
leitura e comentários visando o contraste entre a autoimagem e a imagem
transmitida de forma que emerja um novo posicionamento subjetivo: reconhecimento
e apropriação da identidade do sujeito produtivo; (7) auto avaliação escrita e
construção do projeto futuro evidenciando coincidências e discrepâncias entre a
autoimagem e a imagem obtida na heteroavaliação e; (8) avaliação interativa em
entrevista individual-oral entre perito(s) e periciando (trabalhador) seguida de
fechamento do(s) encontro(s).5
Jose Antonio Ribeiro da Silva ainda traz na sua obra “Acidente de trabalho:
responsabilidade objetiva do empregador” que as perícias devem ser realizadas por
uma equipe multiprofissional, não devendo ser realizada por um único médico, deve
ser construindo toda uma técnica de abordagem para conseguir entender se a
patologia psicológica teve conexão ao trabalho.

5 PERÍCIAS PSICOLÓGICAS EM SAÚDE DO TRABALHADOR NO ÂMBITO DA JUSTIÇA DO


TRABALHO - Bruno Chapadeiro

33
3.2 Análise de decisões

Os termos burnout, dano existencial, direito a desconexão são termos que


não são tão recorrentes na justiça do trabalho, primeiro por se tratar de um direito
subjetivo e de difícil comprovação durante instrução processual, como já relatado
supra, as perícias como são realizadas hoje nem sempre são realizadas de maneira
exemplar para doenças psicológicas. Em segundo ponto, são raras as decisões em
que é reconhecido o dano ao trabalhador.
Como se pode observar no último caso em que o motorista laborava das 6:15
às 21:30 com apenas 2 intervalo de 30 minutos cada, tendo sua jornada de
segunda-feira a sexta-feira, pleiteou dano existencial, a ação foi julgada procedente
em primeiro grau, mantida em 2 grau, posteriormente mantida em recurso de revista,
porém por meio de embargos no TST, a Corte decidiu retirar a condenação de R$ 15
mil reais por dano existencial ao motorista que laborava 15 horas diárias, sob o
fundamento abaixo:

“Processo: E-RR - 402-61.2014.5.15.0030

Decisão: por unanimidade, conhecer do recurso de


embargos por divergência jurisprudencial e, no mérito, por
maioria, dar-lhe provimento para excluir da condenação o
pagamento de indenização por dano existencial, vencidos os
Exmos. Ministros Augusto César Leite de Carvalho, Alberto
Luiz Bresciani de Fontan Pereira, José Roberto Freire
Pimenta, Hugo Carlos Scheuermann, João Batista Brito
Pereira e Lelio Bentes Corrêa. Observação: O Exmo. Ministro
Augusto César Leite de Carvalho juntará voto vencido ao pé
do acórdão, com adesão dos Exmos. Ministros Alberto Luiz
Bresciani de Fontan Pereira, José Roberto Freire Pimenta,
Hugo Carlos Scheuermann, João Batista Brito Pereira e Lelio
Bentes Corrêa aos fundamentos do voto de Sua Excelência.”

Casos como esse que levam a insegurança jurídica na justiça do trabalho em


pleitear dano existencial ou danos morais psicológicos, pois mesmo com o

34
entendimento do TST e da maioria das turmas de que é jornadas extensas e
pressão extrema diária são requisitos para a caracterização de uma indenização,
porém na prática jurídica são minoria as decisões que realmente julgam procedente.
Segue abaixo o Acórdão alvo dos embargos supracitados.

PROCESSO Nº TST-RR-402-61.2014.5.15.0030 Firmado por


assinatura digital em 09/11/2017 pelo sistema AssineJus da
Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a
Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. A C Ó R D Ã O
2ª Turma GMJRP/rm/vm/li RECURSO INTERPOSTO NA
VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL. JORNADA EXAUSTIVA. 15 (QUINZE)
HORAS DIÁRIAS DE TRABALHO. DANO MORAL IN RE
IPSA. PRESUNÇÃO HOMINIS. A controvérsia cinge-se à
caracterização ou não do dano moral no caso de cumprimento
de jornada exaustiva pelo empregado. O Regional reconheceu
“a jornada de trabalho excessiva do reclamante -
principalmente das 06h15 às 21h30, de segunda a sexta-feira,
com dois intervalos de 30 minutos - como apta a configurar o
dano moral existencial”. Diante disso, manteve a sentença em
que se condenou a reclamada ao pagamento de R$ 15.000,00
(quinze mil reais) a título de indenização por danos morais.
Esta Corte tem entendido que a submissão habitual dos
trabalhadores à jornada excessiva de labor ocasiona-lhes dano
existencial, modalidade de dano imaterial e extrapatrimonial
em que os empregados sofrem limitações em sua vida pessoal
por força de conduta ilícita praticada pelo empregador,
exatamente como na hipótese dos autos, importando em
confisco irreversível de tempo que poderia legitimamente
destinar-se a descanso, convívio familiar, lazer, estudos,
reciclagem profissional e tantas outras atividades, para não
falar em recomposição de suas forças físicas e mentais,
naturalmente desgastadas por sua prestação de trabalho.
Portanto, o ato ilícito praticado pela reclamada acarreta dano
moral in re ipsa, que dispensa comprovação da existência e da

35
extensão, sendo presumível em razão do fato danoso. Recurso
de revista não conhecido.

Entretanto, os danos psicológicos oriundos do trabalho também possuem sua


representatividade da justiça do trabalho, como em sentença em anexo A. A qual a
reclamante foi exposta a uma rotina de pressão psicológica e humilhada
diariamente, conforme trecho abaixo do depoimento de testemunha.
Já a segunda testemunha da reclamante, JOSE
ROBERTO GONÇALVES, relatou que “[...] trabalhou na ré de
2017 a 2019, na função de ajudante de carga e descarga, no
setor de manutenção predial; que no setor de manutenção
predial, tinha contato diariamente com a recte; que o contato
era em razão de uma manutenção para fazer na sala dela e
também em todas as salas; que presenciava a recte
trabalhando; que quando começou a trabalhar, a recte tinha
um bom relacionamento com outros funcionários da
empresa e depois ela foi colocada em uma outra sala e ficou
trabalhando sozinha; que a recte ficou cerca de 1 ano
trabalhando sozinha; que já presenciou a recte sendo
ofendida pelo Mackley Matos, Assinado eletronicamente por:
ABNER CAIUBI VIANA DE BRITO - Juntado em: 23/10/2020
18:02:54 - b1da1d1 gerente de implantação; que o Sr.
Mackley chamava a todos de burro e já presenciou a
recte chorando; que presenciou isso acontecendo umas 6
vezes; que todos da empresa tem conhecimento da
conduta do Sr. Mackley; que já presenciou Angelo
gritando com a recte, mas não sabe qual era a função dele;
que presenciou isso somente uma única vez; que a recte
estava chorando em razão do tratamento recebido pela a
empresa; que essa que o Sr. Manuel Paiva era o dono da era
a politica da empresa em relação aos funcionários; empresa e
xingava os funcionários de burro; que ouviu vários audios
dele com esses xingamentos; que nunca viu o Sr. Manuel
ofendendo a Sra. Angela (autora); que o depoente
trabalhava de segunda a sexta-feira; que tinha controle de
ponto na empresa, primeiro cartão e depois como digital,
trabalhando das 08h até as 21h/22h; que o horário de saída
também era registrado no ponto e o controle de ponto emitia
recibo; que tinha acesso ao controle de ponto ao final do
mês; que o espelho de ponto do depoente sempre
correspondia a realidade; que Angela também registrava a
saída do controle de ponto, batia o cartão e ia embora;
que geralmente tirava 1 hora e 12 minutos de almoço;
que Angela as vezes voltava do almoço, fazendo meia
hora, e que isso era com frequência; que Angela, mesmo
quando voltava do almoço mais cedo, registrava no cartão de
ponto; que o local de trabalho da recte era uma sala sem
janela, sem ar condicionado e sem ventilação; que isso foi

36
durante o período de um ano em que ela ficou; que no
período anterior, a recte ficava numa sala normal com ar
condicionado, com outras pessoas; que conseguia ver a recte
trabalhando quando subia; que Mackley viajava a cada 15 dias
para fazer implantação de outras unidades, ficando cerca
de 15 dias a 1 mês fora.”

E como consequência de todo esse ambiente hostil durante o labor, a


reclamante desenvolveu problemas psicológicos e distúrbios graves, como consta
em própria sentença e em laudos médicos, a reclamante começou apresentar
ansiedade, distúrbio alimentar que acarretou a perda de 8 kg, insônia e até mesmo
entrada no pronto-socorro e ideação suicida.Portanto, nesse caso em tela fica claro
quais podem ser as consequências de um ambiente de trabalho tóxico.

No presente caso, em sentença de primeiro grau foi procedente o pedido de


doença do trabalho e ainda procedente o pedido de dano moral, o que ressalta a
distinção entre o dano psicológico como doença e o dano moral.

37
CONCLUSÃO

Concluímos através deste trabalho que na Justiça do Trabalho ainda existem


barreiras a serem enfrentadas quanto a caracterização do nexo de causalidade da
doença psicológica com o labor exercido. Mas que é possível por meio de uma
perícia técnica bem estruturada e realizada diagnosticar as patologias do trabalho
devidamente.
Ainda foi trazido o aspecto de qualidade de trabalho, o aumento de doença
relativas ao estresse oriundos do trabalho vem aumentando a cada dia, seja devido
às pressões que os trabalhadores vêm sofrendo em sua rotina ou pela flexibilização
das jornadas de trabalho, ou seja, hoje é comum nos depararmos com jornadas de
10 horas, seja por motivos de cargos de confiança ou trabalhos que passaram a ter
previsto em sua Convenção Coletiva uma jornada mais extensa, o que levam muitos
trabalhadores a exaustão física e mental, acarretando doenças físicas e mentais nos
trabalhadores
Ainda ressaltamos alguns julgados diferentes, como a própria decisão do
TST que não caracterizou como direito ao dano existencial um trabalhador que
laborava 15 horas diárias, pois não é devida a indenização apenas por jornadas de
trabalho extensas. Portanto, fica claro que passamos por uma flexibilização do
direito constitucional de 8 horas diárias de trabalho, mas será que essa flexibilização
será auto regularizada com o tempo ou o Brasil se tornará um novo Japão, onde é
comum o Karoshi.

38
BIBLIOGRAFIA

- Gomes, Paola Pereira - Monografia de Graduação - A violação do direito à


desconexão do empregado.
- Vizzaccaro-Amaral, Carlos Eduardo - Assédio Moral Indireto e direito Social -
Revista RET Ano V - Número 9 - 2011
- Jacques, Maria da Graça, Codo, Wanderley - Saúde Mental & Trabalho
Leituras - Petrópolis, RJ : Vozes, 2002
- Garcia, Gustavo Filipe Barbosa - Meio Ambiente do Trabalho - 6. ed. r atual. -
Salvador:JusPODIVM, 2019.
- Severo, Valdete Souto - Direito à Desconexão nas relações de Trabalho
- Delgado, Maurício Godinho - Curso de Direito do Trabalho - 17. ed. rev. atual.
ampl.. - São Paulo LTr 2018
- Motta, Rubens Cenci - Crônicas Em Perícia Médica, DORT & Reabilitação
Profissional - 3 ed - São Paulo: Ltr, 2014
- Chapadeiro, Bruno - Perícias Psicológicas em Saúde do Trabalho no Âmbito
da Justiça no Trabalho

39
- LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Sentença dos autos ATOrd 1001448-49.2019.5.02.0323

40
ANEXO A

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
13ª Vara do Trabalho de Guarulhos
ATOrd 1001448-49.2019.5.02.0323
RECLAMANTE: ANGELA FRAULO PIRES DA SILVA
RECLAMADO: EXATA CARGO LTDA

SENTENÇA

I - RELATÓRIO:

Trata-se de reclamação trabalhista proposta pelo rito ordinário na qual a reclamante ANGELA
FRAULO PIRES DA SILVA alega, em síntese, que foi admitida pela reclamada EXATA CARGO
LTDA em 27/10/2014, para exercer a função de coordenadora comercial, com remuneração de R$
3.141,88 e jornada de trabalho de segunda a sexta-feira, 8h às 20h, com 30 minutos de intervalo
intrajornada, sendo dispensada sem justa causa em 21/02/2019. Aduz ainda que sofreu de
transtornos de ansiedade, pânico, síndrome de burnout em razão do trabalho, sendo dispensada
mesmo estando incapacitada para o labor e que sofria assédio moral dos gestores ANGELO e
MARCUS SABINO. Sendo assim, postula o pagamento de horas extras e reflexos, intervalo
intrajornada, indenizações por danos morais em razão da doença ocupacional e do assédio moral,
indenização por dano material, reintegração ou indenização do período de estabilidade previsto no
art. 118 da Lei n. 8.213/1991 pensão vitalícia, restabelecimento do plano de saúde, gratuidade judicial
e honorários advocatícios.

Atribuiu à causa o valor de R$ 200.930,96.

As pretensões deduzidas na petição inicial foram contestadas por escrito na audiência.

Processo instruído com depoimento das partes, testemunhos, perícia médica e documentos,
assegurado o contraditório. Razões finais remissivas. Renovada e recusada a proposta de
conciliação.

Relatado. Decido.

(...)

III - DISPOSITIVO:

POSTO ISSO, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados nesta reclamação


trabalhista por ANGELA FRAULO PIRES DA SILVA para condenar a reclamada EXATA CARGO
LTDA a pagar à reclamante as seguintes parcelas:

a) Indenização por danos morais em razão de assédio moral, no valor ora arbitrado de R$
10.000,00 (dez mil reais);

41
b) Indenização equivalente ao período de estabilidade previsto no art. 118 da Lei n.
8.213/91 (doze remunerações da reclamante e demais vantagens salariais, quais sejam, férias + 1/3,
13º salário e FGTS);

c) Indenização por danos morais em razão da doença profissional que acometeu a autora, que arbitro
em R$ 20.000,00 (vinte mil reais);

d) Da admissão até 10/11/2017, nos termos do art. 71, § 4º, da CLT (com vigência anterior à Lei n.
13.467/2017), condeno a reclamada ao pagamento de 1 hora diária como hora extra, na forma da
Súmula 437, I, do TST, com integração ao salário da autora e adicional de 50% sobre o valor da hora,
por cada dia de trabalho, com reflexos em aviso prévio, 13º salário, férias com 1/3, repousos
semanais remunerados e FGTS + 40% (súmula 172 e 437, III, do C. TST). A partir de 11/11/2017
(data de entrada em vigor da Lei n. 13.467/2017), na forma do art. 71, § 4º, da CLT, condeno a
reclamada ao pagamento de 30 minutos diários, com o adicional de 50% sobre o valor do minuto,
para os dias em que concedido apenas parcialmente o intervalo intrajornada, o qual possui natureza
indenizatória conforme redação dada pela Lei n. 13.467/2017 ao artigo supramencionado, razão pela
qual não há que se falar em reflexos em qualquer parcela;

e) Honorários advocatícios de sucumbência ao advogado da reclamante, sendo devidos


10% (dez por cento) sobre o proveito econômico obtido nas condenações, observado o valor total que
resultar da liquidação do julgado.

O pagamento dos honorários advocatícios em favor do patrono da reclamada, arbitrados em 10% sob
o valor da sucumbência da parte autora (relativa aos pedidos julgados improcedentes), nos termos do
art. 791-A, da CLT, tendo em vista que a reclamante é beneficiária da justiça gratuita e que inexiste
qualquer crédito em seu favor neste e em outros juízos capaz de cessar a sua situação de
miserabilidade, fica com a sua exigibilidade suspensa pelo prazo de 2 anos, conforme §4º do art. 791-
A da CLT, cabendo ao patrono da ré, no aludido interregno, comprovar nos autos que a situação de
hipossuficiência da parte autora deixou de existir. Inexistindo comprovação da mudança da situação
de miserabilidade da reclamante no prazo de 2 anos, extinguir-se-á a exigibilidade da pretensão
advocatícia.

Os valores devidos serão apurados em regular liquidação de sentença, observados os parâmetros da


fundamentação.Frise-se que não há que se falar em limitação do valor da condenação à
quantificação de cada pedido trazida na petição inicial, uma vez que no rito ordinário a quantificação
dos valores da petição inicial se dá por mera estimativa (conforme entendimento do C. TST na
Instrução Normativa n. 41), inexistindo qualquer vinculação para fins de condenação por não se tratar
de rito sumaríssimo.

Deferida a gratuidade judicial à reclamante.

As parcelas ora deferidas têm natureza indenizatória (art. 832, §3º e §3º-A, da CLT), exceto o
intervalo intrajornada até 10/11/2017.

Recolhimentos fiscais e previdenciários nos moldes da Súmula 368 do TST e OJ 363 da SDI-I do
TST, com os parâmetros da fundamentação. O INSS referente à cota parte da Reclamada deverá ser
recolhido de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei n.º 10.035/2000.

Sobre o cálculo do Imposto de Renda, considerando as alterações nas regras para sua apuração,
publicadas pela Lei 12.350/2010 e pela Instrução Normativa da Receita Federal nº 1.500/2014, este
deve ser calculado com observância da nova legislação pertinente e da Instrução Normativa em
referência, esclarecendo ainda que sobre os juros de mora não incide o imposto, em conformidade
com o artigo 46 e parágrafos da Lei 8.541/92 c/c artigo 404, parágrafo único do Código Civil e
Orientação Jurisprudencial nº 400, da SDI-I, C. TST.

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Expeça-se ofício ao Ministério Público do Trabalho, conforme fundamentação.

Custas pela reclamada no importe de R$ 1.760,00, calculadas sobre o valor atribuído provisoriamente
à condenação de R$ 88.000,00.

Publique-se. Intimem-se.

GUARULHOS/SP, 23 de outubro de 2020.

ABNER CAIUBI VIANA DE BRITO

Juiz(a) do Trabalho Substituto(a)

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